Meu único assunto e o primeiro bolão

Eu juro que tento, mas está muito difícil falar de outro assunto na vida que não seja a gravidez! Simplesmente, ocupou todo o espaço importante do meu tempo, pensamentos, planos e tudo mais.

É lógico que sigo a vida de maneira relativamente normal, mas é impossível que esse tema não surja pelo caminho. E quando não é da minha parte, é da parte dos amigos curiosos perguntando sobre como vão as coisas. Não me incomodo em responder, na verdade, até gosto.

E a propósito, fiz o segundo teste de gravidez e foi positivo novamente. Esse nem me preocupava, tanto que fiz só na hora que fui levantar, pelas 9 e algo da manhã. Diferente do primeiro, em que fiquei contando os minutos para dar às 6! Um falso negativo, pode acontecer, mas um falso positivo é muito difícil. Mas enfim, sim, tenho os dois testes de urina positivos, guardados para a posteridade. Afinal, ainda não tive coragem de jogar no lixo, ainda que me pareça um pouco absurdo ficar guardando essas coisas.

Começamos a fazer uma limpa na casa. Teve gente que achou que já fosse para preparar quarto para neném. Mas não, a verdade é que fazemos isso com freqüência, geralmente nas mudanças de estações. Só aproveitamos a ocasião, porque inclusive, não sei em que momento mudaremos de apartamento, mas certamente, o nascimento da(s) criança(s) não será aqui. São três andares de escada, muito complicado com carrinho e toda a tralha.

Assim que não, é muito cedo para montar quarto e toda a parafernália. Isso não virá antes do terceiro mês, quando aí sim, podemos considerar que tudo segue normalmente. Como venho ressaltando, acho até meio paradoxal, mas mantenho a cautela e os pés no chão, mesmo viajando totalmente na maionese. Em compensação, quero ver alguém me segurar depois do terceiro mês!

Bom, também começamos a ver alguns preços de móveis, berços, camas e não parece ser algo tão assustador. Porque até nossa cama precisaremos mudar, dormimos em um tatame, imagina levantar do chão com o barrigão? Não deve ser de todo simples, e também já estava meio enjoada e querendo mudar mesmo, aproveito o pretexto.

Falando em enjôos, felizmente não tenho nada disso. Pelo menos, por enquanto. Mas tenho alguns sintomas como um tipo de cólica, umas pontadas abdominais; não mudei de peso, mas o formato da minha barriga parece estar mudando; começaram a aparecer umas espinhas, mas somem de um dia para o outro; os peitos cresceram (até que enfim uma coisa boa, né?); tenho mais sono, o que no meu caso é ótimo, porque passei a dormir melhor durante à noite; não paro de fazer xixi o dia inteiro e à noite também (achei que isso era mais tarde). Enfim, acho que aos poucos meu corpo está se adequando no seu tempo, mas ainda não tive nada que achasse realmente ruim, pelo contrário, tudo tem me parecido bastante natural.

Eu sei que é natural, pelo menos deveria ser para a maioria das mulheres, mas sou meio esquisitinha e nunca tive nenhuma paixão pela gravidez. Sei lá, quando vejo um barrigão, tenho aquela sensação que vai pular um alien! Vejo simplesmente como o meio necessário para alcançar o fim desejado, então, paciência. Dito isso, eu mesma estou me surpreendendo por me pegar de vez em quando curtindo a barriga e o processo com essa naturalidade.

Eu achei que fosse ter vontade de buscar mil referências e ler trocentos livros a respeito. Mas, pelo menos por enquanto, não tive um pingo de vontade, é um tipo de sentimento meio infantil de querer descobrir as sensações e etapas por minha conta. Não é só isso, sei que a bibliografia disponível é bem fraca, costuma ser machista, radical ou em clima de fantasia ingênua. Nesse caso, prefiro mil vezes os blogs das amigas, mais no esquema “a vida como ela é”.

O que não quer dizer que não esteja me informando, só estou tentando, por incrível que pareça, não me adiantar ou precipitar. Coisa que para quem me conhece, deve achar que estou possuída!

É claro que a gravidez virou minha família de cabeça para baixo e estão em um alvoroço só! Meus sogros estão super felizes, mas pelo menos, já tem dois netos dos outros dois filhos. Meus pais e meu irmão já haviam perdido a esperança de serem avós e tio, principalmente do meu lado. E acho que até a notícia que eu estava disposta a tentar já foi uma verdadeira reviravolta e agora então, toda a vizinhança deles sabe!

Minha mãe chega depois de amanhã e está em um misto de alegria e pânico. Nem sei quando foi a última vez que viajou sozinha! Ainda mais uma viagem internacional e deixando meu pai no Brasil com alguém tomando conta! Aliás, falei com meu pai ontem pela webcam e ele está ótimo! Perdeu uns 15kg, com isso, melhorou a pressão e foi dispensado de um dos remédios. Além do mais, a locomoção ficou mais fácil, por isso e pela fisioterapia que ele reclama, mas faz. E obviamente, a possibilidade de ser avô também deu uma animada no espírito. Ou seja, que não posso reclamar da boa onda que chegou.

Muito bem, na terça-feira que vem, dia 8 de novembro, faço minha primeira ecografia. Eu acho que vai dar para saber se tenho um ou dois embriões na parada. Afinal, se na ecografia dá para ver os óvulos, um embrião tem que ser maior que um óvulo, né?

Portanto, lançado o primeiro bolão! Minha primeira aposta é que são gêmeos! Acho que será um menino e uma menina, o Gabriel e a Amanda! Luiz me diz que acha que são gêmeos também, mas ele que faça sua aposta oficial.

E aí, quem se arrisca a um palpite?

Siiiiiiiiiimmm! Deu positivo, estamos oficialmente grávidos!

Já vamos esclarecendo desde o título certo? Hoje estou muito mais para comédia romântica do que para dramas ou suspense!

Fiz o teste de urina, desses comprados em farmácia mesmo, foi o recomendado pelo médico. E o resultado foi inegavelmente positivo.

E agora, para quem quiser saber dos detalhes, sigo contando.

Minha intuição me dizia que estava grávida, que era o que estava escrito. Talvez por isso, estivesse bem mais tranqüila do que imaginava ou as pessoas esperavam. Mantive e sigo mantendo a cautela, mas de alguma forma, com tanta gente boa torcendo para o bem, me senti protegida. E me convenci que mesmo que não engravidasse, seria o melhor para mim. Mas lógico, queria e quero que dê certo!

Pipoquei na cama a noite inteira, doida para chegar de manhã! Às seis da matina não me agüentei e fui para o banheiro fazer o teste.

A essa hora aqui é escuro como noite, acendi a luz ainda vendo tudo meio embaçado e lá fui eu fazer xixi no copinho descartável, para não ter dúvidas em relação ao tempo de contato com o tal do palitinho do exame.

Meu histórico com todos esses testes, tanto de gravidez como de ovulação, é que sejam sempre negativos. E não tem como não vir o sentimento na hora que o produto começa a reagir.

Tem que aparecer duas faixas para confirmar a gravidez. Quando não aparece nada, quer dizer que o teste está com problemas. Mas positivo ou negativo, sempre aparece uma faixa primeiro e você fica naquele tremendo suspense se aparecerá a segunda ou não. Até porque ainda por cima a segunda é de um tom de rosa mais claro.

Caraca, acho que foi o minuto mais longo do mundo! Até que achei que estava começando a aparecer uma segunda faixa, mas não conseguia ver direito. Fui para a sala, onde a luz é melhor, pedi ajuda ao Luiz… sabe quando você não tem certeza se acredita no que está vendo?

Não sei se com esse tempo a faixa foi realmente ficando mais escura ou eu comecei a acreditar que era real. Mas chegou o momento que tive certeza: sim é positivo, estou grávida!

Fotografei o exame para a posteridade e corri para o computador para ver se conseguia falar com a minha mãe. No Brasil era por volta das duas da manhã, mas eu tinha certeza absoluta que ela estaria esperando acordada. Não deu em outra! E assim consegui dar a notícia fresquinha.

Luiz teve que sair para trabalhar, imagina como vai render esse serviço hoje, né? Ainda bem que é sexta-feira, dia perfeito para a gente celebrar mais um passo imensamente importante.

Aproveitei para enviar a notícia por e-mail para a família mais próxima, porque por mais que queira ligar para todo mundo, o fuso horário é muito diferente!

Dei sorte com meu irmão, que ainda estava acordado na gandaia (meu irmão, né?) e leu o torpedo que ia ser tio. Me ligou completamente emocionado, muito bacana.

E enquanto ninguém mais acorda, cá estou eu, registrando o momento e contando para vocês!

Muito bem, e agora?

Agora eu tenho que refazer o teste depois de amanhã, mas em teoria, essa repetição é necessária quando o primeiro teste é negativo ou inconclusivo, o que não foi o caso. Mas tudo bem, cumprirei direitinho e farei novamente o teste, por pura burocracia.

Mais tarde, ligo para o médico para avisar que deu positivo e devemos marcar uma ecografia para daqui a uns dez dias, vou confirmar isso mais tarde. Eu acho que nessa ecografia já deve dar para saber se vingou um embrião ou dois. Nós seguimos com o palpite de que serão gêmeos. Acho isso porque os dois embriões tinham a mesma qualidade, se vingou pelo menos um, o bom senso leva a crer que o outro teria as mesmas chances. Mas não sei se isso é científico.

Enfim, queridos, já agradeci e volto a agradecer a torcida e o apoio de todos os amigos e família que temos recebido. Ajuda bastante, podem acreditar! Da minha parte, só posso desejar que volte tudo em dobro para vocês!

E agora, deixa eu sossegar e curtir a notícia, porque para ser sincera, minha ficha ainda está caindo! Não sei se rio, se choro ou se compro uma bicicleta, mas uma coisa para mim está bastante clara, já não tenho um pingo de medo.

Passa logo dia!

Vai chegar ano que vem e não chega amanhã!

Sim, amanhã faço o primeiro bendito exame para saber se o corpo segurou a gravidez. Não, não estou histérica, nem em pânico, mas muito curiosa e querendo saber logo tudo!

O que eu acho? Acho que sim. Por que? Primeiro, por intuição. Segundo, confiança na torcida e em toda energia legal que rolou. E, terceiro, único palpite racional, não estou com nenhum sintoma que me vai descer a menstruação. Isso me dá certeza absoluta? Não, mas ajuda bastante.

Pela manhã, tive visita de uma amiga brasileira passeando por essas bandas. Bom para papear e distrair o pensamento.

Agora à tarde, tinha Pilates, mas a professora não pode ir. Para ser sincera, nem reclamei, estava com uma preguiça do cão. Ainda mais que o clima está friozinho e chuvoso. Mas bem que ajudaria a passar o tempo também.

Mais tarde teremos outra visita, ótimo! Dia cheio!

Quero só ver na hora de dormir…

No news… good news!

Tenho algumas amigas perguntando como vai tudo, afinal não estou escrevendo todos os dias. Na verdade, não escrevia todos os dias antes e não tenho feito pelo simples fato de não haver grandes novidades.

A vida seguiu seu rumo e tenho feito as coisas de sempre. Por uma questão de consideração, passo por aqui para dizer que sim, vai tudo bem. Um pouco de expectativa em relação à sexta-feira, quando farei o primeiro exame para confirmar a gravidez.

Não estou nervosa, juro! Um pouco de ansiedade faz parte, mas nada que me deixe fora do eixo.

Saber que minha mãe vem nos visitar ajudou bastante. Tenho coisas para providenciar, pensar em lugares que poderemos ir, enfim, vejo como uma oportunidade de concluir um ciclo que ficou aberto há quase quatro anos atrás, última vez que ela pode vir à nossa casa. Eu preciso mudar de fase e ela também, todos nós precisamos quebrar nossos paradigmas.

E enquanto isso, para movimentar as coisas, dois amigos chegaram do Brasil, por vias diferentes. Uma amigona que morou aqui e fica um mês de férias e outro que veio de passagem e vai embora amanhã.

Minha amiga, consegui encontrar duas vezes, em uma reunião na casa onde está hospedada e num jantar, em um restaurante mexicano. Deu para começar a colocar as fofocas em dia, mas ainda temos muito o que conversar. Em outra ocasião, já teríamos nos acabado na balada para relembrar os velhos tempos, mas sabe como é, não é e provavelmente não será exatamente meu programa no próximo ano. Estou bem calminha.

Meu amigo é mais tranqüilo mesmo, uma vez fizemos uma rota do Caminho de Santiago juntos e é uma pessoa que gosto muito da companhia para caminhar. E foi o que acabou acontecendo, rodamos meia Madri a pé e visitamos o Museu Reina Sofia. Já fazia um tempo que não ia por lá e foi bom rever meu museu favorito na Espanha. Gostei muito da exposição da Elena Asins (Fragmentos de la Memoria), uma artista que não conhecia e me surpreendeu. Hoje jantaremos juntos, ele, Luiz e eu.

Domingo passado, fomos a um encontro cultural, digamos assim, que está acontecendo no Kabocla semanalmente. É a iniciativa de um amigo nosso que tem uma relação forte com a capoeira. O objetivo é reunir gente (brasileiros, espanhóis ou estrangeiros) que esteja interessada em conhecer parte da cultura brasileira, através da música cantada e tocada, principalmente na capoeira e no samba. Antes era difícil a gente conseguir ir, porque como sempre saíamos até tarde no sábado, nunca conseguíamos acordar a tempo ou com ânimo de participar. Entretanto, como estamos menos notívagos, casou como uma luva. Até porque ando com muita vontade de cantar e tocar percussão.

Seguimos no coral, mas estou um pouco cansada. Já saí e voltei uma vez e não gosto desse negócio de ficar indo e voltando, é desgastante para mim e atrapalha o grupo. Além do mais, como somos todos amigos, acho que se mistura muito a sintonia. Às vezes, me dá vontade de buscar outras experiências diferentes, variar, tentar coisas novas. No mês que vem teremos uma apresentação, o que costuma ser uma motivação legal. Para ser bastante sincera, nosso grupo não é nenhuma Brastemp, mas nas apresentações o pessoal parece que se concentra e o resultado sai honesto. Não sei se acontecerá isso novamente, espero que sim. É o combustível que nos move a continuar entre os erros e acertos. Por agora, me resta ensaiar, treinar e esperar que o mico não seja tão grande.

Em casa, aproveitando toda essa onda de mudanças ou pelo menos, da vontade de mudar, comecei a fazer uma limpa geral. Pouco a pouco, aliás, estou aprendendo a fazer as coisas mais devagar. As diferentes estações do ano ajudam nessa atitude, é o pretexto para mudar seu armário, verificar os casacos, guardar ou se desfazer das camisetas muito leves.

E isso por enquanto, né? É possível que na semana que vem a gente comece a pensar em trocar de cama, de carro, de apartamento… acho bom me preparar!

Distraída

Lembra do feijão que eu ia colocar no fogo no post passado? Pois é, queimei! Na verdade, por dois dias seguidos queimei a comida! Desconfio que ando meio distraída…

 

Coisas que acontecem, mas pelo menos não estou deixando nada salgado, o que costuma ser sinal de que estou triste ou aborrecida. Simplesmente, estou com a cabeça na lua!

 

A atenção especial à alimentação está dando seus resultados. Aumentei minha resistência novamente e, mesmo sem fazer dieta, perdi mais de 1/2 Kg que havia ganho com os hormônios.

 

Estou fazendo assim, pela manhã (e estou acordando mais cedo) tomo suco de laranja, 3 laranjas espremidas na hora; café descafeinado; e pão integral, o equivalente a umas 5 torradas, com manteiga e alguns dias com tomate picado. No almoço, sempre caldo de feijão e alguma proteína, às vezes com arroz, outras com legumes variados. Estou tentando comer mais peixe. Durante à tarde frutas, cereais em barra e/ou yogurt. Tem dias que não resisto a um chocolatinho, mas pequeno. E no jantar, salada verde caprichada (com muzzarela de búfala, tomate, abacate, pistache… vou variando os acompanhamentos e molhos da salada) e/ou sopa. Às vezes, também alguma proteína magra. De sobremesa ou antes de dormir, é comum tomar outro yogurt natural com mel ou leite semi desnatado com ração humana.

 

Fim de semana, dou uma relaxada e a gente vai comer fora. Mesmo assim, procuro não abusar. E obviamente, não estou bebendo nada alcoólico. Aliás, bebo basicamente água. Porque já não bebia refrigerante antes e não gosto de suco comprado pronto, sempre tem um monte de conservantes e são doces demais para meu paladar. Assim que, amo e tomo suco de frutas, mas só quanto tenho certeza que são feitos com fruta fresca ali na minha frente.

 

Segui no Pilates, duas vezes na semana. Minha professora está informada de todo o processo e já mudou minha série de exercícios. Para quem vinha puxando o ritmo há vários meses, até estou achando fácil. Mas é melhor assim, até as coisas estarem mais firmes e definidas. Nos outros dias, caminho. Tento caminhar por volta de uma hora em um ritmo bom, sem correr, mas sem parecer que estou passeando pela rua. Até porque nem sei andar muito devagar, sou meio bicicleta, se parar eu caio! Fora que fico realmente entediada e irritada em fazer as coisas muito devagar.

 

De novidades sobre o processo de fertilização, tive duas ontem. Uma média e outra muito boa.

 

Começando pela média, eu tinha um terceiro embrião, que não foi implantado porque estava imaturo. Bom, ontem me ligaram e esse embrião não resistiu para ser congelado. A parte ruim é que fico sem plano B. Por outro lado, fiquei meio na dúvida se isso é realmente ruim. Quer dizer, só é mau se eu não engravidar agora, mas se eu mantiver a gravidez, acho até melhor não ter nada por lá congelado. Se a gente pensar bem, é meio estranho deixar uma vida ali esperando na prateleira ou simplesmente descartá-la. Enfim, procurei não pensar nisso antes, porque já tinha muita informação para me preocupar, mas talvez tenha sido melhor.

 

A notícia boa é que tive a chance de conversar com a responsável pelo laboratório e saber mais detalhes dos dois embriões que me foram implantados. No dia da transferência, ela me disse que eles estavam em perfeitas condições e tal, mas não me falou qual era a classificação. Pensei em perguntar, mas ao mesmo tempo, achei que podia ficar nervosa ou decepcionada, então me contentei com o “estão muito bem”. Fora que, como já contei, era muita gente e muita coisa ao mesmo tempo acontecendo.

 

Pois é, os embriões são classificados em A, B, C e D. Sendo os do tipo A, os mais prováveis de seguirem a gravidez. Meus dois embriões implantados foram do tipo A, o que é uma excelente notícia! Isso garante a gravidez? Não. Mas aumenta razoavelmente minhas probabilidades.

 

Pelo que entendi, para ser classificado como tipo A, o embrião precisar ter pelo menos quatro células. Para ser bastante específica com meu processo, no momento da classificação, eu tinha um embrião do tipo A e outro do tipo B. Mas eles olham novamente na hora de implantar, e o do tipo B, que no dia anterior possuía duas células, já havia duplicado. Resumindo, no momento da classificação era um A e um B, mas na prática, me foram transferidos dois do tipo A. Um por fertilização tradicional e outro por micro injeção.

 

Fiquei muito feliz com essa notícia, sou meio CDF e adoro ganhar um A! Dois então, melhor ainda! Aumentou também nosso palpite que serão gêmeos.

 

Eu falo muito de gêmeos e tem gente que acha que prefiro que sejam dois, ou que vou ficar decepcionada se vier um só, o que está muito longe de ser verdade. Eu prefiro só um nenén e até já sou um ser mais evoluído e não me importa de que sexo venha, tenho uma preferência por menina, mas vou curtir menino também. A única coisa é que sei que foram implantados dois embriões e é anti natural que eu torça para que um não vingue, entende? O meu instinto é zelar pela vida dos dois.

 

Por isso, e só por isso, todo o medo da gravidez múltipla, a preocupação com o trabalho e as despesas que nos acarretariam duas crianças de uma vez, passou para segundo plano. Tudo o que quero, minha prioridade absoluta, é saúde.

 

O resto, falo um pouco de brincadeira também, porque senão fica tudo muito sério, né?

 

Outra coisinha, todo mundo diz que mulher grávida fica radiante… Olha só, não estou me achando nada radiante! Minha pele está uma bosta e eu estou barriguda. Pior, porque nem é da gravidez ainda, é puro hormônio! A única coisa melhor é que os peitos cresceram, o que no meu caso vai a meu favor! Luiz fica dizendo que estou linda, mas ele é meu puxa-saco, claro que eu gosto, mas não acredito muito. Acho que vou aproveitar para cortar o cabelo e dar uma mudada no visual.

 

Agora, voltando ao assunto, para as mulheres que pensam em fazer ou estão em um processo de fertilização in vitro, se seus embriões são do tipo C ou D, isso é um problema? Não, simplesmente a probabilidade diminui. Por isso, também é comum se transferir mais embriões do que se forem do tipo A, por exemplo. É uma maneira de aumentar essa estatística.

 

Enfim, quais são meus próximos passos? Fazer dois exames de urina, desses comprados em farmácia, para verificar se estou grávida. Um no dia 28 e outro no dia 30 de outubro. Ou seja, 14 e 16 dias depois da transferência dos embriões.

 

Daí, há três possibilidades:

 

1)    Se as provas são positivas, ligo para o médico e marco consulta para uma ecografia entre 24 e 26 dias após a transferência (entre 7 e 9 de novembro), sem suspender os óvulos do Ultrogestan.

2)    Se são negativas, suspendo o Ultrogestan e ligo para uma consulta, onde seriam analisados em detalhe os dados do meu ciclo.

3)    Se são discordantes, faria um exame de sangue.

 

 

Pequeno detalhe, dia 9 de novembro é meu aniversário, para uma escorpiana, dia de renascer. E com todas as coincidências de números e de datas de toda essa história, não poderia ser diferente.

 

E eu, que amo aniversário e sou louca por uma festa, não preparei nada. Não sei o que preparar. Sei que no dia, certamente, jantarei com Luiz e minha mãe, o que já será bastante especial. Mas fora isso, estou em branco! Para variar, entre dois extremos, ou vou querer abraçar o planeta ou me esconder como um tatu! Não tem meio termo.

 

Bom, um pouco mais de paciência e meia dúzia de panelas queimadas no fogão e já saberei!

Esperando…

Passado o turbilhão que foram as duas últimas semanas, as coisas se acalmaram.

No próprio sábado em que fiz a transferência dos embriões, fomos a um jantar na casa de uma amiga. Fiz questão de ir porque foi justamente essa amiga que me recomendou meu médico e, portanto, como toda essa história de fertilização in vitro começou. Excelente forma de fechar esse ciclo.

Foi bem sossegado, pouca gente e papo ótimo! Deu para a gente conversar bastante e nos divertimos com o Luiz contando seu lado da história, na saga para conseguir os espermatozóides, digamos assim!

No domingo, não acordamos tão tarde e fomos almoçar no La Candelita, nova descoberta de restaurante pelo bairro de Chueca, uma delícia! É um Venezuelano-fusion, charmoso, boa comida, atendimento simpático. Nos domingos, servem um ótimo brunch, coisa que vem se tornando cada vez mais usual em Madri, felizmente!

Considerando que meu ritmo selvagem de baladas caiu radicalmente, desconfio que entraremos em uma fase de explorar os restaurantes da redondeza. Acho que uma vez ou outra, seguiremos pelos clubes de jazz, até porque já não se fuma em espaços fechados, uma benção para nossos pulmões! Mas definitivamente, os programas diurnos e mais leves ganharão nova prioridade, o que não acho nada mal.

A única coisa chata, é que após passar duas vezes por uma sala de cirurgia na mesma semana, minha resistência caiu e quando isso acontece, fico alérgica. Não deu em outra, fiquei meio entupida e com a garganta incômoda.

Segurei minha onda, não fui ao ensaio do coral ontem e dei uma caprichada na alimentação. O caldo de feijão carregado no alho, por exemplo, passou a fazer parte do meu cardápio diário. Falando nisso, às vezes, uso uma folhinha de louro no feijão para dar gosto, mas andei lendo que louro e açafrão são abortivos. Seguramente, só em quantidades muito grandes, mas na dúvida, quem está nesse processo, melhor evitar, certo?

Deu resultado, ainda não estou 100%, mas acordei praticamente boa hoje, mais tarde vou ao Pilates.

A melhor notícia que tive por esses dias é que minha mãe resolveu vir a Madri! Só meus lindos embriões gêmeos para serem capazes dessa façanha!

Há uns 4 anos ela não faz uma viagem para cá, a última vez foi quando meu pai teve o AVC no avião e daí, além da preocupação de deixá-lo sozinho, acho que ela ficou meio traumatizada também. Enfim, entendo, mas já era hora dela se libertar um pouco. Faltava uma motivação mais forte, que agora existe. Ela se esquematizou com suas primas, uma mudará lá para sua casa no período que ela estiver fora e outra o visitará com freqüência para dar uma força. Bom, também tem meu irmão que mora no Rio, o problema é que ele trabalha durante o dia todo. Claro que a gente fica preocupada, mas quer saber, tem coisas que a gente precisa acreditar que vai dar certo e tocar o barco.

Ela chegará no dia 6 de novembro e fica até o dia 18, o que quer dizer que estará aqui no meu aniversário, dia 9. Para mim é importante, será mais ou menos quando terei algumas respostas mais concretas se segurei ou não a gravidez. E em ambas respostas, nessa hora não tem jeito, os maridos que me desculpem, mas você quer a sua mãe!

E assim a vida segue, tenho tentado não entrar em obsessão e ficar pensando no mesmo assunto o dia inteiro, mas confesso que é difícil. Não estou ansiosa agora, juro, talvez mais próximo aos primeiros testes eu fique. Mas simplesmente desencanar e pensar em outra coisa, me custa trabalho.

Às vezes, me pego com medo da resposta positiva também. Parece uma contradição você querer tanto engravidar, mas ao mesmo tempo, ter medo que isso aconteça. Fiquei pensando um pouco a respeito e cheguei a conclusão que o que me assusta mais não é a gravidez em si, mas o fato definitivo. Nossa vida é sempre tão passageira, que tudo que é definitivo nos assusta um pouco. É o oposto a quem tem medo de mudanças. Não é algo comum, eu acho, mas me pareceu razoável.

Há anos somos adestrados a mudar e nos adaptar quase que imediatamente, até nossos móveis tem rodas! Literalmente, não estou exagerando. Para mim, é muito mais fácil aceitar a maternidade pelo lado do que vai mudar que pelo lado do que precisaria permanecer.

E agora vou colocar meu feijão no fogo, porque também já não há mais o que contar! Fui!

Ligeiramente grávida…

Acabamos de chegar do hospital! Já conto tudo com maiores detalhes, mas para encurtar o suspense, deu tudo certo e implantei dois embriões em excelente estado!

E agora, vamos por partes. Relembrando, Luiz estava em Londres e pegou o primeiro vôo possível para Madri. Mesmo assim, não quis arriscar e ficar nervosa esperando, preferi ir sozinha e encontrar com ele no hospital.

Uma amiga se ofereceu para me levar. Ela já fez o tratamento uma vez e foi através dela que cheguei nesse médico. Eu tinha muita resistência a fazer um tratamento de fertilidade, mas sua tranqüilidade me animou bastante. Ela começará uma segunda tentativa amanhã , espero e torço muito para que dê certo e assim nos embucharemos juntas!

Enfim, ela me pegou em casa às 9h15, precisava estar no hospital às 10h, assim que tínhamos margem. É claro que para dar um pouco de drama, erramos uma entrada, nos perdemos um pouco, mas o importante é que a gente se achou e chegamos a tempo.

Não gosto muito de dar trabalho para os outros quando não precisa, mas a verdade é que foi bom ter ido acompanhada ao hospital. No caminho, Luiz me mandou uma mensagem que o avião havia pousado, mas estava atrasado. Fiz as contas e vi que ele não chegaria antes de 10h30, paciência.

No hospital, a enfermeira era uma portuguesa super simpática que se alegrou por falar português e ficou mais agoniada do que eu quando soube que Luiz estava correndo para chegar a tempo.

Fui novamente para o Box 3, o que gostei, já que me deu sorte a primeira vez. Logo veio o outro enfermeiro e a auxiliar do médico, que inclusive foi a mesma que me atendeu na punção dos ovários. O médico também apareceu e todos na torcida para Luiz chegar, parecia um filme! O centro cirúrgico estava vazio, só tinha eu, assim que todo mundo estava ali envolta participando!

Olha gente, se puder esperar, ficarei mais do que agradecida, mas se não puder, não tem problema a gente estava preparado para isso!

Porque, além do mais, tinha que fazer o procedimento com a bexiga cheia, para ver melhor no ultrasom. Só que a essas alturas, eu já estava explodindo de vontade de ir ao banheiro!

Bom, esperamos tudo que deu e fomos para a sala de cirurgia às 10h35. A enfermeira portuguesa me disse que podia ficar tranqüila, assim que Luiz aparecesse, ela levava ele para lá, mesmo que o procedimento tivesse começado.

Pois é, como disse, só tinha eu de paciente mesmo, assim que todo mundo ficou por ali para saber o que acontecia. Juro! Definitivamente, eu devo ter uma gravidez das mais participadas do mundo! Eu, o médico, a auxiliar, o enfermeiro que carregava a cadeira de rodas, a responsável do laboratório… só não ficou a enfermeira portuguesa, porque estava na recepção esperando pelo Luiz!

E eu ali, naquela posição ginecológica tão peculiar, batendo papo e tentando me convencer que aquilo devia ser muito natural, né? O importante é a atitude!

Isso sem falar da vontade desesperadora de fazer xixi! Acho que nem deu para ficar emocionada na hora, porque se eu relaxasse a ponto de descer uma lagriminha, desceria muito mais do que o desejado! Caraca!

Daí, a responsável do laboratório me explicou o seguinte, tienes dos embriones muy guapos! (você tem dois embriões muito bonitos) Já gostei do bom humor e obviamente da notícia. Esses dois estavam no ponto ótimo para fazer a transferência. O terceiro embrião ainda estava um pouco imaturo, precisariam esperar um pouco mais para saber se sobreviveria e se vale à pena congelá-lo. Perguntei de que técnica eram os dois que estavam bem e ela me disse que era um de cada técnica (micro injeção e fertilização convencional). Disse também que estavam em ótimas condições, no ponto exato para transferência! Beleza, são os que preciso e nem tenho que decidir mais nada! Que assim seja!

A parte bonita é que você assiste pelo monitor do ultrasom o que está acontecendo e vê o momento exato em que o médico introduz a cânula e deixa um pontinho líquido brilhante no seu útero. Assim que me senti privilegiada em testemunhar o segundo em que duas vidas me foram dadas.

No minuto seguinte, entra pela sala a enfermeira portuguesa e Luiz esbaforido! Conseguiu chegar no finalzinho.

Ou seja, que terminei de me engravidar com mais seis pessoas em volta na torcida! O médico, a auxiliar, a enfermeira portuguesa, o enfermeiro que levava a cadeira de rodas, a responsável do laboratório e Luiz.

Até pensei em perguntar se não tinha mais ninguém pela recepção que quisesse compartilhar desse momento tão público e numa posição tão cômoda!

Fui levada novamente ao Box 3, com toda minha escolta. E o enfermeiro já me perguntou se não preferia ir direto ao banheiro! Claro, porque todo mundo também sabia que estava pensando amarelo!

Fiz a mesma pergunta ridícula que imagino que outras mulheres também devam pensar: mas posso ir ao banheiro tranqüila, né? Não vai me sair nada que não deva?

Óbvio e felizmente, não tem problema nenhum, ninguém urina os embriões!

Só aí tive um pouco mais de sossego com Luiz e foi contando o que havia acontecido que me emocionei em lembrar da imagem dos embriões no útero. Acho que tinha tanta coisa acontecendo na hora que não absorvi tudo no mesmo instante. Na verdade, minha ficha ainda está caindo até agora. Acho que a dele também.

Avisei minha mãe por SMS, não quis ligar para o Brasil porque ainda era muito cedo por lá. Ligamos para minha amiga que foi comigo ao hospital para agradecer e viemos para casa.

Os próximos passos são usar 3 óvulos de Ultrogestan (progesterona) ao dia, um pela manhã e dois à noite, e seguir tomando o ácido fólico. Em duas semanas, preciso fazer um teste de gravidez, desses que a gente compra em farmácia mesmo. Com o resultado, ligo para o médico e marco a consulta seguinte.

E agora, é vida normal. Começamos nova etapa e que seja o melhor para todos nós!

Mas bem que um dia poderá ser engraçado contar para as crianças que, no dia 15 de outubro, assisti ao momento exato em que elas foram concebidas e que elas/ela/ele/eles já chegaram ao mundo de maneira divertida e com um monte de gente ajudando!

Décimo primeiro dia: 3 embriões respondendo!

Às cinco da matina, Luiz acordou, precisou viajar para Londres. Retorna amanhã, no primeiro horário possível, e chega em Madri pelas 9 horas.

 

A vida seguiu e a nossa é assim, nada estanca para esperar o próximo passo, é tudo junto ao mesmo tempo! Vamos nos adequando e fazendo espaço na nossa agenda para caber o que precisa.

 

Por volta de 11 horas, me ligaram do hospital para dar notícia dos óvulos. Dos 5 válidos, 3 viraram embriões. Mais especificamente, dos 3 da micro injeção, sobreviveu 1. E os 2 da fertilização convencional sobreviveram.

 

Entre nós, essa era minha aposta. Não tem nenhuma validade científica o que vou dizer, mas tive essa sensação de que preferia os da fertilização convencional, por ser mais parecido ao processo natural. Não foi alguém que escolheu um determinado espermatozóide do Luiz, foi a vida que se encarregou que os melhores chegassem primeiro a cada óvulo.

 

Ainda é muito recente para saber em que classificação se encontrarão esses 3 embriões. Eles serão classificados em A, B, C e D. Sendo A, o mais provável de conseguir seguir com a gravidez.

 

Eles terão essa resposta amanhã pela manhã, quando está marcada a minha transferência dos embriões. Será às 10 horas e é ali na bucha que descubro quantos embriões devo implantar. Meu palpite é que vou implantar esses 2 embriões da fertilização convencional.

 

Importante ressaltar que ainda não sabemos desses 3 embriões, quantos sobreviverão até amanhã e em que qualidade. Outra coisa, o fato de implantar 2 embriões, não garante que terei gêmeos e sim aumenta a probabilidade que pelo menos um sobreviva.

 

Digo isso, porque ainda tem muita gente pensando que a fertilização assistida garante a gravidez e não é verdade. Com toda essa história, pelo que entendi, minhas chances são por volta de 20%.

 

Assim que deixo claro que comemoro cada etapa, porque essa é a minha natureza e filosofia. Mas isso não quer dizer que já esteja comemorando uma gravidez. Ainda tem muita água para rolar até ter certeza que tenho uma gravidez saudável, coisa que só acontecerá a partir do terceiro mês.

 

Agora, fala sério, alguém acha que vou passar três meses com cara de interrogação porque pode ou não dar certo? Melhor ser cautelosa, para evitar um tombo grande? Por mim, que se foda o tombo grande! Quando chegar lá, se, e somente se chegar lá a gente vê o que faz. Quem tem a vida fácil? A gente não se vira sempre?

 

Prefiro curtir esses momentos como se tudo fosse dar certo, porque pode dar e não quero ter perdido nada!

 

Mas voltando à prática, lembra que falei que o Luiz viajou? Pois é, estávamos achando que a transferência seria no domingo. Por precaução, ele até pegou o vôo mais cedo que tinha. Resumindo, ele deve pousar em Barajas pelas 9h30 e temos que estar no hospital às 10 horas.

 

Não vai dar tempo dele vir em casa me buscar, vamos para o hospital cada um por si e nos encontraremos lá!

 

O que, se pensarmos bem, é um pouco bizarro não? Ele vai correr feito um louco para chegar a tempo de estar presente durante a fecundação do seu próprio filho!

 

Quer ver ficar mais bizarro?

 

Tecnicamente, quando coloco os embriões no útero, estou grávida. Não tenho que esperar o próximo ciclo, como as mulheres normais, para saber se formou o embrião e eu engravidei. O que tenho que esperar é que meu corpo segure essa mesma gravidez.

 

Ou seja, pela primeira vez, encontrei uma situação em que o termo “ligeiramente grávida” é um fato!

 

Essa noite, poderia me despedir das pessoas assim: não vou beber e já vou andando, porque amanhã tenho que acordar cedo para ficar grávida… sabe como é que é…

Décimo dia: a retirada dos óvulos!

Acordamos cedo, a cirurgia estava marcada para às 8 horas. Na verdade, nem dormi muito.

 

Mas não estava ansiosa ou nervosa, na verdade o final para mim tem sido uma etapa mais tranqüila. Ajuda muito o fato de não estar mais tomando hormônios, assim as coisas tomam uma perspectiva real e a gente não se sente uma adolescente alucinada em que tudo parece ser intenso e definitivo.

 

É muito bom acordar lúcida novamente!

 

Enfim, chegamos ao hospital e fomos encaminhados para um Box, onde há uma cama, uma pia, uma cadeira e uma cômoda pequena. Meu Box era o número 3, ótimo, equilíbrio! Ali eu deixo minha roupa normal e coloco aquela camisola de paciente.

 

Aliás, vamos abrir um parênteses, quem inventou aquele camisolão culos al aire só podia estar de sacanagem, né? Tem coisa mais patética do que aquele camisão aberto na bunda? Fala sério! Ainda por cima, tinha que colocar aquele chapeuzinho verde, que parece uma touca de banho. Fiquei realmente uma gracinha, sexy de los cojones! Uma verdadeira inspiração para o Luiz se lembrar mais tarde…

 

Bom, daí veio uma enfermeira e me colocou soro, com alguma medicação que nem quis saber o que era. Você se mete na cama e é nessa mesma cama que te levam para o centro cirúrgico.

 

Enquanto isso, na sala de justiça… Luiz volta ao consultório do médico com um potinho, que parece aquele de exame de fezes, com nossos nomes. Digamos que é a hora da sua contribuição espermatozóica. Pois é, ainda chegou lá com outros dois maridos e seus potinhos, os três com aquelas caras de nádegas esperando a chave dos seus quartinhos e todo mundo sabendo para que! Putz, vamos combinar, tem que ser muito macho!

 

Obviamente não se falaram, porque se fossem mulheres, a gente já saberia tudo uma da vida da outra, tínhamos dado dicas de maneiras mais fáceis que a gente leu não sei onde, desejaríamos boa sorte com risadinhas nervosas… somos mais divertidas!

 

Voltando à minha parte, fui encaminhada para uma sala de cirurgia com uma cama engraçada, parecida a dos consultórios ginecológicos, com aquele apoio para as pernas. O médico se apresentou, é da equipe do meu médico, mas ainda não o conhecia, simpático por sinal. Perguntou se eu estava tranqüila e eu disse que sim, não tinha que fazer mais nada… agora é contigo! Ele riu e me apresentou à anestesista, também bastante gentil. Ela me perguntou se tinha alguma alergia, disse que só a pó, pólen e tabaco, mas que havia tomado anestesia geral antes e tudo bem. A única coisa é que acordei muito enjoada, mas isso foi há mais de 30 anos atrás.

 

Ela me falou que a anestesia seria um sono agradável, achei que ela estava sendo otimista, mas tudo bem. Dormi logo em seguida e ela tinha razão, foi um sono agradável. Na verdade, adoraria ser assim normalmente, fechar o olho, relaxar e dormir.

 

Acordei quando acabou tudo, já na cama de rodinhas que cheguei ali. Como se tivesse dado um cochilo depois do almoço, sem sentir nada de enjôo ou sensação ruim. Perguntei ao médico quantos óvulos ele tinha tirado e ele me falou que isso eles ligavam durante a tarde para informar direitinho.

 

Fui encaminhada para uma sala de recuperação comunitária, tinha algumas pessoas dormindo. Eu cheguei completamente acordada e puxei papo com a enfermeira na tentativa de convencê-la que já podia ir embora. Ela tirou minha pressão, 10/7, conversou um pouquinho, mas disse que precisava me manter ali por pelo menos uns 20 minutos. Ok, esperei acordada do mesmo jeito, meio entediada, mas feliz por estar me sentindo bem.

 

Vi entrar as duas esposas, que havia visto na recepção e começaram o procedimento antes de mim, ambas dormindo. Uma delas parecia normal, a outra era muito nervosa. Fui a primeira a deixar a sala de recuperação e a nervosa foi a última.

 

Voltei ao Box 3, onde Luiz já me esperava. Pedi para ele enviar um SMS para minha mãe, avisando que estava tudo bem. Ainda era muito cedo no Brasil, mas assim ela já acordava tranqüila. Novamente, tentei convencer a enfermeira que já podia ir para casa, mas tinha que terminar de tomar a medicação por soro. Ela fez com que o soro corresse um pouco mais rápido e algo depois das 10 horas, estava liberada.

 

Estava com fome e fomos para a cafeteria fazer um lanche. Comi misto quente e tomei suco de laranja e café descafeinado com leite.

 

Passamos no consultório do médico para dizer que estava tudo bem, que havia terminado o procedimento e não estava mais em jejum. Fomos liberados para voltar para casa e a atendente me disse que ligariam por volta das 15 horas para contar quantos óvulos foram retirados e em que qualidade.

 

Cheguei em casa, avisei à família e aos  amigos que estava tudo bem e fomos dar uma cochilada. Luiz tirou o dia de folga.

 

Passei muito bem, a única coisa é que dá um pouco de cólica e a barriga estava bastante inchada, como se estivesse com gases (que glamour, não?). Assim que para sentar e caminhar era um pouco desconfortável, mas deitada não sentia nada. Quer saber? Não preciso fazer repouso, mas um pouco de descanso me virá bem.

 

Pelas 15 horas, como eles disseram, me ligaram do hospital dizendo que retiraram 6 óvulos. Não é uma quantidade enorme para a fertilização artificial, mas até melhor do que nossas previsões. Desses 6 óvulos, um estava muito imaturo, então foram aproveitados um total de 5.

 

Há duas técnicas possíveis a serem aplicadas, uma é a micro injeção e a outra é a fertilização convencional. Na micro injeção, eles escolhem um espermatozóide e fecundam diretamente o óvulo; na convencional, deixam o óvulo exposto a um conjunto de espermatozóides e o mais “esperto” chega primeiro, muito parecido ao processo natural do corpo humano. Bom, eles não sabem que técnica seus óvulos responderão melhor, por isso, optam por utilizar as duas. No meu caso, 3 óvulos foram fecundados por micro injeção e 2 óvulos por fertilização convencional.

 

Daí, você precisa esperar o dia seguinte para saber quem virou embrião e que óvulo não deu em nada.

 

Lá fui eu avisar para a família e os amigos! Olha, sou da filosofia que ou você tem um segredo e não conta para absolutamente ninguém, ou relaxa e conta para todo mundo. Meio segredo não existe e dá um trabalho danado! E para quem você já contou, não é justo deixar na expectativa de uma resposta.

 

Eu realmente acredito que a família e os amigos estão torcendo para nosso bem, do jeito que sabem, com boas energias, com pensamento positivo, rezando, orando, falando mais ou calados, não me importa a maneira que cada um acredita. Quem sou eu para julgar? Mas sim, acredito que a boa intenção atrai coisas boas! E me sinto privilegiada pelo carinho que tenho recebido de todos os cantos, até de gente que nunca vi!

 

Assim que seja o que tiver que ser, mas quem vier será concebido com centenas de padrinhos! Praticamente uma suruba cósmica! Porque nunca tivemos tanta gente no nosso quarto!

 

Brincadeiras à parte, obrigada por quem participou de alguma maneira (mais ou menos declarada) desse processo.

Décimo dia: a retirada dos óvulos (provisório)

Queridos amigos, passo por aqui só para dizer que foi tudo bem. Foi  tranquilo e o pós operatório foi melhor do que esperava. Já cheguei na sala de recuperação acordada e batendo papo com as enfermeiras, tentando convencê-las que estava boa para vir para casa.

Pelas 15h de Madrid, alguém deve me ligar dando notícias sobre a quantidade e a qualidade dos meus óvulos e só aí terei alguma notícia mais concreta.

Mas enfim, sei que tem muita gente legal torcendo pela gente, assim que fiz questão de dar uma passadinha rápida pelo menos para dar alguma informação e agradecer. Vocês são show!

Pode deixar que mais tarde passo por aqui e substituo esse texto por um decente, contando tudo direitinho com mais calma. Agora vou ficar quieta e sossegar um pouco o facho, que é o melhor que eu faço!

Besitos miles 😉

Nono dia: só descansar!

Hoje acordei bem, sem grandes alterações, se o humor está bom ou mau será parte da minha natureza. Até porque, a dose hormonal diminuiu consideravelmente. Ontem só tomei uma injeçãozinha de nada e um antibiótico em comprimido.

Tinha um concerto para ir na Sala Clamores, queria comparecer por ser a despedida de uma amiga querida. Mas não demos conta, mais por minha causa. Pelas 23h eu capotei e o show começava às 0h30. Para Madri, não é tão tarde, mas nesse momento para mim é.

Depois, estou um pouco desconfortável, inchada. Nada demais, mas desde ontem, ficar com roupa larga espalhada no sofá tem me parecido um programaço! Vou tentar dar pelo menos uma caminhadinha mais tarde para não ficar tão preguiçosa. Nem grávida estou ainda!

Assim que hoje tirei o dia para descansar, sem hora, sem remédio e sem grilos! E ainda por cima, feriado, ou seja, perfeito.

Minha única tarefa do dia é fazer um tipo de lavagem vaginal com Rosalgin à noite e parar de comer às 24h.

Amanhã, acordo cedinho e minha parte está praticamente feita. Agora é com os médicos, Luiz e o destino.

Teoricamente, a gente só pode dizer que valeu à pena no final, porque costuma depender do resultado. Mas vou antecipar esse julgamento para agora. Porque sim, valeu muito à pena. Como não sei se vai funcionar e posso estar bastante triste para falar sobre isso no futuro, prefiro fazê-lo nesse momento, porque é o mais adequado.

A potencial gravidez ou a falta dela é uma outra etapa, completamente diferente. E já disse outras vezes que uma guerra não costuma ser ganha em uma única batalha. E cada batalha precisa ser comemorada individualmente.

Eu fui aquela que era completamente contra a fazer qualquer tipo de tratamento de fertilidade. Achava que se viesse naturalmente bem, se não, era porque não tinha que ser.

Veja bem, cada mulher deve saber seus próprios limites e o quanto é capaz de tolerar a frustração, que sim está inerente ao processo, independente do resultado final. Não vou dourar a pílula nem dizer que é um conto de fadas, você se frustra durante o processo também e dá um nó na sua cabeça.

Outro detalhe importante, já não achava e continuo não achando que uma mulher ou um casal precise ter um filho para serem completos e felizes.

Entretanto, se você quer, é outra história. Melhor pegar o touro pelos chifres do que tentar correr dele e dar as costas.

O tratamento não é fácil, mas não é um bicho de sete cabeças, é possível. E se a ciência está a seu favor, por que brigar com ela? Por que resistir? Qual é o seu medo de verdade, porque para quase todos tem resposta. Se por um lado, o tratamento é angustiante, não tentar tampouco é tranquilizador.

Se você tem vinte e poucos anos, maravilha, você tem tempo e minha experiência não é para você. Mas se já passou dos trinta, não confie que a tecnologia vá te ajudar seguramente no futuro, nem conte com a sorte.

Um pouquinho de estatísticas, os especialistas afirmam que aos 35 anos, a fertilidade feminina é a metade da que era aos 25 anos. E que aos 40 anos, essa fertilidade cai para a metade do que era aos 35. Vou traduzir, esperar um ano quando você tem 25 anos é nada, esperar um mês quando você tem 40 anos é significativo.

Se você está na casa dos 35 a 40 anos e não engravidou naturalmente, não espere para pedir ajuda médica. E se suas chances são muito maiores com um tratamento, não resista por besteira.

Qual é o problema de você enfrentar duas semanas histérica, vai passar. Que mulher nunca sobreviveu a uma TPM? Tem que tomar injeções, é um saco, mas dói menos que a depilação, pode acreditar.

O foda é a frustração, mas vamos combinar que é o bom e velho chavão piegas de sempre, é muito melhor se frustrar por ter tentado do que ficar no “e se”. E pode acreditar também, o “e se eu tivesse tentado antes” virá e é duzentas vezes mais frustrante!

Pronto falei!

Eu não sei se vou engravidar, mas sei que hoje estou pronta para lidar com essa realidade com a cabeça resolvida.

E se tiver que vir e vier, sei que serei uma mãe melhor.

Estou em paz e agora vou curtir meu restinho de quarta-feira!

Oitavo dia: seguimos no páreo!

Depois de uma segunda-feirazinha-de-merda, desculpe o francês, a terça amanheceu melhor.

 

Dormi mais ou menos, mas acordei calma de se estranhar. O que tivesse que ser, já não teria que ficar esperando mais, a sorte estava lançada. Minha parte eu fiz e sigo fazendo.

 

No dia anterior, me preocupava que o médico não quisesse seguir o procedimento e preferisse adiar. Porque, entre nós, ainda que não goste de afirmar que dessa água não beberei, não tenho a menor intenção de repetir essa história. Tem gente que tenta três, quatro, cinco vezes, mas a Bianquinha aqui não tem estrutura, nem tempo, nem grana para isso. Nada contra, pelo contrário, admiro a coragem da mulherada, mas uma vez para mim é o suficiente para me virar do avesso.

 

Acontece que acordei com o seguinte pensamento na cabeça, se tiverem só os dois óvulos e isso não for suficiente para seguir o tratamento, não significa que eles não estejam lá. Simplesmente, que estatisticamente, não compensaria entrar na sala de cirurgia e fazer a fertilização in vitro, porque seria uma questão de sorte. Pensei, mas acontece que os óvulos seguiriam lá, coisa que eu não tinha nos últimos meses. E loteria por loteria, de qualquer maneira eu tentaria engravidar, só que do modo mais divertido!

 

Minha linha de raciocínio nem sempre segue a lógica tradicional, mas funciona para me tranqüilizar. No fundo, acreditei que fosse o que fosse, não era definitivo, era só mais um passo.

 

Enfim, cheguei no médico preparada para ouvir a conversinha pessimista e fazer ouvido de mercador e cara de nada, mas fui logo encaminhada a fazer novo exame de sangue. Opa, acho que ainda estou no páreo!

 

Resumindo a ópera, sim sigo no processo. É o seguinte, tenho 2 folículos grandes em cada ovário e, no meu ovário melhor, mais uns 3 pequenos. Muito bem, o ideal seria esperar que esses 3 pequenos crescessem, mas tem 2 que já estão bem desenvolvidos e se continuo a estimular, há o risco de rompê-los, sem a certeza que os outros 3 irão crescer. Ou seja, melhor tirar os 4 bons e 3 mais ou menos do que se arriscar.

 

Como eu já dei até nome para cada um dos 2 óvulos melhores, não me preocupou não haver vários óvulos, tenho os que preciso. Sim, sei que é precoce, não há nenhuma garantia e blá blá blá… mas foda-se! Para mim são os gêmeos, até que se prove o contrário!

 

Aliás, um parênteses: meninas que pretendem fazer o tratamento, palavrões são terapêuticos para aliviar o efeito dos hormônios!

 

Mas vamos à prática. Hoje suspendo o Fostipur e o Orgalutran. Tomo uma única injeção de Ovitrelle, pontualmente às 21h. Esse medicamento, desencadeia a maturação final dos folículos estimulados. No mesmo horário, Luiz e eu temos que tomar Azitromicina, antibiótico, 1 comprido (finalmente um comprimido!) de 500mg.

 

E de medicação, esses são os últimos remédios até a fase de implantar os embriões.

 

Na verdade, falta só uma lavagem vaginal amanhã à noite, com Rosalgin Pronto, antes de me deitar. Mas isso é fácil e não tenho que me furar, nem que tomar nada! É só a preparação para extrair os óvulos na quinta-feira.

 

Ou seja, na quinta-feira, dia 13 de outubro, tenho o procedimento cirúrgico da retirada dos óvulos. Adorei o dia, era o número favorito da minha avó que acendi a vela ontem. Não queria que fosse no dia 12, não gosto muito desse número. Tudo bem, já estou viajando na maionese outra vez, eu sei, mas novamente, é essa lógica maluca que me deixa mais otimista.

 

A previsão é me internar às 8h, com jejum de 8 horas anteriores, tomo anestesia geral e retiro os óvulos por punção folicular. É feito com um aparelho como os da ecografia transvaginal, só que ele mesmo leva uma agulha que faz a punção dos dois ovários internamente. A cirurgia em si é simples, deve durar uns 15 minutos. Daí vou para uma sala de recuperação e devo passar mais umas duas horas até me recuperar totalmente da anestesia. Volto para casa no mesmo dia, provavelmente, ainda na parte da manhã.

 

Depois vou contando com mais calma. Mas entre hoje e amanhã, parece mais tranqüilo.

 

Na minha barriga, parece que instalaram uma fina camada de gelatina… putz! Mas tudo bem, é por uma boa causa.

 

Vamos ver se os hormônios me deixam um pouco em paz por hoje!

Sétimo dia: expectativa

O finzinho de domingo foi gostoso. Pelas 19h30, fomos para o Siroco cantar. Foi um encontro de coros e também a reabertura da casa, que aliás, ficou bem legal.

 

Chegamos cedo para esquentar um pouco a voz, ver como nos posicionaríamos no palco, que música cantaríamos em conjunto com os outros dois coros, enfim, acertar os detalhes. Não estavam duas participantes do nosso grupo, fizeram falta, mas não fizemos feio. Algumas coisas para ajustar, mas honestamente, saiu melhor do que esperava.

 

Quando acabou fomos comer coxinha e cachorro quente no Mr. Dog da Calle San Bernardo. Assim terminamos de chutar o pau da barraca no final de semana. E sim, acho que já ganhei peso, nem quis me pesar para não me deprimir mais!

 

Minha barriga está inchada e estou retendo líquido. Adicionei gengibre na dieta, amanhã vou ver se compro abacaxi.

 

Ontem foi aniversário de morte da minha avó, havia me lembrado antes, eu costumo acender uma vela para ela nesse dia. Mas com toda essa confusão rolando, justamente ontem eu esqueci, estava na Siroco no horário que costumo fazer isso.

 

Enfim, lembrei hoje e me senti miserável por ter deixado passar. Na verdade, o dia hoje não está  nada fácil para mim. Desde que comecei o tratamento, é quando tive mais baixos que altos, perdi um pouco da confiança e está difícil manter o bom humor.

 

De qualquer maneira, mesmo atrasada, acendi sua vela de costume, acendi uma cor de rosa e cheirosa. Claro que chorei um balde, mas talvez tenha sido até bom, assim não fico guardando nada. Depois, se não consigo rezar normalmente, pelo menos para as minhas avós eu posso, porque eu não tenho fé, mas elas tinham.

 

Amanhã tenho consulta cedo para saber se desenvolvi os tais folículos, se tenho óvulos suficientes para seguir o tratamento. E para ser bastante sincera, não estou pessimista, mas estou decepcionada.

 

Minha última consulta não foi nenhuma maravilha. Não foi suficientemente ruim para me tirar as esperanças, mas no fundo, acreditava que superaria qualquer expectativa. Estou acostumada a romper limites e barreiras, modéstia às favas, acontece que já não tenho controle sobre isso. Vai ser o que tiver que ser e não tenho nada além a fazer do que já estou fazendo.

 

Sigo com as injeções nossas de cada dia. Ontem tentei tomar a mais dolorida primeiro para ver se era mais fácil. Foi pior, porque a barriga já estava ardendo para a segunda. O Emla ajudou um pouco, mas mesmo assim, a agulha mais grossa atrapalha e deixa um ematoma (pequeniníssimo, mas deixa). Amanhã, se tiver que seguir com ela, vou perguntar se posso trocar de seringa. Também comecei a colocar música enquanto preparo tudo e me aplico, me ajuda a relaxar. Outra coisa que alivia é colocar gelo no final de tudo, dá uma anestesiada.

 

Ontem não quis medir minha pressão durante o dia, ela vinha aumentando e fiquei grilada. À noite não resisti e começou a dar uns resultados malucos, quer saber, nem sei se o aparelho estava funcionando direito. Resolvi deixar para lá. Mas medi hoje e voltou ao meu normal 110/71 e temperatura de 36,3.

 

Tinha ensaio do coral hoje à noite, mas estou sem saco. Não estou com vontade de cantar nem de conversar, quero ficar quieta em casa. Amanhã eu devo estar melhor e aí retomo tudo.

Sexto dia: na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…

Antes de chegar no sexto dia, vou contar um pouco sobre o sábado à noite e ao longo da semana.

 

Fala sério, alguém teve a semana passada fácil? Porque para mim e a torcida do flamengo, foi uma semaninha do cão. Nem posso dizer que foi ruim, mas foi difícil, vamos, foi foda mesmo!

 

Mas sobrevivemos e chegamos ao final dela, entre mortos e feridos, salvaram-se todos!

 

Pela sexta-feira, e-mail de um casal de amigos e outro que a mulher viajou, e aí o que fazemos amanhã? Todo mundo meio duro para sair e querendo animar um outro casal, que passa por um período complicado, ela acabou de fazer um aborto meio tardio, por problemas com o feto. A idéia de um dos amigos era passar na casa deles de surpresa.

 

Veja bem, de surpresa não vou de jeito nenhum! Em condições normais de temperatura e pressão, surpresas já são bem complicadinhas. Ok, então perguntamos a eles se preferiam que a gente passasse na casa deles ou que nos reuníssemos aqui em casa? Eles acabaram topando, mas preferiram vir aqui.

 

Para  reles mortais amadores, seria uma certa saia justa. O que a gente diz para a ex-futura-mãe nesse momento? E ainda por cima, eu no meio de um tratamento de fertilidade! Pois é, mas para gente isso é parte da vida, se é para confrontar os problemas, muito melhor entre os amigos que se querem bem.

 

Quando ela chegou, nos abraçamos, choramos, pagamos um certo mico, enxugamos as lágrimas e seguimos a conversa, como deve ser. Se alguém está pensando que isso estragou nossa noite ou que ficou um clima pesado, aviso que não aconteceu.

 

Um dos amigos trouxe os ingredientes para fazer um strogonoff de frango e ele mesmo se encarregou de ir para o fogão executá-lo. Eu fiz arroz normal, arroz com gengibre, frango assado na cerveja e vagem na manteiga. Outra amiga trouxe um feijão para tomar como caldinho de entrada, aliás, seu primeiro feijão cozinhado sozinha! E todos trouxeram o que queriam beber.

 

E assim foi nosso jantar do sábado à noite, mais familiar impossível!

 

Esquecemos da sobremesa! Quer dizer, eu que esqueci, né? Também a gente nem sabia que ia ser jantar! Resolvemos com uns chocolatinhos deliciosos da nespresso.

 

Sentamos em volta da enorme mesa de centro da sala e sem nenhum planejamento, começou a sair os problemas de infância de cada um, basicamente físicos. Quem nasceu com o pé torto, com a língua colada no céu da boca, com os testículos que não desceram… enfim, um monte de aberrações, mas que ficaram para trás! E cada vez que um contava um problema pior, mais a gente se acabava de rir! Quanto mais absurda era a história, parece que mais engraçado ficava e um sacaneava o outro e a si mesmo.

 

O que acontece é que enquanto colocávamos para fora, ou pelo menos falo por mim, mas acho que era um sentimento geral, mas leve ficávamos. Porque além de compartilhar, a gente vê que não somos os únicos com problemas, coisa que a gente sabe, mas se esquece na hora do olho do furacão. Eu realmente acredito que é rindo que a gente consegue exorcizar o mal que nos fazemos com as mágoas, com a dor e com tudo que nos prejudica.

 

No final das contas, nossos assuntos não foram só problemas, mas foram neles que mais nos sintonizamos e nos divertimos.

 

Pelas três e alguma coisa da madrugada dividimos o que sobrou de comida e bebida, limpamos a mesa e nos despedimos.

 

Eu, certamente, mais leve.

 

Aproveito para comentar um tema que é um pouco delicado e que devo voltar nele em algum momento, mas ontem me lembrei. Essa amiga que precisou abortar ficou sabendo ontem que estou tentando engravidar e ficou bastante contente e tenho certeza que estará na torcida positiva.

 

E é sobre isso que quero falar. Muitas vezes a gente conhece uma amiga que perdeu um bebê ou que está tendo problemas sérios para engravidar e se sente mal em contar que está grávida, ou que acabou de ter filhos. Enfim, parece que dividir nossa alegria com alguém que tem um problema relacionado vai magoar a pessoa. Há amigas que se afastam nesses momentos e acho esse um erro terrível!

 

Sim, é verdade que há mulheres que não seguram a onda, ou não seguram por um tempo e se afastam. Pessoalmente, acho que o espaço de cada uma deve ser respeitado. Mas na grande maioria das vezes, somos nós que tememos machucar o outro com a nossa alegria e nos afastamos, com a melhor das intenções, mas deixamos sós quem queria nossa companhia (e nossa alegria também).

 

Quando eu não queria ter filhos, nunca desanimei ninguém que queria tê-los e sempre, sempre e sempre, fiquei na maior alegria com as minhas amigas que engravidaram. Se eu tiver problemas para engravidar, não quero me afastar das minhas amigas grávidas ou com nenéns, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!

 

Vou ficar triste sim e vai ser duro no primeiro momento, vou pensar por que não aconteceu comigo, mas vai passar. Isso é um problema meu com meu umbigo, não tem nada a ver com os problemas das minhas amigas ou da minha família. Acho que as pessoas devem continuar agindo como antes, com normalidade, porque é uma coisa normal. Problemas são desagradáveis, mas são normais, todo mundo tem.

 

E dito tudo isso, sigo com meu sexto dia, o domingo.

 

Acordei com meu humor de altos e baixos igualzinho. Alguns momentos mais tranqüila, outros com vontade de chorar por idiotices, outros com fome, outros relaxada… enfim, um dia normal, acentuado por hormônios.

 

Pensei um pouco no meu médico, às vezes, sua responsabilidade em me informar a todo momento sobre as estatísticas, os riscos e minha senilidade ovular, me irritam profundamente. No fundo, queria que ele acreditasse mais que o processo fosse dar certo. Mas a verdade é que ele não me conhece, está no seu papel. Quem tem que acreditar que isso tudo vai dar certo sou eu.

 

Hoje tenho que tomar as injeções um pouquinho mais cedo. Aliás, a segunda injeção, a do Orgalutran, é um pouco mais dolorida. A agulha é ligeiramente mais grossa e senti diferença na hora de aplicar. Para facilitar, lembrei de passar Emla, uma pomada anestésica que a gente passa para fazer tatuagens menos doloridas. Vamos ver como funciona, amanhã eu conto.

 

E por que vou tomá-las um pouco mais cedo? É que hoje a gente canta na Sala Siroco. Será um encontro de três coros regidos pela nossa maestra. Duas das participantes mais fortes do nosso coro, o Dumbaiê, não estarão. Farão bastante falta, mas como todo esse texto conta, nada é perfeito, daremos nosso jeito.

 

E, na pior das hipóteses, riremos juntos disso no futuro.

 

 

Casa de Bamba (Martinho da Vila)

 

Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba…

 

Na minha casa
Não tem bola prá vizinha
Não se fala do alheio
Nem se liga prá candinha…

 

Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba…

 

Na minha casa
Ninguém liga prá intriga
Todo mundo xinga
Todo mundo briga…

 

Macumba lá na minha casa
Tem galinha preta
Azeite de dendê
Mas ladainha lá na minha casa
Tem reza bonitinha
E canjiquinha prá comer

Se tem alguém aflito
Todo mundo chora
Todo mundo sofre
Mas logo se reza
Prá São Benedito
Prá Nossa Senhora
E prá Santo Onofre…

Mas se tem alguém cantando
Todo mundo canta
Todo mundo dança
Todo mundo samba
E ninguém se cansa

Pois minha casa
É casa de bamba
Pois minha casa
É casa de bamba…

Quinto dia: menor idéia se isso é bom ou mau

Hoje pela manhã, fui à consulta médica. Fiz uma ecografia e exame de sangue (para uma lista de coisas! No resultado eu verei tudo que ele pediu.).

Muito bem, na ecografia deu que no ovário esquerdo, o meu pior, havia um folículo se desenvolvendo. No ovário direito, havia 2 folículos se desenvolvendo e mais 3 com possibilidades.

E isso é bom ou mau? Cheguei à conclusão que não sei.

A parte boa é que o organismo está reagindo rápido. Poderia estar tomando esses hormônios e os ovários nem tchum.

A parte ruim é que se ficarem só nos 2 óvulos bons, é muito pouco para seguir o tratamento. Não é impossível, mas as chances ficam remotas. Agora, se os outros 3 que estão lá seguirem se desenvolvendo, já é bem melhor.

Portanto, sim as coisas vão caminhando, mas ainda não tenho certeza se poderei tirar os óvulos na semana que vem. Estou marcada para voltar à consulta na próxima terça-feira, dia 11 de outubro e aí tomar alguma decisão .

Resumindo é uma notícia boa, mas meio brochante.

Enquanto isso, sigo com o Fostipur, que é um estimulador para a produção de óvulos e hoje começo a tomar uma nova injeção de Orgalutran 0,25mg/0,5 ml. Esse remédio é utilizado para evitar a ovulação prematura (liberação antecipada de óvulos para o ovário) em mulheres submetidas a tratamento de fertilidade, cujos ovários foram estimulados (pelo Fostipur) a produzir mais óvulos. No caso de uma ovulação prematura, os ovários liberam óvulos que podem não estar maduros ou não serem adequados para o uso na fertilização in vitro.

Ou seja, no total, sigo com duas ampolas de 150 ml de Fostipur e mais o tal do Orgalutran. São duas injeções diárias, entre 20 e 22 horas, ambas na barriga, logo abaixo do umbigo e sou eu mesma quem aplico.

Hoje perguntei se poderia alternar os lados de aplicação da injeção. Porque a área abaixo do umbigo está ficando um pouco sensível. Ele recomendou que não. Que tentasse um pouco mais para cima ou para baixo. Mas essa seria a região menos dolorosa e de menor risco. Não sei risco de que, não perguntei. Deve ser por causa dessa minha barriga tanquinho, né? Vai que atinjo um órgão ou a agulha não penetra nesses abdominais de aço!

Sigo acompanhando a pressão, está 131/79 e a temperatura 36,7. A pressão é normal, mas sobe um pouquinho a cada dia.

Bom, por hoje chega! Não quero pensar mais nisso! Só vou tomar as injeções mais tarde  e assunto encerrado.

Quarto dia: altos e baixos, mas pelo menos é sexta feira.

Hoje acordei normal, humor nem mau nem bom. Sigo com mais sono que o habitual.

 

Ao longo do dia o humor deu sua oscilada. Perto da hora do almoço fui à farmácia buscar mais uma caixa de injeções, a primeira caixa de Fostipur acaba amanhã. Caro para cassilda!

 

Aliás, para quem quer saber, o tratamento todo mais os remédios, custa por volta de cinco mil euros, aqui em Madri. Uma paulada!

 

Na volta, passando pela bendita loja que quero comprar roupas de nenén, resolvi entrar, que saco, e se eu quiser comprar alguma coisa, ninguém nem precisa saber! Depois eu posso só olhar, né? Acontece que era hora da siesta e estava fechada. Historinha ridiculamente banal, mas que foi o suficiente para me abalar a confiança.

 

Enfim, devem ser os hormônios, ou pelo menos tenho uma boa desculpa até semana que vem!

 

Depois melhorei outra vez, pensei que era sexta-feira e não tem como uma sexta-feira ficar ruim, me animei.

 

Logo lembrei que amanhã tem nova consulta. Ótimo porque estamos caminhando, mas uma ansiedade daquelas em saber o que ele vai me dizer. É a primeira consulta após os remédios.

 

Falei com minha mãe pela internet e mães fazem muita falta em uma hora dessas! Tenho minhas amigas e amigos que são uns anjos da guarda, mas não é a mesma coisa. Luiz conta muito, é lógico, só que também tem suas próprias preocupações, a gente conversa, mas não acho justo desabafar tudo nas costas dele. Já basta esse humor do cão!

 

Hoje conversei com uma amiga que precisou abortar por problemas genéticos com o feto. Ela não sabe que estou em tratamento e é um momento horrível para contar, enfim, a vida segue e não vou me omitir para os amigos que também precisam, mas não tem como não mexer comigo. E sei que, mesmo que tudo dê certo, ainda ficarei nessa ansiedade até o terceiro mês, no mínimo. Tenho que aprender a lidar com esse medo para ele não crescer mais do que deve e, ao mesmo tempo, não ignorá-lo por negação. Ele precisa estar ali, me mantém lúcida, mas não quero que esteja em primeiro lugar.

 

Não sei se foi por isso, minha pressão subiu um pouco, foi para 128/76 e a temperatura para 36,9. Ainda assim é um nível normal, não me preocupa, mas é bom para eu saber que essa ansiedade me afeta fisicamente.

 

De qualquer maneira, acho que amanhã, depois da consulta e sendo final de semana, devo melhorar outra vez. Esse processo é intenso, mas pelo menos é rápido. E a partir de amanhã, pelo que entendi, também devo ganhar nova injeçãozinha para tomar (oba, yes, show! -> isso é uma ironia). Mas quem dá uma, dá duas, né? Aliás, daqui a pouco é hora de tomar o Fostipur.

 

Vamos seguindo. Era de se esperar uma certa oscilação de humor e nem posso reclamar, porque estou passando bem. Não tenho enjôos, não fico indisposta, só sono mesmo.

 

Uma coisa boa: ainda não engordei! Aliás, uma coisa ótima! E estou me alimentando muito bem.

 

E é isso, lá vou eu matar o leão do dia! Uma deliciosa injeçãozinha na barriga…

Terceiro dia: a vida parece melhorar…

Felizmente, ao contrário das minhas previsões, acordei de bom humor. O sono persiste, mas já não parece que levei uma surra. Na verdade, estou com vontade de ir para a rua. O dia ensolarado ajuda muito.

Depois de conversar com uma amiga ginecologista e outra amiga que fez o tratamento, decidi parar com as corridas de vez, bem como qualquer atividade de maior impacto aeróbico. Em compensação, fiquei mais tranqüila em relação ao pilates. Porque minha maior preocupação era a quantidade de abdominais que a gente faz, e minha amiga médica me disse que isso inclusive era bom, porque não influenciava no útero e até dava maior sustentação para a barriga. Então, beleza, sofrimento totalmente justificado! Bora para o pilates!

Aplicar as injeções já não me assusta. Continuo achando desagradável, mas vi que dou conta. Para ser sincera, até que gostei da sensação de saber que sou capaz de fazê-lo, me senti corajosa. E sei lá, às vezes precisa aplicar em alguém da família, na casa dos meus pais já aconteceu várias vezes e meu pai sabia fazer. Então, achei bom desenvolver essa habilidade. É meio freak, mas achei importante. Não confundir com que achei fácil, porque não acho, é um saco, mas é possível.

Meu gato parece que percebeu que algo está diferente na energia da casa, está um grude! Ele é bastante carinhoso normalmente, mas está parecendo como quando a gente viaja e volta e ele não larga a gente para nada! Depois se acostuma e volta à sua rotina.

E sim, a energia da casa mudou. Não acho que seja apenas por isso, mas quando a gente se abre à mudança, tudo que está a nossa volta parece que se movimenta junto e portas diferentes se abrem ao mesmo tempo.

E o vento da mudança parece que chegou até o Brasil, ontem tive duas excelentes notícias das casas dos nossos pais.

Acho que não comentei por aqui, mas logo que voltamos de férias do Rio, minha sogra soube que estava com um tumor maligno no seio. O prognóstico era bom, parecia encapsulado, mas até tirar e resolver tudo, lógico que foi uma preocupação. Enfim, ela operou, foi tudo bem e ontem ela recebeu o resultado final dos exames, todos negativos, não vai precisar fazer radio nem quimioterapia. Ela estava exultante, com toda razão!

Do lado dos meus pais, meu pai andava bastante deprimido, ainda que ele não aceite esse termo. Mas o fato é que não queria deixar de dormir o dia inteiro e não saía para absolutamente nada! Bom, ele finalmente aceitou que uma psiquiatra fosse lá em casa. É que ele nunca acreditou nesse negócio de psicólogos ou psiquiatras, de maneira resumida, para ele psiquiatra era para doido e psicólogo para fresco! Dessa vez, minha mãe pressionou um pouco e ele acabou topando. A médica foi ao apartamento deles, escutou toda a história, tomou conhecimento dos remédios que ele toma e receitou medicação. Parece bobagem, mas é um passo imenso! Agora é esperar um pouco os resultados, mas ontem já falei com ele por telefone e deu para fazer algumas brincadeiras. Falei para ele tratando de ficar bom logo porque nas férias vou mandar os gêmeos para lá!

E falando em gente doida, estou surtando para comprar duas roupinhas de nenén! É que aqui embaixo tem uma loja de roqueiros motoqueiros que teve a grande sacada de também fazer algumas roupinhas para criança pequena. Acho o máximo! Sai daquela coisa infantilóide e angelical, é original. Sempre compro os presentes para minhas amigas que acabaram de ser mamães ali.

Enfim, passo todos os dias por essa loja, considerando que é ao lado da minha portaria, e fico me controlando para não entrar. É louco, eu sei, nem sabemos ainda se ovularei! E se tudo der certo, também não sabemos se estamos falando de um ou dois, ou uma ou duas!

Fora que se não funcionar, isola, olha que coisa mais mórbida, né? Vou ficar parecendo essas psicopatas com roupinhas de nenén na gaveta… ai, ai… nem sei porque conto essas coisas!

Deixa eu ir para meu santo pilates suar um pouco que é o melhor que faço!

 

PS: Pressão 122/66; temperatura 36.7

Segundo dia: um sono do cão!

Sei que ainda é tudo muito recente e pode até ser psicológico, mas já notei algumas diferenças. Minha barriga ficou um pouco mais dura e tenho muito, mas muito sono.

 

Hoje resolvi não correr, na dúvida, melhor não arriscar. Seguirei com o Pilates, ontem eu fui, achei que me custou um pouco mais, mas fiz tudo. Talvez faça algumas caminhadas, nunca fui nenhuma super atleta, não me custa segurar a onda por algum tempo. Pelo menos até me sentir segura do que estou fazendo.

 

O problema de ficar em casa sem muito o que fazer é que também te dá mais fome. Acho que terei que inventar alguns compromissos na rua para me forçar a sair. E também para ter outras coisas em que pensar que não seja o tratamento. Penso nisso o dia inteirinho! É meio neurótico.

 

Fiquei ensaiando um monte de vezes como seria a aplicação da injeção da noite, é a primeira que tinha que fazer sozinha, sem uma médica para empurrar minha mão se eu travasse. Caraca, uma mulher tem que ser muito macho, viu? Mas se as outras fizeram, eu também tenho que conseguir, né?

 

O problema não é a dor, nem dói tanto e não daria a mínima se outra pessoa me aplicasse. O caso é que me furar de propósito é anti-natural, é como me cortar! Minhas mãos transpiram só de imaginar.

 

Falando nisso, também achei que minhas mãos estão um pouco trêmulas. Não é perceptível para outras pessoas, é como se tivesse menos firmeza ou se tomasse uma overdose de café.

 

Se já é efeito dos hormônios ou ansiedade pela situação, não saberia dizer, acho que um pouco dos dois.

 

Tenho um medidor de pressão em casa e resolvi acompanhar por minha conta. Minha pressão foi 108/67 e a temperatura foi 35.7, bons resultados. E o que também quer dizer que esse sono louco que estou sentindo não tem nada a ver com minha pressão.

 

Bom, mas vamos ao leão do dia que foi a aplicação da injeção sozinha pela primeira vez. Olha, não foi a melhor coisa do mundo que já fiz, mas o importante é que consegui. Achei que ardeu um pouquinho, no hospital não havia sentido isso, devia ser a adrenalina. Mas é muito mais nervoso de me furar que qualquer outra coisa.

 

Esqueci de contar um pequeno detalhe de quando a médica (ou enfermeira, ainda não sei) me ensinou a aplicar. Quando terminasse, ela falou para tirar a agulha e passar um pouco de saliva no local da aplicação. Sim, gente, juro! Fui ensinada a desinfetar o local no final com cuspe! Às vezes me pergunto que milagre fez com que a civilização espanhola sobrevivesse razoavelmente saudável, sério! Mas enfim, se é a indicação… fiz o que me disseram, né?

 

Para dar um pouco de drama, uns dois minutos de relógio depois que apliquei a injeção, a luz da casa toda caiu. Estava sozinha e teria passado um perrengue se não tivesse terminado de aplicar. Lição aprendida: esperar Luiz chegar do trabalho para me medicar!

 

Tudo bem, o que importa é que vamos seguindo e está dando tudo certo. Um dia de cada vez!

Diário de bordo: primeiro dia da fertilização in vitro

E foi dada a largada rumo aos gêmeos! Ambiciosa, né? Mas nesse momento, tudo é possível, depois vamos ajustando as expectativas.

Muito bem, na verdade, conta-se como o dia 1, o primeiro dia que desce sua menstruação. Daí, no dia 3, inicia-se o tratamento. Por uma coincidência, o “dia 3” caiu no dia 4 (de outubro).

Eu e as vozes da minha cabeça, não gostamos muito do número 4, assim que fiquei meio ressabiada. Acontece que logo soube de outra informação que deixou esse dia perfeito. Então, vou contar uma historinha rápida resumida e verídica. Eu não queria ter filhos nem a pau! Estava bastante segura dessa decisão, até que um belo dia conheci a filha da minha prima, que estava com uns dois anos mais ou menos. O que acontece é que sabe-se lá porque, ela era muito parecida comigo nessa idade, juro que não estou inventando! Depois ela mudou, mas assim pequenininha parecia. Sou uma pessoa muito visual e quando olhei para ela tive essa sensação bizarra de ver concretamente minha filha! Não foi apenas isso que me fez mudar de idéia, depois muita água rolou, mas definitivamente, essa sensação foi o pontapé inicial, quando nasceu aquela dúvida do será que não quero mesmo? Pois é, e porque contei tudo isso? Porque exatamente hoje, quando comecei o tratamento, é dia do seu aniversário de 7 anos! De maneiras que é como um ciclo se encerrando e outro recomeçando, não poderia ser melhor.

A vida dá realmente muitas voltas. Eu ainda me lembro por alto de assistir no Fantástico, em 1978, o nascimento da Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, como chamávamos na época. Quem diria que anos depois, em 2011, seria eu tentando o mesmo método ou algo bem parecido.

Hoje é terça-feira, dia 04/10. Minha consulta foi marcada para às 9h30. Assim que acordei cedo, tomei meu café, não é necessário estar em jejum, e segui para o hospital com todos os remédios comigo.

Cheguei lá e o médico me fez aquela ecografia transvaginal (que nome lindo, né?) e verificou que o endométrio estava ok, viu os ovários, meu ovário direito está melhor que o esquerdo e útero bem.

Deu entrada nessas informações no computador dele, me avisou que eu começaria a tomar a medicação e que no sábado (08/10) tenho que voltar ao hospital. Pelo que entendi, no sábado faço novos exames, incluindo um exame de sangue, e aumento a medicação. Mas já chegaremos lá, vamos dia a dia.

Dessa consulta ele me encaminhou a uma outra sala com uma pessoa que não sei se era médica assistente ou enfermeira, mas enfim, foi ela que ensinou a dar a injeção em mim mesma. Na verdade, ela me falou sobre todos os remédios, mas que eu podia ir memorizando de fase em fase, para não fazer confusão.

Nessa primeira fase, entre hoje (4) e sábado (8), só preciso tomar uma injeção de Fostipur. Por minha conta, estou tomando ácido fólico. Perguntei se era um problema e o médico disse que não. Na verdade, disse que por enquanto, não era necessário, mas não atrapalhava nada.

Portanto, voltando, hoje tomei minha primeira injeção de Fostipur, que é um indutor de ovulação. Eu devo tomar 300 ml ao dia. São duas ampolas de 150 ml, que junto em uma única seringa. Pelo que entendi, essa injeção tomo até o dia da retirada dos óvulos, vou atualizando essa informação. Ela deve ser tomada entre 20 e 22 horas. Essa primeira, tomei pela manhã mesmo, mas a partir de amanhã, será sempre à noite.

A injeção não dói. Dá um pouco de nervoso na hora de enfiar a agulha, mas como é bem fininha, você vê que não tem motivos para se preocupar com o reflexo de uma pontada dolorida ou algo do gênero. É só manter a mão firme e não recuar, não precisa força. E fui eu mesma quem já me apliquei, com ela vendo e me orientando. É assim, você dá tipo um beliscão abaixo do umbigo, com seu polegar no umbigo e o dedo indicador mais embaixo. É nesse bolinho de barriga, na linha do umbigo, uns 2 ou 3cm abaixo, que você enfia a agulha. Logo tem que pressionar devagar, sem ser muito forte nem leve demais, você encontra o jeito na hora. O importante é não apertar de uma vez, ou corre-se o risco da seringa voltar e/ou o líquido espalhar onde não deve. Realmente, não parece ser nenhum mistério. Acredito que na segunda ou terceira vez eu já devo estar tirando de letra (espero!).

E foi só isso. Logo depois da injeção fui liberada para vir a casa.

Meu humor está uma montanha-russa e acho que vai piorar. Porque, por enquanto, é mais ansiedade natural. No mesmo dia estou feliz, tenho vontade de rosnar, não tenho paciência, quero chorar por coisas estúpidas, volto a ficar tranqüila, quero sair correndo, relaxo e por aí vai. Certamente, os hormônios não vão melhorar essa sensação. Eu acho uma sacanagem com os maridos não receitarem nenhum calmantezinho para eles! No mínimo, deveria rolar um Rivotril básico…

Com tudo isso, juro que estou bastante animada e acho que Luiz também. Ambos estamos meio assustados, mas acredito que faça parte.

Outra coisa, estou liberada para vida normal, ou pelo menos, o que eles chamam de normal. Posso fazer exercícios, posso correr, posso dançar, posso tomar aspirina se tiver dor de cabeça e até beber. Não poderia fumar, nem consumir drogas. Veja bem, eu considero álcool uma droga, ainda que legal. Portanto, já entubei que não vou beber, mesmo liberada. Fumar, eu não fumo mesmo, nenhum sacrifício.

Mais tarde, tenho Pilates e não vou faltar, estou bem e quero continuar assim.

E até amanhã, com cenas dos próximos capítulos da Megera Imparável!

Um ritualzinho de passagem para a fase nova que começa amanhã

Na quinta-feira, tive ensaio do coral e depois havia um concerto de forró perto de casa. Era um dia bom para ir porque, apesar do Luiz não dar conta durante a semana, iriam um monte de amigos nossos.

Mas, acredite se quiser, não tive vontade. Estava afim de ficar sossegada. Queria dormir cedo e acordar cedo para correr. Foi o que fiz.

Na sexta-feira, saí para jantar só com o Luiz, fomos ao Nikkei 125, um restaurante fusão de comida peruana e japonesa. Excelente! Aproveitei para comer todos os crus que tinha direito. Até onde saiba, grávidas não podem comer carne crua.

No sábado, queria ir para a rua. Fomos a uma festa na casa de novos amigos, o tema era Oktoberfest. Luiz ficou até umas duas da matina, mas precisava viajar no domingo pela hora do almoço e ainda tinha que terminar de arrumar mala.

Acontece que, em tese, seria meu último fim de semana irresponsável, digamos assim. Sabia que no seguinte já estaria em tratamento, então a bebida alcoólica, por exemplo, provavelmente sairá do meu cardápio todo próximo ano. Brinquei que era “minha despedida de solteira” e fiquei na festa até o final. De lá, ainda saímos para tomar a saideira pela rua mesmo e por sorte, bem perto da nossa casa.

Pelas 5 da madrugada, decidi que era hora de voltar e me despedi dos amigos que ainda seguiram. Sim, a noite madrileña não é para amadores, tem que ser iniciado!

Cheguei em casa, avisei ao Luiz que já estava, fechei a porta do quarto para não fazer muito barulho e fui preparar algo para comer. Não dava para ser um quebra-galho, queria comer bem. Fiz uma pasta cabelo de anjo, molho de bacon, manteiga e trufas brancas. Sentei na sala e comi devagar.

Ritual completo, estou pronta para não me arrepender e não sentir que perdi nada! Aliás, posso me orgulhar de que na vida, conscientemente, eu não perdi nada!

Não deu em outra, dia seguinte, domingo pela manhã, finalmente minha regra desceu e posso começar o tratamento.

Luiz foi para Holanda, volta na terça-feira à noite. Passei o domingo em casa. Havia dois concertos para ir, mas me fiz de morta. Queria ficar sozinha e de preferência sem falar com ninguém a não ser que fosse minha mãe ou Luiz. Não estava nem aborrecida, é que queria curtir o momento mesmo, pensar em alguns passos, providências que talvez tenha que tomar, cozinhar, pensar no cardápio que devo seguir para estar saudável. É que as próximas variáveis que terei que enfrentar são absolutamente fora do meu controle, então, me prendo um pouco nas coisas que posso contribuir e assim não me sinto tão vulnerável. Afinal, estou fazendo meu papel.

Hoje, na primeira hora, telefonei para o médico. Minha consulta está marcada para amanhã, às 9h30. É quando vou saber direitinho que medicação tomar, quando e como. Inclusive, terei que aprender a me aplicar injeções, algo nem um pouco agradável, mas vim essas duas semanas me convencendo que não será nenhum bicho de sete cabeças (no máximo umas cinco… cabeças, porque injeções são umas 15!).

Acho que amanhã também começo um tipo de diário de bordo, assim vou espantando os fantasmas e, se alguém quiser saber como funciona o processo de fertilização in vitro no detalhe, terá sua chance de aprender. Ainda que cada mulher responda de maneira diferente, mas algo em comum haverá.

E é isso, amigos, amanhã começa o jogo de verdade. Agora é bola para frente e força na peruca!