Vou deixar uma coisa bem clara logo no início, não sou sommelier nem especialista. Simplesmente, sou louca por vinhos. Adoro experimentá-los e combiná-los com pratos. É uma bebida que me deixa feliz, mexe com as emoções.
Outro dia, um amigo blogueiro me perguntou sobre os vinhos espanhóis e achei que era um bom tema para escrever. Sem pretenções de dar nenhuma aula, reuni algumas informações e gostos pessoais. Vou logo avisando que a melhor forma de confirmar se o que vou contar é verdade, é provar.
A Espanha é hoje o terceiro produtor de vinho em volume. Ainda que, durante muitos anos, foi pouco conhecida e valorizada no contexto internacional. Viveu à sombra de países como França, Itália e Alemanha.
Exceto pelos Rioja e Ribera del Duero, quase não se ouvia falar dos vinhos das outras regiões. No Brasil, até hoje, basicamente se vende os Rioja. Pouco se sabe sobre os Ribera, na minha opinião, entre os melhores vinhos que já experimentei por essas bandas. Mas isso é gosto pessoal.
Hoje, na Espanha, são mais de 50 denominações de origem reconhecidas e 2 denominações de origem qualificadas, Rioja e Priorato. São vinhos excelentes e capazes de competir com grandes vinhos internacionais.
A Espanha está submetida à legislação da União Européia, que define duas categorias de vinhos, os vinhos de mesa e os VCPRD (vinos de calidad producidos en regiones determinadas), equivalentes a DO (denominação de origem).
Além das classificações oficiais, Espanha conserva suas próprias denominações, algumas inspiradas pelo sistema francês. Podemos dividí-las em sete classificações principais.
Vinho de mesa, que é a categoria básica. Podem proceder de qualquer zona espanhola e não levar menção de origem geográfica nem safra. O termo “vino de mesa” pode vir seguido pelo nome de uma região, nesse caso, é um intermediário entre o “vino de mesa” e o “vino de la tierra”.
Vinho da terra, ou melhor “vino de la tierra”, procede de uma das 28 zonas delimitadas reconhecidas por seu caráter específico e que aspiram por um dia se tornarem DO.
Denominação de Origem (DO), é a categoria mais estendida entre os vinhos de qualidade. É concedida aos vinhos que respondem a certos componentes de cepas, um modo de cultivo e uma origem geográfica. O estatuto de DO é comparável ao da AOC francesa e ao da DOC italiana.
Denominação de origem qualificada (DOCa) – qualificada em espanhol se escreve calificada – é uma espécie de super DO, reservada aos vinhos que cumprem critérios muito precisos de qualidade e regularidade. Rioja obteve esse direito a partir da safra de 1991 e Priorato, em 2001.
Vinho “joven”, é engarrafado imediatamente após a colheita e também é conhecido como “vino del año”.
Vinho de “crianza”, atenção, crianza não quer dizer criança em português, e sim criação. Depende das regulamentações de cada DO. Geralmente, é um vinho que pode ser comercializado depois de haver envelhecido dois anos inteiros, dos quais entre seis e doze meses, em barrica de carvalho. Em algumas regiões, como Rioja e Ribera del Duero, é difícil encontrar vinhos de crianza com menos de 12 meses em barrica. Os crianzas brancos ou rosé devem envelhecer um ano em bodega, dos quais, seis meses em barrica.
Reserva, o vinho deve envelhecer três anos em bodega, sendo no mínimo um ano em barrica. Só é comercializado após seu quarto ano. Para os brancos e rosados, se espera dois anos, sendo seis meses em barrica, e podem ser comercializados no terceiro ano.
Gran Reserva, essa categoria só existe para algumas safras. Os tintos devem amadurecer durante cinco anos, dos quais, um mínimo de dois em madeira. Deve ser comercializado a partir do seu sexto ano. Os gran reserva brancos e rosés são muito raros. Devem ser criados durante quatro anos, no mínimo seis meses em barrica, e comercializados após seu quinto ano.
Muito bem, há um zilhão de detalhes técnicos acessíveis a qualquer um que tenha paciência de navegar pela internet. Mas como disse logo no início, não sou sommelier, sou apaixonada. Portanto, me dou ao luxo de sair um pouco para a prática, bem mais interessante, pelo menos para quem prova.
Meu interesse por vinhos surgiu há uns nove anos, creio. Ainda morava no Brasil. Imagina se queria admitir meu passado negro adolescente, onde tomávamos sangue de boi no copo de plástico! E como confessar que também tomei o tal docinho, com gosto de uva, da garrafa azul? Pior, quando morava no Rio, cometia a heresia de não gostar de chopp e uma das poucas alternativas era a tal da sangria… arg! Ok, mea culpa, mea culpa…
De maneira que, assim que começou a onda das degustações em São Paulo, lá estava eu tentando correr atrás do prejuízo. Descobri que o problema não é que eu não gostasse de vinho, não gostava era de vinho ruim!
Foi como descobrir um novo universo, e por ser tradicionalmente compulsiva, entrei de cabeça. Resultado, fiquei uma chata de galocha! Exigente para cassilda! Acho que estava mais preocupada em perceber se tinha o tal do tanino ou frutas vermelhas, lágrimas, unha, bouquet etc etc. Perdi a capacidade de simplesmente parar e curtir o vinho. Aproveitar a emoção. Opa! Não gostei dessa brincadeira!
Hoje, mais do que prestar atenção em quantos segundos tenho de retro-gosto ao comparar vinhos, prefiro descobrir qual é o mais elegante. E como definir concretamente a elegância de um vinho? Mas quando a gente experimenta, a gente sabe, não? Então, só provando! E é esse meu ponto, se é que posso dar algum conselho é que se aproveite o momento e o vinho específico que está na sua taça, melhor ou pior, ele é sempre único. Na minha experiência, foi quando mais aprendi.
Pois muito bem, morando em Madri, nos dispusemos a conhecer os vinhos espanhóis. Por que não? Honestamente, apenas conhecia e mal os Rioja, os únicos que tinha algum acesso no Brasil. Inclusive, gosto muito, continuo gostando. Os vinhos encorpados me interessam.
Mas aqui, logo na primeira semana, conheci os Ribera del Duero, e me encantei. São elegantes e potentes ao mesmo tempo.
Acho muito difícil eleger o melhor vinho, porque sempre implica em um infinito número de variáveis. Não tenho um favorito, vai depender do momento. Mas, correndo o risco de generalizar, posso dizer que o vinho considerado mais importante na Espanha é o Vega Sicilia, um Ribera. Toda vez que você pronuncia seu nome, algum espanhol suspira do outro lado. Seu preço, como de qualquer bom vinho, pode variar bastante de acordo com a safra, mas dificilmente será encontrado por menos de 80 euros a garrafa. Não sei a que preço chegaria no Brasil, pois as taxas de importação são selvagens, além da diferença do câmbio. Mas enfim, aqui também não é um vinho popular, poucas pessoas o experimentam e assim mesmo, em ocasiões especiais.
Sim, já tomei e sim, é alucinante! Só para constar, também suspirei agora e estou sorrindo ao lembrá-lo.
Bom, mas se você não quer gastar tanto assim, outra boa opção é o Aalto, um crianza de Ribera. A garrafa está por volta de 25 euros e acho um vinho fantástico. O que economizou no vinho, pode gastar em um jamón pata negra e correr para o abraço!
Ainda está caro? Um Matarromera sairá por uns 15 euros a garrafa e prometo que não faz feio. A propósito, não faz nada feio. O câmbio distorce muito os valores, entretanto, se você imaginar o euro a 1 para 1, é mais ou menos a escala de valor que seria aqui. Ou seja, por 15 reais, você compraria um ótimo vinho.
Nos bares, se vende normalmente os vinhos em taça. Custam entre 1,15 e 2,20 euros a taça. Para oferecer um parâmetro de comparação, a coca-cola fica em torno de 2 euros. Ou seja, é bem razoável e acessível. Juro que em sua imensa maioria, são vinhos corretos.
Ainda que prefira os Ribera, há um Rioja que quase posso dizer que é meu favorito. Estou meio na dúvida, preciso tomá-lo várias outras vezes para confirmar. É o Calvario! Apesar do nome, é o paraíso. Talvez a gente precise passar pelo calvário para chegar ao céu! A garrafa custa em torno de 65 euros. Nos restaurantes sai mais ou menos uns 75 e isso é outra coisa que gosto daqui, as margens de lucro sobre a bebida não são agressivas. Costumam ser, no máximo, de 20%. No Brasil, no mínimo, se dobra o valor.
Outro Rioja que gosto, esse encontrava no Brasil, é o Marqués de Riscal. Aqui ele sai por volta de uns 12 euros a garrafa. Também gosto do Marqués de Riscal branco, de Rueda. Os marqueses, de maneira geral, não decepcionam.
Aliás, acabei com meu preconceito em relação aos vinhos brancos. Continuo apreciando mais os tintos, mas um prazer não elimina o outro e há dias que quero algo mais fresco. Há um em especial, o Marqués de Alella, dica de outra amiga blogueira, que fiquei freguesa. Acredite se quiser, compro por menos de 5 euros a garrafa, e é honestíssimo. E se for para comer mariscos, adoro os Albariños, da Galícia. Outro dia, provei o Frore de Carme, Albariño de Rías Baixas, que me ganhou no primeiro minuto. E uma coisa interessante, a vinícola não trabalha com intermediários. A garrafa tem design inovador e rolha de vidro com fechamento hermético.
Quanto aos rosados… hummm… continuo preconceituosa, paciência! Não, obrigada!
Acho que os únicos rosados que não resisto são as champagnes rosés, mas daí já é outra coisa. Com comida japonesa e peixes defumados, me tiram do sério!
Falando em espumantes, o espumante espanhol é o Cava. Termina com “a”, mas é masculino, el cava. Não é igual a champagne, é outra bebida, não tem o mesmo sabor de pão torrado, mas quebra bem o galho e seu preço é acessível. No Brasil, pelo menos no meu tempo, só chegava a Freixenet, e era caro para burro! Aviso aos navegantes que aqui, já achei garrafa por menos de 4 euros. Particularmente, gosto muito da Anna de Codorníu Brut, uma excelente relação custo x benefício, cerca de 8 euros a garrafa.
Entre nós, se é para chutar o balde, chuto com champagne. Cava é dia-a-dia, e cumpre seu papel perfeitamente, mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Vou terminando com a sobremesa. Aqui há um vinho fortificado muito famoso, o Pedro Ximénes, um Jerez. Até hoje, foi o único que tomei capaz de fazer frente a um tiramisú. Também é utilizado em reduções, como para um foie gras, por exemplo. Recomendo, principalmente para quem é apreciador de um Porto. Outra vez, não é a mesma coisa, só estou dando referências.
Enfim, aqui dei algumas opiniões e dicas. Mas se quer minha sugestão, acho que você deve duvidar. Só acredite vendo, ou melhor, experimentando!