Em Santiago de Compostela

Chegamos!

O último dia, fizemos mais lento. Luiz estava bem dolorido e eu queria aproveitar um pouco mais esse trecho.

A entrada em Santiago continua muito dura. Tentei prevenir o Luiz, mas sabe como é, essas coisas sao diferentes quando você experimenta. A gente sempre chega com um pouco de dor, ou com bastante, e precisa atravessar uns 3 km de cidade, se sentindo um ET até a Catedral explodir do seu lado esquerdo. Mas já sei que depois a ficha vai caindo, a gente melhora e finalmente deve dar algum tipo de demência, porque nao podemos esperar para fazer outra vez.

Hoje é a missa do peregrino, estamos torcendo para ter fumeiro, mas nao é certeza. Descobriremos em breve. Depois seguiremos até Finisterre.

Quando chegar em Madrid, dou mais notícias, porque tem uma chata desconhecida do meu lado me olhando aqui sem parar para usar a internet!

Besitos, Bianca

Dando notícias

Estou em Melide, no terceiro dia de caminhada. Até agora, tudo bem. Tenho uma bolha pequena no dedao, mas é daquelas que nao incomodam, ou talvez eu já nem ligue. (nao tem til nesse teclado)

Chove pra burro! A única vantagem é que a temperatura fica ótima para caminhar. Mas o circuito lama ou bosta continua o mesmo.

Luiz reclama que dói o pé, que dói nao sei o que… mas no fundo, acho que ele está gostando. E estamos fazendo uma média de 5km por hora, o que nao é nada mal.

Sim, claro que tomamos vinho! Definitivamente estou elevando meu espírito! 😛 Nao emagreci um grama! Acho que estou fazendo o Caminho Gourmet! E falando nisso, recomendaçoes ao meu amigo que vai fazer o Caminho agora: em Sarria, vai comer carne no restaurante do Hotel Roma, perto da estaçao de trem, o chuletón é um escândalo! Há uns 5 km antes de Portomarín, tem um bar/albergue show em uma casa de pedra, chama ¨Mercadoiro¨. E comemos o churrasco também naquele¨A Brea¨, antes de Palas del Rey. Hoje é dia de ¨pulpo¨.

Vou nessa que acaba meu tempo de internet. Nao sei onde encontrarei outro locutorio, talvez só em Santiago. Tenho atualizado os dias pelo twitter, que pode ser lido no canto inferior direito dessa tela do blog.

Besitos, Bianca

Viajando entre 25 de abril e 8 de maio

Queridos amigos e leitores,

Lá vamos nós! Nem acredito que chegou! Amanhã pegamos um trem até León, no domingo outro trem até Sarria e de lá iniciaremos o Caminho.

O plano A é o seguinte, 100km parando em:

28/04 – Portomarín

29/04 – Palas del Rey

30/04 – Melide

01/05 – Arzúa

02/05 – Rúa

03 e 04/05 – Santiago de Compostela

Saíndo tudo bem, e deve sair porque esse trecho com alguma experiência é quase moleza, vamos decidir se iremos a Finisterre caminhando ou de outra maneira. Se formos caminhando, devem ser 80km em três dias, parando em Negreira, Olveiroa e Finisterre. Agora, se a gente encher o saco, simplesmente pegamos um ônibus e vamos curtir a praia em Finisterre, pronto!

E no dia 8 de maio, pegamos o caminho da roça! Até porque nossa amiga que fica em casa cuidando do Jack vai viajar.

Entre esse período, não tenho nem idéia se poderei checar internet. Portanto, paciência se os comentários demorarem a ser aprovados, e-mails serem respondidos etc. Nem adianta ligar para meu celular que ele continua sendo um excelente despertador. Na volta a gente conversa à vontade e conto tudo! 😛

Até breve!

Besitos, Bianca

122 – Corrida de toldos

Não escrevi errado, não suporto corrida de touros, quis dizer corrida de toldos mesmo. Conhece? Não? Então, vou explicar como nasce um esporte importante.

 

Tudo começa com os famosos imparáveis juntando-se para um churrasco em dia chuvoso. Churrasco só não combina com chuva se você bebeu pouco. Para a gente, é uma simples circunstância.

 

Muito bem, na varanda onde foi o churras, há dois toldos. Assim que começou a pingar, foi um de cada lado baixá-los para a gente não se molhar tanto. Olho para cima, vejo um dos toldos um pouco na frente do outro e falo de farra, fulano tá ganhando!

 

O pessoal – onde segundo minha amiga Imparável fã número um do Fado Junior, o mais lento voa – começa a maior torcida aos berros para ver quem consegue arriar o toldo primeiro! Os dois entram na brincadeira no mesmo minuto e começam a rodar as manivelas freneticamente para vencer a corrida!

 

Pronto! Inventada a corrida de toldos!

 

Daí para frente, a cada vez que começava ou parava de chover, ia um par diferente participar do desafio. Acompanhados, é claro, de gargalhadas e urros insanos. Só não se diverte quem não quer, né não?

 

A propósito, a campeã foi a Imparável light, e sem nem fazer força!

 

121 – Câmera lenta

Por que quando queremos que algo aconteça logo, parece que a vida fica em câmera lenta? Eu, que já sou a paciência em pessoa, nesses momentos fico uma pilha! Os dias não vão mal, pelo contrário, até bem animados, felizmente. Mas é que quando encuco com uma coisa, cassilda, fica martelando na cabeça até acontecer.

 

Está difícil dormir, porque passo toda noite pensando em trechos do Caminho. A paranóia está crescendo, porque agora também conheço pessoas! Será que voltei a ter amigos imaginários? O curioso é que as pessoas que encontro nos meus sonhos falam idiomas diferentes e outro dia aconteceu uma coisa incrível, quando me dei conta, o diálogo era em italiano! O interessante dessa história é que pouco depois de vir morar na Espanha, perdi totalmente o italiano que falava antes. Ainda entendo boa parte, mas na hora de responder ou formular uma frase, sai em espanhol. Estão guardados na mesma gaveta, sei lá. Pois então, depois de mais de quatro anos, de repente, as frases e expressões começaram a me voltar em sonhos, achei legal. Pelo menos, agora sei que o idioma continua lá guardado em algum lugar, e no momento que exercitar, ele volta.

 

Bom, essa é a loucura nova, porque tenho a antiga. Não consigo usar i-pods e afins, me dá nervoso no ouvido. Por outro lado, amo andar com músicas e sempre caminho ao som de alguma. Sim, ouço vozes na minha cabeça, mas pelo menos elas só cantam, ainda não me mandaram matar ninguém! E agora que ando às vezes com Luiz (calma, o de verdade, não imaginário), vou falando para ele quem está cantando no momento.

 

Nas últimas semanas consegui dar uma evoluída nos treinamentos e o condicionamento físico já não me preocupa mais. Os imprevistos não posso controlar, e é por isso que se chamam imprevistos, então relaxei. A perda do controle é também um exercício que preciso fazer.

 

Mas, enfim, tenho pensado muito nesse fenômeno que é a peregrinação nos últimos anos. Eu sei que não há nenhuma novidade na peregrinação, mas ninguém me tira da cabeça que atualmente vivemos um momento diferente. Há um movimento em massa nessa direção e por algo será. E como outra das minhas loucuras é a da teoria da conspiração, me empaquei a entender esse enigma. Digo entender, porque resolver nem me atrevo, pelo menos, não nesse momento.

 

Uma das primeiras grandes perguntas para uma bela teoria da conspiração é sempre: quem ganha o que com isso? E aí há um outro macete para os malucos de plantão, quando muitos ganham pode ser apenas oportunismo; quando um ou poucos ganham, há uma chance razoável da situação estar sendo manipulada.

 

Nesse caso, por exemplo, há um monte de pessoas e instituições que ganham, mas sempre me parece mais oportunismo que manipulação. Ou seja, não é o que gera, é o que aproveita a onda. E, veja bem, não necessariamente é algo ruim ou prejudicial. Não vejo mal em um pueblo sobreviver porque o Caminho de Santiago passa por ali, ou seja, se foram abertos restaurantes, mercados etc, foi para atender uma demanda existente. Portanto, não são conspiradores.

 

Mesmo a igreja católica, que costuma ser a conspiradora mor em muitas situações, nesse caso, também não vejo como a grande impulsionadora do novo movimento. Talvez seja a que mais se beneficie, até aí, nenhuma novidade e nada incoerente.

 

Falo do Caminho de Santiago por ser o que mais tenho informação, talvez seja o mais famoso também. Acontece que tem pipocado trilhas de peregrinação pelo mundo e a quantidade de peregrinos cresce exponencialmente. Por que?

 

As pessoas costumam gostar das respostas chavão, que o homem quer se aproximar da sua espiritualidade, ou da religião, deixar o materialismo de lado e blá blá blá. Ou quem sabe, virou moda, e um monte de ovelhinhas resolveu seguir a maré. Pode ser em parte, acho que sempre haverá um pouco de tudo. Mas tendo a discordar por um motivo muito simples, não me enquadro nesse perfil e tenho a convicção que sou peregrina. E aí, como é que fica?

 

Porque eu estive lá e mais de uma vez. A questão da espiritualidade é uma maneira mais fácil de explicar algo subjetivo, de concretizar, mas vai muito além disso. E a coisa de maria-vai-com-as-outras, leva a mal não, ninguém encara essa história só por curiosidade. Às vezes a gente não quer dizer o porquê, é difícil, mas cada um sabe o seu porquê.

 

Pois por uma questão de lógica, resolvi abordar o tema por um outro prisma, o qual conheço bem. Se sou peregrina e tenho meus motivos, efetivamente, esses motivos são legítimos para uma peregrinação. Não tenho a pretenção que sejam os únicos, mas é um começo.

 

Na minha experiência pessoal, só consegui encontrar um sentimento em comum em praticamente todos os peregrinos, a busca.

 

A busca é o eterno dilema humano, quem somos, para onde vamos e por que? Às vezes, por falta de uma resposta melhor, ou da total impossibilidade de uma resposta, essa questão é resolvida através da fé. No meu caso, ateísta de carteirinha, não é exatamente assim, mas respeito a fé das pessoas. Quando elas dizem que rezam por mim, ou preferem acreditar que no fundo eu acredito, eu é que não sei disso… acho engraçado, fazer o que? É bonitinho, bem intencionado, então deixo para lá. Não é fácil para todo mundo entender que há outras possibilidades de pensamento e não está em mim mudar ninguém.

 

Mas voltando, talvez por isso exista essa confusão conceitual da peregrinação se embolar com a religião ou espiritualidade. Mas meu ponto aqui é que acredito que o enfoque é outro. A minha questão é, por que as pessoas resolveram que essa busca deveria ser feita caminhando? Aos preciosistas, ok, também pode ser de bicicleta ou a cavalo, dane-se, o princípio é muito parecido. Estamos falando da mesma coisa em perspectiva.

 

Por que, de uma hora para outra, tanta gente ao mesmo tempo resolveu que suas inquietações, que suas buscas são melhor resolvidas caminhando? Cá entre nós, é verdade. É bem melhor caminhando, mas como todo mundo teve essa idéia de repente? Instinto? Voltar ao básico, ao essencial, aos seus próprios sentidos.

 

É muito esquisito, mas começo a reconhecer peregrinos, como se fosse uma raça visualmente perceptível. Afinidade da experiência compartilhada. Eu não sei porque, nesse momento só me intriga, mas não é o mais importante.

 

O que importa é que estou voltando. Outro ponto em comum, todo peregrino volta quando pode. Se não pode voltar ao mesmo caminho, adapta o caminho à própria vida. No final, dá no mesmo.

 

 

120 – Várias coisas

Um monte de coisas picadinhas acontecendo e eu com uma preguiça danada para escrever. Afinal de contas, escrever me faz revisitar momentos, alguns quero, outros não.

 

Por esses dias, ficou pronto meu NIE, documento espanhol. Demorou só um ano e dois dias! Considerando que é válido por dois anos, metade da validade foi comida no processo. Mas, enfim, está pronto e em mãos. Portanto, agora tenho direito a ir e vir por mais um tempinho sem dar grandes satisfações, ou seja, saí da prisão domiciliar, agora estou só sob condicional. E tenho que parecer muito feliz por isso. Ok, Fernando Pessoa, se tudo vale a pena se a alma não é pequena, então vamos aproveitando o que é bom.

 

A exposição de agosto em São Paulo furou. Infelizmente, envolve um investimento que não posso garantir agora. Não é exatamente trivial você morar em um país e fazer uma individual do outro lado do oceano. Talvez em outro momento ficasse mais frustrada, mas já ando meio cética, ou anestesiada, sei lá, ando sem muita paciência para ficar me aborrecendo. O caos se encarregará de eleger o melhor momento.

 

Claro que estou em cólicas para chegar logo o dia da viagem e minha prioridade hoje é o Caminho. Estava me achando pouco preparada, mas nos últimos dias, dei uma recuperada. A gente perde o condicionamento muito rápido, mas por outro lado, tenho conseguido recuperar mais rápido também. Imprevistos acontecem, alguns bons outros não. Sempre me lembro da segunda vez que fui e precisamos voltar porque me machuquei feio. Costumava me lembrar dessa história como um imprevisto que me impediu de continuar por uma questão física. Semana passada me bateu um insight meio óbvio, que não completei o roteiro que havíamos nos programado, mas completei um trecho difícil inteirinho bastante machucada. Me ocorreu que, apesar dos pesares, só completei esse trecho porque estava muito bem preparada. Depois curei, voltei, fiz mais quilometragem do que nunca, sem nem uma bolhinha de nada! Foi melhor do que a primeira vez? Não, nem melhor nem pior, foi outra coisa, completamente diferente. Isso me trouxe mais confiança, não é definitivo, é só um trecho, se não der certo, posso tentar outra e outra vez. E também, o que é dar certo? De maneira geral, depende muito mais de como você interprete a situação do que dos fatos em si.

 

Segurei um pouco o ritmo das baladas, mas só um pouquinho, porque imparável que se preze, cai em tentação. O que posso fazer, ficam colocando jacas na minha frente, eu piso todas.

 

Na quinta-feira, conhecemos um casal de amigos do meu irmão, estavam em lua de mel por essas bandas. Ligaram para meu celular, aquele objeto inútil que é um excelente despertador, e deixaram um recado. Claro que ouvi depois deles saírem, mas deixaram o nome do hotel. A gente estava pronto para fazer uma caminhada, sim, com aquela roupinha peregrina de costume. Pensamos, a gente pode ir andando até lá, já cobre metade da quilometragem diária, e se eles tiverem chegado, a gente sai para tomar alguma coisa. Bom, começou assim, acabou de madrugada em um bar de jazz. Luiz e eu ainda voltamos caminhando para casa.

 

Enquanto isso, na sala de justiça, a mais nova imparável, cuja a prova de iniciação consistia em fazer esfirras, sugeriu nos encontrarmos no fim de semana. Conversa vai, conversa vem, pensei, também podia fazer um quibe… e por que não, uma festa árabe? Verdade seja dita, me pareceu divertido fazer uma festa árabe no sábado de aleluia. Foi na nossa casa e cada um trouxe alguma coisa dentro do tema, além  de pedirmos para que viessem vestidos de brimos.

 

Como uma imagem vale mais que mil palavras, vou mostrar que a gente recebeu as pessoas assim.

 

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Juro! Quando ainda estava me arrumando, crente que estava abafando, me aparece Luiz com essa cara na porta do banheiro! Quase tive um treco! Caraca, casei com o Mohamed?

 

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Não foi uma festa tão grande, no que conseguimos fazer reunião pequena. Mas os amigos, como sempre, entraram na brincadeira e ficou engraçado. Nenhum vizinho reclamou. Ainda não sabemos se era por estarem viajando no feriado, ou porque ficaram com medo de sermos terroristas.

 

Domingo deu a maior preguiça de andar, ainda por cima fazia um friozinho. A primavera ainda não estabilizou, mas não reclamo, os dias estão bonitos e finalmente anoitecendo mais tarde. Luz!

 

E agora, adivinha o que vou fazer? Ai, que saudade das minhas botinhas queridas…

 

 

Pausa para comerciais: Buraco da Fechadura Social

Queridos amigos e leitores, é o seguinte, o Luiz, digníssimo senhor meu marido, tem uma amiga dos tempos de colégio chamada Carmem. Ela hoje mora na Florida e tem um filho chamado Guilherme, por volta de uns 10 anos.

 

E o que a gente tem com isso? Só estou contando para dizer que a história na sequência é verídica, sendo assim, quem quiser, pode contribuir sem medo de estar fazendo papel de bobo.

 

O Guilherme nasceu com um defeito congênito chamado Diastematomyelia, que a Carmem pode explicar melhor para quem estiver curioso. Mas resumindo a história, uma das consequências é uma grande dificuldade de locomoção. Daí ele experimentou um aparelho chamado Bioness L300, o qual fez com que, pela primeira vez, ele andasse, e até corresse, sem cair ou tropeçar.

 

Até aí, ótimo! O problema é que o seguro de saúde não cobre os custos do tal aparelho e a mãe está com dificuldades para comprá-lo. Por isso, resolveu pedir ajuda aos familiares e amigos para juntar os US$ 6.200. E é aí que entramos, contribuindo e ajudando a divulgar a informação. Divulgar a informação significa indicar o website, por favor, não repassem o caso nessas correntes malucas que ninguém acredita. Não há um limite mínimo de contribuição, é o que quiser ou puder dar, nós enviamos a nossa por PayPal.

 

Para saber maiores detalhes, entender como pode enviar sua contribuição e acompanhar o caso, o blog do Guilherme é http://walkingwithgui.blogspot.com/

 

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119 – Falta pouco

Falta muito pouco para a próxima caminhada, o que me deixa monotemática. É difícil não pensar ou não falar nisso, invade a minha vida e é bom. Continuo saindo e fazendo as coisas normalmente, mas sempre bate um pouco de ansiedade. Por mim, já estava lá.

 

Paciência, precisamos esperar quase três semanas. Sairemos de Madri em direção a León em 25 de abril. Ali só dormiremos e pegaremos outro trem para Sarria, de onde iniciaremos a caminhada até Santiago. Serão mais ou menos seis dias de andanças para cobrir os últimos 100 km. Chegando em Santiago, vamos decidir se seguimos a pé para Finisterre, vai depender do estado físico e da sinalização. É que encontro informações descasadas desse trecho, entre Santiago e Finisterre, então melhor perguntar por lá mesmo. Aparentemente, mudou bastante nos últimos anos.

 

As passagens de trem de ida estão compradas e as posadas reservadas. Tem um lado legal que é o de chegar e descobrir onde dormir, mas a verdade é que já conheço esse trecho de cor e salteado, então porque não escolher o que sei que é melhor? Depois, da última vez que estive por aquelas bandas, havia uma invasão de alemães e estava bem difícil encontrar um bom local para ficar, porque afinal de contas, alemão reserva tudo com dois anos e meio de antecedência, acho que eles programam até as idas ao banheiro!

 

Tenho um certo carinho pelos lugares que me hospedei e até de retornar nas posadas estou gostando. O planejamento perdeu o objetivo de controle e passou a ser simplesmente uma comodidade e um jeito de revisitar momentos. De qualquer maneira, sei que cada vez é diferente, por mais que se reconheça os rostos locais, as comidas, o cavalo que parece um cachorro, a velhinha arqueada, as vacas que vão perdendo os chifres, as ovelhas e seus pastores, os cães de trabalho, as conchas de diversas texturas, o barro, os horreos, os sotaques, a garoa… Algumas noites sonho com partes do Caminho e quando ando pelas ruas vejo os vários sinais.

 

Fisicamente, não estou no melhor momento do mundo, até porque a primavera acaba de entrar. Mas tenho condições e esse trecho não é complicado, há seus desafios, mas muito razoável e também dividi as paradas de maneira que não ficasse tão puxado. Agora, se a gente resolver esticar a pé para Finisterre, devem ser uns três dias mais difíceis, isso é que não consigo confirmar, porque tenho informações de quilometragens diferentes. Também não tem problema, porque como já seria na segunda semana, na primeira a gente ganha condicionamento.

 

Minhas botas estão macias e dei mais uma mão de cera impermeabilizante. Comprei camisetas novas e outra calça, as minhas antigas estavam fatais. Acho que nunca tive roupa com tanta tecnologia na vida! As camisas tem fio do caramba a quatro, antimofo, proteção solar, sem odores… só faltam cozinhar e fazer cafuné. Deve ser um pouco de mentira, né? Mas enfim, até que são bonitinhas, secam bem rápido e são levíssimas, o que importa. Já comecei a testá-las e adotei o visual peregrino para todos os lugares que vou, ainda bem que dessa vez estou com menos pinta de mendiga. Agora só pareço uma maluca andando assim na cidade, porque claro que também estou treinando com a mochila. Ainda não tive coragem de sair com o bonezinho de caçar borboletas, porque também não faz tanta diferença no treino. Pior o Luiz, que sai de bermudas com aquelas botas de trekking! Fica parecendo um tirolês bem passado, mas a gente precisa apoiar, sabe como é, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza… A verdade é que quando treinamos juntos somos uma dupla meio bizarra, acho que as pessoas em volta ficam com um pouco de medo. Tudo bem, no Caminho estaremos mais do que normais.

 

Mudei um pouco a dieta, mais carboidrato e fibras. Cortei o whisky e a cachaça, porque demoram mais a sair do corpo e tiram energia, o vinho pode. Tenho três semanas para corrigir a postura das costas, vou tentar fazer mais alongamentos. Os joelhos, acho que consegui acertar, mas sempre preciso prestar atenção neles. Cuidado absoluto aos pés, daqui até a data da viagem, nada de saltos altos.

 

E vou nessa que ainda preciso fazer os 10 km de hoje.

 

118 – Uma das melhores partes de envelhecer

Sexta-feira passada fui a um casamento, festa pequena e restrita aos amigos próximos. Eu adoro casamentos, seja de que maneira forem, porque as pessoas não são iguais, portanto é razoável que cada ritual siga o estilo dos seus. O que importa é que o momento exista e simbolize o início de um ciclo novo.

 

Pois esse foi um jantar para umas 30 pessoas mais ou menos, não contei, mas acho que é uma boa ordem de grandeza. Presentes alguns dos imparáveis que se conhecem há mais tempo, mas nesse dia, todos estávamos comportados. As meninas subiram, literalmente, no salto; e os meninos também deram sua caprichada.

 

Entraram os noivos, felizes e emocionados como deve ser, haviam casado oficialmente pela manhã. Na festa, um convidado se fez de padre e improvisou uma minúscula cerimônia bem humorada. Assim, poderíamos partir para a celebração.

 

Encerrado o jantar, o amigo músico ocupou seu posto e foi rapidamente acompanhado por três crianças e um adulto, onde honestamente, nos custava saber quem era mais criança. Uma coreografia frenética e divertida, onde os meninos pareciam se sentir dançarinos perfeitos em passos improváveis.

 

Levantamos também para engrossar a pista de dança. Foi quando notei que a mesa se enchia de garrafas… de água! Engraçado isso, porque somos um grupo que gostamos de sair e nos divertir, o que geralmente é regado a álcool. Nesse dia, com todo o tipo de bebida disponível, decidimos todos ao mesmo tempo que queríamos água! Parecia combinado e não foi, sintonia pura.

 

Depois de pouco tempo, fomos incentivados a cantar em coro com quem sabia. Aceitei sem a menor relutância. Passei distraída com as brincadeiras, até que em um único momento me veio a consciência que estava cantando, com um microfone e tudo, em plena festa de casamento! Eu?

 

Tudo bem, não era sozinha, não era em um estádio de futebol, e muito menos para estranhos, mesmo assim, posso assegurar que essa seria uma cena absolutamente impossível em um passado próximo.

 

O intrigante, pelo menos para mim, é que não corresponde ao fato de acreditar que canto melhor, ou de estar liberada pelo teor alcóolico, ou de considerar um desafio. Nada, era só divertido. Até brinquei com minha amiga, pronto, está provado que também pagamos mico sóbrias, né?

 

No caminho para casa, vim viajando na maionese sobre essa deliciosa sensação de liberdade, que não tem outra explicação que não seja o fato de estar envelhecendo. Digo no gerúndio, porque não me sinto velha, mas essa é sempre uma sensação relativa. Cada vez mais tenho menos medo de fazer o ridículo, porque descobrimos que nem é tão ridículo assim, e se for, é só uma fração dentro de uma perspectiva muito maior. E que passa.

 

Tenho mais vontade de dizer para as pessoas que gosto delas, que sinto saudades, de falar com estranhos e de contar minha vida.

 

Quando vejo hoje uma senhora idosa dançando e cantando sozinha como uma louca, não sou condescendente e não acho graça da mesma maneira que achei dos meninos enlouquecidos dançando. A loucura infantil é relevada pela falta de entendimento que é loucura, a madura é admirável porque é corajosa. Acho bonito a coragem de alguém que talvez já não tenha a mesma lucidez, mas que também talvez, não dê mais a mínima para isso.

 

Em síntese, tenho poucos medos imaginários, quase nada que chegue a paralizar. Em compensação, tenho a consciência que os medos que persistem são definitivos e, ainda que remediáveis, sem solução. Há dias que eles me assustam, mas hoje não.

117 – Show do Lenine em Madri

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Ele tem cara de felino, é meio feio e é bom para burro! No palco ele cresce, tem um sorriso sacana e um molejo debochado. Às vezes me parece um cruze de Duardo Dusek, Elba Ramalho, Chico Science e garganta de Elza Soares. E ainda assim, com um estilo próprio e inconfundível. Adoro Lenine!

 

Ontem, 25 de março, foi show dele em Madri e é claro que fui! Aconteceu na Sala Heineken para a divulgação do CD Labiata. Tocou também músicas de outras fases para alegrar a galera.

 

Para quem imaginou um repertório tranquilo, se deparou com um maracatu hard core total. E essas são coisas que admiro, a capacidade e a ousadia de fazer diferente, me agrada essa quebra de paradígmas, prova que ao mesmo tempo se pode ter um som pesado, de qualidade muito boa e emoldurando letras excelentes. Mérito também dos músicos que o acompanharam, muito bons. Energia pura!

 

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Mas deixando a tietagem um pouco de lado, fui com Luiz e encontramos um monte de amigos. Nossa base são os imparáveis, mas ontem havia várias tribos, amigos de amigos, conhecidos de vista, enfim, até fomos apresentados a uma famosa atriz espanhola que nenhum de nós tinha a menor idéia de quem era! Mas ela com certeza era famosa, porque usava chapéu e todo famoso usa chapéu e/ou óculos escuros, mesmo à noite.

 

Meus companheiros de inferno estavam calmos, quase não falamos mal de ninguém, ou então não ouvi, estava ocupada me chacoalhando.

 

Mais da metade do show assisti no esquema girafa, esticando o pescoço. Não consigo entender, na rua só tem baixinho, mas toda vez que vou assistir qualquer espetáculo, há uma convenção de altos na minha frente. Estou convencida que é pessoal! Bom, chegou um momento que vi um buraco bem no meio da platéia, me segurei um pouco porque tinha gente amiga mais baixa atrás, mas chegou uma hora que não resisti e ocupei a posição improdutiva meio sem graça. Minha timidez deve ter durado quase dois segundos. Fantástico, porque fiquei na reta do microfone do Lenine a não mais de cinco metros de distância. Além de ter espaço para dançar Alzira e a Torre, melhor impossível.

 

Depois de encerrado, ainda voltaram para cantar três vezes, afinal o pessoal não sossegaria até ouvir Paciência. Isso não é muito normal nos shows aqui, quando acaba todo mundo aceita e vai embora, mas sabe como é brazuca, a gente sempre quer mais. E verdade seja dita, eles foram bem simpáticos com o público. Valeu!

 

 

 

 

116 – Vou outra vez

Quem já fez o Caminho de Santiago, ou ao menos tenha decidido fazê-lo algum dia, talvez entenda melhor o que vou dizer, há momentos que ele simplesmente te chama. A gente aprende a ler os sinais e tudo começa a se converter nesse sentido.

 

Há maneiras distintas de trilhá-lo, uma vez peregrino você decifra os códigos, reconhece rápido e pode adaptar o trajeto. Acontece que moro aqui do lado, não tenho grandes empecilhos, então, quando ele me chama, aceito o convite. E é por isso que irei, ele está lá e me chamou.

 

Você vai sentindo que chega a hora, mas aprende também a ter paciência. Quando cheguei do Brasil e o vento bateu no rosto foi o primeiro pensamento, já não está tão frio, pode ser. Depois perguntei se Luiz queria vir comigo, ele se animou, mas foi um pouco reticente, resolvi não insistir, mesmo que a gente vá junto, cada um fará o seu, porque é assim. Para mim, estava decidido, faltava iniciar o treinamento.

 

Nesse domingo, recebo um e-mail inesperado de um amigo que conheci na primeira caminhada, fará outro trecho em maio, começando em Astorga. Será que era o Caminho me cutucando?

 

Entendi a mensagem, era hora de começar a me preparar fisicamente, não posso mais esperar, sei muito bem o que dói a musculatura preguiçosa e o que faz ao pé uma pele desacostumada ao suor e ao atrito. Essa semana comecei a caminhar mais pesado todos os dias e a acordar mais cedo. A bebida reduzo bastante, procuro cortar os destilados, tomo um pouco de vinho porque senão também vira sacrifício e depois, no caminho a gente toma. Ajuda a relaxar os músculos, dói menos e a gente dorme melhor.

 

Daí ontem, Luiz me passou algumas datas que irá tentar se agendar para fazermos a caminhada juntos. Provavelmente, duas semanas entre final de abril e início de maio. Achei ótimo, prefiro ir com ele. Mas é engraçado porque é sempre quando resolvo não esperar por ninguém e ir de qualquer jeito que as pessoas confirmam que vão comigo. Foi o primeiro dia que ele começou a se preparar, se o Caminho também o chama e se ele já decidiu que sim, só ele pode saber.

 

O plano A é fazer de Sarria a Santiago de Compostela, trecho mínimo necessário para garantir a Compostelana para ele e de lá seguir até Finisterre. A primeira parte conheço de cor e salteado, é um trecho relativamente tranquilo, tem seu nível de dificuldade para iniciantes, mas nenhum desafio absurdo. De Santiago a Finisterre, é um trecho novo para nós dois, optei por esperá-lo para fazer, vamos ver se dessa vez conheço onde acaba a terra. Isso tudo pode mudar, é importante ser flexível, mas parece um bom plano e bem razoável.

 

E é isso, quem diria que eu, mais urbana impossível, iria sentir tanta falta do cheiro de bosta de vaca!

 

 

115 – Uma maratona de comemorações

Começou no próprio dia 18 de março, quarta-feira, quando celebramos só nós dois. Jantamos em casa mesmo e tomamos um vinho enfurecido.

 

Na quinta, chegou um amigo da Suíça que veio para a festa. Deu um jeito de conciliar uma visita a cliente com a data e lá fomos nós jantar no El Rincón de Jaén. Nós três e o mesmo número de garrafas de vinho, fora uma incomensurável prancha de mariscos.

 

Na sexta, dia da festa de bodas de cristal, acordei sonolenta, mas elétrica. Estava naquela euforia infantil de chegar logo no parque.

 

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E uma experiência diferente, praticamente não tive trabalho, porque foi tudo contratado, o que é raro, costumamos fazer as festas em casa. Dessa vez, optamos por um bar chamado El Naranja, moderninho, aconchegante e administrado por um casal jovem e super simpático. O local só não foi totalmente fechado para a gente porque ficava difícil ter alguém na porta controlando a entrada, mas a música era nossa e a verdade é que os convidados da festa ocuparam quase todo o espaço. E os desconhecidos que apareciam, ia logo me apresentando como a noiva, falei com o bar inteirinho! Lógico, com o povo de farra dizendo que eu tinha várias novas amigas de infância.

 

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O destaque foi para a música, tivemos o privilégio de contar com os shows de dois artistas brasileiros que considero entre os melhores na noite madrileña, Afonso Rodrigues e Lenna Pablo. Arrebentaram!

 

Afonso Rodrigues
Afonso Rodrigues

 

 

Lenna Pablo e Jomar
Lenna Pablo e Jomar

 

 

Paguei os micos de costume, toquei tantam, ofereci música para Luiz, tudo que tinha direito! Estava feliz pacas! Até no palco subi enquanto o Afonso precisou de um intervalo, por sorte, contei com as amigas marrom e a esposa do cantor para me fazerem companhia ao pisotear uma jaca gigantesca! Inclusive, a escolha da música foi perfeita para a ocasião, qualquer hora tomo coragem de postar o vídeo no sefodeaí.com.

 

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O resumo da ópera é que foi o máximo! Para nós é um prazer poder dividir os momentos felizes com os amigos. Completa um círculo de energia boa e de futuras memórias que quero construir para sorrir com meus botões quando não puder mais fazer nada parecido.

 

Ficamos até o último convidado e os donos do bar acenderem as luzes. Na saída, junto com alguns casais de amigos, ainda nos ofereceram uma irresistível coxinha, que por incrível que pareça, além de gostosa estava quentinha. O rapaz disse que era músico, tocava cuica, mas se virava vendendo salgadinho.

 

Fomos dormir cansados, mas não até muito tarde, porque está pensando que acabou? No sábado tinha churrasco dos imparáveis aqui em casa! Início de primavera, todos loucos para fazer uma fotossíntese básica e afoitos por carne no carvão. Além do mais, era o chá de bebê de uma das amigas, juntamos tudo e fizemos o churraschá. Demoramos tanto a marcar que o bebê nasceu uma semana antes, assim que pode comparecer ao próprio evento como convidado especial e foi iniciado como o mais jovem imparável.

 

Admito que peguei no tranco, estava meio lerda, irritável e com pouca habilidade para me comunicar. Só não fico muito quieta pelos resquícios da hiper atividade, é o efeito bicicleta, posso até pedalar devagar e no plano, mas se parar eu caio. Tratei de caçar função em uma das churrasqueiras.

 

As comidas e bebidas, os convidados trouxeram, nós só oferecemos a casa porque sabia que dessa vez não teria a menor condição de preparar nada no dia. A carne, dividimos o valor e estava divina! Um dos amigos trabalha em uma churrascaria e tinha um bom fornecedor a preço de atacado. Resultado, carne para cassilda e um pouco mais! Olha que comemos nababescamente, éramos umas 30 pessoas e ainda assim sobrou para um próximo churrasco. Tive que distribuir sacolas de carne aos últimos convidados porque não cabia na geladeira.

 

Comecinho de madrugada e estávamos mortos! Tudo bem, acho que nosso estado de calamidade pública devia estar estampado na cara, porque ao final, para nossa felicidade, todo mundo ajudou a arrumar a terraza. Foi só o tempo de tomar um banho e desmaiar.

 

E, no domingo, sabe o que a gente fez? Nada, mas nadinha de nada!

 

114 – Após 15 anos…

 

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Namorando em Búzios
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Primeiro casamento que fomos juntos, ainda namorando
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18 de março de 1994
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Primeiro Natal em São Paulo
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Em alguma praia do nordeste, entre Maceió e Recife
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Sevilla, a Espanha foi nosso primeiro destino internacional depois de casados
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Em algum fim de semana no Rio de Janeiro
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Biarritz

 

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Em Roma, de motorino... born to be wild! 😛
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Jack e Buchannans, meus presentes de aniversário do Luiz, quando fiz 30 anos
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Meu aniversário de 31 anos
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Em Paris, nas nossas bodas de 10 anos
Amsterdam
Amsterdam
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Apartamento da Alameda Santos, último endereço no Brasil
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Exposição no Banco Central

 Começo a desconfiar que o segredo para um casamento feliz seja mudar o corte de cabelo!

113 – Os espanhóis que me perdoem, mas os italianos são mais gostosos e meu marido concorda!

Muita calma nesse momento, porque é lógico que estou falando dos vinhos.

 

Venho tendo excelentes experiências com os vinhos espanhóis, realmente, não tenho do que me queixar. Além do mais, é vertiginosamente mais fácil de encontrar aqui e o preço compensa.

 

Acontece que de vez em quando Luiz precisa ir a trabalho para Itália e como 99% dos nossos presentinhos em família são referentes à gastronomia, três chances para adivinhar o que peço de lá: um dicionário, a fotografia do Berlusconi de sunga ou… VINHOS!

 

Pois é, já faz alguns meses e chegou em casa um super Toscana enfurecido. Fiquei esperando o melhor momento para abrí-lo, porque há vinhos que merecem uma reverência e não devem ser abertos impunemente, dá um azar danado!

 

Dessa vez, não tinha vontade de fazer um jantar, faz pouco que cheguei do Brasil e gosto do costume das tapas. Então tá, servi um jamón ibérico-de-bellota-master-plus-emerald-ultra-bom-pra-burro, salmão defumado com cream cheese, linguicinhas assadas e queijinhos e carinhos sem ter fim, que é para acabar com esse negócio de você viver sem mim.

 

Bom, geralmente, primeiro escolho o vinho e faço a comida em torno dele. Mas dessa vez foi uma exceção, arrumei as comidinhas e fui escolher a bebida. Até estava buscando um vinho bom, mas juro que não ia com tanta sede ao pote.

 

Olhei para o Toscana, ele olhou para mim… tst, ah, a gente merece!

 

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Coloquei para decantar, escolhi as taças adequadas e já comecei a ficar empolgada. Sempre provo o vinho antes de levar para a mesa, um vinho incorreto é uma surpresa bastante desagradável, mas pode acontecer. Só que não aconteceu. Um aroma inconfundível, dos deuses, e uma mínima quantidade na boca que fez os taninos explodirem, me tirou do chão! Sangiovese com merlot e minhas bochechas irradiavam o sol da Toscana.

 

E depois diz a lenda que satisfazer uma mulher é difícil…

 

112 – Primavera chegando

Ok, ok, andei de mal humor, eu sei… e também, foda-se! Nunca fui politicamente correta e tem dias que a gente está de mal humor mesmo, né não? Mas melhorou, ufa!

 

Acontece que a primavera está chegando, o sol está lindo, a temperatura está uma delícia e os CDs que trouxe do Brasil são ó-ti-mos! Acabei de ouvir todos, tomamos um super Toscana inspirador e isso eleva o espírito da gente, então, vamos lá…

 

Estava meio na dúvida se celebrávamos ou não nosso aniversário de 15 anos de casados. Normalmente, sou eu que fico botando pilha para fazer festa e tal, mas estava meio ranzinza.

 

Quando a gente fez bodas de 10 anos, pretendia casar outra vez, com o mesmo marido, é claro, mas fazer uma festa de casamento em Sampa. Acontece que não somos donos do nosso destino e saiu nossa mudança para Atlanta, o que melou nossos planos. Daí, transferi esses planos para os 15 anos, só por ser uma data meio redonda.

 

Chegou agora e eu com esse humor mais ou menos, alergia mais ou menos, tudo mais ou menos. Acontece que só sei ser muito mais ou muito menos e agora me empolguei. Quero um festão, merecemos todos!

 

Ontem fechamos com um bar e nosso amigo músico. Tenho planos malévolos de depois invadir o palco e exercer o injusto direito de donos da bola, não quero nem saber, sou uma senhora bauzaca, casada há 15 anos, carioca fajuta abusada, quero meu crachá! Só sei que na sexta-feira que vem, botamos para quebrar! Somos irritantemente felizes e conhecemos os melhores amigos do mundo, por todo o mundo, así que a celebrar!

 

E enquanto isso, na sala de justiça, como vão as coisas? Vão bem, ué, fazer o que? Se a gente esperar a perfeição, não chega nunca, mas tudo vai se resolvendo.

 

… Tá liberado!/ Aê, segura o patuá/ Toda boate tem um fundo de verdade/ Quem não pode com a mandinga não me tira pra dançar… (Beat da Beata, Ana Carolina e Seu Jorge – putz, que CD bom!)

 

111 – Cuidado, humor feminino oscilante!

Na quinta-feira, logo no dia seguinte à minha chegada do Brasil, era dia do coral. Meu fuso ainda não estava dos mais acertados, mas já quis ir logo entrando no esquema.

 

Estava um pouco preocupada pois o grupo passou por uma mudança, que ao meu ver era bastante natural, mas à distância você fica meio na dúvida do que está acontecendo. Me estressei um pouco também, detesto participar desses momentos sem ser pessoalmente.

 

O que vi, na prática, foi bastante positivo e me alegrei ao encontrar um grupo maior do que imaginava e aparentemente bem engajado. Ainda temos algumas arestas para aparar, estamos revendo o repertório, nos reorganizando informaticamente, enfim, acredito que faça parte do processo e estou otimista. Foi bom voltar.

 

No domingo, fizemos uma apresentação em uma residência para mayores. É um misto de apart hotel e clínica para pessoas idosas, onde a pessoa mora, recebe cuidado hospitalar e tem algumas atividades para o lazer. O conceito me parece bastante interessante, não é deprimente como um asilo e oferece os cuidados necessários. Infelizmente, também faz com que alguns familiares relaxem e deixem seus pais e avós meio abandonados. Cuidado médico é importante, mas carinho também faz falta. Portanto, fomos com esse objetivo, de tentar levar um pouco de alegria para eles sairem por alguns momentos da rotina.

 

De maneira que em pleno domingo, com uma ressaca alérgica desde sexta que daqui a pouco eu conto, acordamos cedo e lá fomos nós. Tinha dúvidas de como nos receberiam, principalmente porque cantamos em português. Mas a verdade é que nos receberam muito bem, parecem ter gostado e eu também gostei.

 

Uma das senhoras era animadíssima, levantava o tempo todo para dançar conosco, balançava a saia e dizia empolgada, olé! No início, uma enfermeira tentava contê-la, mas logo uma de nossas integrantes sinalizou que não era necessário. Por mim, contratava essa senhora para estar em todas as nossas apresentações! Mais do que isso, acho que quero ser ela quando crescer! Minha amiga imparável me cochichou entre uma música e outra, viu nosso futuro, né?

 

Enfim, valeu e espero que venham outras apresentações assim.

 

Mas voltando um pouco o filme, na mesma quinta, depois da aula e ensaio no coral, encontrei minha mãe pelo MSN. Resulta que, no dia seguinte à minha saída do Rio, meu irmão foi diagnosticado com uma pneumonia e meu pai começou com problema nos rins. Para completar, a empregada também pediu as contas! Ca-ra-ca! Como assim? Eu acabei de sair daí e estava tudo bem! Não é motivo para pânico, tudo pode ser solucionado, mas fiquei preocupada e chateada de não estar para ajudar. Fazer o que? Só podia esperar.

 

Na sexta-feira, houve uma festa na casa de uma amiga que dança muito, nós já tínhamos confirmado e encontraria os amigos imparáveis, que estava com saudades. Animado como sempre, música ao vivo como sempre e nós, chutamos o balde, como sempre.

 

Quando não estou muito feliz, não devo beber, sei disso, mas ignorei a regra. Depois, por um lado estava feliz em rever os amigos, é que a vida é meio dividida mesmo e nem sempre a gente consegue estar com tudo bom. Então, me anestesio e viajo para meu planeta onde tudo dá certo. No dia seguinte a gente vê o que acontece.

 

Outro problema, é que sou alérgica a cigarro, o que na Espanha é um caso sério, e dentro de um apartamento fechado com meio mundo fumando… é broca! Resultado, depois de uma noite extremamente divertida, passei mal para burro! Parte foi minha culpa, é verdade que exagerei um pouco na bebida. Mas também acordei com a alergia atacada, toda entupida e com os olhos inchados, por causa do cigarro alheio.

 

Tomei uma decisão, não consigo mais ser tolerante, não adianta tentar ser simpática e não cortar a onda dos outros e ferrar minha própria saúde. Sorry, pessoas, por favor, não fumem nas minhas narinas, eu vou reclamar! Não é saudável, prejudica todo mundo, fede e incomoda sim!

 

Passei o sábado mais tranquila com o Luiz, tentando respirar e me recuperar para domingo, o dia que fomos cantar para os velhinhos. Ainda acordei fanhosa e entupida, mas melhorei enquanto cantava.

 

Na sequência, fomos ao aniversário de uma amiga. Um esforço para fazer uma cara melhor e manter os olhos abertos, até porque sei que ela caprichou um bocado na festa. Estava ótima e cheia de comidinhas gostosas. O namorado dela é músico, entre outros presentes, daí rolou um improviso. Nós estávamos com os instrumentos, porque havíamos levado na apresentação. Então, aproveitei e também toquei um pouco para praticar.

 

Não chegamos tarde em casa e menti para Luiz, convidando para ver um DVD já deitados. Claro que apaguei nos primeiros três minutos do filme! Culpa do polaramine.

 

Na segunda-feira, acordei num mal humor do cão! Ainda entupida, com cólica, sem vontade de fazer nada! É que na terça era dia de sacar las huellas, ou seja, tirar as digitais para meu novo documento espanhol, o qual dos dois anos de validade, um já foi comido inteiro só de espera! Eu de-tes-to cada passo do processo de documentação, aliás dos inacabáveis processos de documentações!

 

Chegou a terça e lá fui eu para a Av. De los Poblados encontrar a advogada. Não adianta, para mim é sempre uma agonia até o minuto que saio com tudo resolvido. Foi rápido e indolor, ela estava me esperando com o lugar bem na frente da fila e o curiososo é que havia uma taxa a ser paga que, por engano, pagamos ela e eu. Quando chegou minha vez, descobrimos que na realidade eram duas taxas a serem pagas, e o que pagamos errado, se converteu em correto e eliminou um próximo passo. Ótimo, a sorte precisa ajudar de vez em quando! Agora, deve levar mais ou menos um mês para que o documento fique pronto.

 

Voltei para casa com o humor muito melhor, com isso acredito que minha resistência suba outra vez e me livre dessa maldita alergia! Mesmo assim, vou manerar nesse fim de semana, quero ficar boa logo.

 

E por que? Porque na próxima semana, no dia 18 de março, faremos 15 anos de casados! Queremos comemorar, mas ainda não está certo. Entre nós, sempre comemoramos no dia, mas queria fazer uma festa, só para variar um pouquinho. Acho que vai rolar alguma coisa no dia 20, que cairá em uma sexta. Estamos tentando fechar um bar, acho que hoje a gente decide, tomara que dê certo!

 

 

110 – Voltando

Estou de volta a Madri, naquele efeito surumbático de fim de férias. Fiquei devendo os relatos cariocas e paulistas, o que tentarei fazer agora.

 

Então vamos ao que o povo quer saber, e afinal, como foi a famosa festa de aniversário dos 70 anos do meu pai? Foi ótima! Começou tímida, porque sabe como é, todo mundo ia viajar, era no meio do carnaval… e claro que ninguém viajou, todo mundo topou aparecer e teve gente que até voltou antes para não perder o evento. Resumo da ópera, foram mais de sessenta pessoas, com direito a música ao vivo e tudo. Compramos uns acessórios e deixamos disponível para os convidados pegarem o que quisessem usar, máscaras, perucas, óculos, gravatas de papelão, colares de havaiana, chapéus com purpurina etc. Enchemos umas bolas, soltamos serpentina, enfim, ficou bem baile de carnaval.

 

Claro que foi no esquema matinê, porque às 22:00hs impreterivelmente, meu pai vai dormir e pronto, pode estar até o papa em casa! Portanto, começamos cedo, às 19:00hs o circo já estava armado. A verdade é que boa parte dos seus amigos preferem esse horário também e a festa era deles. Posso dizer que se não foi longa, foi intensa e divertida. A maioria das pessoas se foi por volta das 23:00hs e ficou apenas gente da família, porque pre-ci-sá-va-mos terminar o prosecco, o que dei minha generosa contribuição.

 

Valeu ter colocado uma certa pilha. Festas dão trabalho, mas trazem uma boa energia para a casa. Era minha intenção mais declarada na viagem e foi muito bem cumprida.

 

Engraçado porque não sou pessimista, mas fui preparada para encontrar um quadro bem pior e encontrei uma situação problemática sim, porque a vida não é simples, mas de maneira geral, sob controle. Portanto, tudo me pareceu fácil e relaxado. Sei que é diferente estar no dia a dia, e que simplesmente tangenciei a situação, mas nesse momento, é o que está ao meu alcance. Cada cabeça, sua sentença, se posso ajudar, bem, se não posso, também não tenho porque carregar culpas extras que não são minhas nem estão nas minhas mãos. Muito menos, procurar alguém que as carregue.

 

Quase todos os dias, caminhava de manhã mais cedo pela orla, molhando as canelas e com protetor 50. Fiquei com uma cor saudável, ainda que quase ninguém tenha percebido, mas eu notei. Durante o dia, ia me dividindo entre as atividades inventadas pela minha mãe para tirar meu pai de casa. Consegui encontrar alguns amigos, poucos, mas que estava com saudades, todos seguindo suas vidas e seus próprios caminhos. Fui ao Jardim Botânico, comi carne na Porcão, sushi com vista panorâmica, passei pelo Rio Sul, tudo que queria era o básico!

 

Preciso dizer que o carnaval no Rio está o máximo! Fiquei muito orgulhosa! Porque, honestamente, quando morava lá era uma merda, sério. Não tem maneira mais delicada para descrever, só havia o famoso desfile das escolas de samba, que era a única coisa que prestava, mas convenhamos, totalmente concentrado no sambódromo. Além disso, só havia os bailes de clubes divididos em duas categorias: para putas ou para travestis. Ok, havia um ou outro bloco mais tradicional que saía, mas a gente tinha até medo de dar o ar da graça. O carioca mesmo, desaparecia da cidade. De alguns anos para cá, o povo do Rio parece que acordou e voltou a valorizar o carnaval como nasceu. Literalmente, botaram os blocos na rua, e cada bairro se empenhou em caprichar. Resultado, um carnaval alegre, democrático e com os cariocas comparecendo em peso. Adorei!

 

Infelizmente, preciso admitir que mais olhei que dancei. Porque qualquer garotinha de cinco anos sambava melhor do que eu! Todo mundo bombadíssimo, bronzeadíssimo e siliconadíssimo! Isso mexe com a auto estima da gente, sabe? Ainda assim, com toda essa pinta de gringa, passei pelos blocos ilesa com minha mãe, tia, prima, enfim, todo mundo estava lá para se divertir. E o nome dos blocos? Tem coisa mais irreverente no planeta? Bola Preta, Simpatia Quase Amor, Não Mexe que Fede, Peru Sadio, Largo do Machado Mas Não Largo do Meu Copo… uma criatividade sem limite!

 

Bom, uma hora o carnaval acabou e lá fui eu para São Paulo. Dessa vez, fiquei na casa da família paulista e, desde que saí do Brasil, foi a vez que consegui ficar mais dias em Sampa. Cheguei na quinta e fui embora no domingo, quatro dias e três noites, um verdadeiro record!

 

Cheguei na quinta, dia 26 de fevereiro, pela hora do almoço. Minha amiga foi me buscar no aeroporto e fomos direto para sua galeria, onde outra amiga inauguraria sua exposição no dia seguinte. Almocei com elas, enquanto maquinava meu plano malévolo de ir até minha cabeleireira favorita, que já não via há mais de cinco anos.

 

E assim fiz, fui sozinha para o Jardim Sul, que fica no fim do Morumbi e é um shopping de bairro. Dos dez anos que morei em São Paulo, a maior parte foi por ali e frequentava semanalmente a mesma cabeleireira. Era também onde fazia minhas compras de supermercado, de presentes, de roupas, ou seja, um local que fez parte da minha rotina. Foi muito estranho entrar ali anos depois e achar tudo diferente. E logo notar que não estava tão diferente assim, era eu quem olhava de outra maneira. O tamanho que a gente enxerga as coisas muda na nossa memória de acordo com as experiências que temos.

 

Deixei para filosofar em outro momento e fui direto para o salão, com aquela dúvida se a cabeleireira, que já era amiga, me reconheceria. Claro que ela reconheceu e parece bobagem, mas tive que esconder que cheguei a me emocionar um pouco. Porque não era só encontrar uma amiga de algum tempo, era repetir um ritual capaz de me lembrar como era o gosto de rotina. Não é uma queixa, só aproveitei o momento e me lembrei. Deixei em suas mãos decidir o corte e o tamanho e senti um prazer enorme em não ter que me preocupar com essa decisão em teoria simples, mas femininamente muito complexa. Ela me tirou dois palmos de cabelo, afinal de contas, eu já estava parecendo uma madalena não muito arrependida, e deu uma repicada que me deixou com a expressão mais leve. Estranhei o peso na cabeça por uns dois segundos e logo me convenci que devia ser isso o que estava mudando os números na balança, certamente, agora eu estaria mais magra! Pronto! Nos despedimos e sei que ela se emocionou um pouco também e escondeu, como eu.

 

Dei mais uma volta ligeira pelo shopping, me despedi com carinho do passado e voltei para a galeria. No caminho, fazia uma força enorme para me lembrar o nome das ruas, o tempo gasto para percorrê-las, as possibilidades de rotas. Tudo me parecia distante. Até que chegamos e fui tentar ser um pouco útil, ajudando na montagem da exposição da minha amiga.

 

À noite, jantar na casa da família paulista, como tantos outros que participamos. Mesa grande, sempre farta, conversa animada e, ao final, 53 garrafas de diferentes licores e digestivos, como se fosse possível prolongar o jantar por mais dias.

 

Na sexta, tentei almoçar no Tordesilhas, mas chegamos tarde. Tudo bem, o Mestiço estava aberto e também foi legal passar por lá e comer aquelas trouxinhas crocantes que esqueci o nome, o frango com gengibre e o sorvete de iogurt com calda também de gengibre. Uma sexta com gosto de domingo, no fim de tarde.

 

Na sequência, o vernissage, que na minha opinião foi um sucesso, com reportagem na TV para o Saia Justa e tudo. Alguns amigos meus apareceram também e foi legal começar a matar a saudade. Contatos no meio artístico, é gostoso circular à vontade. E para completar, acho que vai rolar uma exposição minha nessa mesma galeria, em agosto. Não está 100% fechada, mas estou bastante empolgada. Na mesma hora, a cabeça volta a funcionar, fico estimulada.

 

De lá, ainda saímos para comer alguma coisa, porque quase tudo em São Paulo é celebrado em volta de uma mesa, o que para mim, está longe de ser um sacrifício.

 

Então, como não poderia deixar de ser, no sábado, almoço em um italiano delicioso e ao ar livre. Na volta, fiquei no caminho para visitar um amigo que acaba de ser pai. Por isso, não poderia comparecer à noite ao próximo encontro.

 

Sábado à noite foi o encontro da famosa Diretoria. Em algum lugar do blog já contei a história desses amigos. Marcamos no Devassa, um bar no estilo carioca. Chegamos cedo e dividimos uma mesa muito comprida, a qual tentava trocar de lugar de vez em quando para conversar com todo mundo. Outra vez, parecia que foi ontem e tenho a impressão que sempre será assim, ou gosto de acreditar nisso.

 

Meu amigo-afilhado reclamando que fica enciumado quando vê as fotos de Madri e a gente se divertindo, porque parece cada vez mais difícil voltarmos. Acho bonitinho e carinhoso, mas entendo que o significado vai muito além e me bate forte. Não sei onde vamos morar nos próximos anos, mas sei que é impossível voltar.

 

Fiz propaganda do meu aniversário. Em novembro farei 40 anos e, no que depender de mim, um festão de arromba! Está longe, mas para quem está em outro país, é necessário se programar. Eles disseram que tentarão vir e estou me preparando para montar um acampamento em casa.

 

Tive a sensação que a noite passou em cinco minutos e não consegui conversar o suficiente com todo mundo. Fiquei um pouco nostálgica, mas feliz.

 

No dia seguinte, hora de voltar novamente para o Rio. A amiga da casa onde estava hospedada me levou ao aeroporto, onde encontrei mais duas amigas que foram se despedir. De maneira que tive companhia até quase a hora de embarcar.

 

No Rio, meu irmão me buscou no Santos Dumont. Fazia um calor insano! Aliás, já em São Paulo fazia um calor do cão! Quando a gente sai do estacionamento do aeroporto, dá de cara com um carro aberto, um som alto ligado, e cinco amigos dançando na rua empolgadíssimos, como se estivessem na melhor discoteca do mundo. Será que isso acontece em outros lugares? Sinto falta desse estar de bem com a vida porque sim.

 

No restinho de tempo que tive no Rio, fiquei  mais com a família mesmo. Ainda tentei encontrar meus sogros uma segunda vez, mas não foi possível.

 

A despedida dos restaurantes foi no Shirley, com meus pais. Há muito tempo não voltava lá. Quando morei no Rio, era um local disputadíssimo, onde havia sempre uma enorme fila na porta. Apesar desse nome suspeito, é muito tradicional e familiar. Alguns anos depois, decaiu bastante, o que me dava pena. Agora, como tive a impressão de ser uma atitude geral na cidade, voltou a se revigorar e estava ótimo! O curioso é que nunca havia percebido o quão espanhol ele é! Sei lá, no Brasil as coisas são tão misturadas que a gente não percebe esses detalhes e de repente, me saltou aos olhos, é um restaurante de ambiente espanholíssimo, como de qualquer esquina madrileña. Verdade que o cardápio foi adaptado ao paladar nacional, o que muito me agrada. Comi o famoso camarão ao Shirley, empanado com catupiry, acompanhado de um arroz à valenciana molhadinho, no ponto carioca. Se você faz qualquer coisa al dente no Rio, o povo acha meio cru!

 

Na terça-feira, dia 3 de março, fiz minha única mala, apesar de poder levar três. Detesto carregar coisas! Me despedi do meu pai e do meu irmão em casa e minha mãe foi comigo de taxi para o aeroporto. Assim ficávamos mais algumas horinhas juntas.

 

Dessa vez não fui embora triste. Felizmente, foi bem diferente que em outubro e serviu para tirar o trauma. Alguns momentos difíceis ainda me voltam à memória, parece que o corpo te lembra, mas posso dizer que está superado. Vamos resolvendo cada leão a sua vez.

 

Voltei por Londres, em um vôo bastante confortável, mas longuíssimo. Na ida fui muito bem acompanhada pelo BB King que cantou horas seguidas no meu ouvido. Tinha a esperança que acontecesse o mesmo na volta, mas já não aconteceu. Tudo bem.

 

Não tive problemas com imigração, nem teria porque, mas essas coisas nunca se sabe. Precisei mostrar minha carta de autorização de regresso quando saí da Espanha e, acredite se quiser, no check in da British antes de embarcar no Brasil. Mas na entrada mesmo em Madri, o agente foi bem rápido, nem olhou para a tal carta e foi quase simpático. Acho que depende do dia ou da cara da gente, sei lá!

 

Minha única mala também passou sem problemas, e com ela mais um carregamento de linguicinhas sem tremas e defumadas, divinas.

 

No saguão, Luiz me esperava ainda de terno e trabalhando pelo telefone, mas deu um jeito de ir me buscar. Já era noite de quarta-feira quando consegui entrar em casa e dar um agarrão no meu gato.

 

E assim, estou de volta à não exatamente rotina madrileña. A cabeça, meio lá, meio cá, mas acho que é normal. Daqui a pouco engreno a marcha outra vez!

 

Prêmio Dardo

Estava no Brasil quando recebi esse prêmio e fiquei super feliz!

O Renato do blog  Nós na Coréia, presenteou o Buraco da Fechadura com o “Prêmio Dardo”, que “reconhece os valores que cada blogueiro mostra a cada dia, seu empenho por transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. Em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, suas palavras”:

 

selo-blog

 

E as regras do prêmio são as seguintes:

1) exibir a imagem do selo no blog (esse logo acima)

2) linkar o blog  pelo qual você recebeu a indicação (o Nós na Coréia, também no blogroll)

3) escolher outros 5 blogs para entregar o prêmio (tarefa árdua, porque elegeria outros mais)

4) avisar os escolhidos

E eu envio o Prêmio Dardo para:

Pensar só é bom quando compartilhado, blog do Augusto

Espelho de Mim, blog da Diana

Iacobus, blog da Selma

Crítica (non)sense da 7arte, blog da Alessandra

Malucos ou Coisa Parecida, blog da Glenda