Foi ruim, mas foi bom

Voltamos para Madri antes do tempo. Na verdade, no primeiro trecho da caminhada, me machuquei razoavelmente feio, nada grave ou que me deixará sequelas, mas me impossibilitou continuar. Ainda tentamos dar um dia de intervalo, mais por minha teimosia que se negava a acreditar que não tinha dado certo. Às vezes leva um tempo para a gente entubar que precisa sair da rota planejada e que nem sempre as coisas acontecem como a gente quer.

 

É frustrante, e para falar a verdade, me dá uma vergonha danada, mas é importante entender as experiências que a gente passa e tentar aprender um pouco com elas. A gente acaba compartilhando muito mais as boas histórias, acontece que os erros também ensinam.

 

Então, vamos por partes. Saímos na sexta-feira de manhã e fomos de trem até Pamplona. Estávamos um pouco na dúvida por onde iniciaríamos. As notícias anunciavam que havia nevado antecipadamente a 1.500 metros de altitude e chegaríamos aos 1.400. Para ser bem sincera, preferia começar de Roncesvalles e evitar a travessia dos Pirineus logo no primeiro dia de caminhada. Por outro lado, acreditava que era justamente esse trecho que mais empolgava o Luiz e, além do mais, também tinha muita curiosidade de conhecer a cidade de St Jean Pied-de-Port, a outra opção de início de trajeto.

 

Na estação de trem em Pamplona, pegamos um taxi e resolvemos ir direto para St Jean. Dormiríamos alí e, dependendo do tempo que amanhecesse, ou iniciaríamos a caminhada, ou pegaríamos outro taxi direto para Roncesvalles.

 

Ficamos em um bom hotel, não foi difícil achar hospedagem. Desfrutamos de um excelente jantar e decidimos tentar aproveitar a viagem, fazer com que na medida do possível a gente também pudesse se divertir.

 

Luiz é bom de montanha, eu não, sou melhor na resistência. Mas pensei que estava mais preparada que ele e poderia fazer um esforço a mais. O que não havia entendido, por mais que os sinais estivessem praticamente se esfregando na minha cara, foi o tamanho desse esforço adicional.

 

A temperatura estava abaixo do que havia me proposto como limite, mas ignorei, afinal de contas, caminhando a gente aquece. Tive pesadelos por toda a noite, onde de maneiras variadas, nunca conseguia fazer o tal trajeto do dia seguinte. Também ignorei. Havíamos decidido não caminhar se estivesse chovendo, pois poderia ser perigoso e tinha toda pinta de que choveria, mas advinha? Ignorei. Havia lido exatamente como era o trecho, mas só me fixei no que me interessava: os primeiros oito quilômetros são os piores, depois melhorava. Melhor não significava que eram fáceis, mas para variar um pouco, ignorei outra vez.

 

Acordamos cedo, diria até empolgados e partimos para o desafio do dia. Pés preparados com compeed, vaselina, joelheira protegendo o joelho mais fraco, dois sticks de caminhada, mochila leve, bota amaciada por mais de mil quilômetros, enfim, tudo certo.

 

Logo no primeiro quilômetro começou a chover. Sem problemas, colocamos nossas capas novinhas em folha e até isso parecia engraçado, estávamos de bom humor. Luiz começou a me chamar de “cunda”, porque com a capa por cima da mochila, fiquei com aquela belíssima aparência de corcunda de notre-dame. E você, cara-pálida? Acha que está bonitinho? Tirei uma foto dele e mostrei. Chegamos a conclusão que éramos a dupla “corco” e “cunda”, dois filhotes de cruz credo.  Ele, ainda por cima, usava um chapéu que o deixava com pinta de cangaceiro das montanhas.

 

Fomos avançando bem, em uma boa velocidade para subida, mas sem exageros porque sabíamos que seríamos muito exigidos.

 

Nos primeiros 5 km meus calcanhares começaram a dar sinais de ardência. Mas como assim? Minhas botas estavam mais que amaciadas e estava usando compeed para prevenir! Tudo bem, vou colocar outro compeed para garantir. Não tinha onde sentar para arrumar os curativos, teve que ser pelo mato mesmo. Pouco depois, Luiz começou a sentir um calcanhar também, queria esperar um lugar melhor para parar. Insisti, não espere! Se começar a incomodar, tome uma providência imediata. Pois ele, meio equilibrado em mim e em uma cerca, na chuva, colocou também um curativo no local.

 

Continuamos até Orisson, a única parada desse trajeto, 8 km depois de St Jean Pied-de-Port. Levamos mais ou menos três horas para chegar lá, se fosse um terreno plano, faríamos na metade desse tempo. Mas enfim, tínhamos a esperança que dali para frente a coisa melhoraría.

 

Paramos para almoçar e descançar um pouco. De Orisson a Roncesvalles são mais 17 km, sem nenhuma estrutura. Nada além de ovelhas e cavalos. A propósito, quase fomos atacados por uma ovelha! Fomos salvos por um cachorrinho mínimo, que acompanhava um casal de peregrinos. De humanos, as ovelhas não tem medo, mas os cachorros elas respeitam.

 

Chequei os pés, os calcanhares estavam bem sensíveis, mas não havia aberto bolhas. Luiz estava bem cansado, mas sem danos sérios aparentes. Buscamos um pouco de animação, afinal de contas, a partir dali não melhorava?

 

Não, não melhorava. As subidas são menos íngrimes, mas na prática isso não significa muita coisa. Ao todo, são 21 km de subida pesada e 4 km finais seguidos de descida em pirambeira. Ou seja, se você não se ferrar na subida, pode ficar tranquilo que na descida você se ferra.

 

Aviso aos navegantes, se não estiverem preparados especificamente com subidas e descidas em montanha, não comecem em St Jean Pied-de-Port! Comecem em Roncesvalles. Existe a falsa teoria de que é melhor pegar esse trecho ruim no primeiro dia e que depois tudo parece mais fácil. Não é verdade, o que acontece é você se machucar logo de cara e sofrer desnecessariamente os próximos dias. E isso se for capaz de continuar. É bem melhor pegar trechos mais difíceis depois de alguns dias de caminhada, seu corpo aprende no caminho e ganha muita resistência e velocidade. Eu já sabia disso, não sou amadora e me ferrei de verde e amarelo. Tem gente que consegue? Um monte! Mas tem outro monte que se machuca e não fica para contar a história.

 

Resumo da ópera, após 21 km de bota roçando atrás dos pés, me soltou o couro dos dois calcanhares. E como notícia ruim não anda sozinha, é claro que com os pés doloridos, forcei muito mais a musculatura. No fim da subida, minhas pernas não levantavam mais e precisava literalmente arrastá-las. Fiquei muito preocupada se havia me lesionado seriamente, porque a dor que sentia ao levantar as pernas era próxima a dor que senti uma vez que desloquei o ombro. Chega um momento em que seu próprio corpo te protege e a perna trava de um jeito que não levanta mais.

 

Acontece que as horas vão passando e você tem que chegar, porque sabe que vai escurecer e não tem onde ficar no caminho.

 

Luiz começou a ficar agoniado e insistir para carregar minha mochila. Em um primeiro momento achei bonitinho, mas depois começou a me irritar seriamente. Primeiro porque não iria resolver nada. Não colaria a pele dos calcanhares, nem diminuiria a dor na musculatura da virilha. E pior, se ele dobrasse o peso dele de mochila, se ferrava também. Tudo que não precisava era de outra pessoa machucada. A verdade é que com dor a gente também fica mais irritada e queria matar o primeiro que cruzasse a minha frente.

 

Quando estava chegando realmente ao meu limite, passou uma caminhonete em direção contrária e Luiz pediu informação a ele. Faltava mais ou menos uns 700 metros de subida e finalmente chegaria a parte da descida. É quando você tira aquele restinho de força não se sabe da onde e pensa que só um pouco mais e virá o alívio.

 

Luiz perguntou se não queria pedir carona. Mas como assim? Agora? Depois que você está na m#$%^@, você pelo menos quer chegar e completar o trecho. Já estava machucada mesmo, queria o gostinho de alguma vitória.

 

Chegamos ao fim da subida, onde existe uma placa avisando que os próximos 4 km são de descida. Meu ânimo se renovou. Ainda sentia dor nos calcanhares, mas na descida não precisava levantar as pernas, o movimento exigia outros músculos e rapidamente ganhei velocidade.

 

Dessa vez, foi Luiz que começou a sentir. A descida exigiu muito mais dele que a subida. Mas já era possível avistar Roncesvalles e isso é de uma motivação indescritível. Era minha vez de tentar incentivar um pouco.

 

Chegamos mortos, depois de mais ou menos oito horas e meia de caminhada dura, com um único ponto de descanso. Não demoraria muito a escurecer. Ficamos em um apartamento turístico recém reformado, tudo novinho. A cidade é mínima, não tem quase nada, mas muito charmosa.

 

Depois do banho, fui verificar o tamanho da encrenca nos pés. Comecei a tirar os curativos e não queria acreditar no que via. Primeiro tirei do pé direito, havia uma bolha enorme que tomava todo o calcanhar. O mesmo aconteceu com o pé esquerdo. Fiquei arrasada no mesmo instante, sabia que uma bolha desse tamanho me impediria de continuar. E uma em cada pé era muito sofrimento. Quando Luiz saiu do banho, mostrei para ele e a primeira coisa que me disse foi algo como, tudo bem, voltamos para Madri, assim não dá para continuar.

 

Mas como é que vou voltar para casa depois do primeiro dia? Comecei a tratar das bolhas meio automática. Furei as duas, limpei e deixei em cada uma dois pontos com linhas drenando o líquido. Melhorou muito. Luiz também não tinha boa aparência, estava bem dolorido, tinha algumas bolhas menores e muito frio. Tomei um quilo de analgésicos e fomos jantar.

 

Andar me doía muito, mas sei que uma noite de sono recupera bastante a musculatura, meu problema eram as bolhas.

 

Durante o jantar Luiz foi me animando e sugeri que ao invés de voltar para casa, porque a gente não parava um dia para descansar? Talvez no dia seguinte eu me recuperasse, a pele grudasse novamente nos calcanhares e o coelhinho da páscoa pudesse nos acompanhar.

 

Depois de mais um vinhozinho, achava até que talvez pudéssemos seguir de Roncesvalles. Felizmente, essa idéia absurda não foi muito longe e ele mesmo achou que o trajeto seria complicado. Não era um trecho fácil, diferente de Zubiri, a parada seguinte, onde o caminho seria quase plano.

 

Luiz estava feliz, ou tentava demonstrá-lo para diminuir minha frustração. Achava que era muito importante o fato da gente ter conseguido chegar. Disse que estava orgulhoso de ter atravessado os Pirineus a pé.

 

Fomos dormir bem doloridos, mas com um certo otimismo. Acordei ainda com as pernas travadas, e ficou evidente que a caminhada desde Roncesvalles seria impossível. Pegamos um taxi direto para Zubiri.

 

Em Zubiri, novamente ficamos bem hospedados. Fomos dar uma caminhadinha pela cidade, é bom para desenferrujar. Minhas pernas não estavam melhorando, começaram a travar totalmente. É uma dor que dá no músculo da virilha, como se suas pernas estivessem desencaixando. Doía tanto que não conseguia sentir nenhuma outra dor. Não sentia as bolhas nem qualquer outro músculo, mas simplesmente não podia andar em nenhum ângulo positivo de inclinação. Cheguei a achar que esse era meu maior problema. E se fosse alguma lesão mais séria? Deveria procurar a cruz vermelha? E se me dissessem que eu precisava parar?

 

Subi para o quarto e passei o maior tempo possível deitada. Tomei um tipo de coquetel de dorflex, iboprufeno e aspirina. E o que acredito ter sido o que realmente resolveu, massageava constantemente o local com pomada de Voltaren.

 

Não esqueci das bolhas, estavam secas, ainda muito sensíveis. Coloquei um compeed do tamanho de um bonde e me convenci que isso resolveria. Quando a gente vai para uma caminhada assim, sabemos que dor a gente vai sentir, e minha tolerância estava bem razoável.

 

Muito bem, quando descemos para o jantar, minha musculatura havia se recuperado totalmente. Não sentia cansaço e estava aliviada que não havia sido uma lesão grave. Novamente fui invadida por uma onda de otimismo. Luiz também me parecia bem. Dolorido, mas isso é normal, ele tinha condições de continuar. Sabia que ele não continuaria sem mim e isso por um lado me incentivava, por outro me deixava responsável.

 

Não dormi tão mal, eu realmente acreditei que no dia seguinte seria capaz de continuar. O único detalhe escatológico é que, para complicar um pouquinho mais, acordei algumas vezes com dor de barriga. Fiquei me perguntando, o que falta agora? Uma otitezinha? Dor de dente? Cabeçada? Cassilda, dá para alguma coisa colaborar!

 

Acordamos e nos preparamos com todo cuidado. Notei que estava muito lenta para me arrumar, às vezes o inconsciente sabe mais que a gente. Esquecia coisas básicas e no final, quando passava protetor, me passou uma única vez pela cabeça: e se eu não precisar de nada disso?

 

Calçar as botas foi a última coisa que fiz e no momento em que levantei, senti que o buraco era mais embaixo. Vi estrelas!

 

Mas saímos assim mesmo. Caminhamos o primeiro quilômetro, de um trecho fácil e agradável, mas que me custava horrores. Sabia que não chegaria a Pamplona. Pensei que poderia aguentar até Larrasoaña, mais ou menos 6 km dalí, e só então, se não aguentasse mais,  pegar um taxi. Já havia começado a pisar torto e não demoraria muito a lesionar a musculatura outra vez.

 

Lembrei da noite anterior. No jantar, Luiz me disse que eu era muito valente, acho que para me animar. Naquele momento pensei que entre a valentia e a estupidez existe um limite tênue que já havia passado. O que me faltava? Passar agora para o auto-flagelo? Não fomos ali buscar sofrimento. Era hora de voltar para casa.

 

Parei, virei para trás e disse ao Luiz que não podia mais, ia voltar para Zubiri. Ele não perguntou duas vezes, deu a volta e perguntou se eu preferia ir na frente. Não, eu preferia ir atrás, não queria ninguém me vendo voltar, mancar e chorar decepcionada em um trecho ridículo daqueles. Cruzamos com alguns peregrinos no sentido contrário e desejei que eles chegassem em segurança, ainda que não quisesse olhar para nenhum deles.

 

Sentei em um banco, para trocar as botas pelo chinelo e Luiz foi buscar um taxi, que demorou mais ou menos meia hora para chegar. Foi o tempo de melhorar um pouco a cara, para Luiz não se sentir tão mal. Acho que ele fazia o mesmo.

 

A volta para casa não foi a coisa mais fácil do mundo, mas também não foi tão ruim assim. Tentávamos ver o lado bom, que realmente houve. Ou mal ou bem, atravessamos os Pirineus e chegamos. Estávamos juntos e tivemos bons momentos, até bem divertidos. Conhecemos St Jean, Roncesvalles e Zubiri. Digamos que um fim de semana intenso.

 

E a lição que achei mais importante, compartilhar um sucesso é muito fácil, qualquer um faz. Fizemos mais que isso, não somos um casal perfeito, nem exemplo para ninguém, temos nossas diferenças e implicâncias. Mas na hora que o bicho pega, somos um time. E chegamos.

 

Estou muito p… da vida! Frustrada também, mas vai passar, as bolhas vão cicatrizar. Não moramos longe, podemos tentar outra vez. Essa história ainda não terminou.

Então tá, né?

Muito bem, passados os primeiros dias de chateação, meu humor está retornando aos poucos. Na verdade, já consigo olhar as fotos da viagem e achar muita coisa legal. O bom do tempo é isso, coloca tudo em perspectiva.

 

E é engraçado como, quando estamos prestando atenção, a gente vai encontrando as respostas no dia a dia. Por exemplo, essa semana, logo depois que chegamos, passou um programa inteiro sobre os Pirineus. Em um primeiro momento, me veio na cabeça um “putz grilo, de novo!”. Mas depois olhei melhor e não vou dizer que me deu vontade de voltar agora, mas pude sentir uma pontinha de orgulho em imaginar que já os atravessei a pé.

 

As bolhas vão melhorando, ainda passarei alguns dias na base do chinelinho. Agora estou fotografando e acompanhando sua evolução. Olha que bonitinhas, depois de mais ou menos uns cinco dias de recuperação.

 

Tenho pensado nas causas. Simplesmente, queria entender e não repetir o erro. Podem ser as botas, mas é estranho, considerando o quanto estão amaciadas e que vivo com elas nos pés. Nosso treino foi bem mais no plano, mas por outro lado, não faz tanto tempo que voltei do Caminho e peguei algumas subidas razoáveis. Coloquei um compeed antes de sair, para justamente evitar o atrito, será que isso atrapalhou? Repuxou a pele? O efeito deveria ser o contrário. Usei vaselina e meia dupla de cool max. Ou seja, que eu saiba, não faltou nada. Realmente, meus pés são bem mais sensíveis que os de uma pessoa normal, mas até que melhoraram muito do último ano para cá. Tendo a achar que o que pesou foi a longa subida mesmo, porque agora que as bolhas secaram, tem uma aparência de queimadura.

 

Bom, chega de show de horrores, né?

 

Então vamos às partes boas. St. Jean é uma gracinha de cidade, fica do lado francês, logo na fronteira com Espanha. Tem bons hotéis, ainda que não sejam muito baratos, comparando com outras cidades ao longo do Caminho de Santiago. Também tem os albergues e refúgios, onde boa parte dos peregrinos fica hospedada. Em um único dia você é capaz de conhecer tudo, e vale a visita.

 

Não tem trem direto de Madri a St. Jean e as baldeações complicam um bocado. Melhor ir de trem até Pamplona e de lá pegar um taxi. Não é difícil, o caminho dura cerca de uma hora de carro e pode custar entre 75 e 100 euros. É normal os peregrinos dividirem o valor da corrida. E, se ao invés de ir até St. Jean, resolver parar por Roncesvalles, fica menos uns 30 euros.

 

O trecho de travessia a pé entre St. Jean e Roncesvalles é de 25 a 27 km, e chega a 1.400 metros de altitude. A vista é realmente muito bonita, mas não tem estrutura durante o caminho. Há um único bar em Orisson, há 8 km de St. Jean. Depois, só Roncesvalles mesmo. Aviso às meninas que não tem nem um banheirinho por quase 20 km e a vegetação não ajuda muito.

 

Roncesvalles é bem pequena e interessante. Depois da catedral compostelana é considerada o segundo ponto mais importante para os peregrinos. Por sua localização, sempre foi um ponto estratégico de passagem de soldados e viajantes que queriam atravessar a cordilheira dos Pirineus. Trata-se de um conjunto arquitetônico repleto de história. Ali foi derrotado o herói Roldán, na batalha de Roncesvalles, em 778. Acredita-se que a peregrinação começou a passar pela região por volta do século X. Em 1127, foi construído um hospital para acolher peregrinos e se tornou um ponto de partida para o conhecido Caminho de Santiago francês.

 

Falando de coisas mais mundanas, só há dois lugares para jantar, mas não tivemos problemas, fomos bem atendidos. Em épocas de maior movimento, às vezes você precisa jantar em turnos. Ficamos em um apartamento turístico da Casa Beneficiados, o prédio é super antigo e imponente, mas os apartamentos foram reformados e trazem bastante conforto.

 

Na sequência, veio Zubiri. Uma cidade também pequena, mas com boa estrutura para dormir, comer e comprar mantimentos. O lugar me pareceu charmoso e bem tratado, ainda que já não tivesse muita condição de me locomover.

 

Acabamos por Pamplona, mas sem humor para passear pela cidade. Só conheci a estação de trem. Ficará para a próxima vez. Acredito que reiniciaremos dali.

 

A vontade é de esperar as bolhas sararem e voltar logo, mas não me parece razoável. As temperaturas baixaram com grande velocidade e já está com pinta de começo de inverno. Caminhar no frio é viável, diferente do verão, quando é impossível. Entretanto, você precisa levar mais roupa, o que representa peso na mochila. Além do mais, as roupas lavadas diariamente sempre custam mais a secar. Enfim, melhor esperar a primavera.

 

Uma hora dá certo…

Quem canta…

…seus males espanta! Já diz o ditado.

 

Há um bom tempo queria aprender a cantar. Não nasci com o dom e muito menos tenho saco para karaoquê, mas sei que há exercícios que melhoram sua respiração, sua impostação de voz e a verdade mesmo é que queria soltar um pouco a franga. Ultimamente tenho achado cantar terapêutico, então, por que não investir um pouco nisso?

 

No ano passado, soube da criação de um coral de brasileiros e fiquei louca para participar. Mas minha agenda não batia de jeito nenhum, ainda não havia acabado o mestrado. Não vou dizer que corri muito atrás disso, mas fiquei atenta. Esse ano, felizmente, alguns integrantes desse grupo resolveram se reunir e continuar o projeto. Convidaram outros iniciantes a entrar.

 

Não pensei duas vezes e de quebra, Luiz também se animou. Pois então, lá fomos nós no primeiro encontro, onde uma professora iria apresentar seu método para ver se a gente gostava e tal.

 

Eu embarco nessas histórias, mas admito que no início sempre sinto um pouco de vergonha. Entretanto, logo que chegamos encontrei uma amiga e fiquei mais a vontade. Outras pessoas que conhecíamos foram chegando e, mesmo quem não conhecia, a grande maioria, parecia estar no mesmo barco.

 

A vergonha não durou muito, acho que não durou quase nada. O grupo é de gente legal e a professora deixou todo mundo bem tranquilo. Fomos pouco a pouco exercitando e entrando no transe da música. Quando percebi, estava amarradona em um grupo de 17 pessoas cantando Caetano Veloso e Naná Vasconcelos.

 

Claro que ajuda bastante o fato de estar em um grupo, as imperfeições se dispersam no conjunto de vozes, pelo menos ao meu ouvido amador. Mas até isso vi de maneira positiva, porque funcionou. Ficou bonito.

 

Saímos todos com aparência leve e sorrindo mais do que chegamos, a música tem esse poder. Faremos um encontro semanal e o próximo é depois de amanhã, em pleno feriado que ignoramos porque queríamos continuar a cantar.

 

A parte hilária são os exercícios que aproveito para fazer em casa quando não há ninguém. Fico como uma maria-doida pela casa fazendo “tttrrrrrrr”, “ssshhhhhh”, e “mmmaaaaaa” em diferentes tons. Meu gato me olha com cara de interrogação e os vizinhos devem estar a-do-ran-do!

Parece mas não é

Eram três muçulmanos, um judeu, uma argentina e dois brasileiros…

 

Não, não é um início de piada, foi um jantar aqui em casa ontem, juro! Dois egípcios, um marroquino, um israelense, uma argentina, Luiz e eu. E que ninguém reclame que não faço minha parte pela paz mundial! Tá bom ou quer mais? Acho que só faltou um americano republicano e um cubano castrista.

 

Começou assim, havia uma dessas reuniões de negócios da empresa do Luiz que vem gente dos quatro cantos do mundo. Entre essas pessoas, o amigo egípicio que mora em Dubai e foi um super anfitrião, junto com sua esposa, quando estivemos por lá. Falei com Luiz, puxa queria chamá-lo para um jantar e retribuir um pouco do que eles fizeram por nós. Luiz respondeu que para chamar esse amigo, seria melhor chamar outros dois que trabalham juntos, os três são muçulmanos, tem problema para você três pessoas? Para mim nenhum, inclusive é um bom momento, porque estão em mês de Ramadan e não tenho nada parecido no meu currículo de recepções.

 

Explicando leiga e rapidamente o que é Ramandan, é o mês mais importante do calendário islâmico. Os muçulmanos passam todo o dia em jejum, comida e água, até às 19:30. Depois disso, fazem uma refeição abundante. Isso se repete durante todo o mês. A intenção é criar uma empatia com as pessoas miseráveis que não tem o que comer ou beber, para que você saiba o que elas sentem. Na hora do jantar, é o oposto, você celebra com fartura. Além disso, também é um mês de caridade e é comum que se ofereçam essas ceias às pessoas desfavorecidas. Acho um ritual bonito de confraternização.

 

Enfim, daí fui pesquisar comidas para uma ceia de Ramadan, o que não achei especificamente, mas tinha uma idéia de algo parecido. Francamente, fui fazer na maior boa vontade. Sempre há um pouco de preocupação se não estaria quebrando alguma regra, mas por outro lado, pensei, eles estão acostumados a viajar e conhecer outras culturas, sabem que não somos muçulmanos, não acredito que a gente possa fazer nada tão ofensivo. O curioso é que Luiz também tem a maior pinta de “brimo”, juntando com mais três, na pior das hipóteses, os vizinhos olhariam pela janela e pensariam que era uma reunião da Al-Qaeda. Com certeza, ninguém reclamaria se a música estivesse meio alta.

 

Daqui a pouco me liga Luiz, escuta, queria chamar mais um amigo para o jantar, pode ser? Entre nós, já imaginava que poderia vir mais gente e estava mais ou menos engrenada, claro que pode. Quando ele me disse quem era, pensei, mas esse é judeu. Inclusive, também foi outro grande anfitrião para o Luiz quando foi por sua primeira vez a Israel. Bom, quer saber, isso é bobagem, todos eles trabalham juntos, já se conhecem, não tem nenhum problema. Era simplesmente uma mescla curiosa, mas para quem nasceu carioca e conheceu o “Sahara” no centro do Rio, isso era fichinha.

 

Lá fui eu “to google” para ver se estava cometendo algum equívoco mais sério no cardápio. Tudo sob controle!

 

Passa mais um tempinho… Bi, pode mais uma pessoa? E eu, pode, mas por favor me diz que é uma mulher, porque é muita testosterona para o meu gênero! Era uma mulher, também do time. Na verdade, até já tem um tempo que Luiz queria convidá-la para ir lá em casa.

 

Quando desliguei o telefone, lembrei que ela era argentina. Tive que parar e fiquei rindo sozinha. Espera aí, muçulmano com judeu, argentina com brasileiro, isso está ficando com cara de piada! Acho que foi em uma reunião assim onde surgiu o ditado que não se discute religião nem futebol!

 

Quanto às comidas, resolvi fazer várias entradas menores, distribuídas na enorme mesa de centro que temos em casa. Pastinha de iogurt com pepino, catupiry, bolinho de bacalhau, salada de pepino, tabule, azeitonas, pães variados, inclusive pão árabe, coquetel de castanhas, nozes e amêndoas. De prato principal, kibe de bandeja, costeleta de cordeiro com cebola, batatas com pimentão, arroz branco e salada de folhas verdes. Como sobremesa, queijo com geléia e chocolates que os convidados trouxeram. Ia servir maçã com mel e sorvete, mas já havia muita coisa. Tive o cuidado de não temperar nada com bebida alcoólica e ter bom estoque de sucos de frutas e refrigerantes. Música brasileira no fundo.

 

Como foi? Ótimo! Um jantar normal, com gente normal, educada e civilizada! Gente boa e simpática. Até meu gato, que é um tremendo antisocial, ficou passeando pela sala tranquilo e não parava de se exibir.

 

Salam Aleikum, Shalom e à demain! Fui!

Fiz as pazes com ela

As bolhas secaram, ainda tenho duas bolas vermelhas atrás dos calcanhares, não sei se ficará com cicatriz, acho que não, mas também não me importa muito. Na verdade, a pele até parece mais grossa e assim espero que fique. As mocinhas querendo pés de Cinderela e eu doida para deixar o meu cascudo! Bom, não precisamos exagerar, mas bem que queria que eles ficassem mais resistentes.

 

Havia bem uns dez dias ou mais que não calçava minhas botas de trekking e na minha memória distorcida pela dor, elas se tornaram duras, desconfortáveis, verdadeiros instrumentos de tortura. Luiz e outro amigo dizendo que deveria trocá-las. Eu me sentindo como quando a gente briga com um irmão, estamos aborrecidos e falando horrores dele, mais que ninguém concorde conosco que a casa cai.

 

Pela primeira vez, depois que voltamos da caminhada, tirei elas do armário e as examinei. Não pareciam assim tão duras e por dentro tinham o formato dos meus pés, podia ler meus dedos em braile. Quantos quilômetros e quanta bosta de vaca já pisamos juntas! Esses momentos nos unem, e não é que sentia um certo carinho pelas minhas botas?

 

E aí, fazemos as pazes? Eu olhei para ela, ela olhou para mim… vamos tentar. Calcei-as devagar e ainda encaixavam como uma luva. Não senti dor. Já levantei diferente, o mesmo efeito de menino quando veste fantasia de super-herói. Beleza!

 

Ontem foi dia de coral, e o local do ensaio fica a uns 5 km da minha casa. Meu plano malévolo: vou a pé para ver o que acontece.

 

Fiz um curativo com um compeed gigante, não custa prevenir. No início, caminhei devagar, meio que testando os limites. Não doeu nada e voltei a me sentir à vontade com minhas amigas de couro resistente. Ganhei confiança e velocidade. Em uma hora chegava ao meu destino. Feliz da vida!

 

A temperatura também melhorou, o que me deixou na maior dúvida em voltar ao Caminho agora. Racionalmente, sei que devo deixar para a primavera. Não só pela temperatura, meus pés estão bons em 5 km, mas não sei se em 25 km diários eles responderiam da mesma maneira. Mais prudente esperar cicatrizar de vez.

 

Tudo bem, como se diz por aqui, “poquito a poco”. De qualquer forma, foi muito legal ainda poder sentir tanto prazer em um ato tão simples que é andar em bom ritmo.

 

Durante o caminho, no fim do dia as dores musculares sempre me remetiam à velhice. Pensava que quando a gente fica bem idoso, deve ser assim, os movimentos mais básicos são lentos e pensados. Não há volta, as pessoas precisam se acostumar a conviver com essas limitações. Outro dia estava lendo um blog de uma senhora de 95 anos, até ficou conhecida por ser a blogueira mais velha da rede. Em um trecho ela diz algo como, quando você é jovem e fica gripada, é só uma gripe. Quando tem 95 e pega um resfriado, acha que vai morrer. A espectativa é completamente diferente. Tenho mais paciência com a velocidade de um idoso hoje. E me alegro porque minha limitação foi passageira e porque quando fico gripada, é só uma gripe.

Orkontro

Quem não conhece o orkut? Talvez no Brasil tivesse medo de participar. De alguma forma, me sinto mais segura por estar na Espanha e, apesar de tomar meus cuidados para não me expor demais, vamos combinar que depois da minha vida se tornar um blog aberto, não tenho muito a esconder.

 

Pois bem, há uma comunidade de brasileiros que moram por aqui da qual participo. Normalmente, não sou muito ativa em comentários, sempre leio e dou um ou outro pitaco esporádico. Mas é engraçado porque, por frequentar os tópicos a tanto tempo, às vezes tenho a nítida sensação de já conhecer algumas pessoas. Na prática, acabei conhecendo algumas mesmo, porque o mundo é muito pequeno, e talvez por sorte sempre foram boas experiências.

 

Um encontro marcado pelo orkut é um orkontro. Havia ido a um único desses orkontros, perto do Natal do ano passado. Não foi tanta gente, mas as pessoas que foram, renderam bons contatos. Fiquei com uma impressão positiva e queria participar de outros. Mas sempre que havia algum, que nem eram tantos assim, a gente tinha alguma programação já estabelecida.

 

Também não vou dizer que fizéssemos tanta força em ir nesses encontros. Para falar a verdade, logo que mudamos para Madri, fazia um esforço para não conhecer apenas brasileiros. Isso pode ser facilmente mal interpretado, mas sinceramente, achava que não fazia sentido vir morar em um país estrangeiro e continuar vivendo ou tentando viver exatamente igual ao Brasil. Queria entender a cultura, falar melhor o idioma e me engajar na realidade local. Na minha experiência, isso sempre fez com que a vida de mudanças fosse mais fácil.

 

Com o tempo, a gente parece que ganha um chip diferente na cabeça, totalmente pronto para administrar uma situação de mudança, seja de casa, de cidade ou de país. E engraçado que por estar com o Luiz a um tempo razoável, a gente nem precisa conversar muito sobre isso, as decisões ficaram automáticas. Vou arrumando os móveis, desempacotando as coisas, descobrindo onde é o comércio de que; ele por sua vez começa a providenciar a infraestrutura, como telefone, internet, televisão… funcionamos como uma coreografia ensaiada.

 

Essa parte prática acabou se estendendo para a maneira de viver. Não entramos em comparações ou lamentações com o passado, não adianta. E tentamos nos adaptar o mais rápido possível à tal realidade local. Levei um tempo para entender que meu esquema furava aqui. Por mudar tanto, me trouxe a sensação de que era uma rotina que nunca foi, porque mudanças são sempre diferentes. No que diz respeito à parte prática, a experiência ajuda muito, mas esse, apesar de trabalhoso, é o lado mais fácil de uma mudança.

 

É na maneira da gente viver que o bicho pega. Onde a gente deve fazer o corte entre se adaptar e não perder nossa essência? Para mim, o mais complicado desse dilema é exatamente conhecer essa essência, porque aprendi que, diferente do que costumam pregar, ela muda. Na melhor das hipóteses, muda na mesma direção, o que facilita um pouco. Às vezes, ela também se disfarça, porque torna menos sofrido nos aceitar.

 

Mas porque entrei nesse devaneio todo? A questão é, como disse, evitei no princípio conhecer brasileiros. Achei que estava fazendo a coisa certa, que assim me adaptaria mais rápido, mas estava era me tornando uma belíssima preconceituosa, e o pior, sem notar.

 

Lia queixas de brasileiros que reclamavam que muitos aqui não queriam se misturar com outros brasileiros, tinham vergonha do seu país ou coisas do gênero. Além do mais, há os oportunistas que querem te convencer que por ter a mesma nacionalidade e por você estar melhor, você deve alguma coisa a eles. Como nenhum desses era o meu caso, não me identificava, e portanto não me sentia preconceituosa.

 

Realmente, não era o meu caso mesmo, mas isso não mudava a questão do preconceito, só confundia, pois ele existia no sentido que fechava algumas portas e talvez tenha perdido a oportunidade de conhecer gente boa. Conheci brasileiros também, fui receptiva, mas nunca me esforcei para isso.

 

Não posso mudar o passado, nem pretendo me martirizar pela culpa, mas mudei a atitude, mais uma vez. Não inverti, porque cairía na mesma armadilha, simplesmente não me importa mais a nacionalidade, tanto faz. Já há algum tempo que quero andar com quem quer andar comigo e convido para casa quem acredito que queira vir. E quem não vem, azar! Como diriam meus conterrâneos, “perdeu mermão”.

 

A melhor parte é que ficaram amigos, e amigos, principalmente para quem vive fora de seu país, são como uma família. A gente ainda vê os defeitos e temos os nossos também, mas isso é muito pouco para quem tem a felicidade de contar com alguém e de ser alguém para contar.

 

Eu gosto de gente.

 

Diante desse contexto, surgiram novos orkontros de brasileiros aqui em Madri, e dessa vez quis me esforçar para ir. Não falamos com todas as letras, mas desconfio que Luiz ia no mesmo barco. Gostamos logo de cara, de um fomos a outro e por aí vai. Por alguma razão nossas diferenças aqui são menores e entendo melhor hoje quando Caetano canta “a língua é minha pátria”. Aconteceu uma energia bacana e me senti bem vinda. Isso ficou ressoando na minha cabeça e estou tentando entender porque me tocou tanto.

 

Não são meus primeiros amigos, não sei quantos ficarão, afinidades são um filtro natural. Mas sei que foi bom fazer a ola por um jogo de sinuca, ver um côco verde rolando no futebol em plena Castellana e dançar como se nos conhecêssemos há anos.

Outono com inferno astral

Só falta a TPM…

 

Não tenho nada contra o outono, na verdade, como temperatura é até bem agradável. No início é um refresco e acho bonito as folhas avermelharem, mas logo em seguida as mesmas folhas vão caindo junto com a temperatura e a luz. Fico um pouco melancólica.

 

Quando chega a tarde, ainda posso abrir as janelas da varanda minúscula. Meu gato fica ansioso esperando esse momento e se posiciona na direção dos raios de sol, como se soubesse que em breve ficará uns três meses sem esse luxo exterior. Talvez ele saiba, animais são muito espertos.

 

Ano passado tive sorte e a deprê de inverno passou longe. Em compensação, esse ano já sinto seus sintomas antecipados, preciso me cuidar. Ainda por cima, parei por um tempo de tomar a melatonina, porque já estava perdendo o efeito, e meu sono está piorando gradativamente. Fiz isso no início do outono, justamente para estar ajustada quando chegasse o inverno, mas nem sempre podemos controlar todas as variáveis.

 

Dias pesados e difícieis de passar. Francamente, sem um motivo real para isso, tenho me divertido. O que também é um sintoma, vou do completo desânimo à total euforia em um minuto.

 

Ontem cheguei a sair ligando para a família, será que era intuição? Saudade do meu avô que se foi, liguei para o que está vivo, mensagem da minha prima, falei com minha mãe. Aparentemente, tudo sob certa normalidade. Um problema aqui, outro ali, dessa vez mais para o lado do Luiz do que para o meu, parte da vida.

 

E, bosta, não dá para andar do jeito que quero! No sábado abusei, andei 5 km, dancei a noite toda e voltei a pé os mesmos cinco. No dia seguinte pela manhã, após 10 km de caminhada e horas em pé ou na balada, as bolhas me lembraram que ainda estão lá e, apesar de não sentir mais dor, não posso correr o risco delas abrirem outra vez. Resultado, menos endorfina na cuca.

 

Bom, também não quero ficar de hiena reclamante, não é que a coisa vá mal, pelo contrário. Na quarta-feira, encontramos amigos. A amiga que trabalha no restaurante onde fomos nos trouxe balões inflados com gás hélio, de farra. Lógico que não resisti a tentação de respirar o hélio para falar e cantar engraçado, o que acabou se extendendo para outras pessoas. É irresistível! Não voltamos tão tarde porque era dia de semana e, óbvio, sem caminhar. Quase chegando em casa, passamos na porta do Fogón de Trifon e fomos sugados para dentro, onde nos ofereceram uma última copa.

 

Ontem teve uma coisa legal, era dia do coral e sabia que isso iria acabar me animando. Até o último minuto, sofri a tentação do que-se-foda, vou calçar minhas botas e ir caminhando assim mesmo. O pouco juízo que me resta, aliado a impossibilidade de colar um curativo nos digníssimos calcanhares, me fizeram retroceder e fui de metrô.

 

Cassilda! Que coisa estranha, foi totalmente claustrofóbico! E eu sempre andei de metrô numa boa aqui, achava a coisa mais prática do mundo, principalmente pela minha falta de saco em voltar a dirigir. Mas ontem, fui achando todo mundo feio e mareando quando via as letras descrevendo as estações ganharem velocidade até virarem uma linha contínua. Quando finalmente entrou um acordeón para pedir dinheiro, queria cortar os pulsos! O bom é que saltava na próxima parada.

 

Tudo bem, cheguei cedo na aula com aquela cara meio de nádegas, mas otimista. Ontem foi um tipo de entrevista individual para definir que tipo é sua voz. Sinceramente, não tinha a menor noção de qual era a minha. Sou completamente crua nisso. Acho que não fui tão mal, ou a professora foi gentil comigo para não desanimar. Prefiro acreditar na primeira hipótese. E, a propósito, sou mezzo soprano e Luiz está entre um barítono e tenor. Assim soa muito mais profissional, né não?

 

Aos poucos, fui relaxando e tenho a sensação que era geral. Eu realmente sinto que houve alguns progressos, apesar de poucas aulas. Não tenho grandes pretenções, mas queria fazer bem feito.

 

O curioso é que essa mesma professora, que obviamente é cantora, fará uma apresentação em um bar, agora em novembro, e chamou o grupo para dar uma canja em seu show. Imagina isso? É óbvio que só de pensar dá dor de barriga, mas como é que a gente vai perder uma oportunidade assim? O show é dela, assim como o risco, é só uma palhinha em grupo, mas para mim, que nem no chuveiro cantava, porque afinal de contas os vizinhos iam escutar, é um grande passo para a humanidade!

 

E assim passam os dias, me arrastando para levantar em um humor, no mínimo, questionável, mas pouco a pouco me animando. Vai ver é meu inferno astral, o que apesar de vir junto à uruca, também me lembra que está chegando meu aniversário. E uma festinha não é nada mal…

O efeito terapêutico das Lulus

Sempre tive amigas e amigos, não me lembro de passar por aquela fase onde meninos e meninas se detestam. Na verdade, quando era criança, por coincidência, morei um tempo razoável em ruas onde só havia meninos e participava ativamente das brincadeiras. Nunca fui muito pequena, o que também não justificava um tratamento especial, principalmente, em uma idade onde não parecíamos tão diferentes assim.

 

Não quer dizer que não tivesse amigas, essas eram no colégio. Então, de certa forma, frequentava dois mundos que me interessavam. Amigas eram afinidades e amigos eram diversão.

 

Na adolescência, confesso que com os hormônios enlouquecidos, meninos continuavam sendo diversão, mas dificilmente eram amigos. Entre as amigas, compartilhávamos experiências e dúvidas.

 

Os hormônios foram se acalmando, e novamente não me fazia tanta diferença ter amigos homens ou mulheres. Cansei de escutar teorias sobre amizades possíveis e impossíveis, que às vezes acho curioso, outras absurdo total e o fato é que continuei tento amigos e amigas.

 

Entre as coisas absurdas que passei a vida escutando estava a clássica bobagem que não existe mulher amiga de mulher, só homens são verdadeiros amigos. O típico jargão que se propaga ao longo dos anos e que quando buscamos paralelos na vida real, não encontramos. Eu, pelo menos, normalmente não encontro. E das poucas vezes que encontrei, considero percentualmente insignificante ou não atrelado ao sexo em questão.

 

Muito bem, o tempo foi passando e fui trabalhar em um ambiente muito masculino, onde sinceramente, nunca me senti incômoda. Eu me preparei para passar por situações de preconceito que poucas vezes aconteceram. É verdade que ao passar pelas malfadadas dinâmicas de grupo, era comum ver ao meu lado duas ou três meninas e vinte homens, eu sabia que não bastava ser igual a eles, se não fosse melhor, não teria uma oportunidade. Mas uma vez dentro, não tinha maiores problemas. Eu também sabia que minha concorrência era com eles e não com elas, como costuma se pregar.

 

Enfim, trabalhei por alguns anos em um ritmo de agressividade considerado masculino e não foi difícil exercer esse perfil. Talvez por isso, tenha desequilibrado um pouco o peso da balança e tudo ficou masculino demais para o meu gosto. Eu continuava a ser mulher e esse papel também me caía bem.

 

Mudei de carreira, por outros motivos, mas mantive as amizades. Entre essas amizades, estavam três amigas que trabalharam em consultoria de negócios junto comigo. Uma delas se manteve nessa área, e as outras duas, como eu, mudamos de profissão. Um dia, resolvemos nos encontrar e, como estávamos só em mulheres, nos auto entitulamos de Luluzinhas, as Lulus.

 

Foi terapêutico! Não que falássemos nada demais, mas de repente, me vi em uma situação muito parecida à adolescência, onde compartilhávamos as experiências e as dúvidas, mas dessa vez, de uma maneira bem mais madura. E às vezes, só falávamos besteiras mesmo, não importa, sempre saía dos nossos encontros leve e feliz. Nos esforçávamos para conciliar as agendas e não perder o hábito de nos encontrar. Eventualmente, nossos parceiros eram chamados a participar, como convidados especiais.

 

Mais tarde, veio o seriado “Sex in the City”, onde as amigas também estavam em quatro e, apesar de nem gostar desse número, parece que como grupo de amigas é cabalístico. Funciona. Era inevitável não tentar comparar quem seria quem, o que nunca foi possível definir, afinal de contas, nenhuma de nós se enquadrava totalmente com uma personagem específica. Mas uma coisa era muito clara, assim como elas, também éramos muito diferentes entre nós e talvez o que fosse motivo para cisão, acabou funcionando de maneira oposta. Éramos diferentes, mas olhávamos para a mesma direção.

 

O tempo passou, a água rolou e mudei de países. Conheci amigas show de bola, com quem tenho compartilhado vários momentos, mais frequentemente entre grupos misturados, o que também gosto.

 

Até que agora conheci, quase simultaneamente, três meninas, todas brasileiras. Um dia, uma delas me chamou, escuta, vamos sair só as “chicas”, quer vir? Claro que quero. Naquele momento, não sabia se elas já saíam antes, mas me pareceu curioso estármos outra vez no cabalístico grupo de quatro mulheres. E o engraçado, também nos auto entitulamos de as Lulus, o que não é raro, mas era um bom presságio.

 

Conversa daqui, conversa dali, acabamos marcando um jantar aqui em casa, onde cada uma participava à sua maneira. Era o primeiro encontro dessas Lulus e para dizer a verdade, por alguns momentos fiquei um pouco apreensiva se daria certo, afinal de contas, ainda estávamos nos conhecendo. Também não quis e não gosto de entrar em comparações com outras amigas porque, ainda que existam semelhanças, cada situação é ímpar. Não quis ficar imaginando o que rolaria, melhor deixar acontecer naturalmente.

 

E aconteceu, mais ou menos depois dos três segundos que a primeira Lulu chegou, eu já estava relaxada e curtindo a história. Falamos até dar câimbra na língua! Outra vez, terapêutico, além de gastronômico. Outra vez, somos muito diferentes, mas dá certo. Talvez porque ninguém pareça querer mudar ninguém. Eu gosto da diferença. E assim mesmo, ainda guardamos enormes afinidades.

 

No dia seguinte, tinha a agenda tomada. E eu que fui dormir por volta das quatro da matina, acordei cedo e sonolenta. Naqueles dias de outono, que amanhecem escuros e propícios a me sequestrar o bom humor. 

 

Só que estava feliz.

 

Há várias coisas que a gente pode fazer para melhorar a deprê de outono/inverno, esporte, alimentação específica, lâmpadas especiais e por aí vai, mas acho que a melhor delas é, definitivamente, encontrar amigas.

Encontros e futebol

Faz um tempo ando me reencontrando virtualmente com amigos do colégio de Brasília. Alguns deles consegui encontrar pessoalmente no Rio, em São Paulo e por incrível que pareça, também aqui em Madri. São amigos de primário e ginásio, coisa que nem se chama mais assim, mas enfim, se já é muito legal encontrá-los virtualmente, imagina ao vivo e a cores, depois de mais de vinte anos sem se ver.

 

No fim de semana passado esteve aqui em casa uma dessas amigas, que mora na Itália. Não é a primeira vez que nos encontramos e é sempre muito divertido. Mas o curioso é que em uma diferença de uns três dias depois, chegou também outro amigo dessa mesma turma, mas esse, não encontro desde o fim da oitava série.

 

Essa confusão entre tempo e espaço me parecem muito intrigantes. Olho para as pessoas e ainda vejo os garotos de 13 anos de idade. É gostoso ouvir um sotaque familiar, do único lugar onde falo e não me perguntam de onde sou com cara de dúvida. E talvez porque o gelo já tenha sido quebrado via internet, não me sinto desconfortável, não falta assunto, é sempre a história do parece que foi ontem.

 

Almoçamos juntos e combinamos de assistir à noite a um jogo do Real Madrid no Santiago Bernabeu. Há quase três anos moro aqui e precisou vir um amigo de Brasília, comprar as entradas para Luiz e eu finalmente irmos a uma partida. É que quando você mora no lugar, fica sempre deixando as coisas para depois.

 

Pois lá fomos nós e eu estava bem animada. Não tenho paciência para jogos pela televisão, mas simplesmente deliro em assistir um jogo da arquibancada. Primeiro porque a partida em si fica mais emocionante, segundo porque adoro a bagunça da torcida.

 

Bom, Real Madrid jogando em casa, obviamente tomou quase todo o estádio. Uma pequena fração era ocupada pelo Olimpiakos. Na verdade, entre a torcida do Real, ainda havia alguns poucos gregos e aqui isso não dá problema de briga. Pois muito bem, como uma boa flamenguista que sou, achei que a torcida do Real fosse bombar. Que nada! Uma coisa tão civilizada que achei até fria. O povo do Olimpiakos com um cagagésimo de torcedores, fazia muito mais barulho e pareciam bem mais animados. Eu sou Real Madrid, mas confesso que fiquei tentada a virar a casaca.

 

Menos mal que o Robinho se empolgou e acabou levantando um pouco a morna torcida do Real Madrid. E no final das contas, eu bem que gostei da baguncinha. Na saída, um mar de gente, mas nenhuma confusão.

 

Valeu. Jogo bom. Da parte da não violência, gostei e muito. Foi também um programa diferente e legal por encontrar um amigo de tantos anos atrás. Mas no quesito empolgação futebolística, preciso admitir que fiquei com aquele gostinho de quero mais.

 

Domingo

Raça Rubro Negra

 

Domingo, eu vou ao Maracanã
Vou torcer pro time que sou fã
Vou levar foguetes e bandeiras
Não vai se de brincadeira
Ele vai ser campeão
E eu não quero, cadeira numerada
Eu vou de arquibancada
Pra sentir mais emoção
Por que meu time
Bota pra f…er
E o Nome dele são vocês que vão dizer
O ôôô ôôô ôôô Mengo!
Lá lá laiá laiá
lá laiá laiá lalaiá Raça!

Bicho carpinteiro

Todo ano, quando vai chegando a época de aniversário, me bate o bicho carpinteiro e uma vontade louca de mudar. Às vezes, uma mudança de móveis ou de corte de cabelo resolve. Normalmente, quero mais.

 

Pode ser do signo, para quem acredita, escorpião é de renascimentos. Pode ser do símbolo, aniversários fazem a gente pensar que o tempo está passando e dá vontade de realizar coisas. De uma forma ou de outra, sou de fechar ciclos e há um se fechando nesse momento.

 

Farei 38 anos e a proximidade dos 40 tem me feito pensar um pouco mais no futuro. Penso mais em dinheiro, em conforto e em segurança, e isso me envelhece. Ainda tenho a capacidade de respirar fundo e dizer, que se dane, dá-se um jeito! Mas me pergunto até quando poderei. Já não é mais a mesma coisa e estou perdendo a pilha para recomeços radicais.

 

Isso não impede que meu urso acorde e comece a se remexer, não caibo mais aqui. Não sei quantos recomeços me restam, mas às vezes de imaginar fico cansada. Não tenho mais energia para disperdícios e devo atirar com mira precisa. Mas o que é preciso na vida?

 

Fernando Pessoa que o diga, acho que só navegar é preciso.

Soltando a voz e a franga – um minuto para o comercial

Continuo no coral, firme, forte e com novidades. A corajosa da professora, que é cantora profissional, fará um show e chamou o grupo para dar uma palhinha em uma das músicas.

 

Não costumo dar nome aos bois, mas nesse caso é uma propaganda descarada, então é o seguinte, o show é da Vanessa Borhagian, que fará uma homenagem ao Cartola. Agora a parte mais legal, será transmitido ao vivo pela internet no website da casa noturna, www.buhoreal.com . Então, amigos ao redor do mundo, vocês poderão assistir a um ótimo show da Vanessa, que recomendo; e ao mesmo tempo, terão a oportunidade de ver Luiz e eu pagando o maior mico em algum momento. 

 

E para os habitantes da babilônia madrileña, a Sala Buho Real fica na Calle Regueros 5. Será no dia 07 de novembro, quarta-feira, às 22:00 horas de Madri, equivalente às 19:00 horas do Brasil.

 

Essa corrente começou em Aparecida do Norte e se você não passar a notícia para 25 amigos, seu dedo do pé esquerdo começará a inchar e nascerá uma verruga no seu nariz!

 

Tá bom, tá bom, é brincadeira, juro que não nascerá nenhuma verruga, mas a divulgação é bem vinda!

E não é que a gente cantou mesmo?

Eu já me acabei de rir com o vídeo que passou pelo website do bar onde cantamos. Fizemos tanta propaganda e no final eu mal apareço no escuro e o microfone não pega a nossa voz, hilário! Mas garanto que a gente cantou mesmo e, apesar do nervoso nos travar um pouco, juro que não chegamos a atrapalhar o show.

 

Mas vamos por partes, passei um dia completamente improdutivo. Não conseguia sair do orkut, de farra com os outros integrantes do coral. Na verdade, estamos buscando um nome para o grupo, o que tem gerado mil mensagens engraçadas. Mas acho que era um pouco de desculpa também para aliviar a tensão da nossa estréia.

 

Quando digo nossa estréia, parece até que o show era nosso! O que acontece é que a cantora é uma profissional, que pode ter seus momentos de nervosismo também, mas pelo menos em tese, está habituada. Para a gente, era tudo novidade.

 

Chegamos super cedo no local, por um lado, para guardar lugar na frente e facilitar nossa entrada no palco. Mas na realidade, queria mesmo era chegar logo e ver o tamanho da encrenca. Não conhecia o bar e estar ali antes me fazia sentir mais familiarizada. Os primeiros a chegar eram todos conhecidos e isso amenizou bastante as coisas. Em pouco tempo, com toda sinceridade, fiquei bem à vontade.

 

Muito bem, quando todos do coral já estavam no local, precisávamos dar uma última repassada na música. Mas onde? Porque as pessoas que assistiriam ao show também já haviam começado a chegar. Não houve dúvida: todo mundo para o banheiro feminino! Acontece que o tal banheiro era mínimo, desses que só tem um lugar para suas necessidades básicas e um espacinho de nada para a pia. E ali nos concentramos umas 15 pessoas, entre homens e mulheres, com todas as piadinhas possíveis! Fechamos a porta e mandamos bala, na música, óbvio.

 

Eu não sei se foram meus ouvidos, mas acho que nunca cantamos tão bem antes. Todo mundo concentrado e afinadinho. Além do mais, a acústica do banheiro era ótima. Isso ajudou muito a dar confiança.

 

Então, tá né? Agora não tinha volta e o show iria começar. Nossa professora-cantora entrou e arrebentou. Uma voz super bonita, carismática, e cantando Cartola ficava até covardia. O local era bastante aconchegante, estava cheio, e talvez por estarmos sentados muito próximos ao palco, ficou intimista e agradável.

 

Achei que não fosse conseguir aproveitar o show por ficar ansiosa. Mas isso não aconteceu. Em alguns momentos até esqueci que cantaríamos. Fomos aconselhados a não tomar bebida alcoólica antes de cantar, regra que respeitei. Já Luiz se auto-entitulou dicípulo de Tim Maia e Vinícius de Moraes e mandou ver uma dose de whisky. Bom, comprei minha dose também, mas deixei na mesa para tomar depois de cantar, ou em comemoração ou para esquecer, isso decidiria de acordo com o resultado da nossa apresentação.

 

Pouco antes da nossa entrada, houve um momento muito bonito e espontâneo. Ela começou a cantar “As Rosas Não Falam” e pouco a pouco as pessoas foram engrossando um coro baixinho, mas presente. Arrepiou.

 

E finalmente, nossa hora de entrar. O palco era pequenininho e não cabia todo mundo, fomos nos arranjando do jeito que dava. Os meninos aparecem bem. Já as meninas, eu inclusive, aparecemos pouco. Um dos amigos ficou na frente da luz, obviamente não fez de propósito, acho que era onde ele cabia. Mas o fato é que as mocinhas ficaram no escuro. Para quem estava no local, acredito que não foi um problema, mas na filmagem, ficamos invisíveis. Se eu soubesse disso antes, talvez não tivesse ficado nervosa.

 

Porque eu até achei que não estava mais nervosa, não estava mesmo, mas na hora que subi no palco e olhei aquele monte de gente assistindo, a garganta secou! E para a voz sair? Não sei se era impressão, mas escutava a voz do coro baixa e nervosa também, quase sumindo, e só pensava que não dava para parar dali e era melhor cantar mal que desanimar. Chega um momento em que você só pensa na música e a coisa flui mais fácil. A garganta continuava seca e o fôlego foi acabando, agradeci não haver bebido antes.

 

Contando assim, parece que foi ruim, o que não é verdade. Apesar da ansiedade, era gostoso e divertido. Um nervosinho bom, vontade de acertar e melhorar. Sabíamos das nossas limitações, mas topamos o desafio e valeu a pena. Agora, naquela lista de coisas que precisamos fazer na vida, podemos dizer que cantamos em um bar. E quando nossa cantora-professora ficar muito famosa, poderemos falar com ar displicente: já cantei com ela…

 

 

 

 

Para quem quiser assistir o vídeo da nossa palhinha, segue o link. Estou meio escondida atrás da cantora e o Luiz está de camisa rosa na frente.

http://www.youtube.com/watch?v=MWyyz5AQiLo

 

<a href=”http://grupobalaio.blogspot.com/“>Cantoria</a>

 

<a href=”http://www.youtube.com/watch?v=MWyyz5AQiLo“>youtube</a>

A história das festas

Eu adoro festas e também fazer aniversário, logo, amo festas de aniversário!

 

Quando era pequena, achava um pouco estranho e tinha vergonha da hora do parabéns. Para ser sincera, até hoje me sinto um pouco constrangida nesse momento. Não sou tímida, mas não gosto de chamar atenção. Talvez, de uma maneira intuitiva, soubesse que toda festa é dos convidados e centralizar o protagonismo não fazia muito sentido. Criança, eu não queria festa de aniversário.

 

Fui felizmente adestrada muito cedo a comer bem. Desde que minha memória alcança, acompanhava meus pais a bons restaurantes e sempre comi como gente grande. Os meus preferidos tinham música ao vivo e gostava de sentar bem na frente para aplaudir os artistas. Pois bem, quando pude ter alguma opinião sobre o que queria de aniversário, pedia um jantar no meu restaurante favorito da época com minhas amigas mais próximas. Assim ficava feliz, ao redor de uma mesa, estava no meu elemento natural e na minha zona de conforto.

 

Quando estava para fazer 10 anos, achei que aquela idade era muito importante e que precisava ser celebrada. Era um ritual de passagem, ainda que não conhecesse com tanta propriedade o que significava esse conceito. De qualquer maneira, foi a primeira festa que pedi e tive. Eu gostei e consegui me divertir, não me sentia como uma noiva no centro das atenções. Na verdade, era praticamente outra convidada e esse foi o segredo para aproveitar uma festa que tive a sorte de descobrir jovem.

 

Na casa dos meus pais, sempre se recebeu muita gente. Cresci vendo comidas serem compradas, aromas dos alimentos sendo preparados, quantidades de bebidas, mesas desmontáveis de feltro verde para jogos, espetos de churrasco, guardanapos, toalhas de mesa, música e por aí vai. De maneira que, mesmo não sendo responsável por isso, para mim tudo parecia muito natural. Achava que toda casa era assim. A função de uma casa era morar, receber a família e os amigos, claro!

 

Aos poucos, fui notando que nem toda casa era assim, cada uma tinha sua própria dinâmica. Luiz por exemplo, nunca foi de dar festas. Para ele parecia algo complicado e trabalhoso. Além do clássico medo que inevitavelmente surge antes de qualquer festa, independente da sua experiência: será que as pessoas virão? Será que vai dar certo?

 

Bom, nos casamos relativamente cedo e fomos um dos primeiros casais do nosso grupo de amigos a ter a própria casa. Portanto, um ótimo local para nos reunirmos. Para completar, nessa época eu vivia na ponte aérea e ficava complicado para levar uma vida social, tinha pouco tempo disponível. O mais razoável, era fazer reuniões em casa mesmo, no sábado.

 

Confesso que nas primeiras Luiz ficava tenso, não se divertia. Mas isso não durou muito tempo. Ele logo conseguiu relaxar e disfrutar das festas. Até porque acabou se tornando o programa de sábado, a gente não precisava mais convidar ninguém nem se preocupar se as pessoas viriam, porque elas mesmas ligavam à tarde, perguntando se poderíam vir. Compras também não era um problema, porque a bebida e a comida chegavam junto com os convidados. Era divertido ver a geladeira e a dispensa encher e esvaziar na mesma noite. Época boa, onde reforçamos laços de amizade e conseguimos levar com boa energia um período que nos era difícil. Passei quase um ano, o primeiro de casada, trabalhando em São Paulo e só encontrava Luiz nos finais de semana, no nosso apartamento no Rio.

 

A vida é complexa e composta de muitas coisas para dizermos que um ou outro motivo isolado garantem determinada situação, mas posso assegurar que essas festas, ou em outras palavras, a presença dos amigos e o entrosamento do Luiz nessa maneira de viver, ajudaram e muito a fazer minha vida melhor. Festas ajudam a fazer de uma casa um lar e mostram aos seus amigos o quanto eles são especiais. Receber amigos junto com o Luiz, reforça nossa cumplicidade e é um dos momentos onde podemos ser um time. Quando ele não entra no espírito da festa, para mim é sempre mais triste, ainda que funcione. Felizmente, isso acontece pouco e dançamos nossa coreografia aperfeiçoada ao longo dos anos.

 

Voltando à história das festas, finalmente faria 30 anos! Na minha opinião era a melhor idade que uma mulher poderia ter! E depois de contar toda essa saga das festas, não é muito difícil prever que é lógico que precisava de uma de arromba! Foi em São Paulo, onde já tínhamos muitos amigos, e o legal é que minha família e os amigos do Rio foram também. Em casa tínhamos bem umas 15 pessoas hospedadas e deu tudo incrivelmente certo. Foi também a festa em que fiquei mais nervosa antes de começar, a primeira grande, umas 80 pessoas, onde eu tinha total responsabilidade. Até um DJ a gente contratou!

 

Modéstia às favas, foi um sucesso e deixou a vontade e a expectativa que viessem outras. Vieram. Maiores ou menores, de acordo com as nossas possibilidades e em diferentes cidades ou países. Sei que em novembro há festa em casa e no que depender de mim, sempre haverá. Entre erros e acertos, me importa celebrar o fato que ainda estou aqui e bem viva. Ter amigos para compartilhar esse momento pessoalmente, por telefone ou internet, é uma benção. E se for em uma festa, é correr literalmente para o abraço!

 

Esse ano não poderia ser diferente. Só realmente sinto não ter espaço suficiente para chamar todos os amigos e sinceramente sofro com essa escolha. Fazemos o que é possível e sempre convido mais gente do que cabe em casa. Daí no dia saio arrastando os móveis para os cantos e dando um jeito para que a coisa funcione.

 

Gosto de festas temáticas, ajudam a preparar o clima, a decoração e as comidas. Esse ano fiquei meio na dúvida que tema escolher. Sou um pouco subversiva, mesmo quando tão sutil que não se percebe, mas assim parece que é ainda melhor. A questão do preconceito com a imigração aqui na Espanha anda me enchendo a paciência… eu ando influenciada pelas culturas orientais… pois caiu como uma luva, fiz uma festa árabe. Admito que havia um grau de pirraça, mas achava que podia ser divertido.

 

O que acho legal é que nossos amigos são muito alto astral e embarcam mesmo na brincadeira. Veio de gente com traje legítimo a outros com pano de prato xadrez na cabeça! Foi muito engraçado! Nenhum vizinho reclamou da música, afinal de contas, quem é o louco que vai se meter com uma aparente célula da Al-Caeda?

 

Fiz quibe, salada de grão-de-bico, tabule, pepino com iogurt, salpicão de frango, beringela assada, queijinhos e pão árabe. Um amigo trouxe dois pudins, e um deles escondi na geladeira, porque afinal de contas, ele disse que era meu presente! A propósito, é claro que me cantaram parabéns com o pudim. Ainda fico sem graça, mas consigo me divertir e cantar também.

 

É verdade que algumas doses de whisky cowboy ajudam muito. Desde que vim morar em Madri, quase não bebo whisky, troquei por vinho. Mas era meu aniversário e queria mesmo meu copinho de shot com um belo whiskão!

 

Pela madrugada, nossa amiga cantora nos deu uma palhinha e nós, com aquela voz de “borrachos”, fomos tentando acompanhar entre uma gargalhada e outra. Uma das amigas, digamos, interpretava a alma da música.  Felizmente, ninguém gravou! Esse negócio de cantar em coral pode se tornar perigoso, porque agora eu acredito que canto!

 

A última convidada saiu às 6 da matina e fui dormir feliz com meus 38 anos.

 

A vida é curta e passa voando. Preciso de referências, de marcos em ciclos fechados ou iniciados, lembrar que algumas coisas faço certo. Minha maior ambição em uma festa é que cada uma das pessoas saia se sentindo especial e querida, sabendo que foi lembrada individualmente, especificamente, e que a ocasião não seria a mesma se não estivesse ali. Eu não seria a mesma se elas não estivessem ali. E isso é uma festa de aniversário.

A primeira cirurgia no exterior a gente nunca esquece

Ninguém gosta de hospital. Acho que nem médico gosta de hospital, a gente vai porque precisa. Acontece que passei minha infância frequentando hospitais e, mesmo não achando divertido, não tenho medo, nunca tive.

 

Assim que quando recebi a notícia que Luiz precisava operar, foi chato, me deu pena, mas encarei com naturalidade. Parecia simples e tinha total condição de cuidar dele, sou quase acompanhante hospitalar profissional.

 

Muito bem, eu achei que estava levando tudo com naturalidade, mas às vezes o corpo te avisa o que você não quer admitir. Minha boca, por exemplo, ficou toda ferida, era óbvio que devia estar nervosa.

 

A situação era diferente, não estava na minha zona de conforto. Estava em um país estrangeiro, com outro tipo de tratamento onde não conheço todos os códigos. E quando me vi sozinha com Luiz no quarto do hospital, sem a família por perto, foi foda!

 

Ter o apoio dos amigos foi fundamental, pelo menos a gente não se sente tão só. Mas na hora que buscaram ele no quarto e fiquei eu e a TV esperando o tempo passar, o buraco foi bem mais embaixo. Não tem como não pensar, e se acontece alguma coisa mais grave? O que faço? Por onde começo?

 

Chegamos ao hospital ao meio dia, Luiz foi preparado às 15:00 horas, mas só entrou para operar às 19:30. Nem sabia que alguém começava a operar a essa hora. Mas enfim, por volta das 22:30 o médico veio me encontrar no quarto para informar como foi a cirurgia.

 

Começou dizendo que foi mais complicado do que eles esperavam, o que me tirou o chão, como assim? Mas ele está bem, está acordado? Ele disse que sim, que subiria em breve, a cirurgia no ombro é que foi mais complicada. Médicos precisam tomar cuidado como começam suas frases. Recuperada do susto, tentei prestar atenção na explicação técnica que a essa altura me importava bem menos. Realmente, a operação foi mais complexa, ele precisará de mais tempo de recuperação, mas foi um sucesso.

 

Por volta das onze da noite chegou Luiz no quarto, ainda meio grogue da anestesia, mas lúcido. E roxo de fome, claro! Estava em jejum desde às nove da matina e só poderia comer e beber no dia seguinte.

 

A noite foi difícil para nós dois, mais para ele. Sentia muita dor, fome e não conseguia dormir. Ele não dormindo, também não dormi. No dia seguinte, logo que ele pôde tomar um suco de laranja, vim correndo em casa para ver como estava o Jack, que dormiu sozinho. O gato estava em uma carência só, mas estava bem. Voltei rápido para o hospital, a tempo de cruzar com o médico, que havia acabado de explicar ao Luiz toda a saga do ombro. Ele estaria liberado para voltar para casa à tarde.

 

O horário de saída não ficou muito claro, ninguém veio dizer para ele que já era hora de ir. E acho que ninguém diria se a gente não perguntasse. Fui eu mesma quem dei banho nele e nem perdemos tempo em ficar perguntando o que podia ou não podia. Enfim, por volta das seis da tarde estávamos em casa.

 

Chegar no nosso apartamento foi um alívio. Jack estava um pouco estressado, mas até à noite foi normalizando. Luiz ainda tinha bastante dor e nesse dia fomos deitar bem cedo, exaustos! Acho que estava meio descompensada.

 

A partir do fim de semana, tudo foi melhorando, a dor foi se acalmando, o humor foi voltando e as coisas foram tomando seu rumo. No sábado já começamos a receber visitas de amigos, o que deu uma animada na casa.

 

Em paralelo, surgiu a oportunidade de fazer uma exposição individual no dia 04 de dezembro, na Casa do Brasil. Na verdade, tudo começou com a apresentação de fim de ano do coral que participamos, que será nesse mesmo dia. Daí nossa professora-cantora perguntou se eu não toparia inaugurar também uma exposição nesse dia e achei muito legal. Por outro lado, como ficou meio em cima da hora, tenho trabalho pelas orelhas. Por sorte, meu atelier é em casa, estar um pouco internada foi até bom, me deixou bem produtiva, apesar de ocupada.

 

E assim se passou uma semana da operação e mal consegui sentar no computador para checar mensagens, que dirá para escrever. Agora as coisas estão mais tranquilas, Luiz está bem independente e meus trabalhos vão no prazo para a exposição.

Entre boas e más notícias

Temos recebido muitos amigos em casa. Luiz já pode sair, mas não estamos saindo muito, assim que os amigos mesmo ligam perguntando se podem passar por aqui e a coisa às vezes acaba virando quase uma festa.

 

Chegou de férias do Brasil uma amigona nossa, sempre saímos juntas e, quase em paralelo, também de visitas a Madri um casal de amigos que adoramos, moraram aqui por um ano e voltaram para o Rio. Enfim, esse casal ligou perguntando se podia passar aqui em casa, claro que sim. Chamamos também essa outra amiga e outros amigos que foram ligando.

 

Muito bem, por volta dàs quatro da tarde, começamos a tomar um vinhozinho, ou melhor ótimos vinhos, e a reunião foi crescendo. No fim da tarde, chegou um outro amigão que faz um super pudim e perguntou se não queríamos ir ao show do Armandinho. Sim, o Armandinho de Dodô e Osmar está em Madri. Topamos.

 

Pouco antes de sairmos para o show, chega uma correspondência registrada para mim. Achei estranho, mas assim que vi o envelope entendi do que se tratava. Há mais ou menos quatro meses, dei entrada no pedido de visto de trabalho, uma longa história. Enfim era a resposta. Abri o envelope brincando e dizendo que tinha mais um motivo para beber, para comemorar ou para esquecer. A verdade é que não tinha um bom presságio. A resposta foi negativa, me negaram o visto de trabalho e fiquei bem aborrecida. Luiz ainda leu em voz alta as piores partes o que me irritou um pouco mais. Fica todo mundo com aquela cara de nádegas, tentando te animar e eu com aquela vontade de xingar todos os palavrões que conheço. O que fazer? Amigos em casa, tudo certo para sair, segurei minha onda e prossegui com a noite.

 

Ali tomei uma decisão séria. Não tinha vontade de conversar sobre isso. Mais tarde, quando Luiz e eu chegássemos em casa ele saberia.

 

Fomos para o show, chegamos em cima da hora, mas ainda estava vazio. As coisas aqui sempre atrasam muito. Nosso amigo conseguiu uma mesa bem na frente do palco, para umas dez pessoas. Pedi uma dose de whisky cavalar, que se repetiu depois. Queria mesmo chutar o balde.

 

Nossa amiga cantora também foi e o mesmo baterista que tocou conosco no show do Cartola foi tocar com o Armandinho. Até me senti meio profissional e enturmada.

 

Resumo da ópera, um dos melhores shows que fui na vida, um privilégio! Ele é muito bom e arrebentou! Os outros músicos não ficavam atrás, mas a estrela era definitivamente o Armandinho.

 

Cheio de brasileiros na casa, na hora que tocou “vassourinha” foi impossível para qualquer mortal ficar sentado. Até trenzinho rolou! Uma farra! Fiquei com vontade de voltar no dia seguinte. Quando acabou o show, a casa abriu a pista e aproveitei para terminar de soltar a franga dançando. Conhecemos o próprio Armandinho e os outros músicos, todos muito simpáticos.

 

Voltamos para casa dividindo um taxi com mais dois amigos. Vim calada, ainda tínhamos um assunto pendente. Quando saltei sozinha com Luiz, disse o que ele já deveria desconfiar.

 

Só fico em Madri até o ano que vem. Não posso continuar assim, para mim chega. Ele me apoiou, como sempre, e isso ajuda muito. Ainda não sei o que fazer, não sei se quero voltar ao Brasil, há outras possibilidades, mas sei que aqui não quero mais. Cansei.

 

Desse fim de semana infernal, prefiro guardar a parte boa, o encontro com os amigos e o som da guitarra baiana do Armandinho. O resto está resolvido e é só uma questão de tempo.

Sin prisa, pero sin pausa

Vou fazer uma retrospectiva e entender como cheguei até essa situação absurda de estar há quatro anos sem um visto de trabalho.

 

Quando estávamos em São Paulo e Luiz recebeu a proposta para irmos morar nos EUA, eu gostei. Achei que era uma excelente oportunidade de ter uma experiência fora do país, buscávamos isso há algum tempo. Não tinha a menor idéia do que era a burrocracia de vistos e documentações, mas me parecia tudo relativamente simples e achei que tudo seria cuidado pelos advogados da empresa.

 

Com nossa mudança tratada e tudo acertado, descobri que não teria direito a trabalhar em Atlanta. E aí, o que fazer? Para mim parecia que o bonde já havia partido e era tarde demais para desistir, no fundo acreditava que no futuro daríamos um jeito. Além do mais, trabalhando como artista e autônoma, isso não poderia ser tão complicado.

 

Era sim tão complicado, era praticamente impossível. Para viabilizar essa possibilidade, ou conseguia um green card ou precisaria retornar ao Brasil e entrar com um novo e longo processo de visto. Não foi necessário, bem antes disso soubemos que não ficaríamos, viríamos para a Espanha. Fazer o que? Esperar um pouco mais que se resolveria.

 

Luiz, como sempre otimista, me afirmava ser muito mais simples para que eu tivesse meu visto de trabalho aqui. Ainda não o teria quando chegasse, mas depois de um ano, na primeira renovação, ele seria automático.

 

Não foi automático e entendi que estava no mesmo loop maluco de antes, mas tinha a sensação de que só eu achava isso. Acredito que de certa forma era difícil para ele aceitar a situação como ela era, se sentiria responsável pela minha insatisfação em ser meia pessoa. Então, sempre minimizava as dificuldades óbvias, às vezes comparando com seu caso, nem remotamente parecido ao meu, e onde quem cuidava do assunto eram advogados de uma multinacional. A responsabilidade nunca foi dele, eu aceitei essa vida porque quis, mas não seria para sempre. E ser tratada como uma pessimista que colocava dificuldades onde não existia não me ajudou em nada. As dificuldades existem e não estou nem estava exagerando. No máximo, estava me protegendo, porque algumas impossibilidades são muito frustrantes.

 

Muito bem, continuando o conto da carochinha, recebi a notícia que depois do segundo ano vivendo legalmente em Madri, a situação seria bem mais fácil, era só arranjar um emprego que meu visto seria garantido.

 

Veja bem, como arranjar um emprego razoável onde o empregador queira ficar esperando por um mínimo de três meses para sua papelada ficar pronta, sem garantias de ser aprovada. Aqui ninguém quer fazer nada diferente ou que pareça que dará mais cinco minutos de trabalho. Não é impossível, mas é bastante improvável e outra vez terrivelmente frustrante. E pior, nem queria um emprego fixo, queria ao menos a possibilidade de expor e vender legalmente meu trabalho em artes.

 

Muito bem, próximo plano, poderia tentar um visto como autônoma e montar uma empresa. Assim o fiz, há quase quatro meses. Apresentei toda documentação redondinha. Até uma carta de um potencial cliente para minha futura empresa o Luiz conseguiu. Mesmo assim, meu visto de trabalho acaba de ser negado. Para o governo, interessa mais que eu fique aqui parada do que pagando impostos. Esse é o brilhante pensamento ibérico que não enxerga um palmo adiante do nariz.

 

Nesse momento, que mais posso desejar a esse maravilhoso país? Pois que vão todos a tomar por sus culos españoles! Que continuem com sua cafonice dos anos 80, suas mesmas comidas de toda la vida, sua paupérrima e dramática música nasal, sua completa incapacidade de falar outro idioma, seu mau humor contagiante, seu péssimo atendimento e seu racismo de merda. Mas me incluam fora dessa província.

 

Tem gente legal? Claro que sim, em qualquer lugar do planeta se encontra gente legal. Mas hoje não estou com saco de ficar defendendo ninguém não.

 

Às vezes, a gente precisa de um ponto mais radical, um golpe de misericórdia para tomar uma decisão. No último ano por essas bandas tenho me decepcionado bastante e me questionado se é aqui meu lugar, se é aqui que quero que seja meu lugar. Não quero. Vai muito além do despeito, vai além da frustração ou da raiva. Simplesmente cansei e decidi que vou embora.

 

A cabeça ainda está quente, mas vai esfriar. Posso ser bastante calculista com uma decisão tomada. Não tenho pressa, não preciso sair correndo, mas é uma questão de tempo. Como se diz por aqui, e uma amiga me lembrou, sin prisa pero sin pausa. Agora é trabalhar os próximos passos.

Meu lugar

Então tá, né? Depois de surtar, ofender meio mundo e assustar os amigos, lembrei que quando a gente escreve tem uma responsabilidade. Às vezes me esqueço que tem gente que lê e na hora da raiva, novembro sempre borbulha mais alto nas veias. Muita calma nesse momento.

 

Cada passo a seu tempo e agora tenho um importante, não seria justo subestimá-lo.

 

Ontem comecei a montar minha exposição que inaugura semana que vem, isso tem o poder de me transformar da água para o vinho. E vinho pode não ser necessário, ms é muito melhor. Ainda gosto e ainda é meu território, mas só tenho certeza disso quando estou nele. Vai dar uma trabalheira do cão, que bom, é tudo que preciso.

A primeira exposição individual em Madri

Fim de ano é sempre corrido, mas esse último foi brincadeira! Novembro mexeu com meus nervos em todos os sentidos.

 

A ira me subiu a cabeça e soltei mesmo o verbo, às vezes a gente chega no limite. Não retiro o que disse, porque é verdade, mas não é inteligente generalizar e poderia ter feito com mais educação. Ou não, talvez tenha sido bom dar uma desabafada. Enfim, ainda há informações que preciso digerir melhor. O engraçado é que acho que nossa atitude acaba atraindo as coisas e sinceramente me preparei para receber o troco, a raiva faz a gente forte, ainda que emburreça um pouco. Aconteceu o contrário que esperei, só recebi gentileza, o que me fez lembrar que também passei por muita coisa boa e tenho muita sorte com as pessoas que cruzam meu caminho. Portanto, o melhor a fazer era esfriar as idéias e retomar o rumo correto.

 

Tinha uma exposição marcada, muita trabalheira, isso eu sei fazer. E queria fazer bem. Precisava de equilíbrio e de uma boa energia, porque só assim a mágica dá certo. É que de alguma maneira doida sei que posso me comunicar através dos trabalhos, mas fazia tanto tempo que estava me esquecendo desse idioma. De tanto esperar, e já não importa mais porque, talvez estivesse próxima a perder a coragem. O medo mata qualquer artista, mas ele ainda não me pegou dessa vez.

 

Aprendi a ser menos orgulhosa e aceitar ajuda. Essa exposição foi uma lição nesse sentido, desde o início. A propria idéia da exposição não foi minha, foi de uma amiga, e foi ela quem tomou a iniciativa de propor ao espaço cultural. Em um momento duvidei se realmente deveria fazê-la, pois em princípio não teria tempo para a montagem e seria muito rápida,  não queria fazer nada mais ou menos, quase desisti. Luiz insistiu e pensei que se ele estava acreditando, como eu poderia recusar. E nesse momento lembrei que ainda tenho coragem.

 

O prazo aumentou, tive o tempo de montagem necessário e os caminhos foram se abrindo pouco a pouco. Sozinha seria muito difícil dar conta de tudo, organizar, montar e divulgar uma exposição individual é um trabalho insano, muitos detalhes. Só que não estava sozinha, na verdade, nunca tanta gente se ofereceu para ajudar, e sem nem precisar pedir. Tive amigas e amigos carregando peso, pintando pilar, dirigindo o carro para levar as peças, fazendo convite, fotografando, divulgando e apoiando. Caramba, eu precisava fazer direito!

 

Além do mais, a noite não seria só minha, era também a apresentação do coral que faço parte. Uma das melhores coisas que me aconteceram esse ano! Amigos generosos e de bom astral, o grupo que sempre diz sim.

 

Foi trabalhoso, mas não foi difícil. Como andar de bicicleta, em algum lugar da memória está todo o cronograma. Eu me transformo, sempre sou uma pessoa melhor quando estou fazendo. Cinco minutos depois de começar a montagem, me esqueço do resto do mundo, de comer, de ir ao banheiro… I’m a woman in a mission. Chega a ser curioso, normalmente, tenho vertigem e mania de limpeza, mas no fim das contas me peguei feliz da vida esculpindo o ar por cima da escada suja, pendurada nas estruturas do altíssimo teto. Sabia que isso ia acontecer.

 

Muita gente acha que a melhor parte é a inauguração ou a criação, mas para mim não é. A delícia é esse trabalho operário de fazer acontecer. A criação é um sofrimento. A inauguração é o glamour e a atenção em tecer corretamente a rede de contatos.

 

Estive tão ocupada que nem deu muito tempo para ficar nervosa. Pelo menos até a véspera. No dia, com tudo montado, bateu o frio na barriga do “é hoje”! Acho que nunca vou conseguir fazer uma inauguração sem ficar nervosa. E nesse caso, era nervoso duplo, vernissage e cantoria. Inverno em Madri, eu de sandalinha e blusa fina, sentindo um calor danado, óbvio que estava com a adrenalina a mil!

 

Cheguei cedo ao local, queria checar com calma se estava tudo no lugar. Estava. Recuperei a confiança, de qualquer forma, já não tinha mais o que fazer. As pessoas começaram a chegar e com isso fui relaxando e desfrutando um pouco mais. Não dá para relaxar muito, porque também é um momento de trabalho. Seus amigos estão lá, mas não são os únicos.

 

Resumo da ópera, foram mais de cem pessoas e isso é muita coisa para uma inauguração de exposição, principalmente considerando que sou estrangeira. Lógico que o pessoal do coral trouxe bastante público e até nisso dei sorte. Fiz contatos interessantes que podem render frutos. Mas o mais importante é que tive a sensação de que as pessoas gostaram, entraram no espírito da coisa, se divertiram, viajaram e isso é muito realizador.

 

Quando respirei fundo mais tranquila, era hora de cantar. Pronto! Fiquei nervosa outra vez, mas agora menos, porque a responsabilidade estava dividida. Foi muito legal. Cheguei a conclusão que o palco não me assusta tanto quanto imaginava. E falando em palco, nossa maestra é muito carismática e é ali o seu lugar, na frente dos holofotes ela cresce e nos leva na mesma onda.

 

Quando dei por mim, estava me despedindo das pessoas e passou tudo em três minutos! Fiquei emocionada, mas não era lugar nem momento de chorar.

 

De lá saímos com uma amiga e outro casal para jantar. Minha noite precisava de um encerramento. Imagina se ia conseguir dormir, estava quicando!

 

Onde poderíamos ir? No Trifón, é lógico! Fechar com chave de ouro uma noite de diamantes. O que mais gosto de fazer, junto do Luiz, cercada de amigos e amigas especiais e ainda por cima cantando! O que mais poderia pedir?

52 – Agora sou batuqueira

Sempre fui alucinada com percussão, idéia vetada na minha casa desde o início. Tudo bem, realmente ter uma filha tocando bateria não deve ser a coisa mais legal do mundo, mas acho que levava jeito para a coisa.

 

Minha tia, por parte de pai, foi baterista e tocava abrindo os shows do Mario Mascarenhas, irmão do meu avô. Imagino que seus ensaios devam ter contribuído para o não rotundo em relação ao meu intresse pelo assunto.

 

Meu pai tocava com os amigos no fim de semana no clube, honestamente, era minha visão de inferno. Mas por outro lado, tinha disponível em casa alguns intrumentos, como tambora e tamborim, e de vez em quando dava uma arriscada.

 

O mais próximo que cheguei foi tocar caixa na banda do colégio, que não é lá nenhuma Brastemp e me fazia usar aquela roupinha ridícula com penacho na cabeça. Mas vai, pelo menos, rolava uma batucadinha no final dos ensaios, que era divertido.

 

Levo um tempo com vontade de estudar percussão. Dessa vez, sem grandes ambições de ser baterista, mas por aprender uma língua nova. Sinto que já fui melhor em ritmo e acho que essas coisas a gente não pode deixar de praticar, porque perde. Ainda tenho condições de aprender e resolvi arriscar.

 

Quando a gente quer algo, parece que tudo se encaminha para isso e assim foi. Nosso grupo do coral entrou de férias no fim de junho. Entretanto, havia muita gente que não ia viajar em julho, incluindo nossa professora. Começamos a botar pilha para continuar as aulas mais um mês. Daí surgiu a proposta de fazer julho dedicado à percussão. Perfeito!

 

Não dá para em um mês você sair mestre de escola de samba, é simplesmente para pegar um gosto, ver o básico. Pois como se podia imaginar, peguei muito mais que gosto. Luiz também se animou.

 

Resultado, já temos um repinique, um tamborim e um chocalho. Encomendamos um pandeiro e estou doida por um surdão! Sim, me amarrei no surdão. Aula passada tivemos um pouco de samba reagge e me senti negão do Candeal. Tu-gu-du-gu-dum tum tum tum… Dá a maior sensação de poder! O problema é que tinha que tocar em um Djembe meio grande e pesado, no final, minha perna já estava trêmula. É um exercício e tanto! Mas acho que se tocar naquele que tem um pé apoiando, dou conta. No braço, tenho quase certeza que me garanto.

 

Resumindo, óbvio que não podia me apaixonar apenas pelo tamborim, né? Tinha que ser pela marcação do surdo!

 

Ainda tenho bastante dificuldade e acho que precisarei treinar muito. Acho complicado cantar e batucar ao mesmo tempo, quase sempre ou faço um, ou faço outro. Talvez com os ensaios eu vá melhorando. Não sei, mas vou tentar. Até porque é viciante, toda hora me pego batucando na perna o que a gente aprende na aula, para ficar automático.

 

Eu já não ando pela rua muito normal. Vivo caminhando rápido com minhas botas de trekking e uma mochila laranja. Depois, passei a cantarolar sozinha. Agora, ainda por cima, fico batucando nos meus instrumentos imaginários! Qualquer dia me internam!

 

Go Forrest, go!

 

 

 

51 – Taking a walk on the wild side

Na quarta-feira, recebemos visitas. Um casal de amigos franceses que adoramos. Não me lembro mais se já contei essa história, mas nos conhecemos de maneira curiosa. Luiz foi fazer um treinamento na Inglaterra, em uma cidadezinha meio afastada de Londres. Morávamos no Brasil nessa época e acabei indo com ele.

 

Na minha memória, levava quase duas horas para que conseguisse chegar em algum lugar razoável em Londres, de maneira que no terceiro dia da viagem, estava cortando os pulsos de tédio. Nosso vôo fazia escala em Paris, portanto decidi voltar para França mais cedo, mesmo sozinha, e aproveitar o resto do tempo por lá.

 

Nisso, Luiz fez amizade com um francês no seu curso e contando essa história para ele, o outro respondeu que sua esposa estava em Paris, um pouco entediada também, porque acabavam de voltar a morar por lá e ela ainda não estava trabalhando. Ele deu o telefone da esposa e Luiz me repassou, pedindo que ligasse para ela.

 

Liguei por educação, imaginei que uma francesa que nunca tinha me visto na vida não ia querer sair comigo. Aquilo era armação de marido. Mas o fato é que nos encontramos e foi amizade instantânea. Chegamos inclusive a frequentar uma aula de desenho com modelo vivo, o que considerando que ela é veterinária, foi bastante inesperado.

 

Luiz se tornou grande amigo do marido e eu grande amiga da esposa, mas não nos encontramos os dois casais juntos. Levou quase um ano para que nos encontrássemos todos de uma vez, em Paris. Daí por diante, sempre mantivemos contato, ficamos duas vezes hospedados com eles.

 

Já os havia convidado antes, mas ao longo do tempo, eles tiveram dois filhos e até então, complicava um pouco para viajar. Agora é menos complicado, pois o mais velho tem quase 6 anos e a mais nova uns 3. O menino, cheguei a conhecer por volta dos 3 anos e era um docinho. De maneira, que ao saber que estariam pela Espanha no fim de julho, pensei, por que não convidá-los? O apartamento comporta, a gente gosta deles, que tal dar uma voltinha no lado selvagem da vida?

 

Eles toparam. Quando avisei ao Luiz que teríamos duas crianças em casa, senti um suspiro contido de medo, mas logo se dispersou. A verdade é que ele, como eu, acreditamos que não há criança mal educada, e sim pais mal educados. Pelo que conhecíamos do casal e do menininho mais novo, achamos que valia o risco.

 

E valeu. As crianças não atrapalharam absolutamente nada, no fundo, até achei bem legal.

 

É uma rotina diferente, a cada saída de casa há um milhão de detalhes, entre carrinhos, brinquedos, água, chapéus… Conheci Madri por outro ângulo, o de quem tem filhos.

 

Fomos caminhar no centro da cidade na quinta-feira pela manhã e é um local meio difícil para ir de carro, portanto fomos de metrô. Muda o tempo para chegar até a estação, porque as crianças tem o passo menor. Ali precisava descobrir por onde passava o carrinho e a partir de que idade se pagava passagem. A propósito, se paga passagem a partir dos 4 anos, mas eles são razoavelmente tolerantes em relação a isso. Se a criança tiver tamanho para passar com você na roleta, eles fazem vista grossa. O carrinho passa por um portão lateral. Mas não é só isso, tem uma escadaria danada dentro da estação, coisa que nunca tinha prestado muita atenção até esse momento. Num instante você trata de descobrir onde raios é o elevador, se é que há algum, coisa que nem sempre acontece. Quando não tem, um pega o carrinho pela parte de cima e outro pela parte de baixo. Às vezes a mãe está sozinha e alguma voluntária, que normalmente é mulher, se oferece para ajudar.

 

Isso tenho que reconhecer, as pessoas me pareceram solidárias com quem tem filhos. Vou dar outro exemplo, temos só uma vaga na garagem. Luiz cedeu essa vaga para nossos amigos, até porque o carro precisa ser grande e sempre vai carregado de coisas. Nossa vizinha, reparou que o carro era diferente e certamente viu o carrinho de criança que ficou do lado de fora, no corredor do elevador, coisa que ela também faz de vez em quando. No dia seguinte, pela manhã, havia um bilhete embaixo da nossa porta avisando que eles saíram de férias e que se quiséssemos, podíamos usar a vaga deles na garagem. Achei muito gentil e tenho certeza que boa parte dessa amabilidade foi por empatia. Eles tem duas meninas e devem saber a complicação que é sair com crianças.

 

Mas se por um lado é complicado o transporte, durante o passeio é bem normal, só muda mesmo os tempos.

 

Na quinta-feira à noite, tínhamos aula de percussão e não queríamos faltar. É um curso intensivo que estamos fazendo durante o mês de julho. Talvez a gente continue depois, espero que sim porque estou adorando, mas voltando ao assunto, levamos o casal e as crianças conosco para assistir. Apesar do nosso mico, acho que eles gostaram.

 

Em casa, também foi bem tranquilo e muitas vezes engraçado. A menina ficou enlouquecida com meu gato, que como um típico felino, não gostou tanto assim do interesse. Mas ao mesmo tempo, ela era bastante doce e não o assustava. Ela  ia atrás dele incansável bem devagar e ele fugia na mesma velocidade, uma perseguição em loop e câmera lenta.

 

O menino, já maiorzinho, se encantou com o Wii, que é realmente hipnótico. Mas ao mesmo tempo, também não ficava obcecado, ponto para os pais. Ele adora ler, o que achei o máximo. Muito bonitinho quando ele lê para a irmã, que presta a maior atenção.

 

Na sexta-feira, aproveitamos o pretexto e montamos a piscina no terraço. A proprietária do apartamento deixou uma piscina, dessas de lona para crianças. Finalmente, tínhamos a perfeita desculpa para montá-la. Até que é bem grandinha, melhor do que as que existiam no meu tempo. As crianças adoraram e, admito, que nós adultos também. Foi legal aproveitar o ar livre e jantávamos lá por cima mesmo. Fizemos churrasco, logo após às 20:00 horas, quando a temperatura fica mais amena.

 

No sábado à tarde, fomos almoçar em Patones de Arriba. Um vilarejo de pedra com uma história bem interessante, que já contei por aqui. Na época da invasão francesa, foi o único povoado espanhol que não se rendeu. O motivo foi o mais curioso, as tropas de Napoleão nunca sequer encontraram o vilarejo escondido nas montanhas. Mas enfim, hoje em dia é um lugar gostoso para ir almoçar. Gosto muito de um restaurante chamado El Poleo, para onde levamos nossos amigos.

 

A idéia inicial era de lá passear em Pedraza, outra cidadezinha, mas o calor não estava cooperando muito. Achamos melhor voltar para casa, fazer uma siesta básica e depois ir para piscina. Acabamos fazendo outro churrasco, o que não foi nada mal.

 

No domingo, pela manhã, eles se foram. Passou voando. Acredite se quiser, mas na segunda-feira, bem que senti falta dos passinhos pequenos e risadinhas entrando no meu quarto devagar para ver se tinha acordado, e da gargalhada dupla quando abria um olho só e dizia, cuco! Bonjour!