Arrumar a mesa para um jantar especial

Quando você já tem alguma experiência gastronômica, ou ao menos alguém que faça para você, é hora de se atrever a oferecer um almoço ou jantar.

 

Dependendo do tamanho da sua mesa e do número de convidados, uma das opções é  servir à americana, ou seja, os pratos e talheres sobre a mesa e os convidados se servem e sentam-se em outros lugares. É a maneira mais simples, mas menos cômoda. Nesse caso, é melhor se preocupar com o menu e não oferecer nada que seja complicado comer. Por exemplo, cortar um medalhão no colo ou tirar o scargot da conchinha não é nada trivial. Portanto, antes de pensar em um prato que pareça chic, imagine se é prático.

 

Uma refeição à mesa tem seu charme e regras. A vida moderna e a intimidade com os amigos ou família permitem que você quebre algumas ou muitas delas, mas é bem diferente você quebrar um protocolo por ignorância que por opção.

 

Quer fazer algo bem informal entre amigos? Ótimo! Nenhum problema, mas às vezes você quer se exibir um pouquinho, né? Fazer alguma coisa mais elegante ou elaborada, homenagear alguém, enfim, acho que um prazer não elimina o outro.

 

Um ponto importante, sempre que você convida uma pessoa para sua casa é para que ela se sinta bem. O objetivo de fazer uma refeição mais especial é de homenagear seus convidados, se você acredita que é alguém que pode se sentir menosprezado ou intimidado com a formalidade, não faça. A idéia é que seu convidado saia se sentindo um rei, e não constrangido porque não sabe que garfo usar primeiro. Por outro lado, você foi convidado e não sabe bem por onde começar, se for amigo mais íntimo, pergunte com bom humor, brinque; se é uma pessoa mais tímida, faz cara de paisagem e observe o que os anfitriões fazem, pronto! Às vezes a gente esquece, ninguém nasce sabendo.

 

Mas os anfitriões precisam saber.

 

Em um jantar formal, até a ordem dos convidados na mesa obedece a um protocolo que considera a idade, sexo, nível de instrução e importância das pessoas. Mas vamos simplificar nossa vida? Essa parte a gente deixa de lado um pouquinho e vamos considerar que todos nossos convidados tem igual importância, o que francamente, para mim é verdade. Muito bem, de uma maneira ou de outra, é sempre a anfitriã quem senta primeiro à mesa e quem define a hora de levantar.

 

Portanto, anfitriã, sente-se e encaminhe os convidados aos seus locais. As pessoas gostam que alguém defina onde elas devam se acomodar, elas não querem tomar essa decisão.

 

Agora, por exemplo, muitas vezes sou eu quem servirá o jantar e preciso me locomover. Nesse caso, deixo claro qual é o meu lugar, normalmente pela facilidade de locomoção até a cozinha, e Luiz se encarrega de acomodar os convidados. Isso é outra coisa importante, quando se trata de um casal de anfitriões é bem mais fácil, porque a gente divide responsabilidades.

 

Então tá, mas esse é o durante. Antes, você precisou arrumar a mesa, certo? Muitas vezes a gente está careca de saber o que vai onde, mas na hora “h” dá um branco e sempre aparece aquele detalhe que te deixa na dúvida, do tipo, tem um lado para virar a faca? Pois vamos lá!

 

Talheres:

 

A ordem dos talheres segue a mesma ordem em que os pratos são servidos, de fora para dentro. Por exemplo, para a entrada você utilizará os talheres mais afastados do prato; e para o prato principal, os mais próximos. Do lado direito estarão as facas e colheres; do lado esquerdo, os garfos; e acima do prato os talheres de sobremesa, na posição em que são usados, a colher e a faca de sobremesa você usa com a mão direita e o garfo com a esquerda, a colher é mais acima, o garfo no meio e a faca abaixo, mais próxima ao prato. As lâminas de todas as facas são voltadas para dentro do prato.

 

Copos:

 

Os copos são arrumados na diagonal à direita acima do prato, com a possibilidade de serem alinhados ou, se forem mais de três, agrupados.

 

Para os copos alinhados, a ordem seguida é por tamanho, de maior ao menor, o maior à esquerda e o menor à direita. A taça menor estará à altura do talher que estiver mais à direita. Essas serão as taças de água e vinhos. A primeira e maior de todas, à esquerda, é utilizada para água, a seguinte taça é para vinho branco, e a terceira para vinho tinto. De maneira geral, a de vinho branco é a mais alta, mas há uma exceção, quando se utiliza copos específicos para cada tipo de vinho, nesse caso é provável que a taça de vinho tinto seja maior. Ainda que, ultimamente, tenho observado que essa regra tem sido colocada um pouco de lado, deixando-se sempre a taça maior para o vinho tinto, favorecendo assim, a apreciação do seu bouquet.

 

No caso de agrupá-los, na realidade serão duas filas juntas. A primeira fila, mais próxima ao prato, é absolutamente igual ao explicado acima, do maior para o menor, da esquerda para direita. Na segunda fila, centralizada com a primeira, seguirão as taças de champagne e licor e também seguem a ordem de maior para menor, da esquerda para direita.

 

Guardanapos:

 

De pano, por favor! Depois de todo esse trabalho, não vamos estragar por um detalhe. Todo mundo tem máquina de lavar, né não? Fica muito mais elegante. É possível até deixar um guardanapo de papel também para as mocinhas que podem ter ido com um batom mais vermelho e se sintam constrangidas em usar seu guardanapo lindo de linho bordado no Ceará, se for muito amiga, tudo bem. Mas essa foi uma coisa que já aprendi, se você recebe gente em casa, não pode ter pena de nada que seja utilizado. Se está com medo que quebre ou suje, não use! Por outro lado, qual é a graça de ter qualquer coisa que não se possa disfrutar? Use guardanapos brancos e depois põe tudo de molho na água sanitária, vai ficar limpinho, pode acreditar.

 

Há maneiras diferentes de dobrá-los e aqui seguem alguns exemplos https://buracodafechadura.com/2008/07/03/dobrar-guardanapos/. Mas por hoje, o importante é que estejam limpos, dobrados e colocados sobre os pratos ou suplats. Também existe a possibilidade de estarem dentro de uma das taças.

 

Para utilizá-los, devem ser dobrados ao meio, colocados no colo, do joelho para cima, com a parte que abre para dentro, ou seja, abertura virada para sua barriga. Assim você pode limpar seus dedos sem manchar sua roupa.

 

Aproveito para dizer que, ao terminar a refeição, o guardanapo não deve ser dobrado outra vez, mas simplesmente deixado sobre a mesa.

 

Entretanto, há uma exceção, quando você está hospedado na casa de alguém que utiliza guardanapos de pano, quando terminar de comer você dobra o guardanapo bonitinho e o deixa na frente do seu lugar. É uma maneira de demonstrar boa vontade e dizer para anfitriã que você é de casa, quer poupar o trabalho dela e ela não precisa se preocupar em trocar os guardanapos de pano em todas as refeições.

 

 

 

Complementos:

 

Pode ser colocado um pequeno prato para o pão, à esquerda do prato da refeição. Sobre esse pratinho, se coloca uma faca de sobremesa, em diagonal. O prato pode estar um pouco acima da borda da mesa, para facilitar a ulilização dos garfos. Esse pão é partido com a mão, a faca é utilizada para untá-lo. Se não for servido manteiga ou algo mais para untar o pão, a faca é desnecessária.

 

Acredito que uma jarra de água é sempre importante, a sede se mata com água, não com vinho.

 

Sal e pimenta é um dilema. Para os franceses é quase uma ofensa, é o mesmo que dizer que a comida não está bem temperada. Pessoalmente, não sou tão radical e acho que o gosto das pessoas é variável, portanto, não me ofende nem um pouco se alguém quer colocar um pouco mais de sal ou pimenta em sua comida. Prefiro os recipientes que moem na hora, tanto o sal como a pimenta.

 

Paliteiro? Preciso responder? Tenha dó, né? Vai no espelho e se olha palitando os dentes que coisinha mais linda! Enfim, não mesmo. Mas sempre deixo um fio dental visível no lavabo.

 

Um arranjo de flores é bonito, mas perigoso. Primeiro porque o aroma das flores pode influenciar no paladar, portanto, é necessário eleger o tipo de flor com bastante cautela. Outro problema é seu tamanho, além de ocupar um espaço importante, não pode estar na altura dos olhos, ou seus convidados estarão praticamente se desviando de um poste no meio da mesa para conversar.

 

Velas são muito charmosas, mas também não podem ser aromáticas e devem ser posicionadas de maneira que não atrapalhe a visão, não queime as mãos dos convidados, nem esquente os vinhos.

 

Hoje em dia, é difícil as pessoas terem espaço para uma mesa auxiliar, mas se for o caso, pode ser usada uma mesa de apoio ou aparador, onde fiquem os talheres e pratos de reposição, os talheres de servir, as garrafas de vinho, gelo, pão etc.

 

Toalha de mesa, usar ou não:

 

Sim, há regras, mas acho o seguinte: é bonito mostra, é feio esconde, pronto!

 

Teoricamente, mesas de vidro, por exemplo, não se forram. Na minha opinião, acho que depende, se você tem uma toalha linda, por que não? Por outro lado, acho mesas sem toalha mais charmosas, mesmo as de madeira, claro, se forem bonitas.

 

Uma coisa é importante, se não usar toalha de mesa, por favor, use suplat ou jogo americano, prefiro o suplat, fará uma composição melhor em função das taças.

 

Se utilizar uma toalha, deve estar limpíssima, imaculada, e bem passada. Como tamanho ideal, o fim da toalha deve coincidir com o assento da cadeira.

 

Nada impede em usar sua criatividade e cruzar passadeiras ou tecidos interessantes pela mesa. Só cuidado para não exagerar, uma mesa bonita aguça as sensações, mas o show pertence à comida.

 

O que os convidados devem levar?

 

Primeiro, estamos falando de um jantar mais elegante ou especial, certo? Porque quando já temos intimidade ou frequentamos a casa dos amigos, as regras vão se tornando cada vez mais flexíveis. Uma coisa é chamar um amigo para bater um papo em casa, naturalmente o convidado pergunta, levo alguma coisa? O anfitrião define, e o normal é trazer uma bebida ou aperitivo. Vamos combinar, ninguém pode ficar oferecendo tudo o tempo inteiro, é caro!

 

Mas no caso desse jantar mais especial, ou de ser a primeira vez que você vai à casa desse amigo, o que levar? Flores ou um presente para casa. Vinho ou outra bebida poderia considerar que você acredita que seu amigo não tem condições de te oferecer uma boa bebida. É ridículo, eu sei, mas é a regra, você quebra o protocolo se quiser e se souber que seu amigo não vai pensar essa bobagem.

 

Flores, que cor? Outra vez, é um pouco de frescura, mas regra é regra, novamente, você cumpre se quiser. Essa regra se aplica principalmente às rosas, o branco é sempre correto, amarelo é infidelidade, rosa é promessa de amor, vermelho é amor ardente. Não se oferecem rosas vermelhas a uma mulher jovem, nem amarelas a uma casada. É um arranjo colorido, e no meio tinha uma florzinha amarela de nada, ai cassilda, e agora? Relaxa, a dona da casa vai gostar. Mas não faça questão que ela arrume o arranjo naquele minuto, ela estará ocupada.

 

Bombons ou guloseimas podem ser simpáticos, mas você precisa ter certeza, por exemplo, que a dona da casa não está de dieta ou se não há ninguém diabético.

 

Vou repetir, são seus amigos? Vocês já se conhecem bem? Já foi um monte de vezes na casa deles? Pode levar vinho, bombons, o que quiser, ou nada. O que acabei de explicar é para a primeira vez, em uma ocasião especial ou mais formal.

 

A hora de levantar:

 

É sempre a anfitriã quem define o momento apropriado e se levanta primeiro. Os convidados acompanham.

 

Não há nenhum problema em passar todo o jantar e sobremesa na mesa, muitas vezes é o local mais confortável.

 

Entretanto, caso seja uma refeição mais longa, com vários pratos e tal, chega uma hora em que as pessoas se cansam de estarem sentadas no mesmo lugar. Às vezes alguém quer usar o toilet, outro quer dar uma fumadinha, enfim, os anfitriões precisam estar atentos a isso. Acho que após finalizar o prato principal, é possível ser flexível e continuar a conversa, o café, licores, os queijos e a sobremesa, no sofá. O momento exato, irá definir a anfitriã ao considerar a reação dos convidados.

 

Falando em fumar, vou dar minha opinião: na mesa NUNCA! Acho um desrespeito com a comida e com as pessoas. Se você não pode esperar o tempo de uma refeição para isso, definitivamente, você tem problemas! A única exceção é se absolutamente todos da mesa forem fumantes e não houver crianças por perto. Caso contrário, por favor, sem aquela perguntinha cretina do “vocês se incomodam?”. Sim, incomoda e fede, e de longe – que nunca é tão longe assim – fede também! Por outro lado, cortesia se responde com cortesia, seu amigo fumante se segurou o jantar inteiro, né? Na hora do café, ofereça a varanda ou uma possibilidade de saída rápida e dê uma folguinha.

 

Como agradecer:

 

O agradecimento é feito aos anfitriões no momento da despedida, isso é o suficiente. Mas esse agradecimento pode ser estendido ao dia seguinte, por telefone para amigos íntimos, e por correio quando se tratar de relações sociais. Um detalhe um pouco óbvio, se telefonar, não ligue cedo, só após às 14:00hs, os donos da casa foram dormir tarde, lembra? No caso do convidado que chegou de mãos vazias, pode enviar flores acompanhadas de um cartão.

 

Hoje em dia, com a prática da internet, é mais simples enviar um e-mail agradecendo, não vejo nada demais. É simpático e a pessoa lê na hora que puder.

 

Papel do convidado:

 

Quando você aceita um convite, em tese, está também aceitando que retribuirá esse mesmo convite. Por exemplo, se você aceitou comparecer a um jantar, deve em outra ocasião convidar seus amigos para sua casa ou a um restaurante. Não é necessário que você retribua no mesmo ou melhor padrão, se for possível ótimo, mas cada um deve respeitar suas próprias condições.

 

Uma curiosidade, homens solteiros convidados por um casal deveriam retribuir o convite apenas ao marido. Pois não ficaria bem uma mulher casada aceitar o convite de um homem solteiro, a não ser que a idade dos dois não deixasse a menor sombra de dúvida sobre essa relação. É mole?

 

Muito bem, lá vou eu mais uma vez, isso é o que diz a etiqueta, ainda que não dê a menor bola para ela. Chamo em casa as pessoas que tenho vontade de encontrar. Se me retribuem o convite, vou de bom grado, mas nunca esperei por isso. Meu prazer é ter amigos em casa e é a razão pela qual convido. E vamos combinar, na nossa sociedade, essa regra de só convidar o marido seria estranhíssima e, provavelmente, a esposa não convidada ficaria bem aborrecida.

 

Finalizando:

 

Toda essa arrumação pode variar de acordo com o menu oferecido, número de pratos, tipos de vinhos etc. Essas são as ferramentas e você usa como precisar ou quiser.

 

É importante lembrar que boa parte desses procedimentos foram gerados em outra geração, cultura, status social etc. Utilizar o mesmo protocolo da corte francesa no século XVII em um jantar com amigos, pode parecer um pouco pernóstico. Entretanto, muitas regras se mantiveram ao longo dos anos por se provarem úteis e tornarem o processo mais definido. No mínimo, há um ritual interessante e gostoso. Outras regras são preconceituosas mesmo. Enfim, é fundamental ter bom senso.

 

Agora que você conhece ou lembrou de todas essas etapas, se é que posso dar algum conselho é que confie um pouco em sua intuição e criatividade. Alguns exemplos, não tem todos os pratos ou copos do mesmo jogo? Use de jogos diferentes, aproveite e coloque guardanapos também de várias cores, faça de maneira divertida. Quer flores na mesa, mas não tem um vaso adequado? Coloque só botões em copos individuais, espalhe as pétalas pela mesa. Atrevo-me a dizer que quase tudo que você faz com carinho e pensando em seus convidados, pode sim. Tome decisões e, se precisar, erre com classe e bom humor. É claro que seus convidados vão gostar e isso é o mais importante.

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Kibe de bandeja

Kibe é um prato simples de preparar e costuma ter saída certa nas festas. Os kibes pequenos, tipo salgadinho, são deliciosos, mas dão muito mais trabalho, primeiro porque você precisa enrolar um a um e depois porque necessitam ser fritos no momento da festa. Você até pode fritá-los antes e esquentar no forno na hora, mas não fica igual. Enfim, sempre tento facilitar minha vida e o kibe de bandeja, ou seja, feito todo de uma vez em um pirex, é muito mais fácil, além de mais saudável, por ser assado.

 

Ingredientes:

 

1 kg de carne moída

250 g de trigo para kibe (sarraceno)

1 cebola

2 limões

1 maço de hortelã

1 pitada de noz moscada

1 pitada de pimenta do reino

manteiga

sal

 

Modo de Fazer:

 

          Colocar o trigo de molho por pelo menos 2 horas antes de começar a preparar todo o prato. Para facilitar, você já pode deixá-lo de molho em um escorredor dentro de algum outro recipiente com água.

          O trigo vai absorver a água e inchar, quase dobra em volume. Depois dessas duas horas ou mais, escorrer a água, apertando um pouco o trigo, como quem aperta uma esponja, para que saia o excesso. É aí que o fato de já estar em um escorredor facilita bastante.

          Misturar o trigo escorrido com a carne moída, cebola bem picadinha em cubinhos, hortelã picadinha, noz moscada, pimenta do reino e sal.

          Pessoalmente, adoro o gostinho do limão no kibe, mas tem gente que não gosta. Não adicioná-lo não irá comprometer o prato, só acho mais gostoso com limão. Inclusive, sempre ralo um pouco da casca verde e adiciono essa raspinha, o gosto do limão fica mais presente. Enfim, seguindo a receita, espremer o suco de dois limões e adicionar também (além da raspinha da casca, se gostar do limão como eu).

          Sal a gosto.

          Untar um pirex com manteiga e colocar essa massa do kibe como se fosse uma torta de carne. Fica bonitinho desenhar os quadradinhos com a faca e facilita na hora de servir. Colocar um pouco mais de manteiga sobre a massa.

          Cobrir o pirex com papel alumínio e levar ao forno já aquecido (+/- 170 graus). Deixar cozinhando no forno, coberto com o papel alumínio, por uns 30 minutos.

          Tirar o papel alumínio e deixar gratinar em forno alto, mais ou menos uns 10 minutos, depende um pouco do forno, melhor ficar de olho na primeira vez.

          Uma dica, se for servir em uma festa, você pode fazer só essa primeira assada coberta com o papel alumínio e tirar o quibe do forno. Manter fechadinho para não ficar seco. Na hora de servir, só precisa gratinar. Caso pareça um pouco seco, adicionar mais manteiga ou caldo de limão.

 

Pode ser servido puro, vai depender do que mais você estiver oferecendo. Mas fica muito gostoso com um molho de iogurte e pepino. Pão árabe vai bem.

 

O molho de iogurte também é fácil de fazer. Picar o pepino bem fininho, misturar com salsa picadinha, sal e iogurte natural. Gosto de por um pouco de cream cheese, dá mais corpo.

 

Caso você esteja preparando um desses kibes para levar à casa de algum amigo, pode ser feito em um recipiente de alumínio descartável que vá direto ao forno. Aconselho a já dar a primeira assada e deixar só para gratinar na casa da outra pessoa. Assim você facilita a vida da anfitriã.

 

Pode ser congelado. Prefiro congelar cru ou após a primeira assada, antes de gratinar. Porque ele fica mais gostoso gratinado no forno do que aquecido no micro ondas, assim, você aproveita o tempo do aquecimento para finalizar o prato. Fica com gosto de mais fresquinho e não resseca.

 

Dificilmente sobra nas festas, mas quando fica só aquele pedacinho da educação, quando os convidados se vão, cubro com uma fatia de queijo e vai para o micro ondas mesmo. É possível que seja uma heresia com a culinária árabe, mas fica bom…

 

 

21 – O péssimo atendimento educado e incompetente da Telefónica de Madri

Hoje completamos 21 dias sem internet. O primeiro prazo que nos foi dado era de, no máximo 15 dias. Antes desse período, Luiz havia ligado para o setor de atendimento, que muito educadamente disse que seu pedido estava em andamento, mas que infelizmente deveria atrasar um pouco, em função do feriado da semana santa.

 

Muito bem, semana passada, depois de 17 dias sem internet, ligo eu para me informar. A operadora, outra vez muito educada, me informava que simplesmente não havia nenhuma solicitação pendente!

 

Como assim não há solicitação pentendente? Expliquei toda história, inclusive da ligação do Luiz há alguns dias, onde outro operador informou que estava em andamento.

 

Ela sentia muito, mas ali não constava nada e começou a me ofereceu outros pacotes de telefonia… e eu, mas do que você está falando, não quero comprar nada, quero minha internet. Nesse caso, me respondeu, farei outra solicitação de ADSL e começou a me perguntar detalhes de que tipo de opção queria. Eu sei lá, quem decide essa parte informática em casa é o Luiz, faz igual ao antigo pedido, ué! Ela insistia em que não havia outro pedido e me oferecia outras coisas que não tinham absolutamente nada com a internet.

 

Mari Carmen, seu nome, não tô entendendo o que você está me oferecendo, o que quero é a internet já solicitada! Então, vou ver com meu marido que opções queremos e torno a ligar.

 

A Mari Carmen, como sempre solícita, perfeito senhora, por favor anote o número da solicitação. Mas que solicitação? A antiga que você disse que não tinha? Não, a que acabo de fazer para a internet. Ué, mas então você fez uma nova solicitação? Sim e estou pedindo urgência.

 

Fiquei numa banana, porque por um lado, eu havia acabado de dizer que chamaria depois para decidir que pacote utilizar, mas ao mesmo tempo, o pedido em urgência me era tentador… Mas o que significa urgência? E a Mari Carmen me dizia algo na semana seguinte. Bom, nesse caso, deixa eu anotar a tal solicitação e qualquer coisa, o Luiz mudava a categoria do pedido em seguida.

 

Ok, senhora, por favor aguarde na linha a nossa pesquisa de satisfação em relação ao atendimento. Claro que aguardei, estava ansiosa para dizer que não estava nem um pouco satisfeita. Daí uma máquina te faz a primeira pergunta, a operadora tentou resolver seu problema? Bom, sim ela tentou e só havia as opções sim ou não. Veio a segunda pergunta, a operadora ofereceu outros produtos? Sim, ela me ofereceu, inclusive era algo absurdo porque ela me oferecia produtos antes de resolver o que realmente me interessava, mas outra vez só podia responder sim ou não. Fiquei esperando a terceira e óbvia pergunta, que deveria ser, você ficou satisfeito com a solução ou com o que foi oferecido? Acontece que não existe essa pergunta, eles fazem só as duas primeiras, ou seja, se tentaram buscar uma solução e se te ofereceram algum novo produto. Quer dizer, eles perdem tempo do cliente e dinheiro fazendo uma bosta de uma pesquisa que só atende às necessidades internas da empresa, o público que se dane! Quero ver meus processos, o pós-venda não existe, se você não ficou satisfeito, o problema é todo seu!

 

Foi a vez do Luiz ligar para lá e se informar. O operador que o atendeu, dessa vez disse que a solicitação anterior, aquela que a Mari Carmen disse que não existia, havia sido cancelada por problemas técnicos. Achei ótima essa resposta: problemas técnicos! Muito esclarecedora. E se encontrarem os tais problemas técnicos outra vez? Vão cancelar de novo a solicitação, e novamente sem nos avisar?

 

O operador garantiu que não e deu o prazo da internet ser instalada no dia 19 de abril, 33 dias após a primeira solicitação ter sido feita. Luiz respondeu que aquele prazo era inaceitável e sinceramente não sei a que conclusão eles chegaram, nem queria saber. Porque a essa altura quem já tinha se invocado com Luiz era eu, que ao invés de brigar só com a telefônica, brigava comigo. Enfim, acho que ele entendeu que o operador pediria algum tipo de urgência, mas no dia seguinte, no meu celular, veio a mensagem que seria instalado no dia 19 mesmo, 15 dias depois do segundo pedido. Lembra que na primeira solicitação, 15 dias depois seria o máximo de tempo? A tal da urgência significava o que?

 

Vamos ver o fim dessa novela. A primeira vez que pedimos internet, no apartamento da Hermosillas, levou 2 meses para ser instalado. Na segunda vez, no apartamento da Montesa foi um pouco melhor, não tenho certeza quanto tempo levou, mas devo ter anotado em alguma crônica. E dessa vez, caminhamos para um mês a passos largos.

 

Hoje à noite vou ver se Luiz vai comigo em algum hotel com seu laptop para tentar atualizar meu blog. Nos locutorios isso não é possível, só dá para checar mal e porcamente os e-mails.

 

Ai, ai, viva o desenvolvimento do primeiro mundo! A seguir, cenas dos próximos capítulos…

 

 

20 – Los papeles

A toda documentação necessária para que um imigrante esteja legal no país, chamamos “papeles”. Ou seja, um empregador que se disponha a contratar um estrangeiro, pergunta normalmente se tem os tais papeles em ordem. Sem papéis aqui você está ferrado!

 

Hoje fui entragar os documentos para a segunda renovação dos meus papeles. O primeiro documento, chamado NIE, que equivale a sua identidade espanhola para estrangeiros, vale por um ano. A primeira renovação vale por mais dois anos. Essa segunda, que estou fazendo, vale também por mais dois anos. E a última, após os cinco anos, é definitiva. Ser definitiva significa que podemos residir legalmente na Espanha, mas não como cidadãos e sem ser comunitários, ou seja, sem passaporte espanhol e sem trânsito livre para morar em outros países da comunidade européia. Em outras palavras, garante nossa estadia definitiva exclusivamente na Espanha.

 

Em paralelo, após o segundo ano morando legalmente no país, você pode entrar com o pedido de cidadania, onde aí sim, em caso de aprovação, você é cidadão com todos os direitos previstos. Inclusive, passa a fazer parte da comunidade européia. Esse processo dura uma média de três anos.

 

O processo para meu primeiro documento foi razoavelmente traumático, filas gigantescas, desconhecimento da parte dos funcionários do governo, advogados perdidos e todo tipo de dificuldade, isso porque estava tudo certo. Consequentemente, na primeira renovação estava meio nervosa e preocupada com os passos a seguir, porém, na prática foi bem mais fácil.

 

Essa segunda renovação foi a primeira vez que não estava tensa. Não posso dizer que estava totalmente tranquila, porque nunca se sabe se houve alguma mudança, sei lá, você fica meio escaldada. Mas tinha a sensação que seria melhor e depois chega uma hora que você se cansa de se preocupar pelos mesmos motivos. O importante é que, em princípio, foi tudo certo, sem filas e sem traumas. A advogada dessa vez é melhor também, especializada no assunto. Não está finalizado, mas foi um bom começo e aprendemos a comemorar passo a passo. Espero que dessa vez a tarjeta, que é a carteirinha de identidade, não demore tanto a ficar pronta. Porque enquanto não a temos, precisamos de uma autorização especial para deixar o país, ou seja, lá vamos nós para outra fila, pedir outro documento para viajar.

 

Ainda tenho pendente o caso do visto de trabalho. Ano passado o tive negado, e havíamos pensado em pedí-lo agora, aproveitando a renovação. O problema é que era um risco, porque vai que seja negado novamente? Daí estaria ferrada, pois além de não poder trabalhar, meu visto de residência estaria em jogo, seria desvinculado ao visto do Luiz. E no caso de ser aprovado, só valeria por um ano. Achamos mais seguro entrarmos direitinho com o processo de residência, de dois anos, e assim que estiver tudo aprovado, pedir o visto de trabalho.

 

Vaya mundo globalizado complicado!

 

 

19 – Início da temporada de terrazas

Acredito que já tenha explicado alguma vez, mas repito, as terrazas aqui são os ambientes externos de lugares públicos ou privados, como varandas, terraços etc. Vai desde a varandinha da sua casa até, por exemplo, algum restaurante que tenha mesas na calçada, ao ar livre. A todos esses espaços, chamamos terraza.

 

Lembrando que temos estações definidas, ao chegar no fim do outono ou início de inverno, o normal é que se fechem as terrazas, afinal não é nada agradável sentar-se fora no frio.

 

Em contrapartida, na primavera, quando a temperatura começa a se elevar e logo após mais ou menos três meses de internato causado pelo inverno, todo mundo quer por as manguinhas de fora, literalmente. Afinal de contas, a gente precisa secar o musgo, né? Ficamos todos como enormes gatos, buscando algum cantinho de sol.

 

Enfim, ontem a temperatura estava agradabilíssima e foi o primeiro dia que caminhei para o coral com sol. É uma combinação de dois fatores, primeiro os dias são realmente mais longos, depois acabamos de mudar de horário, o que nos presenteou uma hora mais de luz. Pois no caminho ia distraída, mais preocupada em manter o ritmo de caminhada que perdi um pouco e, de repente, dei de cara com as mesas do Paseo de Recoletos cheias de gente!

 

Iniciou a temporada de terrazas! Instantaneamente, me provocou uma sensação quase que de euforia, pensei, bem que notei que estava mais feliz, só que achei ser em função de todas as mudanças. Talvez seja mesmo por isso, mas não tenho dúvidas que parte se deve a entrada da primavera e todas as metáforas de renovação que ela traz.

 

É impressionante a capacidade que isso tem de alterar o humor das pessoas. Antes achava que era eu, mas depois você vai notando que é algo quase geral. Fico um pouco mais alérgica, assim como meu felino, mas compensa totalmente.

 

Agora ainda tenho o luxo da minha própria terraza, de dia já posso frequentá-la de manga curta e descalça, em breve me atreverei a um biquini. Outra vantagem de viver aqui, quando chega a época de poder usar algum traje de banho, você não precisa se preocupar com a marquinha anterior, porque não existe nenhuma marquinha, estou inteira branca esverdeada!

 

Bye, bye inverno! Te vejo em nove meses!

 

 

18 – A língua dos bonecos

Ontem escutei uma história verídica imperdível! Tenho uma amiga espanhola, por volta dos 30 anos, que me disse o seguinte, quando ela era criança e assistia aos desenhos animados estrangeiros, principalmente os americanos do Walt Disney, a dublagem em espanhol era sempre feita no México.

 

Isso quer dizer que os personagens tinham sotaque mexicano. As crianças não sabiam nem o que era sotaque, mas podiam notar que havia uma maneira ligeiramente diferente de falar.

 

Qual é a conclusão mais óbvia que o pensamento infantil poderia chegar? Aquela maneira diferente de falar era a língua dos bonecos! Ou seja, as crianças espanholas quando brincavam com suas bonecas ou bonecos, imitavam suas vozes, e na prática, sem saber, falavam com sotaque mexicano!

 

Isso não é ótimo?

 

 

17 – Vício da porra!

A falta da internet está acabando comigo! Não tenho saco para frequentar os tais  locutorios (em espanhol essa palavra não é acentuada) e tenho que encarar o fato de ser totalmente viciada à rede!

 

Também sou viciada no registro do que vejo ou sinto, de maneira que continuei escrevendo, mesmo sem publicar os textos. Vai ser engraçado publicar tudo junto, como se o tempo tivesse parado e as coisas voltassem a acontecer.

 

Pelo menos ainda posso continuar escrevendo, assim não enlouqueço. Já imaginou se me tirassem minhas duas drogas favoritas de uma só  vez? Eu morria do coração!

 

É difícil imaginar como as pessoas, em um passado não tão distante, podiam trabalhar sem um computador e se comunicar sem a internet!

 

Estou sendo obrigada a falar pelo telefone novamente, esse estranho objeto sonoro que me assusta cada vez que toca e me puxa para o mundo real de tempos em tempos. Acho que estou melhorzinha, consigo reconhecer algumas poucas vozes e falar sem parecer tão jeca. Até o celular estou usando! Quer dizer, usando mesmo é exagero, mas pelo menos checando. Caraca, deve ser o fim do mundo!

 

 

16 – Jantar de artistas

Toda primeira terça-feira do mês, comecei a participar de um jantar com artistas latino americanos.  Quer dizer, começou com essa regra, mas não é tão rígido assim, também vão alguns espanhóis, além dos maridos ou esposas artistas.

 

A idéia não é isolar ninguém, mas a verdade é que quando você vem de fora fica meio perdido, e é um bom pretexto para encontrar gente que está ou esteve em uma situação parecida à sua. Todos nós questionamos na veia as próprias identidades culturais, elas nos batem na cara todos os dias. E de toda maneira, acho o trabalho do artista muito solitário, portanto é bom poder trocar idéias e experiências com outras pessoas. Acho uma forma interessante de ampliar a rede de contatos.

 

Enfim, cheguei indicada por outro amigo artista brasileiro e o primeiro encontro que fui, foi exatamente na semana da ARCO e um dia antes da inauguração da tal exposição onde fui curadora. Ou seja, estava super cansada e ocupada, nem fiquei até o fim do jantar.

 

Na segunda vez que fui convidada, estávamos de férias na Suíça. E a terceira vez foi ontem. Compareci.

 

Vou ser franca, estava na maior má vontade em ir, principalmente porque chegaria absolutamente sozinha, conhecendo pouca gente e só de vista. Meu único amigo brasileiro não ia. Estava ainda traumatizada com a ARCO, pensando se realmente devo seguir esse caminho.

 

Nesses momentos, me lembro do meu mentor artístico espiritual: Giacometti. Seu trabalho era um pouco sofrido, quase neurótico, uma vez lhe pergutaram porque ele expunha então, e ele respondeu: para mostrar que não tenho medo.

 

Nessas situações, quando me pergunto por que continuo? O que vou fazer lá? Por que não invento uma desculpa qualquer? É essa a resposta que me vem na cabeça, pois no mínimo, para mostrar que não tenho medo.

 

Tenho um tipo de disciplina mental que quando percebo estar fechada à alguma situação, respiro fundo e penso que posso tentar aceitar, recito meus mantras particulares e me disponho a aproveitar o melhor possível, de verdade e de coração aberto. Primeiro resmungo para burro, mas depois, pelo menos eu tento. Se fui convidada a qualquer coisa, deve haver algum motivo.

 

Na única vez que fui a esse jantar, havia sentado ao meu lado um artista que achei legal, sabia seu nome e me pareceu bem acessível. Ontem, logo que cheguei ao local marcado, o vi entrando alguns segundos na minha frente. Pensei, bom preságio, já tenho alguém para cumprimentar, conheço pelo menos uma pessoa. Pouco depois descobri que eu era a terceira a chegar, primeiro o organizador, que para alguns é um pouco intimidador, depois esse conhecido e em seguida euzinha. Foi bom, encarei logo a fera no começo e o tal organizador nem me pareceu tão intimidador assim, estava em uma situação parecida à minha, era de carne e osso e foi bem simpático.

 

Resolvi usar a estratégia mais velha e eficiente do mundo, sorri. Não foi difícil.

 

As pessoas foram chegando e fui fazendo novas amizades. Não dá para falar com todo mundo porque é uma mesa comprida, mas ao final, o grupo que estava na mesma área da mesa que eu, saiu para esticar um último drink. Imagina,  eu que nem queria ir, estava ali com novos amigos esticando a noite e me divertindo, típico. Foi ótimo!

 

É um alívio encontrar gente que compartilha angústias e dúvidas parecidas e assim mesmo insiste em buscar alternativas. A arte não vai acabar, assim como a vida também não. Nem falamos de arte o tempo inteiro.

 

Tenho planos de encontrar meus novos amigos, mas se não encontrar, tudo bem. Por uma noite lembrei que faço parte dessa raça de insanos e que as coisas chegam ao seu tempo.

 

Era uma pergunta natural a de quantos anos levávamos em Madri, de maneira que respondi várias vezes: três anos. Levo três anos aqui, três anos pode ser uma vida e três anos não é nada. Como de repente isso é só uma fração de tempo? Repetir isso tantas vezes me pareceu diminuir seu peso, sua intensidade.

 

Prova superada. Acho que estou onde deveria estar e ainda posso tanta coisa.

 

 

15 – Surpresas

Não gosto muito de surpresas, acho que já improvisamos o suficiente na vida. Sou caxias, paciência! Quer dizer, pelo menos para mim, quando é para os outros posso achar divertido e colaboro, isso se a pessoa curtir também. Luiz é parecido comigo nesse aspecto, ainda que normalmente conte mais com o improviso do que eu. Acho que a gente fica com vergonha, sei lá. Talvez porque sejamos assim, até o último momento das surpresas alheias, quando a pessoa leva bem a situação, ficamos meio nervosos.

 

Então, tá. Estava de manhã em casa e toca o celular, óbvio, do outro lado do mundo. Eu e meu celular temos um acordo, nunca estou perto quando ele toca. Quando cheguei já havia parado de tocar e não reconheci o número. Pensei, vão ligar para o fixo, meus amigos sabem que raramente atendo o celular. Tocou novamente e me senti tentada a não atender, mas pela insistência podia ser algo importante e depois lembrei que pouca gente tem o novo número de casa. Atendi. Sem problemas, era um amigo.

 

_ Meu (paulista, né?), você precisa me fazer um favor!

 

Ui, pensei, será que ele está em uma encrenca? Respondi, fala, vou tentar. Esse meu amigo está noivo e quer entregar o anel de compromisso amanhã, obviamente, fazendo uma surpresa para sua amada. E logo com quem ele vai contar? Putz! Que mêda! Mas gosto dele e dela, como ia deixá-lo na mão?

 

_ Vai lá, me conta seu plano malévolo…

_ Você precisa ligar para ela hoje e convencê-la a jantar na quarta-feira.

_ Mas se ela não puder? Pode ser outro dia?

_ Não tem jeito, tem que ser na quarta de qualquer maneira! Ela pode dizer que não sabe se eu estarei em Madri, porque talvez estivesse em Barcelona. Mas pode dizer que o Luiz falou comigo e eu disse que podia. Tem que parecer natural.

 

E eu pensando, natural? Eu no telefone natural? Não sou natural nem falando a verdade! Já comecei a ficar nervosa só de imaginar… ainda por cima ela é espanhola, vou ter que enrolar em outro idioma!

 

_ Vou tentar, então posso dizer que você confirmou com Luiz?

_ Sim, mas não chama muita atenção. Outro problema é que na quarta-feira é dia do plantão dela…

_ Ai, cassilda, como é que vou convencê-la a sair para jantar no dia do plantão?

_ Não sei, mas tem que ser na quarta! Dá um jeito! Ela pode sair um pouco mais cedo.

_ Tá bom, então eu chamo. Mas, de verdade, é para a gente ir no jantar ou não?

_ Não, no dia, você vai ligar para a gente na mesa e dizer que vai furar.

_ Ãh? Deixa eu recapitular, eu sei que ela está completamente enrolada no trabalho, quase enlouquecendo com os preparativos do casamento, completamente sem tempo! Daí preciso me virar para ela matar o plantão, sair para jantar conosco e ainda por cima não vamos? Ela vai ficar muito brava!

_ Beleza! Essa é a idéia. Daí, sem ela saber, vou contratar um mágico, desses que faz truques na mesa e ela vai ficar mais enfurecida ainda. Só que no truque final, virá o anel de compromisso! Vai ser aquele mico total no restaurante, mas ela vai adorar, ela gosta dessas coisas.

 

A propósito, também não sou chegada a mágicos, fico sem paciência. Ele não vai me contar mesmo como faz o truque no final! Para que quero ficar curiosa? Mas voltando ao assunto…

 

_ Mas você tem certeza que ela vai gostar disso? Eu ia te matar! E se ela levantar antes e for embora?

_ Não vai, pode deixar que ela vai gostar. Ela adora esses pedidos americanos, pode dizer que é meio cafona, mas ela vai gostar. Fizeram algo parecido para não-sei-quem e ela adorou…

_ Jooooder… mas depois você vai limpar minha barra, né? Olha lá…

_ Ela vai gostar… ela vai gostar… liga para ela e depois me avisa.

 

Claro que desliguei o telefone em cólicas! O que vou dizer? E se ela disser não, a culpa da surpresa não funcionar será minha! Mas e se ela disser sim e detestar a surpresa? Ai, meu Deus! Bom, problema deles, ele me garantiu que ela ia gostar… Então, deixa eu embasar melhor essa mentira, para ela não me pegar em um detalhe bobo.

 

Fiquei ensaiando um pouco algumas probabilidades de viagens e motivos que não dariam para que o tal jantar fosse depois nem antes. Por sorte, tinha também um bom álibi, porque Luiz vive viajando, se digo que ele vai viajar, todo mundo acredita. Resolvi ligar logo, antes que ficasse mais agoniada.

 

Nesse período, ele ligou para ela, dizendo que Luiz havia os convidado para sair, de maneira que não a peguei tão desprevinida. Aproveitei que ele veio à nossa casa no sábado, mas ela não pôde vir, justamente porque estava de plantão. Inventei que Luiz e eu tínhamos uma surpresa para eles, mas que só queria falar com os dois juntos, por isso não falamos nada com ele no sábado. Ela começou a se desculpar por não ter podido vir e que parecia que era pessoal, mas a verdade é que ela estava ocupadíssima com o casamento e o trabalho. Juro, fiquei com uma dó danada, porque a pobre estava realmente enrolada e nunca iria fazer essa chantagem sentimental em um momento desse, mas vá lá. Disse que entendia, que não tinha problema e que perdoava tudo se eles fossem jantar conosco na quarta-feira. Ela não tinha como dizer não e felizmente não disse. Respirei aliviada por ter mentido só um pouquinho e nos despedimos.

 

Liguei para meu amigo, pronto, está armado! Agora é com você! Depois me passa o endereço do restaurante que mando para ela.

 

O que aconteceu? Deu tudo certo! Ela realmente adorou, se sentiu lisongeada dele ter pensando e cuidado de tantos detalhes. Ficou um pouco chateada no começo, como planejado, por a gente ter furado na hora e não percebeu nada até que recebeu o anel do mágico. Falei com ela no dia seguinte e estava super feliz. Ufa!

 

Pensando bem, surpresas podem ser muito legais.

 

 

14 – Ela chegou!

Primavera! Minha estação favorita! Na verdade, ela chegou há quase duas semanas, mas só agora está tomando forma. Dias bonitos de sol e uma temperatura amena.

 

Ontem, 30 de março, foi a mudança de horário, anoiteceu quase às 21:00hs, voltamos a ter aqueles dias deliciosos que cabem tudo!

 

Seria importante chover um pouco mais, se a chuva não vier agora, dificilmente virá pelo resto do ano. Mas quanto a isso, não tenho muito o que fazer, a não ser economizar água. Estou aprendendo a usar a água da limpeza da terraza para regar as plantas.

 

E falando em plantas, as primeiras flores começaram a aparecer. A proprietária já tinha vários vasos quando cheguei aqui, talvez para algumas pessoas isso representasse trabalho, realmente dá um pouco, mas eu gosto. Podei todas, aproveitando a época, e elas já começaram a agradecer.

 

Preciso voltar a caminhar, o inverno me destreinou e pretendo fazer mais um trecho do Caminho de Santiago agora em fins de maio, logo depois de retornar do Brasil.

 

Isso se a gente realmente for ao Brasil. Nossas passagens ainda não foram compradas e estou com medo de furar. Acontece que estamos em plena renovação de vistos e isso é sempre um ponto de dúvidas na hora de deixar o país. Em princípio, não há nada demais, é só viajar com uma autorização, já fiz isso antes. Mas depois dessa pirraça que está entre Brasil e Espanha na imigração, fiquei um pouco preocupada. Devemos decidir tudo nessa sexta-feira, dia que vamos com a advogada no setor responsável para dar entrada oficial nos papéis. Só de pensar me arrepia. Às vezes, me sinto como uma presidiária em condicional, de tempos em tempos preciso provar que estou aqui e fazendo tudo certinho. Mas tudo bem, vou tentar me estressar menos com isso.

 

Afinal é primavera, tempo de renovação em todos os sentidos e não é isso mesmo que estamos fazendo? Preciso de uma nova atitude e estou tentando. Nascer é bom, mas sempre dói. Depois passa.

 

 

13 – Fim de semana com a casa arrumada

Com a casa toda arrumada, deu vontade de receber gente novamente, mas estava um pouco cansada para organizar algo maior. Também queria aproveitar o dia e era uma ótima oportunidade de testar a capacidade da churrasqueira com um pouco mais de pessoas.

 

Chamamos dois casais e um amigo que nos ligou na noite anterior. Como nunca planejamos com grande antecedência os eventos, quem telefona justo quando estamos pensando em fazer alguma coisa, leva vantagem.

 

Marcamos por volta das 14:00hs e cada um trouxe alguma coisa. Um dos amigos, inclusive, trouxe outra churrasqueira pequena, além de uma linguiça ótima, de um açogueiro brasileiro que fica perto da casa dele. Aos poucos, a gente vai descobrindo esses macetes para fazer um churrasquinho que não seja tão ibérico.

 

A propósito, também ganhei um jogo de ferramentas que parece um parque de diversões. Para quem não sabe, amo ferramentas!  E sim, sei usar. Luiz vive dizendo que sou uma mulher muito esquisita, porque sou louca por ferramentas e panelas. Fazer o que, gosto mesmo.

 

Jack, dessa vez, não se animou a disfrutar do sol. Queria que meu felino aproveitasse melhor a terraza, mas é compreensível que um gato com quase nove anos e que foi sempre criado em apartamento, esteja com medo de frequentar um espaço externo tão amplo e com tantos pequenos ruídos ainda desconhecidos. Ficaram de farra dizendo que meu gato tinha agorafobia, tadinho, uma hora ele se acostuma.

 

Mas voltando ao churrasco, tínhamos duas picanhas, linguiças, queijo coalho, provolone em bola e alguns cortes de carne de porco que não há no Brasil. Uma amiga trouxe farofa e vinagrete, outra salada verde e fiz uma salada de batatas. Todo mundo foi de cerveja, eu não porque continuo sem gostar de cerveja, mas acompanhei na cachacinha excelente! Saiu um litro e meio de cachaça, deve ser a evaporação no terraço! A verdade é que também tomamos litros de coca-cola e água, o que o dia seguinte agradeceu profundamente. Não estava nem um pouquinho afim de outra ressaca!

 

Quer dizer, eu não, mas temos um certo amigo, que se distraiu e acabou ficando para dormir em casa. O interessante é que ele sempre é super controlado, o que deixou a história mais engraçada e esticou a comemoração até o café da manhã. E claro,  temperado com piadinhas. Não sei se para ele foi tão divertido, mas para a gente foi. Acho que para ele também.

 

Pena que ele perdeu o arroz à carreteira do final da noite. Vou confessar uma coisa, quase gosto mais desse arroz do que do churrasco em si e sempre fico igual a um urubu, tomando conta dos bons pedaços de carne que não saem e me apodero do resto do  vinagrete. Aqui nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Comemos nós e nossa amiga, enquanto seu marido dormia a sono solto sem dar a menor bola para nossa conversa.

 

Domingão, nem pensar em por o nariz na rua! Só DVD e enterro dos ossos. Preciso voltar ao mundo dos mortais urgentemente, porque se duvidar, quem fica com agorafobia sou eu!

 

12 – O primeiro churrasco

Não sou uma pessoa consumista, juro! Costumo dizer que sou daquelas que dificilmente saem de compras, quando saio é para comprar uma blusa preta de manga curta, ou seja, específica.

O problema é que casa nova dá uma vontade danada de comprar coisas. Principalmente, quando você tem mais espaço e armários. Como eu amo armários! Por outro lado, sei que a gente precisa se policiar e não começar a se encher de coisas. Sinceramente, não pretendo fazer grandes aquisições, nem é o momento.

Entretanto, o primeiro que passou pela cabeça do Luiz quando conheceu o terraço foi ter um espaço para fazer churrasco. A tal terraza, como chamamos aqui, é realmente grande, tem pouco menos de 50 m2. É praticamente um quintal! Possui uma mesa grande e outra pequena de apoio, quatro cadeiras e várias plantas. Ali montamos uma tenda para abrigar nosso futon. É que antes, dormíamos em um futon, e não tem mais espaço no quarto de casal, já que a dona precisou deixar sua própria cama. Enfim, tivemos a idéia de colocá-lo por ali e montar um ambiente como um lounge. Acho que vai ficar bonito.

O que faltava? Uma churrasqueira. O problema é que na Espanha tem muito problema com incêndios e em boa parte dos lugares é proibido churrasqueiras de carvão. Precisa ser a gás ou elétrica, o que em princípio não nos soava muito bem. Acontece que nós moramos a duas quadras do corpo de bombeiros, não queremos encrenca. Resolvemos dar uma chance à churrasqueira elétrica.

Encontramos uma simples e barata. Pensamos que se não funcionasse bem, pelo menos o prejuízo não era grande. Compramos também um som portátil, desses pequenos para ouvir CD e um mini poste de luz, que funciona com energia solar. Os preços ótimos, o que me fez querer testar tudo o mais rápido possível. Claro que também tinha a empolgação de fazer o primeiro churrasco e uma coisa alimentou a outra.

Ontem, plena terça-feira, resolvemos estreiar a churrasqueira. Quem disse que aguentaria chegar o fim de semana.

Limpei toda a terraza, podei as plantas, arrumei tudo. Descongelei uma picanha e algumas linguiças, fiz um vinagrete e uma salada verde. O tal do mini poste de luz é uma gracinha, mas não ilumina nada, improvisei com duas luminárias de interior mesmo. Levei algumas velas, forrei a mesa e coloquei as almofadas nas cadeiras da varanda, que a proprietária também deixou. Ficou legal, gostei. Jack acompanhou atentamente e de perto. Ele nunca ficou em um espaço externo tão grande, é um gato de apartamento, levou algum tempo para se habituar.

Quando Luiz chegou, já estava tudo organizado, vinho aberto e o aparelho portátil de CD funcionando muito bem. Chamamos um amigo, que não pode vir na festinha de sábado e partimos para o churrascão. Sabe que ficou bom? É uma churrasqueira pequena, não dá vazão se for muita gente, talvez precise ter outras coisas em paralelo. Mas a carne ficou ótima!

O filho da proprietária, que deve ter uns 4 anos, deixou para trás duas bolas de futebol pequenas, de plástico. Os dois menininhos aqui de casa, meu marido e nosso amigo, descobriram as bolas e resolveram jogar golzinho. Admito que foi divertido ver os dois marmanjos brincando e desconfio que isso será uma rotina nos próximos churrascos até que um deles jogue a bola lá embaixo.

Desconfio também que será muito difícil querer sair de casa agora. Inclusive porque também estou louca para comprar uma mesa de futebol totó, ou pebolim como se conhece em São Paulo.

Definitivamente, não temos muito juízo, mas bem que a gente se diverte!

11 – Comemorações e mudança

A experiência sempre serve para alguma coisa e em mudanças, sai de baixo que tenho muita!

 

Gosto de levar coisas pessoais primeiro, como roupas, documentos, um par de pratos e de copos, cafeteira, objetos do dia-a-dia do nosso gato, enfim, o que viabilize se viver antes de abrir as malfadadas caixas de papelão que fazem parte da minha rotina. Para complicar, ainda tenho alguns trabalhos de arte que poderiam se destruir em movimentos bruscos e também prefiro levá-los pessoalmente. Isso parece pouco, mas não é.

 

De cara, no primeiro dia que vim limpar o apartamento novo e arrumar as roupas, dei um jeito nas costas. Uma bobagem, nem estava fazendo tanta força, foi mal jeito, só que ficou difícil até para andar. Putz, grilo! Ninguém merece! Tô uma velha mesmo!

 

Sabia que tinha o fim de semana para adiantar o possível, antes da companhia de mudança entrar como um furacão nos apartamentos. Por isso, tirei a quinta e a sexta para adiantar o que desse sozinha e no sábado e domingo faria o resto com Luiz. Finalmente, na segunda-feira, a empresa faria a mudança do pesado. Pronto, tudo planejado e acertado, com calma e com tempo, certo? Óbvio, meus planos já se embolaram na própria quinta, com as costas ferradas.

 

Não tinha muito o que fazer, voltei para casa, me entupi de dorflex e deitei para esperar Luiz. Ele chegou meio tarde, porque era dia do coral, mas me trouxe um outro relaxante muscular de cavalo, me ajudou com uma pomada de Voltarén e desenterrou uma cinta dessas que a gente coloca para fazer força com as costas na posição correta. A tal da cinta foi a salvação da lavoura e não a abandonei por mais ou menos uma semana, é bom para proteger e te condicionar ao movimento correto. É fato que me deixou com a maior pinta de lenhadora, tem uns suspensórios nada charmosos que me deixavam com um pouco de vergonha nos primeiros dias, depois desencanei.

 

Bom, a essa altura já sabia que não íamos conseguir comemorar decentemente nosso aniversário de casamento na semana seguinte, fazer uma festa no apartamento antigo, nem pensar! Não tinha condições físicas para organizar. Mas tinha um plano do cebolinha que era jantar na sexta-feira no Trifón, que todo mundo sabe que é meu restaurante favorito aqui, e convidar alguém para dividir o momento conosco. Não é um lugar muito barato e não tenho cacife para fechar o local ou convidar um monte de amigos, então convidamos um casal muito querido, que por coincidência, também fazia aniversário de casamento naquela semana. Perfeito!

 

O restaurante ficava a uns dois minutos a pé de casa. Eu é que não ia com a cinta protetora e um sapatinho baixinho, né? Que se dane as costas! Só entro na chuva para me encharcar! Fui caminhando apoiada no braço do Luiz a uma velocidade ridícula e mais dura que um pedaço de pau, mas entrei no lugar com salto alto e classe.

 

Encontramos nossos amigos e chutamos todos os paus de barracas, pisamos em todas as jacas e chutamos todos os baldes! Não ficou nenhum! Foi uma garrafa de champagne, duas de vinho e finalizamos com doses de whiskies (sim, no plural, foram algumas de alguns) para acompanhar o charuto, é claro. Quem disse que ainda sentia dor nas costas? Não sentia mais nada, nem as costas, nem o rosto, nem a boca… nada!

 

Levamos nossos amigos para conhecerem o apartamento novo e, dessa vez, aceitamos a ajuda para ir comprar e montar uma tenda no terraço, no dia seguinte. Eu não estava sentindo dor naquele momento, mas sabia que era por causa do álcool, não teria condições de levantar peso depois. Era uma tarefa mais adequada para os meninos.

 

A verdade é que saí do apartamento novo bem mareada e quando cheguei em casa, passei mal horrores. Exagerei. Coloquei até minha alma para fora e acordei um absoluto bagaço! Luiz acordou melhor e foi com nosso amigo adiantando as coisas no apartamento. Fiquei na cama tentando encontrar algum arrependimento pela noite anterior, coisa que não aconteceu. Eu adorei!

 

Já estava com as costas ferradas, agora também estava de ressaca, pronto! Chegou um momento em que a disciplina foi maior que o bode. Tinha que levantar, foda-se! Levantei e fui para o apartamento ajudar os meninos e levar algo para eles comerem. Para “eles” comerem porque mal aguentava o cheiro de comida. Foi quando descobri que minha amiga também estava em situação parecida e, pelo que averiguei depois, também nem um pouco arrependida. Mulheres são fogo!

 

todas as noites são iguais, os meninos satisfeitos, as meninas querem mais… já dizia Capital Inicial.

 

Fui melhorando por completa falta de opção e quando vi o apartamento novo ganhando personalidade, me animei. A tenda que os meninos montaram ficou show! Trabalhamos até o comecinho da noite e de lá fomos buscar nossa amiga e jantar os dois casais novamente. Já estava passando bem e comemos uma super gigantesca pizza, com muita coca-cola! Gordura e coca-cola, tudo de bom para fechar de vez uma ressaca!

 

Dormimos cedo e, no domingo, começamos pelas 8:30 com a corda toda! Nesse mesmo dia, Luiz me deu a feliz notícia que não conseguiria estar comigo na segunda-feira e que eu receberia o povo da mudança sozinha. Por alguns segundos, honestamente, quis matá-lo! Ele me conta isso na véspera? Achei melhor ser prática, então faremos mais viagens hoje e levamos mais algumas coisas. É cansativo, mas compensa depois. Ele me perguntou se deveria chamar nosso amigo novamente para ajudar, em princípio, achei que não precisava, sempre evito colocar as pessoas nessas roubadas, mas no final não teve jeito e aceitamos ajuda de muito bom grado. Que bom é poder contar com os amigos!

 

No domingo mesmo, já dormimos no apartamento novo. A cama de casal da proprietária ficou, tínhamos todas as roupas e a casa estava limpa. Bom assim, porque o Jack foi se acostumando ao local e poderia ficar tranquilo no quarto enquanto o turbilhão da mudança entrava no resto da casa. Claro que não preguei o olho a noite toda, ainda que estivesse bem cansada. No dia seguinte, queria estar no apartamento antigo pelas 7:30hs, antes da equipe chegar e assim foi.

 

Às 8:00hs, quando eles pontualmente chegaram, estava eu com minha cinta de lenhadora e as botas de trekking, prontinha para a guerra! Não tenho frescura e boto a mão na massa mesmo, funciona melhor e você ganha respeito. Nesse caso, foi importante, porque, dos quatro homens da equipe, um ficava no caminhão e dois eram totalmente iniciantes. Tudo bem, eles se reorganizaram e o rapaz do caminhão também subiu para ajudar a embalar a parte de cozinha. Com todas as caixas e móveis baixados, por volta das 13:30, eles fizeram uma pausa para almoçar. Foi exatamente a hora que chegou Luiz e fomos comer rapidamente.

 

Em seguida, nos encontramos todos no apartamento novo. O polaco, que gerenciava o grupo,  subiu para montar o futon no terraço, a essa altura já confiava na minha experiência operacional e pediu que eu organizasse os dois calouros na arrumação das caixas e dos móveis. Os dois, que a propósito eram brasileiros, estavam mais espertos e, apesar de não saberem bem o que fazer, não eram nada preguiçosos e deu tudo certinho. Por volta dàs 17:00hs a confusão estava encerrada.

 

Agora era só abrir, limpar e arrumar… as 88 caixas! Quem disse que gente que muda muito não tem rotina? Sejam bem vindos à minha!

 

Muito bem, na terça-feira, dia seguinte à mudança, era 18 de março, nosso aniversário de casamento. Quem lembrou? O casal de amigos que jantou conosco na sexta, claro! Sim, a gente esqueceu… felizmente, nós dois esquecemos juntos. O amigo ligou de manhã para dar os parabéns ao Luiz, que levou alguns segundos para entender do que mesmo se tratava os tais parabéns, mas fez de conta que lembrava e agradeceu. De-ses-pe-ra-do, ligou correndo para mim, fingindo que havia lembrado e só estava esperando o melhor momento para falar comigo. Ouvi pensando, puta-que-pariu-que-furo-esqueci-completamente, mas também fiz voz de quem sabia e estava só esperando ele me ligar para dizer.

 

Confessamos nosso delito de memória à noite, quando fomos jantar em um restaurante simples e bem pertinho de casa, mortos de cansaço! Reforcei o quanto ele era um homem feliz por eu nunca me lembrar direito das datas, porque algumas moçoilas se lembram o dia que se conheceram, o primeiro beijo, o dia do noivado etc. A gente não sabe nada disso, só lembramos o dia do casamento. Tanto para mim, quanto para Luiz, a comemoração já havia sido na sexta passada e desencanamos. Estávamos exaustos!

 

No sábado, cinco dias após à mudança, abri a última caixa, com o apartamento praticamente todo arrumado. O que fazer? Alguém tem dúvida? Uma festa! Bom, foi pequena porque tinha um monte de gente viajando e era bem em cima da hora para chamar os amigos. Além do que, eu sem internet me transformo em um ser anti-social. Então, fizemos a inauguração não oficial um pouco improvisada, mas ótima para começar com boa energia.

 

Não sei quanto tempo poderemos ficar nesse apartamento, foi uma oportunidade rara que nossos amigos dizem ter sido merecida. Não sei se mereço, mas espero que sim, porque quando a gente merece dura mais. Também não quero me preocupar com isso agora, uma coisa de cada vez. Por hora, é disfrutar o momento de viver em um lugar que é a cara do Brasil, que tem me ajudado a matar a saudade e me proporciona confortos que havia deixado para trás. Como sempre, sinto que de alguma forma continuo protegida e que quando faço perguntas, as respostas chegam.

 

 

Desesperada sem internet!

A mudança foi bem obrigada, mas levo mais ou menos uma semana sem internet! Considerando que essa é minha principal ferramenta de comunicaçao com o planeta, estou me descabelando!

Hoje nao aguentei e vim checar os e-mails em um local público, aqui se chama “locutorio”. Aliás, já deu para perceber que o teclado nao tem til, né? Paciência, só vim dar notícias de vida e dizer que atrasarei um pouco as crônicas, mas já volto!

10 – Rumo aos 32

Muita calma nesse momento, não estou diminuindo minha idade, estou falando do número de endereços. Sim, lá vamos nós outra vez! Ainda bem que registro, porque já teria perdido a conta. Devido aos últimos textos, para que ninguém se assuste, adianto que continua sendo em Madri. Aliás, nem é longe de onde moro hoje.

Foi assim, apesar de gostar bastante do nosso atual apartamento, tínhamos um problema sério de vizinhos barulhentos, o casal baixaria de quem já contei nas crônicas uma vez. Insistiam na inconveniência ruidosa que sempre acontecia durante a semana e depois das duas da matina. Algumas vezes era brigando, outras o tigrão fazendo as pazes e não sei qual era pior de se escutar! No verão, não incomodava, porque ligávamos o ar condicionado e abafava a confusão. O problema era no inverno, quando não nos restava muita alternativa.

No último inverno, enchi o saco de vez e mudei para o quarto de baixo, bem mais silencioso. O “causo” é que isso alterou toda arrumação da casa e me vi obrigada a dormir com Luiz em um sofá cama! Procuramos inclusive nem receber nenhum hóspede, porque aos meus olhos a casa estava um caos! A idéia era voltar para nosso quarto assim que o inverno acabasse, mas não tinha intenção de procurar um novo apartamento até o ano que vem.

Pode perguntar, mas por que você não chamava a polícia? Pois por pelo menos 35 razões que estou sem paciência de explicar, mas pode acreditar que seria bem mais complicado.

Diante a essa situação absurda, me liga Luiz, escuta, uma amiga do trabalho está mudando para Gibraltar, parece que o apartamento é bom, quer ver? Honestamente, se não fosse por estar de saco tão cheio, duvido que sequer pensasse em entrar nessa movida agora, mas àquela altura do campeonato… Respondi sem pestanejar, tá bom, vou lá ver.

Era aquela historinha que parecia boa demais para ser verdade, apartamento maior, com terraza grande, garagem… e pagando a mesma coisa que gastamos hoje. Sei, sei… tem pegadinha aí! Fui ver o tal do apartamento sem a menor fé, já esperando aquela espelunca, mas ao mesmo tempo, tentando estar aberta ao que poderia ser feito. Sabia que Luiz queria sair daqui faz algum tempo.

Fomos juntos até lá e a coisa complicou ainda mais, porque o lugar é ótimo! Prédio novo e com alguns atributos que no Brasil são normais, mas aqui já havia perdido a esperança em ter. Cozinha americana, área de serviço, garagem no edifício, mais armários, mais espaço e uma terraza incrível, que dá até para ter uma churrasqueira! Caraca, e agora! Se a gente não conseguir mudar vamos nos arrepender eternamente! Então, encaramos!

Lá fomos nós, Luiz começou a negociar com os donos dos apartamentos, atual e próximo. Eu comecei a sondar uma equipe de mudança e a organizar o quebra-cabeças de onde nossos móveis ficam melhor. É que uma das condições era ficar com alguns móveis da proprietária, não são muitos, mas se não for bem organizado, o espaço que ganho acaba não compensando pela arrumação. Mas tudo tem jeito.

Dois dias depois que Luiz falou ao nosso atual proprietário que pretendíamos mudar, descobrimos que os vizinhos barulhentos estavam também de mudança! Pode? Moramos dois anos em um apartamento com vizinhos problemáticos, assim que desistimos e resolvemos mudar… eles mudam antes! É uma historinha para o “sefodeaí.com”.

Enfim, de certa forma, isso também me tranquilizou, porque vai que não dava certo a nossa mudança? Para ser bem sincera, não estava me envolvendo tanto na questão,  não queria me decepcionar.

Para a felicidade geral da nação, tudo foi se ajeitando e ontem assinamos o contrato. Ontem mesmo, havia marcado com a companhia de mudança para fazer um orçamento, e eles tem agenda para a próxima segunda-feira. Ou seja, lá vamos nós em tempo record! Em menos de uma semana, serei novamente um caracol!

A outra parte engraçada da história, mudaremos no dia 17 de março, dia 18 é o nosso aniversário de casamento, faremos 14 anitos já na casa nova, no meio das caixas! No aniversário de 10 anos, estávamos dentro de um avião, com destino a Atlanta. Aparentemente, a gente gosta de mudar de ano com tudo novo, né? No que depender de mim, entro com o pé direito!

O chato é que a festinha do níver de casados ficou comprometida. Mas, de repente, a gente faz uma de inauguração-tudo-junto! Vamos ver o quanto conseguimos arrumar a casa no feriado da semana santa.

E agora lá vou eu arrumar mala! Joooooder…

Um bom anfitrião

Recebi da minha digníssima mamãe essa historinha grega. Se é das mensagens inventadas que se repassa pela internet, ainda não sei, mas achei muito interessante. 

Na mitologia grega, Anfitrião era o marido de Alcmena, a mãe de Hércules.  

Enquanto Anfitrião estava na guerra de Tebas, Zeus tomou sua forma para deitar-se com Alcmena e Hermes tomou a forma de seu escravo sósia para montar guarda no portão. 

Uma grande confusão foi criada, pois Anfitrião duvidou da fidelidade de sua esposa. 

No fim, tudo foi esclarecido por Zeus e Anfitrião ficou contente por ser marido de uma escolhida do deus. Olha que honra! Não foi corno assim de qualquer um! 

De uma daquelas noites de amor, nasceu o semideus Hércules. 

A partir daí, o termo anfitrião passou a ter o sentido de “aquele que recebe em casa”. Nada como ser chifrado com cultura, né não? 

Enfim, e eu ficando toda feliz quando alguém dizia que era boa anfitriã…

Saladas para festas

Sempre insisto que um dos pontos principais para quem recebe é se preparar, não deixar para fazer as coisas no momento em que os convidados estão na sua casa.  

Nesse sentido, a comida acaba sendo um dilema. Os pratos quentes costumam ser mais atrativos, principalmente do meio para o fim da noite, quando a gente já bebeu um pouco. Entretanto, se você não tem um certo domínio na cozinha e/ou está recebendo um número considerável de pessoas, os pratos quentes podem te enrolar. 

Existe um meio do caminho que funciona muito bem, são as saladas. Não estou falando das saladas verdes, essas podem até ser muito gostosas, mas não sustentam o povo numa festa. No popular, você precisa de mais “sustança”. Há saladas de carne, massas, batatas, enfim, ingredientes que tem o status de refeição. Não é a única possibilidade, mas acho uma boa opção que deve ser considerada. 

Reza a lenda da etiqueta que não vamos para uma festa matar a fome, e que só devemos praticamente fingir que comemos. Tá bom… tá certo… mas que festa mais chata, né? Sinto muito pessoas chiquérrimas, mas gosto de comer bem, acho um saco beber sem ao menos ter o que beliscar, e simplesmente amo quando meus convidados se servem à vontade. 

É importante também testar um pouco as receitas e conhecer melhor seus convidados, já notei que dependendo do país que estou, algumas saem mais que outras. Vale lembrar que os costumes alimentares vão mudando, por exemplo, nos EUA ninguém quer comer carboidratos, as saladas de carne saem bastante, mas as de batatas sobram. Na Espanha, são tradicionais, não comem nada que pareça oriental, os vegetais e comidas regadas com azeite tem saída certa. Também tenho mais amigos vegetarianos, amigas de dieta, outros alérgicos. Enfim, estou generalizando um pouco, mas o que quero dizer é que é bom pensar nos convidados individualmente quando elaborar o cardápio, mesmo sendo na sua casa. 

Então, mãos à obra, vou passar algumas receitas que costumam funcionar. 

1 – Carne louca ou salada de carne

É de origem italiana, em São Paulo o pessoal adora! Em Atlanta, os amigos também gostavam muito, principalmente por ser quase proteína pura. Em Madri sai pouco, acho que parece esquisito para eles a carne desfiada, e depois a carne de boi aqui não é tão saborosa.  

Ingredientes: 

Carne – lagarto (+/- 1kg)

Cebola (2)

Cenoura (1)

Salsa cebolinha (1 molho)

Pimentões (1 verde, 1 amarelo e 1 vermelho)

Alho (2 ou 3 dentes)

Azeite (bastante)

Limão (1)

Sal 

Modo de Fazer: 

          Cozinhar a carne na panela de pressão, com água até o limite. Nessa água, colocar uma cebola cortada em uns 4 pedaços, 1 cenoura também partida, sal ou um tablete de caldo de carne, e um ramo de salsa cebolinha. Cozinhar por uns 30 minutos, depois da pressão apitar. A carne precisa ficar no ponto para ser desfiada, se os 30 minutos for pouco, deixar mais.

          Retirar a carne. Essa água que ficou na panela, você pode coar e manter para fazer um brodo, fica delicioso e é rico em proteína. É fantástico para dietas, porque é ralinho e te sustenta que é uma maravilha! Mas essa é outra história.

          Voltando à carne, desfiar inteira, checar o sal e reservar. Não deve estar muito salgada, porque ela ainda levará azeite.

          Picar a cebola e os pimentões em tiras finas, mais ou menos no tamanho das tiras de carne desfiada.

          Tem gente que usa esses pimentões e cebola crus. Prefiro dar um susto neles antes, para não ficarem tão fortes. Em uma panela, colocar um fio de azeite, um ou dois dentes de alho machacados e refogar a cebola e pimentões. Fazer isso muito rápido, não é para cozinhar, como disse, é só dar um susto para quebrar um pouco o cru. Fica inclusive mais fácil para misturar com a carne depois.

          Misturar todos os ingredientes: carne, cebola e pimentões.

          Temperar com azeite generosamente e um pouco de caldo de limão. Gosto de ralar um pouco da casquinha do limão também, mas é gosto pessoal.

          Pode ser feito no dia anterior à festa e guardado na geladeira, sem problemas. Melhor retirar com uns 20 minutinhos antes de servir, para dar tempo do azeite derreter. 

2 – Antepasto de Beringela 

Receita de uma amiga, andei mudando um pouquinho porque nunca consigo seguir religiosamente. Da primeira vez que fiz, fiquei na dúvida se o povo ia gostar de comer beringela, no Brasil ela é meio desprezada tadinha. Durou minutos, esse prato voa aqui em Madri! Também funciona como prato vegetariano e não tem ingredientes que costumam provocar alergias. 

Ingredientes: 

Beringela (2)

Tomates (5 pequenos ou 3 grandes, nessa ordem de grandeza. A receita original era com pimentões, mas tenho alguns amigos com problemas em digerir pimentão, troquei por tomates. Você decide!)

Ketchup

Azeite (a rodo!)

Sal grosso

Orégano 

Modo de Fazer: 

          Cortar a beringela em cubos. Levar os cubos a um recipiente que possa ir ao forno e regar com bastante azeite. Esse procedimento deve ser rápido para a beringela não ficar preta.

          Cortar os tomates em cubinhos e adicionar ao recipiente.

          Adicionar ketchup e azeite, até ficar tudo molhadinho.

          Adicionar sal grosso e orégano.

          Levar ao forno e mexer de vez em quando para que tudo cozinhe por igual e a beringela incorpore bem o molho. Deve levar em torno de 30 minutos.

          Também pode ser feito no dia anterior e guardado na geladeira.  

3 – Salada de batatas 

Nunca é a estrela da festa, mas é um ótimo acompanhamento! Pode fazer uma maionese normal, funciona, mas prefiro fazer uma gracinha para ficar diferente e acrescento iogurt, mostarda, alecrim… vale a criatividade. 

Ingredientes: 

Batata

Ovo

Maionese

Mostarda

Iogurt

Cream Cheese

Alecrim ou Orégano

Sal 

Modo de Fazer: 

          Cozinhar as batatas em cubos, sem deixar ficarem muito molengas. Pode usar batata comprada já cozida, mas as frescas ficam melhores.

          Cozinhar um ou dois ovos e separar a clara da gema. A clara deve ser cortada em cubinhos ou ralada e misturada às batatas.

          A gema é amassada, misturada com maionese. Eu acho a maionese pura meio sem graça, por isso, misturo também um pouco de mostarda, iogurt ou cream cheese.

          Uma ervinha para dar gosto, o alecrim combina muito com a batata, mas para quem usa cream cheese, o orégano também cai bem.

          Sal à gosto.

          Essa é melhor fazer no próprio dia da festa. Guardando na geladeira não costuma ser um problema, mas não gosto de abusar com maionese. 

4 – Batata calabresa 

Outra vez, costuma funcionar melhor como acompanhamento. Mas vai bem para ter um pouco de endorfina rolando na festa. 

Ingredientes: 

Batatas pequenas, das que se comem com casca

Pimenta negra em grão

Pimenta vermelha em grão ou pimenta de cheiro

Tomilho ou sálvia

Azeite

Sal 

Modo de Fazer: 

          Cozinhar as batatas pequenas, com casca e tudo. Adicionar um pouco de sal nessa água onde as batatas serão cozidas.

          Escorrer quando estiverem cozidas ao dente.

          Fazer um molho com azeite, pimenta negra moída, pimenta vermelha moída ou pimenta de cheiro em fatias bem fininhas. Adicionar as folhinhas do tomilho ou sálvia.

          Misturar esse molho nas batatas e corrigir o sal, se necessário.  

PS: avisar aos convidados que o prato é picante! 

5 – Salada de frutos do mar 

Funciona nos quatro cantos do mundo, mas cuidado com os alérgicos! 

Ingredientes: 

Camarões

Polvo

Cebola

Tomate

Pimentão verde

Cebolinha, salsa ou cuentro

Azeite

Limão

Sal 

Modo de Fazer: 

          Cozinhar os camarões e descascar. Cozinhar o polvo e cortar em tiras, pode comprar o polvo já cozido que funciona também (pelo menos na Espanha). Se achar que vai se enrolar com o polvo, pode fazer com lula ou só os camarões mesmo.

          Cortar bem pequenininho a cebola, o tomate e o pimentão verde.

          Picar a cebolinha, salsa ou cuentro. O cuentro funciona melhor que a salsa, mas tem mais risco de algum convidado não gostar, a salsa é mais neutra.

          Fazer um tipo de vinagrete com o azeite e limão. Por ser um vinagrete, cabe um pouco mais de acidez do limão.

          Misturar os frutos do mar e checar o sal.

          Esse prato é melhor servido com pão, para molhar no vinagrete. 

5 – Salada oriental (pato) 

Eu adoro! Mas aqui na Espanha nunca tem saída. No Brasil e lugares onde se costuma experimentar outras cozinhas, sai bastante. 

Ingredientes: 

Peito de pato

Cogumelos (de preferência uns 2 ou 3 tipos)

Cebola (1 pequena)

Alho poró

Cebolinha

Vinho do porto ou whisky (1 cálice)

Noz Moscada

Shoyu

Mel (2 colheres de sopa)

Manteiga (2 colheres de sopa) 

Modo de Fazer: 

          Cozinhar o pato até o ponto de desfiá-lo. Reservar o pato desfiado.

          Limpar e picar os cogumelos. Se for shimeji, não precisa picar, só soltar os cabinhos. No caso do Shitaki, melhor partir em tiras. Diz a lenda que cogumelos não devem ser lavados, mas como não gosto de comer terra, eu lavo e seco bem.

          Em uma wok ou panela, esquentar a manteiga. Pode colocar um fiozinho de nada de azeite só para a manteiga não ficar preta, mas a base é manteiga. Refogar a cebola cortada bem pequenininha.

          Adicionar o mel, os cogumelos e um pouco de noz moscada.

          Adicionar o alho poró e a cebolinha em tiras de tamanho aproximado ao pato desfiado.

          Shoyu generosamente e vinho do porto

          Adicionar o pato e misturar tudo.

          Pode ser preparado na noite anterior e refrigerado. Retirar da geladeira uma meia hora antes de servir. Esse prato pode ser servido frio ou quente, se preferir, também pode ser esquentado no micro-ondas.  

E por hoje, vou ficando por aqui. Com algumas dessas saladas, um pãozinho, uns frutos secos e um queijinho para completar, tranquilamente você tem arsenal para uma noite inteira! E o melhor, sem praticamente mover um dedo durante a festa!

9 – Zapatero na cabeça!

Política, futebol e religião não se discute, mas que a gente torce… torce!

Zapatero (PSOE) acaba de vencer Rajoy (PP), e seguirá seu segundo mandato. Entre defeitos e qualidades, acho que o governo do PSOE alcançou uma série de melhorias sociais. Foi criticado por suas negociações com ETA, mas não sei até que ponto o PP faria melhor, duvido.

Pessoalmente, porque no fundo cada um opta de acordo com seu próprio umbigo, acho o Rajoy um chato, e o que me irritou profundamente foi a maneira como o partido utilizou o tema da imigração durante a campanha. Nesse momento, boa parte dos espanhóis médios acreditam que os imigrantes chegam todos aqui em pateras para roubar os empregos e assaltar o país!

Enfim, acho que a situação tende a se acalmar, alguma birra entre imigrantes vs. espanhóis provincianos vai ficar, porque o assunto foi inflamado. Mas por outro lado, a imprensa já não terá tanto interesse em polemizar essa questão. Assim espero. E ainda que os espanhóis que votaram no Zapatero, não necessariamente o fizeram por esse tema, no mínimo demonstra uma visão mais aberta e globalizada. O que vejo com muito bons olhos!

E la nave va…

8 – O fantasma do quinto ano

A proximidade da ida ao Brasil tem me deixado pensativa. Vou uma vez ao ano, sempre sozinha, e as sensações são diferentes a cada visita. Agora vou com Luiz, há mais de quatro anos nossos amigos de lá não nos encontram juntos.

A primeira vez que fui de férias foi intensa. Havia passado um ano difícil nos EUA, me sentia sufocada. Era uma iniciante na burocracia de documentação estrangeira, ano de reeleição do Bush, processo de mudança para Espanha no ar, imposição de medos novos que não me faziam sentido. Até a última semana da viagem fui no suspense de aprovação de vistos, sem saber se poderia ou não embarcar. Cheguei no Brasil querendo festa, família, amigos, uma recarga de energia. Não tinha vontade de voltar ao meu país, mas não havia perdido muitos vínculos.

A segunda vez que fui ao Brasil foi mais tranquila e muito diferente. Aproveitei mais a família, e já não sentia uma necessidade de desabafo. Era também o aniversário de 60 anos da minha mãe, outra vez fui no suspense até o final com a documentação, mas consegui resolver a tempo e isso funcionou para mim com um “tá vendo, posso compatibilizar vidas em países diferentes sem perder nada importante”.

Entretanto, o ambiente brasileiro me provocava constante estranhamento, não era mais minha casa, me sentia visita. Fui visitar cidades onde ia na infância e adolescência, por um lado, por curiosidade, mas agora que o tempo passou, não sei se não buscava algumas raízes, lembranças, sensações, algum rosto remotamente conhecido.

A terceira e a quarta vez, fui em função de problemas de saúde na família, e isso acaba alterando suas  prioridades. Mesmo assim, notava que estava começando a esquecer caminhos por onde sempre dirigi, que minha alimentação não era a mesma, que ouvir a TV em português era engraçado, enfim alguns detalhes pequenos que parecem ir apagando aos poucos quem você era. Não quero ser dramática, não é  que você vá desaparecendo, você vai mudando,  é só isso. Se estivesse ainda morando no Brasil, continuaria mudando também, mas ficaria menos evidente e talvez a velocidade fosse menor.

Uma coisa era bastante clara, era quando voltava, nesse caso para Madri, que me sentia chegando em casa. O fato do Luiz estar aqui com Jack certamente contribuía bastante para isso, mas também acho que era muito em função de estabelecer algum ponto de referência, mesmo que esse ponto pudesse mudar.

Na última vez que viajei, de novo foi diferente. Quando cheguei no aeroporto do Rio, na imigração fui recebida por um agente que perguntava às pessoas sua nacionalidade, respondi brasileira com o sotaque que é meu. Recebi de volta um bem vinda, pode passar direto por ali… Havia um respeito no seu “bem vinda”, que pode até ser minha imaginação, mas senti honestidade e orgulho. Bateu uma emoção esquisita, de filha pródiga.

Na volta, para me confundir um pouco mais, havia muita notícia de brasileiros sendo barrados e mal tratados na imigração da Espanha, isso foi em 2007. Fiquei apreensiva, apesar de não ter absolutamente nada de irregular na minha situação. Essa é outra coisa maluca, você se sente vulnerável mesmo sabendo que está com tudo certo. Ao contrário dos prognósticos, fui recebida com um sorriso dizendo “brasileira residente, pode passar”. Foi um gesto simpático e correto que me encheu de boa vontade e me fez sentir bem recebida novamente.

E é esse dilema que me confronta regularmente: quero ser brasileira residente ou quero ser brasileira? Eu preciso ser brasileira? E se não for brasileira, sou o que?

Complicado, porque as respostas se alternam. Quando estou no Brasil e alguém fala mal da Espanha, fico muito brava e defendo a cultura. Quando estou em Madri, fico injuriada com o lado provinciano. É um processo neurótico, mas muito comum entre estrangeiros residentes, não só aqui na Espanha, você vira embaixadora dos dois países, só que defende ao contrário.

Mas alguma coisa aconteceu do ano passado para cá, quase todos meus amigos brasileiros expatriados que foram de férias ao Brasil sentiram algo diferente na volta. No início, achei que poderia ser pelo clima que anda na Espanha. É época de eleições e o tema imigração vem sendo explorado das maneiras mais absurdas, vai te enchendo o saco. Acredito que melhore um pouco no futuro, vamos aguardar.

Depois observei que vai além disso, tem alguma espécie de padrão nesses sentimentos de acordo com o tempo que você está fora do seu país de origem. É óbvio que as pessoas não seguem todas uma receita pronta, mas vejo uma tendência.

Os que se casam, por amor, com um nativo do país estrangeiro, tendem a ficar. O que faz muito sentido, considerando que se aproximaram por características e valores que se atraem. Principalmente, depois que tem filhos, porque daí também são outras raízes. Enfim, é uma seara que não entro muito porque não posso falar por conhecimento de causa, só por observação.

Os solteiros e os casais, onde nenhum dos dois é nativo no país, o que é meu caso, me parecem passar por um processo parecido no primeiro e no quinto ano residindo fora.

O primeiro ano costuma seguir dois caminhos. Um é o da rejeição, onde tudo parece mais difícil e se resiste à mudança. O outro acontece principalmente em casais que já fizeram isso antes, tendem a achar tudo uma maravilha. Ou talvez, melhor dizendo, mesmo o que a gente não gosta, é possível ver com bom humor. Estamos o tempo todo tentando entender o que é cultura e o que são acontecimentos isolados. As coisas são novidades, há um período de aprendizado que apesar de eventualmente ser difícil, é ao mesmo tempo motivador, interessante ou curioso.

Passado o primeiro ano, quase todo mundo está adaptado. Pode gostar ou não, mas já não sofre intensamente, nem se deslumbra. Você começa a separar o que te interessa e deixar de lado o que acha pior. A gente se questiona com frequência sobre identidade e vê os defeitos com maior senso crítico. Acho que no fundo, estamos constantemente pesando se realmente vale à pena. Enquanto os pontos positivos superam os problemas, ficamos.

Claro que estou falando de quem tem opção, porque infelizmente também chega gente que não tem grandes alternativas em seu próprio país e aceita qualquer condição.

Muito bem, me atrevo a dizer que o quinto ano é decisivo, parece meio  cabalístico. Acho que equivale ao sétimo ano de casamento, ou você rompe ou fortalece. Em abril completarei três anos de Madri, mais de quatro fora do Brasil, estou prestes a entrar no emblemático quinto ano.

Não me separei quando fizemos sete anos de casados, sempre achei que esse negócio de crise era lenda. Quando a crise chegou me pegou de surpresa e foi sofrido. Superamos e nas próximas semanas faremos 14 anos de casados, muito bem obrigada. Talvez seja bom não acreditar em crise e só tratá-la se realmente aparecer, mas quem sabe não seja útil saber da sua probabilidade? Pelo menos ficamos mais atentos.

E justo nesse quinto ano, vou com Luiz ao Brasil, parece uma provação. Posso me sabotar e dizer que é o quinto ano fora, mas na Espanha ainda será o quarto… ufa, tenho tempo! Mas sei que isso não importaria tanto, mais do que um fato matemático, é uma ordem de grandeza.

No fim de fevereiro foi aniversário do meu pai, fez 69 anos e uma grande festa, quem me conhece já sabe que sou de uma família festeira. Ver as fotos e os vídeos da festa tem um lado gostoso de saber que as pessoas estão bem e outro nostálgico de saber que estou perdendo momentos. É duro me pegar prestando atenção nas expressões e detalhes, e ter a intuição pretenciosa de perceber minha mãe pensando que eu poderia estar lá.

Eu poderia estar lá, mas a que preço?

Engraçado porque me lembro dos primeiros anos na Espanha, quando ouvia qualquer queixa a respeito da cultura, me irritava, não queria estar próximo a isso, negava mesmo. Estava na minha bolha de proteção onde nada de mal poderia me alcançar, se eu era capaz de me adaptar a quase tudo… E da minha própria boca saiu várias vezes a frase: se não está satisfeito, por que não vai embora? Se está aqui é para se adaptar!

Com o tempo fui notando que algumas coisas era eu sim quem deveria me adaptar, mas outras não. O mundo segue direções e não adianta ficar para trás, seja lá em qualquer cultura. A gente precisa o tempo inteiro exercitar o “não” sem raiva. Ter um objetivo e ir atrás dele de maneira mais fria. Isso me custa, porque sou passional por natureza, mas posso ser bem calculista se for necessário e nesse momento sou assim.

Portanto, hoje quando escuto esse “se não gosta, por que não vai embora?”, tanto para mim quanto para outras pessoas, me parece uma pergunta tão existencial quanto “quem é você?”. Como se isso fosse possível responder em um parágrafo. Existe pelo menos um milhão de respostas e motivos! Cada um tem os seus e sabe a dor e a delícia de ser o que é.

Não sei o que nos reserva esse ano, mas vamos um passo de cada vez. Por hoje, quero saúde, paciência e lucidez para decidir.