Troca de pele

Após um ano morando em Madri, mais de dois fora do Brasil, meu olhar novamente mudou. Em um primeiro momento, minha atenção era voltada para o exterior, para o que via ao redor, como quem observava. Agora, preciso confrontar o fato de que faço parte desse contexto, olho para dentro, como quem aprende.

 

Não estou segura se por consequência ou coincidência, às vezes é difícil diferenciar, mas preciso me reconstruir. A questão da identidade é minha prioridade, recorro à memória e à experiência vivida no meu limite.

 

De uma maneira ou de outra, continuo achando a vida difícil e interessante. Espero ainda ter um longo trajeto pela frente e, aos que decidirem participar desse caminho, sejam bem vindos!

1 – De sete em sete anos

Há uma teoria que planteia que mudamos de fase de vida, aproximadamente, de sete em sete anos. Verdade ou lenda, tenho observado que esses ciclos coincidem com minhas grandes fases de mudança pessoal. Acho que nos primeiros ciclos de sete, somos muito jovens e olhamos ao redor na busca de modelos. Depois esse processo passa a ser mais consciente, pelo menos, foi para mim.

 

A primeira vez que dei conta que estava me reconstruindo a sério foi no meu quarto ciclo, por volta dos 28 anos. Nesse momento, era consultora de negócios de uma multinacional, formada em Administração de Empresas como primeira colocada e pós graduada em Administração Financeira. Do que podia reclamar? Bem casada, bem empregada, ganhando bem, morando bem… Então, o que faltava? Da onde vinha aquela angústia toda?

 

Sempre fui meio precoce, o que não conto como uma vantagem, simplesmente acho que a vida me levou a isso. Desejei minha independência com uma gana fora do comum e entendi os mecanismos de poder muito rápido. Portanto, não foi tão difícil como imaginava, ou melhor, não tão demorado, chegar onde queria profissionalmente.

 

O problema é que, ao chegar, olhei em volta e tive aquela sensação de, mas era aqui? Foi para isso que corri tanto? E agora?

 

Meu nível de realização era baixíssimo e desproporcional ao grau de agressividade com que buscava os objetivos. Sofria uma culpa enorme de me sentir tão miserável estando tão bem, em um país onde os miseráveis sorriam. Briguei um bom tempo com esse sentimento e neguei de diferentes formas minhas reais vocações.

 

Tive a sorte de possuir um amigo que me introduziu aos mitos, o que me ajudou a entender e a passar por todo esse processo. Ainda que naquela época, agisse de forma muito intuitiva. No primeiro momento da minha crise existencial ele percebeu e me disse que o ambiente em que estava não me proporcionava mais elementos para crescer. Levei quase dois anos para entender exatamente o que aquilo queria dizer. Não tinha nada a ver com cargos, salários, sequer com profissão. Eu queria ser uma pessoa melhor. O contexto em que estava não me proporcionava mais as ferramentas necessárias, não era o suficiente. Precisava aprender generosidade e fé, exercitar outras dimensões de pensamento, expandir minha consciência. Mal sabia o rolo em que estava me metendo.

 

Entretanto, sabia que não gostava do que via no espelho. Queria ser diferente e tinha a oportunidade de me refazer como quisesse ou pudesse, mas sob meus parâmetros, não mais com a negação ou confirmação dos modelos ao redor.

 

No dia em que abandonei tudo e me dispus a tocar o fundo do poço, me perguntei quem queria ser de verdade. Independente de dinheiro, segurança, esforço, tempo, qualquer coisa, o que eu morreria se não fizesse? Depois de me perguntar por quase dois anos, finalmente me perguntei sem máscaras e sem mais nada a perder. A resposta veio imediata, como uma revelação bíblica.

 

Eu era uma artista e fugi minha vida inteira dessa vocação. O perfil que acreditava que um artista precisava ter era incompatível com a vida que acreditava que queria levar. Acontece que, nesse momento, essa tal vida que achava que queria levar era uma pequena fração de tempo, um quase nada. Eu não fazia nenhuma diferença e por um instante acreditei que poderia fazer. Dei meu salto para o precipício escuro e acordei viva no dia seguinte, artista.

 

Conversar isso com Luiz foi uma das situações mais difíceis que passei. Ele se casou com uma tentativa de executiva segura e resolvida e eu havia decidido que não era mais essa pessoa. Tive muito medo que ele não me amasse mais e sabia que não tinha outra alternativa, não podia voltar atrás. Foi quando descobri que, com todas as dificuldades, o mais importante para ele é que eu fosse feliz.

 

Ao longo dos anos, fomos dando nosso jeito e nos adaptando aos nossos novos caminhos. Ele também foi mudando, em um processo menos radical e aparente que o meu, mas mudou muito. E foi mais fácil aceitar minha própria mudança quando senti que também era mais importante para mim que ele fosse feliz.

 

Pouco mais de sete anos se passaram e aqui me encontro novamente com as perguntas de polícia rodoviária fazendo blitz: Quem sou e para onde vou?

2 – Visita da Diretoria

Morando há mais ou menos umas três semanas no apartamento novo, chegou o segundo casal de hóspedes, amigos de São Paulo. E para falar desses amigos, preciso voltar um pouco o tempo.

 

Em 1997, Luiz foi trabalhar em uma empresa que organizou um treinamento para seus funcionários com a duração de dois meses, em Campinas. Isso quer dizer que um grupo de profissionais ficou internado tempo integral em um hotel estudando. Quando se coloca tanta gente junta por um período tão longo, há duas alternativas: ou se matam, ou ficam amigos. Por sorte, a segunda opção vingou.

 

Nesse período, ainda trabalhava como consultora de negócios e, por uma coincidência formidável, parte do meu projeto acontecia em Campinas. Portanto, procurava visitar esse cliente ou na sexta ou na segunda-feira e, assim, passava os fins de semana no hotel com Luiz. E claro, acabei conhecendo o pessoal todo.

 

Resumindo, desse grupo surgiu um tipo de núcleo de amigos queridos, com os quais temos contato até hoje. Nos chamamos de “a Diretoria”. A Diretoria está sempre presente nas festas, fica até mais tarde e tem alguns privilégios secretos.

 

Quando os diretores se casam ou namoram sério, os respectivos e respectivas acompanhantes recebem o status de diretor. Mas antes, passam por uma prova de iniciação. Desse casal que nos visitou, ele é sócio-fundador, como nós, e ela passou na prova de iniciação com louvor.

 

Além disso, por outra coincidência, temos mais um casal de amigos, morando aqui em Madri, que também são sócio-fundadores. Logo, organizamos o primeiro encontro internacional da Diretoria, filial Madri. Estarmos todos aqui na maior farra e falando português, foi razoavelmente surreal.

 

Uma visita relâmpago, mas que aproveitamos muito e foi super divertida. Eles trouxeram o kit arataca completo, contendo carne seca, paio e cachaça. De quebra, ainda veio um vinho português muito bom, da família desse nosso amigo.

 

Não foi só a visita, foi ao que ela me remeteu. A memória desses amigos é muito importante para mim, faz parte das coisas que fiz certo e das erradas perdoadas, porque afinal somos amigos. É reconfortante saber que importa menos onde estamos e mais com quem. E foi muito bom.

3 – Feriado em Praga

Há um bom tempo senti que precisava ver Praga. Foi exatamente assim, senti que precisava ir. Não foi porque gostei de uma foto ou de um programa, foi uma intuição. A partir daí, comecei a sonhar com a cidade.

 

Sonhar com uma cidade desconhecida é um problema pois, nos nossos sonhos, tudo se encontra em condições extraordinárias de temperatura e pressão. Na vida real, quase nunca é assim.

 

Na Praga dos meus sonhos, chegava em uma viagem romântica com Luiz, nos hospedávamos em um super hotel de elegância despojada, fazíamos nosso roteiro cultural e gastronômico e, inclusive, arriscava algumas frases em tcheco.

 

Bom, começou que não me preparei bem para a viagem. Na tentativa de não aumentar mais ainda minhas expectativas, e considerando que não íamos sozinhos, tentei deixar as coisas um pouco ao acaso. Só na saída do aeroporto me dei conta que nem eu nem Luiz falávamos uma palavra do idioma, nem tinha idéia de onde ficava o hotel.

 

Quando tentávamos pegar um taxi, alguém que falava inglês ofereceu uma condução a um preço melhor. Vi que era uma van, mas Luiz não percebeu e topou. Nossa chegada começou assim, dividindo uma van com mais três casais estranhos, cada um indo para um hotel.

 

Enfim, pensei que havíamos começado meio mais ou menos, mas meu lado Polyana me dizia que poderia ser mais seguro assim, que era uma forma de conhecer outros pontos da cidade e tal. Chegamos ao centro histórico e fui me animando, me pareceu exótico e interessante. A van fez a primeira parada e me empolguei toda. Não durou mais que 30 segundos, até que percebi que não era meu hotel. A partir daí, a coisa se complicou mais, fomos o último casal a ser deixado e cada vez nos afastando mais do centro.

 

No caminho feio, fui murxando e entristecendo, muito decepcionada.

 

O hotel não era ruim, mas muito diferente do que havia idealizado.  Atravessamos um longo corredor de pé direito muito baixo e de onde tive vontade de voltar para casa. Chegando ao quarto, a primeira surpresa boa, era enorme, acho que uns 40m2.

 

Mal baixamos as malas, o telefone tocou. Alguns dos nossos amigos já estavam na recepção e saímos com eles. Caminhando pelas ruas, achei a cidade sem graça. Não conseguia mais disfarçar meu desânimo. Uma das amigas comentou que não estava achando nada demais na cidade, o que de certa forma me serviu de alívio por saber que não era a única.

 

Nesse momento, decidi tentar aproveitar um pouco. Se não pudesse ser a cidade, quem sabe um bar e a companhia das pessoas. Entretanto, a paisagem começou a ficar mais interessante. Encontramos um restaurante de aspecto agradável e com mesas ao ar livre. Sentamos por ali mesmo, começamos a beber e conversar.

 

Estávamos em três casais e um quarto casal chegou para nos encontrar. Conversa divertida e foi anoitecendo. Estava animada para dançar e descobri que embaixo do restaurante havia uma boite. Acontece que quando li o cartaz de propaganda dizia que havia “sexy dancers”. Ops! Que estranho, o lugar parecia tão normal.

 

A cozinha fechou e decidimos caminhar um pouco em direção ao centro da cidade. Logo notei que a frequência era muito masculina, muitos grupos de homens sozinhos e mocinhas de aparência ambígua.

 

Entramos na parte mais antiga da cidade. Caminhando pelas ruazinhas de paralelepípedos irregulares, finalmente, me senti chegando em Praga. Tudo mudou!

 

Passamos pela praça central, claro, muito turística, mas isso não me incomodou. Não tinha nenhuma chance do centro não ser turístico, simplesmente abstraí e me relacionei diretamente com a cidade, sem intermediários. Sua arquitetura era misturada e rara aos meus olhos.

 

Não pude deixar de notar novamente a incoveniente presença masculina. Não digo inconveniente por serem homens, mas por sua atitude perante o lugar. Descobri que é de praxe os ingleses irem em grupos para fazer suas despedidas de solteiros ou outras bandalheiras. Acho que turistas de outros lugares também, que pena.

 

Chegamos a Karlúv most, a ponte do Rei Carlos. É um dos pontos mais famosos da cidade. De lá vemos o Rio correr em diferentes níveis, com sua margem rodeada com os prédios, agora sim, dos meus sonhos. Também víamos o Castelo de Praga, que conheceria no dia seguinte.

 

Nossos amigos queriam entrar em algum lugar para dançar e curtir a noite. Para ser muito sincera, também queria, poderia dançar a noite toda. No caminho, ao ver aquela quantidade de homens muito jovens e muito bêbados e a tristeza das mulheres de vida não tão fácil, me senti mal. A cidade não merecia. Tive a impressão de estar na sala de visitas de uma senhora idosa e sábia que assistia em silêncio a falta de educação de seus hóspedes. Achei bom que o pó negro cobrisse os olhos das estátuas. Entre nós, Luiz e eu nos aproveitamos das desculpas fáceis de frio e sono, mas no fundo, abdiquei da balada por puro respeito. Desconfio que Luiz também.

 

Durante o dia, o astral do lugar melhora muito, e olha que sou uma notívaga!

 

Estávamos em um grupo de dez pessoas que chegaram de direções diferentes. Todos muito legais, mas para mim é muito difícil passear em um grupo tão grande em uma cidade que não conheço. Conciliar os gostos e os tempos de todos é uma arte que não domino. Sempre estou em uma velocidade diferente, quero comer outra coisa, parar em outro lugar… Enfim, sempre acho que estou atrapalhando. Achei que seria mais fácil nos separarmos durante o dia e nos encontrarmos, quando possível. Além do mais, acabou sendo necessário, pois Luiz teve que trabalhar todos os dias de manhã.

 

No fim da manhã de sábado, Luiz e eu nos dirigimos ao Castelo de Praga. Fomos sozinhos, mas sabíamos que nossos amigos estariam por lá. Assim, tentaríamos nos encaixar na programação nos momentos que nossos gostos coincidissem.

 

O dia estava chuvoso, mas não me atrapalhou. O Castelo não é um um único prédio, é todo um complexo contendo catedral, galeria de arte barroca,  torre, jardins etc. Leva-se uma boa parte do dia para conhecer tudo com calma.

 

Há algumas viagens atrás, me prometi nunca mais subir em nenhuma torre que não tivesse elevador! É sempre roubada! Mas dessa vez, Luiz me convenceu e subi os 287 degraus! Joder, tío que fuerte! Em compensação, a vista realmente me tirou o fôlego, ou será que foi a escada? Enfim, vi uma Praga linda! E cada vez gostava mais dela.

 

Visitando a basílica, descobrimos que no fim da tarde haveria um concerto de música clássica com a orquestra real de Praga. Como poderia perder essa? Eu amo concertos e se forem ao ar livre ou em igrejas, melhor ainda. As igrejas possuem uma acústica interessante e um tipo de energia que favorecem o clima, e não sou religiosa, simplesmente é um fato. Muitas vezes vejo cores e penso em outras dimensões. Totalmente sóbria, juro! Nesse dia, o que senti foi a música girando em espiral sobre a orquestra e alternando a iluminação para mais claro e mais escuro. Ficamos e viajamos com Mozart, Grieg, Sibelius, Dvorak. Mas foi Tchaikovsky quem me explicou o que faltava.

 

Não é comum me surpreender dessa maneira com uma cidade, levei um tempo para entendê-la. Gosto de muitos lugares, mas não me parecem mais novidade. Praga foi diferente de tudo, me surpreendeu em muitos sentidos, a começar pelo idioma que, mesmo sem entender absolutamente nada, me soava estranhamente familiar. Foi como um quebra-cabeças de fragmentos soltos, em que Tchaikovsky me deu um fio condutor. A música me ajuda a entender os lugares. É um idioma que não falo, mas entendo com fluência.

 

Ao fim do concerto, descemos a escadaria em direção a Malá Strana. Ia flutuando, feliz da vida. A maior parte das atrações já estavam fechadas e pudemos desfrutar a vista e o caminho com tranquilidade. Achei a região muito bonitinha e acho que talvez queira me hospedar por ali em uma próxima viagem. Passamos pelo museu de Kafka e nos dirigimos à Karlúv most.

 

A idéia era ir para o hotel trocar de roupa e encontrar com nossos amigos para jantar. Havia esfriado razoavelmente e eu de sandália e uma sueter fininha. Apesar do que, não sentia tanto frio assim, acho que meus hormônios enlouqueceram ou estou realmente resistente ao frio. Só que daí passamos pela praça e havia um show de rock. Era um tremendo contraste, considerando que acabávamos de sair de um concerto clássico, em uma igreja! Mas exatamente esse contraste nos pareceu divertido. Quer saber, que voltar para o hotel nada!

 

A banda não era má, e ouvir rock em tcheco me pareceu bizarro. Como sou uma palhaça, apesar de disfarçar bastante e ter um jeito sério, participei ativamente dos aplausos, dancei, fiz mímica de quem cantava os refrões… e tudo com a maior cara de quem sabia o que estava fazendo. Depois disse ao Luiz que adoraria saber do que estava participando. Já pensou se a gente estivesse no meio de um concerto de rock religioso? Pronto, depois disso ele não conseguiu mais parar de imaginar refrões de música crente na boca do roqueiro tcheco. Foi engraçado e definitivamente ajudou a espantar o frio.

 

Em seguida, entrou uma dupla de apresentadores e falaram um monte de coisas. Após uns dez minutos, completamente concentrados no discurso, Luiz e eu nos olhamos e nos perguntamos por que estávamos prestando tanta atenção… em tcheco! E o pior é que estávamos prestando a maior atenção mesmo,  nem era deboche!

 

Depois disso, resolvemos sentar em um dos bares da praça, com mesas exteriores, e esperar nossos amigos por ali. Apesar de ser um restaurante turístico, as cadeiras eram muito confortáveis, tinha aquecedores externos, a bebida era boa e os aperitivos bem caprichados. Aproveitei para comer um pouco antes do jantar. É que sou uma Magali e acabo comendo mais que todo mundo. Dessa maneira, quando sentasse para jantar com o grupo, não destoaria tanto.

 

Nesse meio tempo, entraram duas bandas, bem ruinzinhas, mas a essa altura, já estava com o astral alto e tomando meu vinhozinho. Então, tudo era festa. A primeira, era um trio de mocinhas tentando fazer algum tipo de dança sexy, mas que no fundo era bem cafoninha. Depois entrou uma banda que não sabemos se era turca, tcheca, cigana ou alguma coisa do gênero, mas com um jeitão de gipsy kings.

 

Nisso, os amigos chegaram e, enquanto decidiam onde comer, fugimos correndo para a praça e demos uma dançadinha, só para ter um mico em Praga. Jantamos em um restaurante que gostei, aliás, comi muito bem sempre. O bom gosto na preparação e apresentação dos pratos superou minhas expectativas. E o preço era muito razoável, considerando que o euro é bem mais forte que a moeda tcheca.

 

Depois do jantar, Luiz, eu e outro casal voltamos para o hotel. Queríamos aproveitar melhor o dia, que nos pareceu bem mais interessante.

 

Na manhã de domingo, Luiz trabalhou e só saímos próximo a hora do almoço. Queria ir a um restaurante tradicional ou que se parecesse a um. Fomos ao Sarah Bernhardt, restaurante do Hotel Paris, de pé direito alto, paredes em mozaico azul turquesa e luminárias douradas. Para completar o clima, um trio tocava jazz e bossa nova. Tomamos um brunch e nos encorajamos a experimentar o vinho local. O vinho branco não estava nada mal. Não tinha grandes personalidades, mas era ligeiro, agradável e combinou bem com a comida, cardápio internacional, mas com sotaque francês, principalmente nos queijos, toques orientais e uma interessante oferta de pescados defumados. Luiz se atreveu a experimentar o vinho tinto. Felizmente, não fui tão ousada, porque era bem ruinzinho. Voltou o mais rápido possível para o branco.

 

Chovia enquanto comíamos, mas não demorou muito a estiar. Assim que terminamos, pudemos voltar a caminhar pela cidade. Fomos até o bairro judeu, também bonito e com as lojas de marcas famosas. Nesse dia ocorreu uma maratona e estavam terminando de desmontar a pista que passava por ali.

 

De lá, resolvemos fazer um passeio de barco. Adoro um barco! Escolhemos um menorzinho em que o trajeto não fosse tão longo. O passeio não foi divino, mas deu para tirarmos boas fotos. Além disso, caiu a maior tempestade e estávamos bem abrigados. Outra vez, salvos da chuva.

 

Quis caminhar de novo por Malá Strana, e assim fizemos. Luiz ficou com vontade de ir ao banheiro e resolvemos sentar em um café. Poucos minutos depois de sentados e, novamente abrigados da chuva, caiu uma tromba d’água ainda maior. Pela terceira vez no dia, nos livramos do inconveniente de nos ensoparmos, não sei se por sorte ou se a velha senhora nos agradecia o respeito com sua educação discreta.

 

Passada a chuva, estava quase na hora de nos encontrarmos com um dos casais de amigos para assistir a um outro concerto de música clássica, em outra igreja. Há uma série de concertos em igrejas espalhadas pelo centro da cidade. Infelizmente, esse já não foi tão bom, não pelos músicos, mas achei o repertório demasiado religioso, me senti em um casamento chato. Vá lá, também não doeu.

 

Quando saímos do concerto, fomos nos encontrar com todos os amigos no Jazz Club Reduta. Fiquei muito empolgada com esse programa. O lugar fica na parte mais nova da cidade, que para ser sincera, não me pareceu tão nova assim. De qualquer forma, era um clube pequeno, com sofás verdes apertados e decorado com fotos de pessoas famosas que  o visitaram. O grande destaque foi dado as fotos do ex-presidente Clinton. Na verdade, nada disso importa em um bar de jazz, o importante é ter um bom whisky e música boa. E tinha!

 

Entraram no palco nada menos que dezessete músicos, um maestro e o cachorro do pianista. Não é que o pianista fosse um cachorro, ele levou seu cachorro mesmo, que inclusive passeava pelo local com a maior intimidade. Muito bem, com tanto homem no palco, me perguntei se isso daria certo. Só posso fazer um comentário: uau! Aliás, uau três vezes! O maestro se chama Milan Svoboda, e conduziu o show com guitarra, tuba, bateria, piano, baixo, quatro trumpetes, três trombones e cinco saxofones.

 

O único problema é que o local estava muito iluminado. Jazz pede uma luz mais baixa. Principalmente para mim, que faço caretas, bocas, toco com os dedos e conduzo junto. Puxa, no claro dá um pouco de vergonha, né? No escurinho o mico é menor e não preciso ficar me controlando.

 

Bom, o show foi dividido em duas partes. No fim da primeira, todos os amigos estavam com fome e queriam sair para jantar. Eu queria ter um filho pela orelha! Ensaiei ficar, mas percebi que Luiz ficou meio sem graça e com razão porque passamos quase o tempo todo do dia separados deles. Paciência, comprei o CD e na próxima ida a Praga o local estará definitivamente no meu roteiro.

 

Saímos pela rua tentando achar um lugar para comer,  já era bem tarde e não foi fácil. No final encontramos um até bonitinho, um tipo de cave. Para ser franca, mal consegui me concentrar na conversa, na minha cabeça ainda tocavam muitas músicas e tinha muitas informações para digerir. Estava em transe.

 

De lá fomos todos para o hotel em três taxis diferentes, com os quais negociamos os preços. Isso é uma coisa bem chata lá, os taxis quase nunca seguem taxímetro, você meio que chuta e negocia os valores que podem variar muito. Fora o fato que os homens me dão um pouco de medo. São muito grandes e com cara de mau.

 

Aliás, me senti uma baixinha! Como tinha gente grande! No Brasil sou normal, aqui na Espanha sou super alta, inclusive mais alta que boa parte dos homens. Mas ali eu não tinha a menor chance, fiquei pequena.

 

Na segunda-feira, nosso último dia de viagem, novamente Luiz trabalhou um pouco pela manhã e saímos na hora do almoço. Já tinha em mente onde queria almoçar, queria fechar com chave de ouro. Fomos a um restaurante bem na margem do Rio, com vista para a ponte, um cartão postal. Novamente, arriscamos o vinho tcheco, dessa vez um chardonnay que não decepcionou. Comi um tartar de salmão divino, um tempura de atum mal passado sobre pure de batatas com um toque suave de wasabi e uma torta de maçã com sorvete de nozes. Clima agradável e ensolarado, serviço simpático, dia perfeito.

 

Voltamos para o hotel com o primeiro taxista honesto da cidade e ainda deu tempo de nos despedirmos de nossos amigos na recepção. Nos sugeriram fazer o passeio de pedalinho, o que deve ser realmente interessante, mas com a quantidade de vinho que tínhamos na cuca, ni hablar! Demos uma cochiladinha básica e acordamos na hora de ir para o aeroporto.

 

Na fila para entrar no avião, reconhecemos rapidamente nossos companheiros latinos. Primeiro que espanhol adora fazer uma fila, eles começam super cedo a se juntar na porta. Ninguém despacha bagagem e para se acomodar tudo é um caos! Até que achei divertido e foi muito bom voltar a me sentir alta outra vez.

 

Sou do tempo em que o pouso de vôos internacionais era aplaudido pelos passageiros. Achei que isso fosse coisa antiga. E não é que a espanholada toda aplaudiu o pouso? Mas essa não foi a melhor parte. Na saída do avião, a senhora que estava na minha frente deu umas moedinhas de gorjeta para a aeromoça. Juro! A pobre da menina não sabia o que fazer. Não aguentei, caí na gargalhada de tão chocada, essa eu nunca tinha visto!

 

Voltar para casa foi um pouco difícil. Fiquei com gosto de quero mais. Não é só mais férias, é mais tudo. Queria saber mais da cidade, do país, da cultura, da língua… me deu vontade de ser um pouco tcheca. É verdade que a essa altura da minha vida, preciso ter muito cuidado com o que desejo.

 

Chegando ao apartamento, um felino gordo e carente nos aguardava ansioso. Meu gato me ajuda a achar melhor acabar uma viagem. Voltei diferente, mas aqui ainda é minha casa.

4 – A festa de inauguração do apartamento novo

Dia 20 de maio de 2006 foi nossa primeira festa no apartamento da Calle Montesa. Como meio mundo sabe, sempre que mudamos de casa, fazemos uma festa de inauguração, o que nos ajuda muito a começar com o pé direito. Amigos fazem que a energia do lugar melhore.

 

Uma coisa que acho legal é que, por motivos óbvios, as pessoas que Luiz conhece costumam ser muito diferentes das que conheço. Isso nunca foi um problema, pelo contrário, porque adoro conhecer gente de distintas tribos. E no fim das contas, todos passam a ser nossos amigos. Muito bem, quando damos uma festa maior, chamamos a todos e é uma mistura geral de profissões, vocações, idades e interesses. Ultimamente, também uma mistureba de nacionalidades. Mas não é que dá certo?

 

Essa festa foi bem informal, pedimos aos amigos para trazerem bebidas e fiz algumas comidinhas. Estava sem muita inspiração sobre o que cozinhar, mas uma amiga me passou duas receitas que foram um sucesso, uma de um antepasto de beringela e outra de um molho para comer com kani. Além disso, outra amiga trouxe um tabule que ajudou no clima de integração internacional, cultural, tribal ou sei lá como definir o que seríamos todos juntos.

 

Vieram mais de trinta pessoas. Considerando que não somos adolescentes e o apartamento é pequeno, era muita gente! Não tinha como convidar menos, aliás, infelizmente nem deu para convidar todos, quem sabe em uma próxima festa.

 

O som estava alto para burro e um vizinho veio pedir para baixar. Ele foi muito educado e tinha razão, baixamos. Mesmo assim, acho que incomodamos um pouco, vou tentar me redimir.

 

Não sei exatamente que horas acabou a festa. Só me lembro de perguntar aos últimos convidados se eles queriam ir ao El Junco para dançar e Luiz me dizer que já estaria fechando, pois eram quase cinco da manhã. Como assim? Para mim era no máximo umas duas e meia! Passou voando!

5 – El Fogón de Trifón

Muito, mais muito perto da nossa casa, tem um restaurantezinho chamado El Fogón de Trifón. Quase não chama atenção, parece um pequeno bar, com seu balcão apertado e cheio de gente conversando. Não é raro aqui se ter o bar em frente e o restaurante atrás ou embaixo. Nesse caso, o salón comedor fica atrás. Possui cinco mesas e isso não é maneira de falar, comporta um máximo de vinte e duas pessoas.

 

O lugar é tão pequeno que chega a intimidar na entrada, pois todos te olham. Entretanto, alguns segundos depois, o barman abre um sorriso largo, solta um simpático buenas noches e você se sente como se conhecesse os outros clientes, como  se fossem parte do mesmo grupo. O truque é responder buenas com jeito de que vai ali todos os dias.

 

Poucas vezes vi em Madri atendimento tão simpático e atencioso. Garçons preocupados com o que é servido e orgulhosos quando você elogia a comida. Parece que foi a mãe deles que cozinhou, é assunto pessoal. Cá entre nós, não é nada difícil elogiar, pois absolutamente tudo o que comemos é maravilhoso.

 

Meus destaques, dou para os chipirones encebollados, umas lulinhas aceboladas e o rabo de toro, nossa rabada. Enfim, difícil escolher um prato, porque tudo é bom. Não utilizam muitos ingredientes, é uma cozinha clássica e de uma simplicidade refinada. Eles sabem fazer o igual diferente e isso não é para qualquer chefe de cozinha.

 

Ontem fomos lá com um casal e outro amigo, todos espanhóis. Estamos tentando montar uma empresa, que não posso contar do que se trata porque é segredo secreto, totalmente diferente de tudo o que nós fazemos, dá para fazer em paralelo a nossas carreiras e o investimento é irrisório. Parece milagre, né? Também acho. A verdade é que sempre comemos, bebemos e nos divertimos muito mais do que trabalhamos. Acho que, no fundo, a tal da quem-sabe-empresa é um belo de um pretexto para nos reunir e comer bem. Ou seja, já começou como um excelente negócio, pelo menos para a gente.

6 – Valência, Dénia e o Cirque du Soleil

Há alguns meses atrás, compramos entradas para assistir ao Cirque du Soleil em Valência, junto com um casal de amigos. É difícil nos planejarmos com tanta antecedência, mas, nesse caso, foi a única maneira de conseguir bons ingressos.

 

Por coincidência, temos outro casal de amigos que tem casa em Dénia, uma pequena cidade de praia a cerca de 80km de Valência. Eles sempre nos ofereciam essa casa para nos hospedarmos e dessa vez aceitamos.

 

Fomos em dois casais e o Jack, meu gato gordo que não tive coragem de deixar para trás mais um fim de semana. Meu felino educadíssimo se comportou muito bem na viagem de ida e de volta, ele é muito internacional.

 

Há cerca de um ano e meio não ia a uma praia e estava muito animada com essa idéia. Tão animada, que me esqueci completamente que estávamos indo ver o show do Cirque du Soleil! Só no carro, na ida para Dénia, minha amiga comentou algo do espetáculo e me lembrei o porquê da viagem. Francamente, eu mesma me surpreendo com esse meu lado altista! Alguém tão desligada não pode ser normal!

 

Muito bem, a viagem durou umas cinco horas e chegamos em Dénia na sexta-feira, quase meia-noite. Em uma cidade pequena que vive de veraneio, é claro que estava praticamente tudo fechado. Mesmo assim, tentamos aproveitar um pouco. Por isso, deixamos Jack acomodado em casa e partimos guerreiros na busca de um bar.

 

No primeiro ensaio de movimento, gritamos em coro do carro: páaaaara! Ali!

 

Bom, movimento é jeito de falar, era mais assim algum sinal de vida. O local era um tipo de comércio com alguns restaurantes fechando, aquela coisa de garçonetes desmontando mesa, fim de festa mesmo. Daí, minha amiga ouviu música e fomos seguindo o som como quem segue o caminho feito em migalhas de pão. Soava Dire Straits, promissor. Vimos luzes no teto e acreditamos que poderia ser uma boite. Resumindo e acabando com o suspense, era um karaokê! Que mico!

 

Mas, na dúvida que fosse o único lugar aberto, sentamos por alguns minutos para eu e nossa amiga tomarmos um vinho ruim e Luiz e nosso amigo tomarem uma cerveja que parecia melhor. Estávamos de bom humor e conseguimos achar a situação engraçada.

 

Dalí, nos dirigimos ao casco histórico, como se costuma chamar o centro das cidades na Espanha. Era mais bonitinho e tinha aquele clima de cidade praiera que nem sabia que sentia tanta falta. Sentamos em um bar chamado Jamaica in. O lugar não era mal, mas também estava no fim de noite e não havia mais nada para comer. Ou melhor, tinha batata chips, uma tal de Lolita, que foi a pior batata que comi na minha vida.

 

Resolvemos dar a noite por encerrada e tentar melhor sorte no dia seguinte. Chegando em casa, preparamos uns sandubas de frango que havia trazido de Madri. Bateram uma bola. Claro que levei comida, logo eu, a gulosa! Ia correr o risco de chegar em uma cidade com os restaurantes fechados e dormir com fome, nunca!

 

No dia seguinte, não acordei tão tarde. Estava preocupada com o gás a ser ligado. É que simplesmente odeio banho frio e só de imaginar essa possibilidade, estremecia. No dia anterior, Luiz e nosso amigo não acertaram ligar o dito cujo, mas como estávamos com um pouco de pressa para sair, deixamos para fazer isso de manhã. Enfim, a manhã havia chegado e a primeira coisa que fiz foi cutucar o Luiz e pedir para ele tentar ligar o gás. Fui logo em seguida, para tomar café e tentar ajudá-lo. Apanhamos um pouco, mas no fim deu certo. Ufa! Banho quente!

 

Nisso, nossos amigos também levantaram e fomos para a praia. Como estava seca por uma praia! Normalmente, não ligava muito, mas acho que era porque sabia da facilidade de chegar até uma. De repente, praia se tornou algo tão distante e difícil que fui me esquecendo como era bom.

 

Não é só isso, é que sou muito branca e o sol sempre é sinônimo de trabalho e cuidado para mim. Perdi esse prazer. Fui bronzeada uma época, quando morava em Brasília. Juro que não é mentira. Nesse período tinha piscina em casa, ía ao clube todos os fins de semana e as férias eram sempre em região de praia. Ou seja, estava convencida que era morena! Tinha a pele curtida e colorida pelo óleo de côco com urucum.

 

Depois mudei para o Rio e a praia não era tão limpa. Das poucas vezes que tentei frequentar, voltava com alguma micose para casa e ficava arrasada. Depois, comecei a trabalhar e cada vez tinha menos tempo. O sol também mudou, ficou mais agressivo, já não podia mais usar bronzeador e minha pele se tornou indefesa sem proteção. Descobri que era branquela feito leite. E branquela me mantive ao longo dos anos. Além de ter passado por algumas experiências desagradáveis, como queimaduras nos pés por esquecer de passar protetor nessa região.

 

Enfim, depois de tanto tempo, o mar me chamava, dessa vez do lado mediterrâneo, tentava me convencer a recomeçar nossa relação. Aceitei o convite.

 

A princípio, estranhei um pouco a areia escura. Gosto daquela areia branca e fininha, mas em Dénia não é assim, é avermelhada e grossa. É época de algas vermelhas, o que também escurece um pouco o mar. Mas onde as algas permitem clareiras, a água é limpa e esverdeada.

 

Ainda por cima, encontramos um quiosque que alugava barracas e espreguiçadeiras. Aí foi correr para o abraço! Poderia morgar o dia todo.

 

Acontece que não tínhamos o dia todo, era sábado, dia do show do Cirque du Soleil. Queríamos chegar um pouco mais cedo em Valência, para dar uma volta na cidade e conhecer os arredores.

 

Fomos almoçar. Na saída da praia, havia um restaurante chamado “Chiringüito”, é como se chamam os quiosques aqui. O cheiro bom de peixe frito estava arrasador e, depois de uma breve  polêmica se almoçávamos ali ou em um restaurante grego, o tal do Chiringüito venceu. O lugar era aberto e administrado por uma família. A comida estava simplesmente de-li-ci-o-sa! Ainda tomei um vinho branco geladinho, na temperatura perfeita. Companhia agradável, vista para o mar, o que mais poderia pedir?

 

Deu a maior preguiça, mas precisávamos ir logo para Valência. E assim, fomos meio sonâmbulos no carro. Quer dizer, eu fui sonâmbula, porque Luiz foi apagado ninando uma garrafa de água. Realmente, invejo a capacidade que ele tem de dormir tão bem em qualquer lugar!

 

Achei a cidade uma graça! Pelo menos na parte do centro histórico, o que deu tempo de conhecermos. Gostaria de voltar lá com mais calma qualquer dia desses. A verdade é que mal pudemos caminhar pelo local e já estava na hora do show.

 

Saímos em disparada para o Cirque du Soleil, correndo sérios riscos de chegarmos atrasados e com Luiz estressadíssimo, dessa vez dirigindo. Fui orientando o caminho como pude, também não conhecia a cidade e não tínhamos um mapa. No fim, chegamos a dois minutos de começar o espetáculo. Na verdade, os palhaços já estavam entretenendo o público.

 

Caramba, como contar o espetáculo? O Cirque du Soleil não dá para explicar, tem que ver e ouvir, é uma experiência, simplesmente emocionante! Acho fabuloso como eles conseguiram fazer uma releitura do circo sem perder as origens e com a capacidade de impressionar gente que já viu um pouco de tudo. Esse show se chamava  “Dralion”. Em Atlanta, assisti ao “Allegria”. E sempre que houver oportunidade, assistirei aos próximos.

 

Quando acabou, voltamos os 80 km de carro para Dénia. Outra vez sonolentos, só que agora ia sonhando acordada.

 

É verdade que não consegui abstrair totalmente, tinha uma preocupação na cabeça. Na semana anterior meu avô internou, estava inchado com um problema renal. Pelo telefone, as notícias que me davam eram positivas, mas sempre fico na dúvida se é realmente assim, afinal de contas, ele tem 88 anos. Queria telefonar para Belo Horizonte, onde ele está, para saber se estava tudo bem. Mas ao mesmo tempo, também não queria ligar e receber uma má notícia. De qualquer forma liguei, mas tinha o telefone errado, faltava um número. Decidi telefonar de casa, no domingo, quando chegasse.

 

Acho estranho essa coisa da vida ser tão misturada. Estamos sempre no limite das ambiguidades. Prazer e dor, tristeza e alegria, medo e coragem… e a culpa sempre tentando se fazer presente, margeando. Estava um pouco dividida, mas optei por tentar me divertir. Afinal, meus pais tinham nosso telefone celular, se houvesse algo realmente ruim, me ligariam. No news, good news.

 

No dia seguinte, domingo, acordei doida para ir para praia. O tempo estava nublado, o que me desanimou um pouco. Mesmo assim, resolvemos ver no que dava. Ainda bem, porque o céu abriu e fez um dia estupendo! O mar, inclusive, estava mais limpo das algas.

 

Fizemos basicamente o mesmo programa do dia anterior, só que com menos pressa e sem o compromisso de ir a Valência. Morguei na espreguiçadeira alternando entre sol e sombra, mais sombra porque fiquei com medo da minha brancura. Aliás, não era nem de longe a mais branca, o que me fez sentir outra vez morena. Porque não dizer, morena e sexy, pois por sorte também não estavam presentes os corpaços jovens cariocas e, na comparação, até que me saí bem. Atenção meninas! Ministério da saúde adverte: praia espanhola faz bem ao ego.

 

Caminhei um pouco com os pés na água, minha maneira favorita de aproveitar a praia. Fiz de conta que queimava muitas calorias a serem devolvidas no almoço próximo.

 

Claro que novamente almoçamos no Chiringüito. O bom atendimento se repetiu. Pedimos outros pratos, para variar, e o que felizmente não variou foi o quanto estavam deliciosos. Um dos nossos pratos foram as kokotxas, pronunciado mais ou menos côcôtias, que é basicamente a parte da garganta do peixe, se é que peixe tem garganta. Costuma ser de merluza ou de bacalhau. É lógico que depois de uma dose de gaiatice e meia de vinho, voltamos aos cinco anos e as kokotxas se transformaram rapidamente em xoxotias ou algo que se pronunciasse parecido. O pior é ter que confessar publicamente que as xoxotxas, digo kokotxas do chiringüito, eram realmente saborosas. Ainda bem que foram de merluza e não de bacalhau.

 

Entonces, tentando aumentar um pouco o nível que já vai rasteiro, nossa preguiça também não variou, mas era hora de voltar para casa. Ai, que vontade de ficar uma semana! Por que nunca estou satisfeita?

 

No caminho de volta, Luiz veio chutando o balde. Acho que estava se divertindo com o brinquedo novo, um carro alugado poderoso que deu vontade nele de ter um. Para falar a verdade, também me deu vontade, mas estava mais preocupada com Jack, que mareou um pouco no início da estrada. Depois que entramos nas retas, segurou a onda e se comportou como um legítimo gato de ciganos.

 

Chegamos bem e com luz, anoitece tarde agora, por volta das 22:00 horas, às vezes depois. Madri animada e cheia de gente na rua. A primavera está se despedindo e o calor do verão chega com toda força.

 

Jack entrou em casa cheirando tudo, como sempre, e ao reconhecer seus cheiros e seus cantos ficou feliz da vida. Pode ser de ciganos inquietos, internacional e viajado, mas ainda é um gato e adora chegar no que é seu. Tenho muito que aprender com esse felino.

7 – Uma escultura do meu tamanho

Estou trabalhando em uma escultura do meu tamanho. Tem a minha altura, nos seus quatro eixos verticais, e o meu comprimento de braços abertos nos nove eixos horizontais. Os eixos horizontais são posicionados também em alturas do meu corpo. O material é aço e utilizo encaixes, ao invés de soldas, para que seja de simples locomoção.

 

O que deve ser evidente para todo mundo, só percebi hoje. Estou usando meu trabalho para me reconstruir. Mais uma vez.

 

Acho que entendo melhor o Caetano quando diz, como é bom saber tocar um instrumento. Não toco instrumentos, mas opero bem com ferramentas pesadas. Ainda não entendi o porquê, mas sei que há algo por aí.

 

Como as outras pessoas, também sempre fui incentivada à atividade intelectual e me custou muito entender e aceitar que ela me é absolutamente insuficiente. Incompleta. Preciso do labor físico, das origens, do essencial. É a única forma em que posso dar vazão a toda essa energia.

 

Quando era pequena, e até minha fase adulta, destruía relógios. Não fazia por querer, eles simplesmente não me suportavam. Os ponteiros se soltavam, o vidro rachava, a bateria acabava, a correia rompia…  fiz coleção de relógios quebrados. Cheguei a achar que tinha algum problema. Talvez realmente tivesse, difícil dizer. Mas quando não consegui mais explicações racionais, tentei improvisar alternativas. Por exemplo, mudei o relógio de braço e passei a usá-lo mais frouxo. Melhorou muito. Outra opção, foi usá-lo como colar, isso funcionou. Pois me ocorreu que poderia ser um tipo de energia canalizada, sei lá, que precisava controlar melhor.

 

Casar diminuiu meu número de relógios destruídos. Mas o impressionante é que, coincidência ou não, quando estou envolvida em um trabalho artístico, principalmente na parte de execução física, meus relógios duram mais.

 

Outra coisa interessante, um pouco difícil de contar, desde pequena também enjôo muito. Minhas respostas à ansiedade, nervosismo ou qualquer outra coisa que não queira fazer, se reflete no estômago. Passei quase trinta anos da minha vida vomitando. Quando criança, não me lembro quantas vezes fui levada à farmácia para tomar injeção de plasil. Fui a vários médicos e não havia nenhuma explicação. Com o tempo, fui controlando melhor. Sempre acontecia pelas manhãs. Dormia muito mal, acordava sonolenta, dava uma vomitadinha, escovava os dentes, me arrumava e saía para estudar e, quando adulta, trabalhar. Simples assim. Fazia parte da minha rotina e, depois de um tempo, achei que era normal, me acostumei. Não tinha nada a ver com bulimia, enjoava em jejum e nunca tive problemas alimentares. No resto do dia, não tinha outras reações anormais e era saudável.

 

Desde o dia em que me aceitei artista, eu nunca mais enjoei à toa pelas manhãs. Nunca mais, nem um dia. Como posso explicar? É óbvio e incrível ao mesmo tempo.

 

Hoje me dei conta de tudo isso e não tive peito de ir trabalhar na escultura. Precisava digerir esse pensamento um pouco melhor. Amanhã vou ao atelier encarar meus demônios. Vamos ver no que vai dar.

8 – A escultura vai andando, já o curso, se arrastando

Consegui trabalhar na escultura, que chamo assim por falta de um nome melhor, acho que é mais um objeto ou quase uma instalação, ainda não sei como definí-la. Mas aqui, se é tridimensional, eles chamam de escultura. Por mim, podem chamar de abacate, dá no mesmo.

 

O atelier de escultura da faculdade é bárbaro! Enorme! Você pode trabalhar com o que quiser: ferro, pedra, argila, resina etc. Tenho trabalhado na serralheria. Sou absolutamente fascinada pelas ferramentas, equipamentos e, principalmente, por todo aquele espaço.

 

Não há nenhum glamour, é muito diferente das exposições e vernissages, mas é onde a coisa acontece de verdade. Na prática, os locais de trabalho costumam ser empoeirados e, para um olho menos treinado, sujo mesmo. E eu, a neurótica obsessiva por limpeza, nem me importo. Fico quase que literalmente, como pinto no lixo.

 

Estive pensando, as ferramentas que gosto de usar quase sempre são de trabalho pesado e possuem algo de risco. Talvez seja a necessidade de controlar o destino, de ser capaz de mudar as direções, forjar o metal. Talvez seja uma maneira de aproximar o perigo. No início, sentia esse perigo naturalmente presente, agora preciso caminhar até ele e, assim, margear o limite.

 

Trabalho ultraconcentrada, não quero perder um dedo. E das pouquíssimas vezes em que me distraio, recebo um recado violento: presta atenção! É o momento em que não só busco a solidão, mas preciso dela.

 

Sei que saio do atelier vestida de peão de obra, músculos doloridos, desodorante vencido, com uma luva nojenta de suja e carregando uma mochila grande, eu que não carrego nem bolsa. Na boa, saio um trubufu! E mesmo assim, com vontade de sorrir à toa.

 

De lá, normalmente, me dirijo às aulas teóricas, vou me arrastando. Minha expressão muda muito claramente. O curso começou bem, ainda que tenha feito minha vida mais difícil. Mas agora está um saco, me faz perder muito tempo! Fora a tentativa de manipulação patética para que a gente faça arte política de qualquer jeito. Uma turma de vinte e sete alunos, em que assistem as aulas uma média de dez. Acho que isso quer dizer alguma coisa, por exemplo, que meus novos colegas não são de todo bobos.

 

Fazer o que, como diz o velho e gasto jargão, tudo na vida tem um preço. De uma forma ou de outra, há pouco tempo me dei conta que, mesmo de uma maneira torta, estou voltando à ativa. Acho que isso deve ser um bom sinal.

9 – Kebab na madrugada madrileña

Na madrugada de hoje, fizemos uma descoberta salvadora de vidas! Um lugar que vende kebab até às 5 da matina!

 

Escrevi uma vez, mas relembrando, as noites de Madri são bem longas e emendam na manhã, acontece que depois da meia-noite é difícil achar algum lugar para comer. Os bares fecham a cozinha e as boites só oferecem bebidas. Na verdade, no fim da noite, o que se pode achar aberto, normalmente, vende churros com chocolate. Não é mal, só que quando estou com fome, preciso de sal.

 

Passamos maus bocados famintos no fim da balada e, atualmente, mantenho algum petisco meio preparado em casa. O dia seguinte agradece!

 

Muito bem, ontem foi o aniversário de uma amiga francesa, nos encontramos no Boloco, restaurante e bar de tapas que fica na Plaza Chamberí. Estávamos em um grupo de nove pessoas, quatro delas falavam exclusivamente francês. Nada que um pouco de álcool não nos ajudasse na comunicação. Fomos dando nosso jeito. Conheço muita gente que tem problemas com franceses, não é o nosso caso. Acho que temos a sorte de só conhecer os legais.

 

Ficamos do lado de fora, que aqui se chama terraza. As terrazas não são necessariamente no telhado, podem até ser, mas a palavra simplesmente significa mesas ao ar livre. Normalmente, no fim da primavera se inicia o período das terrazas, que acabam no fim do outono. É a época que aproveitamos o clima e respiramos ar quase puro, no que pode ser puro o ar de uma cidade. Mas definitivamente melhor que os ambientes fechados e esfumaçados.

 

Previnida, me alimentei bem e tomei bastante água, me preparando para a continuação da noite. Luiz não estava com muita fome nessa hora e comeu bem menos que nós todos.

 

Enfim, de lá, fomos para a Valmont, um bar de tapas com lugar para dançar. Estava fechado para uma festa particular. Não pudemos entrar, mas ganhamos a entrada e copas para voltar em um outro dia.

 

Caminhamos até a estação Alonso Martinez, onde há uma série de bares e boites ao redor. Fomos ao Areia, onde um amigo alemão costumava trabalhar. Chama assim mesmo: Areia. E não Arena, como seria em espanhol. Esse lugar é bem legal, tem um jeitão de lounge marroquino. Assim, além das mesas, tem uma cama e uns grandes sofás. No teto, alguns tecidos vermelhos pendurados. A iluminação é baixa e tem um DJ, ao vivo, comandando a música. Sempre há muita gente em pé, mas não é um lugar para dançar. Ali, um dos franceses nos ofereceu duas garrafas de champagne e ficamos fazendo hora para ir ao El Junco.

 

No caminho para o El Junco, pela Calle Hortaleza, vimos uma birosca lotada! Deveria ter uns 2 m2 e vendia kebab. O cheirinho estava tentador, mas ainda era cedo para comer. Continuamos nosso caminho, meio de olho grande no tal kebab.

 

No El Junco, onde sempre vamos, a música estava boa, mas já vi dias melhores, é que o DJ muda sempre. De qualquer forma, dançamos até umas quatro da manhã. Fomos embora assim cedo, porque era uma sexta-feira, em que Luiz estava acordado desde às sete e tínhamos compromisso no dia seguinte.

 

Na saída, é claro que ele estava faminto. Faminta não estava, mas como sou uma gulosa e comer e coçar é só começar… Nos olhamos naquela dúvida se o lugar do kebab ainda estaria aberto. Era bem perto e arriscamos. E não é que estava aberto e cheio! Nos atracamos com dois kebabs, um de carne e um de frango, para experimentar. O de carne era melhor, mas o de frango também mandou muito bem!

 

O indiano que nos atendeu cortava a carne em fatias finas com uma maquininha parecida a um barbeador, colocava em um pão quentinho e adicionava alguns molhos e ingredientes que nem perdi tempo perguntando o que eram. Aberto a essa hora, ele manda! Perguntamos que horas eles fechavam e ele nos informou que pelas cinco da manhã. Pois então pronto! Será nosso Blooming’s de Madri. A propósito, sugiro o kebab de carne só com molho de queijo, o que achei mais parecido ao cheeseburger de fim de festa.

10 – O mundo está perdido!

Recebi uma curiosa mensagem, de alguém que não conheço, no meu orkut. Dizia exatamente o seguinte: “Olá Bianca, tenho um filho de 7 anos e gostaria de morar na Espanha em agosto, vale a pena o risco de levar uma criança logo de início? Desculpe estar te importunando, mas achei você bem séria para poder me responder ou me indicar alguém que está aí com filhos. Obrigada. ( é difícil conseguir trabalho ou não ?)”.

 

Quando li o texto acima, achei muito engraçado! Mostrei ao Luiz e disse que ainda existia quem me achasse  uma pessoa séria! Ele leu a mensagem e sua resposta foi: esse mundo está perdido! Na hora que você é chamada a aconselhar uma mãe…

 

Sofri a tentação de escrever de volta: Querida “x”, sou uma artista-alucinada-borracha-que-não-sabe-o-que-fazer-da-própria-vida… mesmo assim, você gostaria dos meus conselhos?

 

Na prática, resisti ao meu humor ácido, afinal ela me pareceu realmente preocupada, e apenas brinquei que o mais parecido que tenho a um filho é um gato persa de seis anos. Também disse que gostava da cidade e que, se tivesse uma criança, me sentiria mais tranquila aqui do que no Brasil. Indiquei uma comunidade de brasileiros em Madri no orkut, onde ela poderia obter maiores informações, quem sabe, com outra pessoa de seriedade confiável.

 

Entretanto, não posso negar que a história ficou martelando na minha cabeça. Sempre pareci bem mais séria do que realmente era, ou achava que era, e acabo de perceber que isso se transmite até de maneira virtual. Será que sou séria? O que é exatamente uma pessoa séria?

 

Por muito tempo essa seriedade aparente me incomodou, principalmente na adolescência, porque intimidava os meninos que me interessavam e impunha uma certa distância e responsabilidades que nunca pedi. Acreditava que era algo que fazia, algum jeito de olhar, de sorrir ou não sorrir, um gesto, sei lá, algo que levava às outras pessoas a me verem séria. Depois concluí que era mais forte que isso, era algo de atitude, estava implícito.

 

Ser séria não me incomodava, simplesmente achava que não era,  pensava que estava transmitindo uma postura falsa e, isso sim, me incomodava e muito. Mas não sabia o que fazer para ser mais autêntica, o que por si só é uma enorme contradição. Será que se sorrise mais, se chegasse mais perto, se olhasse menos nos olhos… era inútil! Como vestir uma roupa grande demais. Daí desisti de tentar mudar e resolvi lidar com a questão. Se intimidava os meninos, tomava eu a iniciativa; se afastava algumas pessoas, atraía outras; e por aí vaí.

 

Acho que superei essa questão mesmo por volta dos 20 anos, quando tive uma grande amiga que me apresentava da seguinte maneira: essa é a Bianca, tem essa cara de séria, mas é a maior porra louca! Posso ouvi-la falando isso com seu jeito escrachado e direto, foi uma das pessoas que mais me conheceu e era capaz de resumir e resolver em uma frase o que me intrigou toda adolescência. Não era a forma mais bonita nem tão educada, mas era como eu mais gostava de ser apresentada.

 

Os anos se passaram e esse foi um tema que parou de me preocupar, pelo contrário, profissionalmente, por exemplo, foi muito positivo. Agora somos todos adultos e a seriedade não assusta mais. O que era sinônimo de distância, passou a ser de credibilidade. Por que? Em que momento atravessamos essa linha e ficamos tão sérios?

 

Um dia, quando ficar bem velhinha, quero ter a experiência e a coragem de me apresentar assim: sou Bianca, tenho essa cara de séria, mas sou a maior porra louca! Talvez nem precise falar nada, só fazer a careta do Einstein dando uma língua debochada, um dos momentos fotografados que mais gosto.

11 – Festa junina

Adoro festa junina! Na verdade, gosto de quase todo tipo de festa temática e, nesse caso, ainda por cima amo as comidinhas!

 

Muito bem, em Madri não há festa junina como comemoramos. Nenhum problema, o que não tem a gente inventa. Juntei com mais duas amigas e organizamos a tal da festa aqui em casa, com bandeirinhas coloridas e tudo.

 

Aliás, essas bandeirinhas deram o maior trabalho, porque no Brasil a gente compra o cordão prontinho. Aqui, tive que comprar papel crepom colorido, cortar as bandeiras, colar etc. Mas como não tê-las em uma festa junina? É o que dá o clima! Achei umas toalhas de mesa xadrez e coloquei umas velas no meio da mesinha de centro para fingir que era a fogueira. A decoração foi completada por chapéus de palha que uma amiga achou na venda do chinês. Olha que com boa vontade, até que ficou bem bonitinho.

 

Estava meio na dúvida se me fantasiava, porque vai que ninguém aparecesse de caipira, né? Bom, fiz maria-chiquinha, pus uma blusa bem colorida, um baton vermelho e bochechas rosadas. Quando minha primeira amiga chegou, fez tranças e pintas no rosto, daí me animei mais e fiz as pintinhas também. No fim das contas, o povo todo que chegou foi entrando no espírito da festa e se fantasiando. Até a filha de uma amiga, nenenzinha ainda, chegou vestida de caipirinha.

 

Nas comidas, todo mundo trouxe alguma coisa que fosse típica. Havia cachorro-quente, salsichão com farofa, milho cozido, pipoca, amendoin, pão-de-queijo, pé-de-moleque, bananada e doce de abóbora com côco. Quentão não dava para fazer porque aqui é muito quente em junho, daí fiz sangria, que é o similar geladinho nacional. Também havia cachacinha e refrigerantes.

 

Agora, definitivamente, o ponto alto foi a dança! Arrastamos os móveis na sala pequena e improvisamos uma quadrilha surreal. Foi a pior quadrilha que já vi na vida, nada poderia ser mais desorganizado! Cada um lembrava de um pedaço e íamos tentando juntar os fragmentos do baile. Acho que de quadrilha teve pouco, mas arrancou boas gargalhadas. Eu, pelo menos, me acabei de rir.

 

O golpe de misericórdia foi quando alguém lembrou que faltava celebrar o casamento. Sobrou para um casal de amigos, noivos, e todos nós completamos o teatrinho bizarro, com direito a Luiz de espada em punho, na falta da escopeta.

 

Enfim, muito bom ter um pedacinho do Brasil aqui. Também muito bom saber que a gente leva essas coisas na memória e, com uma pequena motivação, cada um lembrando um pedaço, a gente junta tudo e faz uma festa.

 

Anarriê… dama prum lado cavalêro pru otro… olha a cobra… é mentira… caminho da roça…

12 – Quando estar longe é difícil

Para o desgosto de amigos e família, quando nos perguntam se temos vontade de voltar para o Brasil, dizemos que não. Nesse sentido, Luiz e eu pensamos igualzinho, temos saudades das pessoas, mas não necessariamente da vida no país. Não é que a nossa vida fosse ruim, mas é passado, não acho que seria igual se voltássemos. Além do mais, sem demagogia, para mim é muito duro viver bem, vendo outras pessoas vivendo muito mal. Vir para cá não fez a vida no Brasil melhorar, mas fez melhor a minha. E, ao tentar olhar para o futuro, a perspectiva política e social continua sem nos animar nem um pouco.

 

Quanto aos amigos, continuam nossos amigos. Quero e faço força para que continuem assim, porque me fazem falta. Mas quem tem vida de caracol desde cedo, aprende mecanismos para lidar com a ausência. Aprendemos que a única despedida real é a morte.

 

E é aí que a coisa pega. Com a dolorosa possibilidade da morte, que até o nome é difícil dizer sem eufenismos. Nossos pais e familiares não estão ficando mais jovens. Na verdade,  até alguns amigos já começam a demonstrar sinais de fragilidade. O que me lembra que eu também estou envelhecendo.

 

Mesmo estando fora, uma das coisas que garante meu equilíbrio é saber que as pessoas que quero estão bem onde estão. Possibilita uma segurança egoísta que sei que não é verdadeira, mas me tranquiliza, me faz saber que posso ir porque sempre terei para onde voltar, mesmo que não volte em definitivo, mas volte um pouquinho para um descanso.

 

É a primeira vez que sinto a possibilidade real de perder alguém que amo e estou longe. Não sei o que fazer, não sei como é o jeito certo de agir. A distância ajuda, por um lado, porque a vida é misturada mesmo, e o fato de não estar vendo me deixa esquecer um pouco e ter dias bons. Por outro lado, bate a culpa de não estar fazendo nada para colaborar, o medo de encarar a realidade e uma saudade sufocante porque sei que essa é a única que não se acaba, já conheço.

 

Saber que ele não vai bem, me desvia temporariamente o eixo. A cabeça diz que a vida deve serguir seu rumo e o que tiver que acontecer, que seja sem dor. Um dia quero ser capaz de aceitar esse fato com naturalidade, porque o coração ainda insiste de maneira infantil que não vá nunca, que fique aqui para sempre e que seja só um susto.

 

Hoje me ocorreu que estou negando a situação, tentando agir naturalmente, sair normalmente e me relacionar com as pessoas como se nada estivesse acontecendo. Tudo que puder fazer para ocupar meu tempo. Mas a verdade é que estou irritada, com raiva de coisas bobas e falando sozinha pela casa com o fantasma da minha avó.

 

É a pior hora de estar longe, a única que é realmente difícil.

13 – Copa 2006

Hoje é dia 13 de junho e será o primeiro jogo do Brasil na Copa de 2006, contra a Croácia. Mais tarde, vamos ao Bo Finn, un pub onde assistiremos o jogo com amigos, em sua grande maioria, brasileiros.

 

O espanhol também gosta muito de futebol, portanto, aparentemente, as comemorações serão animadas. Claro que estão torcendo para a Espanha, mas posso quase garantir que a segunda opção é o Brasil.

 

No nosso caso, algumas pessoas perguntaram para quem vamos torcer. Francamente, isso é pergunta que se faça? Essas coisas tem regulamento! Brasil, é lógico! Com direito a camiseta, boné, bandeirinha e tudo mais, mandado pela minha mãe através do Sedex.

 

Podem criticar à vontade a alienação provocada em períodos de Copa do Mundo, pouco me importa, que me aliene também! A verdade é que é muito bom ter um time para defender, principalmente se há uma real possibilidade de vitória. Acho muito saudável, xingar a mãe do juiz faz bem ao fígado, aplaudir ativa a circulação e nada melhor para o coração que gritar gol! É absolutamente terapêutico!

 

Gosto mesmo de assistir, ao vivo, da arquibancada. Os gritos e as coreografias de torcida são o mais próximo que posso chegar a uma origem tribal. É quase sentar em volta da fogueira e ouvir as histórias de aventuras. É o máximo!

 

Da arquibancada, não vai dar, paciência. Mas faremos nossa bagunça em volta da grande TV do bar mesmo. E, se tudo der certo, quem sabe damos mais um passo rumo ao hexa.

 

Faz falta hoje uma notícia boa.

14 – Brasil 1 x 0 Croácia

Bom, o jogo todo mundo viu, né? Posso poupá-los do meus comentários absolutamente leigos, de quem assiste futebol de quatro em quatro anos. Só vou dizer que, no fim das contas, foi bom ganhar. Entre erros e acertos, gostei de ver os jogadores levando a sério e concentrados.

 

Assistimos a partida com um grupo de amigos e os amigos dos amigos dos amigos… Enfim, dominamos o pub! Fomos nos espalhando igual praga e antes de começar o jogo, em frente a TV, era um mar de camiseta amarela! Nem todos eram brasileiros, mas a grande parte sim. Havia até uma louca de uma croata no nosso meio, coitada, ela achou que estava segura, imagina?

 

O Luiz não parava de berrar nervoso e se ouviam gritos femininos de “lindo” para o Kaká. Também tinha um amigo que pedia insistentemente “põe o Fred”, que foi uma das incógnitas do jogo. Afinal, quem é Fred? Não faltou o “amigos da rede globo…”, tudo bem que a gente acha ele meio chato, mas comparado aos comentaristas daqui, chegamos ao cúmulo de sentir saudades!

 

Não dá para dizer que foi como assistir no Brasil, mas bem que quebrou um galho. Na partida final, devo estar no Rio ou Belo Horizonte e espero comemorar uma vitória com os conterrâneos. Será?

 

Quando acabou, fui com Luiz beliscar uma comidinha no El Fogón de Trifón, nossa nova copa-cozinha. Descobrimos porque os dois garçons são tão atentos, um deles é o dono. Aliás, a gente já chega na maior intimidade e, dessa vez, com informações fresquinhas do jogo para o interessado barman de Galapagos. Que mundo tão grande e tão pequeno.

 

Importa que foi uma boa notícia e nem foi a única! Posso comemorar.

15 – Assim como o jogo, depois do sufoco…

Meu avô estava internado e não muito bem de saúde. Considerando sua idade, essa é sempre uma notícia que preocupa. Após três semanas, nas quais ia do céu ao inferno sem saber se corria para o Brasil ou se esperava, ele voltou para casa. Assim como o jogo, depois do sufoco, podemos relaxar um pouco e respirar mais aliviados.

 

A Copa ainda não está ganha, nos dois casos, mas ainda nos resta uma boa dose de esperança.

 

Esperança é um sentimento que nunca soube desenvolver bem. É um privilégio das pessoas de fé, outra característica em que me esforço para ter, mas não pertence a minha natureza. Tenho a sorte de possuir a confiança que, muitas vezes, é confundida com a esperança. A diferença é que a confiança depende de nós mesmos; a outra não, depende diretamente de acreditar no que não é concreto. Sou pessoa de sim ou não, racional, o talvez me complica. O talvez não se controla.

 

Quando isso é um problema? Quando percebemos que envelhecemos e que as pessoas que nos cercam também. De uma hora para outra o relógio começa a acelerar. Descobri que, em parte, minha confiança vinha do fato da consciência, ou probabilidade, de ter tempo. Se eu tivesse tempo, eu poderia tudo. Agora tenho que priorizar o que quero, o que posso e o que ainda tenho tempo de fazer. Talvez por isso a gente durma menos quando envelhece.

 

Não tenho medo físico de envelhecer. A idade é uma roupa que me cai bem, gosto que seja ajustada, não pareça menor nem maior. Até os fios de cabelos brancos, que uma parte considerável das mulheres abominam, ainda não me incomodaram. Mas me irrita essa falta de controle, eliminar possibilidades.

 

Quantos anos ainda tenho para conviver com as pessoas que amo, aprender outros idiomas, tocar um instrumento novo, praticar um esporte, experimentar novos sabores,  conhecer novos amigos, seguir outras profissões, descobrir vocações… Por quanto tempo ainda serei protegida?

 

Enfim, enquanto isso, na sala de justiça, esperamos o próximo jogo. Boa oportunidade para ir exercitando minha esperança. Quem sabe ganhamos?

16 – E não é que ganhamos?

Fui outra vez assistir o jogo no Bo Finn, o pub. Dessa vez, Luiz não pôde ir, viajou logo cedo a trabalho para Dubai. Fui com um casal de amigos e sua família. No bar, encontrei com outros amigos e novamente, a torcida brasileira dominou o local.

 

Uns “manés” australianos ainda tentaram se meter no nosso meio, mas foram devidamente intimidados por nossa indiferença confiante e um número maior de torcedores.

 

Muito bem, vamos combinar que não foi assim o melhor jogo do mundo. Mas ganhamos e isso importa. Além do mais, também é bom lembrar que as grandes equipes de futebol não estão com essa bola toda. Só aquela equipezinha que o país começa com “a” e termina com “ina”, se destacou, mas isso passa, gastaram toda sorte no início. Pelo menos, gostaria de acreditar nisso.

 

Agora, a grande surpresa da partida, foi descobrir que o tal do Fred não era um jogador imaginário inventado por nosso amigo. Na última partida, ele passou o jogo todo gritando “põe o Fred” e achávamos que era piada.  Quando na tela apareceu o jogador, morremos de rir, afinal de contas, ele existia. Falei para minha amiga do lado, já imaginou se ele entra e faz um gol. E não é que o iluminado entrou e fez!

 

A essa altura, Luiz havia acabado de pousar em Dubai e, no que dava para se fazer na barulheira do bar, narrei os principais fatos do Brasil 2 x 0 Austrália por telefone.

 

De lá, vim direto para casa, ando caseira outra vez. Comemoramos eu, meu gato e nossa enorme preguiça! Até que foi bom.

17 – Acho que faço uma exposição na semana que vem

Desconfio que, na semana que vem, vou participar de uma exposição coletiva. A frase é um pouco estranha, mas é verdade. Só acredito vendo, tô até com medo de convidar as pessoas.

 

No Master em Arte Contemporânea que farei até dezembro, há duas exposições previstas, uma na semana que vem e outra no fim do ano. Além das aulas teóricas, a gente desenvolve um trabalho para essas exposições.

 

No meu caso, desenvolvi uma instalação em aço, continuidade do trabalho que realizava ainda no Brasil, mas não tinha o espaço físico e a técnica para executá-la. Finalmente, consegui realizá-la no enorme atelier da faculdade, que conta com as máquinas, ferramentas e orientação necessária. Mesmo assim, foi bem complicado, a começar por levar o material para lá, Luiz precisou me ajudar. Depois, porque cada passo dado era novo para mim e não tinha margem para erros grandes, não havia sobra de material para substituir no que errasse.

 

Para complicar, descobri na véspera que o atelier fecharia uma semana antes do que era previsto. Por sorte, vinha trabalhando como uma louca enfurecida para terminar a peça a tempo e poder fazer um melhor acabamento com calma. Muito bem, a peça terminei, mas o acabamento foi para o saco! Paciência, não está perfeita, mas funciona.

 

Tudo isso soa um pouco como desculpa, juro que não é. A verdade é que precisaria de mais tempo para essa obra, mas não queria perder a oportunidade de uma exposição e corri atrás como pude. Além do mais, é uma chance de ver como a obra funciona com outros espectadores e entender que tipo de ajustes são importantes.

 

Em paralelo a isso, ao meu ver, há uma desorganização surreal no evento. Tudo ficou muito no ar, desde a decisão de quem iria expor, até quem faria os textos do catálogo, que dia exatamente iniciaria a exposição, que dia acabaria… Enfim, para se ter uma idéia, o catálogo deve ficar pronto, se for realmente realizado, no próprio dia da exposição e para quem já organizou ou participou de alguma, sabe que isso é um absurdo!

 

E para complicar mais ainda, rola um certo stress entre a coordenação e os alunos e hoje haverá uma reunião para discutir possíveis mudanças no semestre que vem. Imagina, uma semana antes da exposição vem essa história! Não duvido nada que eles cancelem, bate na madeira.

 

No início, não fazia tanta questão em participar, estava mais preocupada em trabalhar com consistência, em paralelo. Mas agora, tão perto e depois de tanto esforço, não queria morrer na praia. Não deixaria de ser um começo, algo para desencantar e, porque não, uma linha interessante no meu currículo.

 

Enfim, no pain, no gain e o que há de ser… 

Desconfio que, na semana que vem, vou participar de uma exposição coletiva. A frase é um pouco estranha, mas é verdade. Só acredito vendo, tô até com medo de convidar as pessoas.

 

No Master em Arte Contemporânea que farei até dezembro, há duas exposições previstas, uma na semana que vem e outra no fim do ano. Além das aulas teóricas, a gente desenvolve um trabalho para essas exposições.

 

No meu caso, desenvolvi uma instalação em aço, continuidade do trabalho que realizava ainda no Brasil, mas não tinha o espaço físico e a técnica para executá-la. Finalmente, consegui realizá-la no enorme atelier da faculdade, que conta com as máquinas, ferramentas e orientação necessária. Mesmo assim, foi bem complicado, a começar por levar o material para lá, Luiz precisou me ajudar. Depois, porque cada passo dado era novo para mim e não tinha margem para erros grandes, não havia sobra de material para substituir no que errasse.

 

Para complicar, descobri na véspera que o atelier fecharia uma semana antes do que era previsto. Por sorte, vinha trabalhando como uma louca enfurecida para terminar a peça a tempo e poder fazer um melhor acabamento com calma. Muito bem, a peça terminei, mas o acabamento foi para o saco! Paciência, não está perfeita, mas funciona.

 

Tudo isso soa um pouco como desculpa, juro que não é. A verdade é que precisaria de mais tempo para essa obra, mas não queria perder a oportunidade de uma exposição e corri atrás como pude. Além do mais, é uma chance de ver como a obra funciona com outros espectadores e entender que tipo de ajustes são importantes.

 

Em paralelo a isso, ao meu ver, há uma desorganização surreal no evento. Tudo ficou muito no ar, desde a decisão de quem iria expor, até quem faria os textos do catálogo, que dia exatamente iniciaria a exposição, que dia acabaria… Enfim, para se ter uma idéia, o catálogo deve ficar pronto, se for realmente realizado, no próprio dia da exposição e para quem já organizou ou participou de alguma, sabe que isso é um absurdo!

 

E para complicar mais ainda, rola um certo stress entre a coordenação e os alunos e hoje haverá uma reunião para discutir possíveis mudanças no semestre que vem. Imagina, uma semana antes da exposição vem essa história! Não duvido nada que eles cancelem, bate na madeira.

 

No início, não fazia tanta questão em participar, estava mais preocupada em trabalhar com consistência, em paralelo. Mas agora, tão perto e depois de tanto esforço, não queria morrer na praia. Não deixaria de ser um começo, algo para desencantar e, porque não, uma linha interessante no meu currículo.

 

Enfim, no pain, no gain e o que há de ser…

18 – Eu e minha boca grande!

Exposição melada! Pelo menos, para mim.

 

Após horas de discussão entre os alunos, até que sairam algumas boas propostas do grupo para a melhoria do curso no ano que vem.

 

Entretanto, também foi levantada a bola que a exposição deveria ser adiada. Em algumas coisas, tenho experiência e tinha certeza que essa possibilidade não existia, ou seria agora, ou seria cancelada. Como sempre, por trás da coordenação todo mundo se inflamou e se negou a participar da dita cuja. Ao sentarmos com o coordenador do curso, a história mudou bem de figura.

 

Acontece que recebemos duas informações que não contava, uma que não era exatamente uma exposição e sim, mais ou menos um exercício de exposição, seja lá o que isso signifique. Francamente, que os artistas a utilizassem assim, posso entender, até fiz essa proposta entre o grupo, inflamadamente rechaçada antes de sentarem na frente do coordenador. Agora, que a direção do curso parta desse princípio e ainda por cima nos diga isso uma semana antes do vernissage e mesmo assim porque estávamos reclamando, vamos combinar que o buraco é mais embaixo. É uma tremenda falta de respeito. Até porque acredito que o coordenador inventou essa história na hora para tentar amenizar a situação. A verdade é que foi uma baita de uma desorganização, isso sim.

 

Como se não bastasse, ele espertamente deu mais prazo para o pessoal que escreveria as críticas a serem publicadas no catálogo e, com isso, dividiu o grupo. Veio com uma historinha da carochinha que o catálogo deve ser uma discussão dos trabalhos e portanto pode sair meses depois da exposição. Ora bolas, se a finalidade de um catálogo é um texto onde não há mais obra exposta, por que fazê-la? Outra vez se atribuindo mais valor à explicação do que a obra. Melhor então escrever um texto legal, publicá-lo e já está: obra de arte pronta.

 

Pequeno detalhe, descobrimos ontem que a exposição duraria cinco dias em um período de férias. Parece piada ter todo esse trabalho para expor para seus coleguinhas de curso. Acho que voltei ao primário! Pela primeira vez senti saudade de consultoria e dos meus amigos adultos!

 

Enfim, foi um belo de um barraco e estou de mau humor. No final da reunião joguei um pouco de merda no ventilador, para não perder a prática, e até disse que participaria da exposição porque tinha obra. Mas só disse isso porque estava com raiva e queria ganhar tempo para pensar com calma. Em casa pensei, decidi que não vou e já comuniquei o fato.

 

Depois de tanto trabalho, é frustrante. Mas Luiz me lembrou que não perdi nada. A obra está pronta e a experiência em realizá-la ninguém tira. Vai passar e não seria nem a primeira, nem a última.

 

Paciência! Acabo de me decretar em férias! Agora só ponho meu nariz de volta na faculdade em setembro.

19 – Notícias do front

Depois do barraco da exposição, outras duas participantes também se negaram a expor e, no fim das contas, a coordenação do curso resolveu adiar tudo e decidir em setembro, na volta às aulas. Foi uma vitória com gostinho de derrota. Muito desgaste e energia gasta com bobagem.

 

Não sei no que vai dar esse rolo, mas existe um espaço de dois meses entre agora e a próxima discussão. Já nem sei se vou querer fazer parte, vamos ver com calma mais tarde.

 

Estive pensando se o saldo dessa conta foi positivo ou negativo. Acho que não há como saber agora, vai depender do que faça daqui para frente. Posso transformar em uma oportunidade ou posso me remoer de raiva. A segunda opção foi eliminada por simples cansaço e outras coisas mais importantes para pensar.  Portanto, há uma chance da história se reverter.