Sexto dia: na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…

Antes de chegar no sexto dia, vou contar um pouco sobre o sábado à noite e ao longo da semana.

 

Fala sério, alguém teve a semana passada fácil? Porque para mim e a torcida do flamengo, foi uma semaninha do cão. Nem posso dizer que foi ruim, mas foi difícil, vamos, foi foda mesmo!

 

Mas sobrevivemos e chegamos ao final dela, entre mortos e feridos, salvaram-se todos!

 

Pela sexta-feira, e-mail de um casal de amigos e outro que a mulher viajou, e aí o que fazemos amanhã? Todo mundo meio duro para sair e querendo animar um outro casal, que passa por um período complicado, ela acabou de fazer um aborto meio tardio, por problemas com o feto. A idéia de um dos amigos era passar na casa deles de surpresa.

 

Veja bem, de surpresa não vou de jeito nenhum! Em condições normais de temperatura e pressão, surpresas já são bem complicadinhas. Ok, então perguntamos a eles se preferiam que a gente passasse na casa deles ou que nos reuníssemos aqui em casa? Eles acabaram topando, mas preferiram vir aqui.

 

Para  reles mortais amadores, seria uma certa saia justa. O que a gente diz para a ex-futura-mãe nesse momento? E ainda por cima, eu no meio de um tratamento de fertilidade! Pois é, mas para gente isso é parte da vida, se é para confrontar os problemas, muito melhor entre os amigos que se querem bem.

 

Quando ela chegou, nos abraçamos, choramos, pagamos um certo mico, enxugamos as lágrimas e seguimos a conversa, como deve ser. Se alguém está pensando que isso estragou nossa noite ou que ficou um clima pesado, aviso que não aconteceu.

 

Um dos amigos trouxe os ingredientes para fazer um strogonoff de frango e ele mesmo se encarregou de ir para o fogão executá-lo. Eu fiz arroz normal, arroz com gengibre, frango assado na cerveja e vagem na manteiga. Outra amiga trouxe um feijão para tomar como caldinho de entrada, aliás, seu primeiro feijão cozinhado sozinha! E todos trouxeram o que queriam beber.

 

E assim foi nosso jantar do sábado à noite, mais familiar impossível!

 

Esquecemos da sobremesa! Quer dizer, eu que esqueci, né? Também a gente nem sabia que ia ser jantar! Resolvemos com uns chocolatinhos deliciosos da nespresso.

 

Sentamos em volta da enorme mesa de centro da sala e sem nenhum planejamento, começou a sair os problemas de infância de cada um, basicamente físicos. Quem nasceu com o pé torto, com a língua colada no céu da boca, com os testículos que não desceram… enfim, um monte de aberrações, mas que ficaram para trás! E cada vez que um contava um problema pior, mais a gente se acabava de rir! Quanto mais absurda era a história, parece que mais engraçado ficava e um sacaneava o outro e a si mesmo.

 

O que acontece é que enquanto colocávamos para fora, ou pelo menos falo por mim, mas acho que era um sentimento geral, mas leve ficávamos. Porque além de compartilhar, a gente vê que não somos os únicos com problemas, coisa que a gente sabe, mas se esquece na hora do olho do furacão. Eu realmente acredito que é rindo que a gente consegue exorcizar o mal que nos fazemos com as mágoas, com a dor e com tudo que nos prejudica.

 

No final das contas, nossos assuntos não foram só problemas, mas foram neles que mais nos sintonizamos e nos divertimos.

 

Pelas três e alguma coisa da madrugada dividimos o que sobrou de comida e bebida, limpamos a mesa e nos despedimos.

 

Eu, certamente, mais leve.

 

Aproveito para comentar um tema que é um pouco delicado e que devo voltar nele em algum momento, mas ontem me lembrei. Essa amiga que precisou abortar ficou sabendo ontem que estou tentando engravidar e ficou bastante contente e tenho certeza que estará na torcida positiva.

 

E é sobre isso que quero falar. Muitas vezes a gente conhece uma amiga que perdeu um bebê ou que está tendo problemas sérios para engravidar e se sente mal em contar que está grávida, ou que acabou de ter filhos. Enfim, parece que dividir nossa alegria com alguém que tem um problema relacionado vai magoar a pessoa. Há amigas que se afastam nesses momentos e acho esse um erro terrível!

 

Sim, é verdade que há mulheres que não seguram a onda, ou não seguram por um tempo e se afastam. Pessoalmente, acho que o espaço de cada uma deve ser respeitado. Mas na grande maioria das vezes, somos nós que tememos machucar o outro com a nossa alegria e nos afastamos, com a melhor das intenções, mas deixamos sós quem queria nossa companhia (e nossa alegria também).

 

Quando eu não queria ter filhos, nunca desanimei ninguém que queria tê-los e sempre, sempre e sempre, fiquei na maior alegria com as minhas amigas que engravidaram. Se eu tiver problemas para engravidar, não quero me afastar das minhas amigas grávidas ou com nenéns, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa!

 

Vou ficar triste sim e vai ser duro no primeiro momento, vou pensar por que não aconteceu comigo, mas vai passar. Isso é um problema meu com meu umbigo, não tem nada a ver com os problemas das minhas amigas ou da minha família. Acho que as pessoas devem continuar agindo como antes, com normalidade, porque é uma coisa normal. Problemas são desagradáveis, mas são normais, todo mundo tem.

 

E dito tudo isso, sigo com meu sexto dia, o domingo.

 

Acordei com meu humor de altos e baixos igualzinho. Alguns momentos mais tranqüila, outros com vontade de chorar por idiotices, outros com fome, outros relaxada… enfim, um dia normal, acentuado por hormônios.

 

Pensei um pouco no meu médico, às vezes, sua responsabilidade em me informar a todo momento sobre as estatísticas, os riscos e minha senilidade ovular, me irritam profundamente. No fundo, queria que ele acreditasse mais que o processo fosse dar certo. Mas a verdade é que ele não me conhece, está no seu papel. Quem tem que acreditar que isso tudo vai dar certo sou eu.

 

Hoje tenho que tomar as injeções um pouquinho mais cedo. Aliás, a segunda injeção, a do Orgalutran, é um pouco mais dolorida. A agulha é ligeiramente mais grossa e senti diferença na hora de aplicar. Para facilitar, lembrei de passar Emla, uma pomada anestésica que a gente passa para fazer tatuagens menos doloridas. Vamos ver como funciona, amanhã eu conto.

 

E por que vou tomá-las um pouco mais cedo? É que hoje a gente canta na Sala Siroco. Será um encontro de três coros regidos pela nossa maestra. Duas das participantes mais fortes do nosso coro, o Dumbaiê, não estarão. Farão bastante falta, mas como todo esse texto conta, nada é perfeito, daremos nosso jeito.

 

E, na pior das hipóteses, riremos juntos disso no futuro.

 

 

Casa de Bamba (Martinho da Vila)

 

Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba…

 

Na minha casa
Não tem bola prá vizinha
Não se fala do alheio
Nem se liga prá candinha…

 

Na minha casa
Todo mundo é bamba
Todo mundo bebe
Todo mundo samba…

 

Na minha casa
Ninguém liga prá intriga
Todo mundo xinga
Todo mundo briga…

 

Macumba lá na minha casa
Tem galinha preta
Azeite de dendê
Mas ladainha lá na minha casa
Tem reza bonitinha
E canjiquinha prá comer

Se tem alguém aflito
Todo mundo chora
Todo mundo sofre
Mas logo se reza
Prá São Benedito
Prá Nossa Senhora
E prá Santo Onofre…

Mas se tem alguém cantando
Todo mundo canta
Todo mundo dança
Todo mundo samba
E ninguém se cansa

Pois minha casa
É casa de bamba
Pois minha casa
É casa de bamba…

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