Qualquer coisa é coisa nenhuma, é nada

Esperei a poeira baixar para pensar melhor sobre isso, mas mantive a mesma opinião, só menos sarcástica e juro, sem rancor.

 

Há muitas frases que falamos, expressões que usamos, que de tanto escutarmos e repetirmos, aceitamos como verdade ou como certo. Tenho um prazer ácido em provar que não, ou pelo menos, não para mim.

 

Descobri há pouco tempo que detesto a frase: qualquer coisa é só pedir, ou chamar, ou avisar, o que seja. O que me incomoda é o “qualquer coisa”. Quantas vezes vi algum amigo ou alguém que me importa em uma situação difícil e disse a clássica frase: pô, fulano, qualquer coisa…

 

Eu achava que estava ajudando com isso, mas a verdade é que não. Ajudei em que? A lembrar que ele tem um problema? Que pode contar comigo? Contar com o que? Com qualquer coisa? Qualquer coisa não é merda nenhuma!

 

Em um quarto de hospital, precisando de um monte de coisas e tendo diversas pessoas oferecendo qualquer coisa, percebi que não poderia contar com quase nada e com praticamente ninguém. E não é porque não acreditasse na sinceridade de quem oferecia, mas porque não tinha a menor idéia do que estavam falando. Qualquer coisa era dormir no hospital? Fazer uma visita? Emprestar dinheiro? Telefonar? Me fazer perder tempo? Que raios era qualquer coisa?

 

Ninguém tem a obrigação de oferecer nem fazer nada, todo mundo tem seus problemas para resolver. Não é uma cobrança, foi só uma ficha que me caiu. Primeiro, se eu não pedir ajuda com clareza, ninguém vai entender o que preciso, essa responsabilidade é minha, esse problema é meu. Segundo, por outro lado, se não oferecer algo concreto,  ninguém saberá com que contar.

 

Eu me prometi que a partir de então vou me policiar e cada vez que me oferecer para ajudar alguém, vou tentar não ser leviana e perder cinco minutos pensando em que realmente seria útil, se estou disposta a realizar, e fazer uma proposta específica. Ou não farei nada, mas também não perderei o tempo de quem tem problemas a resolver e ainda por cima, tem que me achar legal porque ofereci qualquer coisa.

 

Ah, e qualquer coisa desculpa aí, hein?

2 comentários em “Qualquer coisa é coisa nenhuma, é nada”

  1. hahahahahahahaha

    Sim, qualquer coisa é nada… e tudo. Depende. Mas, na prática, normalmente é nada.

    Até porque, na prática, a maioria das vezes, quem pode resolver os teus problemas (ou dos outros) é só você mesma.

    Acho que a maioria das pessoas fala “se precisar de qualquer coisa, já sabe” porque elas tem receio de se intrometer e acabar atrapalhando. Então querem dar um “apoio”, reafirmar que a pessoa pode contar com elas, mas sem querer se intrometer demais…

    Sei lá se sou “virada” mesmo ou fora da casinha, mas normalmente eu uso essa expressão por esse motivo. No caso da tua viagem, por exemplo, fiquei bastante inclinada, MESMO, em ir para o Rio – vi preço de passagens e aquela coisa toda. Mas, no fim das contas, achei que ia mais atrapalhar que ajudar… poderia fácil ficar no hospital com teu pai algumas noites. Ou fazer coisas práticas, como ir pagar contas, ou sei lá… mas achei estranho me intrometer desta maneira sem ser chamada, por assim dizer.

    Mas tens razão… é bom cada um pensar melhor no que fala. Seja com o “qualquer coisa” ou mesmo com o simples “tudo bem?” quando, na prática, talvez a pessoa não esteja tão preocupada em verdadeiramente saber sobre estes assuntos.

    Beijos. E fica bem – dentro do possível para cada momento da cura.

  2. Oi, Alê!
    Realmente, acho que a intenção pode ser boa e não me tiro da berlinda, porque já falei milhões de vezes a mesma coisa. É muito mais uma reflexão pessoal que um julgamento, é do meu umbigo que estou falando. Cheguei a conclusão que não ajuda, se converte em uma formalidade, educação. E pior, quem de verdade está disposto a colaborar, acaba entrando nesse grupo e, na prática, não aceitamos a tal potencial ajuda por não saber o que ela significa.
    E por exemplo, no seu caso, foi completamente diferente, você não foi genérica, você fez uma proposta bastante específica, acreditei nela, contei com ela e se realmente tivesse precisado, teria aceito.
    Estou bem 😉
    Besitos

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