Então, aquele tema chatinho e subjetivo que incomoda muita gente. Algo que penso com frequência, mas escrevo pouco. Hoje me deu vontade de falar no assunto.
Respondendo minha própria pergunta do título, adoraria dizer que não. Aquele não seguro e absoluto: não, não sou preconceituosa! Acontece que não é verdade, por mais vergonha que me faça sentir, e preciso chamar esse demônio pelo seu nome, eu sou preconceituosa sim, infelizmente. A resposta mais precisa e honesta seria: luto para não ser! Luto assim com força mesmo, porque acho muito feio e injusto.
O fato é que na hora da raiva, nas situações limite, eu não sei se saltará apenas meu melhor lado. Não sei! Eu tento não ser preconceituosa quase todo santo dia da minha vida. E, para meu alívio, cada dia é mais fácil vencer essa batalha, pois virou um hábito e me sai mais naturalmente com o passar do tempo. Acho que morar fora do meu país de origem me ajudou a ver outras realidades e entender outras culturas, me deixou mais sensível a questões às vezes sutis em relação aos preconceitos de modo geral. E mais do que isso, me fez eventualmente colocar o chapéu de quem está do lado fraco da corda.
Na minha opinião, acho que assumir que o problema existe é o primeiro passo para a mudança. No fundo, em condições normais de temperatura e pressão, todas as pessoas razoáveis concordam que o preconceito é uma coisa ruim. O problema é que a pessoa preconceituosa dificilmente sequer percebe que o é! Preconceituoso é sempre o outro e em relação a algo que não se concorde. E aí, a porca começa a torcer o rabo…
Primeiro de tudo, toda sociedade tem suas regras, portanto, seus conceitos. E sempre que existe um conceito… existe um pré-conceito! Então, no fundo no fundo, todos nós que temos alguma convivência social temos algo preconcebido. Dessa forma, imaginar que é possível existir um mundo sem preconceitos é, no mínimo, ingênuo!
Então, não há o que fazer? Estaria eu dizendo que o preconceito é algo inerente ao ser humano, portanto não é tão mau assim? Médio. Eu acho que sim, é inerente, mas pode ser bastante mau e cruel. É fundamental lembrar que os tempos mudam, as sociedades evoluem e, com isso, se mudam seus conceitos. Por consequência, também seus preconceitos!
E é onde quero chegar, é difícil (se não impossível) se acabar com um preconceito simplesmente criticando ou atacando a pessoa preconceituosa. Não porque essa pessoa não mereça ou porque até seja boazinha, mas porque é mais eficiente se atacar uma causa, não sua consequência. Seria nos nossos conceitos, na educação, na nossa maneira de ver o mundo que deveríamos trabalhar. Acho eu, pelo menos, é o que tento fazer.
Tentar não ser preconceituosa é um exercício! Adianto que não é fácil! Até para escolher o título dessa postagem, precisei pensar se escrevia no feminino ou masculino (preconceituoso ou preconceituosa). Estaria eu sendo machista em generalizar no masculino? Ou estaria eu sendo feminista, porque em generalizar poderia estar excluindo as mulheres da atitude preconceituosa? Um pouco de exagero? Pode ser, e é parte do que estou tentando colocar em perspectiva. Para quase tudo que pensamos ou expressamos poderia haver uma interpretação “preconceituosa”.
Vamos combinar, é insano ponderar absolutamente tudo que dizemos! E irreal imaginar que podemos sempre perceber as intenções de cada um. Mas podemos sim nos esforçar um pouco em questões básicas. E, principalmente, estarmos abertos quando alguém se manifesta ofendido. Nem digo concordar sempre, mas ouvir. Talvez nossa intenção não tenha sido essa, mas não custa, ao menos, que a gente se questione a respeito. Um pouco de empatia, um pouco de tolerância e canja de galinha não fazem mal a ninguém!
É, dá trabalho sim. Mas qual seria a alternativa? Ignorar e deixar que outras pessoas sigam sofrendo injustamente porque você acha chato ou está com preguiça? Se o preço de ser mais justo para todos é o incômodo de alguns, inclusive o meu, que seja!
Eu sou preconceituoso sim, e tento o máximo que posso rever meus conceitos e preconceitos, já mudei tanto, mais tanto, a ponto de que, quem me conhecia no Brasil antes de morar “fora” não me reconhecer mais (ou achar que ainda me conhece e se assustar com as atitudes). Mas o problema é bem maior e tenho muito, muito caminho a percorrer até me tornar um décimo do que acho aceitável, mas é aos poucos que a gente chega onde quer ou perto disso né.
Oi, Fernando! É o que acho também, o importante é não acomodar. Quando a gente acha que não tem problema, porque afinal, não era nossa intenção… aí é que a coisa pode desandar! Beijo