A festa da minha vida!

Estou falando das minhas bodas de prata. Não gosto de classificar ou comparar coisas, vivo dizendo que quem compara sempre perde, mas posso dizer que, até hoje, essa foi a festa mais incrível que fui responsável por organizar. E vou contar o porquê.

Primeiro de tudo e correndo o risco de ser piegas, porque foi por amor. Amor a uma pessoa com quem compartilho mais da metade da minha existência por opção; amor a uma família que entre defeitos e qualidades são e me levaram a ser quem sou hoje; amor aos amigos que me fazem sentir parte de algo maior e acreditar no ser humano; amor à minha vida imperfeita e ainda assim feliz no limite do possível. Por tudo isso e muito mais, eu queria celebrar!

E celebrei, celebramos juntos, porque juntos era a única maneira de fazer sentido.

Quando começamos a planejar a festa, com mais de um ano de antecedência, admito que me deixou um pouco ansiosa. Foi só porque não tínhamos outra alternativa, afinal, nosso orçamento era limitado, são milhões de detalhes, as pessoas precisavam se programar etc. Então, ou nos programávamos ou não ia rolar! Mas juro que depois mudou minha visão, entrei naquela máxima de aproveitar o caminho e não só o destino final. Assim que aproveitei por todo ano!

Lógico que quando foi chegando mais perto, a pressão aumentou e foi batendo um certo nervoso. Vamos combinar, quando você negocia com pessoas que nunca viu na vida, em outro país, sem ter provado nada, sem grandes referências, pagando tudo adiantado… dá um pouco de medo de receber gato por lebre. Os únicos contratados que a gente conhecia com antecedência foram os músicos, o resto todo, foi um salto no escuro.

Mas confiamos! E recebemos de volta toda a confiança depositada! O apoio no local da festa, Château de Mauriac, foi impecável! O responsável pelo castelo nos ajudou na organização do evento, na contratação do buffet, na indicação de locais para os convidados se hospedarem, na arrumação do salão… foi de um apoio fundamental! O pessoal do buffet, Le Colombier, não falhou em nada do que se propôs, foram simpáticos, se esforçaram com os mil idiomas presentes no evento, me deixaram absolutamente tranquila em relação à comida (e isso vindo de mim é um elogio e tanto!). Os vinhos, comprados com meses de antecedência no castelo vizinho, Château de Salettes, foram entregues pontualmente no dia combinado, ainda nos entregaram (sem nenhum papel assinado ou pagamento) duas caixas extras de bebida em consignação. Enfim, sou toda elogios! Recomendo todos de olhos fechados!

Os músicos, que já conhecíamos, realmente arrasaram na apresentação! Botaram o pessoal para dançar mesmo! Infelizmente, acabaram antes do combinado. O líder da banda, que me prometeu terminar a festa no esquema cachaça, banquinho e violão tocando até o amanhecer, se recolheu logo após o concerto. E nem deixou um violãozinho para a gente seguir por conta própria. E o DJ, que deveria ficar até às 6h da manhã, recolheu seu equipamento logo depois das 2h sob meus protestos e com o vocalista, com quem negociei, já desaparecido. Uma pena, mas não estava afim de me aborrecer em um dia tão especial. E, como a festa começou bem cedo, a maioria dos convidados nem ficou sabendo disso, melhor assim! Mas a diretoria do fim de noite ficou com o gostinho de quero mais e eu também. Chato, mas foi a única frustração de uma noite sensacional. Portanto, vamos falar das coisas boas!

Mas vamos por partes! Saímos de Londres na sexta-feira, dia 05 de abril, a festa foi no dia seguinte. Eu estava semi-histérica, com vontade de pular, porém mantendo a pose. Chegaríamos no final da tarde em Mauriac, ainda para arrumar o salão e adiantar as coisas para o dia seguinte. Fui eu mesma que levei a decoração da festa, vasinhos, velas, pequenos arranjos, luzes, coisas assim que coubessem em uma mala! E não, não tinha orçamento para arranjos de flores, decoradores ou qualquer tipo de mordomia.

Em Londres, no caminho para o aeroporto.
Começando a relaxar e com o bronzeado francês!

No aeroporto em Londres, começamos a encontrar convidados. No mesmo avião que a gente, havia mais dois casais da festa. Comecei a me animar! Quando pousamos em Toulouse, entre a saída do avião até o local de aluguel de carros, encontramos mais outra galera que ia para festa! Comecei a me sentir local!

Quando chegamos ao castelo, o salão estava arrumado direitinho como enviei desenhado em uma planta. Nos adiantou um bom trabalho! As toalhas estavam forradas, como havia pedido por email ao buffet e ainda fizemos uma rápida reunião para acertar os detalhes do dia seguinte. Tudo certinho, conforme combinado, o que me tranquilizou bastante. Montei com Luiz as decorações que havia trazido de Londres e conseguimos nos liberar para jantar com amigos!

Château de Mauriac

Nesse momento, ainda rolava um nervosinho, mas era gostoso. Sentia que a gente tinha feito tudo que podia e agora era começar a aproveitar!

Chegamos no restaurante, no castelo ao lado, o Château de Salettes, e basicamente todas as mesas eram de convidados da festa! Foi engraçado! É uma cidade muito pequena e de gente amável, assim que considerando a quantidade de pessoas que se movimentaram para o evento, viramos assunto da comunidade!

Tentando encurtar um pouco a história, compareceram às bodas 110 convidados dos quatro cantos do mundo! E eu me arrepio quando penso nisso. Sim, nós gostaríamos de ter condições de convidar mais gente… sim, havia muita gente querida que não pode comparecer… sim, havia gente que nem está mais entre nós que deveria estar ali… mas nesse momento, sinceramente, isso não importava. O casal de convidados que morava mais perto da festa estava há 3 horas de carro do local. O restante veio do Brasil, da Espanha, da Itália, da Inglaterra, dos EUA, da Dinamarca, da Austrália, da Holanda, da Alemanha, da Suécia… pense em um país e havia alguém de lá! Mauriac é um povoado no interior da França sem projeção internacional (pelo menos, não até esse momento). Quem compareceu se esforçou muito para estar presente. E todos que estavam presentes, amigos antigos e recentes, fizeram e fazem parte da nossa história. Saber que Luiz e eu conseguimos mover tanta gente tão querida para uma celebração foi de uma emoção que nem sei como descrever.

Festa é feita de convidados. Você pode ter tudo perfeito e se a combinação de pessoas não for legal, não acontece tão bem. Mas imagina o oposto, uma centena de pessoas, com um astral altíssimo, uma energia positiva paupável no ar, se reunindo, abertos a conhecer gente nova, se encontrando para celebrar um momento feliz! Eu só posso passar mais um ano agradecendo o privilégio de ter vivido essa experiência. A gente precisa ter feito alguma coisa certa na vida para ter essa honra, porque foi uma honra! E sou eternamente grata!

Uma coisa muito bacana é que conseguimos reunir alguns grupos que normalmente não se encontravam, mas de alguma maneira já haviam ouvido falar uns dos outros. Porque leram no blog, porque comentamos ou por algum outro motivo. E, de repente, as próprias pessoas foram se reconhecendo e se apresentando. Não rolou ninguém deslocado, não teve ninguém intimidado, não ficou ninguém sem carona. Tudo fluiu naturalmente.

Recebemos os convidados às 19h para um coquetel, depois subimos para o salão de festa. Luiz fez um discurso de abertura e agradecimento. Em seguida, nossa madrinha de casamento (sim, do casamento mesmo, há 25 anos!) também fez um discurso muito legal.

Abrimos o salão dançando New York, New York, fizemos o mesmo no nosso casamento.

Nós optamos por não fazer jantar sentado. Achamos que seria muito formal e as pessoas acabam interagindo apenas com quem está na sua mesa. Então, servimos umas mini-comidinhas, arroz de pato e pasta com molho de tomates e pesto. Depois deixamos à disposição um buffet de queijos e frios variados por toda à noite. Todos os produtos, vinhos, queijos, eram de produtores locais.

E, literalmente, nos acabamos de dançar! A banda estava muito show!


E claro que paguei meus micos! Todos muito bem acompanhada, diga-se de passagem!

De repente, ganhei uma grinalda, que estavam com medo que eu não fosse gostar. Imagina, achei divertidíssimo! Mas para merecê-la e porque não poderia faltar, uma amiga me o-bri-gou a tomar uma cachacinha! Glamour total!

Eu poderia morar nessa festa! Não queria que acabasse, por mais exausta que estivesse. Para mim, o tempo passou voando como os últimos anos, passou em 5 minutos! Queria uma festa cigana, dessas que duram dias! Acho que é da minha natureza sempre querer mais!

Eu não tive “dia da noiva”, fui eu mesma que fiz meu cabelo e minha maquiagem. Queria ter tido mais tempo. Queria ter perdido mais peso. Queria ter dormido melhor. Queria um sapato mais confortável. Mas sou o que sou e tenho o que posso. E vou confessar que à tarde, quando me arrumei para a festa e me olhei no espelho pronta, me senti o máximo! Confortável na minha pele, feliz da vida, radiante, poderosa! O bom de ter quase 50 anos é que não preciso mais de modéstia, quando acho que estou podendo, eu posso mesmo!

E agora vou esnobar, sabe o cara mais gato da festa, vestindo elegantemente seu smoking? Pois é… tô pegando… há mais de 25 anos!

Bodas de Prata

Lembro quando celebrar bodas de prata era coisa dos nossos avós! Algo tão distante que sequer pensava na possibilidade de um dia ser comigo.

Na verdade, já adulta, não queria me casar. Cheguei a ficar noiva uma vez, enquanto era só um conceito, uma demonstração de compromisso, mas na hora mesmo da decisão, amarelei! Casamento não era para mim!

Claro que não! Nunca! Nem adianta, não era para mim!

Até que Luiz entrou no meu caminho, definitivo! Nos conhecemos no trabalho. Naquele ambiente que eu também dizia que jamais iria namorar ninguém, imagina! Tanta gente no mundo, vou arrumar confusão no trabalho? Na empresa onde trabalhávamos, inclusive era proibido.

Daí comecei a notar que toda hora ele arrumava alguma coisa para fazer perto da minha mesa. Tudo bem, passou ligeiramente em meus pensamentos que ele podia estar me dando mole, mas eu era meio ruim para perceber essas situações, principalmente, se não estivesse prestando atenção e eu não estava. E depois, realmente, ele tinha coisas para fazer na minha áerea. Devia ser minhoca da minha cabeça e eu estava ocupada, deixa para lá! Melhor nem dar ideia, já falei que era completamente contra a namoro em local de trabalho?

Então, não demorou muito, um dia ele me chamou para sair e eu, sendo bastante coerente com tudo que acabei de dizer sobre relacionamentos no trabalho… aceitei, claro! Mas eu não ia ficar com ele, lógico que não, só ia conversar…

… e ele deve ser muito bom de papo mesmo, porque estamos conversando há 26 anos, 25 deles, casados!

Tenho 49 anos, casei aos 24, e isso quer dizer que mais da metade da minha vida estivemos juntos! É difícil ter alguma memória de acontecimentos marcantes onde ele não estivesse presente. Nós viramos sobrenomes, na agenda dos nossos amigos sou a Bianca do Luiz e ele o Luiz da Bianca.

Casamos em 18 de março de 1.994, no século passado! Caracas! Faz um século e faz meia hora!

E como passou? Passou voando! Só consigo notar o efeito do tempo quando vejos as fotos do dia do meu casamento. Como éramos jovens e como acreditávamos que éramos invencíveis! Talvez por nisso acreditar, nos tornamos. E talvez por não tomar isso por garantido, renovamos nosso acordo diariamente. Há 25 anos dizemos eu te amo um ao outro absolutamente todos os dias. Mas esse é um assunto nosso!

O dia do meu casamento foi, se não o mais feliz, um dos dias mais felizes da minha vida! E tenho certeza que parte disso foi o fato de poder compartilhar o momento. Foi o primeiro ritual de passagem que entendi a importância. Pois muito bem, eu que a-do-ro uma celebração e agora entendo muito melhor essa importância, cismei que nas tais das bodas de prata a gente ia botar para quebrar! Queria porque queria dar uma super festa!

Mas tínhamos um problema, nós nunca sabemos onde vamos morar com uma antecedência maior do que três meses. Quem conhece a gente ou acompanha o blog, sabe que isso não é um exagero. Portanto, onde raios fazer a festa?

Acontece que aqui pelas bandas européias não é uma coisa muito rara você resolver se casar em outro país. E as pessoas vão porque é razoavelmente acessível. Nós chegamos a ir a dois casamentos assim, um na Grécia e outro na Espanha.

Verdade que no nosso caso não é um casamento, mas é uma comemoração similar. Talvez, até mais forte em alguns sentidos, porque é legal dar a esperança que essas relações existem, são reais, que é possível!

Quer saber, Luiz, e se a gente ao invés de se preocupar onde estará morando, resolvesse fazer uma festa onde a gente realmente quisesse?

Encurtando uma longa história, acabamos por encontrar um castelo na França muito charmoso, ao mesmo tempo, despojado e com uma história bacana. Foi comprado em ruínas por um pintor que, com sua família, passou a vida o restaurando. Não era um nobre, nem de família abastada, era uma pessoa comum com um propósito extraordinário. Quem quiser conhecer melhor a respeito, o local é o Château de Mauriac.

Château de Mauriac

Cerimônias em castelos não são algo tão raro por aqui. Entretanto, para mim, era algo que parecia inatingível, coisa de contos de fadas! E, de repente, a gente podia viver essa experiência, era só se esforçar um pouco e acreditar. Quem sabe, não éramos mesmo invencíveis?

Conseguimos reservar com antecedência de um ano, possibilitando aos nossos amigos que se planejassem para estar presentes. Além de podermos nos preparar melhor.

Pois é, lindo, maravilhoso, um sonho! Só que eu nunca, jamais, em tempo algum, planejei nada com tanta antecedência assim! Nem meu próprio casamento, que a propósito, quem fez tudo foi minha mãe! Luiz e eu só aparecemos para casar, literalmente!

A festa acontecerá em abril, com a temperatura mais amena que agora. Eu já estou agoniada de imaginar e está muito pertinho! Não é mais uma ideia maluca distante, é uma questão de semanas!

Virá gente do mundo inteiro! Brasil, Espanha, Alemanha, Holanda, Inglaterra, Austrália, França, Canadá, Estados Unidos, Suiça, Itália, Portugal… Olha a responsabilidade!

E o pior, estou acostumada a organizar eventos na minha casa, na minha cidade, ou seja, onde posso controlar os detalhes (admito, posso ser meio control freak). Mas, nesse caso, contratamos os serviços e basicamente acreditamos que vai dar certo! Tipo, uma questão de fé! Nós chegaremos literalmente na véspera da festa!

E só de escrever isso, meu estômago se contorceu! Ai, que nervoso! Mas enfim, é um nervoso gostoso, quero que chegue logo.

Sim, falta muita gente que gostaríamos que estivesse, alguns não conseguirão comparecer, alguns não tínhamos mais espaço para convidar, alguns nem mais entre nós estão… ainda assim, me emociona saber que conseguiremos encontrar tanta gente querida ao mesmo tempo, num só ambiente quase mágico. Quantas histórias entrelaçadas e como é bom lembrar de todas elas!

Não há como garantir que a vida seja uma história com final feliz, até porque felicidade não é um estado definitivo, é uma escolha, um “sim” que acreditamos. E dá trabalho! Problemas vieram e outros virão. Mas como é bom ter um dia de contos de fadas, onde todos que participam desse momento sejam envolvidos por uma energia boa, de amizade, de amor, de família e, mesmo que dure apenas uma noite, possa terminar com aquela sensação de, e foram felizes para sempre…