Crônicas Britânicas chega ao seu fim

Queridos e queridas,

Crônicas Britânicas chegou ao fim de um ciclo. Foi breve, intenso e bom enquanto durou! Sem arrependimentos e com muitas novas saudades para minha coleção.

A vida segue e seguimos com ela, agora desde São Paulo.

Inauguro a próxima aventura, as “Crônicas Brazucas”. Uma brasileira, meio gringa, redescobrindo o que é viver no Brasil.

E aos que quiserem me acompanhar nesse novo caminho, sejam muito bem vindos!

Obrigada,
Bianca

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A saga da mudança 39!

Não poderia ser diferente, não é mesmo?

Os últimos dois meses em Londres foram uma verdadeira saga e, vamos combinar, olha que sou profissional no tema! Mas o problema maior era o seguinte, Luiz precisou ir de cara para o Brasil assumir seu posto e achar um lugar para morarmos. Fiquei sozinha, presa em casa com dois gatos, para resolver os abacaxis britânicos. Nesse meio período, nós só nos vimos uma vez, durante 4 dias, dos quais 2 passamos em Madri, 1 ele trabalhou o dia inteiro e o outro voltou para o Brasil logo cedo. Depois, só no final, literalmente para me ajudar a levar os gatos e as malas no avião! Sério, desde que nos casamos, nunca ficamos tanto tempo longe e cheios de pepinos para resolver!

Chegou uma hora em que nada se definia por si só, então defini eu mesma uma data para a mudança sair de casa e outra para viajar para o Brasil. Paciência! O resto que se adaptasse a essas datas, eu não aguentava mais!

Não é que tudo fosse ruim, por sorte, ainda consegui sair uma vez ou outra com amigos muito legais para dar uma relaxada e amenizar um pouco a história. Mas, francamente, na maioria das vezes nem tinha muita vontade de fazer nada. Chega uma hora em que você já não aproveita mais e só quer resolver!

Não vou entrar na chatice de tudo que precisava ser feito em termos de documentação, tanto nossa como dos gatos! Só digo que o Brasil é um dos países mais complicados do mundo para se entrar com uma mudança! Os portos são colapsados, corruptos e burocráticos! Resolvi optar por uma empresa brasileira para fazer essa mudança, pelo menos, em teoria sabem os caminhos que precisam seguir para liberar tudo mais rápido. Escolhi a FINK e, até o presente momento, estou gostanto bastante do atendimento, vamos aguardar até o final.

E sim, sobrou uma mudança para fazer sozinha… dureza! Escolhi os dias 30/10 para empacotar e 31/10 para levarem tudo! Exatamente, a mudança saiu no dia das bruxas!

Prendi os gatos em um quarto menor, o qual já havia esvaziado e só deixado os felinos com as malas que levaríamos para o Brasil. Assim era menos estressante para eles e para todo mundo. Os empacotadores entram como furacões na sua casa (e é assim que deve ser), não combina com gatos perdidos no meio de toda aquela história, é até bem perigoso. No dia 30, o pessoal da mudança havia deixado minha cama montada, mas preferi o saco de dormir no chão com os gatos, companhia para mim e segurança para eles. Gosto de conforto, mas felizmente, sei viver com muito pouco quando preciso e não me importa.

Para deixar um pouco mais tenso, no início da noite, Luiz me dava a desesperante notícia que se fôssemos de vôo direto pela British, os gatos precisariam viajar no porão! O que? Não é possível! Tenta a Air France! É a companhia mais amigável para quem viaja com animais de estimação! Na verdade, havia dito isso algumas vezes, mas eventualmente, ele custa a me ouvir quando cisma que alguma coisa pode ser feita de outro jeito. Só que não…

Recebi essa terrível informação no caminho do jantar para o aniversário de um amigo nosso. Aliás, bendita hora em que fomos jantar! Pelo menos tomei meu vinhozinho e acreditei que tudo ia se resolver. Não deveria, mas como era um aniversário… ainda fomos tomar a saideira no pub local. Talvez por isso, dormir no chão não tenha sido o menor sacrifício.

Mas de manhã bem cedo, já estava acordada esperando a etapa final da mudança! Resolvi nem tirar os gatos do quarto, para que? Deixa eles saírem quando a casa estiver limpa e vazia. Fiquei o tempo todo dando notícias e fotos pelo Facebook, pelo menos era uma forma de me sentir acompanhada, né? Começaram a pipocar mensagens do Luiz, conseguiu que os gatos fossem conosco na cabine! Ufa! Adivinha em que companhia aérea? Air France, é claro! Precisaríamos fazer uma conexão, a vida não é simples, mas mil vezes dessa maneira, com os gatos ao alcance da minha vista!

E assim foi, com direito a outro porém, três peças dos meus móveis precisavam sair pelo jardim do vizinho, que não estava nem um pouco feliz com a história. O proprietário era quem deveria ter negociado direito isso com ele, o que não fez. Tudo bem, dei meu jeito e quase fiquei amiga da vizinha, pena que foi quando já estava vindo embora.

Tensão até o minuto final, porque o container foi absolutamente cheio até o teto! As últimas duas caixas precisaram ser reembaladas para caber! Juro, foi cheio até a última caixa! Mas foi! E sempre acho que se dá certo, está bom! Temos 166 ítens em caixas e embalagens numeradas, descritas uma a uma, porque é uma requisição para entrar no Brasil. Tudo precisa bater exatamente igual! Assustador, né? Qual a probabilidade de em 166 ítens, passar algum erro? Mas nem quero pensar nisso agora!

Quando acabou, limpei tudo e armei o colchão inflável. Literalmente, os gatos e eu fomos acampar em casa. Eles completamente desconfiados, é lógico! Tudo bem, porque Luiz chegaria no dia seguinte logo pela manhã e isso era um alívio difícil de descrever!

No final de semana, conseguimos fazer um último encontro com os amigos de Londres, noite agradável, com notícias que nos deram muita felicidade! Por que não dizer, muita saudade também, mas faz parte.

Na segunda-feira, consulta final dos gatos no veterinário, para ter toda a papelada organizada para a viagem! Tudo certo! Outro alívio, só possível de ter nos 45 minutos do segundo tempo!

Na terça-feira, terminar de fechar as contas, limpeza, organização das malas etc. Jantamos com nosso amigo que herdou as últimas comidinhas e um aspirador que ele nem queria, coitado! Mas não tinha como deixar na casa.

E, na quarta-feira, dia 05 de novembro, acordamos às 3 da matina para tomar rumo ao Brasil. Última cereja do bolo: colocar os gatos na caixa de transporte. Imagina a facilidade, depois da mudança e de levá-los ao veterinário? Eles estavam mais ariscos que nunca! O Wolverine não deu tanto trabalho, mas a Phoenix se enviou na chaminé, com Luiz agarrando ela pela perna e eu enfiando a mão por cima da cabeça e empurrando para baixo. Juro, desesperador! Se ela se enfia com gosto na chaminé, a viagem ia para o saco! Foi para a caixa de transporte ainda cheia de cinza! Es lo que hay!

O avião saía às 7 da manhã de Londres para Paris, saltamos esbaforidos para entrar no avião seguinte (e o medo de perder a conexão!). Quando o avião levantou vôo para o Brasil, com nossos dois felinos no colo, sabia que o caminho era longo, mas estava feliz de ter conseguido! O pior havia passado!

Nossos bichanos se comportaram muito bem, devo admitir! Wolverine, só não aguentou no final, quando o avião pousou no Brasil e fez um xixizinho, que ninguém notou, porque a caixa estava protegida com material absorvente. Vamos combinar, depois de quase 24 horas desde que acordamos e saímos de casa, não foi nada!

E valeu à pena todo esse perrengue e despesa para trazer dois vira-latas? E como uma imagem vale mais que mil palavras…

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Claro que valeu!

Do taxi, liguei para os meus pais para avisar que chegamos e estava tudo bem. Ou quase bem…

Ah, vamos complicar só um pouquinho mais? Porque afinal de contas, estava tudo tão fácil… Pois é, Luiz teve uma reação alérgica forte na garganta, não é a primeira vez que tem e simplesmente precisava ir ao hospital. Em Londres, não dava ou perdíamos o avião, então também se segurou até chegarmos. Entramos no aparthotel e acomodamos os gatos. Eu fiquei com eles para se ambientarem e Luiz foi para a emergência do Einstein sozinho tomar cortisona!

Assim que Luiz voltou, os gatos estavam ainda desconfiados, claro, mas bem e carinhosos conosco. Espalhei pelo lugar alguns objetos de confortos, mantas com o cheiro deles, brinquedinhos… enfim, na medida do que era possível, estávamos todos bem. Luiz medicado, pais avisados, posso dormir! Empacotei de babar até o dia seguinte! Pela manhã, quando Luiz levantou meus olhos nem abriam! Mortinha da silva! Mas aliviada e posso dizer que feliz que, finalmente, tudo havia terminado bem!

Ainda temos muito o que resolver e meu endereço 39 é um aparthotel, com as roupas espremidas nos armários, uma mudança pelo oceano e as malas escondidas na varanda! Mas estamos juntos, os gatos estão protegidos, a família está próxima e os amigos cheios de mensagens carinhosas. Pronto! Prova superada!

Foi tudo bem…

Existe uma clássica pergunta feita sempre que a gente chega de algum lugar, seja por mudança, por férias ou por uma saída na esquina, o famoso “e, aí, como foi?”.

Às vezes, é uma mera pergunta retórica, quase por educação, ou como iniciar uma conversa, ou até por real curiosidade. Não importa a razão, mas é uma das perguntas que mais preguiça me dá em responder. Porque geralmente foi tanta coisa que nunca consigo resumir em uma resposta educada de dois minutos.

Quase tenho inveja do Luiz, que responde qualquer pergunta laconicamente com um “foi tudo bem…”, seja para descrever como foi um jantar ou uma cirurgia no cérebro! Eu já começo a conversa dizendo, se me responder simplesmente que foi tudo bem nós vamos brigar… Daí ele faz um esforço sobrehumano e consegue arrancar mais duas ou três frases de explicação. Sou o extremo oposto, sou daquelas que se me perguntam “como vai?”, eu me sinto na obrigação de explicar. E as vozes da minha cabeça ressoando: sério, Bianca? Você não podia dizer apenas que vai tudo bem?

O fato é que me peguei pensando que ao chegar ao Brasil, alguém poderia me perguntar, e aí, como foi? Pois há um par de semanas que tento responder em um diálogo imaginário como foram esses últimos onze anos. Inevitavelmente, me vem uma retrospectiva de tudo que tenho feito.

E, se por exemplo, tivesse que refazer meu currículo? Saberia exatamente como começar, como relatar os resultados concretos do que fui capaz de executar em termos de negócios, mas há uma lacuna que não consigo preencher direito com palavras. É como se me viessem vários flashes de pedaços de experiências, uma montagem relativamente absurda e um tanto desordenada com imagens de momentos mais marcantes.

Tenho me permitido embarcar nessa viagem pelo tempo e atualmente me custa fechar os olhos e não lembrar de mil sensações diferentes. Eu não caibo mais em uma história só. E confesso, meio sem graça, que isso me deixa bastante orgulhosa.

Ainda tenho forte a memória da angústia adolescente de achar que podia tudo e da irritação que me provocava a frase do meu pai “quem corre cansa, quem anda alcança”. Eu precisava começar logo a abraçar o mundo com as pernas, porque se não começasse rápido, talvez não me desse tempo de experimentar tudo que gostaria. Pelo menos, era assim que eu sentia. De certa forma, também intuía que o preço seria sempre precisar partir. E para ser franca, mesmo depois de tantos anos, ainda não aprendi a fazer isso sem dor. Talvez porque essa possibilidade nem exista.

Agradeço por ter podido registrar boa parte desses últimos anos, coisas que vi, que aprendi, que tentei. Porque cada vez mais acho que se a primeira coisa mais importante é viver uma experiência, a segunda certamente será a memória dela. É quando a gente pode revisitar lugares, opiniões, sentimentos. Tudo sem precisar sair do lugar. Mas um dia você precisou, um dia você partiu, você fez e hoje felizmente há muita coisa que posso dizer que fiz.

Talvez fosse mais fácil resumir e lembrar simplesmente que foi tudo bem, acontece que não quero uma memória resumida, quero ela inteira! E quero tanto mais…

Confesso que é provável que esse seja um dos meus muitos medos em morar novamente no Brasil. Dá um pouco a sensação de fim de férias prolongadas, o que não é o caso. Como se alguém me dissesse, pronto já viajou bastante, agora sossega o faixo aí um pouco! E eu sei que não vou sossegar, nem preciso.

É que às vezes é duro a gente tomar a consciência dos limites que a vida nos impõe. A tal da minha eterna angústia adolescente mal resolvida de achar que não vai dar tempo para tudo que ainda quero e posso fazer. Uma vontade enorme de congelar minha idade agora, ou até um pouco antes, e juro que não por uma questão de vaidade, mas por me dar tempo e saúde.

Mas enfim, e aí, como foi?

Pois dormi em hotéis, dormi em castelos, dormi no deserto, dormi no chão, andei de avião, andei de metrô, andei de balão, andei, atravessei os Pirineus andando, atravessei uma fronteira andando, atravessei um país andando, perdi o medo, perdi a vergonha, perdi a paciência, dancei muito, bebi litros, festejei com amigos, festejei com estranhos, aprendi outras línguas, aprendi muitos sabores, cheguei amanhecendo, vi por-do-sol em Telaviv, caminhei em Petra a luz de velas, queimei a pele para provar que fico morena, queimei o pavio, cheguei ao fim da terra (ou Finisterre), cantei em bares, cantei, batuquei, cortei o cabelo, deixei crescer, engravidei, perdi, chorei um rio, ri da barriga doer, senti calor, senti frio, senti fome, senti dor, senti preguiça, morri de saudades, usei véu na Jordânia, tomei café na Espanha, almocei na Itália, jantei na Alemanha, ouvi música ao vivo em Londres, ganhei asas, tatuei asas, fiz tatuagem de henna com uma indiana, nadei em Dubai, cozinhei em Paris, tomei um porre de champagne em Paris, esqueci de perguntar as profissões, apoiei, fui protegida, voltei caminhando para casa sozinha sem medo, esquiei em tempestade de neve em Val d’Isère, esquiei de bunda em Andorra, desenhei em museos, fui literalmente para lá de Marrakesh, barganhei na Turquia, naveguei entre dois continentes, assisti um concerto em uma igreja em Praga, ouvi violinos em Veneza, assisti óperas em Viena, andei de motorino em Roma, voltei de madrugada para o hotel imitando a mulher biônica em Bruxelas, andei de trem por debaixo do mar, toquei o muro de Berlin, me emocionei nos muros de Jerusalém, perdi gente na família, perdi amigos, perdi meus gatos, adotei dois gatos, falei com milhões de desconhecidos, encaixotei, desencaixotei, encaixotei outra vez, desencaixotei outra vez, carreguei um sofá na rua em Madri, pulei sete ondas no mar, pulei sete ondas imaginárias, pulei sete ondas na banheira, praguejei em espanhol, falei errado, falei pouco, falei demais, fingi que entendi, comi croquete em Amsterdam, vi Flamenco em Andaluzia, me neguei a dirigir, abri portas com sorrisos, aprendi a correr, aprendi a boxear, aprendi a cortar jamón, aprendi a pedir ajuda, consegui comer apimentado sem meus olhos nem meus lábios incharem, tomei whisky nacional na Escócia, descobri que na Inglaterra há mais definições para tons de pele do que cores de cabelo, cheguei a conclusão que passar roupa é absoluta perda de tempo, me cansei de ver ruína romana… e posso seguir enumerando mais uma penca de páginas de pequenos momentos tão comuns e igualmente tão extraordinários e reveladores, dependendo do prisma em que se olhe.

O mais importante para mim é que são memórias, minhas, reais. Todas elas tem um significado, uma história. E a minha resposta sobre como foi? Foi num piscar de olhos…e sim, foi tudo bem.

https://www.youtube.com/watch?v=5y_KJAg8bHI

Tudo junto ao mesmo tempo!

Com tanta novidade pelo ar, acabei adoecendo, coisa bastante rara de acontecer. Mas a combinação de mudança repentina, dúvidas se continuo meu trabalho virtual, despedida no trabalho do Luiz, pai entrando na cirurgia… a resistência foi baixando e uma gripe tentando se instalar no meu corpinho.

Ainda tentei segurar a onda e fingir que nada acontecia, afinal, no sábado já estava marcado o primeiro bota fora com os amigos de Londres, ou seja, festa em casa! Aos trancos e barrancos consegui preparar tudo! Gastei até o último fio de energia da minha pilha e, como sempre, sem nenhum arrependimento! Tomei minha cachacinha, me diverti e tentei desfrutar ao máximo o alto astral das pessoas. Mas confesso que quando os últimos amigos se foram, eu já não tinha voz nem condições de fazer mais nada!

Fui me arrastando para cama, na qual permaneci todo domingo e parte da segunda-feira! Luiz me comprou alguns remédios e o tempo foi fazendo seu papel de cura.

Na própria segunda-feira, 15 de setembro, Luiz embarcou para São Paulo. Em princípio, ficará fora por três semanas e eu aqui, com meus dois felinos me fazendo companhia.

Não é a situação mais ideal do planeta, mas tem seu lado positivo. Agora mesmo sinto uma necessidade enorme de ficar quieta pensando, refletindo, ponderando. Se essa mudança fosse para qualquer outro lugar do mundo, seria apenas mais uma mudança, meu endereço número 39.

Acontece que é para o Brasil e isso faz muita diferença. Preciso de verdade rever minhas prioridades e literalmente escolher a próxima direção. Ou não… O fato é que quero decidir ou não decidir com alguma lucidez.

Enquanto isso, vamos em paralelo resolvendo os pepinos usuais. Milhões de visitas ao zap para vasculhar possíveis endereços e encaminhar para Luiz visitar… entrar em contato com a companhia de mudanças… avisar ao proprietário que vamos deixar o imóvel aqui (imagina como ele ficou feliz com a notícia, né?)… verificar a documentação dos gatos… achar quem me substitua no trabalho… reforçar as aulas de boxe para aproveitar esse finalzinho… listar tudo que precisa ser cancelado… me programar para esvaziar a geladeira e os mantimentos… ainda queria fazer algumas viagens rápidas… será que consigo fazer festa de aniversário?

E o povo, naturalmente, perguntando sobre as datas definidas. Não sei se rio ou me desespero! Como se a gente conseguisse definir alguma porcaria de data! Lá vamos nós para o plano A, plano B, plano C…

Tudo bem, já sei que isso se arranja. O duro mesmo é revisitar a caixa de Pandora. Quem mesmo eu quero ser nessa próxima etapa? O que eu posso e o que eu não posso mais?

Vida louca vida, vida breve, já que eu não posso te levar, quero que você me leve…

Mas como nada na nossa vida é definitivo…

La Maison Blanche começou muito bem, obrigada! Pouco a pouco, ganhando espaço e, o mais importante, desfrutando muito da nova experiência!

Em paralelo, o trabalho como “host” de treinamentos virtuais também aquecendo. Bom para entrar algum dinheiro extra e sem me prender tanto. Ainda que a empolgação inicial já não seja a mesma. À medida que o tempo vai passando, o desafio é menor e não há grandes novidades. Não reclamo, só comento. Achei que foi uma oportunidade e tanto que estou fazendo por merecer.

Enfim, trabalho bombando, Copa do mundo acontecendo no Rio e… meu pai precisa ser internado novamente. Caraca, não tinha uma horinha melhor, não? Passagens a preços estratosféricos, compromissos assumidos… o que eu faço?

Respirar fundo e tentar manter a calma, não é a primeira vez e (assim esperava) não seria a última! Achei que era um momento em que eu precisava ser um pouco egoísta, não podia me dar ao luxo de perder essas oportunidades que estava esperando e batalhando há anos! Resolvi que só iria realmente em último caso, mas esticaria a corda ao máximo.

Foi duro, uma das piores internações do meu pai, que precisou pela primeira vez entrar na hemodiálise, seus rins haviam parado de funcionar. Minha mãe no seu limite da resistência e eu contando à distância com família e amigos para ajudarem a segurar a onda.

Ele melhorou, o bichinho é duro na queda! Meu pai voltou para casa e foi se recuperando na medida do possível. Ainda assim, senti que minha mãe estava muito cansada, a um triz do seu limite. Veja bem, sejamos realistas, se minha mãe cai, ferrou tudo!

Então, assim que ganhei uma brecha entre treinamentos e entreguei os eventos no Maison Blanche que já havia me comprometido, embarquei num avião por três semanas, rumo ao Rio de Janeiro. Meu pai estava relativamente estabilizado, mas queria vê-lo e, principalmente, dar uma folguinha para minha mãe que estava me preocupando mais naquele momento.

Acho que dentro de um núcleo familiar, é normal as pessoas assumirem diferentes papéis, que nem sempre são tão rígidos, podem se alternar de acordo com as necessidades, mas costumam seguir algum padrão. No meu ponto de vista, em minha família acho que meu pai é a força, o porto seguro, minha mãe é o elo de ligação, é quem une, quem alivia, resolve e decide, meu irmão traz vida, energia, alegria e eu sou a “cavalaria”.

Preciso correr livre por fora, não me prenda que eu fujo, não me chame à toa porque sou ocupada. Mas quando o bicho pega, volto do inferno, porque sei que sou para a hora que falta fôlego, para tocar o barata vôa, para celebrar o improvável, para o deixa de mimimi e sobe mais dois degraus porque você pode. Estou para quando a força resvale, a confiança duvide e a alegria se perca. Essa é a hora da cavalaria, é a minha deixa e meu papel. E depois vou cavalgar por outros campos.

Mas voltando à viagem, por coincidência, Luiz também precisou ir a trabalho a São Paulo no mesmo período, por alguns dias e nos encontramos no final de semana, antes dele retornar a Londres.

Basicamente, chega ele no Rio e me diz que a empresa onde foi trabalhar queria contratá-lo, o que ele fazia?

Hein? Como? Quando?

Vou ser bastante sincera, meu impulso natural era dizer: nem escuta, sem chance! Não quero morar no Brasil! Eu morro de saudades das pessoas, mas da vida no país eu não tenho um pingo! Eu sei que se, naquele momento, eu tivesse dito isso, ele nem evoluiria a história.

Acontece que, na prática, dei aquela olhadinha para o “grilo falante” no meu ombro, que cruzava os braços, balançava a cabeça e me dizia: tem certeza? Olha em volta do seu umbigo e seja razoável… seus pais precisando de apoio… sua sobrinha que vai nascer… a carreira do seu marido que, como você, não está ficando mais jovem… todos são você e você é parte disso. Era impossível também não notar como Luiz estava mais feliz trabalhando aqueles dias com a tal empresa, era seu ambiente. Ele queria.

Cavalaria, se vira e comparece!

Luiz, acho que pelo menos você deveria escutar o que eles tem a dizer. Em outra ocasião, não ia querer nem saber, mas talvez agora a nossa presença aqui seja importante. Depois, nada é definitivo, temos cidadania européia, poderemos voltar. Quem sabe seja a hora de dar outra chance ao caos…

Ele abriu a porta para uma proposta, que não tardou em chegar.

Enquanto isso, na sala de justiça… aproveitei bem minha estadia no Rio. Quanto à saúde do meu pai, diria que estava pior do que eu gostaria, mas melhor do que esperava. Durante o dia, minha programação era com meus pais e à noite, quando eles não saem mesmo, marcava com os amigos pelos bares da redondeza. Na verdade, até encontrei mais gente do que imaginava e a viagem foi mais leve do que me preparei.

Na cabeça, girando a possibilidade de voltar a morar no Brasil. Os noticiários eram desanimadores! Sim, a mídia pode ser bastante tendenciosa e blá blá blá… mas convenhamos, basta colocar o narizinho na rua, o país é violento sim, há muita corrupção sim, a educação é uma vergonha sim, a saúde é lamentável sim… enfim, não vou dourar a pílula. Acho que olhe pelo lado que se olhe, a coisa está complicada! Temos uma esquerda indecente e uma direita imoral, ou vice-versa, ferrou mesmo! E aí, o que a gente faz?

A proposta profissional definitiva do Luiz chegou, junto com o dia de voltar para Londres, com minha cabeça e coração completamente divididos.

E foi nesse contexto, alguns dias depois, que dissemos sim. Ele confiante que é a melhor opção e tenso se me faria feliz com isso.

Pensei que já não precisasse mais explicar que sou feliz por vocação, não por ocasião ou contingência. Sou feliz porque sim, porque preciso ser. E é lógico que estou feliz! Pelo menos uma parte de mim, ainda que nunca sejamos uma parte só.

Tenho um pé na euforia por saber que será maravilhoso pela família, pelos encontros e reencontros, os sabores confortáveis, os sorrisos com dentes à mostra, os sons dos sotaques e tantas outras coisas que me lembram quem eu sou… e outro pé no putz, como conviver novamente com a violência, com a falta de educação, com a deselegância, com a desigualdade e tantas outras coisas que me lembram quem eu não sou mais. E nunca serei em lugar nenhum, porque não sou mais um lugar só.

Há muitos anos coleciono saudades. Sei que o preço de um encontro é outra distância e não vou mentir, dói sempre, de todos os lados. E é difícil dar essa notícia porque agora estou no momento do luto do lado de cá, da partida. Sei que quando chegar no Brasil a história será outra, porque terei a felicidade de uma nova chegada e, convenhamos, já era tempo de levar minha saudade para outro lugar.

La Maison Blanche Supper Club

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Pausa para um comercial, por favor! Divido com vocês meu novo projeto gastronômico!

Quem me conhece ou acompanha o blog, sabe que tenho uma enorme paixão pela cozinha há muitos anos. Acho que vem um pouco do histórico da minha família, onde todo mundo sabe cozinhar e ama comer bem!

Ainda assim, nunca tive vontade de abrir um restaurante, é muito diferente a obrigação mecânica e militar de cozinhar para estranhos do que o gosto de preparar tudo na sua casa, pensando literalmente em quem vai desfrutar. Ser chef de um restaurante também pode ser uma paixão, mas não é a minha. Pelo menos, por enquanto.

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Eu gosto de cozinhar em casa, para minha família e meus amigos, assim de simples. A questão era, seria possível fazer disso um negócio? Como não misturar as coisas? Ou melhor, como misturar de uma maneira positiva?

Muito bem, há algum tempo, uma amiga me deu a ótima idéia de fazer um “supper club”, que basicamente é o seguinte, você recebe as pessoas para comer na sua casa. Geralmente, um chef monta um cardápio, define um ou dois dias da semana que receberá para o almoço/jantar e anuncia através de um website aos interessados. As pessoas se candidatam e pagam adiantado por essa refeição. Oficialmente, não é uma tarifa, é uma “doação” para pagar os custos. A grande maioria não serve bebida, mas você pode levar a sua.

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Gostei bastante do conceito, mas ainda não era perfeito para mim. Por que? Primeiro, porque por contrato de aluguel, não posso ter negócio em casa. Então, montar um website com endereço seria complicado. Segundo, a possibilidade de receber completos estranhos no meu lar era um pouco assustadora. Sem falar que vai que alguém tem algum problema alérgico, não me informa e passa mal, olha o tamanho da encrenca! Aqui é um tal de não pode comer isso e não pode comer aquilo que você nunca sabe se é frescura, moda ou problema sério!

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Enfim, cheguei a conclusão que nunca haveria o modelo, local e momento perfeitos. Quer saber, isso é algo que quero fazer há um tempão e estou pronta! Então, logo que mudamos de casa e consegui um pouco mais de espaço, havia decidido que ia fazer da maneira que fosse possível e vamos corrigindo o curso no caminho.

Assim, nasceu La Maison Blanche Supper Club!

O nome vem de uma brincadeira antiga que fazemos em casa, com super jantares nababescos para poucos amigos muito íntimos, queridos e de paladar amplo. Luiz queria dar meu nome para esses eventos, o que me deixava constrangida, porque afinal, era sempre uma homenagem a alguém que não era eu! Daí o que começou como a casa da Bianca, mudou um pouquinho e disfarçou em francês. Quando queria fazer um desses jantares, dizia: vou fazer um “Maison Blanche”. Acabou que o nome pegou e resolvi mantê-lo.

Pois muito bem, a idéia é a seguinte, abri um clube exclusivo para amigos e pessoas indicadas por esses amigos. Em determinadas datas, promovo jantares, aulas ou eventos, onde pequenos grupos são bem vindos a desfrutar de uma experiência gastronômica. As experiências podem variar entre a saudade de uma boa comida caseira em um ambiente despojado e informal; ou um jantar absolutamente sofisticado, uma fusão de sabores, texturas e sensações. Não se trata de um restaurante, tudo é feito na minha casa, portanto, apenas pessoas conhecidas ou com referência de algum amigo em comum serão recebidas. Tudo é pensado em conjunto, a comida, a iluminação, a música… é todo um contexto. Para cada evento, há uma doação, paga antecipadamente, para cobrir os custos de um menu fixo. Considerando os preços cobrados nos restaurantes de Londres, francamente, as doações sugeridas são para lá de razoáveis! O valor não inclui bebida, posso oferecê-las por fora desse valor ou, se os amigos preferirem, podem trazer sua própria bebida, não cobro rolha.

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Tudo é organizado e divulgado através de uma página no Facebook https://www.facebook.com/LaMaisonBlancheSupperclub?ref_type=bookmark, não tenho website, afinal, a principal propaganda é a boca-a-boca, literalmente. Sigo recebendo amigos em casa do mesmo jeito, não misturo as estações, isso é outra coisa. Por exemplo, no caso desses jantares, fico literalmente na cozinha, ocupada e adorando. Lógico que recebo as pessoas e faço o papel de anfitriã, mas as estrelas são os convidados, é tudo feito para eles, não sento à mesa.

Está muito no início, mas a verdade é que a recepção tem sido bastante positiva e estou animadíssima! Já começaram a surgir as primeiras encomendas e estou doida para esquentar meu umbigo no fogão!

E se você vem a Londres, ou queira indicar algum amigo que venha, seja mais que bem vindo à La Maison Blanche Supper Club!

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E a família aumentou!

Muita calma nesse momento! Estou falando de dois vira-latinhas felinos que acabam de nos dar a honra de sua presença!

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Para quem chegou agora e não acompanha a história, já tivemos um par de gatinhos irmãos, a Buchannan, que viveu por 5 anos e o Jack Daniel’s que viveu 13. Chegaram em nossa casa, em São Paulo, quando ainda tinham 40 dias de vida. Aprenderam a ser nômades como nós e se adaptavam às mudanças com muita elegância. Buchannan se foi em Atlanta e Jack em Madri, pelo meio de 2012.O persa creme que aparece na foto de entrada do blog é o Jack e já foi personagem de várias crônicas por aqui.

Precisamos de um tempo para a poeira baixar e o luto acalmar. E o bendito tempo, como sempre, se encarrega de nos aliviar e dar outra perspectiva para tudo que passamos.

Quando começamos a pensar em um novo animalzinho, tinha claro que seria adotado, mas também sabia que precisava ser no momendo adequado. Logo veio a possibilidade de mudança para Londres e resolvemos aguardar.

No antigo endereço, comecei a receber visitas felinas, uma gata preto e branca muito carinhosa (e com dono). Passou a me visitar diariamente, como que me preparando ou me dando sinais que o momento estava chegando. Escrevi sobre ela aqui.

Assim que, ao mudar para a casa nova, tínhamos decidido que já era hora. Luiz entrou em contato com o centro de adoção, optamos pelo RSPCA, e eles marcaram a visita de uma inspetora. Achei muito responsável da parte deles, não é uma visita invasiva, mas para saber que condições tem a casa, se tem crianças, se tem quintal etc. Ou seja, garantir que é o ambiente adequado e que o perfil do animal e do dono sejam compatíveis. O fato é que temos o perfil ideal para adotar um gato, já tivemos outros e muito bem educados, trabalho em casa, temos espaço, não temos outros animais, não há crianças (há gatos que se adaptam a uma casa com crianças pequenas ou outros animais, mas nem todos). Enfim, nenhum empecilho.

Não tinha certeza se queria um ou dois bichanos, ambas as escolhas oferecem vantagens e desvantagens. Comprei um kit básico para receber quem viesse e o destino se encarregasse do resto.

Começar a comprar cama, caixa de areia, potes de comida etc teve um efeito ambíguo. Por um lado foi gostoso, já foi me dando vontade de mimar um ser que eu nem conhecia; mas por outro remexeu algumas saudades e me perguntava se queria mesmo passar por tudo isso novamente. Não vou negar que é bom ter minha liberdade completa, nada nem ninguém dependendo de mim. Não sei tomar meias decisões e acho que, nesse caso, é a maneira correta, se você opta por ter um bichinho, que pode ser um gato, cachorro, peixe, tartaruga, o que for, você é responsável por ele o resto da vida, ponto.

Prevaleceu a lembrança de todo o carinho e companhia que me fizeram Buchannan e Jack, por países, casas e humores diferentes. A delícia que é ouvir um ronronado alegre só porque te viu. A dignidade de um ser que independente da situação, segue sendo dono do seu rabo, seu fucinho e dos seus termos.

Fui meio emocionada ao centro de adoção, ainda bem que Luiz estava junto, não queria essa responsabilidade sozinha. Achei que seria sofrido, porque no fundo, a gente sabe que estará deixando “alguém” para trás. É um pouco escolha de Sofia.

Mas a verdade é que não foi nada duro! Primeiro porque o centro era um lugar bastante razoável. As jaulas dos animais não são tão mínimas, na verdade, parecem pequenos quartos com uma parte mais protegida e uma parte externa com grade. Você consegue inclusive andar dentro delas. Não é o espaço ideal, é lógico, mas os bichos não estavam confinados ou mau tratados. Alguns mantidos sozinhos e vários mantidos em duplas ou grupos, no caso de virem de uma mesma casa.

Então, deixamos o acaso seguir seu curso. Passeamos por cada uma das celas, observando o compartamento dos animais. Passei na ida e na volta por um bichano apagado sobre um desses arranhadores grandes. Quando estava um pouco adiante, Luiz me chama para conhecer um gato, exatamente o tal que estava dormindo quando passei. Chego lá e ele está todo ronronante para Luiz, como também ficou para mim, pedindo carinho e esfregando o rosto na nossa mão. Dali a pouco, sai de dentro do quartinho uma outra gata, tímida que só ela, mas se esfregando nesse primeiro e também ronronante para a gente, se deixando ser tocada. Mas logo que a cuidadora chegou, voltou correndo para o quarto. Ali, nossa decisão que ele viria já estava tomada.

Entretanto, lembra que ainda tínhamos dúvidas se queríamos um ou dois gatos? Estava bastante inclinada a ter dois. Porque o trabalho é bem parecido e um faz muita companhia ao outro, te libera mais. A pior desvantagem é que você não consegue prever que ambos tenham o mesmo número de anos de vida, e quando um deles se vai antes é um trauma! Portanto, se viessem dois gatos, preferia que tivessem idades iguais ou bem parecidas.

Muito bem, a responsável do centro, quando nos viu interessada nesse gato, e sem saber se levaríamos só um, fez um ar de preocupada. Explicou que a outra era extremamente tímida e, por isso, era uma das gatas que estava há mais tempo no abrigo. Quando o gato chegou, também tímido, fizeram a experiência de colocá-los juntos e foi muito positivo para ambos. Ela começou a se comunicar através dele, brincarem e desenvolverem um laço especial. Assim que não era obrigatório adotar os dois, mas separá-los seria muito ruim, principalmente para ela que já estava ali há 6 meses. De tão tímida, cada vez que alguém chegava para visitar, ela se entocava!

Acontece, que ela havia saído da toca para a gente, muito provavelmente por causa dele. E ouvindo sua história, imagino o esforço que foi para ela, foi uma grande coisa! Então, levamos os dois, pronto!

Assim, chegaram em nossa casa dois felinos assustados, ele batizado de Wolverine (2 anos), Wolvie para os íntimos e ela nossa Fênix (4 anos). Gatos super poderosos, que precisam de espaço, tempo e paciência para entenderem seus talentos. Wolverine é mais corajoso, não se deixa pegar, mas se entrega a carinhos quantas vezes você se aproximar. Fênix é uma ostra de tímida, mas bem docinha, esperamos que em breve possa renascer mais confiante. E, definitivamente, a relação entre os dois é muito especial! Separá-los haveria sido uma maldade, ela é completamente louca por ele e ele busca por ela o tempo todo.

Pois muito bem, começamos novo capítulo na nossa história, reunindo um casal de gatos apaixonados, que provavelmente vão virar nossa casa de cabeça para baixo em algumas semanas, mas que daremos nosso jeito, encontraremos os próprios espaços e viveremos felizes para sempre (ou quase).

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PS: Wolverine é o mais preto da direita, Fênix tem as patas brancas.

E corre para arrumar a casa!

Meu prazo médio para arrumar toda a casa após uma mudança é de três dias. Não é que fique tudo impecável, mas nesse período tenho praticamente todas as caixas abertas e a casa funcionando.

Faço compras normalmente pela internet e já havia agendado compras básicas programadas para chegar em casa na quarta-feira, 16, dia seguinte à mudança. Assim que não houve nem respiro, já acordei botando para quebrar!

Dessa vez, como temos algo de espaço em um tipo de depósito no final do jardim, não nos desfizemos das caixas. Desmontei tudo, envolvi em plásticos para proteger e Luiz guardou lá atrás. Não parece nada, mas as caixas são um custo razoável na hora da mudança e a torcida do flamengo inteira já imagina que esse não será nosso último endereço, então, melhor guardá-las.

Na sexta-feira, era feriado. Nosso amigo que sempre dorme por aqui e tem carro, nos deu uma carona para buscar a escultura no apartamento antigo. Luiz deixou as chaves dele por lá e fiquei eu encarregada de voltar para entregar o apartamento depois. Ele também foi conosco ao Ikea, que é uma mão na roda para comprar as coisas para casa.

Precisávamos de armários, o espaço é bom, mas tinha pouco lugar para armazenamento e isso atrapalha bastante a arrumação. Compramos uns provisórios baratinhos e fáceis de montar. Aproveitamos e compramos também alguns móveis para o jardim, nada muito complicado ou caro, mas queremos aproveitar a área externa. Luiz é ótimo churrasqueiro!

A gente deveria aproveitar o resto do fim de semana para terminar de montar e arrumar tudo, mas depois de tanto trabalho, resolvemos relaxar e fomos tomar vinho com nosso amigo no jardim.

Ao longo da semana, corri tudo o que pude para deixar a casa pronta, porque meu irmão e minha cunhada estavam pela Europa e queria encontrá-los. Na verdade, havia combinado de ir na sexta-feira 25 para Berlin encontrar meu irmão, mas minha cunhada não estaria mais. Assim que tinha o plano malévolo de resolver tudo e ir antes para a Bélgica fazer uma surpresa.

Mas não deu certo e nem foi pela arrumação da casa, o problema é que precisava renovar meu passaporte brasileiro e minha data para entregá-lo ao consulado era exatamente no meio da semana, na quarta-feira 23. Dia em que descobri que meu agendamento havia sido feito errado, e perdi tempo indo ao consulado! Caraca, mil coisas para resolver e fui para o centro à toa!

Não foi de todo perdido, me informaram que poderia voltar no dia seguinte, para tirar minhas digitais e enviar a documentação pelo correio. Achei engraçado aquele negócio de ir até lá e ao invés de entregar os documentos, enviar pelo correio para o mesmo lugar que estava! Eu devo ter entendido isso errado! Não tem problema, vou assim mesmo e tento entregar os documentos pessoalmente.

Na saída, ameacei me aborrecer, afinal perdi o maior tempo à toa e ainda estava preocupada se conseguiria resolver no dia seguinte mesmo. Esse negócio de documentação é um perrengue para quem mora fora do seu país de origem. Ainda tentei aproveitar e ir para o trabalho do Luiz almoçar com ele, mas justo naquele dia, ele estava em um evento. Putz! Não é meu dia… Mas quer saber de uma coisa, dane-se! Vai se resolver e já que estou no centro, vou aproveitar! Sentei em um restaurante que adoro, especializado em ostras, tomei um vinhozinho ótimo e ainda usei o wi-fi para atualizar minhas mensagens. Afinal, levamos 3 semanas para ter internet em casa após a mudança, mas essa é outra história. Dessa maneira, apesar de não haver resolvido ainda, pelo menos meu humor estava melhor.

Dia seguinte, acordo eu bem cedo e toca para o consulado brazuca outra vez! Fui atendida, nem demorou muito e achei o atendente até bem simpático e com paciência para explicar tudo. Realmente, naquele dia só poderia tirar minhas digitais, os documentos (passaporte antigo, identidade, certidão de casamento, atestado que estava quite com a justiça eleitoral, foto, formulário do consulado e comprovante de pagamento da taxa) precisavam ser enviados pelo correio. Mas como assim, eu tenho que enviar para cá? Mas eu estou aqui! Eu trouxe um envelope, não posso colocar tudo bonitinho no envelope e entregar na recepção, igualzinho ao correio?

Não podia. É meio maluco, mas enfim, expliquei para ele a situação, que poderia precisar viajar ao Brasil a qualquer momento e blá, blá, blá… Ele me disse que era rápido, levava no máximo 5 dias úteis depois que os documentos chegavam. Como não havia outro jeito, pedi que ele checasse se eu tinha tudo certinho, ele checou tudo para mim e me entregou exatamente como eu deveria por no correio. Tirei minhas digitais e saí dali diretamente para uma agência, para não perder mais tempo.

Volto para casa, pensando em arrumar as malas para o dia seguinte. Felizmente, para Berlin não havia problema viajar, porque iria com meu passaporte espanhol.

Muito bem, chega à noite, minha sogra é internada e o estado parecia grave. E agora, o que a gente faz?

Caminhamos para onze anos fora do Brasil, a quantidade de vezes que já escutamos que alguém da família não estava bem e logo se reverteu é incontável! Mas sabe como é, essas coisas você nunca tem certeza. E ainda por cima, havia acabado de enviar meu passaporte brasileiro! Em princípio, não tinha nem como viajar para o Brasil! Há alguns procedimentos de emergência, mas como acabei de dizer, a gente nunca tem certeza se é realmente uma emergência até que realmente aconteça.

Bom, queria encontrar meu irmão, também temos poucas oportunidades assim. As passagens pagas, o hotel pago, inclusive por ele que queria nossa companhia. Quer saber Luiz, para ficarmos preocupados aqui, fico lá!

Assim que resolvemos manter o plano de ir na sexta-feira de manhã, mas Luiz estava agoniado e, por via das dúvidas, foi com uma mala maior e com os dois passaportes, caso precisasse ir direto para o Rio.

Não deu em outra! Chegamos em Berlin ainda cedo no Brasil, pelo fuso horário, e tivemos tempo de dar uma volta pela cidade, junto com meu irmão. Mas logo que o dia amanheceu pelo outro lado do oceano, as mensagens começaram a pipocar no seu celular e ele resolveu não arriscar. Não conseguiu comprar passagem para o mesmo dia, mas achou um vôo no sábado pela manhã. Fiquei com meu irmão até domingo, acompanhando por telefone o que estava acontecendo.

Domingo à noite, cheguei em casa, em Londres, na dúvida do que fazer. O momento era complicado, sem passaporte, acabávamos de mudar e tínhamos ainda algumas pendências para resolver, encomendas para receber, internet para instalar, chave de apartamento para devolver, eu tinha trabalho para entregar… mas ao mesmo tempo, preocupada com Luiz no Rio.

Honestamente, achei que tudo fosse durar mais tempo. Sabia que Luiz não poderia ficar direto por lá e pensei que o melhor era terminar de resolver as coisas por Londres, afinal tinham pendências que alguém precisava fazer e, se fosse necessário, ao invés de estarmos nós dois no Rio, me revezaria com Luiz na semana seguinte.

Não deu tempo. A situação foi se agravando progressivamente e a mãe dele faleceu no dia 29 de abril. Eu deveria estar preparada, não posso dizer que foi uma surpresa, mas francamente, não esperava que fosse tão rápido. Não havia perdido a esperança que ela melhorasse, ainda que soubesse que boa ela não ficaria.

Foi duro e mais dolorido por não estar ao lado do Luiz, mesmo sabendo que juntos estávamos.

Até hoje não estou totalmente bem, é uma mistura de sentimentos muito grande, por ela, por Luiz, pelos meus… De algum modo diferente mexeu comigo, abriu alguns canais, dúvidas, sei lá. Quase fui de toda maneira agora em maio, para ajudar Luiz a resolver qualquer pendência e, francamente, talvez fosse mais por minha causa mesmo, bateu saudade.

Acontece que não há muito o que fazer agora. Logo vem a malfadada Copa e tudo fica absurdo, além de nada se resolver. E, finalmente, meu pai deve fazer uma cirurgia em julho, então, o mais razoável é esperar.

Por outro lado, também não estou totalmente mal, me recuso a ficar. A gente segue tocando a vida. Semana passada tinha trabalho vazando pelas orelhas, nem sempre o mais agradável, mas é importante para mim voltar a ser “produtiva”, ou melhor, ganhar algum dinheiro pelo que produzo, né?

A casa nova é uma graça! Tem vários defeitos que nem ligo, em pouco tempo estou aprendendo a não vê-los. Com o passar dos dias, vem ganhando outra energia, cores, aromas… vida! Já recebemos os primeiros visitantes, fizemos churrasco, plantei ervas, colhi flores e começo a reconhecer uma meia dúzia de gatos que se alternam em turnos passeando sem a menor cerimônia pelo meu quintal temporário, sem me dar a menor bola, mas me arrancando sorrisos e alimentando a vontade de acolher o meu novo felino, arrumar nossa própria casa, algum dia, em algum lugar.

O trigésimo oitavo endereço!

Foi estressante e trabalhoso, mas deu tudo certo! O que, felizmente, tem sido a manchete da nossa vida ao longo dos anos.

Nos mudamos para meu 38o endereço no dia 15 de abril de 2014. Sim, com esse número quase que intimidador, era de se esperar que tivesse (e tenho!) uma baita experiência no assunto. Ainda assim, tenho essa sensação de que algumas mudanças são mais complicadas que outras e essa foi uma das complicadas.

Por que? Porque não tinha grandes referências de nenhuma empresa transportadora por essas bandas, tinha um nome que uma amiga havia passado, mas não havia utilizado. Portanto, precisei ir tateando um pouco no escuro e torcer para que fossem honestos. E, verdade seja dita, foram corretos em tudo que se proporam. Usei a Simply Removals.

Eles são considerados de um custo mais baixo que a média, mas sem muito mi-mi-mi. O que é uma desvantagem para quem não sabe o que fazer, entretanto no nosso caso, foi ótimo! Veja bem, eu nem preencho aquelas listas de móveis etc para fazer orçamento, já negocio direto com as empresas por número de caixas e metragem cúbica. Não preciso de visitas prévias. Apesar do que, essa foi a primeira empresa que, efetivamente, contou com o que eu disse e não fez nenhuma visita prévia, se eu tivesse dado alguma informação errada, problema meu, iria pagar o que precisasse a mais! Confesso que com toda a onda que tiro, entre nós, me deu um medinho. Será que disse tudo certo mesmo? E se não entenderam meu inglês direito?

Muito bem, havia a opção de fazer tudo em um dia só, ou embalar em um dia e transportar no outro. Sempre faço tudo no mesmo dia, mas era o mesmo preço, minha primeira vez com eles, havia empacotado um monte de coisas por minha conta… quer saber, vamos tentar em dois dias que tenho mais segurança.

Tinha praticamente certeza que os funcionários seriam do leste europeu, ou seja, o pessoal que eu tenho medo (sim, eu sei que é preconceito e tal, mas já expliquei por aqui que meu problema é que não consigo entender a cultura e me sinto insegura. É pura ignorância assumida!).

E não deu outra, segunda-feira, chegam dois indivíduos, um educado, normal, apenas preocupado onde estacionar seu carro. Bom, a gente havia reservado vaga para o dia da mudança e pagamos uma nota por isso, mas para o carro do empacotador, não tinha nada reservado, sinto muito. De toda maneira, me propus a ajudá-lo a tomar conta se alguém aparecesse para multar e tal. O outro empacotador mal abria a boca e tinha a maior cara de mau! Mas enfim, não mexe com quem está quieto, né?

Havia deixado tudo encaminhado em casa, deixo tudo muito organizado antes deles chegarem, porque uma vez que eles entram, é como um furacão, quando você vê… já foi! Pois bem, nas cláusulas que recebi por e-mail em relação à mudança dizia que não transportavam bebidas nem comida. Na verdade, a maior parte das transportadoras dizem isso, ainda que até hoje, sempre consegui contornar a situação e levar as bebidas de alguma maneira. Nós somos colecionadores (e bebedores) de cachaça, temos aproximadamente umas 40 garrafas em casa, fora os vinhos, whiskies etc. Assim que já havia me preparado para levarmos nós mesmos essas garrafas, no carro de amigos, após a mudança. Daí, deixei tudo encaixotado, mas com as caixas abertas, separado embaixo de uma mesa, meio sem saber como abordaria o tema do seu transporte no dia seguinte.

O empacotador com cara de mau, foi o que ficou nesse área da casa e eu na outra ponta do apartamento com medo dele, mas de vez em quando ia lá dar uma olhadinha, bem rápido, no que estava acontecendo. Em uma dessas vezes, quando chego na cozinha, está ele embalando as bebidas que havia separado e achado que eles não levariam; na verdade, havia embalado boa parte delas! Eu devo ter feito uma cara de surpresa quando cheguei e o vi empacotando novamente as bebidas, no que ele me responde sério: essas bebidas não estavam bem embaladas, estou colocando de um jeito mais seguro. Ou seja, com essa frase, queria dizer que ele não estava nem aí se era proibido ou não, se estavam empacotando, eles levariam! Eu nem titubeei, respondi assertiva: você tem toda razão, o seu jeito está muito melhor! E saí comemorando sozinha pelo corredor e já achando o cidadão com cara de mau gente boa pacas!

Em mais ou menos três horas eles terminaram o serviço, foi rápido! Até porque, modéstia às favas, estava fácil de resolver. Achei bom dividir em dois dias, é menos cansativo e me deu mais confiança que no dia seguinte eles realmente apareceriam para o transporte. Porque veja bem, recebi tudo por e-mail, paguei e não tinha um só papelzinho assinado comprovando nossa negociação!

Encurtando o suspense, pontualmente na terça-feira, dia 15, a segunda dupla apareceu, com o caminhão direitinho do tamanho que havia negociado. Ambos novamente do leste europeu, lituanos, e para eu pagar com a minha língua, um deles era a maior simpatia! Um ótimo astral, brincalhão e bastante educado. O outro era mais sério, mas depois descobrimos que simplesmente quase não falava inglês, sempre que precisava se comunicar, o mais simpático traduzia.

Foi um pouco mais demorado do que imaginava, mas é que o caminhão veio cheio até as bordas e é um quebra-cabeças fazer caber as coisas. E o principal, levaram praticamente tudo, inclusive o que imaginava que não fosse possível. O que para nós foi fantástico, porque quase não sobrou o que levar depois, a não ser um aspirador de pó, que deixei de propósito e uma escultura grande e muito frágil que precisava ir no meu colo.

Nós não temos carro aqui, então, uma amiga ficou de ajudar no fim de semana se precisasse, outro amigo estava meio enrolado no trabalho, mas tentando dar um jeito de sair… nisso, durante a mudança uma outra amiga diferente liga oferecendo o carro se quiséssemos levar algo naquele dia. Maravilha! Fechei com ela, na verdade, um casal, fiquei de ligar quando acabássemos.

Quando estávamos quase terminando, como íamos de metrô, Luiz resolveu ir para casa nova na frente e não correr o risco do caminhão chegar primeiro. Além do mais, ainda nem tínhamos a chave da casa ainda, imagina isso! Fiquei eu no apartamento antigo para finalizar o processo.

Daí a jóia rara do meu digníssimo marido, me pergunta em inglês alto e claro na frente do carregador: você não podia ir com eles de carona? Eu queria matá-lo, juro! Veja bem, qual o marido que oferece a sua mulher para ir de carona sozinha com dois lituanos desconhecidos de caminhão? Só o meu, né?

Fui rapido e literalmente tirando o meu da reta, que eu precisava limpar algumas coisas antes de sair e não ia atrasá-los. E o próprio lituano simpático, também já estava se desculpando, mas disse que não podiam levar mais ninguém no caminhão por uma cláususa do seguro ou algo assim. Claro, claro, entendo perfeitamente, não se preocupe…

Pois muito bem, a medida que iam terminando os ambientes, eu ia atrás passando o aspirador para adiantar meu serviço e saí alguns minutos depois deles do apartamento para pegar o metrô. Por via das dúvidas, esperei o caminhão sair para justificar minha estadia. Luiz já havia chegado na casa nova.

Deixar o apartamento vazio foi estranho, costuma ser. Porque de uma hora para outra, não é mais minha casa, a energia muda. Caminhei até a estação do metrô viajando sozinha, lembrando de quando cheguei, também sozinha e com um apartamento vazio. Mas ainda tinha muita coisa para fazer e não dava tempo de ficar melancólica!

Cheguei na casa nova pouco antes do caminhão, Luiz já havia pego as chaves e conversado com o proprietário.

É que como nada nosso é simples, ainda tinha outro porém, a entrada da casa fica em um corredor um pouco apertado para os móveis entrarem, alguns simplesmente não poderiam fazer a curva e passar pela porta da frente. A solução era passar pelo corredor lateral do vizinho e entrar por uma passagem removível na cerca de madeira entre as duas propriedades. Porque a porta que dá para o jardim é bem acessível. Contando assim é mais complicado do que foi na prática, mas sabe como é, tudo depois que se sabe é mais fácil.

O vizinho estava viajando, mas nosso proprietário tem (ou tinha) a chave do seu portão lateral. Isso facilitou bastante, pois não precisamos incomodar ninguém. Quero ver no dia que a gente precisar sair, mas aí é outra história!

Resumindo a ópera, foi trabalhoso, mas nada anormal para uma mudança. Havia feito maquetes improvisadas dos ambientes e sabia praticamente onde iria tudo, isso também facilitou. Modéstia às favas, experiência… sabe como é…

Final da tarde, tudo dentro de casa, finalmente assinamos algum papel, que a essa altura nem me fazia diferença, já estava tudo pago mesmo! Demos uma boa gorjeta para os lituanos, afinal trabalharam bem, sem reclamar e, novamente para eu pagar a língua, nenhuma cara feia! Pelo contrário! Ficaram felizes com a gorjeta, acho que nem esperavam, acho que ninguém espera gorjeta aqui.

Nós estávamos mortinhos da silva, mas ainda faltava voltar para o apartamento, terminar de limpar e pegar as coisas que ficaram por lá. Ligamos para o casal que ía nos dar essa carona de volta. Eles ainda demorariam a se liberar, o que achamos até bom, resolvemos sentar para comer alguma coisa, afinal, nem almoçar a gente havia conseguido!

Com as olheiras arrastando pelos joelhos, paramos em um restaurante de carnes da nossa vizinhança, o Lomito. Luiz me faz a proposta indecorosa de deixar a limpeza do apartamento para outro dia e relaxarmos um pouco. Levei mais ou menos 14 segundos para aceitar! Pedimos uma caipirinha (sim, havia caipirinha!) e comemos uma carne divina!

De qualquer maneira, havíamos marcado com o casal no apartamento e, logo depois do jantar, nos dirigimos para lá. Na verdade, até passei um aspirador rápido onde faltava, e faltava pouco, porque já havia adiantado bastante coisa, mas já não fiz mais do que isso. A escultura não coube no carro deles, mas foi a única coisa que ficou para trás e a buscaríamos no fim de semana.

Eles nos deixaram em casa, mas nenhum de nós aguentava mais tomar ou comer nada, todo mundo cansado! Então, eles só visitaram a casa nova rapidamente para conhecer e se foram.

Lá fui eu dar uma aspirada rápida no andar de cima, onde ficam os quartos, afinal já deve ter dado para perceber que sou neurótica com limpeza, e Luiz ia atrás passando um pano para o acabamento. Limpei o banheiro e o resto podia ficar para depois.

Deixo aqui uma dica para quem se muda, separar uma mala com roupa de cama e de banho, além da roupa que vai precisar no dia seguinte. Dessa maneira, você pode fazer o que fizemos no final de um dia duro de mudança: tomar um banho quente, desses de lavar a alma, deitar na sua cama com roupa de cama limpinha e apagar até o sol despontar!

Uma história de amor

Levantei tarde. Decidi que hoje só sairia da cama quando o corpo doesse! É o primeiro dia, depois da mudança de casa, que não tenho um compromisso pela manhã. Aliado à notícia triste de ontem e, por consequência, uma baixa de resistência, uma gripe ou alergia me derrubou. Nada grave ou que uma manhã tranquila e um chá com gengibre não cure.

Ontem faleceu minha sogra e fiquei triste. Achei que aceitaria com mais facilidade, afinal a idade e a experiência têm me adestrado a isso. Mas me custou e ainda nem sei porque me abalou mais do que meu sogro, porque acho que amava os dois igualmente. Talvez porque meu sogro estivesse tão pronto, tão preparado, como simplesmente fosse dar o próximo passo. Então, foi mais natural para mim. Acho que ele teria inclusive dado esse passo antes, se não fosse pela preocupação em deixar minha sogra.

E hoje falo dela, ou pelo menos como interpreto a parte que conheci. Acho que era uma mulher à frente do seu tempo, uma cabeça técnica e científica em um período que esse era um privilégio para os homens. Pois coloquem essa cabeça “masculina” em um corpo ensinado que o certo era casar, ter filhos e viver só para eles. O resultado evidente seria uma pessoa amarga e frustrada, mas não aconteceu assim. Ela era doce, gentil, discreta e carinhosa a seu jeito. E, eu pelo menos, pouquíssimas vezes a escutei reclamar.

Não acho que era o tipo de se queixar e sim de tomar a iniciativa, mesmo que fosse através do meu sogro. Ele tomava à liderança, mas no fundo, fazia o que ela queria. E bom que fosse assim, pois eram mais e melhores dessa maneira.

Se não era adequado para uma mulher ter uma carreira ou se era impossível acompanhar o marido em suas mudanças se tivesse um emprego, novamente deu seu jeito. Virou professora particular de matemática, e ainda que não tenha sido sua aluna, não tenho a menor dúvida que sua inteligência amparada pela sua generosidade a fizeram uma professora genial! Não será à toa que ao Luiz lhe encanta ensinar e nem por acaso que tenha se formado em Matemática (Informática, no seu tempo, era atrelada à Faculdade de Matemática). Afinal, teve desde cedo o exemplo da melhor professora do mundo! Quando me casei com Luiz, ela ainda dava aulas, e mesmo décadas depois, não era incomum encontrar adultos, ex-alunos, pela rua lhe agradecendo com carinho. Coisa que a deixava sempre muito feliz.

O tempo passou rapidamente e talvez também seja por essa consciência que tenha me abalado tanto a notícia. Tenho mil histórias para contar, mas só vou contar mais uma. Com os dois já bastante idosos e meu sogro precisando dos cuidados de enfermeiras por 24h, minha sogra surtou. A carga foi demasiada e precisou ser literalmente internada. Sua saúde era de ferro, mas a cabeça não aceitava e começou a dar sinais visíveis de demência senil. Meu sogro, por sua vez, com a saúde extremamente debilidatada, mas as idéias mais lúcidas que nunca. Fomos ao Brasil para retirá-la da tal clínica e entender o quanto ela estava pronta para voltar para casa, sem significar um risco para ela nem para o meu sogro. Ela estava pronta. Precisava ser medicada, precisava de enfermeiras também, mas começava a aceitar que a realidade era outra, havia se convertido em outra.

Após a sua chegada, discretamente emotiva e pouco conversada entre os dois, afinal, acho que nem sempre a gente precisa de palavras quando se conhece tão bem, sentaram-se à mesa, comeram alguma coisa e foram se deitar, juntinhos e abraçados. Um suspiro de alívio e a respiração sincronizada de siameses.

A imagem dos dois deitados abraçados está entre as mais bonitas na minha memória. Um reencontro repetido sistematicamente por 60 anos. Um contraste entre a falta de privacidade em precisar fazer isso em meio às enfermeiras e nós mesmos, com a bolha de cumplicidade em um mundo paralelo só deles.

Quando meu sogro faleceu, minha sogra murchou. Ela tentou e confesso que, por muitas vezes, a sentia reagindo, melhor, tentando se animar mesmo sem vontade. Mas chegou ao seu limite.

Podemos buscar explicações, motivos ou enumerar os problemas de saúde que foram aparecendo ao longo do último ano. Podemos aceitar que se foi por velhice, por doença, por saudade… por tudo isso junto. Todos são motivos razoáveis e às vezes é uma questão de optar em qual versão preferimos acreditar.

Na minha versão da história e a que vou me lembrar, fico com a que acho mais bonita, prefiro pensar que ela simplesmente morreu de amor.

Tudo certo, nada resolvido!

Basicamente, a história da minha vida. A gente vai tocando o barco por não haver outra alternativa, mas raramente a gente tem a maioria das variáveis razoavelmente controladas, nem digo todas porque nem tenho esperança dessa possibilidade.

Começou com esse mora-não-mora-onde, daí quando se decide que é em Londres mesmo que ficamos, está pensando que está tudo resolvido? Claro que não! Vai buscar outro endereço… encaixar a saída de um endereço com a entrada no outro… esperar o proprietário da casa alugada assinar o contrato depois que a mudança já precisa estar contratada… começar a embalar a mudança sem saber se conseguirá a vaga para o caminhão na frente de casa… e por aí vai! Tudo certo, mas nada resolvido até os 43 minutos do segundo tempo!

Como sempre, todo mundo partindo do princípio que o processo é óbvio e que você tem a obrigação de saber todos os detalhes do trabalho alheio, né?

E isso sem falar que a vida pessoal segue, Luiz não está trabalhando menos e ainda pipocando problemas de saúde com sua mãe no Brasil. Treinamentos sendo marcados no mês que aviso desde o começo do ano que não tenho internet para dar suporte. Meu irmão chegando pelas bandas européias no final do mês e eu me virando para achar um jeito de viajar para encontrá-lo…

Sério, estou estressada! Tem horas que me invoco e distribuo um “par de hostias”, porque modéstia às favas, sou muito legal e flexível, mas às vezes o povo abusa, em qualquer lugar do mundo. Verdade que esse critério tem funcionado bem.

Mas enfim, se todo mundo fizer o que disse que ia fazer (e a gente não teve outra alternativa a não ser acreditar), essa novela se encerra em breve. Hoje é sexta-feira, tenho a maioria das coisas frágeis já embaladas por mim mesma; na segunda-feira vem dois homens aqui em casa embalar o restante e transportam na terça-feira, dia 15 de abril. Uma vez a mudança dentro da próxima casa, fica só o trabalho de arrumar, mas isso não me preocupa, é só trabalho e depende basicamente de mim. O que me enlouquece é depender da resposta dos outros. E, às vezes, para complicar um pouquinho, dependo da resposta alheia por telefone com cada sotaque mais difícil de entender que o outro! Ainda bem que Luiz me ajuda!

Pronto! E agora que desabafei, ficou um pouco melhor! Vou tentar dar uma última corridinha na minha querida academia do parque. Pode ser que uns 10km me acalmem!

Ajudamos a Mariana?

Recebi o pedido abaixo aqui no blog e achei bonitinho.

“Oii, tudo bem? Eu estou procurando pessoas que possam me ajudar a fazer uma homenagem para o meu namorado, quero dizer a ele que o mundo todo sabe que eu amo ele, pois mês que vem fazemos 7 anos de namoro. E então estou pedindo para pessoas que moram fora me ajudarem, tirando uma foto na cidade que estão com um papel escrito: “Rafael, aqui (em tal lugar) todos sabem que a Mari ama você”. É dificil pois não tenho muitos amigos no exterior, então tenho que parecer uma louca e pedir para estranhos, mas espero encontrar pessoas legais e a favor do amor que possam me ajudar! Caso queira ajudar: marib_log@hotmail.com

Não conheço a Mariana pessoalmente, mas trocamos várias mensagens e não custa dar uma força ao amor, né? Assim que, amigos leitores pelo mundo, quem quiser colaborar com ela e sua homenagem romântica para o Rafael, fiquem à vontade!

PS1: Favor, enviar as fotos até dia 13 de abril de 2014!

PS2: Essa é a Mariana, dando o exemplo e divulgando publicamente seu amor!

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PS3: Quem ficar com vergonha ou não quiser aparecer, pode enviar assim:

Mariana
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English version!

Dear friends around the world, let’s help Mariana (Mari) with her love tribute? You just have to write in a paper “Rafael, here at (your city’s name) everyone knows that Mari loves you!”, take a picture in your city and send to her at marib_log@hotmail.com. Good luck to Mari and Rafael!

Original translated message:

“Hi, guys! Next month, my boyfriend and I will complete 7 years together and I am looking for people who can help me to make a tribute for him. I want to tell that everyone around the world knows that I love him. So, I’m asking for people who live outside to help me, taking a picture in the city that they live with this message writen in a poster:

“Rafael, here at (city’s name) everyone knows that Mari loves you!”

It’s hard to reach it because I don’t have many friends abroad, so I look like a crazy person asking that for strangers. Anyway, I hope to meet nice people who believe in love and could help me! If you want to help, please send your picture to marib_log@hotmail.com”

Until April 13th!

Carnaval 2014 em Londres

O carnaval britânico é simplesmente o máximo! A cidade se transforma por uma semana! Ruas decoradas, desfile de blocos, escolas de samba… Portela campeã… até que você acorda e descobre que algo semelhante a isso só nos seus sonhos mesmo!

Queridos e queridas, não há como dourar a pílula nem descrever de uma maneira mais elegante: o carnaval de Londres é uma merda!

Veja bem, no ano passado a gente mal havia chegado ao país, mas nos colamos a um grupo e fomos passar o sábado de carnaval no Guanabara. Que eu saiba, é o maior e mais conhecido bar brasileiro por essas bandas. Para ser sincera, aproveitei bastante, principalmente pela companhia. Meu irmão e minha cunhada também estavam de visita, enfim, foi legal e mantemos até hoje bons amigos que conhecemos nesse dia. Naquela noite, me lembro de pensar que no ano seguinte, teria que dar um jeito de estar em algum grupo de “batuqueiros” e me enturmar melhor para curtir essa época com meu tamborim em punhos.

Pois é, mas a gente ia para Miami, lembra? Então, deixei o plano para lá. Quando descobrimos que não íamos mais, já não dava muito tempo para organizar nada decente! Aliás, nem indecente daria! Afinal, tudo aqui é combinado com meses de antecedência (e sigo sem me adaptar a esse quesito).

Daí pensei em ir ao Guanabara mesmo, como no ano anterior. Comentei com alguns amigos que se animaram, mas nem tanto. Era mais pela completa falta de outra opção.

Muito bem, deixa eu abrir um parênteses, eu simplesmente amo carnaval! Luiz, não dá a menor bola para o evento, assim que desde que nos casamos, essa época é sempre meio nebulosa com alguém fazendo alguma concessão. O que, nesse caso específico, geralmente sou eu, pode acreditar. Raramente, a gente passa um carnaval que se preze!

Em Madri, não era de todo mal, pelo contrário. A gente só tinha um dia de carnaval, o sábado. Mas como já morávamos a algum tempo e tínhamos muitos amigos animados, sempre agitávamos alguma coisa e praticamente todos os carnavais saíamos com os intrumentos batucando pela rua. Eu nem faço mais questão do carnaval inteiro, um sabadozinho me satisfaz, melhor que nada!

Muito bem, na sexta-feira, havia um jantar aqui em casa com o pessoal do trabalho do Luiz. O big boss e o super big boss estavam de visita por Londres. Digamos que era um evento político, mas nem por isso menos agradável. Caprichei no jantar e gostei muito de conhecê-los.

Nem tinha expectativa de fazer nada mais essa noite, mas assim que acabou o jantar e, modéstia às favas, foi um sucesso, lembrei que no Brasil o carnaval estaria bombando e me bateu os cinco minutos que eu precisava, porque eu precisava, ir para um baile de carnaval a-go-ra!

Ainda liguei para um casal de amigos animados para ver se eles também topavam, mas eles já estavam no fim de noite. Lembrem-se que Londres é uma cidade que dorme cedo.

_ Luiz, então, vamos nós dois para o Guanabara! Pelo menos a gente vê se vale à pena voltar lá amanhã ou aborta esse plano de vez!

Pegamos um taxi, com Luiz dizendo que a gente não ia conseguir entrar e blá, blá, blá… claro que vamos conseguir entrar… ligamos para mais um amigo tentando convencê-lo a ir, mas esse sabíamos que era só farra, porque ele detesta o lugar!

Muito bem, entramos e ficamos mais ou menos doze minutos no bar!

Sério! Ok que já era tarde e tal, mas não havia no recinto nada, absolutamente nada que lembrasse remotamente um baile de carnaval! Nem decoração, nem música, nada! Nada de nada! Não vou nem dizer que estava ruim, mas estava igual a qualquer outro club da cidade, o que nesse dia, vamos combinar, não tem nada a ver, né? Principalmente, em um bar brasileiro!

Ainda bem que os amigos não toparam ir para lá conosco! Eles iam querer me matar! Voltei para casa bastante desiludida e me prometendo que no dia seguinte não voltaria nem a pau!

Felizmente, no próprio sábado, uma amiga estava fazendo uma festa de inauguração da sua casa nova e, por ser brasileira, acabou se animando a fazer um tema de carnaval. Foi o que salvou! Não era exatamente um baile, mas juro que estava muito mais divertido do que o tal do Guanabara!

Pois agora, que eu tenha registrado, que se quiser um carnaval razoável daqui para frente, vou ter que tomar a iniciativa e correr atrás com antecedência. Acho que tem muita gente que gosta, topa e colabora, mas falta quem acenda o pavio. Não me incomodo em ter o trabalho de organizar, portanto que nos aguardem no próximo ano. Não sei que raio a gente vai arrumar, mas prometo (ou ameaço) que igual a esse carnaval não será!

Quem sai na chuva…

Já dizia Vicente Matheus, quem sai na chuva é para se queimar, certo?

Então, vamos lá. Logo que mudamos para Londres, optamos por morar em um lugar muito legal e central. Optamos por Maida Vale, em uma zona que eles chamam de “very posh area”. O que seria perfeito… se não fosse estupidamente caro! E, para ser franca, apesar de achar nosso apartamento um charme, nem temos tanto espaço assim.

O plano A era morar aqui por um ano, enquanto conhecíamos Londres melhor e depois disso fazer como os ingleses, sair do centro, ir para zonas periféricas onde você tem muito mais espaço e paga um preço mais razoável. A questão é saber por qual dessas áreas optar. Quais bairros são seguros? Quais são as melhores linhas de metrô para você? Enfim, perguntas difíceis para você responder logo que chega a uma cidade tão grande como Londres.

Logo, achamos que nos mudaríamos para Miami e paramos de pensar nisso.

Quando a mudança deu para trás e a proposta em Londres parecia bem melhor, ou seja, achamos (porque nunca temos certeza) que ficaremos aqui por mais algum tempo, pensamos que talvez fosse um bom momento de voltar ao plano original e buscar novo endereço.

Além do mais, depois de ver tantas casas em Miami, já tinha na minha cabeça essa vontade implantada. Estava muito afim de morar em casa ou, pelo menos, um apartamento que tivesse saída para um jardim, o que aqui é relativamente normal.

Outro fator importante é que você faz um contrato por determinado período, normalmente um ou dois anos. Se sair antes desse tempo, a multa é tão alta que não compensa. Como a gente já havia cumprido mais de um ano no atual endereço e já havia avisado mesmo que iria sair, era a hora certa!

Ok, até aí, tudo bem, mas vai procurar lugar para morar em Londres assim do dia para a noite para você ver o que é bom para tosse! Lá foi Bianquinha pedir referências para deus e o mundo sobre bairros para morar e Luiz também pegou algumas referências com seus amigos no trabalho. Além do que, fiquei vesga de tanto ver imóveis pela internet! Verdade que foi mais fácil agora do que há um ano, pelo menos tínhamos alguma noção de por onde começar. Outra coisa que fizemos em fins de semana era pegar o metrô para algum bairro potencial e andar em volta, ver se gostávamos da área, visitamos imobiliárias, enfim, serviço completo!

Até que conseguimos decidir por determinada zona e focamos esforços, facilita bastante. Nossas preferências eram Harrow-on-the-hill, Northwood e Stanmore. Temos uma amiga que mora em Stanmore que me ajudava a dar dicas se o lugar era bom ou não.

Resumindo a ópera, vimos uma casa em Northwood que me interessou bastante. É longe do centro, zona 6 (para dar uma idéia de distância, o centro é zona 1, hoje moramos na zona 2). Acontece que tem metrô bem próximo e é exatamente a linha que Luiz usa para o trabalho, faz toda a diferença do mundo! Achei o bairro elegante, é considerado muito seguro e de um nível legal. Ali poderemos economizar brincando uns 30% no valor do aluguel e ainda por cima morar em uma casa bem maior.

Na rotina diária, não muda minha vida nem a do Luiz. Nos fins de semana, se quisermos sair à noite no centro de Londres, pode complicar. Acontece que foi aprovado liberarem a circulação do metrô durante toda a madrugada no final de semana, é uma questão de pouco tempo para entrar em vigor. Ou seja, a princípio, parece perfeito!

Fizemos proposta nessa casa e agora esperamos a papelada ser aprovada. Dedos cruzados! Se não for essa, será outra, mas adoraria resolver logo isso, porque o tempo está passando e nosso prazo ficando cada vez mais curto para organizar a mudança. Lembra que ninguém faz nada nessa terra de improviso, né? Tudo é agendado com uma irritante antecedência!

Enfim, mais uma vez, vamos dar uma chance ao caos! É uma dor de cabeça e só de pensar me dá preguiça! Vamos combinar que caminho para meu 38º endereço! Sério, ninguém merece! Por outro lado, é uma casa tão legal, com mais espaço, jardim lindo, um bairro super charmoso…

Como diz uma amiga minha, universo faça sua parte! A nossa, às vezes reclamando um pouquinho, estamos caprichando.

Lembra que íamos para Miami?

Tudo isso passando e, em paralelo, começamos a nos organizar para a mudança de país. Lembra que a gente ia para Miami, né?

Pois é, procura casa pela internet daqui… cota com companhia de mudança dali… escolhe o bairro que vai morar… avisa ao proprietário do apartamento que vamos sair… começa a fazer o treinamento para o trabalho novo (virtual), sem saber em que país vai começar a trabalhar… recebe as últimas hóspedes em janeiro, porque a partir de fevereiro a gente já não sabe mais quando muda… programa o cancelamento da academia de ginástica… dá entrada nos papéis de visto… aquela correria de mudança de sempre! Sem tentar me justificar, boa parte do motivo de quase não conseguir sentar para escrever, era exatamente ter tantas pontas soltas para fechar. Mal conseguia me programar!

Muito bem, queria viajar a Madri para me despedir dos super amigos que temos por lá. É lógico que pretendia voltar em algum momento, mas convenhamos que desde Miami é muito mais difícil que de Londres.

Em Fevereiro, fazíamos regularmente uma grande festa por Madri, o famoso “Feveillon”! Achamos que seria uma ótima oportunidade de rever a todos a fazer uma despedida que não ficasse um clima triste, pelo contrário.

Para quem não acompanha o Buraco da Fechadura, “Feveillon” é um “Réveillon” fora de época, comemorado sempre em fevereiro.

Resumindo uma longa história, tudo começou há mais ou menos uns 7 anos, quando fizemos uma festa de Ano Novo histórica! Foi muito boa mesmo! No ano seguinte, infelizmente, passamos por um período difícil com problemas de saúde na família e cheguei em dezembro muito decepcionada, desanimada, enfim, sem vontade de comemorar. Viajamos sozinhos, Luiz e eu. O fato é que, sem a gente se dar conta, havia um monte de amigos esperando nossa festa de fim de ano que não aconteceu! Bom, eu achava normal convidar as pessoas quando fazia uma festa, mas nunca imaginei que precisava avisar que não faria uma!

Muito bem, começou o ano e seguia complicado. Entretanto, olhei em volta do meu umbigo e percebi que não era complicado só para a gente, todo mundo tinha problemas! Porque a vida é assim, somos nós que temos que nos adaptar! Ainda havia amigos viajando, o povo meio borocochô, parecia que a virada de ano estava incompleta. E como assim, a melhor festa do ano inteirinho ser tão sem graça? Ah, não!

Esperamos terminar janeiro, os amigos mais próximos espalhados voltaram para Madri e organizamos uma festa em fevereiro para iniciar os trabalhos do ano. Assim surgiu a idéia de fazer um novo Réveillon! Todo mundo de branco, estourando champagne à meia noite, pulando 7 ondas (improvisadas), comendo as uvas… enfim, todas as supertições de direito! E, como sempre, os amigos são nota 10 e embarcaram na viagem! E foi de uma das amigas a idéia de juntar: fevereiro + réveillon = Feveillon!

Virou tradição e todo ano a gente fazia!

Enfim, voltando a esse ano, fevereiro seria um mês perfeito para a gente ir a Madri se despedir dos amigos, então, por que não fazer o Feveillon? A única coisa é que como já não moramos mais por lá, organizar um evento ficava meio complicado. Acontece que temos duas amigas dessa mesma turma que começaram a trabalhar com isso, organização de eventos pelas noites madrileñas, então, juntamos a fome com a vontade de comer! Elas organizaram tudo e eu ajudava a colocar pilha e convidar as pessoas virtualmente. Fizemos uma vaquinha para contratar os músicos e pagar as despesas.

E assim rolou um Feveillon le-gen-dá-ri-o! Mas já conto melhor.

A festa foi no dia 15 de fevereiro, um sábado. Luiz precisou viajar na semana anterior ao Brasil, a trabalho. Eu fui antes, na quinta, para Madri e Luiz já me encontraria lá, no próprio dia do evento.

Pois bem, eu de malas prontas para embarcar, Luiz me telefona: precisamos conversar…

Fiquei logo preocupada, achando que fosse algum problema de saúde com a mãe dele! Mas não era. Ele começa a me dizer que tinha acabado de jantar com um dos sócio da empresa onde trabalha. Teoricamente, para acertar os detalhes da ida para Miami.

_ …pois é, Bi, nós não vamos mais mudar para Miami. Ficaremos em Londres!

_ Hein? Como assim? Vamos adiar?

Não, não íamos adiar, a gente não vai mudar mais mesmo! Descobri assim… pelo telefone… embarcando para Madri para uma festa de… despedida?

Sério, fiquei em estado de choque! Não vou negar que, como cidade e país, gosto muito mais de morar aqui. Mas havia me acostumado com a idéia de ir para Miami e havia uma série de vantagens interessantes. Honestamente, a única coisa que me vinha à cabeça era a expectativa que já havíamos gerado na nossa família, principalmente em meus pais, e em um casal de amigos muito queridos que moram em Miami também. Caraca, e agora? Como é que eu conto isso?

Cheguei em Madri meio atordoada, por muitas razões! Primeiro, porque havia cerca de um ano que não ía para lá, foi a primeira vez que fui com outro olhar, de quem já não mora. Escutar o espanhol, reparar pequenas mudanças no comércio e nas ruas, saber que encontraria os amigos tão próximos, que sigo sentindo próximos, mas já não abraçava há alguns meses, tudo tão familiar e igualmente tão estranho. Meu espírito preparado para uma despedida que não seria mais e, ao mesmo tempo, no fundo não era mais minha casa, então essa despedida já havia acontecido. Muito confuso!

E, ainda por cima, eu com aquela bomba recém estourada no meu colo! Não sabia nem se já podia contar para as pessoas! Queria ao menos conversar direito com o Luiz, pessoalmente, para entender melhor que novidade era aquela.Também não queria sair divulgando porque vai que alguém comenta alguma coisa pelas redes sociais? E vamos combinar, comentar o que? Se nem eu mesma havia entendido bem!

Enfim, Luiz chegou e me dei conta de que era aquilo mesmo, não mudaríamos mais de Londres. Na verdade, era até boa notícia, ele acabou recebendo um tipo de promoção por aqui e estava muito motivado. Era final de semana e não tínhamos muito o que fazer a respeito, então, resolvi relaxar, aproveitar e quando chegasse de volta à casa, mudava o chip e sairia amarrando as pontas do que precisasse resolver.

Acontece que os amigos perguntam, é natural. Decidimos divulgar a notícia, mas pedimos que não fosse comentado ainda, porque queríamos falar com algumas pessoas primeiro. Todo mundo colaborou!

Lógico que chutamos o pau da barraca ao celebrar o Feveillon-não-despedida! Entre as melhores festas que já participei! Músicos de primeiro nível, que oficialmente nem teríamos cacife para pagar, a sorte é que eram todos amigos! Todo mundo vestido de branco, um alto astral generalizado! E a promessa de que no ano que vem tem mais!

Voltamos de Madri exaustos! As olheiras pelo joelho, mas muito felizes.

No próprio domingo, ao chegar em casa, liguei para os meus pais para conversar. Para complicar, o computador pifou, queria conversar direito pelo Skype, mas paciência, foi por telefone, não queria mais adiar. Dei a notícia também para o casal de Miami. Acho que ficaram decepcionados, mas entenderam que no final das contas, foi para o bem.

Daí, no sábado seguinte, era a festa de despedida para os amigos aqui em Londres. Pensei, quer saber, não vou avisar a ninguém antes, a festa já está marcada, deixa rolar e contamos a eles pessoalmente!

Assim foi, pela segunda vez, uma festa de despedida que virou ao contrário! E também foi bem bacana. Acho que eles ficaram felizes e é gostoso quando a gente se sente bem vindo.

Até aí, tudo muito bom, tudo muito bem… mas operacionalmente, fez-se o caos!

Lembra que já havia contratado companhia de mudança, pedido para sair do apartamento etc? Precisávamos reverter tudo! Mas espera aí, interrompemos tudo ou aproveitamos que começamos esse processo e mudamos para outro lado aqui em Londres mesmo?

Quem conhece a gente há mais de dois minutos, adivinha? Mas essa história fica para a próxima crônica!

Resumão geral!

Queridos leitores do blog, já nem tenho mais desculpa para estar tão desatualizada por aqui. Mas juro que tudo aconteceu nesses últimos dois ou três meses e ficou impossível de contar no detalhe, ao vivo e a cores, do jeito que gosto. Então, resolvi fazer um resumão geral e seguimos em frente! Paciência!

Preciso ao menos fechar o ano de 2013, para mim é como um ritual de passagem, enquanto não deixo registrado, parece que ficou mal resolvido e a verdade é que foi todo o contrário. Ficou bem resolvidíssimo!

O Natal, comemoramos em nosso apartamento. Sempre abrimos nossa casa nessa época para os perdidos pela cidade e não fugimos à regra dessa vez. Quem mora fora do seu país de origem, aprende a fazer família onde chega, assim que passamos com nossa atual família britânica. E foi ótimo! Jantamos, brindamos, brincamos de amigo ladrão… tudo de direito!

Obviamente, fomos algumas vezes para o skype e, através da santa câmera, nos fizemos presente no jantar da minha família de sangue. Ouvir só a voz pelo telefone é prático, mas parece que faz aumentar a saudade. Uma imagem é diferente, é como se estivéssemos realmente lá ou vice-versa. Nos mantém próximos, na medida do possível.

Enquanto isso, na sala de justiça… seguia eu, firme e forte, correndo, malhando, segurando a boca… fazendo de tudo para voltar ao meu peso até o fim do ano. Veja bem, não era uma simples questão de peso e nem sei se ainda tenho saco de entrar nesse tema, mas é importante para mim fechar esse ciclo, então vamos lá.

Há cerca de dois anos, fiz um tratamento para engravidar. Engravidei, perdi, me entupi de hormônios, deprimi, recuperei… enfim, acho que como tinha que ser mesmo. O ponto é que depois de tudo isso, ainda havia um ponto pendente, o peso que ganhei de maneira nem um pouco natural (e na minha interpretação, bastante injusta!) durante esse período.

É difícil explicar que não era uma simples questão estética, que talvez nem fosse notada por outras pessoas. Era um problema meu, era um símbolo de fracasso, era algo que me fazia reviver a cada vez que me olhava no espelho e não queria me reconhecer.

Assim que, em algum momento de 2013, quando realmente me caiu a ficha dessa questão, me dei um prazo de ter esse tema resolvido até o final do ano. Queria iniciar o ano seguinte, física e emocionalmente, zerada.

Muito bem, malhar e principalmente correr era uma forma de ajudar a alcançar esse objetivo. Consegui chegar a correr 10km, o que para mim era praticamente um milagre! Não fiz sozinha, como de costume, o apoio dos amigos e nesse caso, mais ainda das amigas, ajudou bastante.

Ao longo do ano, não fiz regime, simplesmente mantive uma dieta saudável e bastante exercício físico. Quando chegou no fim de novembro, fiz as contas e vi que faltava tão pouco que me valia o sacrifício, assim que fechei a boca em dezembro e admito que pela primeira vez na minha vida (e espero que última) tomei um redutor de apetite. Foi o suficiente.

No dia 30 de dezembro, voltei da corrida e me pesei. Estava novamente com o peso que comecei todo esse processo hormonal, pessoal, transcendental etc. Dois anos depois, pude finalmente dizer que essa história havia acabado! Voltava ao corpo que me pertencia!

Não sei se daqui para frente vou engordar, emagrecer e não importa! É outro problema! Se eu engordar será porque mereci! Será porque aproveitei, então que se dane! Não há mais desculpas! Não há mais uma memória triste quando me olhar no espelho. Na pior das hipóteses, vou lembrar que na semana anterior chutei o pau da barraca em alguma farra gastronômica!

E uma coisa bastante curiosa e que me marcou foi um tal vídeo do Facebook, com a retrospectiva dos últimos anos. Os posts escolhidos, não por mim, começavam comigo anunciando a primeira vez que havia ouvido um coração na minha barriga, ainda não tinha nem idéia do que viria depois. Acabou exatamente com a foto do tal dia 30 de dezembro, chegando da corrida suada, com o rosto cor de rosa e feliz da vida que esse ciclo havia se encerrado. Não poderia ser mais simbólico, principalmente pela coincidência de fatos.

Enfim, o réveillon, a melhor festa do ano na minha opinião, passamos na casa de amigos que gostamos muito. Uma experiência diferente, já que normalmente é um evento que fazemos na nossa própria casa. Mas a verdade é que curti também variar um pouco. O grupo era divertido e o apartamento deles fica de frente para Canary Wharf, de onde vimos os fogos de artifício. Mais tarde, no horário do Brasil, novamente conseguimos falar com meus pais pelo Skype e pude acompanhar toda a queima de fotos da praia de Copacabana em tempo real! Dupla comemoração de Ano Novo!

A gente havia pensado em dormir por lá, já que o metrô acaba cedo e taxi nesse dia é um inferno! Mas ali descobrimos que na noite de Ano Novo, o metrô roda direto pela madrugada, então transporte não seria um problema. Mesmo assim, ficamos até o final, adoro a hora da Diretoria, quando sobram os donos da casa e poucos amigos para lá de Marraquech, tudo é mais engraçado e sempre fica uma história para contar.

Já não me lembro que horas, mas bem tarde, pegamos o metrô e, para ser sincera, estava divertidíssimo! O pessoal meio bêbado, claro, mas de uma maneira positiva, muita gente conversando, animado mesmo! E antes que me perguntem, não, não vim fazendo amizades pelo caminho. Bem que tive vontade, mas Luiz ficaria tenso e já havia aproveitado bastante.

E assim acabou nosso ano, alma lavada, corpo saudável, novos amigos “de infância”… tudo de direito! Pronta para 2014!

A saga do vestido de noiva

Pois é, sei que tenho uma meia dúzia de crônicas atrasadas, já entramos em fevereiro e nem consegui terminar de contar 2013 ainda! Coisas que tenho na cabeça, algumas mais sérias que outras, algumas que você empurra com a barriga porque não sabe se quer realmente se expor; outras mais leves, mas que queria registrar. Enfim, não importa a cronologia, hoje eu relaxei e vou escrever só para dividir o momento. Afinal, é domingo e quero fofocar com a mulherada, acho até que vou pegar uma tacinha de Chablis para entrar no clima!

Meninos, podem ouvir a conversa se quiserem, mas francamente, acho que interessará a poucos! É papo de mulher mesmo, mas alguns curiosos às vezes gostam.

E, a propósito, ao invés do vinho, peguei um chá de gengibre com limão. Mais propício ao momento que já vou contar.

É o seguinte, no próximo dia 18 de março faço 20 anos de casada. Pelo início do ano passado, tive o plano malévolo de fazer um festão de bodas de porcelana usando meu antigo vestido de noiva. Sim, ainda tenho guardado meu original vestido de noiva!

Havia apenas um pequeno detalhe: estava com quase 10kg a mais do que quando me casei! Era magrela pacas! Putz, menor chance! Até achei que poderia ser motivação para emagrecer… mas 10kg? Acho que nem queria emagrecer tudo isso! Impossível! Ainda mais que o vestido é tubinho, acho que ficaria entalado no pescoço! Muito humilhante para valer sequer uma tentativa. Deixa para lá!

O ano passou, muita água rolou e quase esqueci dessa história. Primeiro, porque acabei emagrecendo por outros caminhos e motivos, qualquer hora escrevo sobre isso, está entre aquelas crônicas que ando enrolando. Depois, porque surgiu a possibilidade de mudarmos de país exatamente nesse período. Assim que nem festa mais a gente tinha certeza se conseguiria fazer.

No Natal, tive hóspede em casa e falamos sobre vestidos de casamento. Fiquei até de mostrar o meu, mas acabei esquecendo. O fato é que lembrei do plano anterior de vesti-lo.

E, a partir de aí, de vez em quando eu olhava para aquela maleta cinza guardada na parte de cima do armário… será que você ainda cabe em mim? Ou melhor, será que algum dia ainda caberei dentro de você?

Ao longo do ano passado, perdi uns 6Kg e algo. Não os 10kg a menos de quando casei, mas já não parecia tão longe ou tão impossível. Uma coisa é que ele ficasse ridiculamente justo, outra é que não houvesse nem esperança de entrar! Pronto, minhoca plantada na cabeça!

Nisso, pedem mais alguns documentos para o nosso processo de visto para os EUA. Fizemos as contas e achamos que mudar em março estava muito em cima. Atualizamos nossa previsão para o fim de abril.

Opa! Se vamos em abril… festa de casamento em março volta a ser viável! Certamente, nada complicado, porque não dá para investir muito nisso agora, temos outras prioridades. Mas com criatividade e animação dos amigos, sempre se pode marcar o momento. E se sem motivo para festa a gente arruma, imagina com razão! Vamos combinar que 20 aninhos de matrimônio merece ser celebrado, certo? Não tenho ideia ainda do que vai rolar, mas já veremos.

Daí Luiz precisou viajar a trabalho ao Brasil, aproveitou para dar uma assistência à nossa família. Acontece que me deixou sozinha em casa um fim de semana, olha o perigo! Eu, sem muito ânimo para sair, mas satisfeita com as últimas notícias de casa, só podia pensar bobagem, né?

Quer saber, vou aproveitar que ninguém está olhando e vou provar o raio do vestido!

Abro a famosa maleta cinza, que dentro tem uma caixa de papelão, ainda com a fita adesiva da companhia de mudança entre São Paulo e Atlanta. O que quer dizer que há muitos anos não era aberta. Primeira surpresa, na minha memória havia somente o vestido de noiva dentro de um plástico. Mas havia três embalagens, uma do sapato que usei na cerimônia, outra com o vestido de primeira comunhão (Sério! Por que mesmo eu o guardei?) e outra com o… tchan, tchan, tchan, tchan… vestido de noiva!

Primeiro pensamento feminino: caraca, não deveria nem ter tomado café da manhã para perder mais algum milímetro de medida! Encolhe a barriga… não respira… coragem!

Admito que apertando aqui e ali… suspense de entalar ou o vestido esgarçar, afinal são 20 anos… opa, entrei! EN-TREI!

Bom, isso visto de frente, né? Quando olho de costas, lógico que o vestido estava aberto! Tudo bem, melhor do que eu pensava! Agora é ver até onde consigo fechar a bosta do zíper! Não deu para fechar tudo, mas como ele é bem decotado atrás, sabe que não ficou mal? Talvez se colocasse algum arranjo ao fim do decote para disfarçar…

Fui procurar um arranjo de tecido parecido. Quando me dei conta que andava como uma foca, mal conseguindo separar as pernas! Lembra que o vestido era tubinho? Ok, foca não, uma sereia, pronto! Uma gueisha, quem sabe… Enfim, andando bem engraçado!

Acontece que a ideia do arranjo não foi de todo má e quando me olhei no espelho grande da sala de jantar, já com as imensas luvas e o cabelo preso em coque, admito que adorei! Sem os óculos não via detalhes e foi muito bom viajar no tempo, me achar parecida, me lembrar. E ainda me emociona e alegra recordar esse dia. Vale dizer que me emociona sem lágrimas, não chorei no meu casamento, estava só feliz.

Agora, a grande dúvida que gostaria de compartilhar: devo passar fome até o dia da festa para caber no vestido ou coloco um arranjo em cima da bunda para disfarçar o decote aberto? Porque aí também não sento nem caminho muito durante toda a noite, né? Ou, de repente, coloco o vestido só para fazer algumas fotos em posições estratégicas e logo troco para uma roupa mais confortável, como acontece em alguns casamentos. Assim, como se fosse esse o plano original mesmo, naturalmente.

Muito bem, ainda não decidi que roupa usarei nas bodas, na verdade, nem certeza da festa tenho ainda. Paciência! A melhor parte foi pensar que tanta coisa mudou, mas sobrando um pouco daqui e apertando um pouco dali, ainda caibo na minha pele, me reconheço. E caminho em direção ao mesmo par de olhos.

Sempre teremos Paris…

Seguimos de Bruxelas para Paris de trem. Uma viagem curta e agradável.

Chegamos no hotel Etats-Unis Opéra, onde costumo ficar. Um amigo trabalhou ali no passado e ficava mais fácil para encontrá-lo. Acabei acostumando, acho um hotel honesto e de bom custo vs. benefício. A localização é ótima, o quarto é limpo e o preço é relativamente bom para a cidade.

Luiz precisava trabalhar um pouco. Então, o deixei no quarto e fui direto para a rua bater perna. Sempre melhor sair com ele que sozinha, mas nesse dia, especificamente, senti que precisava conversar intimamente com a cidade, só nós duas.

Tenho uma relação muito especial com Paris e como não tê-la? Alguns ciclos importantes na minha vida foram encerrados ou iniciados ali. E acho uma delícia caminhar pelas suas ruas me sentindo completamente confortável, reconhecendo cantos, esquinas, bares, prédios, cheiros… lembrando histórias.

Dessa vez, havia um tom de nostalgia que nem sei dizer se era mesmo triste, mas algo como saudades antecipadas. Sair da Europa me afastará. Não é que não possa voltar, não é que fosse para lá com tanta frequência assim, mas saber que estava tão perto era confortador. Ainda que eu não fosse, sempre teria Paris.

Saí da pequena Rue d’Antin pensando em quantas vezes cheguei por ali rolando uma maleta; entrei na Avenue de l’Opéra mentalizando o mapa do centro parisiense e o que estaria em cada direção; optei por entrar pelo Boulevard des capucines, onde ainda há o café que, quando ainda morava no Brasil, fui tomar meu cappuccino tranquila e fugir dos preços abusivos do hotel que fiquei na época, alguns anos depois, já morando na Espanha, sentaria novamente no mesmo lugar com a intenção de fazer minha reflexão do ano que havia passado, sem nem ter ideia de quantas vezes eu mesma ainda passaria por ali; passei pela Lavinia e lembrei de acompanhar meu amigo que comprava uma Dom Pérignon para celebrar a formatura do filho; cheguei à Place de la Madeleine, lembrei da Ladurée, onde finalmente comi o primeiro macaron que achei delicioso; passei na porta do Alain Senderens, meu objeto de desejo; entrei na Rue Royale, não me aguentei e passei na Bernardaud para comprar umas pequenas luminárias de porcelana pelas quais sou enlouquecida; passei pela Place de la Concorde, avistei o Louvre de longe e lembrei da exposição de uma amiga e das vezes que sentei pelo chão do museu para treinar o olhar desenhando esculturas; entrei na Champs-Élysées, bem no comecinho, onde havia uma feira de fim de ano com diversas barraquinhas de comidas e lembranças, uma avalanche de turistas e eu seguindo com meu passo de local, as barraquinhas não me interessavam, passei pelo Lenôtre e lembrei da minha primeira aula de culinária; ainda na Champs-Élysees, mas agora na parte mais comercial, lembrei da minha mãe, da primeira vez que fomos juntas e ali sentamos para almoçar, da primeira vez que foi meu irmão e subimos no Arco do Triunfo, e do fim de uma das melhores noites de Ano Novo da minha vida, em que nem vi o tempo passar e chegando ali perto, lembrei preocupada ao Luiz para ele evitar dirigir pela região porque devia estar cheio de gente, no que ele me olha rindo, Bianca, são seis da matina, não tem ninguém mais na rua!

Voltei para o hotel viajando pelo tempo e espaço e avisando à minha velha amiga que talvez me demore um pouco a aparecer e caminhar por suas ruas, mas que ela não se preocupasse porque não era um adeus e ambas estaríamos bem.

Com meu ritual completo, encontrei Luiz e saímos para jantar com um amigo francês no seu restaurante de carnes favorito, o (esqueci o nome, mas já me lembrarei). Muito bom! A carne realmente era um ponto forte, mas meu prato favorito foi a entrada, um ovo pochet com um tipo de creme de foie gras. Marcamos de jantar juntos no dia seguinte também.

Na segunda-feira, me deu vontade de caminhar até Montparnasse, onde morei na Impasse Robiquet. Fiz toda caminhada com Luiz, nos perdemos um pouco na ida, mas até foi bom para conhecer novas ruas. Voltamos pelo caminho conhecido, seguia meio nostálgica, mas menos que no dia anterior. Demos uma paradinha na Galeries Lafayette, nem compramos nada, só sentamos para tomar uma taça de champagne e fazer hora.

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Jantamos com o mesmo amigo francês, o filho de uma amiga brasileira que apresentamos a ele, um meio que adotou o outro, e uma amiga brasileira que está morando por lá. Fomos a um restaurante na Île-de-France, honesto, nada demais, recomendado mais pela localização e companhia. De lá, caminhamos até o Le Fumoir para um drink de fim de noite e aproveitarmos um pouco mais a conversa.

Nos despedimos rápido, no limite de tempo para pegar o metrô, e com a promessa de tentar fugir mais um fim de semana para lá antes de nos mudarmos. No fundo, sei que será difícil.

Na terça-feira, pela manhã, saímos direto para a estação, hora de ir para casa. Viagem agradável, matei minha curiosidade de fazê-la em trem, gostei da experiência. Passei quase todo o trajeto memorizando a paisagem, lembrando de histórias e tentando não pensar em quanto tempo levarei para voltar, não importa. Gosto de seguir acreditando que sempre teremos Paris.

Como assim Bruxelas é monótona?

Já devo ter contado em algum momento que temos um amigo que costuma dormir aqui em casa alguns fins de semana, um que conhece Luiz desde os tempos de faculdade.

Tradicionalmente, sempre depois de tomarmos todas e mais algumas, fazemos planos de pegar o carro no dia seguinte e ir até Bruxelas jantar em um restaurante português, que esse nosso amigo é fã. Sabe aquela conversa de bêbado recorrente? Pois é, mas a gente levava a sério, simplesmente, não conseguíamos acordar razoavelmente cedo no dia seguinte para pegar a estrada.

Com a possibilidade de mudar de Londres beirando a esquina, resolvi correr atrás de coisas e viagens que faltam fazer por essas bandas, mas que antes não havia pressa. E encabeçava a lista duas pendências: a tal viagem à Bruxelas e uma viagem de trem Londres-Paris. Luiz tinha uns dias sobrando de férias e não tive dúvidas em tentar encaixar ambas as viagens!

Bruxelas tinha que ser com nosso amigo, afinal, já havia virado até lenda! E gostamos de viajar com ele, não é todo amigo que você gosta que combina bem em viagem, mas com esse, sempre costuma dar certo.

Daí, combinamos o seguinte, sair com ele de carro no sábado, em direção a Bruxelas e dormir por lá. No domingo, ele voltava para Londres, porque tinha que trabalhar na segunda-feira, e Luiz e eu seguíamos de trem para Paris. De Paris, também voltávamos de trem para Londres. E pronto! Duas pendências resolvidas! Melhor que a encomenda!

Conto agora a primeira parte da viagem, de Londres a Bruxelas. Muito bem, no sábado pela manhã, fomos para a casa desse amigo que tem carro e partimos para a estrada.

Sempre ouvi falar que a Bélgica era super monótona, que Bruxelas não tinha nada demais e tal. Estive na Bélgica antes, em Bruges, que achei uma graça! Mas ficou faltando a capital. Nosso amigo havia estado em Bruxelas diversas vezes, por conta de trabalho e contava sobre alguns lugares que gostava bastante de lá. Então, achei que valia muito à pena conhecer sua Bruxelas, certamente, mais divertida que a tradicional. Eu nem queria saber para onde estaria nos levando, fui no espírito de relaxar e curtir o que tivesse.

Já comecei me divertindo no caminho. Porque, para quem conhece um pouco de geografia, Inglaterra é uma ilha, certo? Em algum momento você precisa passar pela água! Ou seja, que você faz essa travessia de barco ou via túnel. Sim, um túnel abaixo do mar. Nós fizemos pelo túnel.

É assim, você nem salta do carro, entra dirigindo e tudo dentro de um trem. Ok, sei que é uma bobagem, mas estava achando isso o máximo! O trem é totalmente aberto por dentro. Daí, depois que os carros estão acomodados, eles fecham os vagões com um portão, onde em cada vagão cabem aproximadamente quatro carros. E o trem sai. Você pode saltar do carro, tem banheiros disponíveis, mas a maioria fica pelo carro mesmo. A viagem dura aproximadamente meia hora, passa rápido. Quando você chega e o trem para, eles abrem novamente as portas entre os vagões e os carros saem sendo conduzidos para fora do trem. Muito organizado!

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Chegamos a Bruxelas no comecinho da noite. Tínhamos uma reserva no tal restaurante português tão falado nas nossas noites britânicas e estávamos meio que em cima da hora. Foi só o tempo de largar as coisas no hotel, botar um perfumezinho para disfarçar e correr para o restaurante. Ficamos no NH-Atlanta, central e bem localizado, de onde podíamos fazer tudo caminhando.

Muito bem, o restaurante se chama “O Bifanas”, também conhecido como “Chez Sebastiao”. O Sebastião é um português saído de uma história em quadrinhos, sensacional! Recebe você na porta, com aqueles bigodes enormes enrolados e engomados, todo um personagem! E reconheceu nosso amigo, frequentador da casa, ainda que não morador da cidade.

O salão não é muito grande, com um aquário ao fundo, há outro andar na parte de cima, mas esse no térreo é o mais animado. Não são tantas mesas e parece um pouco apertado. Mas depois de um vinhozinho, fica bem aconchegante.

A gente com o estômago colando nas costas! Lá vem o Sebastião tomar nota do nosso pedido, uns bolinhos de bacalhau que já valiam a visita e em seguida, os meninos pediram bacalhau na brasa e eu um cordeiro. Fiquei na dúvida até se queria o peixe, mas qualquer coisa, poderia provar do Luiz.

Pois bem, na hora que chegam os pratos principais, recebemos três pratos de bacalhau! O Sebastião com aquela cara meio sem graça, dizendo que se enganou e pediu errado na cozinha! Ora pois! Veja bem, com a fome que estava, com a gentileza do portuga e com a aparência divina que estava o bacalhau, alguém acha que eu ia reclamar? Sem problemas, me atraquei com o bacalhau mesmo, com batatas ao murro, alho crocante e regado ao bom azeite!

Ao final da noite, quando a grande maioria dos outros clientes já haviam ido, e nós seguíamos firmes e fortes pela nossa terceira ou quarta garrafa de vinho, Sebastião veio conversar conosco e perguntar como estava a comida. Agradeci dizendo que foi o melhor cordeiro que comi na minha vida! Ele achou engraçado e ficou nossa piada até irmos embora, com a casa já fechando.

Veja bem, o restaurante estava fechando, mas nossa noite, apenas começando.

Dalí subimos a rua e fomos tomar um aperitivo no “La mort subite”. Achei o nome divertido. O local tem aquele jeitão de cervejaria tradicional antiga, com o pé direito muito alto e colunas elegantes. Não nos demoramos tanto, mas gostei de conhecer.

Nosso próximo passo era um bar cubano em uma pequena travessa da Grand-Place. Nós já chegamos meio calibrados, devo admitir. O bar tinha algum movimento e não demorou nada para a gente se sentir totalmente em casa! Três músicos ótimos tocando! O curioso é que o dono do bar era italiano, a garçonete argentina e um dos músicos que puxamos papo, uruguaio… Assim que talvez fosse um cubano meio falsificado, mas não nos atrapalhou em nada.

Em algum momento, acabou nosso dinheiro em euros e eles não aceitavam cartão de crédito! Luiz e nosso amigo tentaram achar algum caixa eletrônico e nada! Até que Luiz conseguiu convencer ao dono italiano fazer câmbio em libras, provavelmente, o pior negócio do mundo, mas pelo menos podíamos seguir a noite.

Preciso nem dizer que a gente se acabou de dançar, cantar e é lógico, que também fechamos o bar. Saímos com o resto das nossas bebidas em copos de plástico e com o portão já meio fechado.

Pensando que acabou? Nada! Estou dizendo que Bruxelas é divertidíssima!

Veja bem, admito que após o cubano eu estava meio somebodyelse, mas posso garantir que era a melhorzinha entre nós três! Luiz vinha em seguida, ainda sendo capaz de argumentar com algo de lógica e nosso amigo já estava bem para lá de Marrakech!

Nosso amigo disse que queria seguir bebendo e ele e Luiz ameaçaram entrar em um bar. Veja bem, meninos, observem em volta, só tem homem aí dentro e não parecem ameaçadores a mim! Desconfio que era um bar gay, o que não me preocupava exatamente. Óbvio que os dois machos podiam estar bêbados, mas nem tanto! Desistiram do bar.

Em frente, havia uma loja de bebidas abertas. Luiz sugeriu então que entrassem e comprassem alguma coisa para beber no quarto. Eu esperei do lado de fora, porque já nem podia pensar em beber mais nada!

Lá fomos nós caminhando para o hotel, Luiz carregando a garrafa e eu carregando nosso amigo pelo braço. Acho que provavelmente ventava muito essa noite, porque ele não conseguia andar em uma linha razoavelmente reta!

Nisso, a gente resolve cortar caminho por uma ruela super movimentada. No momento em que passamos em frente a uma discoteca ou algo assim, o segurança para o Luiz e resolve encrencar que ele não podia passar com aquela garrafa ali na frente. Dizendo que ele levou a garrafa de dentro do recinto! Veja bem, a garrafa estava fechada, dentro de uma sacola plástica com a nota! Mas enfim…

O problema é que enquanto o segurança começou a discutir com Luiz, larguei nosso amigo para ajudá-lo e quando virei outra vez, cadê ele? Perdi o amigo!

A essa altura Luiz discutia com suas mãos enormes com o segurança, dizendo para ele chamar a polícia! Coisa que deixou o tal segurança sem saber muito como reagir, chega o gerente para saber o que está acontecendo! Isso tudo na rua!

Pensei, bom, Luiz está discutindo, então ele está bem. Falei, fica aí argumentando que vou procurar o nosso amigo!

Dou aquela caminhada e vejo uma pessoa andando sem rumo e com o olhar distante, é ele! Mergulho no meio do povo, cato nosso amigo pelo braço e digo, vem comigo agora!

Ele colaborou e veio apoiado em um braço. Daí passo com nosso amigo no meio da discussão do Luiz, entre ele, o segurança e o gerente, cato Luiz com o outro braço e digo, ignora o que falarem e vem junto! E assim saímos daquela confusão sem ninguém que viesse atrás!

Alguns metros adiante, com aquele frio no rosto, estávamos os três melhores. A adrenalina também fez Luiz ficar bonzinho na hora. Ou pelo menos, esse era meu julgamento bastante suspeito.

De repente, no caminho, uma praça com uma enorme escultura interativa. Parecia um túnel vazado em arcos iluminados. Cada vez que passávamos embaixo de um desses arcos, ele mudava de cor e emitia um som. Gente, isso para três amigos bêbados é praticamente uma Disneylândia! Nem me perguntem por que, mas incorporei a mulher biônica e ia cantando a musiquinha da série, correndo em câmera lenta e pulando a cada arco que mudava de cor! Naquele momento, fazia todo sentido, juro! Logo, nosso amigo se juntou na corrida em câmera lenta, ajudando inclusive na sonoplastia (tã nã nã nããã nã nã nã nã nã nã nã nã… tu tu tu tu tu tu… o “nã nã nã” era meu e o “tu tu tu” era dele). E o sacana do meu marido, filmando tudo!

Pois é… sim… fomos pagando esse mico pela rua até o hotel!

Chegando no hotel, fomos deixar nosso amigo no quarto, que por sorte, sabíamos onde era, porque ele não! Paramos na frente do quarto dele e cadê que ele achava sua chave! A gente às gargalhadas com a cena surreal, sem saber como ele entraria, quando passa atrás o gerente do hotel! Eu acho que ele viu o estado que chegamos e deve ter subido em seguida para saber se estava tudo bem. Afinal de contas, porque o gerente estaria passeando pelo corredor do nosso andar no meio da madrugada por coincidência, né? Enfim, ele perguntou se havia algum problema, explicamos que fomos deixar nosso amigo, mas ele não achava sua chave. O gerente foi tranquilo, apenas perguntou se tínhamos certeza que o quarto era aquele e nos abriu a porta com sua chave-mestra.

Do jeito que nosso amigo entrou, desmaiou na cama de sapato e tudo. Luiz e eu nos olhamos, pronto, já está seguro! Fechamos sua porta e fomos para nosso quarto.

No dia seguinte, não dava para acordar tão tarde, porque nosso amigo precisava liberar o quarto dele até meio dia e nós ainda queríamos aproveitar um pouco a cidade.

Veja bem, se na madrugada anterior eu achava que era a melhor dos três, garanto que no domingo não havia nenhuma dúvida de que eu era a pior! Uma ressaca avassaladora! E vamos combinar, merecida!

Saímos para almoçar. Eu do lado avesso, mas sem querer dar o braço a torcer. Até que chegou uma hora, quando estávamos passeando em uma praça cheia de comidas e aromas, que pedi arrego! Preciso ir ao hotel agora bater um papo sério com o Raul!

Fui eu para o hotel e eles para um restaurante. Verdade que assim que coloquei para fora o que me incomodava, melhorei instantaneamente. Mas achei que almoçar seria demais. Fiquei esperando eles terminarem para descer e seguir o passeio.

Acontece que Luiz estava preocupado com a hora do nosso amigo voltar para Londres e já se despediram do almoço. Ele mesmo também queria dar mais uma descansada da noitada anterior. O que não achei nada mal.

Acordamos no finalzinho da tarde, com calma e saímos para passear um pouco e jantar. Nosso amigo enviou uma mensagem que havia chegado bem a Londres, então ficamos tranquilos.

Não tinha a mesma energia para outra noite selvagem, mas sem nenhum arrependimento. Na verdade, ainda me dá vontade de rir cada vez que me lembro das histórias.

A noite de domingo foi agradável, comemos bem e infelizmente não me lembro o nome do restaurante, mas era pequeno, em esquina entre uma rua e uma galeria, bem charmoso. Conseguimos a última mesa com bastante sorte, pois quase todas haviam sido reservadas.

De lá, voltamos para o hotel, passando novamente pela escultura interativa, que continuava interessante sem o teor alcoólico.

No dia seguinte, o plano era acordar sem pressa e ir direto para a estação de trem, rumo a Paris.

Acontece que não dormimos tão tarde, não estávamos de ressaca e não havíamos conhecido a principal atração da cidade: a estátua do Manequinho (Manneken Pis)! Sim, aquele menininho fazendo xixi, que sei lá por que cargas d’água atrai tanta gente!

Olhei no mapa, não ficava longe, tentamos? Tentamos!

Deixamos as malas já prontas na recepção, e saímos em caminhada rápida para o local indicado. Veja bem, é bastante decepcionante, vou logo avisando! É uma esquina de nada, nem é uma praça, com uma estatuazinha também de nada que faz xixi. Mas enfim, se era passagem obrigatória pela cidade… checked!

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Aproveitamos para comprar chocolate, afinal, as chocolaterias belgas são motivo de orgulho nacional e encerramos nossa visita.

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E de agora em diante, se alguém se atrever a dizer que Bruxelas é monótona, só posso responder que talvez monótona não seja a cidade… A que a gente visitou é ótima e divertidíssima!

De volta a Londres

Muito bem, depois de toda comemoração, morta de sono e cansaço, embarcamos de volta para casa. Adoraria ser capaz de dormir no avião, mas nunca, absolutamente nunca, é meu caso. Diferente do Luiz, que dá até raiva! O avião nem decolou ainda e ele já está ressonando! Na verdade, acho ótimo, porque ele encara umas viagens bem longas tendo que trabalhar no dia seguinte, só queria ter metade dessa habilidade.

Aterrissamos no Reino Unido com a história da possível mudança a pleno vapor! Eu vou ser muito sincera, depois de mais de nove anos, me custa um bocado deixar a Europa. O estilo de vida europeu me cai como uma luva e estava bastante satisfeita morando em Londres. Vamos combinar que agora em janeiro fez só um ano que chegamos por essas bandas e temos amigos ótimos aqui! Mas chega uma hora que a gente precisa colocar outras coisas na balança.

No início de 2005, quando saímos dos EUA, praguejei que não colocaria mais meus pés naquele país! Nem como turista! Após um ano, com a poeira mais baixa e com a distância suficiente para por as coisas em perspectiva, fiz as pazes com o passado e cheguei à conclusão que também não era assim. A raiva passou e ficou a saudade dos amigos legais que conhecemos por ali. De certa maneira, aprendi com a experiência, saberia o que esperar e poderia ser feliz se fosse necessário viver ali uma próxima vez.

Apesar de ter essa questão resolvida na cabeça, não foi simples cair a ficha de que essa possibilidade ficava cada vez mais certa. O reflexo condicionado da rejeição a querer voltar ainda ecoa de vez em quando. Mas cada vez menos, até porque a condição é tão diferente e eu sou tão diferente também que fica difícil comparar.

Da primeira vez que moramos nos EUA, poderíamos eleger Atlanta ou Miami. Eu e meu preconceito achávamos que Miami era meio cafona e teríamos uma experiência muito mais latina que americana. Fomos para Atlanta. Um ano mais tarde, quando precisamos tramitar a papelada de vistos para Espanha, o consulado mais próximo era em Miami, para onde viajamos um par de vezes com esse propósito. Mudei minha opinião em relação à cidade, achei mais viva, mais animada, até pela mistura de nacionalidades. Mas enfim, já estávamos de partida.

Mal sabia eu que, pouco mais de nove anos depois, Miami estaria novamente em nosso caminho. Porque é exatamente para lá que Luiz está sendo convidado. Na realidade, terá que viajar bastante pela América Latina e ali é logisticamente interessante.

Minha família recebeu a notícia de maneira muito positiva. Eles gostam mais dos EUA, o acesso é mais fácil e muito mais barato do que daqui. Além do que, o clima é ameno e, na hipótese mesmo remota de nossos pais resolverem nos visitar algum dia, para eles isso faz muita diferença. Saber disso também pesou para mim. Caso a gente precise dar um apoio maior, como tem acontecido, facilita bastante. Acho que dá mais segurança para eles, o que por tabela me deixa mais tranquila.

Temos amigos queridos que se mudaram a pouco tempo para Miami também, o que dá outra motivação. Não tenho muita dificuldade em refazer um círculo de amizades, mas já chegar conhecendo gente legal, praticamente família, ajuda muito!

Outro ponto que pesa pacas e não vou negar, é o financeiro. A Europa é show culturalmente para se morar, mas o dinheiro por aqui não sobra. Muito menos em Londres! E vamos combinar, nem Luiz nem eu somos mais garotos, a água passou do joelho faz um tempinho e já começa a bater nas nádegas! Precisamos ser razoáveis e pensar no futuro.

Diante de todos esses pontos, a decisão pelo nosso lado não deixava muita margem a dúvidas. Então, topamos e vamos ver no que dá.

Estava esperando ter certeza absoluta para contar, mas a verdade é que nunca temos certeza absoluta de nada mesmo. Assim que prefiro o risco a contar o que talvez não aconteça, mas pelo menos com a torcida e o palpite dos amigos.

Agora tem a parte burocrática. Dessa vez, iremos com visto de transferência, o que costuma ser bem mais simples que o nosso visto anterior. Além do que, com esse visto eu também posso trabalhar normalmente. Mas só podemos dar entrada na semana que vem, quando Luiz faz oficialmente um ano de empresa. Daí veremos quanto tempo levará de verdade, nos disseram que leva de 4 a 6 semanas para resolver, o que me pareceu um prazo fenomenal, não estou nem acreditando muito. Meu palpite é que, se tudo der certo, a gente muda pelo fim de março ou começo de abril.

Enquanto isso, na sala de justiça… resolvi não pensar tanto a respeito e aproveitar tudo que tiver direito por aqui! Quando a gente tiver uma data mesmo para se mudar, aí sim eu viro a chavinha na cabeça para gostar de lá! Modéstia às favas, tenho prática nesse assunto e sei que ainda tem muita água para rolar!

E como chega tudo junto, consegui um trabalho! É tão meu número que dá até medo de comentar! A empresa é de amigos nossos, que me fizeram uma proposta bastante interessante para ambos os lados. É basicamente para dar suporte a treinamentos virtuais. Os cursos duram 3 dias, não tem toda semana e posso trabalhar remoto. Parece fácil de encaixar alguém no perfil, mas acaba não sendo tão simples, porque apesar de ser uma tarefa básica, não dá para ser apenas alguém técnico, tem que ter um certo nível, ser capaz de entender e aplicar o conteúdo do treinamento e funcionar de intermediário entre os participantes e instrutores. Geralmente, quem tem esse perfil não está tão satisfeito em executar uma tarefa básica. Além do que, para a empresa, não interessa ter alguém contratado por tempo integral para uma atividade que não acontece toda semana; mas é complicado ter alguém confiável e conhecido que não precise ter esse compromisso. Veja bem, tudo que poderia ser desvantagem para outra pessoa, para mim é correr para o abraço! Estou pouco me lixando se é uma tarefa básica ou não! Acho até melhor não ter a pressão de ser responsável pelo conteúdo, pelo menos, por enquanto. Não me interessa um contrato fixo, muito menos trabalhar todos os dias, porque tenho outras atividades em outras áreas que quero seguir. Para completar, ainda posso entregar em três dos quatro idiomas que eles treinam, e em qualquer lugar do mundo, porque não me importa o fuso horário local (faço de casa mesmo, só três dias não mata ninguém!). Semana que vem participo do primeiro, em inglês. Estou curiosa e não vou negar que dá um pouco de nervoso voltar a namorar com o mercado, mesmo que seja só pela tangente e com algo simples. Mas uma “dinheirrinha” para Bianquinha não virá nada mal…

Pois é, até aí, tudo ótimo! A questão é que há uns dois treinamentos desses marcados em épocas que a gente “poderia” estar mudando. Friso o “poderia”, porque sabe como é, a gente nunca sabe se vai mesmo, que dia vai e como vai até os 45 minutos do segundo tempo! Bem vindos ao nosso mundo! E mesmo podendo estar em qualquer país, o que é uma vantagem imensa, preciso de uma base para conectar direito, um computador e uma mesa de trabalho. Agora, onde raios estará essa mesa é o que a gente vai ver! Mas você ia perder uma oportunidade assim por causa de uma mudancinha transoceânica?

Enfim, mais uma vez, vamos dar uma chance ao caos!

Ainda preciso descobrir como chamar as próximas crônicas… Miamicas? Sugestões?