Blind copy, essa função tão esquecida…

Pois é, quando a gente quer enviar um e-mail, na hora de eleger os destinatários da mensagem, existe a opção de teclar em “Bcc”, o que chamamos de blind (carbon) copy ou, em português, cópia oculta.

É uma maneira de você preservar o nome e o endereço de e-mail de seus amigos que não precisam ter suas informações expostas para quem não conhece. Simples, não? Todo mundo já não sabe disso?

Acontece que a essa altura do campeonato ainda tem gente que envia mensagens para grupos enormes e de pessoas que não se conhecem entre si, com os endereços todos à mostra. Costumam ser aqueles power points deliciosos com correntes ou mensagens de anjinhos com letras que caem vagarosamente na tela até te matarem de tédio!

Muito bem, mas vamos aos fatos, porque exemplos reais são muito mais interessantes. Hoje recebi uma dessas mensagens com um montão de desconhecidos copiados em aberto, até aí, normal. Acontece que na sequência veio uma resposta, também para todo mundo copiado em aberto. A mensagem inicial era uma dessas pedindo ajuda por causa das chuvas, algo aparentemente bastante ingênuo, e a resposta foi literalmente essa abaixo:

“Não vejo por que vc passar email pra mim e pro amante da Katia – ivan … provocação?
 
Vai cuidar da sua familia e esquece a minha , ja chega a destruição q vc provocou na minha familia. 
 
Mas vc não me esquece né ?
 
Uma coisa pra vc se ocupar: Como se joga futebol sem sujar as meias ? Isso sim é problema seu.
 
Ps. Para de falar de mim pro Thiago. Me esquece.”

Ops! Que barraco!

Veja bem, pensei em poupar o nome das pessoas envolvidas, mas se ninguém poupou meu endereço de e-mail, acho que não tenho motivos, não é mesmo? Até porque, feliz ou infelizmente, não conheço ninguém envolvido no barraco! Mas busquei nos destinatários e havia “Katia”, “Ivan” e “Thiago”, que suponho serem os citados na mensagem.

Se a pessoa que enviou a primeira mensagem tinha realmente a intenção de provocar, não sei. Meu palpite é que simplesmente nem notou que estava copiando inimigos, digamos assim. Porque até hoje as pessoas não param para pensar que quem recebe um e-mail se dá ao trabalho de ler quem são os outros destinatários. E olha a confusão armada!

Tudo isso seria evitado se lá atrás alguém tivesse se lembrado de colocar o raio da cópia oculta! E veja bem, isso em uma mensagem pessoal, imagina se fosse em uma empresa? Conheço casos verídicos de gente que foi demitida!

Por outro lado, meu dia teria sido bem menos intrigante. Porque agora, como é que vou sobreviver sem saber o que a Katia fez com o Ivan? Como se joga futebol sem sujar as meias?  E quem diabos é Thiago?

Istanbul (ou Estambul) em três dias

Em teoria seriam cinco dias, mas chegamos no dia primeiro de janeiro de 2011, pelas dez da noite, e ainda por cima nos curando de uma ressaca daquelas pela festa de reveillon. Fomos embora no dia 5 pela manhã. Ou seja, na prática, para conhecer a cidade mesmo, foram três dias inteirinhos. E sim, deu para fazer bastante coisa. Os turcos escrevem Istanbul, os espanhóis Estambul, não sei como se traduziu em português, então preferi a versão turca.

Ficamos hospedados no hotel Ceylan Intercontinental, localizado na praça Taksim. Quem reservou tudo foi meu irmão, fui de convidada e me dei muito bem. Logo no check in, o recepcionista nos deu um upgrade e ficamos em uma suíte enorme, com vista para o estreito de Bósforo.

Achei o máximo esse negócio de ficar na Europa com vista para a Ásia! Já havia ficado em locais com vista para o mar, para montanha, etc. Mas foi a primeira vez que fiquei com vista para outro continente.

 

Muito bem, como disse, chegamos um pouco tarde na cidade e ainda tinha álcool circulando pelo meu cérebro da noite anterior. Portanto, preferi tentar dormir logo e me preparar para o dia seguinte. Uma amiga nos acompanhou nessa viagem e ficou em um hotel bem próximo ao nosso. Ela e meu irmão ainda tiveram energia para ir ao bar do hotel um pouco mais. Devia estar bom, porque tinha música ao vivo e uma vista panorâmica da cidade. Enfim, não me arrependi da minha escolha, o dia seguinte agradeceu.

Amanheceu com sol, o único dia que não tivemos chuva na viagem. Como sabíamos dessa previsão, aproveitamos para logo fazer um tour de barco por Bósforo. Uma boa parte dos barcos parte de Eminonu, logo após a ponte, na entrada da parte antiga da cidade.

 

Achei que valeu o passeio, não é que mostre nada demais, mas é poético você ter a sensação de estar navegando entre dois continentes. Enfim, essa dialética de mundos diferentes tão próximos povoou minha cabeça por toda a viagem.

 

Passei muito pouco tempo na cidade para ter conclusões definitivas, mas me passou a impressão de mescla, de mistura e tolerância entre culturas orientais e ocidentais. Um pouco diferente de Dubai, por exemplo, onde sim, existe a tolerância e você vê diferentes culturas no mesmo espaço, entretanto, elas não se misturam, só estão no mesmo espaço. Em Istanbul, tive a impressão que sim, se misturavam, não se perdiam, mas conviviam e partilhavam.

Do que tive acesso, achei a cidade bonita, limpa e segura, inclusive para uma mulher sozinha. Agora, sempre bom manter o respeito, ninguém precisa abusar para ver o que acontece. Quanto ao idioma, falando-se em inglês, pelo menos nos locais mais turísticos, é possível conseguir quase tudo. E para quem quiser aprender um pouquinho: obrigada = tesekkür (techêcur); por favor = lütfen; ok = tamam; e sim = evet.

O transporte público é bom e simples. Há um metrô de superfície que te leva a maioria dos pontos importantes e custa o equivalente a uns 30 centavos de euro. Taxi, fora da parte antiga da cidade é tranquilo e não é tão caro. Dentro da cidade antiga, não querem cobrar no taxímetro e vai custar os olhos da cara!

Mas seguindo nossa viagem, o primeiro lugar que visitamos foi o Palácio Topkapi. O lugar é enorme e até vale a visita, mas melhor ficar atento, porque há mais de um portão para as suas atrações, digamos assim, e em cada um você paga uma entrada separada. Achei meio confuso. Logo no início, você acha que está comprando a entrada para o palácio, mas depois descobre que é para o museo arqueológico. Enfim, se estiver atento a esses detalhes, não acredito que haja nenhum problema.

 

Próximo ao palácio, há duas mesquitas que valem a viagem, a Sultanahmet Mosque (Mesquita Azul) e Hagia Sophia (Haya Sofia). Ambas tem arquitetura impressionantes e tem belezas diferentes de acordo com a iluminação do dia.

A Mesquita Azul é usada para orações até hoje. Portanto, há horários de visita, para turistas, e horários para as orações e são rígidos. Acho que a última entrada para visitantes é por volta das 16h30. Além desses horários, só quem realmente vai rezar pode entrar. E pode acreditar, eles sabem muito bem quem é curioso e barram a entrada mesmo, sem um pingo de tato ou simpatia. Em teoria, turistas ou fieis, as mulheres devem entrar de véu na cabeça (pode ser uma echarpe ou um pano, simplesmente ter a cabeça coberta em sinal de respeito). Entretanto, nos horários de visita, às vezes eles fazem vista grossa com as turistas. De qualquer maneira, nos arredores tem comércio e você pode comprar um lenço por uns 5 euros. Todos devem tirar os sapatos e oferecem bolsas de plástico na entrada para eles.

 

A Haya Sofia é mais liberal. Pelo que entendi, já não é mais utilizada para orações. Por isso, seu horário de visitação também é bem mais flexível. Excepto quando fecha um dia na semana, se não me engano, nas segundas-feiras. Vale a visita, achei até mais interessante que a Mesquita Azul.

 

Pausa para compras?

Há dois bazares interessantíssimos, o Grand Bazaar e o Spice Bazaar.

O Spice Bazaar, como indica o nome, é especializado em temperos. Para mim, que sou uma glutona, é imperdível. Mas mesmo para quem não é tão ligado em cozinha, vale pelos aromas e cores. Ali, como em qualquer outro lugar em Istanbul, você tem que barganhar o preço das mercadorias ou se sentirá um idiota em seguida.

 

O Grand Bazaar é uma cidade! O tamanho é realmente impressionante! Jóias, luminárias, roupas, bolsas, marcas falsificadas (perfeitas!), comidas… tem de tudo! É de se perder lá dentro! Felizmente, adquiri em Marrocos a capacidade de passar por essas lojas com o olhar no horizonte, só na visão periférica, então é tranquilo. Mas se parar, perguntar ou olhar diretamente, vão te encher o saco até você comprar. Você pode negociar bem ou mal, mas jamais negociará melhor que um turco, então, relaxe!

 

Comemos bem na cidade, não tivemos problemas. Até no próprio Bazar almoçamos sem nenhuma consequência malévola, pelo contrário, o tempero excelente e a comida bem honesta.

 

O meu lugar favorito da viagem foi a cisterna de Yerebatan. Impressionante! Construída no ano de 532, é a maior das 60 cisternas construídas em Istanbul na época Bizantina. Era o local onde se depositava a água trazida do aqueduto de Valente. Foi utilizada até o século XIV e restaurada a meados do século XIX, já que durante muito tempo, na época otomana, não foi utilizada. Para sua construção, se usaram diferentes tipos de colunas romanas de épocas diferentes. São 336 colunas repartidas em 12 fileiras e situadas a 4 metros umas das outras. Falamos de uma área de 10.000 m2 e 8 m de altura, abaixo do solo. Em 1987, após restaurações realizadas, foi aberta ao turismo. Duas das colunas chamam mais atenção, pois reposam sobre cabeças de Medusa. Não sei exatamente porque, mas a sensação de estar nela é muito boa e de paz, poderia ficar ali embaixo o dia inteiro.

 

A grande maioria dos locais a serem visitados está nessa parte antiga da cidade, mas também bateu uma certa curiosidade de pelo menos colocar no pézinho na Ásia, né?

Pegamos um barco, atravessamos Bósforo e chegamos na estação de Üsküdar. Realmente, parece mais residencial, não há muito o que visitar. Talvez se o tempo estivesse melhor, tivéssemos passeado um pouco a pé. Mas com chuva tudo se complica. Pegamos um taxi e fomos até o Palácio Beylerbei. É legal, mas valeu mais o passeio por dizer que fomos a Ásia do que qualquer outra coisa.

 

Quanto à vida noturna, o que vi de mais animado foi pela praça de Taksim, mais especificamente, na avenida Istiklal. É cheio de bares e restaurantes, alguns deles com música ao vivo e um ambiente bastante animado. Vi de fora algumas discotecas também, mas não cheguei a entrar.

 

Um show de “música e dança”, por falta de melhor descrição, que não se deve perder é dos Sufis. Fica no Press Museum (Basin Müzesi) info@istanbuliveproduction.com, custa $35 libras turcas e dura cerca de uma hora. A música tradicional Sufi contém algumas das mais importantes composições da música clássica turca, desenvolvidas através dos séculos com as cerimônias Mevlevi. Nesse concerto, eles realizam a cerimônia Sema, como uma maneira de alcançar êxtase religioso. Para facilitar, visualmente falando, são aqueles homens vestidos de branco, com saias longas e um chapéu comprido, que giram com a mão direita direcionadas para o céu (para receber as bençãos divinas) e a mão esquerda para terra. Giram da direita para esquerda, ao redor de seus próprios corações. Enfim, é um espetáculo simples, mas místico e tocante.

 

Para finalizar o passeio, ou em qualquer momento que preferir, outra dica imperdível é o Hamman, ou banho turco. Há alguns espalhados por Istanbul, o mais conhecido é o Çemberlitas. Fica na cidade antiga e há uma estação do metrô de superfície justo em frente.

É simplesmente o máximo! Principalmente se você já está cansada de caminhar e afim de dar uma relaxada. Homens e mulheres são separados, afinal é no esquema peladão mesmo, melhor não guardar muitos pudores. O ambiente é bom e familiar, não rola constrangimentos, pelo menos do lado das mulheres que foi o que conheci. Você vai para o Hamman, uma espécie de sauna, mas em um salão enorme com o teto em abóbada e um tipo de mesão imenso em mármore branco onde a mulherada deita. Depois chegam umas senhoras que dão banho (literalmente) na gente. Na verdade, fazem um tipo de esfoliação com muita espuma e muita água e lavam nossos cabelos. Francamente, você se sente uma princesa! Dali a gente fica relaxando em uma piscina de água quente ou nesse salão e depois vai para uma massagem. Quer dizer, você pode fazer só o banho, mas comprei pacote completo. Depois você pode ficar tomando um cházinho, relaxando e batendo papo até a hora de ir embora. A estrutura é muito boa, você recebe as toalhas limpinhas, tem secador de cabelos para depois, enfim, recomendadíssimo! Saí de lá pisando em nuvens, outra pessoa.

Infelizmente, nosso tempo acabou e ainda fiquei com gosto de quero mais. Definitivamente, é uma cidade que quero voltar.

Escrever e coçar é só começar…

Será? Espero que sim, porque ando bastante enferrujada nesse sentido. Não sei se é fase, mas perdi um pouco a ansiedade de escrever para concretizar os fatos, talvez esteja pensando menos ou com menos vontade de pensar.

Tenho caminhado pouco também e para mim há uma relação direta entre caminhar e pensar, consequentemente, em escrever. Até tenho andado bastante, mas sempre ocupada ou viajando, portanto, o foco é para fora e não para dentro. Não é mau nem bom, só estou tentando entender porque de repente a escrita perdeu a prioridade na minha vida.

Então, resolvi escrever sem vontade mesmo, quem sabe assim vou pegando no tranco.

Meu irmão chegou na noite de Natal, literalmente. Luiz foi buscá-lo no aeroporto enquanto eu terminava os últimos preparativos para a Ceia. Fizemos o Natal dos exilados aqui em casa. Quem não tinha família em Madri, ou onde passar, foi bem vindo. Achei que viessem umas dez pessoas, vieram umas vinte. Achei bom, mais animado, além do que, comida e bebida sempre tem de sobra.

No dia seguinte, não acordamos tão tarde, demos uma voltinha pela cidade, arrumamos a casa e as malas e, logo no dia 26 de dezembro, partimos para Andorra. Luiz, meu irmão, eu e nosso gato. Adoro Andorra, tenho uma simpatia especial pelo lugar e foi bom para dar uma relaxada e esquiar um pouco. Também era uma oportunidade para meu irmão conhecer outro país.

Para ser sincera, nem lembrava mais como esquiar, havia me esquecido os movimentos e a sensação. Para mim, em relação a esquiar, é sempre assim, nunca consigo partir de onde parei e evoluir diretamente; preciso dar um passo atrás e logo evoluir. Assim que as primeiras baixadas me custaram um pouco, além de haver cometido a burrada de esquecer de apertar as botas e acreditar que não lembrava mais como controlar os esquis. Quando esse problema foi detectado, ganhei confiança e topei baixar com Luiz de uma pista maiorzinha.

A primeira descida comecei bem, dei uma travadinha no meio, mas fui me lembrando o que tinha que fazer e já cheguei animada. As outras descidas foram enfurecidas e uma delícia! Pena ter sido tão pouco tempo, pois senti que poderia melhorar novamente. Mas pelo menos funcionou como aquecimento para o carnaval, quando o plano A é ir esquiar na Áustria.

Voltamos a Madri para passarmos o reveillon por aqui, chegamos no dia 29 à noite. Não paramos um minuto e já emendamos na balada madrileña, afinal, meu irmão não ia descansar em euros, né?

A festa de Ano Novo foi na casa de uma amiga e também foi bem animada, com direito a tamborins, queima de fogos e tudo. O interessante é que foi o reveillon dos irmãos, onde três deles, incluindo o meu, apareceram pela Espanha sem haver programado com muita antecedência. Claro que chutamos o balde! Nós nem procurávamos mais os nossos copos, e sim nossas garrafas!

Resumo da ópera, chegamos em casa pelas 5 da matina.

O que não seria nenhum problema, caso não precisássemos estar no aeroporto ao meio dia, rumo à Turquia! Embarcamos meu irmão, uma amiga e eu para Istanbul (ou Estambul, se preferirem). Os três numa ressaca de dar gosto! Não aceitei nem o vinhozinho do serviço de bordo!

Chegamos sãos e salvos na cidade. Aliás, adorei Istanbul! Vale uma crônica só do local com dicas e fotos, vou tentar fazer isso em breve. O hotel que meu irmão escolheu era o máximo! Nada mais, nada menos que um janelão para o canal de Bósforo. Ou seja, fiquei na Europa, com vista para Ásia.

Dia 5 de janeiro, voltamos para Madri e emendamos com a despedida dele, na mesma noite, no El Junco, com os amigos daqui. De quebra, ainda chegaram uns amigos de São Paulo, que se juntaram a nós nessa mesma noite.

Dia seguinte, meu irmão embarcou para o Rio, fomos levá-lo ao aeroporto às nove da madrugada! Eu nem era uma pessoa ainda!

Mas está pensando que acabou? Lembra que chegaram amigos de São Paulo? Pois é, eles só passariam o dia 6 em Madri e se não aproveitássemos para sair nesse dia, sabe lá quando a gente se veria outra vez. Então, ânimo e energia que tem mais!

Passeamos com eles pelo centro da cidade, para mostrar um pouquinho e jantamos no Botín. Afinal, como todos turistas que chegam a Madri, queriam ir ao restaurante mais antigo do mundo. De qualquer maneira, era dia de reis e boa parte dos outros restaurantes estava fechada, assim que foi uma boa opção. Apesar de um pouco cansada, foi ótimo também sair com eles.

Na sexta-feira, finalmente, um dia sem hora para acordar e sem compromissos para cumprir. Quer dizer, mais ou menos, né? Porque me aguardava um faxinão daqueles! A glamurosa volta de viagem… Tudo bem, se tem que fazer, então tem que fazer e pronto. Aproveitei e já dei uma limpa no armário e comecei a zerar a casa para 2011.

Sábado, vacinamos o Jack. É importante para um gato tão internacional, que precisa viajar a qualquer momento, ter sua carteira de vacinação em dia. Ele sempre fica meio molinho nesse dia e dá pena da gente sair. Só fomos jantar perto de casa e voltamos logo.

Pouco depois de voltar do jantar, toca o telefone. Meu primo avisando que chegaria no dia seguinte, na verdade, ao todo seis pessoas, sendo duas crianças. Pelo que entendi da história, eles vinham almoçar conosco, mas não era certo que dormissem na cidade.

Muito bem, chegaram no domingo por volta do meio dia. Passeamos o dia todo e no fim da tarde fomos com eles ao Xanadú, para mostrar a pista de neve artificial. Mas realmente, não dormiram em Madri, voltaram pelas 22h para um hotel em Segóvia, de onde partiriam no dia seguinte pela manhã.

Hoje é segunda-feira, 10 de janeiro, a primeira do ano em que pareço voltar a alguma rotina. Daqui a pouco quero ver se consigo me matricular no Pilates novamente. Preciso de ajuda para me livrar dessas gordurinhas de festas de fim de ano que não me pertencem!

E que 2011 venha com tudo de melhor! Para mim, chegou com família, amigos, temperos variados e viagens, o que me parece um ótimo preságio!

Natal

Venho por meio desta, explicar que ando sumida do blog por motivos de força maior: uma preguiça monstra de escrever por aqui!

Tudo vai bem e nesse momento termino de deixar as coisas encaminhadas para o banquete de Natal. É lógico que exagerei! Mas não é assim que tem que ser?

Até agora, tenho no cardápio: mini kibes, foie gras, salada de beterraba com azeite de baunilha e molho de yogurte, salpicão de frutos do mar, vieiras crocantes, casquinha de siri, arroz de côco, lombinho recheado de damasco e coberto com presunto cru, pernil com molho reduzido de porto, filet Wellington e tarte tatin. Isso, sem falar no que os convidados irão trazer de queijinhos e sobremesas.

Meu irmão decidiu vir e chega no dia 24 de dezembro mesmo. Passaremos Natal em Madrid, viajaremos Luiz, ele, Jack e eu para Andorra no dia 26, para tentar esquiar um pouco e voltamos para o Reveillon. Logo depois da festa, no dia primeiro, embarcamos meu irmão e eu para Istambul e ficaremos até dia 5 de janeiro. Ele volta ao Brasil no dia 6. Ou seja, a programação promete.

Assim que não sei quando terei tempo para sentar e contar tudo, mas imagino que só depois da volta de Istambul. Mas prometo que daí não passa!

Um Feliz Natal para todos e que 2011 venha cheio de sucesso e realizações! Obrigada a quem compartilhou comigo esse ano, ainda que virtualmente, e me ajudou a tornar nossas as minhas experiências, partilhando elas se tornam maiores e mais interessantes. E se alguém puder pular umas sete ondinhas por mim em alguma praia quentinha, agradeço muito! No máximo, conseguirei pular sete montinhos de neve! Afinal, independente do seu estado, água é água, né?

Até breve e boas festas!

Comer em Madri na madrugada

Uma das coisas que costumo reclamar por aqui é da falta de opções de onde comer na madrugada. Porque as noites são bastante longas e animadas, mas nos bares e danceterias só há bebidas e saímos dos lugares simplesmente famintos!

Eventualmente, se abrem opções que vão até um pouco mais tarde, como pelas 3 ou 4 da manhã, mas logo alguém liga para fiscalização e o lugar some.

Pois bem, notívagos famintos de plantão, há pouco tempo abriu bem perto da estação Tribunal, um lugar chamado Papizza, que fica aberto por toda a noite, até às 8 da manhã. É legal, no sentido da lei, ou seja, em princípio não corre o risco de ser fechado após uma denúncia e a pizza é bastante honesta. Fica na Calle de Fuencarral, 80. Logo em frente, abriram outra pizzaria que não lembro o nome, mas com conceito parecido. Pessoalmente, preferi a massa da Papizza, mas isso é uma questão de gosto.

De qualquer maneira, fica dada a dica. Pintou a fome do fim de noite, pode baixar pela estação Tribunal que há o que comer bem quentinho e rápido! O dia seguinte agradece!

O último dia do estágio

Passadas duas semanas de trabalho, percebi que já não havia grandes novidades, ou pelo menos, nada que eu percebesse que fosse aprender. Vou ser sincera, fui para Paris no espírito de absorver e aprender o máximo possivel, mesmo que isso incluísse algumas roubadas, afinal, não da para escolher só a parte legal do trabalho. Mas não tenho mais 18 anos nem preciso tanto assim para encarar roubadas sem maiores retornos. Com esse pensamento, conversei com meu amigo francês para ver se a gente achava alguma outra alternativa dentro desse periodo que tinha disponível. Como por exemplo, algum restaurante.

Mas me dispus a cumprir os compromissos assumidos na última semana. Bom, na minha cabeça era a última, mas não havia ainda conversado com o chef. Para variar, a comunicação foi difícil e confusa, mas ficou combinado que eu me encontrava com ele na saída do metro, às 15h30, e de lá íamos trabalhar em um jantar. Não ficou claro se era mis en place… se era direto no local do jantar… para quantas pessoas… enfim, o de sempre, mas também já estava sem saco de ter que espremer informação a conta gotas.

Pelas 14h, ele me ligou dizendo que estava atrasado e transferiu nosso compromisso para às 17h30. Putz, outro dia que poderia ter aproveitado em algum curso ou outra coisa e fiquei de plantão esperando. Tudo bem, vai.

Cheguei no local combinado um pouco antes. Como Murphy nunca falha, estava uns 3 graus e chovendo de maneira intermitente. Cassilda, esperar na rua assim é um saco, mas vá lá, queria encerrar a coisa direito. Resumindo a ópera, uns 15 minutos de espera, liguei para ele para saber se estava vindo ou se me abrigava em algum lugar. Ele não atendeu. Meia hora de espera liguei outra vez e ele disse que estava a caminho, ainda que o telefone não soasse como alguém que estivesse sequer na rua. Quarenta e cinco minutos depois, sem exagero, enchi meu saco e fui embora. Depois fiquei sabendo que ele chegou com uma hora de atraso. Vamos lembrar, eu estava em pé na rua, na chuva e no frio.

Nesse período em que eu voltava para casa, ele ligou para meu amigo francês e perguntou por mim. Ele já sabia do acontecido e respondeu que eu congelei e vim embora, o que deixou o chef meio sem graça.

Para ser bem honesta, achei só mais ou menos ruim. Esperar foi chato, mas por outro lado, tirou o mico das minhas costas e se estava meio sem graça em deixar o estágio antes, naquele momento ficou bem claro que era o melhor a fazer.

Em paralelo, começamos a nos movimentar para ver se surgia algum restaurante e eu aproveitava o restante do tempo; ou se voltava para Madri e deixava para uma outra ocasião. Acontece que a essa altura, também já não estava disposta a topar qualquer coisa. Queria um estágio estruturado ou nada. Esse negócio de pousar de pára-quedas e ver o que acontece tinha dado para mim.

Bom, até pintou um restaurante que concordava em me receber. Fui lá com meu amigo de “espiã”, ou seja, sem me apresentar, como se fosse uma cliente normal. Era um bistrot cotado entre os melhores e bastante conhecido no meio político. Como cliente, achei excelente, mas fiquei na dúvida se seria uma boa experiência para trabalhar. O lugar tem bastante movimento, a escala e rotatividade são relativamente grandes e o cardápio bem tradicional, diferente do que quero fazer. A cozinha era aberta e funcionava apenas com 4 empregados, realmente não sei onde iriam me encaixar e muito menos imagino que alguém fosse ter boa vontade e tempo para me ensinar alguma coisa. E para completar, achei que a resposta foi rápida demais para que tivessem pensado em qual seria o meu papel, provavelmente, lá ia eu ficar meio no ar outra vez.

Quer saber, resolvi seguir meu instinto e ele me dizia para voltar para casa e absorver o que foi melhor da experiência.

E, apesar dos pesares, a experiência foi muito boa! Não fui para fazer amigos, fui para entender e pensar em um modelo de negócio. Posso dizer que essa idéia está bem mais clara na minha cabeça agora. E sim, é viável, mas depende de onde o estabeleça.

O chef com quem trabalhei, podia ser confuso e estar acostumado a trabalhar sozinho, mas era um bom chef de cozinha. Não sabia me transmitir conhecimento, mas eu sabia o que estava buscando e, verdade seja dita, também não me omitia nada.

Meu amigo francês, onde fiquei hospedada, já foi dono de mais de um restaurante e aproveitei para aprender com ele também. Além do que, a gente comia bem pacas! Nosso assunto mais frequente era a comida!

Encontrei mais duas amigas brasileiras que estavam por aquelas bandas e foi legal sair algumas vezes. Ainda que a maior parte dos dias foram de trabalho mesmo.

Então, sim, valeu muito a pena! Mas diferente de todas as apostas, incluindo as minhas, voltei antes e não depois do tempo previsto.

Fiz várias compritas interessantes, obviamente, tudo ao redor da cozinha. Segundo Luiz, sou uma mulher muito estranha… fico exultante com panelas, facas ou eletrodomésticos! Mas fazer o que? É verdade.

Desde que cheguei, já fiz vários testes e adaptações de receitas. Desafio complicado quando você e seu marido estão de regime. Entretanto, juro que fora uma Tarte Tatin, tudo razoavelmente leve, pouco calórico e bem gostoso. Tanto que não engordei e Luiz segue emagrecendo.

Agora preciso sentar e colocar todas as idéias no papel (ou na tela do computador) para não perder o momento. Hora de planejar os próximos passos e que o ano que vem chegue com deliciosas oportunidades!

Rapadura é doce, mas nao é mole nao…

Segunda-feira, acordei cedo e fui direto para o Chateau de Versailles. Tive que sair com uma hora e meia de antecedencia, afinal é longe pacas! Mas pelo menos nao errei o trem dessa vez e cheguei até antes da hora, melhor assim. Almoço tranquilo, para 4 pessoas, e relativamente austero, afinal, pelo que entendi de orelhada, era para pedir fundos para a instituiçao.

Mesmo sendo almoço para 4, faziamos para 6, porque o diretor de protocolo e o de relaçoes publicas ficaram direto na cozinha conosco, acompanhando todo o procedimento (e conversando também). No inicio me incomodava um pouco, mas depois achei que nao atrapalhou como imaginei. A escolha dos pratos foi bastante discreta, como solicitado, e segundo o chef, com  jeito de cozinha de avo. Na entrada, foi servido um tipo de torta de miudos de frango; com um toque de foie, simplesmente divina! Engraçado porque quando olhei aquela torta com jeito de empadao, nao dei muito crédito, além de nao saber naquele momento que havia sido pedido um almoço simples (afinal sempre vou descobrindo as coisas no caminho). Mas digo que foi uma das melhores coisas que degustei e agradou em cheio ao cliente.

Aos poucos, vou entendendo o que devo fazer, o que devo deixar, o que devo controlar o impulso de pular na frente, quando ir atras do chef ou quando simplesmente ele esta andando de um lado para o outro por simples ansiedade, essas coisas…

Escutei uma coisa interessante sobre a sobremesa. O chef disse que ela é fundamental, se voce erra na sobremesa, pode ter feito uma entrada e um prato principal perfeitos que o cliente so se lembrara do final. Informaçao importante para mim, porque acho que, por nao ligar para sobremesa, dou menos importancia para ela na escolha do menu, preciso rever esse detalhe.

Bom, no final do almoço, voltou para a cozinha mais de meia garrafa de um Pommard 2003, da qual os dois diretores e o chef falavam empolgadamente. Eu louca para provar! Até que me ofereceram e peguei um pouquinho por educaçao. Putz, um show! Quando a tropa, por sei la que motivo, saiu da cozinha, tratei de  completar minha taça! Tudo bem que ralei, mas no final também tomei um vinho de 120 euros a garrafa – que valia cada centavo, mas deveria haver sido aberto e decantado com mais tempo.

Mais uma vez, sai um pouco decepcionada por nao ter participado da preparaçao, que aqui se diz “mis en place”. Mas, sabendo que eu ja tinha o uniforme completo, ele marcou comigo no dia seguinte, bem cedo, para eu pegar o processo desde o inicio. Beleza! Acordei quando o dia ainda estava escuro, mas satisfeita e curiosa.

Primeiro, passamos no fornecedor para pegar alguns ingredientes. As compras sao feitas por telefone, quando ele chega no atacadista, ja ha uma caixa separada com o pedido. Entao, é so pegar e seguir o caminho.

Nesse dia, fizemos almoço para 20 pessoas (sim, so descobri isso la, como de costume, é sempre uma surpresa). Foi feito dentro de uma empresa grande, para seus executivos, e havia um cozinhao industrial! Exatamente como em um restaurante. As panelas sao gigantes, o fogao é gigante… e a louça para lavar é gigante! Descasquei uma caixa de cenouras e outra de batatas, me senti no exército! Tudo bem, nao era isso que eu queria? Conhecer o processo inteiro. O preço é ralaçao pura e dura! Nao tem nada de bonito nem glamuroso, vou logo avisando.

Valeu a experiencia, precisava dela e mais uma vez, aprendi bastante. Desde a melhor maneira de descascar uma cenoura, limpar um peixe, usar utensilhos em escala industrial, sentir a pressao de ter que sair da cozinha 20 pratos quentes ao mesmo tempo e multiplicar isso por entrada, prato principal e sobremesa… Mas para mim ficou mais do que claro, definitivamente meu negocio é pequena escala!

Acabamos o serviço, ele me perguntou se tinha a tarde livre para outro mis en place. Claro, vamos nessa!

Seguimos para onde judas perdeu as meias, mas foi bom que conseguimos conversar um pouco. Senti que ele estava um pouco preocupado como se relacionar comigo, ele tinha consciencia que estava sempre em seu mundo (palavras dele), porque esta acostumado a trabalhar sozinho e a seguir a ordem que tinha na sua propria cabeça. Ou se eu me ofendia pela maneira mais rude de falar enquanto as coisas estao sendo feitas, o que deixei ele a vontade, afinal entendo que a pressao do momento nao permite muitos “por favores e obrigadas”.

Ele nao falou, mas é evidente que é um ambiente muito, mais muito masculino. Sou o bicho raro circulando no meio deles e, da mesma maneira que fico meio perdida, ninguém sabe muito bem como se comportar comigo. Sendo justa, ninguém me desrespeitou, mas as vezes tem detalhes basicos complicados, do tipo, que banheiro eu uso e onde troco de roupa. Na duvida, me mantenho em alerta constante, sei intimidar e tenho uma vantagem, nao preciso do trabalho. Quando vem a educada pergunta: mademoiseille ou madame? Respondo sem margem para brincadeira, madame, com o olhar de “e mordo”! 

Muito bem, chegamos em um lugar longe pacas, com cara de pequena fabrica. Foi quando finalmente entendi a historia, era la que ele cozinhava e nao no tal laboratorio que meu amigo entendeu a principio (e onde consta o endereço no website). Trata-se de uma super cozinha industrial de um “trateur” de grande escala. O chef com quem trabalho aluga uma parte dessa cozinha para trabalhar alguns dias da semana. Ali so podem estar profissionais (com uniformes completos por motivos de segurança), por isso ele nao queria me levar antes. E claro, mais uma vez, so tem homem! Todos me trataram com respeito, mas me olhavam com cara de que nao entendiam muito bem o que eu fazia ali. A parte boa é que todos se empenhavam em dizer, sem que o chef ouvisse, que ele era muito bom chef, dando a entender  que era uma oportunidade para mim.

Fizemos, o chef e eu, a preparaçao de um coquetel para 50 pessoas. Do que me lembre agora, fizemos gateau de cenouras; espetinho de frango ao curry; enroladinho com camarao, tupinambo (parece mandioca) e maça; enroladinho de abobrinha com salmao marinado; espetinhos de salmao defumado; enroladinho de presunto, rucula, manjericao e parmesao; torradas com passas (para servir com foie) e algumas outras coisinhas que nao me lembro agora. Saimos de la pelas 22 horas. Peguei uma carona com ele ate o metro e cheguei em casa depois das onze. Para quem acordou as 6 da matina e trabalhou direto todo esse tempo de pé, sem parada de almoço, a gente vai beliscando enquanto faz, foi bem cansativo.

A maioria dos funcionarios ja tinha ido embora, o ultimo saiu pelas 21h, foi um frances-marroquino que fazia patisserie na mesma sala que estavamos e nos presenteou no final com uma tortinha de frutas deliciosa!

Para mim, o balanço desse dia foi bastante positivo em termos de aprendizagem, sai contente. Mas também muito cansada e, se parte do meu dia foi interessante, outra parte também foi ocupada com tarefas bem chatas e desagradaveis. Ok, é o preço, mas nao estou disposta a paga-lo todos os dias.

O ponto é, foi super valido, mas ja absorvi o que me interessava, daqui para frente, desconfio que sera mais dureza que aprendizado. Nao sou fresca, mas gosto de dirigir minha energia de maneira muito especifica. O ideal seria partir para outra cozinha, dessa vez mais estruturada, como em um restaurante, por exemplo. Nao sei se vou conseguir agora ou se algum outro chef me aceitaria por duas semanas, mas vou tentar.

Enquanto isso, na sala de justiça, sigo o caminho que ja tenho. Hoje trabalho a partir das 15 horas. Nao tenho idéia até que horas, como sempre. Mas ja descobrirei e volto para contar.

Fim da primeira semana

Hoje é domingo e agora tenho um tempinho para fazer um balanço da semana. Resumindo, foi tudo bem, algumas coisas gostei mais, outras gostei menos… o normal. O mais importante é que tenho aprendido bastante e algumas peças vao se juntando. Tem idéias e conceitos que podem parecer muito evidentes, mas uma coisa é a superficie, um palpite ou uma intuiçao e outra é ir a fundo no que voce pode, quer ou tem habilidade. Sem falar que tudo tem seu momento e enquanto ele nao chegar, nao adianta.

E nesse exato momento, consigo ver as experiencias que fui desenvolvendo ao longo da vida, de repente começarem a se encaixar, a parecer que podem funcionar juntas e me alavancar em torno de um novo objetivo. Como se tomasse uma consciencia maior das ferramentas que possuo pelas experiencias em negocios, em artes plasticas, em cozinha, nos ambientes que frequentei, nas festas da minha casa, na vida em paises diferentes, nos idiomas aprendidos, em cantar, em fazer amigos, em aceitar diferenças, em tolerar a dor, em suportar o que nao posso controlar, em escrever, em me expor… como se fossem pecinhas de quebra-cabeça que começam a definir uma imagem concreta.

O primeiro dia ja contei e acredito haver sido o auge da euforia, ao longo da semana fui ajustando as expectativas e colocando as coisas dentro de uma perspectiva real. Pelo final da semana me bateu um certo “bajon”, uma ligeira desanimada, por alguns motivos diferentes que vao desde a dificuldade de comunicaçao com o chef e tempo parisiense muito cinza, ate saudade de casa. Logo passou. Luiz chegou, os amigos me animam muito e dai bate mais vontade de fazer tudo.

Mas vamos aos fatos, na terça e na quarta nao trabalhei, isso me deu uma certa  baixada de bola. Nao chegou a ser grave porque havia um evento que queria visitar, o Equip’ Hotel (evento com foco em hoteis e restaurantes, divulgam uma serie de produtos alimenticeos, equipamentos, acessorios, vinhos… tudo relacionado a gastronomia. Também ha demonstraçoes de chefs de cozinha, o que mais me interessava. Passei nessa feira esses dois dias e nao vou negar que bem que aproveitei,  entao nao chegou a ser tempo perdido, mas me preocupou um pouco em relaçao ao futuro. Comecei a pensar em um plano B, do tipo, os dias que tiver livres, posso buscar alguma escola de culinaria.

Bom, na quinta o chef me chamou para ajudar em um jantar e combinou comigo as 16 horas, logo, imaginei que fosse participar da preparaçao dos pratos, o que nao aconteceu. Meu amigo frances me acompanhou nesse encontro (porque os dois tinham que combinar coisas entre eles) e aproveitei para pedir ajuda na traduçao, porque para mim nao tinha ficado muito claro qual seria minha participaçao, nao tinha uma agenda concreta, enfim, estava achando tudo muito no ar. Acabou que meu amigo também nao entendeu muito bem, achou ele um pouco confuso, o que por um lado me aliviou por saber que nao era so uma questao de idioma, mas por outro, me deixou desconfortavel em continuar sem saber bem como me posicionar. Olhando para tras agora, acho que o que aconteceu é que para ele era tao novo ter uma assistente quanto era para mim, desconfio que ele também esta aprendendo como me orientar, no que pode interessar, no que ele pode confiar, enfim, é tudo muito recente.

Mas vamos la, procurei manter uma atitude positiva e a nao tinha mais medo como tive no primeiro dia, de certa forma, depois do batismo de fogo, o trabalho ficou desmitificado.

Resumindo, fizemos um jantar na quinta, para 10 pessoas e outro na sexta para 12 pessoas.

O que gostei:

– Ganhei confiança. Vi que nao é nada que nao pudesse fazer; na verdade, é bastante proximo a jantares ou recepçoes que ja faço de vez em quando e ainda dou conta de participar como anfitria.

– Aprendi sobre quantidades, preço por pessoa, que tipo de ajuda contratar, equipamentos para levar, timing entre a preparaçao da cozinha e o ritmo do jantar, volume de lixo produzido, o que levar pronto, o que levar encaminhado, o que se aproveita da estrutura da cozinha do cliente… enfim, fiquei atenta a todos os detalhes operacionais.

– O chef é muito bom tecnicamente, a comida é bem feita e saborosa. Ele se adapta perfeitamente ao gosto do cliente, em diferentes niveis de sofisticaçao. Se por exemplo, o cliente pede para ele tirar a “pele” do jamon (gordura de um iberico de bellota!), ele tira e acabou, nao surta com chilique.

– Nao me machuquei.

O que nao gostei:

– Puta que pariu tres vezes, nunca lavei tanta louça na minha vida!  Trabalhinho de corno!

– Para os padroes franceses eles sao bastante limpos, nao quero passar a imagem errada, mas para meu padrao de neurotica com TOC e obssessiva por limpeza é um sofrimento! Assim, caiu comida no chao, é lixo (talvez porque eu corra na frente para jogar fora), mas caiu uma faca no chao, esquece! Dai a louca aqui nao se aguenta e sai atras lavando tudo! Ou seja, ainda tenho mais trabalho! Agora entendo muito melhor a necessidade de um pano de prato grudado em voce! Na primeira vinda do Luiz, pedi para ele trazer o meu proprio, que euzinha garanto que lavo.

– Grande dificuldade de comunicaçao com o chef. Ele é muito bom na cozinha, mas vive no mundo dele e é totalmente hiperativo, nao consegue ficar parado. Tudo tenho que descobrir pelo meio do caminho e improvisar. De vez em quando, tudo bem, mas sempre é muito cansativo, me enlouquece. Como ele esta direto no celular pendurado (nao sei como ele consegue), nunca sei se ele esta falando comigo, no telefone ou com as vozes na sua cabeça! Enfim, mas nao tiro minha responsabilidade, se eu falasse melhor frances, seria mais simples.

– Nao participei de nenhuma preparaçao, peguei so o acabamento na casa dos clientes. Eu precisava conhecer esse lado de compras e da cozinha, que para mim é fundamental! Depois de muita dificuldade para entender porque ele nao me chamava para preparaçao (que nao era uma questao de idioma, afinal meu amigo frances também nao entendia), parecia ser porque eu nao tinha o uniforme completo de cozinha (me faltava os sapatos e a calça) e se batesse alguma fiscalizaçao, ele poderia ter problemas. Ok, se o problema é esse, la fui comprar a roupa no sabado.

Ficou marcado para que na segunda-feira seguinte, eu fosse ajudar em um almoço, novamente no Chateau de Versailles. Mas essa historia vai ficar para a proxima cronica. E assim, acabou minha semana, entre mortos e feridos, salvaram-se todos!

O primeiro dia de trabalho

Começo avisando que estou em um teclado frances, ou seja, algumas letras sao em outra posiçao e faltam acentos. Portanto, infelizmente, alguns erros ortograficos vao passar, sorry! Mas como tem muita gente me perguntando, e admito, também estou louca para contar como estao as coisas, vai assim mesmo!

Bom, cheguei em Paris na sexta-feira à noite, junto com Luiz. Tudo muito bom, tudo muito bem. No sabado fomos encontrar nosso amigo frances para almoçar. Ele me conta que falou com o chef que eu ia trabalhar e estava tudo certo para segunda. Acontece que ele ja tinha um coquetel agendado nesse dia e perguntou ao meu amigo se eu me incomodava em ir direto para la ou preferia esperar a terça-feira para conversar com mais calma. Meu amigo respondeu que nao achava que eu teria nenhum problema e confirmou por mim na propria segunda, direto na fogueira.

_  Beleza, isso mesmo, quero começar logo, e onde é?

_ No Chateau de Versailles, um coquetel para 50 pessoas, nao é legal? Voce ja começa muito bem…

_ … (glup!)

Perai, deixa eu pensar, nao conheço o chef pessoalmente ainda, nunca trabalhei nisso na vida, meu frances é macarronico… e vou cair de para-quedas em um coquetel para 50, nada mais, nada menos que no castelo de Versailles… putz! Por outro lado, fala sério, nao é o maximo? Vou morrer de catapora até os primeiros 15 minutos, depois serei feliz. Ja dizia Vicente Mateus, quem esta na chuva é para se queimar!

E sim, mantive razoavelmente as aparencias, mas por dentro, estava semi-histérica!

Hoje, segunda-feira, acordei bem cedo e sai com toda a antecedencia do mundo, e isso porque ja havia ido no sabado até Versailles, para checar direito onde era, quanto tempo levaria para chegar etc. Portanto, qual era a possibilidade de pegar o trem errado? Para quem conhece a Lei de Murphy, 100% de chance! Peguei a merda do trem errado e so nao me atrasei porque realmente havia saido cedo. Mesmo assim, cheguei na hora cravada e esbaforida!

Liguei para o chef, para entender onde encontra-lo, afinal o lugar é enorme! Recapitulando, liguei para o cidadao – que fala obviamente frances – para me explicar por celular – aquele aparelho que adoro – por onde eu deveria ir. Onde eu entendia que era, uma vaca-vigia francesa me informava com bastante ma vontade que era para outro lado. Achei entao que havia entendido errado e liguei novamente, ele acabou descendo para me encontrar. Algum tempo depois, a vaca francesa foi nos bastidores do coquetel filar uma boquinha e ficou com cara de bunda quando me viu. Admito que tive pensamentos impuros em relaçao ao que ela ia comer, mas tinha mais com o que me preocupar. 

Bom, nos apresentamos rapidamente, afinal o coquetel começaria mais ou menos uma hora depois e ainda havia que finalizar algumas coisas. Havia o chef, 2 garçons e um ajudante. Nao sabia se deveria so observar, perguntar… que raios se esperava que eu fizesse? Quer saber, nao vou perguntar muito nao, vou logo metendo a mao na massa e se ele achar ruim, vai me dizer. Pois ele nao achou ruim e nao demorou nem 5 minutos para eu estar no meio da historia… amarradona!

Nao foi dificil trabalhar com outras pessoas. Sou do tipo que nao gosta de ter companhia enquanto cozinha, eu literalmente expulso o povo da cozinha de casa e sem pudores. Acontece que é muito diferente ter mais gente, mas todos concentrados em um objetivo, ocupados. Nao é a sua amiga batendo papo ou seu amigo bebado te sugerindo temperos absurdos e isso faz muita diferença. Honestamente, esperava ate mais pressao, pelo menos, me preparei para isso. Fiquei preocupada antes de saber do que se tratava, mas durante o coquetel em si, a sensaçao foi de segurança que estava tudo sob controle.

Enfim, adorei. Quando acabou fiquei ate com pena, cheia de adrenalina, quero mais. O proximo evento é um jantar na quinta-feira, em uma residencia. Na verdade, esse tipo de evento é o que mais me interessa, porque é o que gostaria de trabalhar por minha conta.

E amanha tem o equip’hotel, pelo que entendi, um tipo de feira gastronomica, onde ha demonstraçoes tanto de equipamentos, como palestras com chefs de cozinha enfurecidos. Para mim, é como ir a um parque de diversoes!

O paradoxo do sonho

Sei quando ando escrevendo pouco porque os amigos começam a me enviar e-mails, assim meio que como não querem nada… me perguntando se está tudo bem… porque o blog está meio parado…

Pois está tudo bem sim, é que por uma questão de prioridades, esses últimos dois meses estou bastante focada na viagem para Paris e no estágio que vou fazer.

Sei que o mundo continuou girando e acompanho as notícias, mas estou um pouco egoísta e tratando da minha vida, que é a única que por direito posso controlar o mínimo possível.

Por mais que um estágio em Paris soe completamente sedutor e interessante, a verdade é que há mais de dez anos não trabalho para ninguém, não cumpro ordens, não tenho horário fixo. Tenho mais de quarenta anos e vou começar em uma área nova, numa função que nunca exerci profissionalmente. Vamos complicar um pouco? Será em outro país, com um chef que não conheço e em um idioma que até falo, mas não domino.

Não quero passar a impressão errada de que não estou gostando, porque me meti nessa encrenca com meus próprios pés, em sã consciência e, não vou negar, amarradona! Mais do que isso, recebi total suporte do Luiz e dos meus amigos. Mas também não vou tirar onda que acho moleza. Eu tenho medo.

É mais ou menos como esquiar, pelo menos, como foi para mim. Ficava enrolando naqueles montinhos de neve, para o tempo passar enquanto Luiz esquiava de verdade. Afinal, ele não iria para uma estação sozinho e eu não queria privá-lo da experiência. Em algum momento, aquela mediocridade me cansou e entre o tédio e o medo… melhor arriscar montanha abaixo. Às vezes, me pergunto se sou corajosa ou simplesmente não tenho a menor paciência!

Como costumo dizer, minha vida ficou bem melhor a partir do momento que perdi a dignidade. Você passa a encarar os micos com muito mais tranquilidade.

Assim que no fundo, sei que meus riscos não são altos. Na pior das hipóteses, volto para casa e pronto, com a serenidade de quem tentou. Certo?

Uma pinóia, né? Só se não fosse quem sou. Como é que posso voltar para casa achando que não fiz bem? Fiz menos do que poderia? E o pior, por alguma razão idiota, como não entender bem alguma tarefa. Para mim, esse primor que sou na arte do improviso, é meu pior pesadêlo!

E vamos combinar, tem coisa mais apavorante que a possibilidade próxima de realizar um sonho? Saber que em pouco tempo você vai comparar a situação real com algo idealizado? Tem algo mais injusto que uma expectativa? E, ao mesmo tempo, para que ter sonhos e planos sem que haja a intenção verdadeira de perseguí-los e concretizá-los? Para mim, é um paradoxo insolucionável!

Enfim, outra vez não quero passar a impressão errada, estou otimista, feliz pacas com a oportunidade e tentarei aproveitar o melhor possível. É só um desabafo dessa eterna contradição, talvez felizmente, que é a vida, ou é a minha.

Ou talvez, seja só o outono e meu inferno astral.

O retorno dos hóspedes

Nossa casa sempre foi de alta rotatividade, principalmente, depois que mudamos para Espanha. Mas acontece que por uma combinação de motivos, essa frequência diminuiu bastante nos dois últimos anos.

Por um lado, eu mesma não parei muito em casa, com idas de emergência para o Brasil. Por outro, a imigração andou pegando pesado com os brasileiros e espantou os turistas daqui.

Da minha parte, felizmente isola, as coisas se aquietaram e passei a ir menos ao Brasil. Também os turistas brasileiros começaram pouco a pouco a se interessar por Madri novamente. Não sei se por isso, mas nossa casa voltou a ser paradeiro de amigos. 

Se normalmente nós já somos animados, imagina quando vem gente visitar! Em dois fins de semana diferentes, vieram duas amigas, ambas brasileiras vivendo no exterior e ambas com energia para a noitada madrileña. Daí é correr para o abraço, né? As noites acabavam bem cedo, tipo 5 ou 6 da manhã!

Voltamos a frequentar o El Junco, que continua com ótima música e até anda menos esfumaçado, acredite se quiser. Depois rodávamos um pouco pelos inferninhos das redondezas e acabávamos no Kabocla.

No terceiro fim de semana consecutivo, viria outro amigo da Suíça, mas acabou ficando parado em Paris por causa da greve. Aliás, coisa que não falta na França é greve.

Pensei então, que seria mais tranquilo. O único compromisso que tinha era a inauguração da coqueteleria de um amigo, na sexta-feira passada, pela hora do almoço. Muito bem, Luiz conseguiu se liberar mais cedo, coisa que me impressionou, pois tem trabalhado direto até por volta dàs 21h, quase todos os dias. Às 15h, conseguimos chegar na tal coqueteleria, que aliás, está uma graça.

Vinhozinho daqui, sushi dali, conversa com amigos… o pessoal indo embora… e aí, seguimos? Fazer o que, né? Seguimos, é lógico.

Fomos para o Mercado de San Miguel pelo finzinho da tarde e superamos o desafio quase impossível de conseguir uma mesa. Umas nove garrafas de vinho e vários belisquetes depois, uma amiga sugeriu ir em um bar de tango.

Só meio bêbados mesmo Luiz e eu toparíamos ir a um argentino de propósito, mas que ninguém nos ouça, o lugar era bem simpático e serviu um bife à milanesa redentor.

Pouco depois da hora que a Cinderela vai embora, foi batendo um cansaço daqueles. Já nem aguentava comer nem beber nada! Minha capacidade de conversar havia decrescido radicalmente e ainda tínhamos um almoço no dia seguinte. Uma das amigas inclusive dormiu literalmente na mesa. Então, mesmo dando vontade de ficar mais um pouco e seguir, melhor voltar para casa.

No dia seguinte, acordamos ótimos! Também, bebida boa, bem alimentados, bom astral, pessoais legais… beleza! Mas admito que estava bem cansada e Luiz não parecia muito melhor.

Sem problemas, fomos em um almoço na casa de outra amiga. Um pratinho básico, leve: feijoada! Quer saber, caiu muito bem e não tomamos nem uma gota de álcool, afinal, um abuso de cada vez. Por outro lado, imagina a lombeira que bateu depois!

Fomos para casa descansar um pouco, com o plano de assistir um amigo tocar à noite. Muito bem, nem sei como não choveu nesse dia, porque à noite eu pedi arrego. Luiz, você está assim louco de vontade de sair hoje? Porque se tiver que ir, eu vou, mas vontade mesmo estou é de ficar derretida no sofá e bem cobertinha.

Quando sair da rotina é passar um sábado à noite tranquilos em casa, é sinal que a vida não está nada mal, ou então, é que não temos muito juízo.

Domingo foi preguiçoso também, já espero que o próximo fim de semana seja bastante agitado, porque é feriado e temos programação para absolutamente todos os dias. Melhor armazenar energias.

Na verdade, nem precisou chegar o fim de semana, porque o agito começou ontem, quarta-feira. Foi show do Seu Jorge e Almaz. Um showzaço! Adoramos! A gente curte Seu Jorge desde os tempos do Farofa Carioca e tinha uma expectativa alta para essa apresentação. Coisa que é um pouco perigosa, porque expectativas são sempre difíceis de se cumprir. Digo que dessa vez, foram superadas! Achei que funcionaram muito bem como grupo, super complementares e fazendo uma música realmente nova. Experimental, no sentido de se utilizar uma experiência, não simplesmente provar para ver o que dava. Achei surpreendente a mescla do rock, meio Led Zeppelin, com muito de jazz também, e ao mesmo tempo raízes afro-brasileiras, samba e sei lá mais o que. Enfim, digo isso mais para dar referências, porque não precisam de comparações, foram bastante originais. E vamos combinar, o que é a voz do Seu Jorge? Fala sério! Como um cidadão daquele tamanho pode ser tão leve? E ao mesmo tempo, bastante forte, quando recitou “Negro Drama”, do Racionais’ MCs, foi de arrepiar. Valeu.

Feriado de 12 de outubro

Já caminha para os seis anos que moramos em Madri e sigo perdida em relação aos feriados. A gente só descobre quando não dá mais tempo de se programar para nada. É verdade que nunca gostamos de seguir o fluxo turístico da galera e isso contribui para uma certa falta de interesse. Acontece que em função da “crisis”, muita gente tem evitado viajar e isso me deixou um pouco mais alerta às possibilidades de pequenas escapadas.

Bom, digo um pouco mais alerta, porque ainda não cheguei ao estágio de evolução do planejamento, né? Mas esse último feriado, ponte de 12 de outubro, consegui me interar mais ou menos uma semana antes.

O chato é que havíamos combinado de ir sábado para a casa de uma amiga e segunda-feira havia uma super festa de aniversário. Coloquei na balança… senti muito… mas pensando bem, só teria outra chance de dar uma fugida com Luiz no ano que vem, então resolvemos viajar.

Comecei buscando lugares nos arredores de Madri, mas acabei encontrando um website ótimo, com hotéis que ofereciam cursos de cozinha por todo mundo, esse aqui http://es.escapio.com/hoteles-con-curso-de-cocina

Primeiro busquei os hotéis espanhóis, mas para variar, nenhum aceitava meu gato. Sim, porque o Jack ia conosco. Daí não resisti e busquei os franceses que estivessem mais próximos da Espanha. O mais próximo que me interessou, ficava perto de Toulouse, há mais ou menos 9 horas de Madri. Pensei que Luiz não ia querer dirigir tanto, mas enviei o link para ele assim mesmo.

Pois ele topou na hora e eu fiquei amarradona! Trata-se de um pequeno hotel de charme, com meia dúzia de quartos, em uma cidade minúscula chamada Cuq Toulza, há cerca de 40 minutos de Toulouse. Um dos proprietários, é também o chef da cozinha e, além dos jantares deliciosos, oferece cursos de gastronomia de um dia. Para quem se interessar, o local se chama Cuq en Terrasses e o link é esse http://www.cuqenterrasses.com/

 

O planeta sabe que amo a França de paixão, nem sei porque gosto tanto, mas é dessas coisas que não se explicam e nem importa. Era uma oportunidade de unir vários prazeres e utilidades. Podia descansar com Luiz e meu gato em um lugar calmo e charmoso, além de ter a experiência de cozinhar em um restaurante, com o chef também me dando as intruções em francês. Como se fosse um preparativo para o estágio que farei em novembro.

Muito bem, na sexta-feira 8, Luiz trabalhou pela manhã e conseguiu se liberar pela hora do almoço. Saímos de casa por volta dàs 14 horas, junto com nosso felino que aguentou bravamente mais de 9 horas de estrada, afinal, pegamos muito trânsito ao sair de Madri e já estava bem escuro quando chegamos pelo sudoeste da França.

A primeira boa surpresa foi ao chegar. O hotel é um casarão bem cuidado, mas com poucos quartos, acredito que a lotação não passe de umas 15 pessoas. E, acredite se quiser, estava cheio. Por isso, nos acomodaram em um chalet, logo em frente, também do hotel. Ou seja, pelo preço de uma suíte, ficamos em uma casa só nossa, com direito a salão, quarto, 2 banheiros e cozinha.

 

Chegamos tarde, pelas 23hs. Então, já não esperávamos jantar. Honestamente, tinha dúvidas se chegaríamos com alguém acordado no hotel! Na prática, estavam acordados sim e os hóspedes começando a se recolher para os quartos. Portanto, ainda nos deu tempo de pedir uma garrafa de vinho, queijos e levar para nosso chalet privado e relaxarmos da viagem antes de dormir.

 

No sábado, acordamos tarde e fomos conhecer as redondezas. O hotel serve café da manhã e jantar. No café, geralmente a gente dormia, e o almoço, aproveitávamos para circular um pouco.

 

No primeiro dia, já embarquei em um cassoulet, prato típico da região. Dando assim, início aos trabalhos gastronômicos e ao processo engordativo!

O jantar foi no hotel. Um dos proprietários nos perguntou se tínhamos alguma restrição alimentar e disse que não. Mais tarde entendemos que o chef prepara uma única opção de menu, motivo pelo qual nos perguntaram antes se havia algo que não comíamos. Esse menu inclui um amuse-bouche, uma entrada, prato principal, queijos e sobremesa. Não preciso dizer que acompanhamos com vinho, né? Uma delícia!

No restaurante, havia dois grupos de amigos, um certamente de americanos e outro que parecia de ingleses. Mais tarde ficamos sabendo que os americanos eram clientes da casa e já era o terceiro ano que voltavam.

Muito bem, acabou o jantar e sentimos uma certa movimentação no ambiente. O chef veio para o salão o outro proprietário começou a distribuir um livro com letras de músicas e o pessoal começou a se posicionar.

Como é que é? Vai rolar um karaoquê francês?

No restaurante há uma pianola, que é como um piano que você pedala e ele toca sozinho. Os proprietários tocavam e cantavam, diga-se de passagem muito bem, e a gente acompanhava!

No início, eu e minha frescura achamos que seria meio cafona e bizarro, mas a verdade é que foi ótimo! Nos divertimos para burro e cantamos quase tudo, inclusive o que não conhecíamos. O repertório ia de Besame Mucho até Les Miserables, tinha de tudo! A maioria das músicas em inglês e francês.

 

Por volta das 23hs, eles deixavam de tocar e os hóspedes iam se encaminhando aos seus aposentos.

No domingo, era o dia da nossa aula de cozinha. Sim, eu disse “nossa”! Luiz se animou a fazer também! Considerando que sua especialidade é pipoca de micro ondas e, quando casamos, ele pensava que o leite nascia na geladeira… fazer aula com um chef na França é um feito herculano! Um certo amigo nos recomendou cuidado para que ele não queimasse a água!

 

Pelas 11 da manhã, nos encontramos com o chef, havia mais um hóspede, francês de Toulouse, que se interessou em fazer o curso. Consiste em preparar uma entrada, um prato principal e uma sobremesa. Ao final, sentamos e almoçamos a comida que nós mesmos preparamos.

Entre nós, essa era a maior preocupação do Luiz. Cozinhar, tudo bem, mas comer o que ele ia preparar… era outra coisa!

Vou logo quebrando o suspense e avisando que ele mandou muito bem, fato que me encheu de orgulho! E dito isso, conto o que fizemos.

A entrada foi um Crumble des Tomates; o prato principal um frango recheado com queijo de cabra, pinholes e figos; e a sobremesa uma Tarte Tatin aux Epices. Assim que tiver um tempinho, dou as receitas por aqui.

Crumble de Tomates
Poulet Farci Aux Figues et Fromages de Chevre
Tarte Tatin aux Epices

 

No final, almoçamos todos juntos e foi bem divertido. Na minha opinião, ficou tudo uma delícia. São receitas simples, que podem ser preparadas com antecedência e fazem vista.

Ainda que devo admitir que o impagável foi ver o Luiz de avental mandando ver na cozinha!

 

Foi quando ficamos sabendo que não seria servido o jantar, porque o chef fazia aniversário e comemoraria com seus amigos essa noite no hotel. Sem problemas, já estava pensando onde jantaríamos, quando fomos convidados a participar! Ou seja, domingo ainda fomos de “bicão” a uma festa de aniversário!

Na segunda-feira, fomos passear em Toulouse, almoçamos por lá. A cidade é bem simpática e tem um centro bonitinho. Comemos bem, sem grandes frescuras, mas ingredientes bastante frescos.

Na volta para o hotel, esticamos até Revel e algumas cidades minúsculas ao redor de Cuq Toulza. Mas não animamos muito a caminhar, porque começou a chover. Resolvemos morgar pelo hotel mesmo até a hora do jantar.

Como dá para perceber, adotei novamente minha postura foie gras e passava os dias de boca aberta sendo alimentada e tomando vinho! Pergunta se reclamei.

O jantar foi no próprio hotel, bem elaborado e tudo muito gostoso. No final da refeição, nós já sabíamos do esquema e tratamos de nos posicionar rapidamente junto ao pessoal da cantoria. Quem diria que ia virar freguesa do karaoquê improvisado e amarradona!

Enfim, cantamos até quase meia noite, quando já dava vergonha de pedir mais uma música aos donos que deviam estar exaustos!

Terça-feira, acordamos um pouco mais cedo, conseguimos tomar um bom café da manhã e pé na estrada novamente! Acho que chegamos em Madri por volta das 20h, sãos e salvos. Jack um pouco de saco cheio da estrada, mas feliz da vida por voltar para casa.

Preciso dizer que adorei? Vamos combinar, para quem não tinha nada planejado, um feriado perdida no sudoeste da França, não foi nada mal.

A fábula da princesa no reino da burrocracia

Era uma vez, no reino encantado da burrocracia, uma princesa estrangeira que vivia encastelada. Sua vida não era exatamente ruim, diga-se de passagem, tinha conforto, segurança e sempre encontrava alguma maneira de se divertir.

Uma parte considerável dos amigos da corte do seu país de origem, acreditava que ela recebia uma série de privilégios reais, que nunca passaram de lenda da carochinha. Afinal de contas e de contos, em terra de cego, quem tem um olho é angustiado. Está condenado a nunca conseguir compartilhar uma experiência por inteiro. Ou de sequer quererem ouvir suas experiências, porque nada diferente poderá ser melhor.

Pelas noites, às vezes ela se fantasiava de plebéia e ia se misturar pelas tabernas da cidade, onde apesar do odor acre e esfumaçado, era onde podia relaxar e ser quem era de verdade. Descobriu que nem era a única princesa, havia várias. Além do mais, entre princesas e plebéias, estrangeiros e nativos nem existia tanta diferença assim. Por algum motivo misterioso, quando o sol se punha, todos se pareciam muito. Talvez fossem as harpas mágicas dos druídas musicais, mas essa já seria outra fábula.

De tempos em tempos, por ser estrangeira, a princesa era enviada ao Castelo de Kafka para atualizar sua documentação. Apesar da frequência com que o fazia, nunca conseguia entender o caminho, porque a cada vez o trajeto era alterado pelo gosto dos bruxos burrocráticos, que precisavam garantir suas importantes funções no reino.

Em determinada renovação de documento, a princesa foi acompanhada pela maga advogada, que também não conhecia todos os caminhos secretos, mas possuía uma lanterninha com poderes de identificar alguns atalhos.

Ao se encontrarem, a princesa reclamou que já morava no reino da burrocracia há mais de cinco anos e, portanto, era seu direito receber um visto de trabalho. A maga lhe mostrou uma circular dizendo que sim, ela tinha esse direito e perguntou se ela queria uma cópia desse papel.

A princesa teve vontade de sugerir um local para que o tal papel fosse introduzido, mas era muito educada e a maga muito simpática. Se restringiu a dizer que uma circular não tem efeito nenhum enquanto em seu documento estivesse escrito que não a autorizava trabalhar.

A maga concordou que era absurdo e que o reino provavelmente fizesse de propósito, pois era uma maneira de fazer que os estrangeiros ficassem como cachorros,  correndo atrás dos próprios rabos.

Perfeito maga, e o que fazemos então? Porque isso é inaceitável!

A maga se lembrou que tinha um amigo bruxo, muito simpático e acessível (para ela), entrou por um atalho e foi com a princesa conversar com ele. Expôs a situação a ele, que concordou com o fato da princesa poder trabalhar, pelo tempo que levava no reino. Inclusive, citou a mesma circular que a maga havia comentado. A princesa repetiu que o papel não adiantava muito enquanto constasse em seu documento por escrito que ela não podia trabalhar.

O bruxo concordou, e admitiu que realmente muitos outros nobres estrangeiros encontravam esse problema. A princesa novamente teve pensamentos em linguagens inapropriadas à sua educação. A maga perguntou se, nesse caso, não era possível remover a maldita frase do documento, já que era um direito comprovado da princesa. Ele respondeu que sim, entrou no seu computador mágico e removeu a frase apertando um botão de deletar com seus dedos mágicos! Piscou para a maga, fez meia dúzia de brincadeiras e assim, em minutos, a situação foi resolvida.

A princesa ficou pasma! Por um lado, radiante por finalmente, após cinco anos de perrengue, resolver seu problema, ter um mínimo de dignidade cidadã restaurada. Por outro, revoltada em saber que tudo que vem enfrentando seguia regras tão rígidas que eram capazes de serem alteradas, manualmente, com um botão apertado por um bruxo, que na hierarquia dos bruxos, nem estava em um nível tão alto assim.

Como a princesa não era idiota, ela não poderia ser feliz para sempre, mas seria feliz. E sabendo que essa história se não for ilegal é imoral, era melhor que virasse uma fábula.

Novidades na província!

Semana passada foi intensa! Na verdade, nem posso dizer que foi toda a semana, porque quase tudo se concentrou na quinta-feira. Então, vou cortar o blá blá blá e vamos direto ao assunto.

Foi assim, acordei pelas oito da matina, com Luiz sussurrando: sua cidadania espanhola foi aceita, achei que valia a pena te acordar!

Hein?! (meu cérebro pela manhã é próximo ao de um macaco filhote)

Quase todos os dias ele checava pela internet o status dos nossos processos. O dele foi aprovado há um par de semanas atrás e estávamos na espectativa do que aconteceria com o meu. Em teoria, seria a mesma coisa, mas já me sacanearam tanto com documentação nesse país que sou gata escaldadíssima! Achei mais prudente aguardar.

Finalmente, no dia 22 de setembro, mais ou menos dois anos depois de iniciarmos o processo, a minha cidadania foi aprovada!

Fiquei brincando dizendo, bem que achei que hoje acordei con una mala leche… joder… é que já era espanhola!

Muita calma nesse momento, isso quer dizer que ainda temos que jurar bandeira, tirar certidão de nascimento e só depois poderemos tirar o DNI (carteira de identidade espanhola) e o passaporte. Ou seja, vai mais um ano de burocracia, mas dessa vez sabemos que a resposta é sim. É outro ânimo!

Voltando à quinta, claro que comecei a quicar na cama e levantei logo em seguida, sem nem acreditar! Doida para ligar para meus pais, mas ainda era muito cedo no Brasil. Não sabia se contava para alguém, se devia ficar quieta, acho que precisava de um tempo para realizar que era verdade antes de divulgar.

Ainda pela manhã, me ligaram da ótica, seus óculos ficaram prontos! Pois é, agora eu uso óculos! Usei óculos por uns 4 anos, quando era garota, talvez entre os 7 e 11 anos, por aí. Mas o problema regrediu e, até o momento, ia muito bem obrigada. De repente, não mais que de repente, minha vista esquerda começou a piorar e ficar bastante incômodo para ler e usar o computador. No início da semana, quando caminhávamos pela rua, Luiz me arrastou para uma ótica (os exames aqui são feitos em uma ótica normalmente) e constatamos que sim, precisava de óculos! Os quarenta sempre mandam a conta em algum momento!

Tudo bem, nem cheguei a me estressar, escolhi um óculos bem estiloso, fico com cara de professora intelectual! Achei curioso no mesmo dia em que a cidadania foi aprovada, também mudar meu visual. Teve gostinho de ritual de passagem.

Cara de inteligente!

 

Para completar, meu amigo francês me confirmou o estágio em Paris. E se nada mudar, isola, devo começar em 15 de novembro a trabalhar com um chef na área de catering.

Enquanto isso, na sala de justiça, toco a estudar francês! Peguei uns livros fáceis de ler também, para dar uma praticada. Estou bastante empolgada e agora tenho que escrever rápido porque preciso terminar meu dever de casa! Fui!

Aula de francês em Madri

Ontem foi minha primeira aula particular de francês. Gostei.

Em princípio, queria fazer em casa mesmo, já que é o mesmo preço. Entretanto, agora para setembro não daria tempo de se agendarem. Como não queria perder nem mais um dia, topei fazer na própria Aliança Francesa, em um horário também um pouco mais tarde que o solicitado.

Às vezes é bom dar uma chance ao caos, porque para ser sincera, até que gostei de ir até lá, me força a sair de casa e ir com a cabeça voltada para isso. É possível que acabe seguindo esse mesmo horário que era provisório.

Desde fevereiro que não falo uma palavra em francês, não tenho com quem praticar. Falar sozinha como uma doida em conversas imaginárias é meio bizarro, então, fui perdendo a fluência. Cheguei a pensar que havia perdido tudo, o que dá um pouco de desânimo, mas não é meu primeiro idioma aprendido, já sei que assim que a gente esquenta os motores, começa a vir de algum lugar escondido no cérebro e você fala.

Então, lá fui eu e minha cara de pau para a aula. O professor é do sul da frança, um sotaque mais claro que o parisiense, melhor para quem está aprendendo, eu acho. Minha primeira impressão foi boa, pareceu simpático e seguro.

Começamos a conversa em espanhol, para explicar o que estava pensando, porque queria ter as aulas, se ele poderia dar um enfoque no vocabulário relacionado à gastronomia etc. Ele me fez uma proposta de como conduzir o curso, falou sobre o método dele e senti firmeza.

Não deixava de ser engraçado, considerando que sou brasileira, ele francês e estávamos nos entendendo em espanhol, para ter aulas de francês em Madri. Mais estranho ficou quando pedi para ele ligar o ar condicionado e ele teve dúvidas porque o comando estava em inglês, e eu traduzi. Que babel!

Muito bem, a partir daí ele me disse para seguirmos em francês, até para ele avaliar em que nível estava.

Olha, é o seguinte, uma coisa que já entubei há anos é não ter vergonha de falar errado. Porque pior é ficar travada resistindo e não falar nada. Sendo assim, j’engatê la primerrá e saí tentando falar o melhor possível. Obviamente, algumas palavras eu invento no caminho, mas modéstia às favas, até que saiu mais natural do que imaginava.

Ele me deu uma animada dizendo que estava falando bem, havia um ou outro erro que ele foi me corrigindo e chamando atenção. Mas o importante é que conseguia me comunicar e me fazer entender, se não por um caminho, por outro.

Beleza, então vamos nessa!

Achei legal que ele também começou a me passar vocabulário de cozinha, como nomes de panelas diferentes, por exemplo. Não precisamos falar só sobre isso, mas é uma área importante para mim.

Saí da aula toda empolgada. Por um lado por ter gostado, mas principalmente por ter começado a fazer alguma coisa nesse sentido, dado mais um passo. Faz nossas metas parecerem mais reais. Se elas serão alcançadas é outra história, mas detesto improvisar, principalmente quando não preciso. Estou pleiteando um estágio em uma área onde nunca trabalhei antes, em outro país e com a barreira da língua. Se puder pelo menos amenizar algum desses pontos, muito melhor, né?

Pois que assim seja, vamos ver como evolui e depois eu conto.

Bon courage!

Santa echinácea!

Quando temos animais por algum tempo, parece que vamos desenvolvendo um tipo de instinto de bicho. Rola uma certa simbiose que às vezes chega a ser engraçada, seu animal fica um pouco parecido com você e vice-versa.

Entendemos sua língua, seus sinais e seus hábitos. Bom, também pode ser um estágio de loucura, mas hoje vou fazer de conta que é só poder de observação. É um pouco como mãe de bebê muito novo, que aprende os sons e significados diferentes que cada choro quer dizer: fome, dor, manha, sono…

A gente aprende a distinguir sintomas por maneira indiretas. Nem sempre é pelo que não está bem, pode ser pelo que não está igual. Pode ser por coisas que ele faz ou pelo que ele deixa de fazer.

Minha gata, a que morreu, tinha uma maneira muito especial de me avisar quando tinha uma infecção urinária, fazia xixi fora da caixa de areia, bem do meu lado. Mesmo que isso fosse na nossa cama… Bastante desagradável, mas vamos combinar, uma maneira bem inteligente e direta, quase apontando para a raiz do problema. Gatos são limpíssimos, pelo menos os meus nunca fazem absolutamente nada fora da caixa, ou seja, era um sinal claríssimo que alguma coisa estava errada. Nos seus últimos meses, com a asma acelerada, precisava tomar injeções de tempos em tempos e era melhor adiar o máximo possível. Aprendi a notar quando sua respiração mudava, a escutar seus pulmões com a orelha colada na sua barriga e, pode acreditar, chegava a cheirá-la, como se fosse felina também. Concordo que a parte de cheirar era meio absurda, mas era absolutamente instintivo.

Jack é saudável, mas é um senhor de quase 11 anos, bastante para um gato, principalmente gordinho como o nosso. Bom, pelo menos me diziam que com seu peso provavelmente tivesse uma vida mais curta. Nós optamos que ele fosse feliz, que comesse o quanto quisesse. E verdade seja dita, seu peso nunca me preocupou, porque ele não engordou de repente, ele sempre foi assim, desde filhote é grande e guloso. Acontece que seu peso é estável, ele não continua engordando, o que para mim significa que esse é seu peso ideal. Eu gosto dele gordo. Francamente, como é que um gato meu seria mal alimentado? Mas nunquinha!

Não notava nada que pudesse significar que tinha algum problema de saúde. Estava comendo normalmente, intestinos funcionando igual, a locomoção diminuiu com a idade, mas sem nenhum sinal de dor. Acontece que tinha uma coisa que me incomodava, que parecia estar faltando. Jack estava menos pateta.

Ele é nosso pateta feliz, essa é uma das suas principais características. Ele é meio bobão, brincalhão como um filhote e está sempre feliz. De uns tempos para cá, achava ele muito comportado, quieto, continuava ronronante, mas não fazia mais besteiras. Achei que podia ser da idade, mas sabe quando alguma coisa não bate?

Queria dar uma injeção de ânimo nele! Em casa, quando acho que precisamos de mudanças, mudo nossa alimentação, incluo ingredientes que funcionam para aumentar a endorfina ou algum tipo de vitamina específica. Mas como fazer isso com um gato? Quer saber, Jack, você vai entrar na homeopatia, vamos aumentar sua resistência!

Comprei echinácea, que é uma planta considerada antibiótico natural. Vem em cápsulas de 250 mg, em pó. Até onde pesquisei, não achei contra indicação, é um produto natural. Divido a quantidade por três e misturo esse pó com uma colher de chá de patê A&D, da Hills. Ele nunca gosta de nada da Hills, mas esse patê é imbatível! Há mais ou menos um mês ele toma essa mistureba uma vez ao dia, na hora que vou, digo, vamos (eu e Jack) tomar nosso café da manhã.

Olha, não posso garantir que foi por isso, mas de uma semana para cá, começo a notar diferença no seu comportamento. Voltou a ser um pateta, doido para fazer uma besteira! Corre pela casa, mia para as pombas na janela, voltou a fazer perseguições imaginárias a seus ratinhos de brinquedo, sobe em lugares mais complicados e hoje cismou que estava na hora de me acordar de qualquer maneira, com direito a pata na cara e bigodes fazendo cosquinha no meu nariz.

Até um tipo de cisto sebáceo, que estava em seu rabo, estourou sozinho. Pode ser seu corpo reagindo.

Pelo sim e pelo não, echinácea nele!

Entre mais altos que baixos, vamos seguindo

Na terça-feira, acordei com a corda toda, naqueles dias que você está cheia de bom humor e energia. Pensei, perfeito, preciso fazer duas coisas muito importantes hoje, me matricular no pilates e no francês.

Para mim, uma coisa dificilmente é uma só, são pontas que se unem. Já há algum tempo me preparo para um ciclo novo e preciso fazer alguma coisa para que ele siga seu curso.

Preciso cuidar melhor do meu corpo, a gente pode chamar de saúde, de vaidade, do que quiser, mas cada vez tomo mais consciência que tudo cobra seu preço e quanto melhor me cuidar agora, menor sofrimento depois. Digo menor, porque que ele virá, virá, mas pode ser amenizado e razoável.

Quero entrar no pilates há séculos, mas sempre tem algo que atrapalha, uma viagem, o preço, o local, o mês errado… chega! Achei um bom centro a 5 minutos da nossa casa. Não tem milagre, é caro. Paciência, eu que tome menos vinho! Já fiz a matrícula no mesmo dia que pedi as informações, porque se trago o folheto para casa, os problemas iam continuar aparecendo. Assim não tinha desculpa.

De lá mesmo, segui para a Aliança Francesa, para me informar sobre as aulas. O curso só iniciaria em outubro, o que me faria perder um mês. Então, decidi começar o mais rápido possível com aulas particulares.

O que acontece é que estou tentando fazer um estágio com um chef em Paris. Em princípio, meu amigo francês está me ajudando a conseguir alguma coisa a partir de meados de novembro. Não sei se vamos conseguir, se vai dar certo e blá, blá, blá. Mas nunca tenho certeza de nada mesmo, então, pelo sim e pelo não, resolvi me preparar de toda maneira. Na pior das hipóteses, melhoro em um dos idiomas e tenho um plano.

Ter planos é fundamental.

Voltei toda animada para casa, feliz por estar tomando algum rumo que se parecesse à normalidade, um gostinho de rotina temporária. Senti um calafrio, porque reconheci a sensação que tive em Atlanta, quando voltava serena de um supermercado, pensando que poderia me adaptar ali. Nessa mesma noite, descobrimos que tinha dado uma merda generalizada na empresa e que provavelmente não ficaríamos mais no país, e isso com nossa mudança no meio do oceano. Mas essa foi outra história que já contei aqui em algum lugar. O que importa dizer agora é que aprendi a reconhecer essa calmaria antes da tempestade.

Felizmente, também aprendi a disfrutar da calmaria até o último minuto. Porque tempestades dão e passam.

Estava tão contente na terça, que nem me dei conta que não havia tido nenhuma notícia do Brasil naquele dia. Depois estava meio ocupada com os preparativos da feijoada, me toma uma semana de trabalho.

Na quarta-feira, procurei minha mãe pelo MSN para contar as novidades. Quando achei, ela me escreveu que ia me ligar. A gente sempre se escreve, porque é muito mais prático e sai mais em conta, a gente fala pouco por telefone, só quando é muita coisa para explicar.  “Vou te ligar”, tradução: deu merda! Chegou a tempestade.

Resumindo a ópera, os pontos da barriga do meu pai estouraram em casa. Ele precisou voltar para o hospital e colocar um tipo de tela, porque só a pele não estava aturando. Ficou internado até domingo. Não é que tenha sido grave, mas é difícil de ver, sai muito sangue e minha mãe perdeu o controle, estava bastante fragilizada. Por sorte, meu irmão estava em casa e ajudou a segurar a barra. É uma porrada atrás da outra e isso vai minando a resistência das pessoas. A minha também. Fiquei mal porque me pegou meio vulnerável, tinha baixado um pouco a guarda quando a gente descobriu que ele não tinha outro tumor. Perguntei se ela queria que eu voltasse ao Brasil, mas ela falou que não era necessário, que ele já estava bem.

Fiquei na dúvida se deveria adiar a feijoada do Luiz. Ao mesmo tempo, o esquema estava todo montado, as camisetas estavam prontas, as carnes descongeladas, as bebidas compradas… e aí, o que faço? Como é que vou cozinhar assim? E logo feijoada, vou salgar essa bosta toda, cassilda! Por outro lado, a maior expectativa gerada, se adio agora, claro que todo mundo entende, mas só vai atrair uruca e pena. Não é disso que a gente precisa.

Então, entre uma choradinha e outra, achei mais produtivo melhorar a cara e tocar o barco. Agradecimento especial ao Martinho da Vila e ao Arranco de Varsóvia que não saiu do som, acho que o CD até gastou na música dizendo que “a vida vai melhorar”. Pois melhorou. Acho que cada um tem sua maneira de rezar, a minha é bem esquisita. Talvez tenha fé no otimismo.

Na quinta-feira, minha primeira aula de pilates. Cheguei com um pouco de vergonha de quem não tem muita idéia do que se trata, mas achei que não seria prudente ir dizendo logo de cara que queria ficar igual a Madonna. Fui preparada psicologicamente para não me afetar caso pegasse uma professora antipática e grosseira, o que não aconteceu. Na verdade, ela foi bem atenciosa e gentil, o que ajuda muito.

Não parece nada você se exercitar deitada, ainda que a tal cama pareça um objeto medieval de torturas. Acontece que se exercita e eu gostei. Vou voltar.

Cheguei em casa mais animadinha e Luiz me diz que tínhamos uma reunião no apartamento de uma amiga do trabalho, para fazer e tomar caipirinhas, lembra? Claro que não lembro. Achei que era só um comentário, não havia entendido que era um compromisso marcado e não tinha a mais remota vontade de encontrar ninguém. Mas era o pessoal do trabalho dele e isso para mim, entra na categoria “trabalho-tem-que-ir-e-fazer-seu-papel”.

Foi bom ter ido, no final das contas, o pessoal era bem legal, foi descontraído e divertido, funcionou para espairecer e pensar em outras coisas. Além do mais, ela tem uma terraza ótima e a temperatura estava perfeita. Eu realmente devo estar ficando velha, porque a temperatura agora me afeta diretamente o  humor. Engraçado que já nem é um assunto coringa para evitar momentos de silêncio constrangedor, passei a gostar de conversar sobre o tempo.

Enfim, aproveitei a maré de relaxamento e quando cheguei em casa, fui cozinhar e adiantar algumas coisas para sábado.

Na sexta-feira, acordei com a campainha, era a senhora vizinha de baixo. Havia um vazamento no apartamento dela e precisava entrar em contato com o proprietário. Não estou acreditando que isso está acontecendo hoje! Nas vésperas de ter quase 40 pessoas em casa, tudo que eu preciso é de um banheiro interditado e uma vizinha aborrecida! Respira fundo! Ahummmmm…

Falei com o proprietário, que por sorte é um amigo e super gentil. No mesmo dia ele enviou o responsável pela obra, que tratou de acertar o problema imediatamente, enquanto eu seguia enlouquecida na cozinha.

Vamos complicar um pouquinho mais? Levantei com a maior dor nas costas, parecia muscular e não um problema de verdade, mas era bem incômodo. O resto da musculatura não estava dolorida. Pensei que eu era uma zebra em começar a ginástica um dia antes do pico de trabalho para a feijuca, mas já era. Tratei de colocar a cinta na coluna, para não piorar e fui mandar a pera no fogão.

Não sei que raio fiz que o fogão pirolítico total começou a acender todas as luzezinhas ao mesmo tempo e não havia cão que o fizesse sair do loop e ligar. Nem sei se fiz realmente alguma coisa, porque quando fico agitada parece que a energia sai pelas mãos e toco a pifar coisas! Pensa, Bianca, é um equipamento eletrônico! Fui na chave geral, desliguei e religuei toda a energia da casa (afinal, não sei qual é a chave específica do fogão). Acredite se quiser, funcionou!

Muito bem, vamos começar outra vez! Quando os operários foram embora, pelo menos, podia cantar sozinha como uma louca! Logo fui entrando em automático e me convertendo na polva de sempre.

Quando o fuso permitiu, falei com meus pais, como todos os dias, e as coisas corriam no seu curso. Ele deveria deixar o hospital pelo domingo, ainda que minha mãe preferisse que ele ficasse um pouco mais. Não posso dizer que fiquei tranquila, não estou até agora, mas também não havia nenhum perigo iminente.

Comecei a arrumar a casa, mas preferi esperar o Luiz chegar para me ajudar, porque fiquei com medo de piorar as costas. A gente faz uma revolução para abrir espaço e tornar o ambiente mais prático.

Pelas tantas, fui dormir com tudo encaminhado. Arroz, couve de mentira, farofa, laranja, vinagrete, carne seca desfiada, calabresa acebolada, tudo de direito! Só faltava refogar o feijão, que já estava pronto curtindo as carnes, mas é que o refogadinho gosto que seja na hora. No dia seguinte, o Luiz só precisava pegar o bolo encomendado, pão e gelo.

Uma coisa curiosa, há duas regras de festa que nunca batem com as nossas. A primeira delas é aquela história de marcar um horário antes do desejado, porque as pessoas vão atrasar; a outra é chamar uns 10% a mais de convidados porque alguém sempre falta. Considerando que a feijuca estava marcada para às 15hs, com uns 30 convidados em mente e o primeiro dos 38 amigos presentes chegou às 14:30hs… cada um que tire suas conclusões. Só digo que não nos surpreendeu, a gente conhece o esquema e para mim, quanto antes comece, melhor!

Verdade que pelas 14hs, Luiz postou uma foto da feijoada no facebook, coisa que deve ter sugerido a galera que  não se atrasasse porque a coisa ia a sério.

 

Quem está na chuva, é para se queimar, já dizia Vicente Mateus. E já acompanhei logo o primeiro convidado na cachacinha pura, envelhecida como deve ser.

 

O único momento de preocupação para mim é na hora de esquentar a feijoada, porque preciso tomar muito cuidado para não pegar no fundo e, ao mesmo tempo, garantir que tudo chegue quente à mesa. Não é uma tarefa simples se você não está em uma cozinha industrial. E, nesse caso, ajuda é pior, a probabilidade que eu queime alguma coisa é imensa, viro um bulldog antipático e rosno se alguém chegar perto! Não quero nem papo!

 

Fora esse momento de tensão, o resto, aproveito tudo! Chuto o pau da barraca mesmo, é todo mundo de casa! E na minha casa todo mundo é bamba, todo mundo bebe, todo mundo samba…

Rolou uma batucadinha para animar. Não foi a mesma coisa sem nosso amigo músico puxador oficial das canções, que voltou para o Brasil. Mas deu para a gente se divertir. Sabe que, às vezes, quando rola aquele coro de vozes cantando junto, bate até uma emoção! E agora sei quantas pessoas cabem na sala (ou espalhadas pelo apartamento).

 

Houve uma certa rotatividade, teve gente que foi mais cedo, gente que chegou mais tarde, gente que foi e voltou… Pelas tantas, fui fazer mais arroz com duas amigas e começamos outra vez!

Não tenho idéia de que horas acabou, todos os relógios da casa piscavam porque a luz caiu um par de vezes. Só sei que não tive condições de fazer absolutamente nada! Costumo ajudar o Luiz com a arrumação da casa, porque só vamos dormir com as coisas organizadas, mas dessa vez, capotei!

Pela manhã, escutei uma esfregação para lá e para cá e achei que era melhor ficar bem quietinha, me fazendo de morta, coisa que nem foi difícil, já que estava mortinha mesmo! Quando me atrevi a levantar, a casa estava limpa e cheirosa, nem parecia que havia passado um tufão no dia anterior.

Ressaca zero! Nem acreditei, só agradeci! Assim que consegui juntar cré com lé, liguei para o Brasil e meu pai tinha recebido alta. Menos uma encrenca! Ufa!

Ficamos sossegados o resto do domingo. Saímos para jantar aqui perto, abriu um brasileiro novo na Calle Santa Brígida e fomos lá conferir. Aproveitamos e descemos com o resto do lixo, garrafas etc. Missão cumprida!

E, a propósito, não salguei a comida. Atrevo-me a dizer que foi uma das melhores feijoadas que fiz! Aos amigos que não puderam vir, sinto de verdade, não é falta de carinho, é falta de espaço mesmo. E os que vieram, definitivamente, trouxeram um astral perfeito e deixaram a casa muito mais feliz.

A tal da ração humana

Nessa última ida ao Brasil, estávamos de carro com um amigo, quando olho para o lado e vejo uma vitrine com o seguinte cartaz: temos ração humana.

Hein?! Agora entre as tribos paulistanas se encontraria alguma de canibais?

Não entendi nada, mas como Luiz e meu amigo continuavam conversando como se nada parece realmente anormal, deixei para lá.

Uns dois dias depois, recebo um e-mail de uma amiga de Madri, me pedindo se era possível levar para ela ração humana! Como assim? Isso está me perseguindo!

Enfim, foi ela quem me disse que se tratava de um tipo de dieta “da moda”… e que a irmã dela já tinha perdido uns 9 kg! Mulherada, vamos combinar, para perder 9 kg a gente come até cocô em pó, fala sério!

Bom, fiquei interessada, mas não achei a tal da ração para vender, nem me lembrava mais onde foi a bendita loja em que havia visto o anúncio na vitrine.

Muito bem, assim que cheguei em Madri e tive um pouco mais de tempo, resolvi investigar pela internet e achei algumas receitas caseiras. A gente mistura uma série de ingredientes ricos em fibra, tritura, e esse pó se toma com leite, iogurte ou suco. Pelo que entendi, a proposta é substituir uma ou duas refeições, dependendo de quanto peso se queira perder, por essa bebida turbinada. A idéia é que toda essa fibra vá mudando um pouco seu metabolismo, de maneira que seu intestino funciona melhor e o corpo absorve menos gordura. Além do mais, ao substituir uma refeição, você também estará diminuindo as calorias consumidas.

Olha, a essa altura do campeonato, não custa tentar, Luiz e eu resolvemos dar uma chance para a tal da ração. Começamos a tomá-la no café-da-manhã, e no jantar durante a semana. Fim de semana é liberado. Luiz toma com leite integral, tomo com leite semi-desnatado ou iogurte. No jantar, além da ração, como uma salada e alguma proteína magra. Luiz toma só a ração. Almoço normal, procurando não abusar durante a semana.

Em princípio, me pareceu prático e o sabor é bom, neutro com um toque de aveia ou castanha. Vamos ver com o tempo se funciona mesmo e depois conto por aqui se a gente deu conta.

Adaptei a receita para os ingredientes que encontro por essas bandas, e para quem também quiser tentar, segue abaixo:

Ingredientes: (todas as colheres são de sopa)

–         5 colheres de farelo de aveia

–         5 colheres de farelo de trigo

–         5 colheres de gérmen de trigo

–         5 colheres de lecitina de soja

–         3 colheres de quinua em flocos

–         1 colher de levedo de cerveja

–         1 colher de castanha-do-pará

–         1 colher de amêndoas

–         1 colher de semente de gergelim

–         1 colher de semente de linhaça

–         1 colher de gelatina natural

Bater todos os ingredientes juntos no liquidificador e guardar em um pote na geladeira. Essa quantidade nos dá para mais ou menos 5 dias, vai depender de quantas vezes ao dia se consuma. Se aconselha a não guardar essa mistura por mais de 10 dias. Melhor fazer fresco semanalmente.

Tomar entre uma e duas colheres de sopa, misturadas ao leite de vaca (de preferência desnatado), leite de soja, iogurte ou suco natural.

Eu não usei, mas algumas receitas também incluem o guaraná em pó, que de manhã deve dar uma boa energia, entretanto não encontro por aqui. Se não conseguir tomar sem açucar, melhor optar pelo mascavo. E se sentir falta de um pouco de sabor para não enjoar, recomenda-se o cacau em pó.

É fundamental beber bastante água durante o dia, afinal, a fibra só funciona a seu favor quando seu organismo está bem hidratado.