Nascendo outra vez em outro país!

Hoje é dia 6 de abril de 2011. Pela manhã, juramos fidelidade à bandeira espanhola! Agora, oficialmente, além de múltipla personalidade, também tenho dupla cidadania!

Na prática, foi bem simples, estava marcado para chegarmos às 10h30, mas chegamos antes, umas 10 horas. Entregamos o protocolo na entrada e nos enviaram diretamente para uma outra sala com mais gente, umas 50 pessoas, talvez um pouco menos. Antes da hora marcada, pelas 10h15, um funcionário que parecia um juiz levantou e pediu para repetirmos em grupo o juramento, que era um parágrafo curto dizendo algo como: prometo respeitar a constituição e o rei de Espanha. Pensei que ia achar cafona, mas na verdade achei bem legal, deu um toque solene de ritual. Em seguida, ele chama um por um para assinar um papel e só, resolvido.

Agora é esperar a nova certidão de nascimento, que chega pelo correio, em um prazo aproximado de três meses. E sim, teremos uma nova certidão de nascimento espanhola, o que me dá muito em que pensar. Depois devemos ir com essa certidão para tirar nossa identidade como cidadãos espanhóis, o DNI, e, finalmente, com o DNI poderemos tirar o passaporte. Pequeno detalhe, depois de tirar o DNI também nos casaremos outra vez aqui!

Portanto, não, ainda não acabou, mas para mim é como encerrar um ciclo. Daqui para frente é só papel, mas o fato já está consumado.

O processo foi iniciado há mais de três anos, enfim, toda uma novela! Com tanto tempo de expectativa é difícil absorver tudo em um só dia. Porque não é apenas a burocracia da obtenção de um documento, mas todo o entendimento e incorporação de uma cultura, com o que há de bom e de mau em todo o trajeto. E é nesse sentido que para mim hoje se encerra um ciclo importante.

Em todo esse tempo me senti bem dividida, um pouco como cidadã de canto nenhum. Hoje me sinto adicionada, aprendi a ter mais de uma pátria e estou aberta a outras ainda, se vierem. Incluindo a minha de origem, onde já não sou a mesma brasileira. Não dói mais e mudanças boas também podem doer no começo. A palavra imigrante já não me ofende, porque há muito não caibo em uma descrição tão pequena. Ninguém deveria caber e também é culpa de quem veste a carapuça.

Na semana passada, quando a data de hoje foi marcada, saí do local feliz e leve como um passarinho. Hoje estou feliz também, mas de uma maneira muito diferente, mais séria, lúcida e emocionada. Porque fins de ciclos são pequenas mortes. E é bom que sejam, porque as limitações, que nos encurralam no início de cada um desses ciclos, logo se tornam hábitos e depois confortáveis desculpas. Até que você se perde um pouco entre o que você é e o que poderia ser se…

Muitas das minhas limitações estão prestes a acabar, em consequência, também minhas desculpas. Não tem mais “se”. A Jovem vem aí e o bicho vai pegar! Ainda bem que eu sou flamengo, mesmo quando ele não vai bem, algo me diz em rubro-negro que o sofrimento leva além e não existe amor sem medo.

Para o ritual de passagem, completei minha tatuagem, a que sempre deveria ter sido, mas eu não estava pronta.

Quando a gente é criança é gostoso se fantasiar, adutos também, é que quanto mais jovens, mais livres somos para não só viver um personagem, mas acreditar nele. Meninos costumam adorar se vestir de super-heróis e mudam até a postura para andar com suas capas e poderes fantásticos. Não saberia garantir, mas quase aposto que muitos rapazes fazem escondido as poses do homem-aranha fechados em seus quartos e sem testemunhas. Bom, espero que sim, me sentiria menos louca.

Enfim, quando era criança, tinha umas asas de anjo. Não me lembro como chegaram em casa, provavelmente complemento de alguma fantasia que se perdeu, mas as asas ficaram e eu era completamente alucinada por elas. Assim como os meninos iam com suas armas de brinquedo, eu ia com minhas asas para todo lado. E nenhum dos meus amigos imaginários achava estranho!

Outro dia, vendo um desses filmes antigos, gravados em super 8 (para quem ainda se lembra o que era isso), me vi em um aniversário. Todas as crianças arrumadinhas, eu também, bem arrumadinha. Daí eu me abaixo para apagar as velas e lá estão elas: minhas asas é claro! Quase me esborrachei de rir da completa falta de noção em achar que estava super natural. Bom, estava quase sobrenatural, mas tudo bem.

A idade, o bom senso e a vergonha tomaram seu curso e em algum momento, deixei minhas asas para lá. Ainda que, admito, mesmo adulta sempre que tinha uma oportunidade, dava um jeito delas voltarem em uma festa à fantasia ou na estampa de uma camiseta.

Pois agora estão cravadas na minha pele. Minhas asas estão tatuadas e de agora em diante posso carregá-las comigo para todo lado. 

Se eu posso ter nova certidão de nascimento é porque posso nascer outra vez. Se o fim de um ciclo é uma morte, o começo do próximo é ressurreição. Para cada fênix, seu par de asas! E agora, finalmente, tenho as minhas.

Um desses dias em que tudo dá certo

Há nem me lembro quantos meses, mas acho que foram bem uns oito, recebemos a data do governo para confirmarmos que queremos mesmo a cidadania espanhola concedida. Caía em primeiro de abril, dia da mentira. Parecia piada!

Temos um escritório de advocacia acompanhando o caso e tentamos de toda maneira adiantar essa data, e nada! Luiz fez um segundo contato com outro advogado que talvez conseguisse, mas que não havia dado mais notícias. Ficou por isso mesmo.

Essa reunião consiste em simplesmente ir ao departamento responsável com seu NIE (documento espanhol para estrangeiros) e a carta de concessão da nacionalidade. Daí eles marcam para você jurar a bandeira, ou seja,  prometer fidelidade ao rei e a constituição. O que na prática, acho que é assinar um papel. Muito bem, atualmente, entre essa reunião de primeiro de abril e a seguinte, leva mais uns três meses, depende muito da quantidade de gente sendo atendida. Portanto, essa era a nossa expectativa.

Luiz tirou o dia de folga, para nem se estressar com possíveis atrasos ou problemas. Acordamos cedo, nos arrumamos, tomei café com o que era possível passar pela garganta e lá fomos nós, de taxi. Marcamos com a advogada no local.

Um dia lindo! A melhor temperatura do ano e um sol de primavera simplesmente perfeito! Bom presságio, dias assim me deixam em um bom humor fenomenal. Segundo observado pelo Luiz, apesar de estar meio apreensiva, estava sorrindo.

Literalmente dentro do taxi, a caminho do local, toca o celular. Lembra do tal advogado que talvez conseguisse apressar a data? Pois é, era ele. Luiz explicou, mas já é hoje, estamos justamente a caminho de lá. Então ele pediu que a gente esperasse um pouco que ele ia ligar para lá. Nos entreolhamos com aquela cara de será? Daqui a pouco, o celular toca outra vez: procura a fulana, ela conhece seu expediente e tem uma brecha de data na semana que vem.

Bom, maravilha! Tudo que pode ser adiantado, nos ajuda um montão. Estamos tão acostumados a ser escaldados que nem queria muito me animar. Vamos um passo de cada vez. Além do mais, havia nossa advogada lá nos esperando e como a gente conta essa história sem criar nenhum conflito?

Para variar, chegamos cedo. Nós somos sempre adiantados com tudo. Ficamos na esquina tomando um solzinho para relaxar um pouco, enquanto esperávamos a advogada e imaginávamos como dizer o que para quem.

Daqui a pouco, liga nossa advogada, estava completamente enrolada e não conseguiria chegar a tempo, mas havia uma outra advogada do mesmo escritório no local que nos acompanharia. Veja bem, em outras circunstâncias, isso poderia ser um problema, mas a gente achou ótimo, porque a advogada que nos atenderia parecia novata e não iria fazer tantas perguntas. Simplesmente dissemos que tínhamos um conhecido que nos indicou falar com fulana, porque ela já tinha nosso expediente. E assim foi!

E não é que a fulana existia mesmo? E não é que ela conseguiu nos agendar para semana seguinte? E justo no dia do aniversário do meu irmão, dia 6 de abril. Que para quem não sabe, por alguma razão cósmica, bate sempre com alguma mudança positiva nossa. Excelente presságio!

Entre nós, vou confessar uma coisa, foi a primeira vez que minha ficha caiu mesmo que terei dupla cidadania. Preciso admitir que sentir concretamente que também seria espanhola me deixou feliz. Estava até meio emocionada, mas segurei a onda, afinal, preciso exercitar minha mala leche!

Ajuda muito o fato de não precisar perder nossa cidadania anterior, gosto de ser brasileira e é sempre melhor adicionar.

Cheguei em casa, liguei para meus pais para contar as novidades: agora tenho dois aniversários e vou casar outra vez aqui na Espanha! Maravilha, mais motivo para festas.

Como disse, Luiz tirou o dia livre, resolvemos aproveitar e saímos para almoçar bem! Fomos a um restaurante italiano ótimo aqui perto de casa, o Più di Prima.  Um vinho italiano para variar um pouco e celebrar.

Para completar a perfeição do dia, era sexta-feira! Ou seja, sem preocupações em acordar cedo no dia seguinte. Portanto, óbvio que queria sair à noite para seguir no alto astral e não foi preciso pensar muito para decidirmos ir ao El Junco. Era o show de uma conhecida e emendamos por lá mesmo. Encontramos os amigos queridos e já estava quase amanhecendo quando voltamos para casa!

Faz tempo que não tenho um dia em que sou tão feliz por tantas horas seguidas! E por dias assim, agradeço. Que venham muitos mais e que possa compartilhá-los!

E haja garganta!

Chegou a primavera! Com ela, um festival de alergias, como de costume. Eu me tornei alérgica em São Paulo, já era adulta e nem posso reclamar porque a minha não é das piores. Mas olho em volta e está todo mundo meio mais ou menos. Quando foi que o planeta se tornou tão alérgico? Até meu gato tem asma!

Felizmente, não deixo de fazer as coisas, mas minha garganta está um lixo! Tenho uma porcaria de uma tosse seca (alérgica) que não me deixa livre por meses, é realmente um saco!

Essa semana temos uma das últimas reuniões com o governo, para acertar nossa cidadania espanhola. Não temos certeza absoluta se já juraremos a bandeira ou será marcado o juramento. É mais provável que seja só marcado o juramento. Confesso que isso também tem me deixado ansiosa. Vou tocando o barco porque não dá para parar a vida, mas é difícil não passar pela cabeça de vez em quando. Como pode um pedaço de papel ser capaz de mudar tanto sua vida? Uma dia você não pode e o outro você pode, mas você segue sendo a mesma pessoa.

Conto isso porque acredito que minha tosse só vá passar depois dessa etapa superada. Antes preciso que esse sapo se desentale da minha garganta!

Por outro lado, falando em garganta, o canto tem surgido no meu caminho novamente. E com ele, o gosto pela percussão.

Em uma das últimas festas a gente soltou a voz e bateu a vontade de resgatar o coral. Vamos tentar, acho que pode ser bacana e tenho saudades de melhorar a voz. Minha amiga cantora também me chamou para uma palhinha em um show e estou amarradona! Ou seja, preciso acabar com essa tosse urgente!

Quanto à percussão, parei de ter aulas e para ser sincera, acho que dei uma estacionada. Mas agora, também nas últimas festas, rolaram umas batucadas ótimas! É a hora que aproveito para me misturar com quem sabe tocar e pegar alguma manha, do tipo monkey see, monkey do. Ajuda muito quando tem profissionais puxando, principalmente um violão bem tocado. Sem falar que os amigos são legais e dão a maior força. É verdade que onde todo mundo se conhece o risco do erro é bobagem, não atrapalha tanto (espero!).

E viva a tolerância dos vizinhos! 

Enfim, é primavera! E apesar dos seus pesares, adoro quando ela chega. Os dias começam a se alongar e a temperatura ameniza. Ainda está frio, porém não me queixo; gostaria de um pouco mais de sol, mas já chegará.

Uma celebração de boda e dois aniversários

O fim de semana foi bastante movimentado. Na sexta-feira, a festa dos nossos 17 anos de casados. No sábado, o aniversário de 50 anos de uma amiga. Ou seja, muitos anos juntos prometendo celebrações de peso. No domingo, ainda tínhamos dois convites naturebas para picnics, mas passamos porque ninguém é de ferro! E na terça, para completar, mais uma festinha surpresa!

Começando pela nossa festa, como contei antes, foi decidido meio que às pressas. Chegamos de Viena no domingo bem cansados e com a casa vazia de compras, tinha que providenciar tudo. Sem falar do eterno glamour de volta de viagem, onde você tem cestas e cestas de roupa suja para dar cabo! Mas enfim, todo o planeta sabia que os dias iriam passar e eu iria me animar, então, contei com a antecipação do ânimo para convidar as pessoas e confiei no caos.

Não inventei muita moda para não me complicar. Dei peso aos queijos e frios, comprados perto de casa no Mercado de Barceló, que aliás estou fã! Tudo de qualidade excelente e muito fresco! Admito que é Luiz quem me motiva a ir por lá, porque se depender de mim, fico com preguiça de carregar as coisas e peço tudo pela internet!

Bom, acabei fazendo mais algumas coisinhas: canapés de chalota caramelizada com maçã e de ovos de codorna com caviar; salmão defumado; quibe; molho de yogurt com pepininhos; creme de aspargos e batatinhas, frutos secos, azeitonas, enfim, nada que fosse muito trabalhoso, mas que ficasse gostoso e houvesse fartura. O pão tem que ser da Le Pain Quotidien e encomendei um bolo com uma amiga que é fera.

Convidamos os amigos que cabiam em casa e voilà: festa express!

 

Como sempre, tudo de bom, alto astral e batucada improvisada. Ainda nos faz falta um violão que puxe, mas fazemos o possível e a gente se diverte. O importante é celebrar esses momentos e não deixar passar em branco. Porque as tempestades nos dão um tempo, porém mais cedo ou mais tarde chegam para todos e precisamos ter as baterias recarregadas. Boas memórias funcionam como amuletos poderosos nos momentos difíceis. Que eles demorem bastante a chegar e quando cheguem, tenham sua intensidade reduzida dentro de uma perspectiva maior.

 

Pois bem, casa devidamente energizada e os últimos convidados se foram pouco depois das 5 da manhã.

Sábado estávamos mortinhos da silva, mas coragem que tem festão à noite para ir! E até mais fácil, porque não tínhamos que organizar nada!

Muito bem, a festa era de uma amiga que fazia 50 anos. É engraçado como essa data tem um peso forte, não tinha me dado conta do quanto ela está próxima até esse último fim de semana. Caminho para os 42 anos, já não está tão longe assim. Enfim, reconfortante saber que essa amiga comemorou os seus aninhos fechando um bar, com música ao vivo e tudo! Tribos distintas e que bem se relacionaram.

Da banda contratada, dois dos três músicos estavam na festa aqui de casa no dia anterior batucando, de maneiras que Luiz e eu fomos chamados para contribuir no caxixi, e lá fomos para o palco canjear. Tamanha intimidade, parecia até que também éramos parte da banda! Também, todos amigos, ninguém estava se importando muito!

O pessoal do coral estava por lá e no final da apresentação da banda a gente se animou a cantar um pouquinho. Há alguns meses não nos reunimos, demos um tempo do coro, essa palhinha despertou vontade na galera de voltar. Mas essa é uma outra história que conto depois.

 

Não me lembro exatamente que horas nos fomos, esperamos o parabéns e Luiz me pediu arrego!

Domingo, morgação total! Não colocamos nem o nariz na rua! Foi quando aproveitei para dar a notícia ao Luiz: terça-feira temos uma festa surpresa para ir! Ele me olha com aquela cara de desespero: outra? Calma, essa é cedo, às 19:30 no Kabocla!

Na terça ele conseguiu não chegar tão tarde do trabalho, já estava pronta e com o presente esperando. Felizmente, o Kabocla fica a uns 5 minutos caminhando da nossa casa.

Olha, eu tenho implicância com festa surpresa, não vou negar. Aliás, surpresas de modo geral, quase todas são estressantes ou dão confusão. Mas essa, juro que achava que daria certo desde o início. É que o aniversariante é muito boa praça, do tipo que se encaixa em qualquer programa com a maior tranquilidade.

E assim foi, festa ótima! Música excelente, ainda que os convidados não estivessem prestando muita atenção. É que em festa as pessoas se distraem, é normal, mas para mim é o oposto, é quase impossível não notar se a música é boa. Da mesma maneira que a música ruim me deixa agoniada e com vontade de sair logo do ambiente, não consigo abstrair, o que felizmente, não era o caso. Não saímos muito tarde, antes das 23h estávamos em casa. A maioria das pessoas também não esticou muito, exceto pelos amigos artistas e músicos, o resto trabalha cedo.

Hoje é sexta-feira, ainda não sei se faremos alguma coisa mais tarde, mas acho difícil. Luiz acordou às 4 da manhã, foi trabalhar em Bilbao ou algo assim. Acho que vai chegar morto, mas nunca se sabe… Às vezes, uma descansadinha e ele anima. Mas não vou insistir porque amanhã tem outro aniversário de uma amiga!

Todo mundo resolveu fazer festa de aniversário? Que bom!

De volta a Viena

Pegamos novamente a estrada em direção à Viena, afinal, tínhamos entradas para uma Ópera que começava às 19:30h. Foi o tempo de chegar no hotel, deixar as malas, trocar de roupa correndo e tocar para o teatro.

A ópera era “La Sonnambula”, de Vicenzo Bellini. Dessa vez, finalmente conseguimos um bom lugar sentados e não precisamos sofrer na geral. Eu adorei a experiência! O teatro é lindíssimo e é o máximo você ter os músicos tocando ao vivo. Mas preciso confessar uma coisa, imagino que a intenção do Bellini era escrever uma obra intrigante e dramática, acontece que a história me pareceu uma grande comédia e tive que controlar o tempo inteiro a vontade infantil de dar gargalhadas.

É o seguinte, trata-se do dia do casamento da Amina com o Elvino, um casal extremamente apaixonado e exultantes de felicidade ingênua e amor puro. Ou seja, dois chatos! A vilã é a Lisa, que trabalha no hotel onde eles vão se casar e tem um olho no Elvino, ela morre de inveja da Amina e acha que ela é que devia casar-se com ele. Suas caras de despeito durante a ópera é o que há de melhor! Começa com a festa que antecipa o casamento que será no dia seguinte. Muito bem, o Elvino já chega atrasado porque parou no túmulo da mãezinha dele e chega na festa com o retrato da falecida, desejando que a Amina seja tão boa como sua mãe, que tenha todas as suas virtudes e o faça tão feliz quanto ela fez ao seu pai. Hein? Como é que é? O cidadão chega para casar dizendo que quer que você seja igual a mãe dele? Vamos combinar, um babaca, né? Mas tudo bem, a chata da Amina acha tudo lindo.

Bom, no meio da festa chega um tal de um conde, muito mais gato que o Elvino e com pinta de canastrão italiano. Ele dá um certo mole para a Amina, que se comporta como uma lady, mas o Elvino morre de ciúmes. Cá entre nós, ele bem que merecia o chifre, mas a pateta da Amina é louca por ele e é toda compreensiva pedindo que ele confie nela e no seu infinito amor.

Daí todo mundo vai dormir e só fica a Lisa e o Conde. Rola um clima entre os dois, se dá a entender que rolou alguma coisa mais até que se ouve um barulho, a Lisa se assusta, sai correndo e deixa uma meia e um sapato no quarto do conde.

O conde vai ver o que está acontecendo e resulta que a Amina é sonâmbula e aparece toda fresquinha de camisola para o canastrão do conde. Ele se sente tentado em se aproveitar da situação, mas como um cavalheiro se sente comovido porque a Amina mesmo dormindo só fala do seu casamento com o amado Elvino. Por isso ele não faz nada, só espera ela terminar de se deitar no chão, a cobre com seu casaco e vai embora. Fala sério, não rolou nem uma mãozinha boba? Duvido! Historinha para boi dormir, né? Eu acho que a Amina estava bem é se aproveitando e tirando uma casquinha do conde. Mas vá lá…

A canalha da Lisa está assistindo tudo e quando o conde termina de cobrí-la com seu casaco, corre para acordar o Elvino e todos do hotel. Quando eles chegam e encontram Amina ali, com suas roupas íntimas e coberta com o casaco do conde é aquele bafão!

O idiota do Elvino tem um ataque de piti (essa coca é fanta!), desiste de casar com a Amina e sabe o que ele faz? Substitui a noiva! Chama a Lisa para se casar no lugar dela.

A otária da Amina sofre inconformada e vai dormir! Hã? No meio desse bafafá ela vai dormir?

Durante a celebração da festa dos novos noivos, a dona da hotel, que é como uma mãe para Amina, desmascara Lisa e diz que encontrou sua meia e seu sapato no quarto do conde! Outro bafão! O imbecil do Elvino consegue ser corno duas vezes na mesma noite!

Muito bem, o conde resolve esclarecer aquela história e conta que Amina é totalmente inocente. Ilustras os convidados sobre o sonambulismo. Esses não acreditam nessa historinha (nem eu).

Mas de repente… lembram que a Amina foi dormir? Pois é, aparece a Amina sonâmbula, com o mesmo sonho idiota sobre o Elvino. Como ela o ama…. que ele é o único da sua vida… que deseja que ele seja tão feliz como ela é triste agora (blarg!)… blá blá blá… aliás, lá lá lá…

E assim, fica provada a inocência de Amina. Elvino volta a querer casar-se com ela e tudo fica resolvido!

Tudo bem, pieguices à parte, eles cantam para caramba e os  músicos são fantásticos! Assim que valeu!

Saímos de lá famintos! Mas não tínhamos nada reservado. Havíamos passado por um lugar chamado The Ring que pareceu interessante e depois de rodar daqui para lá, decidimos tentar. Outra surpresa agradabilíssima! Seu restaurante, o At Eight é comandado por um chef super jovem e promissor. Fechamos a noite com chave de ouro, destaque para o prato principal, um mar e terra, coelho com panquequinha de lagosta de correr para o abraço!

Dali nos despedimos de nossos amigos. No dia seguinte eles seguiriam para Milão e nós teríamos mais um dia na cidade.

Acordamos com calma e fomos devolver o carro. Na volta, já ficamos passeando pelo centro. Aproveitamos para visitar uma exposição de fotografias da Trude Fleischmann no Wein Museum e bater perna sem grandes compromissos.

No jantar, queria chutar o pau da barraca e conseguimos uma reserva no Imperial. O restaurante é um pouco formal e vale ir mais arrumadinha, o atendimento é bastante gentil e te deixa à vontade, aliás como de maneira geral na Áustria. Comi um tartar de caranguejo dos deuses e um chateaubriand deliciosamente mal passado.

Viagem muito bem encerrada! No domingo, nosso vôo saía pelas 15:00hs. Assim que tínhamos tempo de acordar com calma, tomar nosso café e sair devagar para o aeroporto.

No check out, minha única má lembrança da Áustria, o completo desrespeito às filas. Sério, nunca vi nada parecido, tanto na estação de esquis quanto na cidade, nunca vi tanta gente ter tão pouco respeito às filas. Nesse sentido, são mal educados pacas! Contrasta com a gentileza que se encontra de modo geral. Não se respeitam as filas nunca! Não estava afim de me aborrecer e confesso que levei um tempo para sequer acreditar em tamanha cara de pau. Mas agora que sei do que se trata, se houver uma próxima vez, estou preparada para ser grossa! Mas tudo bem, como diz uma amiga minha, respira azul Bianca!

Lá fomos nós para o aeroporto, com saco para pegar uma conexão em Milão. Na sala de espera e com as malas despachadas, descobrimos que o vôo estava atrasado e, consequentemente, seria impossível seguir na conexão prevista. Fico eu na sala de espera e sai Luiz para ver o que consegue.

Volta ele dizendo que conseguiu nos trocar de vôo, agora iríamos via Frankfurt e tínhamos que correr para embarcar em uma sala ao lado. Mas nossas malas não vão para Milão? Aparentemente, eles trocariam a bagagem de avião. Ah, tá…

Parênteses: lembram que na ida tínhamos excesso de bagagem, né? Então, na volta resolvemos trazer uma mala de mão, com 10 kg. O que costuma ser a média de peso para bagagem de cabine. Na hora de embarcar, descobrimos que não eram 10 kg e sim 8 kg, coisa que ninguém daria tanta bola, a não ser o infeliz do filho de mãe na zona que nos embarcou e resolveu nos tomar como exemplo e pesar a bolsa na hora de entrar no avião! Senhor, sua bagagem tem 2 kg a mais, precisa entregar na porta do avião para eles despacharem. Luiz ficou com aquela cara de quem ia socar o indivíduo. Eu confesso que nem achei tão ruim, me estresso mais com o Luiz que com a situação, afinal, despachamos a tal da mala sem pagar nenhum excesso. Claro que pelo caminho vínhamos pensando se alguma das nossas malas chegariam ao destino conosco!

Muito bem, as três malas que íam para Milão e foram trocadas encima da hora chegaram perfeitamente, acredite se quiser! A mala que foi despachada na porta do avião não apareceu!

Taquiupariu, outra vez! Na ida e na volta! Lá fomos nós fazer a reclamação. E encurtando o suspense, apareceu no dia seguinte e trouxeram na nossa casa. Pequeno detalhe, moramos no terceiro andar de escadas e me entregaram aqui na porta! Se soubéssemos, melhor seria haverem extraviado todas e não teríamos que fazer tanta força!

Ainda tínhamos um jantar marcado nesse dia da chegada em Madri, mas nosso amigo mudou de planos. Uma pena, mas sim que estávamos meio cansados. A amiga que ficou em casa com o Jack nos fez almôndegas e bateu um bolão! Tudo que queria era agarrar meu gato gordo e dormir na minha caminha. Jack estava tranquilo, aparentemente nossa catsitter o conquistou devagarzinho. Mas acontece que somos seus donos há quase doze anos e ele estava que não se aguentava de felicidade, cheio de gracinhas e denguinhos para pedir atenção.

Enfim, missão cumprida! Ótimas férias com um pouco de tudo: cidade, natureza, noite, dia, amigos, paz, comilança, exercício, cultura, diversão, música, silêncio, alarme disparado em museu…

And that’s all folks!

Going to Going

Seguindo nossa última viagem austríaca, saímos no domingo de Viena em direção a Going. Para quem fala inglês, é um nome engraçado para uma cidade e gerou várias piadinhas e diálogos bizarros ou quase existencialistas: Where are we going? We’re going to Going! So, are we staying in Going? Are we leaving from Going?

Going é uma cidade pequeniníssima, praticamente de passagem, o que deixava seu nome, traduzido como “indo” em português, mais curioso ainda. Faz parte de um conjunto de quatro ou cinco cidadezinhas que comporta a estação de esquis Wilder Kaiser. Aliás, não era a única cidade de nome peculiar, a seguinte se chamava Ellmau, que na sonoridade seria como “O mau” em portunhol. Injusta associação, pois era onde havia o maior movimento de bares e restaurantes, além do único lugar para dançar da região.

O hotel Blattlhof foi escolhido pelo Luiz meio que às cegas por um desses websites de buscas. De maneiras que não tínhamos muita certeza do que encontraríamos pela frente. A verdade é que era um local bem simpático, aconchegante e agradável, com um atendimento para lá de gentil. Escolhemos o sistema de meia pensão, que incluía o jantar ao módico preço de 7 euros por cabeça. Pensamos que, mesmo que fosse ruim, não perderíamos tanto e valia arriscar. Gratíssima surpresa, pois era bem servido e muito gostoso. Além do que, no fim de um dia de esquis, você não quer muito assunto fora do hotel e nem havia tantas opções assim.

Não há muito o que contar sobre essa semana, na verdade, os dias eram bastante iguais, o que nesse caso era exatamente o que buscávamos. Acordávamos não tão tarde, íamos para a estação de esquis e nos dividíamos de acordo com o nível de cada um. Eu tratei de contratar um instrutor para me acompanhar e corrigir meus fundamentos. Luiz não gosta de esquiar sozinho, mas já estava acompanhado, portanto, não me preocupava. A partir das 14 horas, quando minha aula acabava, nos reuníamos para comer alguma coisa e dar uma volta pelo local. Chegávamos por volta das 18 horas no hotel, exaustos! Era o tempo de tomar um banho, descansar um pouco e descer para jantar. Nossos quartos eram ligados pela varanda e, às vezes, também tomávamos um vinhozinho e uns queijinhos antes de descer. Eles jantam e dormem cedo por lá, nas estações as noites não são tão valorizadas. Comíamos bem, tomávamos um vinhozinho e dormíamos cedo também. E o dia seguinte era praticamente igual ou muito parecido.

No nosso último dia em Going, único que não tinha aula de esquis contratada, resolvi mudar um pouco minha programação. Minhas canelas já estavam doendo das botas torturadoras de esquis e não tinha mais espaço para hematomas nas minhas pernas. Às vezes é difícil entender porque a gente faz isso de propósito e insiste em repetir! Galera, hoje a gente se separa, trouxe minhas queridas botas de trekking e vou fazer um pouco de trilha. Fazer mais do que três dias a mesma coisa começa a me incomodar. Eu gosto de esquiar, mas preciso de uns intervalos e logo tenho vontade outra vez.

Foi ótimo! Sou um animal social, amo companhia e meus amigos, mas sempre preciso de alguns momentos com meu umbigo para caminhar ou escrever e ordenar os pensamentos. Assim, quando os encontro, meu humor está muito melhor e estou até com saudades.

Uma coisa interessante é que ali descobrimos que a cidade faz parte da rota de um dos Caminhos de Santiago. Sem planejar, acabei me reunindo com parte do meu inseparável Caminho. Bom saber que ele sempre estará lá para batermos um papinho.

 

Enfim, na sexta-feira pela manhã, descansadíssimos, partimos de volta para Viena. Decidimos parar em Salzburg, para uma visitinha de algumas horas. O suficiente para conhecer a casa onde nasceu e morou Mozart, hoje é um museu, passear pelo centro da cidade à pé e almoçar. Nós quatro já estávamos um pouco saturados de tanta fritura e começamos nosso processo de “desintoxicação”. Luiz e eu comemos uma saladinha e nossos amigos uma bela sopa.

Não esticamos muito e partimos novamente para a estrada. Precisávamos chegar cedo em Viena, pois já tínhamos ingressos reservados para assistir uma ópera.

Nossos amigos se hospedaram em um NH no próprio aeroporto, pois partiriam de madrugada para Milão. Nós conseguimos uma promoção imperdível de um hotel 5 estrelas, o Hotel de France,  por um preço fenomenal bem no centro da cidade. Ficaríamos um dia a mais que eles.

Um intervalo para comemorar nosso aniversário de casamento

Depois eu termino de contar sobre a Áustria, agora estou ocupada! Hoje é 18 de março e fazemos 17 aninhos de casados!

Chegamos de viagem essa semana e não tinha nada em casa, de maneiras que estava com uma certa preguiça de fazer uma festa express. Mas sabe como é, já me conheço o suficiente para saber que a preguiça passaria e comecei a me organizar e esperar a inspiração bater. E claro, hoje tem festa! Meio improvisada, é que não dá para passar em branco.

Nosso casamento parte para o fim da adolescência e é preciso aproveitar os hormônios enlouquecidos e a falta de juízo. Afinal, no próximo ano ele será adulto, poderá até dirigir!

Agora deixa eu correr para a cozinha, tenho uma festa para terminar e muito o que celebrar! Depois eu conto!

PS: O reflexo no vidro não parece aquelas auréolas de anjo na cabeça do Luiz? Depois de 17 anos comigo, isso deve significar alguma coisa…

Chegando em Viena

Ano passado, quando fomos ao Brasil em agosto, durante uma festa com boa quantidade alcoólica na cuca e um charutão nos pulmões, combinamos com um casal de amigos de São Paulo que nos encontraríamos nesse carnaval para esquiar em algum lugar da Áustria. Para quem achava que era papo furado, aviso que a promessa etílica foi devidamente mantida. 

Eu amo carnaval, mas esse ano tocou ao Luiz escolher e ele prefere esquiar. Tudo bem, mas pelo menos vamos dar uma paradinha em Viena? Não conhecia a cidade e tinha bastante curiosidade.

Portanto, no dia 4 de março, partimos de Madri para Viena, com escala em Frankfurt. Não há vôo direto para lá e detesto escalas, mas paciência. Nós costumamos viajar bastante leves, o que não foi verdade dessa vez. Malas para quase 10 dias de viagem, precisava de roupas de inverno, tanto informais, quanto mais arrumadinhas para sair à noite e isso sem contar que as roupas e botas de esqui tomam o maior espaço.

Assim que no total tínhamos 4 malas e uma mochila. E isso porque Jack não foi, caso contrário, ainda teríamos sua bagagem. Uma amiga dormiu aqui em casa para ficar com nosso felino.

Chegamos no check in e descobrimos que não eram 2 malas de 20kg por pessoa e sim até 2 malas, com o máximo de 20kg as duas. Putz, uma mala de 10kg de excesso de peso. Paciência, na volta a gente se rearranja e vem mais uma mala de mão. E por que estou contando essa história? Porque obviamente, uma das malas não chegou em Viena conosco, justamente a que levava meus sapatos e minhas botas de esqui. Tentei não me estressar e acreditar que chegaria. Já nos extraviaram malas antes e sempre chegou.

Aterrizamos no hotel pelas oito da noite e nossos amigos brazucas chegariam mais tarde. Achamos melhor sair para jantar, porque não sabia como funcionavam os horários por lá e corríamos o risco de ficar sem restaurante aberto para comer. Com o tempo, descobrimos que os lugares não fecham tão cedo assim, mas nesse momento a gente não sabia.

Fomos a um restaurante perto do hotel, indicado pela própria recepcionista, muito simpática por sinal. Lugar agradável, boa comida e, porque não, uma champanhezinha que ninguém é de ferro. Luiz ia monitorando pelo celular a chegada dos nossos amigos. Eles saíram de São Paulo e fizeram uma escala em Milão.

Voltamos para o hotel e eles ainda não haviam chegado. Descobrimos que ali mesmo havia um bar interessante, frequentado por gente da própria cidade e não apenas pelos hóspedes. Resolvemos esperar pelo bar, sem grandes pressas para subir ao quarto.

Lendo a impressionante carta de bebidas, não é que tinham cachaças? Sim, no plural, cachaças! O que acontece é que nosso contrabandista favorito se mudou para China e agora nosso estoque de cachaças está evaporando a olhos vistos. Resultado, desprezamos os vinhos e whiskies e caímos na marvada!

Algumas doses depois, chegou o casal de amigos, foi só o tempo deles largarem as malas no quarto e se juntaram à mesa conosco. E não é que nosso encontro deu certo! Saímos de cantos diferentes do mundo para nos encontrar na Áustria!

Só teríamos o sábado em Viena e no domingo, seguiríamos para uma estação de esquis. Portanto, tentamos não acordar tão tarde no dia seguinte, para aproveitar o máximo que desse, mas sem grandes afobamentos. Nos encontramos para o café da manhã e resolvemos passear a pé pelo centro da cidade. Um dos amigos já havia estado por lá e a gente preferiu não esquentar tanto a cabeça e seguí-lo por onde ele nos guiasse. Falei que só queria ir a um Museo, o Belvedere, para ver os trabalhos do Klint e que seria legal se a gente conseguisse assistir a um concerto.

Na saída do hotel, passei pela recepção, por via das dúvidas, mas sem grandes expectativas de encontrar a mala. Pois não é que havia chegado! Maravilha, assim já fui passear mais sossegada.

Rodamos pelo centro da cidade que é bem charmoso, passamos pelos principais edifícios históricos e entramos na catedral de teto colorido. Paramos para comer no Sacher e de sobremesa, me atraquei com a famosa torta de chocolate com damasco.

 

Descobrimos como chegar no Belvedere e lá fomos nós ver, entre outros, os trabalhos do Klint. Uma visita que tinha tudo para ser a tradicional e previsível visita a museu, se não fosse pela mania do meu digníssimo marido de falar apontando e cutucando as coisas (e pessoas). Em um desses empolgados comentários sobre um quadro do Klint, lá foi ele e seus dedões enormes apontando bem de pertinho, até que conseguiu encostar no vidro que protegia o quadro. Obviamente havia um sensor por segurança e o alarme do museu disparou! Sim meus amigos, Luiz conseguiu disparar o alarme anti roubo do Belvedere! Micão dos bons!

É aquele momento que você espera aparecerem guardas armados de metralhadoras apontando para a sua cabeça! Mas a verdade é que nada aconteceu. Provavelmente, não era o primeiro turista cutucão, e as câmeras registraram ele se afastar do quadro com aquela cara de ops-fiz-merda. Fomos saindo de fininho meio desconfiados e quando pareceu que não íamos levar nenhuma bronca, foi aquela sacanagem com o Luiz e a história virou a piada da viagem! Você já tem essa cara de “brimo”, eles tem um histórico com os turcos e você ainda tenta roubar o Klint… A polícia vai esperar a gente lá no hotel, para não ter escândalo aqui! Enfim, dali até o fim da viagem, Luiz passou a ser conhecido como “o turco”! Considerando que nossa integridade física foi garantida, até que foi bem divertido.

Esqueci de contar que durante o dia, conseguimos comprar entradas para um concerto. O problema é que pela falta de antecedência, só havia lugares em pé. No fundo, acho que é uma coisa legal que eles fazem, você tem as cadeiras com os preços diferenciados por local e é bem caro. Mas atrás do teatro, eles vendem para você assistir de pé, pelo preço bastante acessível de 5 euros. Não é nada confortável, mas populariza e dá a oportunidade de qualquer pessoa ter condição de assistir a um concerto clássico ou uma ópera.

Começava às 19h30, de maneira que voamos do Belvedere ao hotel para tomar um banho rápido e já sair para o teatro. Nesse dia, tocou a filarmônica de Viena e eles realmente são bárbaros! Mas admito que depois de um dia bem movimentado, foi cansativo assistir ao concerto de pé. Acabamos nos esparramando pelo chão e assisti quase tudo de olhos fechados. Até porque, sentada no chão, meu visual era um mar de bundas, o que não tinha nada a ver com o fundo musical! No último quarto do concerto que durou duas horas, houve algumas desistências e consegui um bom lugar para ver o palco. Luiz já havia desistido e foi para o bar do teatro tomar uma champagne e nos esperar. Apesar dos pesares, valeu muito à pena.

Bom, minhas viagens não são viagens se não forem gastronômicas. E lógico que havia pesquisado alguns restaurantes que queria ir. Nesse dia, fomos ao Korso, ficava bem perto do teatro. Achei que seria boa opção por ser em um hotel (Bristol), então, provavelmente ficassem abertos até mais tarde. Não nos arrependemos, comemos divinamente bem! Optei pelo menu degustação de três pratos, todos acompanhados por seus respectivos vinhos. De entrada, vieiras preparadas de três maneiras diferentes com alcachofras de Jerusalem. Belisquei a bisque de lagosta do Luiz, que estava di-vi-na! De prato principal, uma vitela no ponto e textura perfeitos, com folhas de mostarda refogadas e batatas cozidas. Os vinhos eram austríacos, não guardei os nomes, mas me surpreenderam positivamente. Eram bem melhores que os alemães que já provei, e que não são meu forte. Jantar nota 10! Ambiente agradável, comida no ponto perfeito, atendimento muito gentil e companhia excelente!

Passava da meia noite e resolvemos encerrar nosso dia. No domingo cedo os meninos foram buscar o carro alugado para seguirmos viagem. Por volta do meio dia, deixamos Viena em direção a uma cidade chamada “Going”. O que claro, gerou mais mil piadinhas, afinal we were going to Going!

Vou ali e já volto!

Amanhã viajo para a Áustria, vamos esquiar! Ficaremos fora até dia 13 de março. Não sei se conseguirei escrever de lá, acho que é bem possível, pois levaremos nosso novo brinquedinho, o iPad. Mas se estiver ocupadíssima e sem vontade de parar para escrever, na volta conto tudo.

O Plano A é parar em Viena um par de dias, engordar um pouco, e seguir para uma estação de esqui desesperada para expulsar todas aquelas tortas divinas dos meus quadris! Não deixa de ser uma motivação para o esporte!

É minha primeira vez no país, assim que tudo é novidade. Um casal de amigos brasileiros, de São Paulo, vai nos encontrar por lá. Então, acho que pode ser bem divertido.

O vôo é com escala e detesto escalas! Por conta disso, acho que não vou levar meus esquis, só as botas. Jack fica em casa com uma amiga que vai dormir aqui para cuidar do nosso mimado felino, que contraditoriamente é um antisocial, mas se deprime em dormir sozinho, vai entender!

E é isso, vou ali e já volto! Tchau!

Cafeína, meu doce e velho vício que se vai…

Pois é, no ano passado andei tendo uns piripaques do tipo labirintite. Fui logo aconselhada por uma amiga: só precisa cortar café, chocolate e álcool. No que me deu vontade de perguntar se também deveria cortar os pulsos! Se ainda por cima tivesse que cortar sexo, podia me matar de uma vez porque não sobrou muita coisa!

Muito bem, não posso dizer que tenho juízo, mas cuido muito do que entra pela minha boca e num pequeno impulso de maturidade resolvi ser razoável e tentar cortar ao menos os excessos. Pensei que se não me cuidasse, poderia chegar o dia em que fosse realmente obrigada a eliminar essas três tentações da minha vida; então, melhor reduzí-las e assim viabilizar seu consumo por mais anos. Minha lógica é um pouco torta, mas foi uma maneira de me motivar.

Chocolate, impossível viver sem, mas diminuí muito, deixo apenas para o limite da gula e para aquela época do mês onde ele é o melhor amigo de uma mulher!

Álcool, veja bem, não dá para deixar de tomar um bom vinho, só se eu estiver mesmo em coma! Mas deu para cortá-lo durante a semana. Ajudou o fato do Luiz estar de dieta há meses. Foi até bom para nosso orçamento.

Restava ele: o café! Ai, o café…

Bebo café desde que tomava mamadeira. Porque no meu tempo (olha a fala de idosa!) não tinha esse negócio de criança que não podia tomar cafeína. Na verdade, nós nem pensávamos na composição do café, café era café e pronto.

Acredito que até começar a trabalhar, era uma consumidora normal. Depois, admito que passei dos limites, minhas doses diárias de cafeína passaram a ser cavalares. A possibilidade de acordar e não haver café era apavorante! Junkie total!

Como a maioria dos vícios, pelo menos dos que já ouvi falar, não é só a substância em si, mas todo o gestual que gira em torno dela. E no caso do café, para mim beirava ao ritual. Desde a preparação, ao aroma, ao local onde bebo, o toque quente da xícara na minha mão…

(Falando nisso, vou na cozinha buscar um cafezinho e já volto)

Acontece que não sentia nenhum grande efeito, além do prazer de tomar um bom café. Meu corpo estava tão acostumado, que podia tomar um balde depois do jantar e não faria minha noite de sono diferente. E talvez essa falta de efeitos relacionados a uma droga tenha me feito acreditar que toda essa bobagem em torno da cafeína era um tremendo exagero. A típica frescura de americano.

Nessa mesma época que me perguntava se deveria cortar ou não cortar a cafeína – eis a questão! – uma amiga próxima teve problemas sérios em relação à sua pressão arterial. E tornando curta uma longa história, ela estava com um tipo de overdose de cafeína. Ela exagerava muito mais do que eu, porque  no caso dela não era só o café, também incluía coca-cola, medicação, enfim, outras coisas que possuíam a substância. Ela teve que excluir a cafeína a nível zero no ato.

Ops! Como é que é? Isso pode matar? Foi a primeira vez que me toquei que o buraco era mais embaixo. Veja bem, não estou aqui em uma cruzada contra a cafeína e muito menos contra o café, pelo contrário, acho que tem seus benefícios. Simplesmente estou dizendo que o excesso pode efetivamente ser perigoso. Aliás, como quase tudo na vida.

Achei que zerar de vez o consumo do café seria um pouco demais. Como coloquei antes, grande parte da minha dependência incluía o ritual, portanto, comecei a substituir o café em casa por descafeinado. Até porque o sabor é muito bom e o aroma é perfeito. Ou seja, passei a tomar uma única dose de café normal diário e complementava com descafeinado.

Comecei a ter dores de cabeça e sonolência todos os dias, não tem milagre. E se por um lado foi incômodo, por outro, me fez ver que realmente estava viciada, não era uma força de expressão. Era mais do que psicológico, era físico. Foi quando tomei a decisão de cortar de vez a pequena dose diária e migrar para o descafeinado em definitivo.

Nunca mais na vida vou tomar um café normal? Vou. Mas em circunstâncias muito específicas e pouquíssimo. Levei meses com dores de cabeça, como em uma desintoxicação, mas agora passou e não quero fazer isso outra vez. O engraçado é que se por alguma dessas exceções tomo um café normal, passou a me acelerar um pouco o coração ou me fazer as mãos tremerem ligeiramente. Muito louco isso! Tomava litros antes e não me dava nada, tomo uma merreca agora e tenho esses efeitos!

Ou estou ficando velha, ou é um bom sinal. Provavelmente, ambos.

Um casamento em casa

Em algum momento por aqui, já contei como Luiz e eu nos casamos. Para quem não sabe, nós casamos porque eu ia trocar de carro. Pelo menos, assim tudo começou.

Não tenho paciência agora em repetir toda a história, então vou me concentrar só no trecho que vem ao caso, nós éramos bastante jovens e não tínhamos a menor idéia de como era casar, o procedimento em si. Nunca tive a mais remota expectativa de me casar, juro, nunca tive a menor vontade de usar um vestido de noiva, nem nada. Assim que quando tomamos a decisão, acreditávamos que para nos casar era só irmos em um cartório, assinar um papel e pronto.

Para o completo desespero dos meus pais, principalmente da minha mãe! Porque, como assim eu ia me casar e pronto, sem nem fazer uma festinha de nada! Resumindo a ópera, ela nos convenceu a fazer não só uma festinha, mas um festão para mais de trezentos convidados! Onde a propósito, praticamente não nos preocupamos com nada, a não ser o fato de aparecer no dia e casar. Foi minha mãe quem organizou tudo, obviamente adorando ter as rédeas das decisões.

Eu ainda não sabia o quanto esse ritual de passagem era importante para a família e só descobri o quanto era importante para mim (para nós) também durante a festa. Se nós não houvéssemos feito uma, não posso dizer que me arrependeria, porque a gente não se arrepende do que não conhece. Mas depois de entender todos os símbolos e do quanto eles nos ajudam a estabelecer laços de memória, virei um tipo de embaixadora das festas de casamento.

Podem ser grandes ou pequenas, de dia ou de noite, simples ou sofisticadas, não importa! Cada celebração tem seu estilo e sua beleza, mas precisa existir esse momento em concreto. E acho que é fundamental que exista alguém assistindo. Pode ser só mais um casal, podem ser seus pais ou um milhão de amigos, mas precisa ser testemunhado e compartilhado. Faz parte do ritual de compromisso e faz diferença.

Muito bem, dito isso, fica mais fácil entender porque quando um casal aqui em Madri anunciou seu casamento durante uma reunião de amigos, a minha primeira pergunta foi: e a festa? Aliás, foi a cobrança geral e imediata de absolutamente todos os amigos presentes!

O rosto da noiva foi de completa interrogação, provavelmente muito parecido ao meu há 17 anos atrás. Vontade, pareceu que ela tinha, mas sem muita idéia do que e como fazer. Disse que a sala no cartório onde era o casamento era muito pequena e mal cabia os pais do noivo. Não daria para convidar ninguém. Ela não sabia como organizar uma festa, o noivo viajava logo em seguida a trabalho, não ia conseguir ajudar na preparação, ambos não haviam se preparado para os custos de um evento.

Não seja por isso, a gente ajuda! Todo mundo colocando pilha para eles fazerem alguma coisa.

Primeiro lugar, onde? Uma amiga e nós oferecemos a casa, acabou sendo aqui. Outra amiga que foi a madrinha, a noiva e eu, começamos a organizar tudo. Em casa cabem 30 pessoas, dentro desse número, chama quem você quiser, só me passa uma lista de confirmados para me programar.

Ainda que o casamento fosse aqui, me preocupava em não me meter tanto, afinal, esse momento é deles, principalmente da noiva. Então, procurei no início mais ouvir do que dar palpite. De repente, comecei a achar que talvez ela estivesse como eu lá atrás e o que ela precisava era justamente de alguém que dissesse o que fazer.

Então, a gente pode fazer assim, posso oferecer o coquetel de presente de casamento? A noiva ficou meio sem graça, com medo de dar muito trabalho. Mas honestamente, dessa maneira ficava muito mais à vontade para me divertir e caprichar. A madrinha ofereceu canapés, a mãe do noivo disse que queria fazer umas empanadas e os convidados trariam as bebidas. Os noivos ofereceram o bolo e a champagne. Beleza, resolvido, festa completa e não ficava pesado para ninguém.

Com carta branca para decidir as comidinhas e uma semana para prepará-las, fiquei igual a pinto no lixo, doida para botar para quebrar! Afinal de contas, é o primeiro casamento que fico responsável pelo buffet, digamos assim. Muito legal, né? Queria que fosse especial sem ser totalmente exótico, que tivesse um toque de elegância, mas fosse despojado, afinal era tudo muito informal.

O resultado final foi o seguinte, três convidados trouxeram algo de comer, que foram os canapés (madrinha), as empanadas galegas (mãe do noivo), tortilhas espanholas (mãe do noivo) e camarões (irmã do  noivo). Fiz caldinho de moqueca, gâteau de cenouras trufadas, vieiras crocantes, kibe com pinholes ao molho de yogurt e hortelã, mini beef Wellington, croustillant de cordeiro, pastel thai de kani ao curry, foie gras, queijos e pães. O bolo foi encomendado de outra amiga, os bolos dela são divinos! Lindos e deliciosos! Esse foi de nozes com recheio de baba de moça.

Couscous de frango
Mini beef Wellington

 

Kibinho com pinholes

Vieira crocante

Foi engraçado estar em casa e não ser a anfitriã. De certa maneira, me deixava mais tranquila para ficar na cozinha sem a preocupação de atender aos convidados. Luiz custou um pouco mais a relaxar, às vezes eu precisava dizer para ele parar de atender a porta e fazer de conta que estava na sala de outra pessoa.

Pensei em fazer a representação de um casamento, meio que na brincadeira, mas para que o símbolo estivesse presente. Durante a semana, baixei a marcha nupcial para ter na trilha sonora. Perguntei se Luiz topava fazer o padre, ele não quis. Pedi para outro amigo que topou, mas estava meio sem graça. Na hora mesmo, ele sugeriu um terceiro amigo, que nunca imaginei que fosse aceitar e topou em dois segundos! Na verdade, embarcou no personagem, pediu um livro preto emprestado para fingir de bíblia, desenterramos uma fantasia de padre (de halloween que tinha em casa), um crucifixo enorme e uns óculos de não sei quem emprestados. Tudo isso feito meio escondido no quarto aos cochichos.

Uma outra amiga fotógrafa ficou de prontidão e Luiz responsável pela trilha sonora no momento certo. Aparecemos assim na sala e foi aquela bagunça, é lógico! Representação completa! O padrinho entrou com a noiva, que havia ganho um bouquet de rosas de presente de um convidado e já serviu para entrar no casório de mentira. A madrinha ficou esperando com o padre falsificado e o noivo. A prima do noivo e eu fomos ajoelhadas na frente, como daminhas de honra, com as alianças em um porta copos. Enfim, uma farra! O padre arrasou na cerimônia, um show a parte, muito engraçado! E todo mundo dando seu pitaco, é claro!

 

Depois a noiva tirou uma das rosas desse bouquet que ela ganhou e jogou para a mulherada. Bom, confesso que nos casamentos de verdade, quando era solteira, eu me escondia nesse momento. Odiava a disputa desesperada pelo bouquet da noiva! Quando era obrigada a ir, ficava lá atrás onde não havia a menor possibilidade de pegá-lo! Mas assim de brincadeira, eu adoro! Todas as convidadas, inclusive as casadas, foram disputar a tal flor do bouquet! Que, lógico, também tinha sua própria trilha sonora!

Luiz finalmente achou uma função na festa para se distrair, brincar com o ipad e o som! Descobriu que por não ser o anfitrião, não precisava ficar o tempo todo tão atento ao conforto dos convidados, e portanto, podia se divertir com o brinquedo novo da casa. Aliás, é realmente ótimo e útil nas festas.

Bolo cortado, brinde aos noivos, tudo nos conformes! Missão cumprida!

 

Acho que ficamos até umas cinco da matina ou por volta disso. Fui dormir feliz, quem sabe tenha saldado minha dívida cármica de ter feito minha mãe quase maluca quando disse que não queria festa no meu casamento! Quem diria que anos depois, estaria eu mesma fazendo questão absoluta da festa dos outros!

E agora, podemos colocar no currículos das nossas festas que até um casamento aconteceu!

A idade da base

Não sei se esse texto fará algum sentido para um homem, mas tenho quase certeza que o universo feminino entenderá.

Se houvesse um desses programas para adivinhar a idade de uma mulher ao visitar seu banheiro, não teria nenhuma dúvida, direto para seu estojo de maquiagem!

Entre os 13 e 15 anos, acho que eu não poderia so-bre-vi-ver sem um lápis de olho. Pintado principalmente por dentro da pálpebra inferior, aquela que a gente aprende mais tarde que é errado pintar porque borra. Mas por algum motivo, quando você tem 13 anos acha simplesmente lindo! Sombra, só se for preta! E geralmente é o próprio lápis contornando os olhos por cima também. Deve ser algum complexo de Cleópatra, sei lá!

Ainda na adolescência, você cisma com batom vermelho! Independente da sua cor, não importa! Na minha época ainda tinha um infeliz de um batom paraguaio permanente, que durava horas e não saía com água. Nos corredores do colégio, a gente descobria que ele era o máximo porque você beijava sem borrar! Aquela porcaria devia tingir a boca da gente! Era uma embalagem plástica verde com uns detalhes em dourado. Ninguém merece!

Bom, pelos meus 16 anos, veio a mal fadada época New-Wave-Punk-qualquer-coisa-esquisita. Daí a gente usava sombras coloridas e blush era fundamental! Aprendi logo a colocar o blush de maneira a afinar as bochechas, ainda que pesasse uns 45 kgs no máximo e não precisasse afinar absolutamente nada! Eu devia parecer uma caveira travesti!

Felizmente, esse período passa. A gente começa a trabalhar e, pelos 20 anos, a qualidade da maquiagem melhora drasticamente, assim como nosso senso estético. A máscara de cílios passa a ser sua melhor aliada. Você coloca e parece que seu rosto se levanta, nem precisa mais de nada. Com o tempo, um pontinho de sombra branca bem no começo dos olhos (no lugar onde nasce a remela), dá uma iluminada show!

Vai chegando pelos 30 e um delineador vem bem, aliás, muito bem! Além disso, você começa a entender porque existe o pó compacto.

O pó compacto é só uma preparação para o que você só vai entender mesmo pelos 40 anos: a tal da base.

Pois é gente, devo dizer que cheguei à idade da base… É dureza! Não há maquiagem que preste se não começar por ela.

O problema é que olho para frente agora e imagino qual será a próxima fase? O que falta em termos de recurso? Cimento branco?

Olho para as senhorinhas espanholas e vejo as mesmas sombras coloridas, o batom vermelho e o blush marcado do passado! Será que assim como tendemos a nos comportar como crianças quando envelhecemos, nossas maquiagens também voltam ao estilo original?

Alguém pode me matar se isso acontecer? Por favor!

Codega

Tenho uma amiga que acha a melhor coisa do mundo realizar os sonhos alheios! Conheço ela o suficiente para saber que é sincero e acho o máximo! Entendo, por um lado, o princípio da generosidade e, por outro, o da consciência do quanto recebemos em troca, como experiência e aprendizado. É como se a energia da gentileza se alegrasse e te abrisse passagem para um nível de felicidade.

Ela chegou ao ponto de conseguir fazer isso propositalmente, sem constrangimentos e, ainda assim, mantendo a espontaneidade. Juro! Não alcancei esse nível de altruísmo, mas sim que o compreendo e me sinto bem realizando, se não sonhos, porque me parece bastante pretencioso, mas pequenos desejos, coisas que nem me custam tanto, mas podem ter impacto na vida das pessoas.

Não faz tantos anos, entendi o que talvez seja meu papel no mundo. De uma maneira simplificada, me tocou correr riscos, experimentar e depois voltar para contar o que aprendi a quem quiser escutar. Ainda que não corra riscos fantásticos ou totalmente extraordinários, como escalar picos nevados (ainda), me dei conta que a maioria das pessoas também não está tão interessada assim em conhecer a sensação de congelar o nariz ou perder um braço. Às vezes, importa mais compartilhar algo prático, mundano e possível. E que assim mesmo, assusta um monte de gente.

Essa semana, estava lendo “Comer, Rezar, Amar” e aprendi uma palavra nova que adorei: codega. Era um tipo de profissão que surgiu em Veneza, na idade média. Tratava-se de um sujeito que era contratado para andar na sua frente à noite, com uma lanterna acesa, mostrando-lhe o caminho, espantando ladrões e demônios. Na verdade, acho que era mais para o povo não se perder mesmo, considerando que Veneza é realmente um labirinto, e certamente espantar ladrões e aproveitadores, mas os demônios deixaram a função mais poética. A metáfora de trazer segurança e proteção pelo escuro é linda!

Não tenho força, treinamento ou coragem de sair por aí espantando bandidos de carne e osso, mas adoraria ser uma codega para medos e demônios alheios. Sempre tive a sorte de carregar a sensação constante de ser protegida. A sensação pode corresponder a algo real, irreal ou surreal, não importa, porque enquanto estiver comigo funciona como um amuleto poderoso. Mas só há pouco tempo, descobri como é aconchegante e realizadora a sensação de proteger.

E tenho um monte de protegidos, declarados ou secretos.

Passei a vida inteira dizendo que não gosto de cuidar de ninguém. Não sei exatamente quem queria convencer com essa bobagem, provavelmente eu mesma. Porque toda vez que paro para reparar um pouquinho só, me percebo tomando conta de todo mundo que está em volta. Eu tomo conta até dos cachorros que andam sem colera na rua! Só consigo relaxar quando tenho certeza que existe um “dono” e sei que ele não está sozinho. Talvez seja o momento de assumir esse terrível desvio de personalidade que reluto tanto! E afinal, qual é mesmo o problema? Por que reluto tanto?

E por que surgiu toda essa elocubração?

Esse ano de 2011 surgiu com bastante otimismo, tanto da minha parte como de muitos amigos. Pode ser apenas por ser início de ano, onde o otimismo prevalece, mas as previsões de maneira geral pareciam boas.

E, realmente, uma série de amigos meus tiveram começos de ano com portas muito interessantes e promissoras se abrindo. Fiquei, honestamente, feliz por todos eles, sem exceção! Todos mereceram.

Mas não vou negar que me passa aquela ponta de pensamento, será que comigo também vai se abrir uma porta em breve? Quando será minha vez? O que de bom vai me acontecer? Será que deslancho para algum lado? Será que me falta dar algum passo? Se o universo está se abrindo em oportunidades, não quero perder por não estar prestando atenção.

Abro um parênteses para contar uma outra história, até porque na verdade, o que quero dizer é o resultado de um emaranhado de histórias diferentes e em tempos diferentes, mas que de alguma maneira, me fizeram mais sentido hoje.

Voltando, uma vez estávamos dando um jantar em casa para um casal de amigos, que gentilmente elogiavam meus talentos artísticos e culinários. Agradeci e brinquei mais ou menos sério que um dia gostaria de ter um talento que pudesse me dar algum dinheiro! Afinal, nenhum dos meus “talentos” atualmente paga contas! No que meu amigo me respondeu de bate pronto, como algo lógico: você tem o Luiz. Veja bem, essa frase poderia ter a interpretação machista do marido responsável pelas contas da casa, mas tenho certeza absoluta que não foi o que ele queria dizer. O fato é que ninguém faz praticamente nada sozinho. De uma forma ou de outra, sempre dependemos de alguém em algum nível, financeiro, operacional, emocional, afetivo etc. Nesse caso, o dinheiro, por exemplo, é uma forma literal, mas ele nunca é um fim por si só, ou não deveria ser. O que ele quis dizer é que éramos uma equipe bizarramente equilibrada.

Nem tudo na vida é tão simples e no fundo acho bom não estarmos totalmente satisfeitos, pois essa ansiedade da busca também pode ser bastante produtiva. Mas, nesse momento, vou me ater ao fato de que praticamente tudo de importante na vida é sempre feito por mais de duas mãos. É tão pretencioso acreditar que se alcança metas totalmente sozinho, como é um desperdício não desfrutar do mérito alheio quando você, de alguma maneira, teve uma participação.

Não estou falando de reconhecimento. Reconhecimento é legal, massageia o ego. Mas o que estou dizendo é que também é bastante recompensador saber que você contribuiu para o sucesso de alguém. Porque no fundo, é seu sucesso também, mesmo que apenas uma parte dele.

Há um tempo atrás, escrevi a biografia de uma amiga. Foi um trabalho a quatro mãos, ela me passava o conteúdo e eu dava a forma. Ao longo desse trabalho, entendi porque ela me procurou, o livro era um presente para o filho e havia seus motivos que não vem ao caso, mas ela precisava de ajuda para transmitir esse conteúdo de uma maneira que ela não sabia como. Fui chamada à responsabilidade, não por ela, mas pela situação. Eu poderia simplesmente lavar minhas mãos e limpar o texto, sem me envolver ou me preocupar tanto. Mas o fato é que me envolvi, me emocionei algumas vezes e me preocupei sinceramente em como o filho receberia esse presente. Por ser a história dela, procurava ao máximo possível usar suas expressões e maneira de pensar. Porque o importante era ele reconhecer sua mãe, não uma personagem que eu inventava ou que me faria sentir melhor. O presente era dela para ele, eu era apenas a intermediária, quase uma tradutora. Ao mesmo tempo, me colocava direto na posição do filho, de como ele poderia ler da maneira mais leve e carinhosa possível. Ou em outras palavras, como não costumo gostar de admitir, estava cuidando dos dois, queria que tudo desse certo.

Resumo da ópera, essa semana ela me manda uma mensagem avisando que ia entregar o livro a ele naquele dia. Ai, meu santo, que nervoso! Parecia que eu tinha alguma coisa a ver com isso… até porque, eu tinha mesmo! No momento que pus meu dedinho, querendo ou não querendo, eu tinha a ver com isso! O bem deles era o meu bem também.

Não vou fazer suspense, deu tudo certo e, pelo o que ela me contava, foi muito bacana. Fiquei uma mistura de feliz com aliviada, mas o que eu nunca esperava era que o filho também me escrevesse hoje. E confesso que foi o que me tocou mais fundo e fez cair a ficha do quanto eu pude fazer parte de uma história que não era minha, pelo simples fato de querer que tudo ficasse bem. Por assumir uma responsabilidade com o outro. Era de se esperar que depois de meses escrevendo sobre a história de uma amiga próxima e do seu filho, sentisse que conhecia os dois. O que não imaginei é que um rapazinho com idade para ser meu filho também pudesse me reconhecer tanto simplesmente pela maneira que escrevi.

Ele me disse que foi o presente mais bonito que já recebeu na vida. O presente é da mãe dele, é claro, mas vamos combinar, nem que fosse só embrulhando o pacote do presente mais bonito que alguém recebeu na vida, não é o máximo? Eu nem sei explicar o tanto que eu fiquei feliz!

E por esse grão de areia, viajei na maionese o dia inteiro! Fiquei entrelaçando todas essas histórias.

Fiz até uma lista dos meus melhores presentes na vida, porque não consegui ainda eleger o presente mais bonito, the ultimate gift!

–         Um cordão com uma placa de ouro do mês de novembro com um brilhante no dia do meu aniversário: presente dos meus pais, eu era garota, acho que uns 10 anos e me senti muito adulta ganhando uma jóia.

–         Uma aliança de brilhantes que ganhei da minha avó por parte de mãe. Foi motivo de briga no começo. Minha mãe se recusava a me dar porque eu era muito criança e ela achava um absurdo eu ganhar uma aliança, coisa de mulher casada! Porque afinal, eu nem entenderia o valor daquilo! Minha avó dizia que a aliança era dela e ela dava para quem ela quisesse a hora que ela quisesse! A solução foi ela me dar, mas minha mãe guardar até eu ficar mais velha. Guardou durante anos e me deu pouco tempo antes de eu ficar noiva (pela primeira vez, quando a propósito, desisti de casar).

–         Um jogo de porcelana polonesa que minha avó por parte de pai havia ganhado de presente no seu próprio casamento. Ela também me deu por ter ficado noiva. Quando desisti de casar, perguntei se ela o queria de volta e ela disse que não, só não queria que desse para mais ninguém, era meu para quando eu casasse com quem bem eu entendesse. Casei anos depois com Luiz e trouxe o jogo comigo. Tenho ele até hoje, nunca me rachou um prato por todas essas trocentas mudanças em três países diferentes.

–         Uma tábua de passar roupa do meu irmão quando casei de verdade. Ele era universitário na época e provavelmente era o mais caro que ele podia pagar na minha lista de presentes.

–         Meus dois gatos, quando fiz 30 anos, ganhei do Luiz. A gatinha morreu em Atlanta, com 5 anos. Jack segue gordo e feliz conosco, caminhando (bem lentamente) para seus 12 anos.

–         Um álbum que ganhei da minha mãe, com uma coletânea de fotos dos momentos mais importantes desde que eu era bebê até ficar adulta e sair de casa.

–         Meu sobrinho me deixar levá-lo em uma loja de brinquedos no dia do seu aniversário, sozinho, e escolher o que quisesse ganhar, sem limite de preço ou tamanho. E para quem não acredita na espontaneidade infantil, ele nunca escolheu o mais caro ou maior, mas o que ele mais queria de verdade.

–         Uma caneta Mont Blanc que dei para Luiz quando estávamos namorando. Me custou um mês de salário, mas achava o máximo ele usar no bolso a mesma caneta que seu gerente e seu diretor!

–         Um trenzinho de cristal para o meu pai, quando descobri que ele adorava esses objetos. Sempre foi dificílimo achar alguma coisa diferente para o meu pai que não fosse comida.

–         Ops! Para quem mesmo eram os presentes?

Pois é, de repente aconteceu outra vez! Porque começou a ficar difícil separar o que era presente, dar ou receber?

Não sei que portas vão se abrir para mim esse ano, mas lembrei de outras que ajudei a abrir e que nem foram para mim. Mas no final, sim que foram. A felicidade de quem está a minha volta é a minha felicidade, faço parte dela e não tenho porque não desfrutá-la. Talvez eu esteja esperando muito do futuro e já tem um monte de coisas acontecendo todos os dias. Talvez eu esteja muito “masculina” e tenha voltado a relacionar minha vida a um trabalho remunerado. Um dia ele vai aparecer, se tiver que aparecer, mas a essa altura nem sei mais se é o mais importante que posso fazer. Na melhor das hipóteses, se eu realmente tiver sorte, será apenas uma ferramenta para algo maior.

Cuidado com o que desejas…

Hoje é dia dos namorados na Espanha, na verdade, também em alguns outros países, porque é dia de San Valentín.

Desejei então, que Luiz chegasse cedo do trabalho e, ardente, não quisesse  mais sair da cama… ele chegou pela hora do almoço porque  não aguentou trabalhar mais do que isso, gripadaço, deitou e não saiu da cama até agora com uma febre daquelas!

Acho que o pedido deveria ter sido mais específico… joder! (por exemplo)

Grafiteiros em Madri

Pois é, incrivelmente, acordamos cedo no domingo e inventei de ir tomar um brunch na “Le Pain Quotidien” da Calle Fuencarral. Depois resolvemos dar uma voltinha a pé pela rua.

Vi um grafiteiro e um pessoal fotografando. Pensei, legal, deve ter sido algum trabalho contratado. Logo em seguida, outro grafite e mais gente fotografando… ué, domingo é dia de grafitar?

Entramos na Corredera Alta de San Pablo e uma galera grafitando todos os portões fechados das lojas! E uns trabalhos bacanas, pelo menos para mim que gosto de grafite bem feito.

Outra turma de fotógrafos e cinegrafistas acompanhando e registrando tudo, ou seja, não foi uma coincidência dominical, era um evento organizado. E um ponto importante, respeitaram as fachadas das lojas e edifícios residenciais, só pintaram os portões de metal do comércio.

Ainda não sei qual será a repercussão, mas pessoalmente, gostei muito. Acho que deixou nossa rua mais colorida e animada do que já é.

Por uma incrível coincidência, marcamos uma aula de fotografia com uma amiga nesse mesmo dia, aqui em casa. E, quando saímos no fim da tarde para praticar o aprendido, tínhamos um cenário e tanto para aproveitar.

E para quem quiser um gostinho do que foi, aí vão algumas das novas obras democraticamente espalhadas pela nossa vizinhança.

PS: Um pouco mais de informação para quem se interessou. O evento se chamou “Persianas Libres”, persianas em espanhol também são esses portões de ferro que fecham as lojas. Abaixo a reportagem que saiu no El País de hoje, dando maiores detalhes sobre a iniciativa entre comerciantes e grafiteiros no bairro de malasaña , onde moramos:  http://www.elpais.com/articulo/madrid/Malasana/lienzo/blanco/elpepiespmad/20110207elpmad_3/Tes

Sexy shop: quem nunca teve curiosidade de entrar em um, que atire a primeira pedra!

Meninos, sugiro que vocês saiam da sala, porque aqui o papo é de mulher para mulher! Fala sério, quem nunca quis ir a um sexy shop? Nem que fosse só por curiosidade!

Quando começou a se falar desse tipo de loja no Brasil, eu morava em São Paulo e já era casada com Luiz. Um belo dia, resolvemos ir a um para ver como era, me senti moderníssima e super atrevida com a idéia!

Se alguém espera alguma história excitante e sensual, pode ir tirando o cavalinho da chuva! Foi um micão daqueles! Parecíamos dois jecas, completamente constrangidos e sem coragem de perguntar absolutamente nada! Ainda por cima, o vendedor era um homem e ficava acompanhando a gente na loja, todo solícito e eu queria que se abrisse uma cratera no chão para enfiar minha cara! No final, acabei comprando um gel qualquer daqueles, algum que eu apontei sem ter muita certeza do que se tratava, só para não parecer muito caipira e sair dali correndo, roxa!

Agora, do alto da minha experiência, posso afirmar que ir com seu querido cônjuge a um sexy shop é uma tremenda roubada! Para ambos! O negócio é ir com as amigas, porque daí vira gaiatice.

Muita água já rolou nesse período e as lojas especializadas, hoje em dia, se parecem mais vendedores de brinquedos e cosméticos do que outra coisa. Aprenderam também a colocar mulheres atendendo, o que quebra algumas barreiras.

Inventaram até um tal de “Tupper Sexy”, que é um tipo de reunião, como aquelas antigas de vendas de tupper ware. Se reune um grupo de amigas e uma vendedora faz a apresentação dos produtos, de maneira mais lúdica. Confesso que tenho vontade de ver alguma dessas reuniões, mas ainda não tive a oportunidade.

Muito bem, dito isso, no meu caminho para ir ao Pilates, passava por uma loja que estava sempre fechada (porque é hora da siesta) e não dava para saber do que se tratava. Chama “Jugueteria”, palavra originária de “juguetes”, em português, brinquedos. Ok. Outro dia, estava passeando a pé com Luiz e passamos por ali em outro horário. Quando a gente olha a vitrine, me toquei que era um sexy shop! Luiz começou a rir e pensou em entrar. Eu, lembrando da nossa experiência fatídica, desconversei e preferi seguir andando.

Mas não vou negar, uma curiosidade…

Até que ontem, estava pela rua caminhando sem grandes pressas e me lembrei da tal loja. Ai, acho que vou lá! Vacilei um pouco, e se eu chamasse alguma amiga? Menos mico… Mas também, quem vou chamar agora? Vou sair ligando para o povo e perguntando quem quer ir a uma sexy shop? Meio estranho, né? Bianca, deixa de ser infantil! Você é uma mulher bem resolvida, bauzaca, segura, fala sério, vai na porcaria da loja e pronto!

Beleza, fui. Quando cheguei bem na rua, lei de Murphy é infalível, na minha frente, dois operários. Putz grila, mas vou entrar com esses dois olhando? Ai, que vergonha! Auto confiança para o saco! Diminuí o passo para eles irem embora. Os dois resolveram parar. Viadinhos! Ok, apressei o passo. Não deu em outra, eles voltaram a andar.  Agora já não tem jeito, vou apressar mais ainda para entrar antes e eles nem vão notar nada.

Entrei na loja meio rápido, e só vi pela periferia do olhar os dois parando exatamente em frente, olhando para dentro e rindo. Ninguém merece! Agora preciso ficar aqui uns quarenta minutos até eles evaporarem! E se entrarem, eu grito! Não entraram, seguiram seu caminho. A paranóia era só minha.

Passados os cinco primeiros segundos que você não sabe bem para que lado olhar, o resto foi bastante normal. A loja era decorada com bom gosto e os artigos são expostos com bastante naturalidade. Havia dois vendedores, uma mulher, que inclusive depois percebi que era brasileira e uma pessoa que, honestamente, não sei de que sexo era. O ser hermafrodita se aproximou, muito educadamente, e disse que qualquer dúvida era só perguntar, mas também não ficou insistindo nem me acompanhando.

E por que fiz tanto drama em vir aqui mesmo? A coisa mais normal do mundo!

O único produto que me deu realmente vontade de rir era um tipo de cadeira erótica, que mais parecia umas faixas de couro penduradas ao teto. Estava à venda. Considerando o peso e o movimento em questão, fiquei imaginando que quem comprasse a dita cuja, teria que contratar alguém para pendurá-la. Foi inevitável visualizar a cena de explicar para o pedreiro o que ele teria que instalar!

Resolvi me animar a fazer perguntas! Foi quando descobri que a vendedora era brasileira, pelo sotaque. As explicações vieram na mesma naturalidade técnica de quem conta como utilizar um controle remoto ou um celular. Até aprendi umas coisinhas!

Saí de lá tranquila e orgulhosa da minha façanha de meia tijela. Vim rindo sozinha para casa, doida para contar para alguém essa besteira! E se eu comprei alguma coisa? Ah, mas não digo mesmo!

A vida não anda me tratando mal…

A agenda segue cheia, mas até que andamos fazendo alguns programas diferentes. Fim de semana passado, fomos assistir uma amiga em um concerto Sufi. Achei interessante, porque estive há pouco tempo em Istanbul, onde conheci um pouco a respeito do assunto e me pareceu uma boa oportunidade para rever e entender melhor do que se tratava.

Fomos Luiz, eu e um casal de amigos. Bom, estava meio preocupada deles não gostarem, porque é o tipo da coisa que ou você embarca na viagem ou vai achar uma roubada. Felizmente, todo mundo embarcou e tivemos uma noite bastante agradável e relaxante.

Foi um concerto que durou umas duas horas, mas perdi a noção do tempo. A música é um pouco difícil de entender no início, um tipo de jam session oriental com ritmos e tons que parecem não fazer sentido, mas assim que você capta a estação e entra em sintonia com ela é quase um transe. Nossa amiga bailarina fez o giro sufi, que é algo que parece simples, mas você precisa estar realmente centrado e saber o que está fazendo. Caso contrário, vai acabar como um peru tonto se espatifando na parede, coisa que felizmente não aconteceu.

Nós quatro também ficamos muito impressionados com o indiano da percussão, que tocava um instrumento lindo, dois tambores encaixados em almofadas e afinados por um tipo de martelinho dourado. Era realmente hipnótico observar o cidadão. Um violinista da Tunísia que estava de passagem com um amigo, acho que francês, que tocava sax.  Dois aprendizes que às vezes tocavam um instrumento parecido a um pandeirão. E o mestre, Iraniano, que tocava alguns instrumentos diferentes, tanto de corda, como sopro e percussão. O conjunto era bacana e por mais que parecesse que cada um seguia sua própria viagem, o resultado final era incrivelmente harmônico.

O interessante é que só consegui realmente disfrutar de olhos fechados. É um tipo de música que faz mais sentido quando olhamos para dentro e buscamos equilíbrio. Quando olhava para os músicos, me distraía, principalmente com o indiano do tambor esquisito. Exceto quando nossa amiga girava, porque daí também gostava de assistir.

Enfim, valeu, deu vontade de repetir em algum momento. Saímos de lá atrás de um Pub, para sentar um pouco e bater papo. Tentei não chutar muito o pau da barraca, primeiro porque não estava na onda, segundo porque tínhamos um almoço de aniversário no dia seguinte para ir.

Outro programa muito legal! Um amigo comemorou seu aniversário em uma vinícola, que por sua vez, pertencia à família de um dos convidados presentes na festa. O local fica a mais ou menos uma hora e meia fora de Madri. O passeio de carro é bonito, a paisagem agradável. Enfim, teria valido nem que fosse só pelo passeio, mas foi mais que isso. A bodega era uma graça e o vinho corretíssimo! Conhecemos umas pessoas ótimas também, muito divertido. Voltamos para casa com a felicidade que o vinho sempre permite e ainda vim escutando músicas no meu super ipad, literalmente selecionadas a dedo!

Até que a vida não nos trata mal…

Mas seguindo, nesse almoço fiquei sabendo que entraria a semana do “Madrid Fusion”, o evento gastronômico mais importante do ano que acontece na cidade. É frequentada apenas por profissionais da área e os convites e credenciais são bem carinhos. Fiquei com vontade de ir e a amiga que acabei de conhecer no aniversário talvez conseguisse um convite para um dos dias. Beleza, vamos aguardar.

Na terça-feira à noite, toca o telefone, um amigão espanhol que trabalha com restaurantes e sabe que sou completamente fissurada com o tema. Tenho uma credencial para o Madrid Fusion amanhã, quer vir? Como assim, macaco quer banana? Claro que sim! O único problema é que está com nome de homem e há o risco de alguém perceber e criar caso. Sem problemas, prefiro arriscar do que perder!

Quarta-feira, cedinho, Bianquita está pronta e arrumada, doida para ir ao evento! Fui de carona com meu amigo, que ainda recolheu mais duas pessoas que foram conosco.

Chegando lá, coloco eu meu crachá de “José Miguel”, minha cara, né? Só que eu achava que passaria pelos controles uma única vez e lá dentro estava garantido. Não é bem assim, você passa pelos tais controles a cada vez que muda de andar, que entra em uma conferência, que troca de sala… enfim, tinha que mostrar a tal da credencial para lerem o código de barras umas 30 vezes! Considerando essa informação, até que fui bem, porque só uma delas me pegaram com a boca na botija!

Em uma das conferências, um infeliz resolveu além de passar o código de barras, puxar meu crachá para ler o nome, um corno, né? Mas você não é José Miguel… E sua mãe, vai bem?

Bom, fiz sinal para meu amigo que fui barrada e ele voltou comigo. Disse que ia tentar resolver com não sei quem. Verdade que eu estava bem sem graça, não só por ser barrada, mas por colocá-lo naquela situação. Enfim, ele foi falar com outra pessoa e pediu para eu esperar. Esperei.

Daqui a pouco, meu amigo vem com um cidadão falando no celular, escuto ele dizer para ele que tinha que ser pela outra entrada e me fez um sinal rápido para seguí-lo. Como boa carioca, nem perguntei nada, fiz cara de haja naturalmente e fui caminhando com o “desconhecido” que fingia falar no celular. Na entrada, mostro meu crachá e enquanto o segurança olhava, ele me fez sinal de que fosse entrando que ele ia depois e começou a perguntar qualquer absurdo para o segurança. O típico efeito distração! Beleza, entrei!

Pouco depois, chega meu amigo e nos esbaldamos de rir. Porque eu parecia uma adolescente entrando de penetra nas festas! Mas tudo bem, o importante é que deu certo.

A partir daí, peguei a manha de mostrar a credencial com o dedo, assim como quem não quer nada, sobre o nome. Funcionou. Não fui mais parada. Mas admito que rolava um certo stress de ser pega novamente.

Valeu à pena, porque foi um dia super bem aproveitado e, ao mesmo tempo, divertido. Assisti a umas palestras que, mesmo curtas, me agregaram algum valor e trouxeram inspiração. Cada vez tenho mais consolidada a idéia na cabeça do que quero fazer nessa área e recebi algumas informações que reforçaram esses conceitos. Fiquei satisfeita com o que ouvi. Além do mais, esse meu amigo conhece deus e o mundo e acabei conhecendo umas pessoas legais também. E isso, sem falar das comidinhas que a gente é praticamente obrigado a experimentar o tempo todo, tapas, queijinhos, vinhos, champagnes, ai, ai… vida dura!

Ou seja, a dieta semanal foi para o saco, né? E juro que ando levando a sério! Nem tanto um regime, mas uma melhoria na alimentação mesmo.

E como se fosse pouco, no sábado ainda teve feijoada na casa de uma amiga! Putz! Quem é capaz de emagrecer desse jeito? Eu não tenho maturidade, chutei o pau da barraca! Bateu a síndrome da abstinência e me atraquei com a feijuca, queijo coalho, calabresa, cachaça, whisky e o golpe de misericórdia que foram uns chocolates da Kopenhagem! Um pequeno detalhe, porque venho comendo super leve, meu corpo já não tolera os abusos da mesma maneira e lógico que, na hora de me deitar, meu estômago parecia que ia explodir! Sofri pela madrugada. Felizmente, acordei bem e incrivelmente sem ressaca! Porque até já tinha me preparado psicologicamente para acordar arrasada.

Menos mal, porque tínhamos que encontrar no domingo com dois amigos que passavam por Madri a trabalho. Foi ótimo também! Agradável e light! Outra vez, comi mais do que devia, fomos a um restaurante tailandês. A única coisa é que bebi água e nada além de água!

E agora segunda-feira! Dia internacional de retomar a dieta, vamos ver se tomo vergonha e seguro minha onda.

Os números de 2010

O wordpress fez uma coisa interessante para seus usuários no fim de 2010, realizou análises individuais das estatísticas de cada blog e enviou aos seus respectivos donos. Já tinha o costume de analisar essas informações ao longo do ano, mas como devo esses números a vocês, para quem tiver curiosidade, o resultado do “Buraco da Fechadura” segue abaixo.

Os duendes das estatísticas do WordPress.com analisaram o desempenho deste blog em 2010 e apresentam-lhe aqui um resumo de alto nível da saúde do seu blog:

Healthy blog!

O Blog-Health-o-Meter™ indica: Uau.

Números apetitosos

Imagem de destaque

O Museu do Louvre é visitado por 8,5 milhões de pessoas todos os anos. Este blog foi visitado cerca de 78,000 vezes em 2010, o que quer dizer que se fosse uma exposição no Louvre, eram precisos 3 dias para que as mesmas pessoas a vissem.

In 2010, there were 70 new posts, growing the total archive of this blog to 635 posts. Fez upload de 91 imagens, ocupando um total de 18mb. Isso equivale a cerca de 2 imagens por semana.

The busiest day of the year was 9 de março with 496 views. The most popular post that day was Arrumar a mesa para um jantar especial.

De onde vieram?

Os sites que mais tráfego lhe enviaram em 2010 foram search.conduit.com, google.com.br, WordPress Dashboard, mundopequeno.com e dianachamma.blogspot.com

Alguns visitantes vieram dos motores de busca, sobretudo por buraco da fechadura, como arrumar uma mesa de jantar, receitas de boteco, jantar especial e aperitivos de boteco receitas

Atracções em 2010

Estes são os artigos e páginas mais visitados em 2010.

1

Arrumar a mesa para um jantar especial abril, 2008
144 comentários

2

BURACO DA FECHADURA julho, 2007
98 comentários

3

Dobrar guardanapos julho, 2008
39 comentários

4

Receitas de Boteco julho, 2008
6 comentários

5

Receber amigos em casa, primeiro movimento fevereiro, 2008
8 comentários

E agora 2011, o que a gente faz?

Eu amo finais de ano. Reveillon é a festa que mais gosto de todas! O que ela tem demais? O fechamento de um ciclo. Querendo ou não, o ano acaba e começa outro, simples assim. E se ainda que fosse só por isso, já me valeria.

Mas não é só isso, tem toda uma atitude que muda junto com uma virada de ano, tem esperança, tem fé contagiosa que a vida vai melhorar. É a única época que conheço que há um consenso que mudar é melhor, é a única ocasião que ninguém sente medo da mudança, consciente ou inconscientemente. Compartilhar essa atitude não é o máximo?

Não sei porque não somos assim o ano inteiro, nem vou entrar nessa discussão porque é inútil. Mas o fato é que nas viradas de ano nós somos, eu pelo menos sou.

Daí chega janeiro, começa ainda meio tumultuado, todo mundo de dieta ou de ressaca! Mas logo o mês engrena e me bate um tipo de síndrome de segunda-feira, algo como o domingo acabou, agora é trabalhar para realizar alguma coisa.

A gente olha em volta e tem milhões de desgraças acontecendo, todo ano é isso. Talvez seja assim no restante do ano também, mas eu noto mais em janeiro. Acho que é porque estou naquela energia tão positiva, que tendo aos contos de fadas, coisa que a vida real está longe de ser. Por isso o contraste é mais forte.

Fico sempre no dilema de querer ajudar, mas ao mesmo tempo, com uma vontade enorme de não querer saber, de não querer me informar nem me contagiar com má notícia. É egoísta pacas, não é o que faço, mas é o que sinto. Como se a gente pudesse dormir e acordar no dia primeiro em outro planeta, mudado, em paz.

Sei lá porque, mas nossa felicidade nunca é individual, sempre depende da felicidade alheia, em maior ou menor grau. É realmente impossível ser feliz sozinho. É sem graça. Pessoas pelo mundo, sejam felizes! Assim posso ser também!

Enfim, as graças e as desgraças continuarão acontecendo apesar das minhas vontades, então, o que realmente posso fazer? Vida real! Nem sempre tão bem vinda, mas é a que tenho, que venha assim mesmo e a gente vai tentando deixá-la melhor e mais divertida. Até que ela fica.

As cartas estão na manga, esperando a hora do bote. Aliás, já está me faltando manga para tantas cartas, que saudade de um bom jogo, parece que só jogo paciência! Chegou 2011, quase entramos fevereiro, estou aqui cheia de vontade e sem muito o que começar. Ando meio de saco cheio de fazer planos, quero definições. Agora acho que falta pouco e espero não ter enferrujado demais, mas tenho a impressão que não.

De qualquer maneira, estou otimista ou sou. Expectativas são problemáticas, mas se as coisas ainda não aconteceram, melhor acreditar que podem dar certo. Ainda tenho um gostinho de reveillon na boca, por que não aproveitá-lo?