Tenho observado algumas opiniões pela internet em relação à economia um tanto estapafúrdias. Até aí, normal, desisti de mudar a opinião alheia há tempos! Mas me ocorreu que, em alguns casos, talvez na maioria, possa ser por puro desconhecimento e não má intenção.
Pessoalmente, acredito que desconhecimento hoje em dia vem em função de certa preguiça em buscar fontes de informações mais aprofundadas. É mais fácil ler um parágrafo com alguma frase de efeito em uma rede social qualquer e compartilhá-lo com empolgação.
E me dói um pouco a vista quando vejo comentários de gente teoricamente instruída manipulando informações por interesse político. Bom, quem sabe pode ser uma opinião diferente, que se for embasada, estarei encantada em ouvir! Quantas vezes já mudei de ideia!
Entretanto, me ocorreu que também pode ser por falta de fontes que expliquem alguns conceitos básicos sobre o tema de maneira menos complicada.
Então, vamos lá, vou tentar ajudar na parte em que me cabe. Não sou economista, nem analista de mercados, nem dona da verdade, nem nada demais! Simplesmente, quando não entendo alguma coisa, sento meu rabito, leio, pesquiso, estudo! Por acaso, me interessa o mercado financeiro e sou pequena investidora em bolsa de valores. Diferente do imaginário popular, você não precisa ser rica para investir.
Esse não é um post para te ensinar a aplicar em ações, infelizmente não vou dar dicas para ninguém ganhar dinheiro. Não porque não queira, mas porque não saberia e só assumo meus próprios riscos. Não vou te vender nenhum curso e, provavelmente, seja um post único. Minha intenção é explicar rapida e leigamente o que são ações e como funciona uma bolsa de valores.
A bolsa de valores é uma instituição que regulamenta e controla o mercado de ações. Imagina um enorme mercado, com vários quiosques de empresas, cada uma colocando à venda uma parte do seu próprio negócio. Para você ter um quiosque nesse mercado, você precisa seguir determinadas regras, como: apresentar quanto você fatura, quais são seus custos, quanto você tem em caixa, o que você tem de dívidas etc. Daí, você tem clientes interessados em comprar pequenas partes de alguns desses quiosques. Esses clientes irão pesquisar essas informações que foram dadas ao mercado para escolher qual quiosque interessa mais, qual tem o preço que pode pagar etc. Esse mercado, para viabilizar todas essas transações entre os quiosques e os clientes cobra um tipo de comissão pelas negociações. E o governo também cobra impostos sobre essas transações realizadas. Funciona mais ou menos assim, só que de maneira eletrônica.
Agora, vamos entender que essas empresas (representadas acima pelos quiosques) que participam da bolsa (o grande mercado) vendam suas ações. Ações são pequenas partes dessas empresas. Quando alguém (cliente) compra uma ação, ou seja, uma parte de qualquer empresa, essa pessoa se torna um tipo de sócia desse negócio.
Na prática, essas transações funcionam parecido à compra de um imóvel. Você precisa ter uma conta em uma corretora financeira, onde você deposita o dinheiro que quer investir e define o que você quer comprar. A decisão é sua, o dinheiro é seu, mas a operação técnica são eles que fazem, geralmente com algum tipo de comissão ou taxa de administração.
Sabe quando você compra um imóvel e faz uma escritura para oficializar? Então, se mais de uma pessoa for dona do imóvel, a escritura precisa ser feita em nome de todos os donos, correto? Pois imagine que a ação é como se fosse uma escritura que você tem daquela pequena parte da empresa que comprou. Só que, ao invés de ficar registrado em um cartório, fica registrado em uma corretora.
Sempre acho mais fácil entender as coisas com analogias de situações cotidianas, logo darei um exemplo de como conceitualmente funciona a emissão e compra de ações.
Vamos supor que tenha um açougue no seu bairro, que você frequenta há alguns anos, gosta da qualidade da carne, acha os atendentes bem preparados, boas condições de higiene e tal. Então, um dia, o dono desse açougue resolve que quer crescer, aumentar seus negócios. Ele percebeu que muitos dos seus clientes compram carne para fazer churrasco e quer também vender cerveja, gelo e carvão.
O dono do açougue sozinho não tem o dinheiro suficiente para fazer essa ampliação, por isso ele busca algumas alternativas. Poderia pedir um empréstimo no banco. Só que aí ele teria que pagar juros para o banqueiro… Então, ele tem outra ideia, resolve perguntar aos seus clientes mais leais se não querem comprar uma parte do açougue dele e se tornarem pequenos sócios.
Ele chega para alguns clientes que ele conhece melhor e os convence que o açougue dele vale 100 “dinheiros”. Ele vende 10 partes (ações) que custam 10 dinheiros cada uma e investe no negócio.
A questão é a seguinte, os clientes conhecem o açougue hoje e parece que vai tudo bem. Mas nem o dono do açougue, nem seus investidores, nem seus futuros clientes tem certeza que o negócio seguirá sendo bom nos próximos meses.
Porque, no mês seguinte, as vendas dele podem aumentar e o negócio crescer; o açougue passaria a valer 120 dinheiros! Ou seja, cada parte que valia antes 10 dinheiros, passou a valer 12! As ações subiram.
Mas ele pode ter se enganado, porque os clientes que frequentavam o açougue na verdade preferiam comprar a cerveja no supermercado e o gelo no posto de gasolina. E o pobre do açougueiro acabou tendo prejuízo! O negócio que valia 100 dinheiros, depois de empacar com o estoque adicional, passou a valer 80. Ou seja, aquele pequeno sócio que comprou uma parte por 10 dinheiros, passaria a ter somente 8. As ações cairam.
No mercado financeiro, funciona um pouco dessa mesma maneira. Os investidores que compram determinadas ações não tem certeza absoluta se elas vão subir ou cair. É, de certa forma, uma aposta que fazem no futuro daquela empresa. Entretanto, não é, ou não deveria ser uma aposta cega. Cabe ao empresário mostrar porque seu negócio tem valor e pode crescer, cabe à bolsa de valores verificar se o que esse empresário está dizendo corresponde à realidade atual e cabe ao investidor analisar a empresa que quer investir e que riscos quer correr no futuro.
Ah, mas é tudo tão fácil assim? Já estou pronta para investir na bolsa? Não, é mais complexo e não tem muito bobo nessa praia, nem duram muito tempo no mercado. Não tenho a pretensão de entrar no detalhe. Tem gente muito mais competente que eu para isso. Mas não é nada impossível ou inacessível aos reles mortais, como euzinha.
O ponto principal de todo esse texto é para dizer que atrás de cada ação, existe uma empresa de verdade! Não é um número abstrato. Não são pessoas trocando papéis ou simplesmente dinheiro trocando de mão.
Quando a bolsa “quebra” não quer apenas dizer que o investidor parrudo ou o especulador mercenário perdeu dinheiro. Isso pode acontecer sim, mas é o de menos! O que realmente importa é que, se a bolsa quebrar, significa que as pessoas acreditam que as empresas que fazem parte dela podem quebrar também! Aqueles quiosques dentro do mercado, lembra? É o açougue que valia 100 dinheiros e, de repente, só vale 30, e talvez tenha que fechar as portas.
Ah, mas essas empresas que fazem parte da bolsa são todas grandes! Não correm risco de quebrar! Caríssimos, uma empresa grande tem risco menor de falir que uma pequena, é verdade, mas segue tendo riscos e quando isso acontece o impacto também é maior, impostos não são pagos, pessoas ficam desempregadas, famílias ficam sem sustento! Porque sendo um açougue de bairro ou um grande frigorífico, emprega igualmente gente simples, pais e mães de família. Sobra para todo mundo!
Não tem solução fácil, infelizmente! Assim que, antes de atirar a primeira pedra, cuidado, seu telhado também é de vidro ou pode ser um espelho na sua frente.
Nesse momento de tanta incerteza, talvez o melhor investimento seja se informar.
Bianca sempre fico encantado com seu jeito de escrever, não importa o assunto, se pessoal, se político, econômico como agora, sempre a gente aprende alguma coisa e como vc disse no começo, ajuda a gente a mudar de opinião, coisa que acho realmente importante nos dias de hoje, pois quem de opinião não muda, mesmo estando equivocado, nunca aprende nada, ótimo texto como sempre.
Obrigada, Fernando! 🙂