“Set design”, meu novo “crush”

Há anos, desde que abandonei a carreira de consultoria de negócios, navego por diferentes atividades e descubro vocações. Brinco que cada vez me especializo mais em profissões que não dão dinheiro… mas me deixam feliz!

Já estou careca de superar a fase de autoafirmação financeira e tenho o privilégio de estar casada com alguém que entende que somos um time, independente de onde o dinheiro venha e de onde o trabalho saia. Aliás, trabalho nunca faltou para ninguém aqui em casa!

Mas vamos ao que interessa! No papel de artista plástica, um par de vezes ouvi a pergunta se eu não tinha interesse em trabalhar com cenografia. Realmente, faço algumas instalações que, mesmo em tamanhos menores, lembram bastante ambientes inteiros. Respondia a verdade, adoraria, mas que não tinha nenhuma referência nessa área, nem saberia como começar a trabalhar com isso!

Além do que, vejo como propostas bastante diferentes. Quando faço uma obra de arte, é sempre um trabalho autobiográfico. Em uma cenografia, ou como chamamos por essas bandas, um “set design”, você executa a visão e a intenção de outra pessoa. É uma forma de materializar ideias que não são necessariamente suas. E é fundamental entender e aceitar que um cenário nunca será o protagonista, se for, está errado. Ele é criado para que @ protagonista apareça em sua melhor forma.

Não tenho nenhum problema em assumir o protagonismo, se essa for a proposta. Eu gosto do palco, mas independente do que esteja fazendo, também adoro os bastidores! Para mim, o backstage é um caminho que aproveito tanto quanto o destino final. Acho que atrás das cortinas há um mundo extremamente interessante, me sinto parte de algo secreto e privilegiado. Gosto das preparações, de montar exposições para mim ou para estranhos. Amo entrar nos estoques dos museus! Curto poder estar em um camarim! Levo os ensaios musicais tão a sério quanto as apresentações, simplesmente há objetivos diferentes.

Dito isso, estou eu na minha vida de pau-para-toda-obra-e-sem-mi-mi-mi e fico muito amiga do meu vizinho. Por caso do acaso, ele tem duas revistas de moda masculina que adoro! Conversa para cá, conversa para lá… quer me ajudar? Claro que quero, por que não? Achei o máximo! Fui dando meus pitacos, me envolvendo naturalmente em pontos diferentes e que tinha alguma experiência formal ou informal.

Em uma dessas vezes, ele me pediu para fazer o set design para algumas fotos. Se tratava de uma instalação incluída em uma matéria de moda que questionava em paralelo o impacto ecológico do plástico. Aliás, é uma coisa que gosto muito nessa revista, não é uma moda oca e futil, há sempre um aspecto de questionamento político ou cultural como fio condutor.

Foi uma experiência super produtiva! Eu gostei de fazer e ele gostou do que eu fiz. Ainda que tenha surgido de maneira informal, eu sempre levo a sério tudo que faço, não importa se é por amizade, por trabalho, por necessidade… acho que quando você se propõe a fazer alguma coisa, o outro conta com isso, certo? Mas ainda não tinha me caído a ficha que era uma possibilidade concreta de atividade profissional. Eu registrei o que fiz, guardei as revistas com carinho, mas era mais por uma questão afetiva que profissional.

Acho que temos um pouco desse resquício de que se for divertido, não é exatamente trabalho. O que é louco, mas observo que é frequente. Luiz costuma dizer que se trabalhar fosse bom, não te pagariam para isso. E se te pagam muito, deve ser pior! Claro que é uma brincadeira, entretanto esse sentimento é real. Então, talvez porque me divertisse, não associei a trabalho no primeiro momento.

Até essa semana, quando fizemos o último ensaio fotográfico em um estúdio bem interessante. Logo que chegamos para montar o circo, meu amigo me falou: você podia começar a montar seu portfólio com esses trabalhos… Ficou na cabeça, mas estava mais preocupada em deixar tudo organizado para as fotos e só respondi que tenho registrado esses cenários, caso precise usar como referência. Inclusive, as próprias revistas são o melhor portfólio que posso apresentar.

O dia foi bem cheio e mal paramos para comer! Também, nem fome eu tive, estava bastante focada. Montei uns quatro ou cinco cenários, onde se podia acrescentar alguns elementos que levamos ou que havia no próprio local. Eram quatro modelos, ótimos! Uns meninos lindos, super profissionais, colaborativos, uma vibe boa! Marcas fortes, algo em torno de £10.000 em roupas e acessórios, olha a responsabilidade!

Abro um parênteses como me impressiona o fato dos modelos serem tão jovens e tão responsáveis. No caso, falo dos modelos masculinos, mas imagino que é o mesmo no universo feminino. Eles saem para morar sozinhos cedo, muitas vezes em outros países, com idiomas conhecidos ou não e se viram! Um ensaio fotográfico dá um trabalho danado! Verdade que não só para eles, é maquiadora, cabeleireira, estilista, fotógrafo, set designer (olha eu aí! U-huu!)… toda uma estrutura montada! Mas no geral, os outros profissionais envolvidos não são tão jovens como os modelos. Enfim, todo um trabalho bastante sério e elaborado, e eles seguem passando pelo estígma do rostinho bonito que não precisa se esforçar tanto. Dou aqui meu depoimento desde dentro: precisam sim e eles encaram! Palmas para eles! Fico feliz em trabalhar com uma revista e uma equipe que respeita e cuida da imagem desses garotos, porque nesse mercado tem de tudo. Bom, também é verdade que me sinto um pouco dinossaura, tipo aquela tia coroa preocupada se os sobrinhos estão comendo direito em casa… se lembraram de levar o casaco… Vamos voltar ao assunto, né? Fecha parênteses!

Onde quero chegar é que, ao acabarmos esse último ensaio, foi a primeira vez que me senti fazendo essa atividade profissionalmente. Não era uma amiga dando uma força, era para valer. Sempre foi, mas só aí realizei que era trabalho, tinha valor, fazia diferença e era bom pacas!

Acho que os próximos trabalhos vão surgir tão naturalmente como esses que o universo colocou no meu colo e aceitei. Entretanto, posso me preparar melhor, dar uma ajudinha para que o acaso se concretize. As oportunidades aparecem quando estamos abertos e estou.

Ganhei mais uma possibilidade em trabalhar com cenários fotográficos ou de vídeos e sou grata por isso. É uma delícia ver uma foto bacana publicada em uma revista show e saber que tem um dedinho meu ali, em uma composição com a cor, em um objeto que dá ao modelo algo para interagir ou qualquer detalhe que permita ampliar o olhar.

Se estou na linha de frente, sei a falta que me faz uma retaguarda confiável e tenho absoluta consciência de que não consigo ser tão boa sozinha. Essa empatia é fundamental quando a retaguarda sou eu. O sucesso de quem está na frente é meu sucesso também! Aquele prazer muito pessoal e íntimo, um resultado que não preciso contar para ninguém, porque o legal é deixar o outro melhor, é o que me fará maior.

E, principalmente, fico muito feliz em ainda ser capaz de descobrir e desenvolver novas habilidades. Ajuda a manter a cabeça ativa, as ideias jovens, é desafiador de uma maneira leve. Ainda tenho tempo e é muito bom ter paixões!

8 comentários em ““Set design”, meu novo “crush””

  1. Você é nota 1000! Orgulho de fazer parte de sua vida! Agradeço seu carinho e amizade! Te admiro! Parabéns!

  2. Parabéns Bianca! Me identifico muito com vc nesta questão de estar sempre descobrindo novas habilidades. Realmente acredito que possuímos um potencial enorme e é muito bom poder explorar nossas habilidades e fazer descobertas. Um bj e sucesso!

  3. Oi, Claudia! É o jeito, né? Quem não se adapta a paisagem vira presa fácil… rsrsrsrs… Mas bem que eu gosto 😉 Beijão

  4. Obrigada, Leila! Assim fico até sem graça 🙂 Recíproca verdadeira e seja sempre bem-vinda! Beijo

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