Participação na rádio Onda Madrid

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Ontem foi um dia legal, fizemos algo diferente. Nossa professora do coral  foi convidada para dar uma entrevista no rádio e, como entre suas atividades estão as aulas, nosso grupo também foi chamado para dar uma palhinha.

 

E lá fomos nós! No final do dia, nos reunimos para a gravação do programa.

 

Não é minha primeira vez, é a segunda. A primeira foi em São Paulo e a entrevista era comigo. Foi a respeito de uma exposição no Banco Central, uma amiga tinha um programa de rádio e me chamou. Quase morri de vergonha até porque, nesse caso, além de ser sozinha, não havia gravação, era ao vivo.

 

Dessa vez foi muito mais tranquilo, em grupo tudo é mais fácil e só quem realmente precisava se expor era a entrevistada. Acho que também ajudou o fato de já termos gravado em estúdio antes. Ao fim da entrevista, o locutor pediu que alguém do coral também desse um depoimento e não, não fui eu.

 

Além das músicas de divulgação de seu CD novo, nós cantamos diretamente três músicas. A primeira começou mais ou menos, depois melhorou. As outras duas, acho que saíram boas. Importa que foi bastante divertido, acho muito interessante fazer coisas que nunca imaginei estarem ao meu alcance, e ainda por cima, na Espanha.

 

E é isso, para quem quiser ouvir a entrevista, será na rádio Onda Madrid – 101,3 e 106 FM. O programa se chama La Tarde en Juego, com o locutor esportivo Jose Vicente Delfa. Passará no domingo, 05/07, às 14:30hs de Madrid e 9:30hs do Brasil. Pode ser ouvido através do endereço http://www.telemadrid.es/contenidos/html.pag?pagina=pag_48

 

A maior parte das canções do programa são tiradas do CD Telaraña. Nesse CD, o coral participa da música Desafio e no rádio, canta ao vivo três músicas: o Nkosi sike da África do Sul, Bella Luna do Paralamas e um canon em baião.

 

A voz do Luiz é mais fácil identificar, já que é a única masculina. Eu faço segunda voz com uma amiga, à esquerda, são as duas vozes mais agudas.

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E abaixo são alguns dos participantes do nosso coral, o Cantoria Dumbaiê

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E por que não uma propagandazinha? O CD Telaraña é da Vanessa Borhagian, que conta com a participação de vários amigos, entre eles, o pessoal do Dumbaiê.

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Qualquer coisa é coisa nenhuma, é nada

Esperei a poeira baixar para pensar melhor sobre isso, mas mantive a mesma opinião, só menos sarcástica e juro, sem rancor.

 

Há muitas frases que falamos, expressões que usamos, que de tanto escutarmos e repetirmos, aceitamos como verdade ou como certo. Tenho um prazer ácido em provar que não, ou pelo menos, não para mim.

 

Descobri há pouco tempo que detesto a frase: qualquer coisa é só pedir, ou chamar, ou avisar, o que seja. O que me incomoda é o “qualquer coisa”. Quantas vezes vi algum amigo ou alguém que me importa em uma situação difícil e disse a clássica frase: pô, fulano, qualquer coisa…

 

Eu achava que estava ajudando com isso, mas a verdade é que não. Ajudei em que? A lembrar que ele tem um problema? Que pode contar comigo? Contar com o que? Com qualquer coisa? Qualquer coisa não é merda nenhuma!

 

Em um quarto de hospital, precisando de um monte de coisas e tendo diversas pessoas oferecendo qualquer coisa, percebi que não poderia contar com quase nada e com praticamente ninguém. E não é porque não acreditasse na sinceridade de quem oferecia, mas porque não tinha a menor idéia do que estavam falando. Qualquer coisa era dormir no hospital? Fazer uma visita? Emprestar dinheiro? Telefonar? Me fazer perder tempo? Que raios era qualquer coisa?

 

Ninguém tem a obrigação de oferecer nem fazer nada, todo mundo tem seus problemas para resolver. Não é uma cobrança, foi só uma ficha que me caiu. Primeiro, se eu não pedir ajuda com clareza, ninguém vai entender o que preciso, essa responsabilidade é minha, esse problema é meu. Segundo, por outro lado, se não oferecer algo concreto,  ninguém saberá com que contar.

 

Eu me prometi que a partir de então vou me policiar e cada vez que me oferecer para ajudar alguém, vou tentar não ser leviana e perder cinco minutos pensando em que realmente seria útil, se estou disposta a realizar, e fazer uma proposta específica. Ou não farei nada, mas também não perderei o tempo de quem tem problemas a resolver e ainda por cima, tem que me achar legal porque ofereci qualquer coisa.

 

Ah, e qualquer coisa desculpa aí, hein?

Alguém prende a bruxa!

E o Michael Jackson morreu… caraca!

 

Não acho que era exemplo de vida para ninguém, tampouco imagino que realmente quisesse ser. Mas não dá para ser indiferente e me peguei perguntando, por que me importou?

 

Porque marcou uma época, porque fez diferença na história moderna da música, gostem ou não gostem. Não tem mídia que sustente um fenômeno nessa proporção, sem algum conteúdo real. Lembrar das suas músicas e coreografias nos faz lembrar de nós mesmos em algum lugar do passado.

 

E não é que o danado conseguiu que até sua morte fosse extraordinária? Foi precoce em absolutamente tudo!

 

De antemão já fico cansada do que virá por aí de declarações secretas, amizades profundas de cinco minutos, teorias de conspirações, brigas judiciais, regravações e por aí vai. É uma pena a perda de um ícone.

 

Infelizmente, pela proporção de sucesso mundial, foi para a segunda linha do obtuário Farrah Fawcett, a super pantera. Outra que me remete ao passado. Quem das minhas contemporâneas não brincou de “As Panteras” no colégio? É verdade que a gente queria mesmo ser a “Kelly”, mas nossas mães se entupiam de laquê e tintura loira para ficar com o cabelo da “Jill”. Ninguém queria ser a pobre da “Sabrina”, era considerada muito magrela, para ver como os padrões de beleza são mutáveis.

 

Sinto por ela também, sinto pelos dois. E sinto pelo pensamento mórbido que tive, um foi do coração, outra de câncer; meu pai teve ambos problemas e está aí, na luta. Ponto para ele! Ídolos são importantes, também são seres humanos com suas próprias famílias e problemas, mas no fim das contas, nos importa mais, ou deveria nos importar, as pessoas próximas. São as que fazem diferença real nas nossas vidas.

 

E falando nisso, vai tudo bem no Rio. Meu pai já está independente novamente. É lógico que não adianta a gente esperar que ele fique totalmente bom, mas dentro do quadro de expectativas realistas, não posso me queixar. Minha mãe também está tentando aprender a se desligar um pouco e seguir sua vida e eu estou aprendendo a tomar conta da minha.

A arte, as palavras e o tempo

Há algum tempo atrás, me dei conta que escrever, de certa forma, me afastou das artes plásticas. Não precisava ser assim, mas é que no meu caso, parte da motivação visceral de trabalhar com arte era a de me comunicar e interagir. Como me custa muito falar, criar códigos artísticos me serviu como uma ferramenta e tanto. De repente, descobri que a palavra escrita podia suprir essa necessidade, talvez por isso eu escreva muito parecido como falo, só que mais organizado. A palavra é mais direta e arriscada. Não foi o único motivo, mas cada dia tenho mais certeza que foi o que viabilizou.

 

O que é engraçado é que agora, quando não estava com a menor vontade de falar ou escrever, me peguei desenhando. Bom saber tocar mais de um instrumento, enlouquecemos mais devagar.

 

Vou me desviando das bruxas, acho que como todos. Segundo os noticiários, blogs e afins, a vida no planeta não está nada fácil. Entre acidentes aéreos, crises, gripe suína e protestos no Irã, às vezes dá tempo de tomar um bom vinho e lembrar que desde que o mundo é mundo shit happens, e é melhor aproveitar antes que nos toque. Melhor tomar fôlego antes de mergulhar. Como acabo de nadar até a margem, ainda não dá para correr que estou cansada, mas dá para tomar um solzinho.

 

Em casa, foi difícil voltar, vivo me perdendo pelo caminho, mas cheguei. Talvez sejam os emblemáticos 40 também chegando. Nos 20, não somos muita coisa, mas podemos ser quase tudo; nos 30 é o equilíbrio perfeito, temos experiência, tempo e várias portas a serem abertas. Nos 40, ou temos orgulho de alguma coisa que fizemos no passado para nos agarrarmos como referência, ou corremos o sério risco de optar por uma vida medíocre. Claro que podemos mudar, construir, mas só frente às portas que abrimos, as outras já eram, foi nossa opção. Acho que abri muitas portas, mas se foram as corretas e suficientes, só saberei com o tempo.

 

Tempo, tempo, tempo… estou sempre pensando nele.

 

Quer saber, chega! Tá bom de filosofia por hoje, melhor pensar no que realmente importa na vida de uma mulher moderna e preocupada com sua participação na engrenagem do universo: estou magra! Como dizem os espanhóis, toma!

Entrevista no blog Expatriadas

Há mais ou menos um mês, antes de viajar ao Brasil, fui convidada pela Carmem a dar uma entrevista no seu blog, o Expatriadas. Aceitei na hora porque acredito na importância de se compartilhar experiências. Recomendo a visita, acho um blog interessante para qualquer pessoa e imperdível para quem mora fora do seu país de origem.

Quem quiser saber o que eu e outras expatriadas pensam, é só ir aqui www.expatriadas.com

Em Madri

Cheguei na segunda-feira, dia 15 de junho. Por enquanto, o que mais faço é dormir, não tenho vontade de falar nem de escrever. Minha garganta se aliou comigo e perdi a voz, assim não posso falar mesmo. Quem sabe quando ela ficar boa, ponha a boca no mundo outra vez.

 

A situação do meu pai é a seguinte, coração controlado, marcapasso funcionando. Falta resolver o problema do atrio, que pode ser com medicação ou com uma futura intervenção. E câncer de bexiga, assim, com todas as letras, o nome próprio é carcinoma urotelial papilífero de baixo grau infiltrando córion. Camada muscular própria livre de neoplasia. É isso.

 

Sim, é possível tratar e assim faremos. Nossa família já passou por isso algumas vezes, portanto, temos o otimismo suficiente para saber que há soluções e realismo suficiente para saber quanto custa.

 

Não tenho planos de voltar ao Brasil esse ano, a não ser por uma situação de emergência. Ou seja, enquanto não voltar, é bom sinal.

 

Agora é tocar a vida.

Ufa!

Finalmente, meu pai teve alta do hospital e já estamos em casa. Ufa! Não está tudo resolvido, o caminho é longo, mas sem estar internado fica muito mais fácil.

Ainda estamos um pouco tumultuados, principalmente porque ele tem muita dificuldade em se locomover. Depois de ficar deitado por um mês, é difícil mesmo voltar a caminhar. Mas achamos que ao longo da semana ele se recupera, amanhã deve vir uma fisioterapeuta aqui em casa.

O coração está sob controle, vai precisar fazer revisões e blá blá blá, mas isso é assim mesmo. Acho até que está melhor do que antes.

Quanto à bexiga, ainda não sabemos bem como será o tratamento. Mas o tumor, que era malígno, foi todo retirado, não estava muito enraizado e não deu metástase. Portanto, não é um câncer muito agressivo, dá para tratar e já entubamos.

Agradeço mais uma vez aos amigos, antigos e novos, pela torcida, apoio, orações, macumba, reza forte, novenas, energias positivas e afins.

Tudo correndo como vai agora, devo voltar para Espanha no domingo. Considerando que todo dia sou obrigada a escutar sobre detalhes mórbidos do acidente da Air France, será uma delícia enfrentar as turbulências tropicais! A propósito, já passei por um CB, urubu na turbina e pouso em fim de furacão. Na vinda para cá, o avião interrompeu a decolagem na metade por problema no motor. Melhor acreditar que sou imune!

Coração biônico em funcionamento

O marcapasso foi finalmente colocado no fim da tarde de sábado, 06 de junho.

Entramos na justiça contra o plano de saúde, ganhamos e mesmo assim não deram resposta. Com isso, fomos para cima do hospital com a liminar e, pelo que entendi, agora eles é que brigam com o plano. Quando isso terminar, explico por aqui passo a passo, e outras pessoas podem conhecer melhor seus direitos. Boa parte nem sabe que existe essa possibilidade e os planos se aproveitam disso como urubus.

A parte mais difícil passou. Entretanto, seguimos na montanha russa, às vezes fico feliz porque parece que tudo se resolveu, me animo, faço planos, tento me agendar para encontrar amigos. Em seguida, descubro que sempre faltam mais dois ou três dias que se prorrogam todos os dias.

Mas ao que interessa, meu pai passa bem e a cirurgia foi bem sucedida. Ele ainda apresenta arritmia no atrio, coisa que não podia ser controlada por medicação antes do marcapasso. Agora ele já está recebendo a tal medicação para isso. Acreditamos que nos próximos dois dias se consiga definir a dosagem de medicação para ele voltar para casa, além de fazer uma certa reabilitação para seus movimentos. Ele está há um mês na cama, o que complicou sua locomoção, é normal.

Agradeço às pessoas que tem sido muito solidárias conosco e dado bastante apoio. No que puder ajudar um dia (espero que vocês não precisem), a recíproca é verdadeira.

O leão do dia

Quando a gente acha que vai resolver, tudo se complica outra vez.

A condição do meu pai é estável, ele está bem. Acontece que decidiram ontem à noite tirar o marcapasso provisório, até onde entendi, para diminuir o risco de infecção. Passamos toda a semana escutando que esse era o aparelho que dava segurança a ele nesse período, de maneira que agora estamos todos assustados em contar com a sorte.

Tudo bem que ele está em um bom hospital e blá blá blá, mas a idéia não é simplesmente socorrê-lo rapidamente, mas evitar o problema. 

Agora soube que o plano de saúde já negou duas vezes o pedido do tal super marcapasso com desfibrilador, pedem outros relatórios médicos e tal. Enquanto esperávamos desconfortáveis era uma coisa, agora esperamos com medo.

Já pedi a quem conheço e a quem não conheço. Alguém sabe como ajudar?

Sem muitas novidades

Vai tudo caminhando bem, mas devagar.

A cirurgia da bexiga foi bem sucedida. Conseguiu extrair todo o tumor, mas ainda não temos resultado da biopsia, nem previsão e, honestamente, nem pressa. Na sexta-feira passada ele tirou a sonda e no fim de semana foi normalizando as atividades urinárias. Ainda há um pouco de sangramento, mas parece ser normal, é parte da cicatrização.

O marcapasso provisório foi trocado de lugar. Até onde entendi, faz parte do procedimento, há um limite de tempo para ficar em cada veia. Foi mais fácil dessa vez, a primeira demou mais de 2 horas para conseguirem acertar tudo, dessa foi mais simples e ao invés de estar no pescoço, está no peito, o que dá um pouco mais de mobilidade e comodidade. Mesmo assim, ele não pode levantar da cama.

Continuamos aguardando a aprovação do plano de saúde para a colocação do marcapasso definitivo. É um saco, mas a princípio está dentro da previsão que os médicos nos deram.

Hoje peguei o turno da tarde no hospital. Pela manhã, fui até a polícia federal, no aeroporto, para renovar meu passaporte. Foi tranquilo, o novo deve ficar pronto no dia 9, ou seja, já volto para Madri com tudo resolvido. Estava um pouco preocupada com isso, porque se deixasse para renovar na Espanha, através do consulado, costuma demorar uns dois meses. Imagina se preciso viajar às pressas outra vez? Isola! Mas preciso contar com essa probabilidade.

Amanhã, pego o turno da manhã no hospital e chego umas 6 da matina. É cedo para burro! Mas até acho melhor, porque passa mais depressa, é a hora do barata voa no quarto, porque tem café, banho etc. Dá mais trabalho, mas é menos monótono. O evento do dia costuma ser a hora do número 2, nunca imaginei que um simples cocô gerasse tamanha torcida! Caraca! Acho que se fosse comigo, com toda essa mobilização, expectativa e platéia, eu ia acabar implodindo!

Andei vendo fotos do que anda acontecendo enquanto estou por essas bandas, é divertido. Também estou voltando a falar com as pessoas, às vezes estou meio cansada e com preguiça de repetir tudo que está acontecendo, mas agora que todo mundo já sabe mesmo, fica mais fácil.

E ando com uma vontade de tosar o cabelo… sei não, mas se der um tempinho, acho que cometerei uma loucura!

Outro dia

Hoje acordei melhor, acho que é porque dormi um pouco mais. Agora resolvemos fazer um esquema de revezamento, minha mãe vai cedo, umas 6 da manhã para o hospital e eu vou pela hora do almoço, troco  com ela, e fico até umas 21:30. Estávamos ficando as duas o dia inteirinho e é muito cansativo. Como por esses dias temos mais a esperar do que fazer, resolvemos assim. Não precisamos dormir, porque como ele está em uma unidade intensiva, é gente entrando a noite inteira no quarto e ele está todo monitorado. Só durmo em casos especiais, como quando ele fez a cirurgia da bexiga, por exemplo.

Pela manhã ele tirou a sonda e conseguiu ir ao banheiro, o que deu uma animada. Engraçado como em hospital a gente volta a preocupações tão básicas e se perde totalmente o pudor. Os pacientes parecem que voltam a ser nenéns e se controla se comeu, se foi ao banheiro…

O marcapasso foi pedido, e agora já prevemos uma certa lenga lenga. O plano também já devolveu, requisitando maiores esclarecimentos. É que como não poderia deixar de ser, o aparelho que ele precisa é o super master plus bodoso dos marcapassos. Vamos torcer para que esse ping pong não demore muito.

Meu pai está cooperativo para burro! Até de se estranhar, acho que percebeu que não há outra alternativa, mas também sei que essa cooperação tem prazo de validade.

Hoje vou tentar não pensar muito na minha casa, não dá para voltar mesmo. Vou aproveitar e renovar meu passaporte, em Madri demora muito. No domingo, se der, dou uma fugidinha para encontrar amigos.

Acho que semana que vem será meio pauleira, melhor me preparar.

Não sou Poliana

De modo geral, me considero uma pessoa otimista, não adianta muito ficar me lametando. Mas também não sei viver no mundo de Poliana e ficar agradecendo a cada problema, porque tem gente que está muito pior. Quem estiver pior, sinto muito, mas hoje estou de saco cheio.

Meu pai já leva duas semanas no hospital, estou longe de casa, sem previsão de voltar. E de cara também sei que quando voltar, na melhor das hipóteses, será sem tudo estar resolvido. Não tenho a menor ambição de assumir um papel heróico, minha vontade real é de ir embora e que alguém tomasse conta de tudo e me dissesse que está tudo bem.

Deve ser pior não ter pai, deve ser pior não ter condições para se tratar, deve ser pior ficar longe… mas nesse momento, isso não me consola em absolutamente nada. Alguém acha que não me lembro disso? Que não havia pensado nessas possibilidades? Isso não ajuda, não resolve nada pensar que poderia ser pior.

Mesmo antes desse quiprocó todo acontecer, me peguei algumas vezes na rua olhando para senhores idosos de aparência independente e pensei, por que meu pai não está assim? É egoísmo mesmo, faria minha vida mais fácil e mais feliz. Em algum momento também chegará minha vez.

Hoje é a apresentação do coral, deve começar em no máximo duas horas, em Madri. E eu aqui no quarto do hospital, vigiando um pouco de sono e a falta de simancol alheia. É impressionante a capacidade que as pessoas tem de se tornarem estúpidas e começarem a fazer perguntas e comentários idiotas por não saberem o que dizer. Não fazem por mal, mas vou perdendo a paciência.

Em quartos de hospital a gente entende literalmente a expressão “ver o tempo passar”. Mesmo quando a gente não tem nada para fazer, fica com a sensação de ter os dias roubados. Os dias em Madri, nessa época, são bonitos e longos, estão bonitos aqui também.

Não está tudo tão mal, temos progressos diários, mas essa indefinição de tempo de espera para cada etapa vai minando a resistência. Ele não sabe quanto tempo precisará ficar amarrado na cama, minha mãe não sabe quanto tempo levará até poder acordar em hora de gente, eu não sei quando dormirei na minha casa outra vez. É uma merda, com todas as letras.

Meus planos de maternidade foram para as cucuias de vez, já era. Não adianta ficar dando murro em ponta de faca. Essa vida não é para mim. Os simbólicos 40 anos não serão tão diferentes assim e em algum momento vou achar alguma vantagem nisso.

Pronto, escrevi, agora o problema não é mais meu, é da tela do computador.

Daqui a pouco devem começar a chegar as visitas, sempre anima um pouco. E lá vou eu repetir tudo outra vez, assim também vou me convencendo. Sim, está tudo bem, agora ele aguarda a cicatrização da bexiga, de onde foi retirado todo o tumor. O resultado oficial da biopsia sai pela próxima segunda-feira. Independente desse resultado, o marcapasso definitivo foi pedido e acreditamos que o plano de saúde deva aprovar até o meio da semana que vem. Com o marcapasso definitivo, tudo melhora, porque ele é liberado da cama e provavelmente receberá a alta do hospital em seguida. E aí, vamos ver como seguimos o tratamento da bexiga, mas só de não estar internado já ajudaria muito.

O aniversário da minha mãe é no meio de junho. Ela nasceu dia 16, mas foi registrada em 18, ou seja, acabamos comemorando os dois dias. Enfim, seria um presentão poder comemorar em casa.

Um pouco mais perto de resolver

Na quinta-feira, 21 de maio, embarquei para o Rio, com direito a interromper a decolagem na metade por problema no motor do avião, ou seja, tudo que você quer ouvir antes de uma viagem de mais de 10 horas. Depois de uma lenga lenga, trocamos de aeronave, o que me pareceu muito sensato, e até que a viagem foi tranquila. Cheguei quase às 23:00hs, hora do Brasil, 4 da matina no meu fuso horário.

Já desembarquei com notícias preocupantes, felizmente com a solução em andamento. Meu pai teve naquele mesmo dia, no fim da tarde, mais duas arritmias com desmaio, o que em princípio parecia uma má notícia. Acontece que ele é tão sortudo que isso aconteceu exatamente na frente do seu cardiologista, o que trata dele há onze anos e foi visitá-lo para saber como andavam as coisas, nem era consulta. Claro que foi um tremendo susto, toda aquela confusão, mas o resultado é que se descobriu o que estava causando as arritmias, ou seja, não será mais necessário o tal exame que ele precisaria fazer através de catéter e blá blá blá, e a solução é um marcapasso (não sei se escreve junto ou separado). Na mesma noite ele colocou um marcapasso provisório e aguarda a colocação do definitivo.

Portanto, a parte cardiológica está mais tranquila e caminhando para uma solução muito positiva. Ótimo.

Entretanto, não é o único problema. Ontem ele fez mais uma tomografia da bexiga e arredores. A parte boa é que não encontraram mais nada nas redondezas, o que ainda que não nos tenha sido dito dessa maneira, quer dizer o seguinte, se for malígno, não deu metástase. E de cara é menos mal. Mas como ele não pode fazer a tomografia com contraste, não tivemos muito mais informação sobre a tal “massa” da bexiga, a não ser que está meio grande, parece ter uns 4cm.

Na segunda-feira, depois de amanhã, ele fará a biopsia e só assim teremos certeza absoluta da encrenca. Outra vez temos uma parte positiva, como a situação cardiológica dele está mais controlada, eles não farão só biopsia, vão aproveitar e tentar tirar o máximo possível lá de dentro. Isso quer dizer que se for benigno, estará praticamente tudo resolvido.

Ele está bem, sem dor e admito que bastante cooperativo, para quem conhece a fera. Está no CTI, mas pode ter acompanhante e receber visitas, seus amigos tem comparecido em peso. Ele não tem cara de doente, nem nós ficamos fazendo drama. Continuamos no esquema de resolver um leão de cada vez.

Acho que nosso domingo será muito longo, quero pular logo para terça-feira.

E lá vai a cavalaria

Bom, não tenho muito mais informações que antes, mas conversei com o médico no início da noite de quarta e tive uma que me fez decidir ir. Para ficar esperando se é maligno ou benigno, ou seja lá que raio for, espero por lá. Embarco na quinta, 21 de maio. Por causa do fuso horário, chego na própria quinta-feira pelo fim da tarde. Estou meio na correria para arrumar tudo, quando der, dou notícias. Mais provável que seja pelo Twitter.

Não há motivo para pessimismo, ainda tem muita água para rolar. Minha mãe já está muito cansada e com dificuldade de entender o que está acontecendo, portanto, acho que agora posso ajudar em alguma coisa.

Obrigada pela força e podem continuar na torcida que todo apoio é bem vindo!

Besitos, Bianca

127 – Vamos a próxima batalha

Na segunda-feira, fui dormir preocupada, mas otimista, as coisas pareciam estar se resolvendo bem. Na verdade, estão. Na terça, comecei o dia com um e-mail broca, novo problema em paralelo. Muita calma nesse momento porque ainda não temos certeza do tamanho da encrenca.

 

Mas admito que baixou um pouco a moral, por isso digo que precisamos comemorar de vitória em vitória, nos dá energia para esses momentos.

 

Vamos aos fatos, porque ontem também entendi melhor todo o quadro. Minha mãe teve a idéia de ligar o laptop no quarto do hospital e converso com eles pela webcam. Foi o melhor do dia, imagens são diretas, não tem tradução. Hospitais não me impressionam, muita gente associa às doenças, associo à cura.

 

Estou contando isso porque geralmente tenho as informações que minha mãe vai me passando por telefone, com meu pai do lado corrigindo tudo e dizendo que está tudo ao contrário. Ou seja, imagina a precisão, né? Procuro me fixar nas palavras chave, vou pesquisar o que significa pela internet e faço uma média. Sou praticamente a Dra. Google.

 

Ontem, ouvi ao vivo a médica (de verdade) especializada em arritmias conversando e explicando tudo aos dois. É o seguinte, meu pai teve uma arritmia no atrio, que aparentemente é um local menos perigoso (nem me pergunte, menos perigoso do que? Não tive interesse, muita informação). Essa arritmia foi revertida, mas o resultado, pelo que entendi, ficou um pouco aquém do ideal. A situação cardiológica dele nesse momento está estabilizada, com remédios claro, mas sem um risco iminente. Pelo histórico médico do meu pai, seu coração é um pouco inchado e bombeia o sangue com menos intensidade, isso faz com que possa surgir coágulos – que são obviamente perigosos. É muito provável que tenha sido um desses coágulos que gerou a isquemia cerebral, ou AVC, que ele teve no ano passado. Muito bem, essa é a razão pela qual ele toma anticoagulante. Bom, ainda que a situação tenha se estabilizado, não se resolveu e não há uma garantia que ele não teria outra arritmia, portanto, o próximo passo indicado seria tentar descobrir se essa arritmia que ele teve foi causa ou consequência, e a partir daí tomar as medidas necessárias. Para isso, é recomendado um estudo eletrofisiológico, que pelo que entendi seria um tipo de cateterismo cardíaco para avaliar a parte elétrica do coração, ou mais diretamente ainda, verificar onde nasce o problema, que tipo é, e cauterizar, se necessário. No caso de se reverter de vez, maravilha, caso contrário, ele pode, por exemplo, usar um aparelho desfibrilador, mas aí já é um passo a frente, vamos por etapas.

 

Muito bem, esse estudo eletrofisiológico seria realizado nesse sábado, até que tivemos uma nova informação. Ele está passando por um check up geral, e nisso descobriram que havia uma massa na bexiga. O que isso quer dizer? Não sabemos, pode ser um monte de coisas, por exemplo, um coágulo ou um tumor. Nenhuma frase que inclua a palavra tumor me agrada, melhora se é acompanhada da palavra benígno, mas como disse, não sabemos. Para tanto, ele fará uma biopsia no início da semana que vem. E foi com essa notícia que acordei na terça.

 

Passado o momento puta-que-pariu-que-merda-e-agora, esfriei a cabeça. Como disse um amigo por esses dias, maktub, maktub… Pode não ser grave e hoje em dia, quase tudo tem tratamento. Não adianta se lamentar, o bom é que ele é forte e tem condições para ser atendido por uma excelente equipe médica, o que é uma sorte grande. Então, mais uma vez, vamos entender os próximos passos.

 

A biopsia deve acontecer pelo início da semana que vem. Por que não agora? Porque, em função do coração, ele praticamente come anticoagulante com farinha. Ou seja, qualquer pequeno orifício aberto nesse momento, sangraria que é uma beleza. Só seria feito em caso de emergência urgentíssima, o que felizmente, não é o caso. Portanto, precisam de cerca de uma semana para que seja seguro realizar esse procedimento.

 

Em função dessa biopsia, o exame eletrofisiológico e o tratamento do coração ficou para depois. Porque nesse momento, ainda que não resolvido, seu problema da arritmia está controlado e monitorado. Precisamos saber qual é o tamanho da encrenca na bexiga primeiro. Entretanto, ele não pode deixar o hospital nesse período, não seria seguro deixar de monitorá-lo e a medicação não é de todo simples de ser aplicada.

 

Resumo da ópera, temos brincando mais umas duas semanas de hospital.

 

Cheguei a conclusão que ainda não é o momento de ir ao Brasil. É complicado viajar sem a menor previsão de volta. Além do mais, agora mesmo, no máximo faria companhia no hospital. De acordo com o resultado dessa biobsia, vou decidir a necessidade da cavalaria, ou mais precisamente, da cavala. Desde que claro, ninguém grite por socorro antes, daí eu vou.

 

Daqui a pouquinho minha mãe deve me chamar no MSN e ligar a webcam no quarto do hospital, parece um Big Brother, que apelidei de Big Father.

 

Em princípio, não teremos grandes novidades até o início da semana que vem, eu acho. Mas como cada dia é uma aventura, vamos ver o que nos aguarda por hoje.

126 – Movimento, susto e expectativa

A semana começou agitada e prometia continuar assim. Até aí, normal. A temperatura aumentando, o sol saindo, dá mesmo mais vontade de aproveitar a vida.

 

Acho que pela terça ou quarta-feira, tive um pesadêlo com meu pai. Ele perdia a consciência, tentava segurá-lo mas não aguentava o peso. Não tenho vontade de contar exatamente como foi, mas como todo pesadêlo, a gente acorda mais assustada com a sensação do que com o fato em si. Fiquei pensando se deveria contar à minha mãe, mas cheguei a conclusão que isso só assustaria. A gente também sonha com o que tem medo e poderia não significar absolutamente nada. Passei o dia meio encucada em receber alguma notícia, mas como nada de mal chegou, relaxei. Só um sonho ruim.

 

Confesso que tive uma atitude infantil em não ligar nem procurar no dia seguinte. Acho que foi um pouco de negação, do tipo, notícia ruim chega logo, se não chegou nada, está tudo bem. O fuso horário também não tem colaborado muito e sempre falo menos com minha família nessa época. De maneira que falta de alguma notícia em um ou dois dias não chega a ser preocupante. Depois disso, mesmo que a gente não se encontre, deixamos recados por e-mail ou MSN.

 

Tudo bem, as trinta e duas coisas que tinha para fazer me tiraram isso da cabeça. Honestamente, não pensei mais a respeito.

 

Na quarta-feira, era aniversário de uma das Imparáveis no Kabocla. Passei primeiro em uma exposição, na galeria onde trabalha um amigo artista divertido. De lá, fui direto para o Kabocla, encontrar com os amigos e o Luiz que estava meio desanimado, mas acabou não resistindo e aparecendo por lá também. Como havia saído de casa cedo, não consegui fazer uma refeição light e não quis comer pela rua para estragar tudo. Luiz parou em uma lanchonete antes de me encontrar, porque  não tinha almoçado. Não quis acompanhar, muita tentação olhar um hamburguer e não dar uma mordidinha. Assim que cheguei no aniversário azul de fome! Um mau humor do cão! Na verdade, não é que fique de mau humor, fico só meio violenta. Tudo bem, resolvi jantar uma caipirinha sem açucar, me convencendo que era praticamente uma saladinha de frutas. Belisquei as comidinhas do aniversário, porque ninguém é de ferro, mas juro que me segurei bastante. O maior pecado foi comer um pedacinho de bolo, que estava divino, como já havia caminhado uns 7 ou 8 km naquele dia, então, tudo bem. Não saímos tão tarde assim, Luiz trabalhava cedo no dia seguinte.

 

Na quinta-feira, foi dia de coral. Estamos ensaiando para a apresentação do dia 28. Até que rendeu bastante, somos menos pessoas agora, mas prefiro um grupo menor comprometido do que um grupo grande de gente que fica entrando e saindo, faltando e tal. Por esses dias, notei que havia melhorado a voz, está mais firme e afinada, sinto que consegui algum progresso nos últimos dois meses, coisa que tinha a sensação de haver estacionado. Percebo isso em outras pessoas também, inclusive no Luiz. Enfim, muita água pela frente, mas é bom que seja água em movimento. Preciso retomar o projeto percussão.

 

Na sexta-feira era feriado, dia de San Isidro. Logo, a quinta se converteu em sexta e lá fomos nos para La Latina, o bairro mais castizo de Madri. Nem viemos em casa para não dar preguiça, seguimos direto depois do coral. La Latina é normalmente muito animado, mas nessas datas fica especial, os bares montam balcões virados para rua, há shows gratuitos, enfim, é uma comemoração callejera (de rua). Não ficamos até tão tarde, apesar de ser feriado, Luiz trabalharia de casa e o dia prometia não ser nada simples.

 

Na sexta-feira, o dia amanheceu bonito, mas o clima meio denso. Fiquei fazendo hora na cama, enquanto escutava Luiz descascar seus abacaxis cabeludos em uma conferência atrás da outra. Quando vi que aquilo poderia durar o dia todo, fui cuidar das minhas coisas e pensar na comida. Claro, porque comida de dieta, como já disse várias vezes, dá trabalho.

 

Chegou a tarde, toca o telefone, era meu irmão. Temos nos falado mais ultimamente, não estou mais aborrecida, nem tenho energia para isso. De qualquer maneira, nos falamos por internet, assim que de cara sabia que era problema. A frase começou com um não precisa se preocupar, o pai está bem, mas… O que na minha cabeça soa como, está vivo, mas deu merda! Presta atenção, aprende e decide!

 

Escutei. Na quinta-feira, de manhã cedo no Rio, meu pai desmaiou na frente da minha mãe. Por sorte, ele estava sentando no computador, o que fez com que o tombo não fosse tão drástico. Minha mãe tentou segurá-lo, mas ele é muito pesado, começou a gritar, veio meu primo que é bem grande e está passando uns dias por lá e na sequência meu irmão. O esforço era para ele não cair da cadeira, porque levantá-lo do chão é muito difícil. O desmaio foi breve, ele voltou a si sem dor e sem saber muito bem o que havia acontecido. Claro que minha mãe deve ter se assustado muito, porque até ele abrir os olhos, pensou o pior.

 

Bom, foram para seu cardiologista, que o atendeu de imediato, constatou uma arritmia cardíaca e o enviou ao hospital. Foi bem atendido e com bastante rapidez, fundamental nesses casos. Mas só foi possível um quarto no CTI para internação no fim da tarde, que seria madrugada aqui na Espanha. Acharam que iam me assustar em avisar naquele momento, o que entendo. Na sexta pela manhã, tarde daqui, fiquei sabendo de toda a história.

 

Meu irmão passava pelo telefone uma certa tranquilidade nervosa, se é que isso existe. Como algo que fosse sério, mas que estava sob controle. Liguei para minha mãe, que estava parecida, preocupada, mas segurando a onda. Acho que estava pensando que poderia ficar aborrecida com ela por ninguém ter me falado antes. Imagina se teria o direito de cobrar isso. Quando a gente está no olho do furacão, primeiro a gente tenta resolver, depois lembra do resto. Acho um absurdo esse pessoal que fica cobrando dos outros o que deveria ser feito, quem acha que faz melhor que tome a frente e faça, marketing não salva a vida de ninguém. Sei muito bem o que é estar em uma situação de emergência. Sim, prefiro saber e ajudar, mas acho que eles fizeram o melhor que estava ao alcance.

 

Impossível não lembrar da porcaria do sonho e não me sentir uma idiota por não ter querido ouvir. É difícil ter o dom maldito que pode me tranquilizar, mas também pode me tirar a esperança. Uma coisa de cada vez.

 

Falei com meu pai também e gostei do que ouvi. A situação não era fácil, mas ali ainda tem guerra. Perguntei para minha mãe se queria que fosse para o Brasil e ela me respondeu que no momento não via necessidade. Trocamos meia dúzia de brincadeiras por telefone, porque hospital com mau humor ninguém merece. Tentei entender então os próximos passos.

 

Ele faria no dia seguinte um exame para saber se havia algum coágulo no coração. Caso não houvesse, no mesmo procedimento, dão um tipo de super choque no coração para reverter a arritmia. Caso tenha algum coágulo, ele passa a fazer um tratamento, que é arriscado, um saco e blá, blá, blá… até poder dar esse choque. A questão é que isso não garante resolver o problema, é uma tentativa com boas chances de sucesso. Ou melhor dizendo com todas as letras, se não fizer e tiver outra arritmia pode ser fatal. Diante dos fatos, acho que a decisão, ainda que não agradável, era bastante simples: tem que fazer e pronto.

 

Desliguei o telefone e fiquei quieta, tentando absorver toda a história. É óbvio que a vontade é de entrar em um avião correndo, mas é preciso decidir isso com a cabeça mais fria. A gente também aprende que é prudente deixar seus recursos para quando haja uma necessidade real. Achar que só você resolve as coisas é muito prepotente.

 

Pensei que meus pais não estavam sozinhos. Meu pai estava sendo muito bem atendido, por médicos que confio. Minha mãe tem família e amigos próximos. Meu irmão parecia segurar a onda, às vezes as pessoas precisam ter a chance de mostrar sua maturidade. Então, naquele momento, nenhuma variável estava sob meu controle. O melhor que tinha a fazer era esperar o tal procedimento do dia seguinte e a partir daí decidir (e perguntar) se minha presença era necessária.

 

Muito bom, minha cara, cruzar os braços e esperar!

 

Lembrei de algo quase engraçado, uma das coisas que queria exercitar nesse último Caminho, na verdade, na minha vida, era isso de perder o controle das variáveis sem surtar. E quando me perguntei se seria capaz, me surpreendi com a calma que pensei, estou preparada.

 

É verdade que tinha energia de um furacão acumulada e resolvi caçar o que fazer em casa, sem me afastar muito do telefone. Qualquer coisa que fizesse o tempo passar. O bom é que fiquei incrivelmente produtiva! Tem trocentas plantas nas varandas e ainda não havia feito a poda da primavera, toquei tamanho barata voa que encheu um saco de lixo negro que cabia uma pessoa dentro! Estamos falando de uns cento e poucos metros quadrados podados e faxinados! Fiquei produtiva pacas!

 

Cuidar de plantas era coisa da minha avó materna, habilidade que herdou meu pai. Só adulta vim descobrir que também era capaz. Considerando que minha primeira planta foi um cactus e morreu, evoluí um universo! De maneira que não havia melhor atividade para navegar entre meus fantasmas. O tempo passou e estava serena quando chegou a noite. Preocupada, mas bem.

 

Jantamos em casa. Abri um vinho. Não exagerei, tomei o suficiente para abrir a boca um pouco. Diazinho do cão! E eu que achava que só quem teria problemas para resolver fosse o Luiz! Problema de trabalho é um saco, mas problema de saúde é foda! Sorry!

 

Pelo sim, pelo não, fui monitorando preços de passagem pela internet. Sempre bom ter alternativas.

 

Sábado não acordei tarde, mas também não adiantava muito. Porque com 5 horas de diferença horária, só teria alguma informação útil bem depois.

 

Falei com minha mãe, que me confirmou que fariam o exame naquele dia e me explicou melhor o procedimento. A vantagem é que não precisa abrir, se faz pela boca e esôfago, chama transiofágico, ou algo assim. Meu pai estava tranquilo, ele não é de se impressionar com isso, só fica de saco cheio e querendo ir embora para casa. Acho que o que ele mais reclamava é que tinha que ficar de jejum!

 

Acontece que aí tinha um dado importante para mim. No meu pesadêlo, uma das coisas que me impressionava bastante é que meu pai aparecia com uma mancha na boca e entre o coração e o estômago. Em um primeiro momento, me parecia que esse podia ser um problema, mas quando fiquei sabendo que o procedimento passava por ali, de uma maneira meio torta, achei boa notícia. Porque podia não ser o problema e sim o procedimento! Eu sei, para uma pessoa normal isso não deve fazer muito sentido, mas para mim fez e fui invadida por um certo otimismo.

 

Encurtando a história, ele fez o tal exame e não havia coágulos. Essa era uma notícia excelente. Tomou o tal choque, mas em um primeiro momento, não estava claro se havia revertido a arritmia. Só à noite soubemos que sim. Tá pensando o que? Derrubar a fera dá trabalho. Ufa, leão do dia!

 

A gente passa a comemorar as vitórias, mas com cautela. Não é pessimismo, é estratégia, uma guerra se vence em várias batalhas. Comemore de menos, a moral baixa; comemore demais, suas defesas baixam. No sábado, eu comemorei.

 

A primeira previsão de saída era na segunda-feira, hoje. Achei meio precoce, opinião oposta a do meu pai. Mas hoje mesmo soubemos que deve demorar um pouco mais o que achei uma decisão acertada. Ele está adequando dosagem de uma medicação séria, pelo que entendi, anticoagulante, e ainda que se tenha revertido a arritmia, não se chegou a uma conclusão definitiva do que a causou. Considerando que da primeira vez que tomamos conhecimento, uma arritmia causou o AVC e da segunda vez foi todo esse rolo, não se pode brincar com essas coisas e ficar correndo o risco te ter outra.

 

A próxima previsão de deixar o hospital é pela quarta-feira. Nessas coisas não adianta ter pressa, tem que sair com segurança. Sigo na expectativa e no plantão telefônico internético. Rapadura é doce, mas não é mole não!

125 – A dieta de Santiago

Alguém conhece um casal que vai para o Caminho de Santiago, anda mais de 100 km e engorda? Pois é, muita falta de vergonha! E o pior, nem um pingo de arrependimento.

 

O caso é o seguinte, enquanto mulher, assim que examino aquele maldito ponteiro da balança ultrapassar o limite de segurança, surto! Dieta já!

 

O problema é que a dura vida de uma atleta baladeira, gulosa, e ainda por cima pertencente ao clã dos Imparáveis, dificulta muito essa determinação.

 

Chegamos numa terça-feira à noite. Minha primeira providência foi fazer um arroz fresquinho para comer com carne moída, caldo de feijão e farofa. Estava com desejo. Caí na besteira de me pesar depois disso! A retenção de líquidos normal da caminhada, todos os chutes em todos os baldes possíveis durante a viagem e ainda por cima com a refeição light acima, culminaram em uma absurda diferença de 4 kgs a mais! Caraca!

 

No dia seguinte a dieta estava iniciada, resolvi nem esperar a famosa segunda-feira.

 

Tudo muito bom, tudo muito bem, primeiro dia de dieta é aquela fome insana, mas comprei comidinhas frescas, ingredientes saudáveis, ótimo. À noite fomos no show do Douglas no Akbar e ainda aproveitamos para ir caminhando. Porque óbvio que coloquei Luiz também nessa dieta.

 

Chegando lá, encontramos vários amigos, aquela felicidade e tal. Depois do tradicional oi-tudo-bem-como-foi-o-caminho, a primeira pergunta: não quer um risólis de camarão? Está melhor do que a coxinha!

 

Olha, é porque eram amigas queridas, senão juro que dava nelas! Mas tudo bem, porque estava com meu espírito elevado, resisti heroicamente aos salgadinhos e nem bati em ninguém. Whisky, nem estava afim de tomar, não foi sacrifício.

 

Na quinta-feira, Luiz ainda de férias até o fim da semana, as refeições foram agradáveis. Gosto de comidas leves também, elas simplesmente dão mais trabalho, porque exige mais criatividade e variedade de legumes, frutas e verduras. E o mais importante, 3 dos 4 kg excedentes já haviam sido eliminados. Animador!

 

Foi noite de coral, onde tivemos duas ótimas notícias! A primeira é que haverá apresentação nossa na Casa do Brasil no dia 28 de maio. A segunda é que o CD da nossa maestra, no qual temos uma participação, tem data para ser lançado, em 6 de junho na Casa de Américas. Depois falarei com mais calma sobre esses dois eventos.

 

Continuando, na sexta-feira, fim de tarde, fomos a um aniversário de criança. Outra vez, aquela resistência espartana para não sair radicalmente da dieta. Bravamente, me controlei.

 

De lá, o plano era encontrar com os Imparáveis que marcaram de sair. Show! Estava com saudades do pessoal, só faltava descobrir onde a gente se encontraria.

 

Pois os canalhas não marcam em uma pizzaria! Ninguém merece, né? Eu já não ligo para pizza, e vamos combinar que a pizza espanhola não é nenhum campeão de audiência. Ou seja, vou injerir dois milhões de calorias por alguma coisa que nem acho tão boa assim? Só podem estar de sacanagem comigo!

 

Tomamos uma decisão arriscada. Vamos jantar em casa mesmo e encontrar com eles mais tarde, só para beber alguma coisa e seguir com a noite. É óbvio que depois do banho, pijamita e ostras gratinadas, isso nunca aconteceu.

 

Sábado, tínhamos uma festa para ir, que julguei ser noturna. Felizmente, Luiz descobriu às 11 da manhã que estava marcado para às 14:00hs; caso contrário, encontraríamos os anfitriões com cara de sono. Correria para me arrumar, já pensando que mais uma vez passaria pela provação de um almoço. Demos sorte, não era almoço sentado, havia uma série de comidinhas super gostosas e várias opções leves, servido à americana. Aliás, foi bem agradável e conhecemos gente nova.

 

Tentamos marcar alguma coisa com os Imparáveis na volta, mas estavam todos de ressaca. Então, jantamos sozinhos no El Fogón de Trifón, estava sentindo falta de lá, fazia um tempinho que não íamos. Jantamos bem, mas não exageramos. Até que na hora do aperitivo, ganho um chupito de blue label. Vou recusar? É falta de educação!

 

Então tá, mas tudo bem, porque na sequência fomos ao show da Lenna Pablo na Tempo Club e gastei boas calorias dançando. Ótimo show, como sempre! Encontramos com um casal de amigos, demos uma passada no Brasileirinho, estava meio caído, saímos e seguimos para o Kabocla, que estava bem cheio. Mas não ficamos, dali encerramos.

 

No domingo, morgação. Em determinado momento não aguentei e fui caminhar, sinto falta de ar puro. A televisão me cansa e me tira a paciência. Por que a programação é sempre mundialmente ruim? Aproveitei para ver se o jardim de rosas do Parque do Retiro estava florido e estava. Vou tentar fotografar qualquer hora dessas.

 

Segunda-feira, encontro de Lulus aqui em casa. Seguramos a onda. O bom é que meninas estão sempre tentando emagrecer alguma coisa, então um cardápio leve é bem vindo. Em encontros de mulheres, a gente come cenoura e fica feliz da vida acreditando que está emagrecendo imediatamente! Bom, um vinhozinho para acompanhar, porque ninguém é de ferro.

 

E vou te contar, o que estou tomando de chá deve estar baixando represas! Tomo aquele chá vermelho, diz a lenda que queima gorduras. O importante é acreditar!

 

Ontem veio aqui em casa uma amiga que quer fazer o Caminho de Santiago, queria informações. Estou me tornando uma especialista no assunto! Outro amigo está no meio dele nesse mesmo momento, é sua segunda vez, a gente troca dicas. E sigo com a determinação de fazê-lo inteiro, a data já está martelando na cabeça e não paro de sonhar com isso, coisa que me levantou às 6:30 da matina. Isso não pode ser normal!

 

Hoje tem mais, mas ainda não aconteceu, então depois eu conto. Agora vou terminar de tomar essa porcaria desse chá!

124 – A gripe da Viúva Porcina

O bom de se isolar do planeta é que ficamos em um universo paralelo e as notícias nos atingem menos. Ainda assim, não dá para ficar completamente desinformada, principalmente se você viajar com um marido que continua usando o celular com internet e lendo o jornal, mesmo que esteja literalmente no meio do mato!

 

Pois em pleno Caminho de Santiago me dei conta que o mundo vivia o temor de uma nova epidemia! Uma tal de gripe suína, que aqui se diz “porcina”, e portanto, me soa como a Viúva Porcina de uma dessas novelas da globo.

 

Primeira coisa que veio na cabeça, pronto, cortina de fumaça novinha em folha! A gripe em si não me preocupou, todos os anos morre um monte de gente por gripe! Mas a quantidade de sangue que costuma custar uma cortina desse tamanho, isso sim me preocupa.

 

Como não estava nem um pouquinho interessada nessa história, pensei o seguinte, rola o tal vírus influenza, no passado já tomei vacina contra esse vírus. Gosto de carne de porco e estou acostumada a tê-lo em minha dieta. Seguramente, meu organismo já desenvolveu novas defesas para o vírus mutante e portanto, sou imune! Quase tão absurda quanto a teoria dessa pandemia, e absurdo por absurdo, fico com o meu mesmo que é mais divertido!

 

O curioso é que ainda que veja um grande alarde nos meios de comunicação, na rua, no dia a dia, parece que o povo não está nem aí! Bom, imagino que o México não esteja exatamente nessa tranquilidade, mas desconfio que boa parte do inconsciente coletivo – não tão inconsciente assim – resolveu ignorar mais essa conversinha para porco dormir. Como se diz por aqui, vamos deixar dessa “mariconada”!

 

Infelizmente, também não acredito na ingenuidade humana e certamente, mais uma vez, uma parcela vai ganhar muito com a desgraça alheia e isso é lamentável. Aos que, como eu, adoram uma teoria da conspiração, dois videos que estão circulando pela internet bastante interessantes.

Definitivamente, amo a democracia virtual!

 

123 – Aterrizando do Caminho de Santiago, a propósito, alguém quer me patrocinar?

Pois é, voltei. Ainda não estou no clima de escrever sobre o Caminho, mas já já vai bater. De qualquer maneira, decidi abrir uma categoria para isso. Tem muitas informações sobre esse assunto espalhadas pelas crônicas e vou tentar reuní-las, porque tem muita gente interessada. Eu mesma, fui uma sugadora de informações antes de cair na estrada. E o mais engraçado, depois de caminhar também, porque você quer reviver de alguma forma e buscar outras experiências.

 

E falando nisso, dessa última vez me deu vontade de fazer o Caminho inteiro de uma tacada, desde Roncesvalles. Sei lá, acho que estou preparada e a idéia de cruzar caminhando todo um país até o mar tem me seduzido. A questão é a seguinte, fazer até umas duas semanas, como estou acostumada, é razoável. Passar entre 30 e 40 dias, no esquema de costume, ou seja, evitando albergues e comendo bem, fica meio caro.

 

Se de alguma forma conseguisse unir as coisas, o que quer dizer, fazer meu caminho, reunir informações importantes, abrir um espaço para divulgá-las e finalmente, ganhar algo com isso, seria o mundo ideal! Que vou fazer, vou, já botei na minha cabeça. Qualquer coisa, recorro ao meu patrocinador oficial, meu digníssimo marido. Mas se pudesse pelo menos financiar meu próprio trajeto, não viria nada mal.

 

Portanto, lanço a pergunta no ar: Você quer me patrocinar? Conhece alguém que queira? Quer conversar a respeito?

 

Ofereço sair de Roncesvalles com um gps na mochila e uma idéia na cabeça. Posso mapear toda a rota, fotografar a paisagem e descrever as estruturas. Atualizo a quilometragem dos pontos de parada, farmácias, fontes, albergues, hotéis, restaurantes etc.

 

Qual a diferença do que já existe? Olha, pesquisei para burro e não é difícil encontrar guias, mas eles geralmente contam uma viagem bastante austera e espiritual. Me proponho a contar a parte prática, a viagem espiritual é toda sua!

 

Honestamente, quando estava no Caminho pela primeira vez, além dos questionamentos profundos e tal, muitas vezes o que precisava era saber onde tinha o próximo banheiro, se precisava levar um cantil pesado de água, se jogasse minhas meias fora poderia comprar outras na próxima parada, se resolvesse caminhar um pouco mais encontraria uma pousada e por aí vai.

 

Não tenho a menor intenção de julgar a maneira certa de se fazer o Caminho, até porque, acho que cada um deve tomar suas próprias decisões. Mas posso dar alternativas e quem quiser que escolha sua dose de sofrimento. Tem gente que acha o máximo ficar nos albergues, encara como uma oportunidade de conhecer pessoas, por exemplo. E é verdade. Outras precisam de uma boa noite de sono em um quarto privado por uma questão de saúde, caso contrário não são capazes de andar no dia seguinte. E também é verdade. E venho eu dizer quem está mais certo? Eu, hein!

 

Enfim, posso fazer isso com bom humor e boa vontade. Modéstia às favas tenho muita  energia e o maior bom gosto para comidas e vinhos. Mas não posso dizer que um lugar é bom se ele for ruim, mesmo que seja um potencial patrocinador. Não pretendo tornar o Caminho em algo absolutamente comercial, dou dicas, mas aviso de cara que não é um lugar para fazer turismo. Aliás, posso dar várias dicas turísticas também, mas definitivamente, esse não é o lugar para isso. E também não preciso de um chefe para me dizer o que fazer no Caminho, para tanto, fico com meu marido-patrocinador, que já está acostumado que eu faça tudo ao contrário mesmo! Não preciso de lucro, me basta por financiar o trajeto.

 

E se você se animou em fazer o Caminho, quiser me perguntar alguma coisa ou quiser me encontrar por lá em algum trecho, é de graça!

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Mais algumas notícias

Bom, nao teve fumeiro (e o teclado continua sem til). Esse negócio que todo domingo tem é lenda. Algum grupo precisa bancar o tal do fumeiro, caso contrário, nao rola. Apenas em dias comemorativos específicos (que nao sei quais sao) ou em anos santos (que tambem nao sei quais sao). Enfim, mas pelo menos a missa dessa vez nao falava de infidelidade no casamento, foi um pouquinho menos chata. A trilha sonora continua muito boa. A igreja continua um mercado de peixe, eventualmente alguém pede por alto falante para o pessoal lembrar de onde está e calar a boca. Mas tudo isso faz parte, e quando você já sabe, tenta ficar na sua redoma protegida pelas roupas de peregrino.

Após a missa, alugamos um carro. Luiz estava meio machucado e achamos que nao compesava piorar a situaçao, já havíamos chegado a Santiago. Acontece que dessa vez, queria porque queria ir até Finisterre e Muxía. O carro foi uma boa soluçao. Rodamos toda essa regiao, que depois eu conto, é um capítulo à parte. Sentar na última pedra do fim do mundo com o sol se pondo nao tem preço. E sim, é lindo!

Mas acabamos decidindo nao dormir por lá e após uma longa história que depois conto também, chegamos quase às 22:00hs em um lugar show! Fica entre Dopro e Padrón, meio escondido. Resolvemos dormir aqui mais uma noite.

Estamos bem. Nao tenho nenhuma dor, na verdade continuo com vontade de caminhar. Luiz melhorou bastante, ainda está usando tornozeleira e tem menos vontade de bater em alguém. A ficha ainda deve estar caindo também, é muito mais difícil da primeira vez que se chega a Santiago, muita informaçao, mas isso contará ele, se quiser.

E agora, acho que só escreverei desde Madrid.

Besitos a todos, Bianca