Sobre generosidade e gratidão

Sinto que ando meio monotemática, né? Acho que todos estamos um pouco, faz parte do momento atual. Parece que tudo gira em torno do tal COVID-19. Difícil não pensar que estamos ainda no centro de uma pandemia e tentando entender como devemos nos posicionar.

Nos aproximamos de quase 50 dias em distanciamento social e, como escrevi anteriormente, no início foi bem mais difícil que agora. Meu tom era muito mais sério, acreditava e sigo acreditando que estamos em período de guerra. Mas como costumo pensar, uma guerra não se vence em um dia, são várias batalhas que devem ser celebradas. Perdemos algumas, mas estamos ganhando e realmente acredito nisso. Gosto de frisar esse fato, porque para quem começou depois de nós e possa estar numa fase depressiva, é sempre bom ouvir que as coisas podem melhorar.

Tenho observado uma coisa bacana que é o fato de muitas pessoas estarem compartilhando de tudo com os demais, desde habilidades e dicas a máscaras ou comida. Verdade, que há quem aproveite o momento como uma oportunidade de negócio, o que não vejo como nenhum problema, por que não? Para que julgar? As pessoas seguem precisando pagar suas contas. Mas também percebo, em grande parte, uma generosidade genuína.

Em contrapartida, me sinto muito grata por tudo que tenho conseguido aprender e receber nesse período. É um fôlego de esperança ver tanta gente se esforçando para dar o seu melhor, ou para si mesmo, ou para sua família ou para completos estranhos.

Isso me dá muita vontade de oferecer alguma coisa também, como uma vontade de não romper a corrente. Acho que no início, quando não estava tão bem, não enxergava o que poderia oferecer. Talvez fosse realmente um momento em que precisasse receber mais, pedir mais, o que para quem me conhece, sabe que me é muito mais difícil. Mas até essa lição de humildade me veio bem a calhar. Porque eu recebi bastante e sou grata.

Então, talvez tenha chegado minha vez. E antecipo que honestamente não tenho nada tão extraordinário para oferecer. Porém, me ocorreu que, quem sabe o que muita gente precise seja mesmo ouvir coisas simples, dicas rotineiras ou um mero reforço de outra pessoa que esteja fazendo coisas parecidas ou sentindo algo semelhante. É bom a gente se sentir parte de algo, saber que não somos os únicos a pensar de determinada forma.

Para algumas pessoas, foi importante criar rotinas em casa. Tanto em horários, maneira de se vestir etc. Acho super válido! No nosso caso, isso não foi tão impactante, porque as minhas principais atividades eram mesmo praticadas em casa; e Luiz, há quase um ano vinha trabalhando bastante em “home office“. Ou seja, acredito que seja um passo que ajude de modo geral, só que já havíamos dado.

Muita gente também aproveitou para arrumar casa, armários, fazer limpeza… Veja bem, acho que funciona para alguns, para mim, não. Sou minha própria faxineira há anos! Vida européia, lembra? Não me queixo em fazer, mas são atividades que não estavam atrasadas em casa e não me proporcionam nenhum prazer. Num momento de privação, fazer algo que sempre achei chato não me ajudou nada!

Daí busquei uma atividade que gosto de fazer: amo cozinhar! A comida na nossa casa sempre foi nosso maior luxo! Então, pronto, algo que me dava o maior pazer! Claro que o cardápio aqui ficou um escândalo! Bom por um lado, porque serviu de compensação; e mau por outro, exatamente porque também serviu de compensação. Não estamos passando nenhum tipo de privação na categoria gastronômica, e sou muito agradecida por conseguir fazer compras regularmente, de ingredientes importantes e frescos. Que nunca nos falte!

E se eu cozinhava bem, e modéstia às favas eu cozinho pacas, estou matando a pau! Isso sem falar dos vinhos, né? Que para mim entram na categoria alimentação da mesma maneira!

Entretanto, é verdade que, além da alimentação saudável, também estamos comendo todo tipo imaginável de besteiras: pizza (que eu nem gosto!), chocolates (adoro!), pão (gosto, mas não costumo comer), bebidas (antes só nos finais de semana), carboidratos à vontade (com tanta gente chata no mundo, vou cortar logo carboidrato da minha vida?), tira-gostos, bacon, embutidos etc. Deu vontade, a gente come!

Lógico que engordamos! Estou me sentindo uma cadela Shar-pei, cheia de dobrinhas! E o que ainda não sei se é bom ou mau, não estou infeliz com meu corpo.

Mas sei que não é legal seguir assim. Funcionou bem para trazer alegria, e trouxe, porém tudo que sai do equilíbrio não é bacana. Sinto que é hora de, não digo cortar de uma vez, mas entrar no eixo. Paciência! Esse setor da vida ainda está em fase de aprimoramento!

Exercício físico: putz, que dificuldade! Estou tentando, mas tá foda! Não vou desistir, mas estou longe do ideal, sei que é algo que ajuda muito em todos os sentidos e preciso dar um jeito de recriar o hábito. Fico me iludindo que quando as “fronteiras” se abrirem novamente será uma ótima motivação, mas no fundo, sei que esse chip precisa ser instalado na minha cabeça antes.

E por falar em hábitos, o que tem me ajudado EXTREMAMENTE (com letras garrafais) é fazer meditação. Sério, está mudando minha vida! E foi uma das coisas que precisei de ajuda. Não costumo citar nomes no blog, mas faço algumas exceções quando acho que pode ajudar tanto quem oferece, quanto quem procura, então citarei alguns, vamos lá.

Fazer meditação é algo presente desde a adolescência, quando fiz um curso chamado “Silva Mind Control“. Foi a primeira vez que ouvi falar a respeito e achei muito bom aprender algumas metodologias. Mas não vou mentir, não são práticas que usei continuamente, é algo que esquecia por anos… depois fazia por um tempo… depois esquecia… e por aí vai!

Acho que pelo meio do ano passado, senti a necessidade de voltar a meditar. Comecei a desenvolver esse hábito ao acordar, antes de me levantar. Era um pouco complicado, porque com Luiz trabalhando de casa, era difícil não me desconcentrar com sua voz nas suas reuniões, ele não fala muito baixinho. Fora o fato dele resolver entrar no quarto pela manhã para me dar bom dia e me interromper diversas vezes no meio da história! Tive a feliz ideia de começar a ouvir música relaxante durante a meditação. Foi ótimo! Primeiro, porque se tem música no quarto, ele não entra para me interromper, ou pelo menos, não fala comigo. Mas, principalmente, porque descobri que alavancava minha capacidade de concentração. E, mesmo quando não estava meditando, colocava a mesma lista de músicas no fundo e isso me tranquilizava instantaneamente. Não era perfeito, afinal, tudo na vida é prática e força de vontade, mas funcionava relativamente.

Quando estourou a pandemia e tivemos que ficar em casa, a depressão me bateu. Eu precisei muito, primeiro, reclamar. Acho que precisava colocar a pressão para fora! Cada vez que ouvia que eu era uma privilegiada por estar na situação que estávamos, por saber que havia gente bem pior e blá, blá, blá… me irritava mais! Era como se eu não tivesse o direito de me aborrecer por nada, afinal, sempre haveria gente pior!

O que eu precisava era ter o direito de estar triste, de estar aborrecida, frustrada, irritada, com medo, preocupada… enfim, aceitar que eu tinha problemas ou como costumo dizer, chamar meus demônios pelos seus nomes!

Pois reclamei, escrevi, coloquei para fora! E foi ótimo! Porque no minuto seguinte em que parei de precisar negar o que me perturbava ou minhas “fraquezas”, estava pronta para fazer algo mais profundo a respeito.

Agora vamos falar das maluquices! Tenho consciência do quanto pareço séria, mas de perto, sou doida de pedra! Então, eu sempre me regulo pelos extremos. Não tenho um pingo de juízo, portanto, preciso ser super responsável, ou me mato em algum exagero. Sou completamente distraída, mas muito mesmo, por isso, preciso de foco absoluto para cumprir tarefas. E ainda por cima, completamente controladora, o que me fez desenvolver uma disciplina tibetana ou me perco!

No meu dia-a-dia normal, trabalho com duas ou três telas de computador abertas. Provavelmente, haverá uma onde estarei escrevendo textos para o blog ou potenciais livros, outra com jornais, índices das bolsas de valores e “trocentas” planilhas abertas sobre nossa vida financeira em três países, outra com whatsapp e mensagens que vão desde fofocas da família a resolver pepinos de obras e inquilinos (claro, nunca no país em que estou), o celular na frente com o Instagram… tudo junto ao mesmo tempo, em idiomas diferentes e com o fone de ouvido escutando música barroca (geralmente, Mozart, que é muito produtivo!). Eventualmente, interrompida pelo meu gato, que quer deitar no lugar do teclado, ou pelo Luiz que quer fazer um intervalo do trabalho dele. Entre uma coisa e outra, faço a comida e arrumo a casa. Arrumar a casa… é meio nas coxas. Fazer a comida é meu momento de lazer, de certa forma, não deixa de ser um tipo de meditação.

Não contei isso para me exibir, mas para ilustrar o quanto sou control freak! Então, imagina essa pessoa que controla tudo, de repente entender que o mundo mudou e eu não sei mais se meus planos cabem no que vem pela frente. Tipo, para tudo! Fodeu!

Meu nível de ansiedade foi na estratosfera! Eu não tinha vontade de levantar da cama! Bianquita, esquece o futuro, esquece o passado, porque não há nada, absolutamente nada que você possa fazer agora a esse respeito. Ou eu aprendia a viver no presente, ou enlouquecia de vez!

Primeiro passo, voltar ao meu centro de equilíbrio! Como faço isso? Não sei, então, deixa eu olhar para dentro… ah, meditação é isso, não? Olhar para dentro! Beleza, decidi, entre outras coisas, focar na meditação. Acontece que tinha poucas ferramentas, uma ou outra técnica aprendida há anos ou coisas que eu lia… Ok, sozinha não vou muito longe, deixa procurar em volta.

Tenho uma grande amiga que é terapeuta transpessoal, tipo assim, na minha cara, né? E eu ralando sozinha por que mesmo? É a Katia Pattaro, que tem um canal no Youtube, chamado Círculo Consciente. Quem quiser saber mais a respeito, passa por lá, mas o que me chamou a atenção foi uma quarentena de exercícios diários para ajudar a desenvolver a atenção plena, Mindfulness Dia a Dia. Comecei a seguir e me ajudou bastante, porque tem me dado uma série de ferramentas para lidar com ansiedade, frustrações, enfim, situações presentes na vida de todo mundo, mas que ficam superdimensionadas em momentos como esse. E por isso, sou grata!

Segui com minhas meditações, todos os dias pela manhã, agora, com mais possibilidades.

Mas, ainda não era o suficiente, estava precisando de drogas mais duras, porque não queria apenas voltar ao eixo, queria ir mais além. A meditação tem uma dificuldade extra para mim, me distraio com muita facilidade e meus pensamentos são muito intensos, aliás, acho que tudo meu é intenso, né? Arrego! Sou dos extremos: ou hiper concentrada ou lararí larará! Estou me esforçando, melhorando essa capacidade, mas faltava algo.

Talvez o universo conspire, ou talvez estivesse prestando mais atenção… mas nesse ínterim, estou eu olhando o Instagram e vejo um aviso que meu ex-mestre do surdo estava entrando com vídeo ao vivo. Achei que seria algo relacionado à percussão e entrei, mas nada a ver! Na verdade, era uma vigília de mantras.

Oi? Vigília de mantras, o que é isso? Bom, não cabe a mim contar essa história, porque não é minha, mas resumidamente ele enveredou há alguns anos para o estudo de mantras, entre outras coisas, e nesse mesmo período também iniciou uma quarentena, onde todos os dias, às 18h30 do Brasil, passa alguma orientação sobre o assunto e canta determinados mantras em sânscrito.

Fiquei curiosa e, por instinto, achei que poderia ser bom para mim. Afinal, o que teria a perder em ouvir? Comecei a escutar bem quieta no meu canto, sem me pronunciar, tentando captar os mantras de ouvido e seguir. Obviamente, conhecimentos de sânscrito não são, digamos, exatamente meu forte, mas tudo bem, decidi não me cobrar, nem julgar, só segui o som e a energia. Por minha conta, fui buscar no google as letras, fiz uma “colinha” com fonte grande para eu enxergar sem óculos, coloquei meu despertador para o horário de início e comecei a frequentar todas as noites, completamente aberta a receber.

Quando me dei conta, estava eu, cantando em sânscrito, absolutamente concentrada. Na verdade, foi muito mais fácil para conseguir me concentrar. Em parte, porque estava mais preparada, talvez pelas ferramentas extras que estou aprendendo; em parte, porque queria de verdade e precisava; mas definitivamente, porque a vibração funciona para mim. E, hoje em dia, na minha vida, se algo funciona, nem quero me preocupar em buscar explicações complicadas, eu vou!

Ah, mas você não é ateísta? Sou. Ah, mas então, como você está cantando para deuses indianos? Com a boca. Ah, mas como alguém que não tem fé pode sentir a energia? Com o corpo, sinto fisicamente. Talvez seja mais difícil para mim do que para outras pessoas mais evoluídas, honestamente, nem me importa. Foi algo que me trouxe paz, pôs meus pés no chão. Melhorou minha capacidade de meditação, me tranquilizou não só durante a vigília, mas durante o dia, quando me pego várias vezes entoando mantras e, inclusive, me ajudou bastante a dormir, coisa que é muito difícil para mim. Por tudo isso, sou grata.

Pois muito bem, acho que acompanhava os mantras há um par de semanas e meu ex-mestre (aparentemente, atual também, né?) pediu um retorno das pessoas, o que estavam achando e tal. Imaginei que seria difícil você estar falando ao vivo com pouco retorno, no sentido que as pessoas te veem, mas você não sabe se elas estão conseguindo acompanhar, se tem dúvidas, enfim, até aquele momento, não havia pensado nessa possibilidade e ainda estava calada. Resolvi escrever para ele e contar mais ou menos essa história e dizer o quanto estava me ajudando.

Aliás, faço aqui um parênteses, isso está entre as coisas que estou tentando exercitar: dizer para as pessoas o que de bom elas me trazem. Muitas vezes, para não “incomodar”, a gente se omite. Talvez pelo medo da rejeição, ou de interromper, ou de ser mal interpretado, ou vergonha… Mas, na prática, todo mundo gosta de saber que ajuda, que faz algo bem, que importa para alguém… Eu também gosto, então, por que não compartilhar?

Voltando à história, resolvi escrever para ele e contar como estava me ajudando e o retorno foi muito bacana! Recebi mais orientações importantes, descobri que nem precisava ter feito minha “colinha”, porque ele já havia disponibilizado o material todo, enfim, foi muito bom! Foi legal também me sentir bem recebida no grupo, é importante a gente se sentir parte de coletividades, principalmente nesse momento de distância física entre as pessoas. Acabou que a esposa dele orienta meditação pela manhã, comecei a tentar seguir também, é um horário não muito fácil para mim, mas tento e igualmente está me ajudando. Fico mais atenta com alguém orientando. Outra vez, sou grata.

Para quem ficou curioso, a vigília de mantras está sendo feita no Instagram, diariamente às 18h30 do Brasil, o perfil é @mariomouraom. E a meditação matinal é feita pela esposa dele, às 6h30 do Brasil, no perfil @nandajank. Ambos os perfis são abertos à participação, claro, com o devido respeito a um trabalho sério.

Muito bem, já falei bastante desse lado meditativo, mas é porque realmente foi o que me deu a base para as mudanças pessoais que estou enfrentando, e acho que enfrentar é a palavra certa. Não tem sido fácil, é algo que tenho que me dobrar, mas cada dia é melhor. E acho que pode ajudar outras pessoas também.

Quando esse processo de mudança se iniciou, eu precisava de um ritual de passagem. Aliás, não só por isso, acho que nunca é uma coisa só. É sempre uma cadeia de fatos que leva aos inícios e finais de ciclos. No meu caso, foi no início da quarentena, quando raspei minha cabeça, escrevi um pouco sobre isso antes. Acho que marcos desse tipo nos ajudam a entrar no clima. Ninguém precisa sair por aí raspando a cabeça, é só um exemplo e que tenho observado se passar com outras pessoas. Cada um é capaz de encontrar seu próprio marco pessoal, mas com certeza é uma coisa que ajuda. É o índio que pinta o rosto de vermelho antes de ir para a guerra. Pode ser um batom vermelho também e tá beleza! O que importa é o que simbolize para você. É o seu ritual.

Pausa para gaiatice! Meio careca e meditando direto, tô uma monja budista, né? Nem vou falar que também meio gordinha dos excessos gastronômicos… porque aí é o cão chupando manga, mas tudo bem, seguimos!

A partir de todas essas iniciativas juntas, comecei a notar que minha vida melhorou, mas melhorou muito! Não tenho hora exata para levantar da cama, mas quando levanto é com vontade, é pronta para o dia. Ainda me distraio, às vezes, mas tenho mais ferramentas agora para me trazer de volta e faço um esforço contínuo para buscar a tal atenção plena. E quando vou dormir, estou em paz. De repente, me dei conta que consegui mudar mais de um hábito, numa tacada só. Não é fácil, ainda não é totalmente automático, mas tudo bem. E sou grata por haver me permitido tentar.

Tenho produzido bastante, mudei minha mesa do escritório, que dividia com Luiz para a sala, estou escrevendo com ritmo parecido a quando morava em Madri. Era o fato de caminhar nas suas ruas que me inspirava a contar histórias. Curiosamente, é justo quando menos ando agora que me bate onda similar de inspiração.

Ao ficar mais produtiva, meu humor melhorou horrores! O que imagino estar fazendo a vida do Luiz melhor. Achei que ele também ficou mais leve, pelos próprios motivos, mas talvez por um respiro do meu lado. Acho que uma coisa vai influenciando a outra.

Algo que também me ajudou bastante foi mudar a atitude de me ver presa. Comecei a notar que boa parte dos meus dias, estaria realmente em casa de qualquer maneira, independente de quarentena ou vírus. Então, por que esse momento deveria me incomodar tanto? Sei que não é a mesma coisa estar em casa porque quer e não porque precisa, mas ainda assim, se você pensar, por exemplo, durante à noite, você estaria dormindo na sua mesma cama de todo jeito. Se você dorme, sei lá, 8h por dia, mais uma ou duas horas para se arrumar e sair para o trabalho, ao invés de imaginar que está há 24h presa, você estaria apenas 14h, as outras 10h faziam parte da sua rotina. É psicológico, eu sei, mas para mim fez diferença. Eu tinha menos horas do meu dia para achar ruim estar em casa… e, de repente, tinha menos horas na semana para achar ruim estar em casa. Porque minha cabeça estava livre, minhas ideias estavam fluindo.

Se você não pensa assim, não tem problema nenhum! A gente não precisa concordar nem ser igual, só estou falando que quando não tem jeito, é possível buscar alternativas. E se não houver alguma opção, tudo bem se aborrecer e reclamar. Solta o ar, alivia a pressão e… calma, vai passar.

Outra coisa muito bacana! Estou retomando ou fazendo contato com gente que não teria possibilidade de encontrar pessoalmente com a mesma frequência. Levo vida de expatriada há muitos anos, lido bem com a saudade e as ausências, acredito que isso até me deu uma vantagem e estou sabendo aproveitar. Eu acho o máximo os encontros virtuais, adorei usar o tal Zoom! O Youtube faz parte importante da minha vida agora! Viva a tecnologia!

Todo sábado, assisto um concerto de um amigo músico de Madri. Já sou figurinha carimbada, não perco um! Acho uma delícia encontrar pelo chat os amigos de tantos anos ou gente que não conheço, mas aprendi os nomes que usam virtualmente. Aliás, faço a propaganda porque é ótimo! Informações no website dele, www.pitumusica.com.br. Sempre aos sábados, às 20h de Madri, a gente paga 3 euros pelo link de acesso e assiste mais de 2 horas de música boa ao vivo pelo Youtube, muitas vezes damos pitaco no repertório, não me sinto distante. Na verdade, lembra que não bato muito bem, né? Nesse dia, eu me maquio e me arrumo toda, coloco brinco, perfume, tudo de direito! Como se fosse realmente sair para o show! Preparo os aperitivos, escolho um vinho bom, canto junto… eu realmente curto o programa! E sou grata por isso.

Luiz, nem sempre assiste o concerto todo comigo, porque também é um dia que se reúne pelo Zoom com amigos do tempo de colégio (ou de algum outro grupo, ele tem mais de um, posso estar fazendo confusão). De toda maneira, fico eu na sala num concerto em Madrid e ele no quarto, com amigos de adolescência espalhados pelo mundo! De vez em quando, ele vem dar um oi na sala e no final da música, vou eu lá bater papo no grupo dele!

Domingo passado, toca o celular, uma amiga aqui de Londres, que normalmente me enviaria uma mensagem, me ligou com imagem pelo whatsapp, e aí, pode falar? Como não? Peraí que vou pegar meu vinho!

Não há o que substitua os abraços, não há comparações aqui! Mas a possibilidade de ver as pessoas e saber que estão bem, que estão lá e que parte do seu tempo gastam comigo é um privilégio! E sou grata por isso.

Ao meu redor, vejo frequentemente atitudes de generosidade. Médicos aposentados retornando como voluntários aos hospitais para atender; aluguéis não cobrados a comerciantes fechados; gente postando e compartilhando o que sabe fazer pelas redes sociais; ou compartilhando compras, máscaras, luvas; horários especiais nos supermercados para pessoas idosas ou que trabalhem no sistema de saúde; amigos que perguntam como você está sem ser de maneira retórica; gente que envia Reiki a completos desconhecidos diariamente; mães que apesar de preocupadas ou enlouquecidas inventam brincadeiras para os filhos com paciência de Jó; a alegria que é parar às 20h e ir aplaudir da janela… a lista é extensa! E talvez ande meio sensível, mas me dá vontade de chorar cada vez que penso nesses atos de tanto que acho bonito!

Como adiantei lá no início do texto, acho que nada do que contei é extraordinário ou novidade para a maioria das pessoas que está passando pela mesma ou similar situação. Mas, às vezes, é só uma questão do prisma em que se olhe, ou do momento em que se encontre.

Espero, de coração, que você esteja bem, ou esteja o melhor possível! E, se ainda não vê a luz no fim do túnel, calma, o pior pode até já ter passado.

E, por tudo isso, pela parte boa e pela ruim, posso finalmente dizer sem demagogia e em paz, que hoje sou grata!

40 dias de cativeiro

Hoje completo 40 dias em distanciamento social por conta do COVID-19, a palavra quarentena já não é apenas uma maneira de falar.

Muita gente fez diários desses momentos, talvez eu devesse ter feito para me lembrar de maiores detalhes no futuro, mas para ser sincera, até perdi um pouco a noção do tempo durante esse período. O que nem foi de todo mau, porque se logo no início alguém me contasse que eu ficaria mais de 40 dias nessa situação, sem uma previsão definida de saída, provavelmente eu tivesse surtado de cara!

Admito que não dei importância quando tudo começou na China, me parecia distante e exagerado. E, de repente, o que deveria ser uma marola entrou como um Tsunami, devagar e constante.

No início de março, fui a Madri e não a turismo. Fui para resolver alguns problemas pendentes que tinham certa urgência. Eu não tinha um pingo de medo do vírus, sigo não tendo medo de ficar doente, mas essa é uma outra história que não vem ao caso agora. O fato é que não estava levando a sério e não tinha ideia que tudo escalaria tão rápido. E, sem querer tirar minha responsabilidade, acho que a maioria das pessoas também não imaginava que se tomaria essa proporção.

Portanto, me expus bastante. Estive em dois aeroportos de alto tráfego, Heathrow e Barajas, peguei dois voos, andei de metrô, ônibus, a pé, fui a restaurantes e bares, dividi comida, abracei amigos, estive em pelo menos três ou quatro estabelecimentos públicos para resolver os assuntos que precisava… e voltei para Londres.

Na ida, estava tão centrada no meu próprio umbigo e com as complicações que tinha que resolver, que nem tive tempo de pensar em vírus. Mas ao longo da viagem, comecei a notar que algo estava diferente, meio que fora de ordem. Os aeroportos estavam bem vazios, assim como os voos, as próprias ruas de Madri, apesar do comércio todo aberto, não tinham o movimento habitual. Não consegui comprar álcool gel em nenhuma farmácia (eu usava com frequência mesmo antes da pandêmia, para mim era uma compra que fazia parte da minha rotina).

No voo da volta, a passageira indiana que vinha do meu lado higienizou o banco, a janela e a bandeja em frente. Confesso que achei engraçado. Acabou que ela mudou de lugar para ir sozinha e eu vim deitada nos três bancos, incluindo o dela, higienizado. Para ver o quanto eu estava preocupada!

Mal cheguei em casa, tentei revisar minhas compras pela internet que chegariam no dia seguinte (como também sempre fazia por costume) e não consegui, o website completamente colapsado! A pulga bateu na orelha, será que eu era a única boba sem me preocupar? Porque quando só você está tranquila… talvez não estivesse vendo o tamanho real da encrenca! Quer saber, e se rolar um isolamento, como já havia iniciado na Itália? Ou mesmo se não rolar quarentena, se as pessoas surtarem e começarem a comprar por pânico, vai faltar mercadoria… Nós somos estrangeiros aqui, não estamos acostumados com país que viveu guerra, eles reagem muito mais rápido que a gente! Pensei, acho melhor eu ficar mais esperta! Saímos no mesmo dia para ir ao supermercado.

Prateleiras vazias… papel higiênico esgotado… tudo meio estranho. Resolvi fazer um pequeno estoque de alimentos não perecíveis, até porque nem cabe grandes estoques em casa mesmo. Consegui comprar papel higiênico, Luiz havia encomendado máscaras e álcool gel com antecedência, afinal, meu marido é virginiano e, pelo sim, pelo não…

Também pelo sim, pelo não, iniciamos uma quarentena voluntária. A ideia foi dele, eu achava um exagero sem tamanho. Acontece que, assim que deixei Madri a cidade fechou as fronteiras, de certa forma, dei uma sorte tremenda de sair nos 45 minutos do segundo tempo. De toda maneira, como coloquei antes, havia me exposto bastante e, no fundo, na dúvida, não queria colocar outras pessoas em risco. Pensei, vá lá, um par de semanas não vai me matar de tédio, seguro a onda e depois reclamo bastante com Luiz, pronto!

Eu não sabia ainda, mas estava em fase de negação.

Essas duas primeiras semanas foram as piores de toda quarentena, pelo menos até agora. Nós tínhamos férias marcadas, meu irmão vinha do Brasil, celebraríamos nosso aniversário de casamento, estávamos preparando a casa para receber meus primos no início de abril… enfim, tínhamos uma série de planos bacanas que foram adiados, na minha cabeça, por uma porcaria de uma gripe!

E mesmo não levando nada disso tão a sério, mesmo estando absolutamente frustrada e me sentindo confinada, mesmo num mau humor do cão… fiquei em casa.

O par de semanas culminou com nosso aniversário de casamento. Acabei tendo a ideia de fazer uma festa virtual, como contei há alguns posts e, apesar dos pesares, foi bem legal.

Mas quando a festa acabou, segui bebendo um pouco mais, a ficha me caiu finalmente que o bicho tinha pegado e que não era uma onda rápida, não seriam apenas duas semanas e não seguiríamos iguais. Londres decretou quarentena oficial, não era mais uma opção nossa.

Acordei séria e com a sensação de perda. Acho que foi meu fundo do poço, não sei se estava deprimida, talvez, para mim é um pouco difícil reconhecer. Mas o golpe foi duro, passei alguns dias triste e observando bastante.

Ok, não me restava nada além de absorver o golpe, respirar fundo, tocar o chão e impulsionar para cima. Não tinha jeito, precisávamos passar por isso e nos preparar para o que vem pela frente. Não era mais o que eu queria fazer, mas o que poderia fazer.

O que de bom eu poderia e posso tirar dessa experiência e como me preparo para o pior que possa acontecer?

E, a partir desse momento, sem chavões ou clichês, comecei a melhorar. Porque passei a atuar no pouco que podia efetivamente controlar, ou seja, minha própria cabeça. Adianto que ainda passo por altos e baixos, mas sem sofrer ou me sentir presa.

Seria muito difícil eu ter outra oportunidade como essa para realmente parar tudo que estava fazendo e me observar, pensar e legitimamente mudar. Eu resolvi aproveitar essa chance, foi minha opção. E isso, eu podia controlar.

Como também foi minha opção não entrar na paranóia de falar ou ter contato com outras pessoas. Cumpro o distanciamento, cumpro as regras de segurança e os protocolos por respeito e disciplina, mas o medo não entrou na minha rotina.

Acredito que não seja só eu, imagino que outras pessoas devam ter experiências parecidas, ou pelo menos, parecidas em algum momento. Afinal, os seres humanos não são tão originais como imaginam. Temos a tendência a repetir determinados comportamentos. E hoje essa é uma das razões pela qual compartilho essa vivência, porque talvez alguém que leia possa estar passando agora pelo pior do confinamento e, quem sabe, seja bom saber que pode melhorar.

Passado o tédio profundo, as fases de negação e depressão, comecei a ter vontade de fazer meditação, de cortar o cabelo, de comer o que tivesse vontade, de tomar vinho durante a semana… a gente começa a prestar mais atenção em atividades rotineiras, resgata prazeres em pequenas coisas, o bom humor começa a voltar… até que entende, de verdade, que a liberdade está muito mais dentro de nós mesmos.

Não estou dourando a pílula, sei que tenho uma posição cômoda para pensar assim, é verdade. Mas isso não tira a dificuldade da equação. E não estou dizendo que fica tudo uma maravilha, não fica, mas melhora. Estou aprendendo a viver sinceramente o meu presente. Tenho me esforçado bastante nesse sentido e isso fez minha vida melhor.

Ainda assim, penso no futuro, porque acho importante a gente se preparar para todas as mudanças que virão e, nesse sentido, minha maior preocupação é ao inevitável período de recessão que enfrentaremos. Isso sim me tira um pouco o sono, acho que virá por aí uma fase pós-guerra onde a atitude consciliatória e solidária será fator crítico de sucesso. Vejo essa atitude na Europa, não vejo ainda nas Américas. Como a onda começou mais tarde por lá, espero que isso mude, por bem ou por mal.

Atualmente, busco mais notícias sobre economia do que sobre o vírus. Na verdade, sobre o COVID-19 tenho até evitado ler a respeito, infelizmente acho que a imprensa mundial tem feito um imenso desserviço tratando o tema como uma notícia que vende. Acho que é uma ala que ainda não entendeu que o mundo mudou. A sensação que tenho é que, por não saber exatamente o que mais dizer sobre o vírus, afinal é tudo novo em muitos sentidos, a mídia tem sempre tido a tendência a voltar a divulgar o que sabe como funciona com seu público. Uma pena, estão perdendo um bonde gigantesco e uma grande janela para ajudar!

Termino por aqui, dizendo que estou cautelosamente otimista em relação à Europa e Inglaterra, acho que passaremos ainda por alguma turbulência forte, mas aterrissaremos em razoável segurança.

O que tenho visto à minha volta tem me surpreendido positivamente em relação às pessoas, até me emocionado muitas vezes. Por incrível que pareça, o bem dá sinais que está ganhando. Não podemos nos iludir, talvez seja porque não atingimos um ponto tão drástico. Mas também talvez seja porque, no fundo, haja mais pessoas boas do que ruins. É nisso que decidi acreditar, esse é o cão que alimentarei, porque quero ser boa também.

Sigo preocupada em relação ao Brasil, acho que as pessoas estão confusas e desgovernadas por que caminho seguir e é muito complicado só contar com a sorte. Mas sobre isso, não temos controle.

Portanto, foco nas decisões em que cada um pode controlar. Se o que está fora está difícil de enxergar, olhe para dentro. Se não sabe em quem acreditar, acredite nos seus instintos e ponha os mais frágeis em primeiro plano. Se pode ficar em casa, fique. Não saia por capricho nem por ansiedade, o preço é alto. Você estará arriscando a saúde de quem não tem essa opção. Pense duas, três, dez vezes se realmente é necessário. E se não tiver outra maneira, saia com cautela, cumpra os protocolos, use a máscara, se cuide e cuide de quem está ao seu lado.

Não há outra maneira de sair dessa que não seja coletivamente. Não é hora de dividir, se você ainda não entendeu que nessa partida não há ganhadores, está jogando errado.

Por que é ruim quando as bolsas de valores caem?

Tenho observado algumas opiniões pela internet em relação à economia um tanto estapafúrdias. Até aí, normal, desisti de mudar a opinião alheia há tempos! Mas me ocorreu que, em alguns casos, talvez na maioria, possa ser por puro desconhecimento e não má intenção.

Pessoalmente, acredito que desconhecimento hoje em dia vem em função de certa preguiça em buscar fontes de informações mais aprofundadas. É mais fácil ler um parágrafo com alguma frase de efeito em uma rede social qualquer e compartilhá-lo com empolgação.

E me dói um pouco a vista quando vejo comentários de gente teoricamente instruída manipulando informações por interesse político. Bom, quem sabe pode ser uma opinião diferente, que se for embasada, estarei encantada em ouvir! Quantas vezes já mudei de ideia!

Entretanto, me ocorreu que também pode ser por falta de fontes que expliquem alguns conceitos básicos sobre o tema de maneira menos complicada.

Então, vamos lá, vou tentar ajudar na parte em que me cabe. Não sou economista, nem analista de mercados, nem dona da verdade, nem nada demais! Simplesmente, quando não entendo alguma coisa, sento meu rabito, leio, pesquiso, estudo! Por acaso, me interessa o mercado financeiro e sou pequena investidora em bolsa de valores. Diferente do imaginário popular, você não precisa ser rica para investir.

Esse não é um post para te ensinar a aplicar em ações, infelizmente não vou dar dicas para ninguém ganhar dinheiro. Não porque não queira, mas porque não saberia e só assumo meus próprios riscos. Não vou te vender nenhum curso e, provavelmente, seja um post único. Minha intenção é explicar rapida e leigamente o que são ações e como funciona uma bolsa de valores.

A bolsa de valores é uma instituição que regulamenta e controla o mercado de ações. Imagina um enorme mercado, com vários quiosques de empresas, cada uma colocando à venda uma parte do seu próprio negócio. Para você ter um quiosque nesse mercado, você precisa seguir determinadas regras, como: apresentar quanto você fatura, quais são seus custos, quanto você tem em caixa, o que você tem de dívidas etc. Daí, você tem clientes interessados em comprar pequenas partes de alguns desses quiosques. Esses clientes irão pesquisar essas informações que foram dadas ao mercado para escolher qual quiosque interessa mais, qual tem o preço que pode pagar etc. Esse mercado, para viabilizar todas essas transações entre os quiosques e os clientes cobra um tipo de comissão pelas negociações. E o governo também cobra impostos sobre essas transações realizadas. Funciona mais ou menos assim, só que de maneira eletrônica.

Agora, vamos entender que essas empresas (representadas acima pelos quiosques) que participam da bolsa (o grande mercado) vendam suas ações. Ações são pequenas partes dessas empresas. Quando alguém (cliente) compra uma ação, ou seja, uma parte de qualquer empresa, essa pessoa se torna um tipo de sócia desse negócio.

Na prática, essas transações funcionam parecido à compra de um imóvel. Você precisa ter uma conta em uma corretora financeira, onde você deposita o dinheiro que quer investir e define o que você quer comprar. A decisão é sua, o dinheiro é seu, mas a operação técnica são eles que fazem, geralmente com algum tipo de comissão ou taxa de administração.

Sabe quando você compra um imóvel e faz uma escritura para oficializar? Então, se mais de uma pessoa for dona do imóvel, a escritura precisa ser feita em nome de todos os donos, correto? Pois imagine que a ação é como se fosse uma escritura que você tem daquela pequena parte da empresa que comprou. Só que, ao invés de ficar registrado em um cartório, fica registrado em uma corretora.

Sempre acho mais fácil entender as coisas com analogias de situações cotidianas, logo darei um exemplo de como conceitualmente funciona a emissão e compra de ações.

Vamos supor que tenha um açougue no seu bairro, que você frequenta há alguns anos, gosta da qualidade da carne, acha os atendentes bem preparados, boas condições de higiene e tal. Então, um dia, o dono desse açougue resolve que quer crescer, aumentar seus negócios. Ele percebeu que muitos dos seus clientes compram carne para fazer churrasco e quer também vender cerveja, gelo e carvão.

O dono do açougue sozinho não tem o dinheiro suficiente para fazer essa ampliação, por isso ele busca algumas alternativas. Poderia pedir um empréstimo no banco. Só que aí ele teria que pagar juros para o banqueiro… Então, ele tem outra ideia, resolve perguntar aos seus clientes mais leais se não querem comprar uma parte do açougue dele e se tornarem pequenos sócios.

Ele chega para alguns clientes que ele conhece melhor e os convence que o açougue dele vale 100 “dinheiros”. Ele vende 10 partes (ações) que custam 10 dinheiros cada uma e investe no negócio.

A questão é a seguinte, os clientes conhecem o açougue hoje e parece que vai tudo bem. Mas nem o dono do açougue, nem seus investidores, nem seus futuros clientes tem certeza que o negócio seguirá sendo bom nos próximos meses.

Porque, no mês seguinte, as vendas dele podem aumentar e o negócio crescer; o açougue passaria a valer 120 dinheiros! Ou seja, cada parte que valia antes 10 dinheiros, passou a valer 12! As ações subiram.

Mas ele pode ter se enganado, porque os clientes que frequentavam o açougue na verdade preferiam comprar a cerveja no supermercado e o gelo no posto de gasolina. E o pobre do açougueiro acabou tendo prejuízo! O negócio que valia 100 dinheiros, depois de empacar com o estoque adicional, passou a valer 80. Ou seja, aquele pequeno sócio que comprou uma parte por 10 dinheiros, passaria a ter somente 8. As ações cairam.

No mercado financeiro, funciona um pouco dessa mesma maneira. Os investidores que compram determinadas ações não tem certeza absoluta se elas vão subir ou cair. É, de certa forma, uma aposta que fazem no futuro daquela empresa. Entretanto, não é, ou não deveria ser uma aposta cega. Cabe ao empresário mostrar porque seu negócio tem valor e pode crescer, cabe à bolsa de valores verificar se o que esse empresário está dizendo corresponde à realidade atual e cabe ao investidor analisar a empresa que quer investir e que riscos quer correr no futuro.

Ah, mas é tudo tão fácil assim? Já estou pronta para investir na bolsa? Não, é mais complexo e não tem muito bobo nessa praia, nem duram muito tempo no mercado. Não tenho a pretensão de entrar no detalhe. Tem gente muito mais competente que eu para isso. Mas não é nada impossível ou inacessível aos reles mortais, como euzinha.

O ponto principal de todo esse texto é para dizer que atrás de cada ação, existe uma empresa de verdade! Não é um número abstrato. Não são pessoas trocando papéis ou simplesmente dinheiro trocando de mão.

Quando a bolsa “quebra” não quer apenas dizer que o investidor parrudo ou o especulador mercenário perdeu dinheiro. Isso pode acontecer sim, mas é o de menos! O que realmente importa é que, se a bolsa quebrar, significa que as pessoas acreditam que as empresas que fazem parte dela podem quebrar também! Aqueles quiosques dentro do mercado, lembra? É o açougue que valia 100 dinheiros e, de repente, só vale 30, e talvez tenha que fechar as portas.

Ah, mas essas empresas que fazem parte da bolsa são todas grandes! Não correm risco de quebrar! Caríssimos, uma empresa grande tem risco menor de falir que uma pequena, é verdade, mas segue tendo riscos e quando isso acontece o impacto também é maior, impostos não são pagos, pessoas ficam desempregadas, famílias ficam sem sustento! Porque sendo um açougue de bairro ou um grande frigorífico, emprega igualmente gente simples, pais e mães de família. Sobra para todo mundo!

Não tem solução fácil, infelizmente! Assim que, antes de atirar a primeira pedra, cuidado, seu telhado também é de vidro ou pode ser um espelho na sua frente.

Nesse momento de tanta incerteza, talvez o melhor investimento seja se informar.

… e se é para me reinventar, que seja de verdade!

Esse é um daqueles textos que acho difícil escrever, repletos de entrelinhas, onde só vale se eu me expor sem pudores e chamar meus demônios pelos seus nomes. É pessoal.

Há um certo tempo, tenho sentido uma vontade grande de raspar minha cabeça. E talvez, seja um ato melhor entendido pelas mulheres, porque nossos cabelos tem milhões de simbologias e estão intimamente vinculados a como queremos nos apresentar, nos descrever, nos (re)definir. Para uma mulher, decidir cortar os cabelos bem curtos é sempre, pelo motivo que for, um ato de coragem.

Já escrevi sobre isso antes, não venho aqui me repetir, apenas coloco em contexto.

Em novembro passado fiz 50 anos e isso marcou para mim o fim de um ciclo. Eu funciono entre ciclos e rituais. E ainda precisava do meu ritual de passagem. Escolhi duas metas, ou metáforas, fortes para marcar fisicamente esse ciclo e esse ritual, uma tatuagem grande (que ainda não fiz, mas está nos planos) e cortar meus cabelos bem curtos.

Não estabeleci datas nem prazos, era algo a ser feito no momento que sentisse estar pronta. Assim que percebesse que uma mudança real estivesse prestes a acontecer ou houvesse iniciado, que estivesse à vontade com meu rosto sem maquiagem, tranquila com o peso que meu corpo carrega, sem culpa nem arrependimentos, mas querendo muito, sinceramente, renascer melhor.

Estou pronta.

Nova parceria do blog: Programa Almanaque RN

Recebi um convite do Aquiles Medeiros para participar do seu Programa Almanaque RN, uma revista eletrônica semanal do canal NMP no Facebook.

O NMP é um canal de Smart TV HD com programações ao vivo. O Programa Almanaque RN faz uma participação semanal nesse canal, toda terça-feira, às 22h (horário local). O programa tem 1h de duração, sendo trinta minutos de entrevista com um convidado que aborda assuntos de interesse geral da sociedade; e trinta minutos para um convidado musical que fala da sua carreira. Entre uma conversa e outra, o músico convidado toca e canta suas canções, acompanhadas pelo próprio Aquiles na percussão.

Enfim, esse Programa Almanaque RN tem uma página no Facebook e fui convidada para contribuir com geração de conteúdo.

Achei bem bacana e estou empolgada com o novo projeto! Nada melhor do que compartilhar experiências, se informar e ouvir música boa!

Enfim, que venham bons frutos dessa parceria e, certamente, entre Londres e Natal não nos faltará assunto!

PS: Por enquanto, participo pelo Facebook, mas quem quiser acompanhar o programa pelo Youtube estará disponível através do link https://www.youtube.com/channel/UCSGIXJ6zEw9ut9qTo1eDD3w e quem quiser seguir pelo Instagram, @programaalmanaquern.

Vírus não segue ideologia política!

Hoje é dia 31 de março de 2020, estou em quarentena desde o dia 07. Em princípio, quarentena (mais ou menos) voluntária e, logo após as duas primeiras semanas, em quarentena oficial.

Não, não é fácil. É melhor do que para muita gente e pior do que para outras pessoas. Exatamente como a vida era antes, desigual, mas não é fácil para ninguém. E não vim aqui julgar nem defender meu ponto de vista, venho apenas fazer um alerta. Porque eu mesma já mudei de ideia algumas vezes e não tenho certeza de nada. Francamente, acho que ninguém tem.

Não vejo essa crise com olhos românticos de arco-íris, como uma oportunidade para evoluirmos, para a terra descansar, para deixarmos de ser tão individualistas… e blá, blá, blá… Tampouco vejo motivo para pânico, não porque seja algo simples de se resolver, mas porque não temos alternativa diferente da que manter a calma. E, veja bem, não condeno quem pense dessa ou daquela maneira, cada um tem sua própria forma para tornar sua realidade mais tolerável, suas crenças, seus valores e, à essa altura, nem importa mais. Simplesmente, sou fatalista, acho que deu merda, ponto! E agora, como a gente faz para sair dela?

Uma vez, fui assistir a um jogo de futebol com Luiz, na arquibancada que é onde eu gosto, estádio lotado! Bem na nossa frente, do outro lado do campo, uma tragédia aconteceu. A grade da arquibancada cedeu e as pessoas começaram a cair. Lembro que no início não havia entendido que era gente caindo, achei que eram balões coloridos, quase achei bonito. Mas de repente, meu sorriso se desfez, era gente e era sério. Meu primeiro instinto de sobrevivência foi observar ao lado para me defender, buscar as rotas de fuga mais seguras, tive medo que as pessoas entrassem em pânico e começassem todas a correr ao mesmo tempo. Não teria resolvido o problema de quem já havia caído e poderia se converter em uma tragédia muito maior. Mas isso não aconteceu. Quem estava próximo ao acidente tentou ajudar, quem não podia ajudar, abriu o caminho e quem estava mais afastado da cena se sentou em silêncio. Como se houvéssemos sido treinados a vida inteira para isso. Sim, caríssimos, isso aconteceu em pleno Maracanã, jogo do Flamengo, povão mesmo! Imperou o bom senso e essa atitude, literalmente, salvou vidas.

É um pouco como me sinto agora, no início, achei que não era tão ruim; em seguida me dei conta da gravidade da situação. Até o momento, só posso agradecer não estar do lado da grade que despencou, abrir caminho e aguardar as instruções em silêncio o suficiente para ouví-las.

Tenho observado bastante, tudo, tentando entender, tentando decifrar os códigos, buscando analogias, tentando prever que passos tomar, que direção seguir. Mas acho que mais do que tudo, tenho aprendido a ouvir e ser resiliente.

A sensação que tenho é de estar vivendo a 3a. Guerra Mundial. Porque não tenho ilusões, já não importa de onde veio ou de quem é a culpa, estamos mundialmente nesse barco. Nunca imaginei que o que nos uniria a todos seria justo um inimigo comum. Menos ainda, que o enfrentaríamos vestidos com pijamas.

E, quanto a isso, o Brasil em especial tem uma enorme desvantagem, porque nunca viveu em campo um período de guerras mundiais. Temos algumas situações similares, quase que mini guerras civis e desorganizadas, mas é diferente. De certa forma, os tempos de guerra ainda estão no DNA europeu. Em situações assim, há uma tecla automática na cabeça das pessoas e elas sabem como se comportar. Sabe tiroteio no morro? As pessoas se jogam no chão imediatamente, crescem ouvindo que precisam fazer isso e o fazem quase que por instinto. É parecido em conceito. Levei um tempo extra para entender, por não ter sido criada aqui, mas estou aprendendo a me comportar em um período de guerra.

Aprendi rapidamente algo que ainda não entrou na cabeça dos brasileiros, vírus não segue ideologia! Não tem vírus de direita ou de esquerda, ele mata ou danifica igualzinho! Não se cura vírus na marra com discussão política! Vírus não é machista nem feminista! Vírus não tem preferência sexual! Vírus não respeita prazo eleitoral! Vírus não quer saber em quem você votou ou deixou de votar, muito menos quem você acha que é ou não idiota!

O brasileiro em geral está tratando uma situação de guerra da mesma forma com que trata suas preferências políticas, religiosas ou futebolísticas. Ao invés de se concentrar em uma solução, querem definir quem está certo.

E quem está certo? Vamos lá, no momento, há um presidente que acredita que algo capaz de mudar a economia do planeta não é mais que uma gripezinha; governadores absolutamente radicais que não medem as nuances e diferenças sociais existentes em função das suas próprias ambições pessoais; e há também as lideranças mudas, com medo de tomar algum lado que os atrapalhe o futuro político. De quebra, praticamente um golpe parlamentarista montado tentando buscar uma brecha a todo custo. Para mim, estão todos loucos! E até aí, morreu neves afogado em cuspe! Porque o que eu acho ou deixo de achar também não importa.

O que me ferra é ver as pessoas, ao invés de estarem se unindo e buscando soluções, estarem mais preocupadas em xingar os covardes que organizam carreatas ou os hipócritas que só ficam em casa porque não querem trabalhar… e tantos outros absurdos que me provocam vergonha alheia. Galera, não importa. Não importa se você votou certo ou errado, nem se o outro lado seria muito pior ou melhor… foda-se! O passado passou e o que vem pela frente vai precisar um pouco mais do que paixões pessoais.

A verdade é muito mais complexa e tem vários lados! O isolamento social tem se provado eficiente pelo mundo? Sim! É importante seguirmos essa linha? Fundamental! Podemos usar uma solução que funciona em países desenvolvidos e acreditar que vai funcionar igualzinho em países pobres ou em desenvolvimento? Hummm… sério!

Vou dar um exemplo. Na casa da minha mãe trabalha uma diarista há “trocentos” anos! Obviamente, ela não consegue ir até lá, porque não pode pegar o trem. Ah, mas minha mãe deve ser mais uma aproveitadora dessas que está mais preocupada em ter que fazer ela mesma o terrível trabalho de casa… Certo, então, ao invés de julgar tão rápido, deixa eu terminar a história. Minha mãe estava tentando pagar as diárias, mesmo sem ela ir e sem fazer o trabalho, afinal, o marido dela está desempregado e sem o valor da faxina, a família não come! Lindo, né? Só um detalhe, a diarista simplesmente não tem conta bancária! Como é que faz? Você acha que essa é uma exceção? Porque eu acho que é a regra.

E, por favor, esse é só um exemplo! Não estou definindo que o comportamento do país precise ser assim ou assado exclusivamente considerando a diarista da minha mãe, ok? Tem gente irresponsável sim, tem gente preguiçosa, gente egoísta, no mundo existe de tudo! Mas também tem muita gente tentando se proteger, se adaptar, ajudar. O mundo e, nesse caso em especial o Brasil, precisa de soluções razoáveis e não de um debate político!

É fácil falar desde Londres? Claro que sim! Agradeço todos os dias por estar fora, mas minha família e muitos amigos ainda estão dentro e me preocupo legitimamente com isso. Também lembro que a distância traz perspectiva e o fato de vivenciar primeiro aqui na Europa o ocorrido ajuda a prever alguns possíveis acontecimentos.

Galera, é guerra e é sério, se preparem! Assim como nas outras guerras, há luz e vida no fim do túnel, mas o preço é alto. Não é que o mundo não será mais o mesmo, o mundo já não é mais o mesmo. Entuba, levanta e se adapta rápido!

Não quero terminar de maneira pessimista, confesso que independente da motivação, mais ou menos nobre, tenho notado muita coisa bacana também. Sempre esperei um momento Saramago (“Ensaio sobre a Cegueira”) em situações assim e, na prática, o que tenho visto é uma maturidade, generosidade e bondade que me emocionam. Quero acreditar que sairei dessa uma pessoa melhor, talvez seja eu agora tendo um momento arco-íris. Porque preciso acreditar que tudo vai dar certo.

Importa menos o que seu presidente disse, importa menos o que seu governador ou parlamentar disse, simplesmente, busque seu instinto, seja humano. Olhe para seu vizinho, procure fazer o que é certo. Se você está próximo, ajude. Se não puder ajudar, abra caminho. Se estiver do outro lado, sente em silêncio e aguarde.

26 anos de casamento, nossa primeira festa virtual

No dia 18 de março, completamos a respeitável marca de 26 anos de casados!

A pessoa aqui doida para comemorar… escolhendo qual o restaurante fabuloso e romântico sairía para jantar… viagem programada para Malta no final da semana… Luiz reservou férias… meu irmão vinha do Brasil para nos encontrar… tudo certo!

Só que não.

Pois é, não deu e todo mundo sabe o motivo. Tudo cancelado! Meu bico arrastando no chão de frustração! Reclamei, resmunguei… depois entubei, né? Fazer o que?

Daí tive uma ideia…

Havia assistido um concerto de um amigo músico de Madrid pelo Youtube e até que foi bem legal. Os músicos são de uma categoria que está penando com o raio da quarentena, afinal, como trabalhar? Por conta disso, estão buscando soluções criativas, como essa, para se manter nesse período complicado.

Pensei, e seu eu juntasse tudo? Posso ajudar uma pessoa a trabalhar, levar um pouco de distração para quem está isolado pelo mundo e, claro, meu objetivo final, conseguir celebrar, compartilhar algo de felicidade e leveza com gente querida.

E como fazer isso? Sei lá! Fomos aprendendo pelo caminho dentro dos recursos que conhecia naquele momento!

Contratamos nosso amigo músico para fazer um concerto privado no Youtube para nós e nossos convidados. Montei um grupo (gigantesco) no whatsapp, convidando para nossa primeira festa virtual! Quem eu não tinha o número de whatsapp, ainda perguntei num post geral pelo Instagram se queria participar! Pedindo um pouco de paciência aos convidados, porque um grupo tão grande gera milhões de comentários e isso assusta muita gente que não tem tempo para tantas notificações. Acho que essa foi a parte mais complicada de gerenciar. Porque dá vontade de conversar e responder todo mundo, mas seria enlouquecedor! Assim que o grupo foi criado meio que na véspera do evento.

Marcamos com as pessoas no dia da festa, exatamente no dia 18 de março, em determinado horário, para todos se conectarem ao mesmo tempo. Mais ou menos uns 10 minutos antes de começar o concerto no Youtube, liberamos o link de acesso.

Aviso que me arrumei como se fosse para uma festa de gala! Usei o mesmo vestido longo das minhas bodas de prata, me maquiei e tudo! O cara-de-pau do meu marido, só se arrumou da cintura para cima, porque disse que era só o que ia aparecer!

A partir de aí, ficamos com as duas plataformas abertas, o Youtube com o concerto para a gente rolando e a possibilidade de participar de um chat; e no whatsapp enviando fotos de onde estávamos, o que estávamos bebendo, comendo, fazendo brincadeiras… enfim, cada um buscando sua maneira de estar presente!

E estávamos presentes, nas nossas próprias casas, mas com uma energia bacana concentrada em uma única direção. E quer saber, me diverti pacas! Às vezes, até esquecia de toda essa loucura que se apoderou do planeta. Cantei, dancei, toquei meu surdo, tomamos vinho, comemos bem… exatamente o que fazemos em uma festa real! Quero acreditar que passou o mesmo com quem estava presente e, pelo menos, por um par de horas, algo de alívio e de alegria.

O retorno que recebemos dos convidados foi tudo de melhor, compraram a ideia, entraram na bagunça com vontade. Pessoal se arrumando, fazendo aperitivos de festa, pegando sua bebida, chamando a criançada para partipar, dançando de se acabar. Recebemos fotos incríveis e muito espontâneas! O concerto foi o máximo! Repertório 10, animadíssimo e dentro do espírito da festa. O fato de ser ao vivo fez toda a diferença do mundo, as pessoas conseguiam interagir, pedir música, foi realmente especial!

Foi o mesmo que encontrar as pessoas ao vivo e a cores? Claro que não! Lógico que faltaram os abraços, micos, fotos em grupo… Mas também é verdade que muita gente que “compareceu” tampouco poderia vir em uma festa presencial. Porque apareceu gente do Brasil, da Espanha, da Itália, da Inglaterra, da Holanda, da Alemanha, da Dinamarca, do Canadá, da Suíça, dos Estados Unidos, da França, de Portugal, do Japão… e devo estar esquecendo algum país, com certeza!

Meu único dilema foi não conseguir responder a todos individualmente, porque não dá tempo de responder todos os comentários, ouvir música, cantar e dançar ao mesmo tempo! Mas talvez seja como numa festa grande de verdade, em que você se esforça ao máximo para dar atenção a todo mundo igualmente, mas nunca consegue parar mais que 5 minutos com cada um! Logo tem que repor uma bebida, receber alguém que chegou ou simplesmente chutar o pau da barraca como se fosse mais uma convidada (geralmente, meu caso!). Pensando bem, não foi tão diferente assim…

Mas depois que o grupo foi desfeito, por algumas vezes eu li cada comentário, vi cada foto e ouvi o concerto que Luiz salvou. E digo o seguinte, todas as vezes que repito esse ato, fico feliz, me deixa mais leve. Ver as fotos de amigos sorrindo que não encontro pessoalmente há dias, ou meses, ou até mesmo alguns anos… não tem preço!

Agradeço à família e aos amigos que temos por um presente desses e por poder viver esse momento ao lado de alguém que amo.

Saúde!

OBS: Para quem quiser ouvir o show que o músico, Pitú, fez para nossa festa, o link no Youtube é https://youtu.be/0RY_St90eJ8. E sejam bem-vindos a uma festa virtual que aconteceu de verdade!

Quarentena em Londres

Esse não é um post motivacional para ninguém. Não darei mil dicas ótimas para quem quer aprender grego on line ou arrumar perfeitamente o armário da cozinha. Tampouco posso informar como vai a vida na cidade, como eu saberia? Estou em casa. Não busco consolo nem explicações e, por favor, mas por favor mesmo, não me enviem outros 329 vídeos sobre o tema!

Sabe qual é a única coisa que eu quero nesse momento?

Eu quero reclamar!

Reclamar em paz! Sem comprovações científicas! Sem todas as histórias de que poderia ser muito pior! Sem lições de moral! Sem parecer a louca da teoria da conspiração! E, sério, o pior de tudo, sem paternalismo barato! I don’t need to be patronized!

Eu só quero re-cla-mar!

E, taqueopareo, que saco é ter que ficar em casa!

Estou de quarentena desde o dia 07 de março, hoje é dia 23.

Veja bem, Londres só lançou medidas mais severas recomendando que evitássemos ao máximo sair a partir da última sexta-feira, dia 20. Entretanto, eu havia chegado da Espanha pouco antes deles fecharem tudo. Itália já estava complicada… Luiz achou melhor a gente ficar em casa, por via das dúvidas e só sair para o essencial.

Saímos rapidamente para fazer compras, quando necessário, fizemos isso apenas um par de vezes. A maior parte dos suprimentos, consigo que me entreguem com compras on line. E eu já comprava on line antes, assim que não mudou tanto a rotina. A não ser pelo fato de estar bastante difícil conseguir datas de entregas, tive que deixar reservado alguns espaços semanais. Mantenho um pequeno estoque de não perecíveis, nada tão gigantesco, nem tenho espaço para isso no apartamento. Além da consciência me pesar um pouco em deixar alguém sem produto. Não me falta nada e não faltará.

Das duas vezes que saímos rapidamente para compras, Luiz foi de máscara, eu não. Normal, ele é sempre mais preocupado e precavido com essas coisas do que eu.

Francamente, não estava com um pingo de medo do raio do corona vírus, aliás, continuo sem estar. Mas entubei a quarentena em consideração a ele e aos demais. Hoje faz 17 dias que estamos em reclusão, seguiremos enquanto faça falta, mas acho que adquiri o direito de, ao menos, poder reclamar!

E para quem começou seu “distanciamento social” agora, vou logo avisando, não fica mais fácil! Prepare seu espírito. O problema é o seguinte: qual seria a opção? Contribuir para a morte de alguém? Você quer colocar essa na sua conta?

Fingir que um problema não existe não faz com que ele vá embora.

Veja bem, disse e repito, euzinha yo myself, não tenho medo do vírus no que se refere à minha saúde. Posso mudar de ideia na semana que vem, mas hoje eu não tenho. Sou relativamente jovem e tenho uma saúde de leoa! Exceto pela quarentena, os hábitos e os alimentos aconselhados nesse período para a prevenção, fazem parte da minha rotina há anos! Não acho impossível que eu contraia a doença, nem sei se já não contraí, mas não vejo como uma ameaça eminente (nem iminente) para mim.

E essa não é uma postura que tenho em relação a esse vírus especificamente, mas a postura que tenho em relação a qualquer doença.

A questão é, não importa o que eu pense em relação a mim. O “eu” não importa, porque o que está em jogo aqui é o “outro”. É por quem não tem a mesma resistência, quem não tem o mesmo acesso a cuidados básicos, quem não pode fazer uma quarentena, quem não tem escolha.

Ah, mas é um sacrifício que farei por uma pessoa que eu nem conheço?

É, a vida é assim, foda-se (com carinho). Hoje eu não conheço, amanhã pode ser com alguém muito querido e depois de amanhã, pode bater à minha porta.

Porque não se iluda, o que toca a um, nos tocará a todos. Portanto, faça pelo motivo que quiser! Por altruísmo, por heroísmo, por medo, por amor ao próximo ou pelo mais legítimo egoísmo… não importa!

Fique em casa!

Ah, mas essa história certamente foi inventada em laboratório pelos chineses com intenções sórdidas…

É possível! Cá entre nós, teóricos da conspiração, porque eu sempre fui e sempre serei, também acho. Mas outra vez, não importa o que eu ache! Se foi um plano, funcionou. Criado em laboratório ou na natureza, está aí e tem gente morrendo, ponto. Primeiro a gente resolve o problema, depois a gente busca um culpado, ok? Até porque, quem seria capaz de provar essa história? Se tivesse alguém que pudesse realizar essa façanha, na China, você realmente acha que ainda estaria vivo?

Então, enquanto a gente não prova nossa conspiração, tenho uma ideia: fique em casa!

Quanto tempo a gente vai conseguir segurar essa panela de pressão? Não sei, difícil dizer, acho que ninguém sabe com certeza. Economicamente, politicamente… não seremos os mesmos. Não é que o mundo vá mudar, já mudou, só não sabemos o tamanho da encrenca!

De uma maneira ou de outra, a vida seguirá. E meu ponto é, eu quero seguir com ela. Por isso, o que eu puder fazer, enquanto eu puder fazer, farei.

Hoje, só me resta uma opção, ficar em casa.

E reclamar…

“Quando os nazis vieram buscar os comunistas, eu fiquei em silêncio; eu não era comunista. Quando eles prenderam os sociais-democratas, eu fiquei em silêncio; eu não era um social-democrata. Quando eles vieram buscar os sindicalistas, eu não disse nada; eu não era um sindicalista. Quando eles buscaram os judeus, eu fiquei em silêncio; eu não era um judeu. Quando eles me vieram buscar, já não havia ninguém que pudesse protestar.” Martin Niemoller

50 anos, saúde!

Fiz 50 anos de idade. Soa mais assustador do que realmente é, ainda que não vou negar, tenha seu peso. E é óbvio que eu não seria eu mesma se não quisesse celebrar a data à altura!

O mais coerente seria fazer um festão daqueles! Só tinha um probleminha, nós já fizemos um festão daqueles esse ano, o de Bodas de Prata. Sem querer chorar miséria, porque nunca farei isso na vida, dois grandes eventos em um ano custariam mais do que o programado no nosso orçamento. E, considerando que nossos amigos e familiares estão espalhados pelo mundo, acredito que também para eles.

Beleza, a festa fica para outra ocasião. Por exemplo, posso fazer a festa dos 51, aliás, uma boa ideia!

Tem uma piadinha do mineiro que a gente sempre usa em casa como piada interna. O mineirinho encontrou a lâmpada… esfregou… saiu o gênio e concedeu três pedidos. O primeiro pedido, mineirinho pensou… pensou… já sei! Quero um queijo! O gênio achou o pedido meio simples, mas enfim, concedeu e o mineirinho adorou! O gênio perguntou, e seu segundo pedido? Mineirinho pensou… pensou… quero outro queijo! O gênio perguntou, tem certeza? Posso realizar qualquer desejo! Você quer só um… queijo? E o mineirinho, meio tímido, disse sim com a cabeça. Perfeito! O gênio fez surgir um queijo ainda maior e mais gostoso! Pronto, agora seu terceiro e último pedido, o que você quer? Mineirinho pensou… pensou… coçou a cabeça… tá bom, eu quero a Gisele Bündchen apaixonada por mim! O gênio ficou intrigado, e disse a ele, ok, posso realizar, mas só por curiosidade, seus pedidos foram tão diferentes… por que você pediu a paixão da Gisele agora? Mineirinho meio sem graça, se encolheu e disse… eu queria mesmo era outro queijo… mas deu uma vergonha do senhor…

Então, cada vez que a gente tem várias opções e quer algo bem básico ou repetir algum programa, a gente sempre fala um para o outro… eu queria mesmo era um queijo!

Muito bem, então, voltando ao aniversário, ainda que não fosse um super festão, celebrar eu queria e precisava ser algo especial, de preferência, também simbólico. Perfeito, então vamos viajar! Pensei literalmente nos quatro cantos do mundo! Lugares exóticos… desconhecidos… aventuras… para onde raios eu queria viajar? Qual seria o país perfeito e tão diferente para essa ocasião?

Pensei… pensei… Luiz, quer saber, eu quero mesmo é um queijo! Vamos para a França comer muito bem e tomar todas?

Para quem mora no Brasil, talvez ir a França seja complicado e caro, mas para a gente que mora em Londres, é um voo quase que de ponte áerea. E para ser bastante sincera, era para onde eu queria ir.

Já faz um tempo, Luiz teve um cliente em Épernay, uma cidadezinha francesa bem charmosa, conhecida como a capital da Champagne (ok, há controvérsias, alguns defendem que é Reims… mas tudo bem!). Ficamos de ir juntos até lá em algum momento.

Na hora de decidir para que região viajaríamos, pensei, que bebida poderia ser mais apropriada para uma celebração em grande estilo? Champagne, é logico! Poderia haver lugar mais simbólico do que justo a capital geradora da tal divina bebida? Pois decidido, Épernay e arredores!

Adianto que não poderia haver escolha melhor! Foi um escândalo de bom! Uma semana inteira comendo divinamente e tomando champagne da melhor qualidade! Já se passou uns dois meses dessa viagem e parte da experiência ainda segue (literalmente) em meus quadris, mas está valendo! Porque cada vez que me lembro, minha boca saliva e tenho vontade de sorrir!

Então, começamos pelo princípio, tomamos um avião de Londres até Paris, onde alugamos um carro e dirigimos cerca de 160Km a nordeste, até Épernay. Chegamos na cidade no limite da hora do jantar e, admito, um pouco cansada. Mas feliz e disposta a iniciar os trabalhos, era a véspera do meu aniversário, o último antes de entrar na seguinte década para mim e para o mundo!

Ficamos hospedados no Hotel La Villa Eugène , que por sinal, adorei! Mas na chegada, só tivemos tempo de fazer o check in, largar as malas e correr para algum restaurante antes que fechassem todos!

Fomos jantar na Brasserie de la Banque, um lugar muito simpático, situado em uma antiga sede bancária, despojado e com a maior carta de champagnes que havia visto até o momento! Como não tinha a menor ideia do que optar e queria sair do lugar comum, pedi orientação ao maître, que nos sugeriu uma garrafa que, por coincidência, levava o nome do meu irmão. Perfeito! Aviso divino! Preço super acessível e excelente!

Voltamos para o hotel, agora alimentados e com um pouco mais de calma. Queria que chegasse logo o dia seguinte, 09/11/2019, oficialmente meu aniversário de 50 anos!

Comecei o dia feliz e muito bem acompanhada!

La Villa Eugène

Nosso hotel ficava exatamente na Avenue de Champagne, onde são sediadas as principais casas produtoras da bebida local. Além do mais, a cidade não é tão grande e podíamos fazer a maior parte dos passeios a pé mesmo. Aliás, considerando nosso teor alcoólico, era melhor não dirigir!

Como atividade do dia, elegi uma visita à casa da Moet & Chandon, obviamente, com direito a degustação! O ideal é que você compre com antecedência os ingressos para sua visita por internet. Como tudo nosso é decidido de última hora, pedimos ajuda à recepcionista do hotel, que foi bastante solícita e telefonou diretamente para lá.

Recomendo fortemente a visita! Aprendi um monte de coisas sobre a história da champagne, sobre a marca, sobre o processo, sobre armazenagem… passei, inclusive, a valorizar mais ainda a bebida. Digamos, que aumentou meu respeito. Além do que, é toda uma experiência você se meter por aqueles túneis intermináveis, que mais lembram uma sociedade secreta. Aviso que a temperatura é constante de 10 o.C, independente da estação do ano, ou seja, leva um casaquinho, ok?

Bom, como acho que já ficou bastante claro, foi uma viagem gastronômica, logo, os assuntos desse texto serão basicamente sobre comida e bebida! Quando disse lá atrás que queria viajar para comer muito bem e tomar todas não era apenas uma figura de linguagem.

Portanto, na sequência, o esperado jantar comemorativo dos 50! A escolha foi o restaurante Le Royal, que possui uma estrela Michelin e é localizado no Royal Champagne Hotel & Spa. E foi um escândalo de bom! O salão tem uma elegância discreta, simplesmente chic! Um olhar um pouco mais treinado irá perceber que tudo está pensado em detalhes, desde a escolha da louça, ao espaço entre as mesas, a decoração, as toalhas e os guardanapos bem passados… tudo em equilíbrio e correto! Serviço impecável e, ao mesmo tempo, simpático.

Nós escolhemos o “menu découverte”, ou seja, era um menu às cegas, o Chef decide e Bianquita obedece! Fizemos a mesma opção em relação à harmonização dos vinhos. Também já fui logo fazendo amizade com o garçon e sommelier porque assim fica melhor a experiência.

Como previsto, estava tudo maravilhoso! Como única observação, achei que o Chef foi pouco ousado. Entendo que um Michelin não tem margem de erro, mas para clientes que escolhem um menu surpresa e dizem que não tem absolutamente restrição alguma, acho que ele teria liberdade para arriscar um pouco mais. Dito isso, não tenho nada a reclamar. Tudo foi absurdamente perfeito, lindo, equilibrado e delicioso!

Estava onde queria estar, sem concessões, bem na minha própria pele e com a melhor companhia possível! Foi um dia completamente feliz!

E era só o início da viagem… porque ainda tenho mais para engordar… digo, contar!

No dia seguinte, começamos a explorar os arredores. Não tínhamos nada muito definido, então, saí buscando nomes que parecessem charmosos, encontrei uma cidadezinha chamada Châlons-en-Champagne e me pareceu que, com um nome desses, só poderia ser chic! Na verdade, não era nada demais, mas o passeio até lá até que compensou.

A parte engraçada é que paramos para almoçar em um dos poucos restaurantes abertos, tinha uma boa rotatividade e estava cheio de gente que parecia local. Ficava numa praça que deveria ser a principal da cidade, com casas muito tortas, que lembravam um desenho animado. Até aí, beleza!

Gosto de arriscar na comida e não tenho muita frescura para experimentar coisas consideradas estranhas. A linguiça típica dessa região é a Andouillette, que dentre sua composição, leva intestino de porco. Eu, metida a valente, pedi a especialidade da região, né? O garçon virou para mim com aquele olhar de desdém e me perguntou se eu sabia o que estava pedindo. Você acha que tinha alguma chance de eu dar meu braço a torcer?

Fiz a cara que era a coisa mais óbvia do mundo e aí é que resolvi pedir mesmo a tal da Andouillette (e não, claro que não tinha certeza do que era feita nem havia comido antes). Ficamos Luiz e eu rindo, imaginando que porcaria ia chegar para eu comer e eu já avisando que ia morrer dura, mas não ia perder a pose.

Pois bem, a aparência não é terrível, parece mesmo uma linguiça, o problema é o aroma… putz! Não me fiz de rogada, comi assim mesmo e quando o garçon passava por mim ou me olhava, ainda fazia aquela cara de “hummm, que delícia…”. Ele deve estar achando que sou louca até hoje! Mas foi divertido!

Mudamos de cidade e, consequentemente, também de hotel. Fomos para o Château d’Etoges, classificado como monumento histórico, construído em princípios do século XVII. Todo um charme, quarto enorme, atendimento prestativo e um excelente restaurante. Ficamos em uma suíte que levava meu nome, Chambre Blanche. Sério, me senti uma rainha no meu castelo!

Nosso seguinte passeio foi para Reims, a cidade é normal, nada que chamasse tanta atenção, mas nosso objetivo principal era visitar a Casa Veuve Clicquot. Você deve comprar as entradas antecipadamente para a visita com direito à degustação e precisa confirmar que tem mais de 18 anos para entrar no website.

Eu nem deveria contar, mas vamos lá que os micos de viagem também são importantes! Com toda essa vida de princesa, comendo feito uma louca refugiada e bebendo todos os dias sem dó nem piedade, claro que à essa altura eu havia acordado completamente desarranjada! Desconfio que a “Andoillette” teve algo a ver com isso. E, como não poderia deixar de ser, com os ingressos para a visita da Veuve Clicquot já comprados!

Daí, o que uma pessoa sensata faria? Ficaria sossegada no hotel para não correr riscos e não tomaria álcool pelo menos nesse dia, certo? O problema é que… eu não sou uma pessoa sensata! E não ia perder essa visita nem a pau! Resolvi arriscar, jejuei desde o café, tomando água sem parar, fiz cursinho de planta toda a manhã, não almocei, comi umas torradinhas e Luiz ainda conseguiu ter a brilhante ideia de comprar um Imodium na farmácia da esquina (olha que providencial, no hotel no meio do nada, numa cidadezinha minúscula, tinha uma farmácia a 20 metros). E assim, pegamos a estrada em direção a Reims!

Chegamos um pouco cedo, o que foi até legal, porque há uma sala de espera com uma mesa de futebol totó e eu amo jogar! E vamos combinar, até jogar totó na Veuve Clicquot soa mais elegante, né? Enfim, visita recomendadíssima e adorei conhecer um pouco mais da história da champagne. Para quem não sabe, “veuve” significa viúva em francês e a bebida leva o nome exatamente da viúva do Clicquot, uma mulher extraordinária e muito à frente do seu tempo, responsável por fazer a casa se consolidar como marca importante.

Como era de se esperar, terminamos com uma degustação!

Degustação na Casa Veuve Clicquot

Não vou deixar a história anterior em suspense. Não passei mal e nenhum acidente, graças a nossa senhora dos alcoólicos desesperados! E provavelmente, também ao santo Imodium!

Mas admito que minhas risadas foram bastante cuidadosas e que a champagne depois do dia praticamente em jejum subiu que foi uma maravilha! Tudo bem, sobrevivemos!

Seguindo a viagem, deixamos a região e fomos para Rouen, que tem um lado um pouco sinistro, onde Joana D’Arc foi queimada. Entretanto, não deixa de fazer parte da história e, apesar disso, a verdade é que a cidade é muito bonitinha.

Ficamos hospedados no Hôtel Littéraire Gustave Flaubert, agora num esquema mais tranquilo, bom custo vs. benefício, bem localizado, limpo e atendimento bem simpático. Você precisa tomar cuidado se ficar hospedado no centro da cidade, porque o acesso a carros é restrito e as multas podem ser altas. E esse hotel, oferece a possibilidade de estacionamento.

Quanto ao jantar, preciso confessar que tudo que eu queria à noite era tomar uma sopinha com água! Não estava passando mal nem nada, mas até para os abusos há um limite, juro que o corpo reclamou! Um diazinho só de recuperação não foi mal.

De Rouen, tomamos rumo a Paris, mas sem pressa, aproveitamos para curtir o outono visto da estrada e queria parar em Giverny para almoçar.

Giverny fica na região da Normandia, Claude Monet viveu e trabalhou lá de 1883 até sua morte, em 1923. Infelizmente, não era a melhor época para se visitar, porque o Museu dos Impressionistas estava fechado, ficará para outra visita. Havíamos nos programado para almoçar no Ancien Hôtel Baudy, frequentado por Renoir, Rodin, Sisley, entre outros, mas também estava fechado, uma pena! Ainda que cheguei a ficar contente só pela oportunidade de passar na sua porta e cumprimentar seus fantasmas!

E, finalmente, o último destino dessa viagem: Paris!

Não tem jeito, sou a-pai-xo-na-da por essa cidade! Quando vejo a torre Eiffel apontar pela janela do carro, alguma coisa acontece no meu coração… é até covardia!

Faltava a última chutada de balde da viagem, uma que já venho negociando com Luiz há anos e nada dele se animar a ir, dessa vez não tinha desculpa, para fechar essa viagem com chave de ouro eu tinha porque tinha que comer o pato prensado no Tour D’Argent!

Reza a lenda que o restaurante funciona no mesmo local desde 1582 e chegou a ser frequentado por Henrique IV. O carro chefe da casa é o pato prensado, hoje servido em dois tipos de cocção. Em 1890, Frédéric Delair teve a brilhante ideia de numerar os patos consumidos por seus clientes, uma jogada de marketing sensacional! Até hoje, ao pedir tal iguaria, você recebe um cartão com o número do seu pato consumido!

Mas vamos desde o início, o restaurante funciona no sexto andar do edifício localizado na 15, Quai de la Tournelle, com vistas para o Sena. Você é recebido no primeiro andar, onde há uma lojinha com produtos da marca e espera para ser encaminhado pelo elevador por onde só sobe os integrantes de cada mesa por vez. A decoração, na minha opinião, está um pouco decadente, mas ainda guarda algo de elegância e a vista, definitivamente, rouba a cena. O número de garçons é bastante grande, considerando a média européia, o que demonstra prestígio.

Recebemos a carta de vinhos, que juro, parecia mais uma bíblia! Acho que nunca havia visto uma carta tão extensa! A adega deles é impressionante. Achamos mais fácil pedir recomendação ao sommelier, que foi bem simpático.

Mas vamos ao que interessa, e o pato? Era isso tudo mesmo? Pois sim, era. Nos apresentam nosso pato inteiro, ele é destrinchado em nossa presença para ser finalizado em duas maneiras. A primeira com o molho derivado do suco retirado com a prensa dos ossos e a segunda grelhado. Tudo perfeito!

Assim chegou ao fim nossa viagem! Toda uma semana de celebrações! Feliz por estar viva, por ter quem amar e por me sentir querida, com saúde para me exceder, com liberdade para exagerar e com gente bacana para compartilhar!

Pronto! Agora eu podia voltar para casa, aproveitei cada segundo, até a última gota. Não faltou nada! Não sobrou nada!

Preciso resolver problemas diariamente, tenho um monte de defeitos, muitas coisas queria ou posso ainda mudar, mas o importante é que sigo aqui. Sigo aqui. Às vezes, um pouco envergada, mas inteira e aberta para a segunda metade do meu primeiro século.

Fiz 50 anos! Francamente, acho que mereci meu conto de fadas particular. Sabia que um dia acabaria, sei que um dia acabará, mas hoje não.

Saúde!

De volta ao Brasil… a passeio!

Muita calma nesse momento!

Acredito que por volta de uns 13 anos morando fora (descontando o tempo que fiquei no Brasil) é a primeira vez que consigo ficar mais de um ano sem ir ao país. E leia-se isso como boa notícia! Não é que não aproveitasse ou não quisesse, mas basicamente porque a imensa maioria de vezes que precisava ir era de emergência para resolver pepinos!

Pois bem, dessa vez, não tinha uma urgência (isola!), eu precisava decidir ir de propósito. E confesso que enrolei um pouco, até porque minha mãe e meu irmão vieram nesse período, eu tinha festa de bodas para fazer, queria viajar para outros lugares também… e o tempo foi passando.

O problema é que tenho dois sobrinhos ainda muito pequenos, que não viajam essa distância, e estava há 1 ano e 4 meses sem vê-los! É muito tempo nessa idade! Com a mais velha, de quatro anos e meio, ainda consegui estabelecer um vínculo maior durante os três anos que morei lá, e nos falamos pela câmera na internet sempre que possível. Mas o outro, vi recém-nascido, aliás, o motivo da minha ida anterior ao Rio. Vejo pela câmera também, mas ele ainda é novo para entender.

O engraçado é que vou comprando presentinhos para eles ao longo do ano, coisas que vejo e acho que iriam gostar e tal… até alguém da família passar por aqui ou vice-versa. Só que como essa vez demorou um pouco mais, a saudade foi apertando e, quando finalmente resolvi ir, tinha uma mala enorme de presentes para os dois! Sério, foi uma mala normalzinha de roupa para mim, uma lembrancinha ou outra para minha mãe ou irmão… e outra mala gigante cheia de “muamba” para as crianças!

Mal exemplo, né? Fica querendo comprar as crianças… Então, fico mesmo, suborno na maior cara-de-pau! Sou tia!

Admito que não estava muito animada no início para ir. Não pela família, é óbvio, mas por toda a situação do país. Não suporto o presidente atual, não suporto os anteriores, não suporto a oposição… ou seja, olhando para à direita ou para esquerda, não me reconheço nem me representam. E, francamente, havia perdido completamente a paciência para conversar com as pessoas por lá. De uma hora para outra, parecia haver baixado uma escrizofenia coletiva, onde todos repetem o mesmo discurso com sujeitos diferentes. Fora toda a violência! Eu tenho medo de sair na rua no Brasil e, convenhamos, o Rio de Janeiro está quebrado!

Por isso, de certa forma, me preparei para o pior. Pensei, a prioridade são meus sobrinhos, família e amigos próximos que não me encham o saco! Nem uso mais o Facebook, então nem tinha como organizar grandes encontros.

Juro, até o dia da viajem, não estava nem um pouco animada! Mas sei lá, já dentro do avião comecei a pensar nas crianças, nas pessoas, nas coisas que gosto, na música e fui literalmente sendo invadida por uma sensação boa, de saudade, de amor, talvez do restinho de brasilidade que ainda me reste.

E vou logo adiantando, sem fazer suspense, que foi tudo de bom! Bem melhor do que me preparei! Para começar, nenhum pepino de saúde nem comigo nem com a família! Ufa! Só daí melhorou tudo uns 150%! O resto era lucro.

Fugi léguas de qualquer assunto relacionado à política, chega! Nem moro mais lá! Não preciso passar por isso, não preciso convencer ninguém, nem deixar usarem meu ouvido de penico!

Sempre chego com um pouco de medo no aeroporto. Atravessar aquela linha vermelha ou amarela à noite (ou em qualquer horário) é a primeira barreira de entrada. Mas minha mãe foi me buscar com o namorado, viemos conversando e nem me lembrei de me preocupar tanto durante o caminho.

Dia seguinte, montei um “sofá de presentes” para meus sobrinhos (valorizar um pouco, né? A pessoa faz set design…). Fui buscar minha sobrinha na creche, digo escolinha, afinal, segundo ela, já é uma “menina grande”, não vai mais em creche (mesmo sendo no mesmo lugar)! O sobrinho chegaria mais tarde, na hora da mãe buscá-la.

Claro que a criatura ficou louca! Nem sabia com o que começar a brincar primeiro! E eu arrumei uma encrenca para mim mesma, porque a partir de agora, o padrão foi colocado lá em cima e ai de mim se aparecer só com uma bonequinha! Mas tudo bem, isso é assunto para a próxima viagem! Meu sobrinho também gostou, os dois juntos tocaram um barata voa na casa que nem conto!

Vi os dois quase todos os dias do par de semanas que passei por lá! E foi muito bom para mim poder criar esses momentos, tirar fotos, gravar vídeos, de alguma maneira ainda fazer parte da vida deles.

Se fosse só por isso, já teria valido a pena! Mas foi mais. Fui aos lugares que minha mãe começou a frequentar e me contava por mensagens, conheci pessoas novas que ela passou a conviver. Assim como também saí com meu irmão, primos, amigos queridos, amigos que acabei reencontrando depois de anos, gente nova que conheci… enfim, muito legal!

Fui ao Circo Voador, que adoro… me enfiei com meu irmão nos camarins da Festa Ploc para tietar um pouco… consegui ir à praia um par de dias… tomei ótimas cachacinhas e melhor papo ainda no Adega Pérola na criada “segunda-feira sem lei”… saí pelas ruas de Copacabana de madrugada a pé sem lembrar de ter medo… fui com minha mãe nos bailes de dança de salão do Iate… comi uma carne ótima no Osbar do Centro… brinquei no chão… fiz comidas de mentirinha com minha sobrinha… quase enverguei a coluna pegando o tourinho do meu sobrinho no colo… aprendi músicas novas… e no final, minha mãe ainda resolveu fazer uma festa! Decidida de última hora, por isso foram só umas 40 pessoas! O DNA é forte… E foi divertidíssimo!

Muito bom voltar ao Rio com uma boa experiência! Sei que não é mais meu lugar, talvez nunca mais seja, mas me faz bem saber que ainda tenho meu crachá carioca na gaveta (porra!).

Um concerto, umas coisas esquisitas e a festa de inauguração do apartamento

É, assim desse jeito, tudo junto ao mesmo tempo, afinal é como tudo na minha vida!

Começando pelo concerto, fiquei sabendo que a Anitta faria um show em Londres! E sim, estou falando da funkeira carioca, a própria! E pode torcer o nariz à vontade, eu adoro, acho ela poderosa!

Convenci o pobre do Luiz a ir comigo. Nem foi tão difícil, tendo lugar para sentar, ar condicionado e bebida… ele topa quase tudo!

E como foi? Vamos lá, sendo preciosista, o som não estava dos melhores, o figurino poderia ser mais caprichado e a cenografia era fraca . Foi o que eu esperaria de um show de funk no Brasil. Entretanto, considerando que hoje ela é uma atração em turnê internacional, está na hora de investir mais na produção.

Dito isso, na prática, me diverti pacas! E digo mais, é raríssimo ver qualquer show na Europa onde as pessoas não estejam todas sentadas comportadas, principalmente em um teatro. Inclusive, se alguém levantar, as pessoas reclamam. Foi o primeiro concerto que fui por essas bandas de cá do oceano onde estavam absolutamente todos de pé dançando o tempo inteiro! Bom, todos menos meu marido, que era o único sentado com sua bebida, mas também não me perturbou. E, no fundo, mas bem lá no fundo, acho até que ele se divertiu também!

Antes, durante o “esquenta”, dois DJs começaram a animar o público. Segundo um deles, estilo “Rio Old School” e era mesmo! Assim que, quando entrou Anitta, já estava rolando um clima de festa no teatro. E acho que ela realmente comparece e não decepciona. Gosto muito da sua atitude e a considero uma feminista.

Não é música erudita, nem se propõe a ser. As letras não são sofisticadas ou filosóficas, e novamente, também não se propõem a ser. Para mim, é simplesmente uma batida boa para dançar e soltar a franga! E esse propósito é muito bem cumprido.

Beleza! Acabou o concerto e resolvemos comer alguma coisa antes de vir para casa. Já tinha bebido um par de whiskeys durante o show, estava bem animadinha, mas nada que não estivesse acostumada e, ainda assim, no jantar, só tomei água. Afinal, além de estarmos em plena terça-feira, estou dando esse detalhe pela sequência da história.

Voltamos para casa, tudo muito bom, tudo muito bem!

No meio da madrugada, por volta das três da matina, acordei com vontade de ir ao banheiro. Não estava me sentindo muito bem, algo tonta, achei que podia ser da bebida e o jantar estava me pesando um pouco. Mas nada que me chamasse tanta atenção. Por isso, não me preocupou, só pensei, faço meu pipi rapidinho e volto para dormir. Levantei rápido e fui.

Estou acostumada a levantar durante à noite. Nem acendo as luzes, faço tudo no piloto automático.

No banheiro comecei a passar mal de verdade, uma sensação de mal estar como se fosse vomitar, mas não estava exatamente enjoada. Pensei, vou lavar o rosto antes de ir para cama para ver se melhoro. Mas de pé, nem consegui abrir a torneira da pia. Percebi que piorava exponencialmente e decidi voltar logo para cama. Só que não deu tempo. Apaguei completamente ali mesmo. Desmaiei.

Eu nunca desmaiei antes na minha vida, não tinha ideia que isso poderia acontecer nem qual era a sensação. Mas foi como se tivesse tomado anestesia geral. Lembro do que descrevi acima e lembro de acordar ao ouvir a voz do Luiz me chamando. Abri os olhos no chão, sem ter certeza de onde estava e ver seu rosto assustado. Extendi a mão para ele.

Foi tudo muito rápido, questão de segundos. Pela versão do Luiz, ele ouviu o barulho forte vindo do banheiro, me chamou e eu não respondi. Ele foi atrás de mim e quando chegou na porta eu já estava abrindo os olhos e com a mão pedindo ajuda para levantar.

Não senti nada, mas durante a queda, bati forte com a parte de trás da cabeça e me abriu um corte. Ficou manchado de sangue onde caí e Luiz viu.

Cheguei na cama bastante tonta e suando muito. Ele acha que tive alguma queda de pressão. Honestamente, não tenho ideia, mas acho que faz sentido.

Ele começou a perguntar se queria ir para um hospital e a dizer que minha cabeça estava sangrando. Sinceramente, eu mal escutava, só me preocupei em dizer para ele: Luiz, eu não caí, eu desmaiei. Porque não sabia o que poderia acontecer e achei que ele poderia precisar dessa informação.

Em meus pensamentos, no primeiro momento o corte da cabeça não me preocupou, o desmaio sim. Comecei a pensar tudo que precisava checar em mim. Tive um pai com todos os problemas do mundo e eu tinha um check list do que precisávamos checar eventualmente.

Então, primeiro fiz o movimento do sorriso com a boca. Quem sofre um derrame não consegue sorrir. Derrame não era. Lembrei o número da minha identidade e data de nascimento. A memória não estava afetada. Meus braços não estavam dormentes e não tinha dor no peito. Não era coração. Minhas frases saíam com lógica, eu não trocava as palavras, meu corpo obedecia os movimentos, provavelmente não era AVC… e fui me auto diagnosticando. Ok, aparentemente não tenho nenhum dano neurológico.

A partir daí, comecei a prestar mais atenção ao que Luiz falava e ele, durante esse período, teve a ideia de pegar um pouco de papel higiênico branco para estancar o sangue. E também foi uma forma de literalmente me mostrar que estava sangrando ainda, porque meu cabelo é escuro e absorvia boa parte do líquido, não dava para saber bem o que tinha acontecido. Minha cabeça até doía um pouco, mas com toda a adrenalina, não fazia muita diferença.

Comecei a me preocupar com a pancada. Será que era seguro dormir? Fiquei bolada e resolvi ouvir o Luiz. Também havia melhorado a sensação de mal estar e era mais fácil levantar.

Lá fomos nós para a emergência do hospital!

Resumo da ópera, realmente não parecia haver nenhum dano neurológico e não dava para ter certeza do que havia se passado. A queda de pressão era uma das possibilidades. Provavelmente, foi um evento isolado. O médico não achou necessário fazer uma ressonância, porque não bati a cabeça e desmaiei, foi ao contrário. Além dos meus reflexos estarem normais. Mas o corte na cabeça precisava ser costurado. Na verdade, optamos por usar um tipo de cola cirúrgica ao invés de dar pontos. O médico orientou ao Luiz o que ele deveria reparar em mim nas próximas horas, já que eu mesma poderia não notar se fosse algo mais grave, e nos liberou.

Saí de lá pela manhã, dia claro, com a cabeça literalmente colada.

Daria um jantar nessa mesma noite, pensei em manter porque estava tudo engrenado. Para mim, se estava resolvido era que eu já estava boa, pronto, sem drama! Mas considerando que não havia dormido nada e não sabia bem como o corpo iria reagir, adiei o jantar para o dia seguinte.

Foi bom, porque durante o dia me caiu a ficha do que havia passado. Não tive maiores consequências. Adianto que ficou tudo bem, felizmente. Mas me dei conta de todos os riscos e de tudo que poderia haver acontecido.

Quantas histórias havia escutado de gente que caiu no banheiro, bateu a cabeça e morreu? Diversas! Isso quando não havia algum dano cerebral. Porque tudo em um banheiro é duro e se já é complicado você cair consciente, imagina sem nenhuma defesa! Você não põe a mão para proteger, você não desvia a cabeça… fica completamente vulnerável.

Uns centímetros um pouco para lá ou para cá, alguns segundos antes ou depois… e seu destino está traçado, é simples assim! Definitivamente, ou tenho muita sorte, ou sou muito protegida, ou minha cabeça é muito dura! Por outro lado, mais maluca do que sou, difícil ficar! Então, tudo bem, mas foi um susto da porra!

Difícil não te fazer repensar o quanto a vida é efêmera. E o que deveria ter sido apenas uma “bobagem”de um tombo, me afetou mais do que eu esperava. Realmente, senti medo de me levantar durante à noite por alguns dias.

Depois voltei à rotina. Mas admito que, mesmo tendo passado alguns meses, o local ainda é um pouco sensível e sinto um tipo de “dor fantasma”. Às vezes, é como se estivesse doendo no local, mas passo a mão na cabeça e não sinto nada. Deve passar em algum momento.

Bom, na semana seguinte ao desmaio, veio uma amiga da Alemanha nos visitar, nossa madrinha de casamento, que conheço desde os tempos de solteira. A gente recebe muitas visitas e muitos hóspedes, mas como estou falando de coisas esquisitas, quero contar um evento muito curioso que aconteceu durante a sua visita. Entre o evento da cabeça quebrada e a chegada dela, estava pensando a semana inteira em uma outra amiga que faleceu há muitos anos, se suicidou. É uma história longa e complicada, mas a memória dela me volta de tempos em tempos por razões que nem quero explicar agora, mas enfim, apesar das minhas crenças e descrenças, todo mundo fala tanta coisa ruim sobre quem se suicida… que era inegável para eu pensar se ela estaria bem.

As duas se conheceram e foram muito presentes na minha “vida de solteira”. Mas isso não significa que a gente fique tocando sempre nesse assunto, afinal, fará pouco menos de uns 30 anos que isso aconteceu.

A primeira vez que encontrei minha amiga que faleceu foi em um réveillon, em Búzios. Foi amizade à primeira vista, instantânea! Tudo bem, eu faço amizades de infância em 15 minutos… é verdade… mas nesse caso, a gente realmente se entendeu muito bem, não éramos tão parecidas, mas nos complementávamos, nos entendíamos, tínhamos problemas parecidos… e um tipo de sintonia que eu costumava chamar de “efeito catalizador de merdas”! Tudo que uma sugeria, por mais absurdo que fosse, a outra sempre, mas sempre, topava! Bora? Bora!

Nessa noite de Ano Novo, encontramos na areia da praia uma garrafa fechada de vodka Smirnoff, reza a lenda que em uma macumba. Veja bem, a gente era meio dura nessa época, estudantes, começando a trabalhar, a gente fazia vaquinha para comprar Kovak! Imagina se a gente ia ficar de mimimi para tomar uma Smirnoff na faixa! A gente nem quis saber, pedimos licença para os santos e matamos a bebida sem pensar duas vezes!

Foi um ano muito legal! As portas começaram a se abrir, a vida melhorou! Foi o ano, inclusive, que conheci o Luiz. E sempre brincávamos que o segredo daquele ano foi a tal vodka de macumba que a gente tomou!

E contei esse caso para dizer que em uma das noites que saímos com a amiga visitante da Alemanha, do nada ela lembrou da outra amiga durante a conversa. E falei, que engraçado e que coincidência, pensei nela essa semana passada toda! Muito louco, né?

Pois é, passamos uma noite ótima, divertida, ouvindo música ao vivo no Nightjar, um bar pequeno que adoro com uma história de clandestinidade no passado, quando os donos fabricavam (e contrabandeavam) sua própria bebida. Até hoje, não há um letreiro, é uma porta discreta, entre dois pontos comerciais.

Quando fomos embora, pela hora resolvemos pedir um carro e ficamos ao lado da porta para aguardar. Nesse minuto que a gente saiu e Luiz pegou o celular para chamar o Uber, minha amiga e eu olhamos para o lado e, bem no chão da calçada, uma garrafa vazia… de vodka Smirnoff!

Qual a probabilidade de aparecer em Londres uma garrafa de vodka e dessa mesma marca na calçada, em frente ao bar que saímos e acabamos de falar no assunto? Foi de arrepiar!

Não sabemos e nunca saberemos o real motivo da extrema coincidência, mas para nós, ou principalmente para mim, foi um momento tão bacana. Como uma resposta que estava tudo bem e que ia ficar tudo bem.

Dia seguinte, festa de inauguração do apartamento novo, meu endereço #46! De cabeça quebrada mesmo, com hóspede da vez e com futura hóspede, com amigos novos e antigos, entre memórias e possibilidades, esquisitices e normalidades… como a vida costuma ser, pelo menos a nossa.

E ficou tudo bem.

Restaurante Pétrus em Londres

O Pétrus, aberto em 2010 no local onde hoje funciona, faz parte do grupo de restaurantes do Gordon Ramsay e possui uma estrela Michelin, além de cinco AA Rosettes.

Quem me conhece, sabe a relação afetiva e, ao longo dos anos, até profissional que tenho com a comida e, sempre que possível, busco essas experiências gastronômicas, o que considero bastante enriquecedor.

Mas nesse caso, foi inclusive melhor, porque uma amiga nos deu de presente um almoço para duas pessoas nesse restaurante, em função das bodas de prata com Luiz.

Eles oferecem essa possibilidade de você comprar vouchers de valores diferentes para oferecer aos seus amigos ou familiares. Vamos combinar, presentão, né?

Bom, conseguimos acertar nossas agendas e marcar nosso super almoço por lá! Adianto que foi tudo ótimo e conto os detalhes abaixo.

A decoração é relativamente discreta, mas elegante. O destaque fica para uma enorme adega de vidro redonda bem ao centro do salão. E falando nisso, o nome do local foi inspirado no vinho Pétrus, favorito de Ramsay.

A cozinha é de inspiração francesa moderna. Não há serviço à la carte, são opções de menus completos, sendo que o mais comedido inclui amouse-bouche, entrada, prato principal e sobremesa ou queijos. Também oferecem harmonização dos pratos com vinhos em dois preços diferentes, sendo um deles para chutar o pau da barraca!

Considerando ser uma estrela Michelin e o padrão do serviço oferecido, aliás, bastante simpático e nada arrogante, o preço é justo. Obviamente, não é nem poderia ser um restaurante popular, mas em comparação a outros no mesmo padrão, suas opções de preço são bastante razoáveis.

Não espere invenções estapafúrdias ou nada absolutamente surpreendente, é um restaurante honesto, de ingredientes conhecidos. Entretanto, tudo muito fresco, paladar absolutamente bem equilibrado, pratos bonitos e tudo executado com perfeição. Ele é o que se propõe a ser, aliás, a cara do Ramsay! O responsável pela cozinha é Russell Bateman, que em 2014 ganhou a competição National Chef of the Year (o chef do ano).

Então, vamos lá, o que a gente comeu?

De amuse-bouche um gazpacho de tomate e cereja; de entrada, Luiz escolheu o Mackerel (peixe) e eu um spelt risotto (tipo de trigo); de prato principal, Luiz foi de Côte de porc (porco) e eu de Sea bream (peixe); como sobremesa ele pediu uma tortinha de damasco com sorvete de amêndoas e eu um merengue de pera com sorvete spiced (nem sei como traduzir, são ingredientes usados para temperos e um pouco picantes); café com chocolates e pequenas madalenas recém-saídas do forno!

Côte de porc
Côte de porc
Sea bream
Sea bream
Apricot tart
Pear meringue

Para acompanhar os pratos, escolhi a harmonização de vinhos sugerida pelo sommelier da casa. Gostei muito, escolhas não tão óbvias, eu não teria pensado, mas bastante interessantes.

Tudo uma delícia! Nada a acrescentar ou tirar! E esse equilíbrio e excelência na execução é algo que levo bastante em consideração.

Enfim, experiência aproveitadíssima! Recomendo!

Você é uma pessoa preconceituosa?

Então, aquele tema chatinho e subjetivo que incomoda muita gente. Algo que penso com frequência, mas escrevo pouco. Hoje me deu vontade de falar no assunto.

Respondendo minha própria pergunta do título, adoraria dizer que não. Aquele não seguro e absoluto: não, não sou preconceituosa! Acontece que não é verdade, por mais vergonha que me faça sentir, e preciso chamar esse demônio pelo seu nome, eu sou preconceituosa sim, infelizmente. A resposta mais precisa e honesta seria: luto para não ser! Luto assim com força mesmo, porque acho muito feio e injusto.

O fato é que na hora da raiva, nas situações limite, eu não sei se saltará apenas meu melhor lado. Não sei! Eu tento não ser preconceituosa quase todo santo dia da minha vida. E, para meu alívio, cada dia é mais fácil vencer essa batalha, pois virou um hábito e me sai mais naturalmente com o passar do tempo. Acho que morar fora do meu país de origem me ajudou a ver outras realidades e entender outras culturas, me deixou mais sensível a questões às vezes sutis em relação aos preconceitos de modo geral. E mais do que isso, me fez eventualmente colocar o chapéu de quem está do lado fraco da corda.

Na minha opinião, acho que assumir que o problema existe é o primeiro passo para a mudança. No fundo, em condições normais de temperatura e pressão, todas as pessoas razoáveis concordam que o preconceito é uma coisa ruim. O problema é que a pessoa preconceituosa dificilmente sequer percebe que o é! Preconceituoso é sempre o outro e em relação a algo que não se concorde. E aí, a porca começa a torcer o rabo…

Primeiro de tudo, toda sociedade tem suas regras, portanto, seus conceitos. E sempre que existe um conceito… existe um pré-conceito! Então, no fundo no fundo, todos nós que temos alguma convivência social temos algo preconcebido. Dessa forma, imaginar que é possível existir um mundo sem preconceitos é, no mínimo, ingênuo!

Então, não há o que fazer? Estaria eu dizendo que o preconceito é algo inerente ao ser humano, portanto não é tão mau assim? Médio. Eu acho que sim, é inerente, mas pode ser bastante mau e cruel. É fundamental lembrar que os tempos mudam, as sociedades evoluem e, com isso, se mudam seus conceitos. Por consequência, também seus preconceitos!

E é onde quero chegar, é difícil (se não impossível) se acabar com um preconceito simplesmente criticando ou atacando a pessoa preconceituosa. Não porque essa pessoa não mereça ou porque até seja boazinha, mas porque é mais eficiente se atacar uma causa, não sua consequência. Seria nos nossos conceitos, na educação, na nossa maneira de ver o mundo que deveríamos trabalhar. Acho eu, pelo menos, é o que tento fazer.

Tentar não ser preconceituosa é um exercício! Adianto que não é fácil! Até para escolher o título dessa postagem, precisei pensar se escrevia no feminino ou masculino (preconceituoso ou preconceituosa). Estaria eu sendo machista em generalizar no masculino? Ou estaria eu sendo feminista, porque em generalizar poderia estar excluindo as mulheres da atitude preconceituosa? Um pouco de exagero? Pode ser, e é parte do que estou tentando colocar em perspectiva. Para quase tudo que pensamos ou expressamos poderia haver uma interpretação “preconceituosa”.

Vamos combinar, é insano ponderar absolutamente tudo que dizemos! E irreal imaginar que podemos sempre perceber as intenções de cada um. Mas podemos sim nos esforçar um pouco em questões básicas. E, principalmente, estarmos abertos quando alguém se manifesta ofendido. Nem digo concordar sempre, mas ouvir. Talvez nossa intenção não tenha sido essa, mas não custa, ao menos, que a gente se questione a respeito. Um pouco de empatia, um pouco de tolerância e canja de galinha não fazem mal a ninguém!

É, dá trabalho sim. Mas qual seria a alternativa? Ignorar e deixar que outras pessoas sigam sofrendo injustamente porque você acha chato ou está com preguiça? Se o preço de ser mais justo para todos é o incômodo de alguns, inclusive o meu, que seja!

A cerimônia japonesa do chá

Há alguns meses, só para variar um pouquinho, tivemos hóspedes em casa . Um casal com a filha, moram nos EUA. Essa minha amiga é de origem japonesa e, por coincidência, tinha uma prima que não via há muitos anos morando aqui em Londres. A prima veio deixar alguma coisa aqui em casa para ela e, acabei a conhecendo rapidamente.

Mas claro, que a convidei para entrar e conversamos um pouco. Pelo que entendi e, para ser sincera, nem tinha entendido tão bem assim, essa prima e o marido eram como representantes da cultura japonesa e ofereciam cursos sobre a cerimônia do chá por essas bandas.

Fiquei muito curiosa a respeito e, na minha ignorância, perguntei se a gente poderia ir um dia a uma dessas cerimônias, no esquema como se fosse ir até lá e tomar um chá da tarde, da mesma maneira que iríamos em alguma casa comercial especializada.

Ela explicou mais ou menos que não era bem assim, que a casa era um tipo de escola e, eventualmente, eles faziam alguma demonstração. Novamente, não entendi muito bem, mas aceitei. Demonstrei meu interesse e se surgisse alguma oportunidade, ótimo! Sem grandes expectativas, também não queria ser invasiva. Sei lá, quando a gente não conhece tão bem a cultura, e eu não conheço, poderia estar dando alguma rata, né? Melhor não forçar nada.

Até que há cerca de um mês ela me procurou pelo whatsapp e fez o convite para que participássemos de uma sessão. Era um dia em que os alunos do marido estariam colocando em prática seus dotes como anfitriões. Achei o máximo! Claro que quero!

Perguntei se tinha algum tipo de preparação, alguma coisa que eu precisava saber, alguma vestimenta definida, enfim, mas não havia muitos detalhes. Para mim, tinha um certo “que” de mistério e resolvi também não me preocupar, simplesmente estaria aberta e atenta ao que viesse. Infelizmente, não podia fotografar, assim que adianto que não tenho imagens.

Muito bem, aviso adicionalmente que contarei minha experiência como leiga. Descobri que a cerimônia do chá não é simplesmente um tipo de refeição, é bem mais amplo, é uma filosofia de vida. Portanto, não seria em algumas horas de um domingo que eu teria alguma legitimidade para falar profundamente do assunto. Mas achei tão bacana que vale o registro.

Começa logo na entrada, você tem a sensação de ter passado em algum tipo de teletransporte, onde de um lado da porta é Londres e do outro, alguma cidadezinha no Japão. Juro! E, obviamente, já se tira os sapatos ali mesmo. Até aí, normal, na minha casa é igualzinho, os sapatos são barrados logo de cara!

Fomos recebidos pela prima da minha amiga, vestida em seu quimono japonês, assim como as pessoas envolvidas na preparação de todo evento. Chegamos um pouco antes, como recomendado, e ficamos em uma sala pequena, recebendo algumas informações, aguardando nossa hora e todos convidados se juntarem. Éramos um grupo de 7 convidados, incluindo a prima da minha amiga, que fala português e foi nos orientando como deveríamos nos comportar durante toda a cerimônia.

Foi nesse momento que comecei a perceber que o buraco era mais embaixo, ficou mais do que claro que não era somente ir até lá e tomar um cházinho. Ao mesmo tempo, ressalto que não era nada tenso para mim, era mais uma preocupação em não fazer nada que ofendesse ninguém, mas fui deixada bastante à vontade. Bastava que copiasse o que a “primeira convidada” fizesse (explicarei um pouco adiante esse papel).

Pois bem, a tradição Urasenke chado é baseada nos princípios de harmonia, respeito, pureza e tranquilidade. A ideia é aprender a importância real de como se comportar e viver. São princípios simbolizados e executados durante uma determinada cerimônia, mas que são metáforas e regras a serem seguidas na vida de maneira geral. Bom, isso foi o que entendi nessa pequena experiência.

Uma coisa que achei muito interessante é que, na cerimônia, você aprende a ser anfitrião e convidado. Ou seja, não basta entender o que é servir ou como fazê-lo, você também precisa entender como se comportar para receber o que alguém está te oferecendo. A humildade e a gratidão são vias de mão dupla.

Os papéis do grupo são definidos com clareza. Havia uma anfitriã, uma ajudante, a primeira convidada e os outros convidados. Todos os convidados são servidos individualmente, com a devida sequência de reverências e na ordem em que serão sentados. Essa ordem de entrarmos na sala de chá e nos sentarmos foi estabelecida assim que chegamos, ainda na sala de recepção. A anfitriã é a figura principal, quem recebe os convidados, define desde os aperitivos até a decoração da sala, escolhe as louças, prepara o chá e serve os convidados. A ajudante, como o nome sugere, ajuda a anfitriã. A primeira convidada é como se fosse uma convidada especial, ela é sempre servida primeiro e tem inclusive a responsabilidade de ajudar a manter o bom entretenimento dos convidados, enquanto a anfitriã está ocupada.

Muito bem, seguindo essa ordem definida dos convidados, fomos primeiro levados ao jardim para lavarmos as mãos e a boca. Isso é feito individualmente, você tem que esperar sua vez e há uma maneira padronizada para fazê-lo. É como um ritual de purificação.

Daí, seguimos para uma sala forrada por tatame e decorada com um arranjo floral. Entramos na ordem definida e se senta sobre os joelhos, em semi-círculo. Eu tenho problemas nos dois joelhos, infelizmente, e só consigo sentar de pernas cruzadas. Não é o padrão, mas não foi um problema.

A anfitriã estava nervosa e parecia emocionada, era sua primeira vez oficialmente executando a cerimônia. Achei bacana, me senti honrada de alguém estar tão preocupada em me servir bem.

Entendo esse conceito, de uma maneira muito mais intuitiva e informal, percebi que também usava vários dos príncípios utilizados na tal cerimônia. Quando recebo alguém em casa, minha ambição é que essa pessoa se sinta como um rei ou rainha! Que saiba que os detalhes foram pensados para cada convidado. Às vezes, é difícil quando o grupo é grande, mas essa é a intenção durante toda a preparação de cada evento.

A anfitriã nos serviu uma entrada fresca, biscoitos e chocolate, além do chá. Tudo é feito individualmente e se serve uma pessoa por vez. Começando sempre pela “primeira convidada”. Há um conjunto de reverências e agradecimentos que se faz para quem oferece, para quem recebe, para seu vizinho… até para a louça utilizada! Falando assim, parece um exagero, mas acredito que isso seja uma demonstração de respeito e gratidão. Na prática, é bonito. Acho que a gente deveria demonstrar mais às pessoas quando estamos gratos, nem que seja por um gesto de gentileza.

Ter que esperar sua vez é algo que te faz exercitar a paciência. Ao mesmo tempo, gera uma sensação de tranquilidade. Você sabe que terá sua vez e quando ela irá acontecer, então, não há necessidade de ansiedade. Entender que os outros também terão seu tempo e atenção, traz uma sensação de harmonia, equilíbrio. Não sei se me explico, mas é parecido a fazer um tipo de meditação.

Ou seja, são gestos simples, mas com analogias importantes que podemos trazer para nosso estilo de vida e comportamento. Como coloquei no início, mais do que uma mera cerimônia, é uma filosofia.

Poderia gastar toda uma tarde descrevendo os detalhes e os papéis de cada participante, mas acho que a ideia principal foi passada. Na verdade, muito mais do que uma descrição, o que vale é toda a experiência.

E sou muito grata por tê-la vivido.

PS: para quem se interessou pelo assunto, esse é o website da Urasenke Foundation, e se estiver por Londres, eles fazem algumas apresentações com os alunos no The British Museum. Em 2019, estarão nos dias 12 e 26/ julho; 9/agosto; 27/setembro; 12/outubro; 8 e 22/novembro e 13/dezembro. É grátis e aberto ao público!

Relacionamentos que terminam

Muita calma nesse momento, não estou falando do meu (isola!). Mas nos últimos meses, tenho recebido notícias sobre alguns casais de amigos queridos que se separaram ou estão nesse processo.

Até aí, normal, faz parte da vida, ou deveria fazer, só que há casais que você não espera que isso aconteça. Imagino que, em condições normais de temperatura e pressão, todos (ou quase todos) casais que assumem um relacionamento acreditem realmente que queiram ficar juntos, pelo menos no início. Mas para quem está de fora, costuma haver alguns que parecem mais prováveis de funcionar. E, principalmente, depois de algum tempo juntos, quando você sabe que passou a fase da paixão, da empolgação, e a relação amadureceu, fica aquela sensação de “prova superada”, agora vai planando em voo tranquilo.

Infelizmente, nem sempre é assim e fico triste quando sei que aconteceu uma separação entre casais. Por mais que não tenha nada com isso, por mais que saiba que muitas vezes seja melhor, por mais que nem veja as pessoas com tanta frequência, por mais que o universo siga seu curso… me bate aquela sensação de que o mundo saiu um pouco do lugar.

Sabe quando você lê aquela notícia sobre um acidente grave que ocorreu em um caminho que faz parte da sua rotina? Por algum motivo, você não passou lá naquele dia, mas poderia haver passado, poderia ter sido com você… poderia ter sido comigo.

Procuro não me influenciar ou buscar um lado positivo. No fundo, há algo de alívio culpado em pensar que não foi comigo. Será que estou me comunicando bem? Será que dou o suficiente? Será que está certo? Tento usar como alerta e rever se estou fazendo direito meu papel.

A questão é que nem sempre há o que fazer ou exista algum culpado, às vezes, simplesmente os caminhos se dividem. Triste, mas fato. E deve ser muito duro revisitar tantas histórias e buscar onde estaria o erro ou o que poderia ser feito diferente. Talvez, ou muito provavelmente, não houvesse o que ser feito de outra maneira, as pessoas são o que são. É possível que nem valha a pena buscar esses potenciais enganos, para que apontar dedos se esse bonde já partiu?

Mas há vezes que ainda dá tempo. E, o melhor dos casos, talvez a crise ainda não tenha chegado. Então, não espere ou conte que não chegue, se não chegou, ela vai chegar! Pode ser fraca ou forte, breve ou duradoura, pode até passar batido e te errar, quem sabe… mas ela vem.

Não trate sua relação como garantida, não há garantia de nada nesse mundo! Não existe amor absolutamente incondicional, ele precisa ser cuidado, alimentado, regado. Eu decido continuar casada todos os dias, nos alegres e nos tristes, nos fáceis e nos difíceis. Há 25 anos eu decido que sim e que assim seja.

Mas se não for o caso, que assim seja também, que as pessoas sigam seus caminhos em paz e com mais experiência para compartilhar amor. Afinal, ninguém melhor do quem perdeu para valorizar o que é importante. Que possam entender que o que passou deu certo, pelo menos pelo tempo que tinha de ser.

E, mais do que tudo, mesmo que o amor “não seja imortal, posto que é chama”, que o respeito “seja infinito enquanto dure”.

Autenticação de documentos e reconhecimento de firma na Inglaterra

Sabe como funciona a autenticação de documentos aqui? A pessoa olha para você, olha para o documento com foto… e reconhece!

E reconhecimento de firma, como faz? A pessoa olha sua assinatura, compara com um documento com foto… e reconhece!

Tá bom, vai, vou complicar um pouquinho… Às vezes, quando é algo mais importante, no máximo, você precisa assinar na frente da pessoa. Ou já aconteceu comigo, quando estava em outro país e não podia comparecer no momento da assinatura, você tem que assinar e pedir para “alguém institucionalizado” reconhecer. Na prática, um médico, uma dentista, advogado… alguém que tenha um carimbo com um número de identificação. Essa pessoa escreve: reconheço essa assinatura, carimba e assina. Pronto!

Ah, mas você não precisa de alguém específico que faça isso? Porque afinal de contas, reconhecer uma foto ou uma assinatura deve requerer um perfil ex-tre-ma-men-te especializado! Puxa, não é fácil achar alguém que enxergue! Por isso, é fundamental se pagar uma fortuna, por exemplo a um cartório, para exercer essa atividade essencial e super exclusiva… não?

Que simplistas são esses ingleses, viu? Precisam aprender muito com os latinos…

O 46o. endereço, uma mudança inédita!

Sim, se você chegou agora no blog, aviso que não entendeu errado, estou nesse momento no meu quadragésimo quinto endereço e de malas encaminhadas para o quadragésimo sexto!

Nem sou eu a autora da frase, mas se existe algo de constante em minha vida, definitivamente, é a mudança! (Bom, e o casamento, né? Isola!) Mas vamos lá, o que há de diferente agora?

É a primeira vez que mudamos dentro do mesmo edifício. Mudaremos apenas de andar!

Ai, Bianca, sério que você vai passar por todo esse perrengue para ficar no mesmo prédio? Por que mesmo? Então, como em todas as outras dezenas de vezes, não é que eu quisesse mudar, simplesmente aconteceu! Eu apenas não reluto.

Para início de conversa, meu vizinho é um dos meus melhores amigos, viramos família. A gente sai para caminhar diariamente e fala mais que o homem da cobra, trabalhamos em alguns projetos juntos, se eu viajo ele cuida dos meus gatos, a (nossa) sobrinha janta aqui em casa… ou seja, parece bobagem, mas não é, o fato é que minha vida é melhor e mais fácil com essa proximidade. Portanto, precisaria haver alguma razão muito forte para eu pensar em sair daqui.

Pois bem, há cerca de um mês, descobrimos um vazamento estranho… que foi puxando outros vazamentos misteriosos… todos aparentemente sob controle, mas deixando aquela certeza amarga que, mais cedo ou mais tarde, seria necessário uma investigação definitiva. Isso quer dizer, quebrar o chão, fazer obra etc… com a gente aqui! Hum… acho que vai dar ruim! Só de imaginar a possibilidade, arrepiou os cabelos do sovaco!

No desespero, Luiz começou a buscar alternativas pelas redondezas. E eu já reclamando por antecipação: mas não quero ficar longe daqui! Pois muito bem, por uma enorme coincidência do destino, não é que estava para vagar outro apartamento exatamente no mesmo edifício! No mesmíssimo, nem do lado, nem perto, no próprio!

Não acreditei! Hoje vivemos em um primeiro andar, bem de frente para o Tâmisa. A vista e o tamanho são boas vantagens, mas o fato de ser na altura da rua, nos cobra pouca privacidade; e por ser primeiro andar, é onde há a maior probabilidade de problemas, como vazamentos, por exemplo. Esse próximo é no quinto andar, não é bem de frente para o rio, mas tem a vista lateral, tem varanda e ainda por cima é mais barato! E onde está a pegadinha? É um pouco menor e a reforma é mais antiga. Tudo bem, posso viver com menos, até aproveitei para fazer nova limpeza e me livrar de mais algumas coisas. Tenho síndrome de Diógenes ao revés, fico feliz em me desapegar das coisas.

Claro que a negociação foi um parto de mamute, porque nada na nossa vida é simples. Coloquei algumas condições e me plantei. Juro que achei que não fosse rolar, mas a proprietária aceitou. Embora se passassem dias para responder daqui, dias para responder dali… até quando me enchi e falei para Luiz, ou é amanhã ou não quero mais! Aparentemente, deu certo.

Ou seja, lá vamos nós para o endereço #46! Juro que com tanta experiência no tema, ando pensando em seguir uma carreira paralela ao estilo Marie Kondo!

Alguém por aí, quer me contratar? Faço sua mudança, arrumo seu armário, resolvo problema de mau-olhado e trago a pessoa amada em 3 dias! E parafraseando Tim Maia, só minto um pouquinho… Vai?

A cup of tea? (Uma xícara de chá?)

O chá na Inglaterra é definitivamente uma instituição! Se não igual, acredito que talvez até mais forte que o café no Brasil. Absolutamente todo mundo toma!

Até aí, não é uma grande novidade para muita gente. Mas o curioso e que queria contar hoje é o fato de não ser incomum alguém que vá na sua casa te pedir chá. E não estou falando apenas dos seus amigos, pode ser simplesmente alguém que for prestar algum serviço, um ilustre desconhecido! Da mesma maneira que te pediriam, por gentileza, um copo de água, aqui pedem chá.

A primeira vez que isso aconteceu, achei engraçado. Havia ido em casa um “contractor” (como um mestre de obras) fazer alguns reparos e em determinado momento perguntei se ele queria uma água. Ele me respondeu que não, mas que ele aceitaria um chá. Sabe quando você fica na dúvida se era um abuso ou se era normal? Tipo, alguém vai prestar um serviço na sua casa, você oferece uma água e a pessoa vira e responde: não, mas quero um refrigerante!

Como assim? E se eu não tiver refrigerante na geladeira? Pois é, talvez você não tenha refrigerante ou suco, mas com a mais absoluta certeza, se você mora na Inglaterra, é lógico que você tem chá!

Claro que não liguei, quem me conhece sabe que todo mundo que vem na minha casa é bem recebido e não me custou nada fazer um chazinho. Só fiquei sem saber se era algo comum ou se foi só aquela pessoa.

Acontece que esse fato se repetiu e acabei descobrindo que não era abuso de quem pedia, era normal. Eu é que deveria ter oferecido antes! Mas que mal educada…

_ So, would you fancy a cup of tea?

A festa da minha vida!

Estou falando das minhas bodas de prata. Não gosto de classificar ou comparar coisas, vivo dizendo que quem compara sempre perde, mas posso dizer que, até hoje, essa foi a festa mais incrível que fui responsável por organizar. E vou contar o porquê.

Primeiro de tudo e correndo o risco de ser piegas, porque foi por amor. Amor a uma pessoa com quem compartilho mais da metade da minha existência por opção; amor a uma família que entre defeitos e qualidades são e me levaram a ser quem sou hoje; amor aos amigos que me fazem sentir parte de algo maior e acreditar no ser humano; amor à minha vida imperfeita e ainda assim feliz no limite do possível. Por tudo isso e muito mais, eu queria celebrar!

E celebrei, celebramos juntos, porque juntos era a única maneira de fazer sentido.

Quando começamos a planejar a festa, com mais de um ano de antecedência, admito que me deixou um pouco ansiosa. Foi só porque não tínhamos outra alternativa, afinal, nosso orçamento era limitado, são milhões de detalhes, as pessoas precisavam se programar etc. Então, ou nos programávamos ou não ia rolar! Mas juro que depois mudou minha visão, entrei naquela máxima de aproveitar o caminho e não só o destino final. Assim que aproveitei por todo ano!

Lógico que quando foi chegando mais perto, a pressão aumentou e foi batendo um certo nervoso. Vamos combinar, quando você negocia com pessoas que nunca viu na vida, em outro país, sem ter provado nada, sem grandes referências, pagando tudo adiantado… dá um pouco de medo de receber gato por lebre. Os únicos contratados que a gente conhecia com antecedência foram os músicos, o resto todo, foi um salto no escuro.

Mas confiamos! E recebemos de volta toda a confiança depositada! O apoio no local da festa, Château de Mauriac, foi impecável! O responsável pelo castelo nos ajudou na organização do evento, na contratação do buffet, na indicação de locais para os convidados se hospedarem, na arrumação do salão… foi de um apoio fundamental! O pessoal do buffet, Le Colombier, não falhou em nada do que se propôs, foram simpáticos, se esforçaram com os mil idiomas presentes no evento, me deixaram absolutamente tranquila em relação à comida (e isso vindo de mim é um elogio e tanto!). Os vinhos, comprados com meses de antecedência no castelo vizinho, Château de Salettes, foram entregues pontualmente no dia combinado, ainda nos entregaram (sem nenhum papel assinado ou pagamento) duas caixas extras de bebida em consignação. Enfim, sou toda elogios! Recomendo todos de olhos fechados!

Os músicos, que já conhecíamos, realmente arrasaram na apresentação! Botaram o pessoal para dançar mesmo! Infelizmente, acabaram antes do combinado. O líder da banda, que me prometeu terminar a festa no esquema cachaça, banquinho e violão tocando até o amanhecer, se recolheu logo após o concerto. E nem deixou um violãozinho para a gente seguir por conta própria. E o DJ, que deveria ficar até às 6h da manhã, recolheu seu equipamento logo depois das 2h sob meus protestos e com o vocalista, com quem negociei, já desaparecido. Uma pena, mas não estava afim de me aborrecer em um dia tão especial. E, como a festa começou bem cedo, a maioria dos convidados nem ficou sabendo disso, melhor assim! Mas a diretoria do fim de noite ficou com o gostinho de quero mais e eu também. Chato, mas foi a única frustração de uma noite sensacional. Portanto, vamos falar das coisas boas!

Mas vamos por partes! Saímos de Londres na sexta-feira, dia 05 de abril, a festa foi no dia seguinte. Eu estava semi-histérica, com vontade de pular, porém mantendo a pose. Chegaríamos no final da tarde em Mauriac, ainda para arrumar o salão e adiantar as coisas para o dia seguinte. Fui eu mesma que levei a decoração da festa, vasinhos, velas, pequenos arranjos, luzes, coisas assim que coubessem em uma mala! E não, não tinha orçamento para arranjos de flores, decoradores ou qualquer tipo de mordomia.

Em Londres, no caminho para o aeroporto.
Começando a relaxar e com o bronzeado francês!

No aeroporto em Londres, começamos a encontrar convidados. No mesmo avião que a gente, havia mais dois casais da festa. Comecei a me animar! Quando pousamos em Toulouse, entre a saída do avião até o local de aluguel de carros, encontramos mais outra galera que ia para festa! Comecei a me sentir local!

Quando chegamos ao castelo, o salão estava arrumado direitinho como enviei desenhado em uma planta. Nos adiantou um bom trabalho! As toalhas estavam forradas, como havia pedido por email ao buffet e ainda fizemos uma rápida reunião para acertar os detalhes do dia seguinte. Tudo certinho, conforme combinado, o que me tranquilizou bastante. Montei com Luiz as decorações que havia trazido de Londres e conseguimos nos liberar para jantar com amigos!

Château de Mauriac

Nesse momento, ainda rolava um nervosinho, mas era gostoso. Sentia que a gente tinha feito tudo que podia e agora era começar a aproveitar!

Chegamos no restaurante, no castelo ao lado, o Château de Salettes, e basicamente todas as mesas eram de convidados da festa! Foi engraçado! É uma cidade muito pequena e de gente amável, assim que considerando a quantidade de pessoas que se movimentaram para o evento, viramos assunto da comunidade!

Tentando encurtar um pouco a história, compareceram às bodas 110 convidados dos quatro cantos do mundo! E eu me arrepio quando penso nisso. Sim, nós gostaríamos de ter condições de convidar mais gente… sim, havia muita gente querida que não pode comparecer… sim, havia gente que nem está mais entre nós que deveria estar ali… mas nesse momento, sinceramente, isso não importava. O casal de convidados que morava mais perto da festa estava há 3 horas de carro do local. O restante veio do Brasil, da Espanha, da Itália, da Inglaterra, dos EUA, da Dinamarca, da Austrália, da Holanda, da Alemanha, da Suécia… pense em um país e havia alguém de lá! Mauriac é um povoado no interior da França sem projeção internacional (pelo menos, não até esse momento). Quem compareceu se esforçou muito para estar presente. E todos que estavam presentes, amigos antigos e recentes, fizeram e fazem parte da nossa história. Saber que Luiz e eu conseguimos mover tanta gente tão querida para uma celebração foi de uma emoção que nem sei como descrever.

Festa é feita de convidados. Você pode ter tudo perfeito e se a combinação de pessoas não for legal, não acontece tão bem. Mas imagina o oposto, uma centena de pessoas, com um astral altíssimo, uma energia positiva paupável no ar, se reunindo, abertos a conhecer gente nova, se encontrando para celebrar um momento feliz! Eu só posso passar mais um ano agradecendo o privilégio de ter vivido essa experiência. A gente precisa ter feito alguma coisa certa na vida para ter essa honra, porque foi uma honra! E sou eternamente grata!

Uma coisa muito bacana é que conseguimos reunir alguns grupos que normalmente não se encontravam, mas de alguma maneira já haviam ouvido falar uns dos outros. Porque leram no blog, porque comentamos ou por algum outro motivo. E, de repente, as próprias pessoas foram se reconhecendo e se apresentando. Não rolou ninguém deslocado, não teve ninguém intimidado, não ficou ninguém sem carona. Tudo fluiu naturalmente.

Recebemos os convidados às 19h para um coquetel, depois subimos para o salão de festa. Luiz fez um discurso de abertura e agradecimento. Em seguida, nossa madrinha de casamento (sim, do casamento mesmo, há 25 anos!) também fez um discurso muito legal.

Abrimos o salão dançando New York, New York, fizemos o mesmo no nosso casamento.

Nós optamos por não fazer jantar sentado. Achamos que seria muito formal e as pessoas acabam interagindo apenas com quem está na sua mesa. Então, servimos umas mini-comidinhas, arroz de pato e pasta com molho de tomates e pesto. Depois deixamos à disposição um buffet de queijos e frios variados por toda à noite. Todos os produtos, vinhos, queijos, eram de produtores locais.

E, literalmente, nos acabamos de dançar! A banda estava muito show!


E claro que paguei meus micos! Todos muito bem acompanhada, diga-se de passagem!

De repente, ganhei uma grinalda, que estavam com medo que eu não fosse gostar. Imagina, achei divertidíssimo! Mas para merecê-la e porque não poderia faltar, uma amiga me o-bri-gou a tomar uma cachacinha! Glamour total!

Eu poderia morar nessa festa! Não queria que acabasse, por mais exausta que estivesse. Para mim, o tempo passou voando como os últimos anos, passou em 5 minutos! Queria uma festa cigana, dessas que duram dias! Acho que é da minha natureza sempre querer mais!

Eu não tive “dia da noiva”, fui eu mesma que fiz meu cabelo e minha maquiagem. Queria ter tido mais tempo. Queria ter perdido mais peso. Queria ter dormido melhor. Queria um sapato mais confortável. Mas sou o que sou e tenho o que posso. E vou confessar que à tarde, quando me arrumei para a festa e me olhei no espelho pronta, me senti o máximo! Confortável na minha pele, feliz da vida, radiante, poderosa! O bom de ter quase 50 anos é que não preciso mais de modéstia, quando acho que estou podendo, eu posso mesmo!

E agora vou esnobar, sabe o cara mais gato da festa, vestindo elegantemente seu smoking? Pois é… tô pegando… há mais de 25 anos!

“Set design”, meu novo “crush”

Há anos, desde que abandonei a carreira de consultoria de negócios, navego por diferentes atividades e descubro vocações. Brinco que cada vez me especializo mais em profissões que não dão dinheiro… mas me deixam feliz!

Já estou careca de superar a fase de autoafirmação financeira e tenho o privilégio de estar casada com alguém que entende que somos um time, independente de onde o dinheiro venha e de onde o trabalho saia. Aliás, trabalho nunca faltou para ninguém aqui em casa!

Mas vamos ao que interessa! No papel de artista plástica, um par de vezes ouvi a pergunta se eu não tinha interesse em trabalhar com cenografia. Realmente, faço algumas instalações que, mesmo em tamanhos menores, lembram bastante ambientes inteiros. Respondia a verdade, adoraria, mas que não tinha nenhuma referência nessa área, nem saberia como começar a trabalhar com isso!

Além do que, vejo como propostas bastante diferentes. Quando faço uma obra de arte, é sempre um trabalho autobiográfico. Em uma cenografia, ou como chamamos por essas bandas, um “set design”, você executa a visão e a intenção de outra pessoa. É uma forma de materializar ideias que não são necessariamente suas. E é fundamental entender e aceitar que um cenário nunca será o protagonista, se for, está errado. Ele é criado para que @ protagonista apareça em sua melhor forma.

Não tenho nenhum problema em assumir o protagonismo, se essa for a proposta. Eu gosto do palco, mas independente do que esteja fazendo, também adoro os bastidores! Para mim, o backstage é um caminho que aproveito tanto quanto o destino final. Acho que atrás das cortinas há um mundo extremamente interessante, me sinto parte de algo secreto e privilegiado. Gosto das preparações, de montar exposições para mim ou para estranhos. Amo entrar nos estoques dos museus! Curto poder estar em um camarim! Levo os ensaios musicais tão a sério quanto as apresentações, simplesmente há objetivos diferentes.

Dito isso, estou eu na minha vida de pau-para-toda-obra-e-sem-mi-mi-mi e fico muito amiga do meu vizinho. Por caso do acaso, ele tem duas revistas de moda masculina que adoro! Conversa para cá, conversa para lá… quer me ajudar? Claro que quero, por que não? Achei o máximo! Fui dando meus pitacos, me envolvendo naturalmente em pontos diferentes e que tinha alguma experiência formal ou informal.

Em uma dessas vezes, ele me pediu para fazer o set design para algumas fotos. Se tratava de uma instalação incluída em uma matéria de moda que questionava em paralelo o impacto ecológico do plástico. Aliás, é uma coisa que gosto muito nessa revista, não é uma moda oca e futil, há sempre um aspecto de questionamento político ou cultural como fio condutor.

Foi uma experiência super produtiva! Eu gostei de fazer e ele gostou do que eu fiz. Ainda que tenha surgido de maneira informal, eu sempre levo a sério tudo que faço, não importa se é por amizade, por trabalho, por necessidade… acho que quando você se propõe a fazer alguma coisa, o outro conta com isso, certo? Mas ainda não tinha me caído a ficha que era uma possibilidade concreta de atividade profissional. Eu registrei o que fiz, guardei as revistas com carinho, mas era mais por uma questão afetiva que profissional.

Acho que temos um pouco desse resquício de que se for divertido, não é exatamente trabalho. O que é louco, mas observo que é frequente. Luiz costuma dizer que se trabalhar fosse bom, não te pagariam para isso. E se te pagam muito, deve ser pior! Claro que é uma brincadeira, entretanto esse sentimento é real. Então, talvez porque me divertisse, não associei a trabalho no primeiro momento.

Até essa semana, quando fizemos o último ensaio fotográfico em um estúdio bem interessante. Logo que chegamos para montar o circo, meu amigo me falou: você podia começar a montar seu portfólio com esses trabalhos… Ficou na cabeça, mas estava mais preocupada em deixar tudo organizado para as fotos e só respondi que tenho registrado esses cenários, caso precise usar como referência. Inclusive, as próprias revistas são o melhor portfólio que posso apresentar.

O dia foi bem cheio e mal paramos para comer! Também, nem fome eu tive, estava bastante focada. Montei uns quatro ou cinco cenários, onde se podia acrescentar alguns elementos que levamos ou que havia no próprio local. Eram quatro modelos, ótimos! Uns meninos lindos, super profissionais, colaborativos, uma vibe boa! Marcas fortes, algo em torno de £10.000 em roupas e acessórios, olha a responsabilidade!

Abro um parênteses como me impressiona o fato dos modelos serem tão jovens e tão responsáveis. No caso, falo dos modelos masculinos, mas imagino que é o mesmo no universo feminino. Eles saem para morar sozinhos cedo, muitas vezes em outros países, com idiomas conhecidos ou não e se viram! Um ensaio fotográfico dá um trabalho danado! Verdade que não só para eles, é maquiadora, cabeleireira, estilista, fotógrafo, set designer (olha eu aí! U-huu!)… toda uma estrutura montada! Mas no geral, os outros profissionais envolvidos não são tão jovens como os modelos. Enfim, todo um trabalho bastante sério e elaborado, e eles seguem passando pelo estígma do rostinho bonito que não precisa se esforçar tanto. Dou aqui meu depoimento desde dentro: precisam sim e eles encaram! Palmas para eles! Fico feliz em trabalhar com uma revista e uma equipe que respeita e cuida da imagem desses garotos, porque nesse mercado tem de tudo. Bom, também é verdade que me sinto um pouco dinossaura, tipo aquela tia coroa preocupada se os sobrinhos estão comendo direito em casa… se lembraram de levar o casaco… Vamos voltar ao assunto, né? Fecha parênteses!

Onde quero chegar é que, ao acabarmos esse último ensaio, foi a primeira vez que me senti fazendo essa atividade profissionalmente. Não era uma amiga dando uma força, era para valer. Sempre foi, mas só aí realizei que era trabalho, tinha valor, fazia diferença e era bom pacas!

Acho que os próximos trabalhos vão surgir tão naturalmente como esses que o universo colocou no meu colo e aceitei. Entretanto, posso me preparar melhor, dar uma ajudinha para que o acaso se concretize. As oportunidades aparecem quando estamos abertos e estou.

Ganhei mais uma possibilidade em trabalhar com cenários fotográficos ou de vídeos e sou grata por isso. É uma delícia ver uma foto bacana publicada em uma revista show e saber que tem um dedinho meu ali, em uma composição com a cor, em um objeto que dá ao modelo algo para interagir ou qualquer detalhe que permita ampliar o olhar.

Se estou na linha de frente, sei a falta que me faz uma retaguarda confiável e tenho absoluta consciência de que não consigo ser tão boa sozinha. Essa empatia é fundamental quando a retaguarda sou eu. O sucesso de quem está na frente é meu sucesso também! Aquele prazer muito pessoal e íntimo, um resultado que não preciso contar para ninguém, porque o legal é deixar o outro melhor, é o que me fará maior.

E, principalmente, fico muito feliz em ainda ser capaz de descobrir e desenvolver novas habilidades. Ajuda a manter a cabeça ativa, as ideias jovens, é desafiador de uma maneira leve. Ainda tenho tempo e é muito bom ter paixões!