O último dia do estágio

Passadas duas semanas de trabalho, percebi que já não havia grandes novidades, ou pelo menos, nada que eu percebesse que fosse aprender. Vou ser sincera, fui para Paris no espírito de absorver e aprender o máximo possivel, mesmo que isso incluísse algumas roubadas, afinal, não da para escolher só a parte legal do trabalho. Mas não tenho mais 18 anos nem preciso tanto assim para encarar roubadas sem maiores retornos. Com esse pensamento, conversei com meu amigo francês para ver se a gente achava alguma outra alternativa dentro desse periodo que tinha disponível. Como por exemplo, algum restaurante.

Mas me dispus a cumprir os compromissos assumidos na última semana. Bom, na minha cabeça era a última, mas não havia ainda conversado com o chef. Para variar, a comunicação foi difícil e confusa, mas ficou combinado que eu me encontrava com ele na saída do metro, às 15h30, e de lá íamos trabalhar em um jantar. Não ficou claro se era mis en place… se era direto no local do jantar… para quantas pessoas… enfim, o de sempre, mas também já estava sem saco de ter que espremer informação a conta gotas.

Pelas 14h, ele me ligou dizendo que estava atrasado e transferiu nosso compromisso para às 17h30. Putz, outro dia que poderia ter aproveitado em algum curso ou outra coisa e fiquei de plantão esperando. Tudo bem, vai.

Cheguei no local combinado um pouco antes. Como Murphy nunca falha, estava uns 3 graus e chovendo de maneira intermitente. Cassilda, esperar na rua assim é um saco, mas vá lá, queria encerrar a coisa direito. Resumindo a ópera, uns 15 minutos de espera, liguei para ele para saber se estava vindo ou se me abrigava em algum lugar. Ele não atendeu. Meia hora de espera liguei outra vez e ele disse que estava a caminho, ainda que o telefone não soasse como alguém que estivesse sequer na rua. Quarenta e cinco minutos depois, sem exagero, enchi meu saco e fui embora. Depois fiquei sabendo que ele chegou com uma hora de atraso. Vamos lembrar, eu estava em pé na rua, na chuva e no frio.

Nesse período em que eu voltava para casa, ele ligou para meu amigo francês e perguntou por mim. Ele já sabia do acontecido e respondeu que eu congelei e vim embora, o que deixou o chef meio sem graça.

Para ser bem honesta, achei só mais ou menos ruim. Esperar foi chato, mas por outro lado, tirou o mico das minhas costas e se estava meio sem graça em deixar o estágio antes, naquele momento ficou bem claro que era o melhor a fazer.

Em paralelo, começamos a nos movimentar para ver se surgia algum restaurante e eu aproveitava o restante do tempo; ou se voltava para Madri e deixava para uma outra ocasião. Acontece que a essa altura, também já não estava disposta a topar qualquer coisa. Queria um estágio estruturado ou nada. Esse negócio de pousar de pára-quedas e ver o que acontece tinha dado para mim.

Bom, até pintou um restaurante que concordava em me receber. Fui lá com meu amigo de “espiã”, ou seja, sem me apresentar, como se fosse uma cliente normal. Era um bistrot cotado entre os melhores e bastante conhecido no meio político. Como cliente, achei excelente, mas fiquei na dúvida se seria uma boa experiência para trabalhar. O lugar tem bastante movimento, a escala e rotatividade são relativamente grandes e o cardápio bem tradicional, diferente do que quero fazer. A cozinha era aberta e funcionava apenas com 4 empregados, realmente não sei onde iriam me encaixar e muito menos imagino que alguém fosse ter boa vontade e tempo para me ensinar alguma coisa. E para completar, achei que a resposta foi rápida demais para que tivessem pensado em qual seria o meu papel, provavelmente, lá ia eu ficar meio no ar outra vez.

Quer saber, resolvi seguir meu instinto e ele me dizia para voltar para casa e absorver o que foi melhor da experiência.

E, apesar dos pesares, a experiência foi muito boa! Não fui para fazer amigos, fui para entender e pensar em um modelo de negócio. Posso dizer que essa idéia está bem mais clara na minha cabeça agora. E sim, é viável, mas depende de onde o estabeleça.

O chef com quem trabalhei, podia ser confuso e estar acostumado a trabalhar sozinho, mas era um bom chef de cozinha. Não sabia me transmitir conhecimento, mas eu sabia o que estava buscando e, verdade seja dita, também não me omitia nada.

Meu amigo francês, onde fiquei hospedada, já foi dono de mais de um restaurante e aproveitei para aprender com ele também. Além do que, a gente comia bem pacas! Nosso assunto mais frequente era a comida!

Encontrei mais duas amigas brasileiras que estavam por aquelas bandas e foi legal sair algumas vezes. Ainda que a maior parte dos dias foram de trabalho mesmo.

Então, sim, valeu muito a pena! Mas diferente de todas as apostas, incluindo as minhas, voltei antes e não depois do tempo previsto.

Fiz várias compritas interessantes, obviamente, tudo ao redor da cozinha. Segundo Luiz, sou uma mulher muito estranha… fico exultante com panelas, facas ou eletrodomésticos! Mas fazer o que? É verdade.

Desde que cheguei, já fiz vários testes e adaptações de receitas. Desafio complicado quando você e seu marido estão de regime. Entretanto, juro que fora uma Tarte Tatin, tudo razoavelmente leve, pouco calórico e bem gostoso. Tanto que não engordei e Luiz segue emagrecendo.

Agora preciso sentar e colocar todas as idéias no papel (ou na tela do computador) para não perder o momento. Hora de planejar os próximos passos e que o ano que vem chegue com deliciosas oportunidades!

2 comentários em “O último dia do estágio”

  1. Bem Bianca eu vi uma vez um documental sobre o chef em casa, quer dizer o chef ficava na casa dele e os convidados iam comer la, normalmente de cinco a 8 pessoas nao mais, sabendo antes quanto iam pagar, mas nao o que iam comer,
    muito interessante a proposta para uma cozinha de mercado, com toques modernos, fina e elegante.
    Claro Bianca embora eu creio que a ideia do negocio vai se estruturar melhor na sua cabeça, vc necessita e muito um estagio ou trabalho com um grande chef, senao miou , a nao ser que vc se restrinja ao seu grupo de amigos realmente fica muito dificil voce montar um negocio que seja rentavel ao nivel que vc quer.
    Outra coisa espero que vc nao fique chateada comigo, mas sua tarte tatin estava de pena.
    Claro que era a primeira vez mas a receita que voce tem è ruim em todo, primeiro maças gala, na Espanha nao servem pra reposteria sao mediocres, tem de ser maça reineta ou gris canadense, como se conhece no Brasil, porque somente essa maça, que nao serve pra comer, è feia e verde te aportara a jugosidade e classe a esse postre , tambem formara como uma gelatina que engrossara a calda e aumentara o volume, segundo cortar em quatro nao ao meio, ao final as maças ficam carameladas e banhadas na calda, e nao precisa virar somente molhar coma a calda que se forma, terceiro a massa jamais folhada, e sim quebrada que seguro vc sabe fazer maravilhosamente, se nao a melhor tanto folhada como quebrada estao no Lidl ,e sao alemas estupendas com diferença de qualquer outra, o que voce acertou ? a forma perfeita, as especias pode ser, se for pra voce ,se for pra um cliente nao, porque ele espera uma tarte tatin original, entao vc pode criar com outo postre.
    Bem nao sei se devo pedir perdao ou nao comentar sei la Bianca, peço perdao se te magoei, ofendi, de alguma forma fiz vc se senti mal, nao foi essa minha intençao.
    Um beijo
    Antonia.

  2. Oi, Antonia! heheheh… não me ofendeu, algumas coisas concordo, outras não. Para ser sincera, uma das coisas que mais gostei nessa receita foi o fato dela ser bastante simples de fazer. E honestamente, ficou uma delícia! O principal problema que encontrei foi no ponto do caramelo, preciso ajustar. Quanto à massa quebrada ao invés da folhada, concordo com você, experimentei a folhada para ver no que dava, não ficou mau, mas gostei mais da outra. As especiarias não mudam significativamente o sabor, mas acrescentam um aroma bastante interessante e dá um toque de personalidade, principalmente o cardamomo. Na próxima, quero acrescentar um pouco de baunilha também. Não gosto da Tarte Tatin com gelatina. Vou experimentar fazer com as maçãs verdes (nisso também acho que você tem razão, da última vez, procurei, mas não encontrei), mas realmente prefiro elas só cortadas no meio e não em quatro. O que um cliente espera, depende muito, acho mais fácil mudar o nome da sobremesa, porque fazer as coisas sempre do mesmo jeito é muito monótono e tudo que não quero é me vincular à cozinha tradicional. Quanto à proposta desse chef que você falou, penso em alguma coisa próxima a isso, mas não seria a única frente. Besitos

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