As Vindimas de 2022

Para início de conversa, não foi um dia de vindima, foram dois: no dia 17 de setembro, colhemos as uvas brancas; e no dia 24 de setembro, sábado seguinte, colhemos as tintas. Emoção dupla!

Acalmando os impacientes, minimizo o suspense para dizer que, dentro do possível, tudo correu bem!

Começo pela parte mais fácil, vamos à matemática. Números são frios, porém diretos e uma das formas de avaliarmos nossos resultados.

As negociações com as uvas aqui no Douro são feitas normalmente utilizando uma unidade chamada “pipa”. Cada pipa equivale a 750 kg, que por sua vez, originam aproximadamente 550 litros de bebida.

No ano passado, quando pegamos um vinhedo completamente mal cuidado e já sem tempo de se recuperar, colhemos apenas uma pipa (750kg) e entregamos as uvas, não fizemos nenhum processo de vinificação, até porque além da completa falta de conhecimento, não tínhamos um lagar em condições.

Esse ano, 2022, antes do incêndio, nossa previsão era colher por volta de 7 pipas, cerca de 5 toneladas de uvas tintas e brancas (75% brancas e 25% tintas). O fogo nos atingiu em cheio, apenas 15% das uvas brancas intáctas, ainda que próximas às chamuscadas; outros 15% de uvas brancas levemente afetadas; e o resto todo, 70%, queimado! Assim que ninguém ao nosso redor esperava que fôssemos capazes de colher mais que uma única pipa em condições, mesmo assim, sem ter a certeza que a fumaça comprometeria a qualidade das uvas. Ou sequer se nos valeria à pena ter o trabalho de colhê-las ou melhor seria entubar o prejuízo e minimizar as perdas.

Depois de um esforço, modéstia às favas, hercúleo, e não por nos auto elogiar, mas porque não tínhamos alternativa, colhemos ao redor de 2,5 toneladas de uvas (2 K de brancas e 500 kg de tintas). Ou seja, 50% do que pretendíamos colher em uma situação normal, porém mais que o triplo das expectativas e do ano anterior.

Claro que podemos ler esses números como o copo meio cheio ou meio vazio. Porém, minha opção é ler como o copo transbordando, fala sério! Prefiro mil vezes 50% de alguma coisa que 100% de nada!

Mas, veja bem, até agora, só falei de números, o que sinceramente, acredito ser a menor parte dessa equação. Porque há coisas, caríssimos, que não se medem em valores percentuais ou financeiros.

Nesse último ano de trabalho, posso assegurar que foi o equivalente a uma faculdade inteirinha, me arrisco a dizer que até iniciei um mestrado nas minhas vinhas! Mais que isso, o curso foi no exterior, quando você também precisa entender a cultura local.

Resumidamente, chegamos a um novo país em plena pandemia de COVID, com dois gatos a tiracolo e um passado resumido em 50 caixas embaladas. Tomamos posse de uma vinícola quebrada com duas casas inabitáveis. Eu mal entendia o sotaque das pessoas, imagina o que entenderia sobre a terra, vinhas, documentação…

Em um ano, olha onde a gente chegou? Entrei com o respeito de quem visita e com a vontade de quem quer ficar. Escolhi essa vida e esse lugar, o pacote completo, com a parte boa e a ruim, com os prazeres e as dores. Luiz chegou junto, apesar de seguir trabalhando em outro país, independente de estar ou não fisicamente presente, esteve sempre ao meu lado. Mas essa parte conta ele, só tenho o direito a falar por mim.

O fogo deixou suas cicatrizes, que ainda recentes, um dia vão parar de arder. Adoro uma frase do Isak Dinesen: “A cura para tudo é água salgada: suor, lágrimas ou o mar”. E muita água salgada rolou por aqui! Mas sei que, uma vez curada, a lembrança que ficará é que éramos tão parte da comunidade a ponto dos vizinhos se arriscarem para salvar nossa casa; que os amigos, de longe ou de perto, compartilharam o sofrimento conosco e o deixaram mais leve; que saiu gente conhecida e desconhecida oferecendo ajuda, apoio, dinheiro, ideias; que recebi mensagens emocionantes, bonitinhas, inspiradoras; que tiramos fôlego dos rins para trabalhar nas vinhas; que buscamos conhecimento; que ouvimos, ouvimos, ouvimos… aprendemos, aprendemos e aprendemos todos os dias!

E, finalmente, tudo isso culminou em um resultado: teve vindima!

Fomos no suspense até o finalzinho, controlando o grau das uvas diariamente, administrando o complicado cobertor curto entre a espera do momento ideal para a colheita da uva e o quanto essa mesma uva aguentaria viva no pé. É uma escolha de Sofia, porque a cada dia perdia um pouco mais de produção, mas também não adiantava colher uvas que não possibilitariam executar um bom vinho.

Perdemos a adega que faria a vinificação… conseguimos outro lagar emprestado e ajuda para o processo há duas semanas da possível colheita … descobrimos que não tínhamos direito ao seguro de incêndio… há 3 dias da vindima, caiu do céu um enólogo… e os amigos que se propuseram a nos ajudar na colheita com uma paciência de Jó, sem poder confirmar as passagens nem hospedagem… não dá mais, é agora ou não é!

Marquei para o final de semana, 17 de setembro, sábado, as uvas brancas e, supostamente, no domingo 18 faríamos as tintas.

Na sexta-feira, os amigos começaram a chegar. Admito que estava meio tensa. É normal ficar um pouco mesmo, mas a pressão nas costas desse ano tinha várias cerejinhas do bolo, né? No sábado, às 7h da matina estávamos a postos e prontos para começar. Havia gente com e sem experiência, portanto, dividi os grupos de maneira que os novatos tivessem sempre alguém com experiência por perto. Luiz ficou de coringa, dando apoio aos grupos e recolhendo os baldes cheios. Ano passado, a coringa fui eu, esse ano, fiquei na colheita.

Por volta de 13h, havíamos colhido todas as uvas brancas. A produção foi maior que esperávamos, tivemos até que pedir baldes emprestados aos vizinhos. Foram pouco mais que 70 baldes, cada um com aproximadamente 28 kg. Ainda restaram algumas uvas brancas, mas não tínhamos mais como transportar, de maneira que Luiz teve a ideia de doar o que sobrasse de uvas brancas para os vizinhos. De toda maneira, o caminhão só poderia transportar as uvas para o lagar emprestado a partir de 16h30. Decidimos, então, fazer uma pausa para almoçar, até porque o dia prometia ser ainda bastante longo.

Foram necessárias duas viagens para levar todas as uvas brancas e já começamos a vinificação das mesmas no final da tarde. As uvas estavam com 11,5 graus, o que não é ruim para as uvas brancas. Porém, essa mesma medida para as tintas seria baixo. De maneira que o enólogo que estava nos apoiando sugeriu que adiássemos a colheita das uvas tintas para a semana seguinte.

Aceitamos a recomendação, o que se provou a melhor decisão. Nós deixamos o lagar emprestado por volta de 22h, eles inclusive, seguiram por lá mais tempo. Estava completamente exausta! Não tinha nem mais voz! Ainda que não estivesse terminado, me tirou um peso de literalmente 2 toneladas dos ombros!

Entretanto, os amigos que foram nos ajudar estavam completamente curiosos com a colheita e vinificação das uvas tintas. As uvas brancas simplesmente passam por um esmagador e um tipo de prensa, vão para as cubas no mesmo dia. São as uvas tintas que vão para o lagar para serem pisadas. Ou seja, claro que todo mundo ficou com vontade de participar da “pisa”! Mas nunca poderia pedir para eles voltarem na semana seguinte, vamos combinar, que já estavam me ajudando muito, né?

Pois, acredite se quiser, todos toparam voltar, um dos casais inclusive, decidiu nem ir embora!

Muito bem, passei a semana cuidando da uva tinta e, felizmente, uma chuvinha na semana anterior ainda ajudou a segurá-las vivas um pouco mais de tempo. Sim, durante essa semana perdi uma parte da produção, que conto melhor na sequência, porém o grau chegou aos 14, que era o ideal!

Chegou o sábado seguinte, 24 de setembro, e novamente os amigos animados trazendo aquela super energia que a gente precisava. Mais um casal de Mirandela se juntou a nós.

Novamente, nos separamos em grupos e fui para a parte mais alta com uma amiga, onde as vinhas foram mais afetadas e precisávamos ser mais seletivas. Os amigos orientados para, em caso de dúvida, provar do cacho para garantir que só o que estivesse bom seria colhido. Juro para vocês que a colheita das uvas tintas foi nesse nível de detalhe!

Vou ser sincera, essa colheita teve um aspecto frustrante para mim, porque por mais realista que estivesse mantendo as expectativas. Nossas vides tintas foram totalmente afetadas, não havia um só pé que não houvesse ardido de alguma maneira. Porém, na primeira semana após o incêndio, quase todos esses pés, ainda que secos, carregavam cachos saudáveis e fui acompanhando dolorosamente o processo deles murcharem e mudarem de cor ao longo dos dias. É complicado assistir essa torneira aberta e não poder fazer nada a não ser regar eventualmente, torcer e esperar.

Antes de 10h, nossa colheita estava encerrada, contei os baldes, fiz meus cálculos por alto e percebi que tínhamos cerca de 500 kg de uvas tintas. O que não disse no dia e só compartilho agora é que essa última semana de espera para alcançar o melhor grau nos custou mais de 200 kg de produção. Liguei para o enólogo para avisá-lo e prepará-lo para os químicos necessários, queria também saber se seria possível produzir essa quantidade, o que ele me confirmou.

Liguei para o responsável pelo lagar para ver se conseguíamos adiantar um pouco a recolha das uvas, marcada para às 14h. Nesse momento, ao saber da quantidade, ele me ofereceu uvas para vender e completar uma produção maior, o que não me interessou.

Comentei a conversa com Luiz, que queria me convencer de todo jeito a aceitar a compra das uvas. Eu já estava estressada com a perda das uvas durante a semana para garantir o grau, agora mais essa? Bati o pé e fui terminantemente contra! Não fazia o menor sentido! Desde o início, essa trabalheira toda para salvar nossa produção justamente para entender que vinho éramos capazes de fazer, e agora, aos 45 minutos do segundo tempo, ia lá eu misturar com uvas de outra Quinta? E sabe-se lá que qualidade tinham essas uvas? Se eu tivesse algum compromisso comercial para vender meu vinho é outra coisa, mas não era o caso. Pelo contrário, só iria aumentar nossos custos e para que?

E mais, se por um lado toda essa situação prejudicou nossa produção; por outro, as poucas e restritas garrafas dessa safra terão características únicas, em história e em sabor! Isso faz toda diferença! E pronto, me concentrei nesse aspecto e a irritação foi se acalmando.

Nisso, já relaxados, tomando vinho e lanchando, recebemos o convite para tomar “algo especial” na casa do nosso vizinho de baixo. Lá vamos nós animados, eu achando que era só para tomar o Portinho caseiro que ele faz, que é um esculaxo de bom!

Acontece que o “algo especial” se tratava de um Porto literalmente centenário que ele havia encontrado escondido atrás de uma cuba, em um lagar abandonado que seria reformado. Esse meu vizinho avistou a tal garrafa, foi se arrastando na terra por baixo das cubas na curiosidade do que seria e se deu com essa preciosidade. Acredite se quiser, teve a generosidade em dividir conosco essa experiência impagável de tomar esse néctar dos deuses! É difícil explicar o que era aquele sabor e compartilhado com aquelas pessoas tão especiais. Daqueles momentos que valem uma vida inteira!

E se ainda restasse alguma fração de tensão no corpo, se dissipou completamente ao chegarmos no lagar e nos prepararmos para pisar as uvas. Entrei na piscina de concreto sozinha, para espalhar as uvas esmagadas e separadas de seus bagos que baixavam por uma mangueira. A sensação de tocar aquele suco grosso e frio com a sola dos pés é agradável e diferente de tudo que havia experimentado. É tudo junto, desde a questão sensorial, física, como também o que passa na cabeça, a concretização de todas as coisas que aprendemos e passamos nesse mesmo ano. Naquele momento, todo trabalho de um ano inteiro ao alcance dos meus pés. Eu precisava desse ritual.

Aos poucos, os amigos foram se juntando, não sabíamos muito bem quantas pessoas poderiam estar ali, se isso ajudava ou atrapalhava, se devíamos nos revezar. Mas quem é que queria sair de lá? No final, éramos 6 pessoas lá dentro e tudo bem! Brincamos, cantamos, dançamos quadrilha… cada um na sua viagem e ao mesmo tempo, juntos no mesmo objetivo.

Os pés ficam roxos, principalmente na sola! Leva dias para sair e não há banho que resolva! Mas não trocaria esse dia por nada! E sou feliz porque sei que outros dias assim virão, os próximos, no meu próprio lagar.

Dia seguinte, fomos almoçar e ainda nos juntamos a outros dois casais que vieram do Porto com a intenção de também ajudar na colheita, mas chegaram um pouco tarde. Fomos comer um cabrito assado para celebrar essa etapa e despedir dos amigos. Todos mais relaxados e cúmplices, afinal, compartilhamos momentos únicos, imagens, aromas, sabores e sensações. Ok, admito que o vinho até me subiu um pouco à cabeça, acho que foi aquele momento de alívio e de certa euforia de ter superado essa fase.

Não costumo citar os nomes das pessoas aqui no blog, abro raramente certas exceções e hoje é uma dessas vezes, porque necessito expressar minha gratidão a pessoas muito, mas muito queridas, que sairam das suas casas e abriram mão do seu precioso tempo para nos ajudar. Sandrinha, a amiga que também participou da nossa primeira vindima, é sempre a primeira a confirmar e chegar desde Madri com toda energia positiva da face da terra; Astréia e Renato, novos super amigos que conquistaram rapidamente o status de família, que vieram também de Madri e ainda trouxeram o Renatinho filho para reforçar o grupo; Mauro, um amigaço que tive o prazer e o privilégio de resgatar dos tempos que ainda trabalhava em consultoria de negócios no Brasil, e agora compartilhamos novamente o mesmo país, ele em Lisboa; Zé e Laurindo, dois irmãos e nossos vizinhos de baixo, os mesmos que se arriscaram para salvar nossa casa do incêndio e dona Amália, a esposa do Laurindo, que também veio contribuir; vou repetir o Zé, que além do que falei acima, ainda compartilhou seu Porto de mais de 100 anos conosco, tornando essa experiência ímpar não só para mim, mas para todos nossos amigos; Annibal, meu amigo-primo, que estava de férias na região com amigos que nem me conheciam mas vieram, Vik e seu filho, para colaborarem no primeiro dia de colheita; Paulo e Sandra, amigos recentes e já frequentes em nossa casa, com objetivos parecidos aos nossos, que vieram de Mirandela nos apoiar na colheita das uvas tintas. Todos vocês, promovidos ao “conselho diretor” no ano que vem e com lugar garantido na nossa casa e na nossas vidas!

Não sei como será o vinho, é cedo ainda e já aprendemos que nada na vida é garantido, mas essa será uma outra história e ficará para outro dia. Fecho hoje esse ciclo com a sensação de missão cumprida, fiz “o meu melhor possível”.

E lembram daquela equação lá atrás, a que falei dos valores numéricos e percentuais, pois bem, o que fecha essa conta é impossível de se colocar um preço. Como é que posso mensurar todo um caminho? Como posso atribuir um valor para tudo que aprendi e vivi nesse último ano? Como posso ser grata o suficiente?

E falando em gratidão, faltou o principal. Acho muito bonitinho como eles aqui usam o termo “meu” para definir de maneira carinhosa a família mais próxima. Como se o pronome não quisesse mais ser tão possessivo e se tornasse paradoxalmente pessoal. Por exemplo, eles não dizem: meu filho, Pedro. Eles dizem diretamente, meu Pedro. Pois finalizo agora lusitanamente agradecendo ao “meu Luiz”, entre erros e acertos, sustos e vitórias, seguimos aqui de pé e juntos, meu amor, melhor amigo e parceiro, somos um time e tanto! Às vezes, não tem jeito e a gente escorrega um pouco, mas “Capoeira que é bom não cai. E se um dia ele cai, cai bem!”

O melhor possível!

Contrariando muitas expectativas e apesar do incêndio, no próximo final de semana, faremos nossa vindima! Após um período de incertezas, a dedicação e o trabalho duro prevaleceram!

Há algum tempo, assisti um vídeo espanhol que achei muito interessante sobre como as gerações anteriores respondiam à atual diversidade de gêneros. Admito que mesmo não sendo assim tão antiga, às vezes também me pego com algumas dúvidas. Enfim, em determinado momento, está uma pessoa nascida mulher que não se identificava com o gênero feminino explicando essa situação para um casal de idosos. O senhor ficou confuso em como tratar uma pessoa assim, se deveria chamar de senhorita, senhor, ele, ela… como seria a forma adequada? A esposa dele tinha dificuldade auditiva e ele se vira para ela para explicar a questão e ouvir sua opinião. E pergunta à esposa, como você trataria uma pessoa que não se identifica nem como homem nem como mulher? Fiquei curiosa para saber o que a senhora idosa responderia, porque honestamente eu mesma não saberia o que dizer. E ela responde sem pestanejar: trataria o melhor possível! A pergunta era em relação a que pronome ou termo utilizar, mas nesse caso, o verbo “tratar” funciona para ambas interpretações. Achei a resposta genial! Em sua simplicidade, a senhora idosa foi ao centro da questão e ao que verdadeiramente importava.

E, por que estou contando isso? O que a diversidade de gêneros tem a ver com o incêndio na minha Quinta?

Nada! Mas é que, a partir da resposta daquela senhora, todas as vezes que não tenho a menor ideia de como vou fazer alguma coisa, respondo para mim mesma: o melhor possível! E pronto, um magnífico coringa! Num passe de mágica, não tenho mais um problema, não preciso achar a solução perfeita, só preciso fazer… o melhor possível!

Portanto, caríssimos, ao lamber minhas feridas sem a menor ideia se teríamos colheita, se salvaríamos as vinhas, se conseguiríamos fazer nosso vinho… e como seguir adiante depois de levar essa voadora no peito… respirei fundo e pensei: da melhor maneira possível! Vai com medo, vai tropeçando, vai triste, vai puta da vida, mas vai!

E fui! Fomos! Como se diz por aqui, até ao lavar dos cestos é vindima!

Estudei, li, inventei, perguntei, pedi ajuda, trabalhei feito uma burra de carga e acreditei. Assim sendo, outros também acreditaram, em mim, em nós e nas nossas vinhas.

O fato é que sim, em um par de dias, teremos vindima! Sábado, 17/09, colheremos as uvas brancas e no domingo, 18/09, colheremos as tintas! As uvas estão no limite do que podem aguentar, mas aguentaram. Não sei se o vinho será perfeito e não me importa, porque o vinho que ele for me trará o sabor de vitória. De fênix para fênix!

A parte divertida é que, logo após a colheita, começaremos o processo de vinificação. Quando contava isso para minha mãe, ela me perguntou: e você sabe fazer vinho, Bianca? E respondo segura: mas é claro… que não! Você já me viu fazer vinho na vida?

E como é que faremos, então?

Todo mundo aqui sabe o que vou responder: o melhor possível! É lógico!

E, acredite quem quiser, hoje, a meros 3 dias da vindima e do início da fabricação do nosso primeiro vinho, consegui finalmente o contato e acertei com um enólogo para nos apoiar! Isso tirou um peso incomensurável das costas! Imagina quanta coisa a gente pode aprender, sem falar em quantos erros evitaremos! E o fundamental, poderemos entender concretamente quais as castas deveremos nos dedicar nos próximos anos para produzir o melhor equilíbrio da nossa produção.

Tenho usado os momentos de folga para estudar pacas! No mínimo, para entender quais são as perguntas certas. Quando você precisa de ajuda, como eu, é importante ter esse tipo de dedicação. Ninguém tem tempo para perder com quem não se esforça. Por outro lado, muita gente se sensibiliza com quem está tentando acertar e respeita o trabalho. E isso, caríssimos, não é pena, é senso comum de justiça, felizmente, uma das boas características humanas. Portanto, me sinto muito honrada e grata quando recebo uma mão amiga de algum lugar para me dar um impulso para cima.

Amanhã, começam a chegar os primeiros amigos que aceitaram com generosidade doar seu tempo e seu trabalho para essa colheita acontecer! Não posso ser mais agradecida por todo esse desprendimento! Juro que é o que mais me emociona nesse processo. Agora mesmo, as borboletas estão fazendo a festa na minha barriga, é uma mistura de alegria, orgulho, preocupação… A cabeça a mil, passo e repasso as etapas mentalmente ou em listas rabiscadas na agenda para tentar não esquecer nenhum detalhe e, ao menos, oferecer uma experiência bacana para toda essa gente legal que nos cerca.

Nada é garantido na vida! Não sei ainda a quantidade e a qualidade do que vamos colher, temos um longo caminho pela frente. E tudo bem! Importa que não lavamos nossos cestos por antecipação e, às vezes, é muito bom saber que o mundo guarda algo de justiça, que vale a pena acreditar e fazer o nosso melhor possível!

E a frase que estava entalada na garganta, louca para ser dita: habemus vindima!

Sobre a vindima e a gratidão

Vindima é como chamamos a colheita das uvas para a fabricação do vinho. Na região do Douro, ela acontece em setembro.

Mas simplesmente chamar de colheita seria simplificar ao extremo, porque a vindima é muito mais do que isso! É toda uma experiência ímpar e hoje posso dizer que não apenas entendi, mas vivenciei com tudo de direito!

Aqui onde é nossa Quinta, em Vila Marim, colada a Mesão Frio e em pleno Douro Vinhateiro, todo mundo tem vinhas! Maiores ou menores, vivendo prioritariamente da terra ou complementando com outras profissões, há para todos os gostos e tamanhos. Importa que toda a paisagem é composta por montanhas rabiscadas em curvas e divididas em degraus com vinhas. Mesmo dentro da cidade, os quintais também são super aproveitados!

Considerando que há apenas uma colheita ao ano, imaginem uma região onde o resultado do trabalho de todas as pessoas culmine em um só momento. É como fazer parte de um enorme time, estamos todos no mesmo barco, o que afeta a mim, afeta igualmente aos meus vizinhos! Agora imagine essa galera na expectativa sobre o resultado de todo um ano de trabalho duro. Pois essa é a atmosfera que respiramos em setembro!

As cidades e vilarejos se enchem de caminhonetes, aqui chamadas de “carrinhas”, com grandes vasilhas de metal para o transporte das uvas. O assunto nos bares, nas lojas, nas praças… é a vindima!

Fila de carrinhas para a entrega das uvas na Adega da Cooperativa de Mesão Frio

É bastante difícil conseguir mão-de-obra para realizar esse trabalho, principalmente, nessa época do ano. O pagamento por uma jornada diária não é tão alto e, como estão todos ocupados com suas próprias vinhas, acaba faltando gente para se contratar.

Daí, acontece um fato muito interessante, para a colheita das uvas e, muitas vezes, para a execução do vinho caseiro em pequenas propriedades, quem trabalha são nossos familiares, amigos ou vizinhos. E, ainda que seja um trabalho duro, estão todos muito felizes, eventualmente, auxiliados por generosas doses de vinho oferecidas pelos proprietários. Assim que não é raro encontrar um clima de festa e celebração. É um orgulho para os donos das Quintas e um honra para os convidados que participam.

Tudo muito bom, tudo muito bem, mas era nossa primeira vindima e não sabíamos muito bem o que fazer. Nós precisávamos de ajuda, porque sozinhos, certamente não daríamos conta! Primeiro, recorremos aos nossos vizinhos, afinal, são muito mais experientes que nós e eles, generosamente, foram super solidários aceitando nos ajudar. Ainda assim, precisávamos de mais gente para dar conta do recado.

Pensei, peraí, de vindima não entendo nada, mas festa eu sei fazer! Vamos lá, o que há de mais importante em uma festa? Convidados, boa comida e boa bebida! Música ajuda muito, mas já não teria tempo para organizar esse ano. Pronto, Bianca, faz de conta que você dará uma festa, mas ao invés de dançar, as pessoas colherão uvas! Assim, tipo festa temática…

Vesti minha cara-de-pau, gravei um vídeo e publiquei no Instagram pedindo ajuda aos amigos! Enviei também mensagem para o grupo de whatsapp da família e amigos de Braga. Sem expectativas e sem cobrança porque, francamente, sei que todo mundo tem suas prioridades. Mas por que não?Afinal, se eu não disser que preciso, como alguém poderia me ajudar, certo?

E funcionou! Não só entre nossos contatos, mas o vídeo deu uma circulada entre os amigos de amigos e… encurtando a história, formamos um animadíssimo time de 17 adultos e 1 criança! Gente vindo de Braga, Porto, Coimbra, Madri, Bruxelas… o vizinho que combinou de ir… os vizinhos que só poderiam vir no dia seguinte e anteciparam trazendo a carrinha para carregar as uvas… toda essa gente bacana simplesmente foi aparecendo! Além da torcida à distância, várias pessoas nos enviando as melhores vibrações e dando aquele apoio moral! Acho que devemos estar entre as pessoas sortudas e com os melhores amigos do mundo!

Para mim, isso é muito emocionante! Porque alguma coisa certa na vida a gente deve ter feito para merecer tamanha boa vontade e desprendimento! E é aqui que entra nossa gratidão. Gratidão eterna e imensa, porque não tem preço receber literalmente tantas mãos estendidas para ajudar em um momento como esse. Honestamente, se tudo mais não tivesse funcionado, para nós já havia valido a pena.

Acontece que tudo, mas absolutamente tudo funcionou melhor que a encomenda!

Havíamos nos planejado para fazer a colheita em dois dias, no domingo (26/09) colher as uvas tintas e na segunda-feira, colher as brancas. Afinal, a gente não sabia quantas pessoas realmente iriam aparecer e só teríamos a carrinha para levar as uvas na segunda-feira. E ainda assim, não tínhamos certeza absoluta da tal carrinha, porque meu vizinho, dono do veículo, trabalha como caminhoneiro pela Europa durante a semana e poderia não chegar na cidade a tempo. Juro que até a manhã do domingo, essa era toda a informação que nós tínhamos! Mas vinha repetindo para o Luiz e para os convidados que chegaram no dia anterior que as coisas aqui tem seu tempo e vão se encaminhando como devem ser. Não há espaço para rigidez, você não escolhe o dia que irá chover ou fazer sol, a natureza te ensina muito sobre humildade e resiliência. O importante era estarmos preparados e flexíveis para seguir o curso da maneira que ele chegasse. E assim foi!

Mas vamos dar um pouco mais de suspense, porque eu moro nas entrelinhas e nos detalhes! Assim que agora conto sobre a parte prática de como nos organizamos.

Durante a semana, preparei comidinhas na casa alugada, porque na Quinta ainda não há estrutura para isso. Aproveitei os ingredientes frescos que ganhei dos nossos vizinhos. Fiz uma salada de beringela e pimentões assados; vinagrete; salada de batatas; salpicão de mariscos; farofa e Luiz encomendou uns frangos e linguiças assados na brasa, para buscar no dia. Preparei também uma mesa com sucos, queijos, pães e bolos para o café-da-manhã para o pessoal que fosse chegando de longe. E claro, bastante vinho, que não poderia faltar!

No sábado, buscamos no aeroporto de Porto uma amiga de Madri e um amigo de Bruxelas que veio com o filho de 6 anos. E já deixamos a maioria das bebidas e comidinhas na própria Quinta. Afinal, o dia seguinte começaria cedo.

Não sei se pelo trabalho de preparação acumulado, ou talvez a tensão para que tudo desse certo, mas o fato é que mal dormi durante à noite, com uma dor terrível na coluna! Havia me preparado psicologicamente para “jogar nas 11 posições”! Organizar os convidados, distribuir o equipamento, colher as uvas, alimentar as pessoas, levar as uvas na cooperativa… pular corda, plantar bananeira, aprender a tocar piano etc… E, de repente, mal consigo levantar da cama para ir ao banheiro sem parecer uma idosa corcunda. E agora?

Será que era dor muscular mesmo? E se fossem meus rins? Eu não posso parar num hospital agora! Mil fantasmas povoavam minha cabeça junto à vergonha e o medo de não conseguir trabalhar direito na minha própria vindima! O coração acelerou… a respiração começou a ficar difícil… uma crise de ansiedade doida para disparar… Para tudo! Respira… respira… respira! Medita, Bianquita, você tem as ferramentas para passar por isso! E se esse obstáculo apareceu era porque eu precisava aprender alguma coisa, talvez para me proteger ou me fazer prestar mais atenção! Acalmei, consegui dormir um pouco. Acordei antes do horário, cantei concentrada meus mantras de proteção e de abrir os caminhos. Quando meu despertador tocou, estava completamente calma e confiante que daria tudo certo. As preocupações se dissiparam e estava bastante feliz que aquele dia havia finalmente chegado.

Eu simplesmente fui lembrada que precisava respeitar meus limites e os limites dos convidados que aparecessem. Ninguém era profissional nem tão jovenzinho. Por via das dúvidas, tomei um relaxante muscular e um anti-inflamatório, usei uma cinta para proteger a coluna, mais que nada, para me lembrar de não exagerar nos movimentos. Adianto que senti dor durante o dia sim, mas tolerável e, ao final, havia tanta endorfina no meu organismo (e, claro, vinho também) que esqueci de como havia passado à noite anterior!

Até o clima favoreceu! A temperatura estava amena e sem previsão de chuvas!

Mas vamos lá, pela manhã, às 8h estávamos na Quinta Luiz, eu, esses dois amigos (e o filho de um deles) e meu vizinho de baixo. Luiz foi para a parte de cima da propriedade com os mais fortes e eu fiquei mais próxima à casa. Aproveitei esse momento do início da manhã para dar um gás na colheita e, à medida que o pessoal foi chegando, comecei a me dividir entre receber as pessoas, entregar as tesouras de poda e baldes, instruir como fazer a colheita e distribuir os colaboradores pelas fileiras de vinhas, mais ou menos por níveis de dificuldade.

E não é que o povo começou a chegar mesmo? Um amigo viajou de ônibus à noite inteira desde Madri e chegou cheio de energia para ajudar no que precisasse! Um casal amigo de amigos veio do Porto… minha família e outros amigos de Braga… e todo mundo cheio de empolgação! Comecei a acreditar que acabaríamos as uvas tintas previstas para aquele dia antes mesmo da hora do almoço!

E eu pensando, maravilha, de repente até poderíamos começar as uvas brancas, mas ainda não sabíamos como levar tudo para a adega da cooperativa.

Por volta de umas 10h30, aparece o casal de vizinhos de cima, os que nos ajudariam no dia seguinte, também cheios de disposição e com a caminhonete para levar nossas uvas! Nem acreditei! Pequeno detalhe, ele teria que adiantar sua próxima viagem do trabalho e só poderia levar nossas uvas no domingo mesmo. O que queria dizer que a gente tinha que correr!

Por volta de umas 11h30, as uvas tintas estavam completamente colhidas e as brancas iniciadas! Como sou a associada da cooperativa, precisava ir com meu vizinho entregar a primeira carga. Luiz me substituiu na organização de quem ficou na colheita das uvas brancas e lá fui eu de caminhonete com meu vizinho fazer nossa primeira entrega!

Senti muito o fato do Luiz não estar comigo ali, porque queria compartilhar a emoção do que é esse momento. Mas somos um time e alguém tinha que “tomar conta do barraco“! Além do que, foi muito importante estar com meu vizinho que sabia exatamente o que fazer e tinha o veículo e o recipiente corretos, porque eu não tinha ideia! Não dá para simplesmente chegar na cooperativa com suas uvas em baldes, não teria como pesar ou descarregar.

Passou tudo como num sonho, meio em câmera lenta, meio em velocidade adiantada. E eu tentando absorver e aprender! Fiz diversos vídeos e perguntas para ter tudo registrado.

Ainda na fila de caminhonetes para a entrega, recebo mensagem de mais duas novas amigas, que vieram de Coimbra indicada por um casal de amigos. Passo o celular do Luiz para recebê-las, porque eu estava fora da Quinta. Quando descubro que Luiz também estava fora, porque precisava buscar o restante do almoço da galera, os frangos e linguiças encomendadas.

E quem ficou tomando conta “do lojinha”? Os convidados mesmo! Todo mundo já sabia o que fazer e seguiram tocando os trabalhos sozinhos! Pelo que soube depois, minha vizinha ajudou a orientar e a apressar os trabalhos!

Cheguei novamente na Quinta, flutuando e feliz da vida, mas não dava para relaxar ainda! Luiz chegou logo atrás de mim e me disse que as pessoas precisavam de um intervalo. Recebi correndo as amigas de Coimbra e voei para colocar o almoço na mesa!

O almoço não foi demorado como eu gostaria, afinal, precisávamos ainda acabar as uvas brancas, mas foi muito divertido! Uma confraternização gostosa como se fôssemos uma única família! Comi pouco e rápido, muita coisa acontecendo para eu ter fome! Deixamos a sobremesa para depois!

Apesar de todo esse trabalho e correria, a energia das pessoas era uma coisa muito bacana! Sei que pode parecer difícil entender como nessa trabalheira as pessoas estavam se divertindo, mas juro que todo mundo parecia contente, sorrindo e um astral super alto!

E é disso que se trata uma vindima, dessa colaboração entre todos! Tínhamos nossas limitações, uns com dores, outros sem enxergar direito, outros sem preparo físico, outros sem saber bem o que fazer… mas quando nos juntamos, somos fortes! Podemos mais!

Voltaram todos para as vinhas, ainda levei um tempo a organizar a casa e logo me juntei a eles! Quem disse que eu lembrava de dor nas costas ou de usar a cinta?

Acredito que pelas 15h mais ou menos, finalizamos a colheita das uvas brancas! Luiz ficou com o pessoal para comer a sobremesa e tomar um vinho do porto feito pelo meu vizinho de baixo, e lá fui eu com o vizinho de cima levar o restante das uvas de caminhonete. Dessa vez, não era mais uma novidade, mas a emoção permanecia.

Ao final, entregamos 1 pipa de uvas. Cada pipa são 750 Kg, que produzem cerca de 550 litros de vinho. Para uma propriedade que nos áureos tempos chegou a produzir cerca de 20 pipas, é pouco, mas para nós teve sabor de vitória! Foram 290 Kg de uvas tintas, a 10 graus e 450 Kg de uvas brancas, a 11,6 graus. Considerando que esse ano, mesmo quem cuidou muito bem de suas vinhas teve baixa produtividade, podemos nos orgulhar. Fizemos o melhor possível!

A quantidade de aprendizado condensado que absorvemos nos últimos 3 meses, em que tomamos posse da terra, e principalmente no mês de setembro, quando nos mudamos de mala e cuia para Portugal, é incomensurável! Sou outra pessoa! Mais importante do que isso, somos outro casal! E a gratidão que sinto por absolutamente tudo e todos à minha volta é difícil de explicar!

Quem acompanha o blog sabe que nunca cito o nome das pessoas, mas hoje abrirei uma exceção. Agradeço enormemente aos meus primos, Fabiana e Alexandre, por estarem conosco nessa aventura desde o início, quando nos ajudaram a comprar uma Quinta por telefone e assinar a escritura por procuração, e como não poderia deixar de ser, estavam juntos também na nossa primeira colheita; ao Annibal por despencar da Espanha e vir cuidar da nossa casa quando nós mesmos não conseguíamos; aos meus vizinhos Alcides e Maria Emília, nossos exemplos de trabalho e retidão, e por literalmente salvarem nossa vindima ao aparecerem com a carrinha e disposição para ajudar na colheita e na entrega das uvas; aos amigos Maurício e Maristela, por saírem de Braga e aparecerem com toda boa vontade do mundo e ainda indicarem novos amigos, Sylvia e seu marido Marcus, que mesmo com o braço machucado, vieram de Porto nos ajudar; meu primo Fábio, que ignorou qualquer problema e também veio de Braga colaborar; nossa amiga Sandrinha, que foi a primeira a responder meu pedido de ajuda pelo Instagram, não pensou duas vezes, chegou de Madri com toda a força e boa energia que ela exala; meu novo amigão Alexandre, que viajou à noite inteira de ônibus desde Madri, pegou um trem e um taxi para chegar na Quinta de manhã cedo e trabalhou com uma disposição e alegria invejáveis o dia inteiro; ao meu vizinho Laurindo, forte como um touro, que achou que 8h30 era muito tarde para a gente começar; as novas amigas Marcella e Juliana, que nem nos conheciam e dirigiram 2h para chegar até aqui e mais 2h para voltar para casa; e ao amigo Kevin, que respondendo ao meu pedido de ajuda, veio com seu filho Edouard desde Bruxelas, mesmo só havendo nos encontrado uma vez na vida! A todas essas pessoas tão especiais, corajosas e desprendidas, não tenho palavras para agradecer! Vocês terão prioridade para sempre conosco nesse projeto, sejam bem-vindos quando quiserem e garanto que guardaremos seus lugares na janelinha! E, principalmente, meu amor, Luiz, o “Vianna da Quinta”, que nunca duvidou desse plano maluco e caiu de pára-quedas nessa aventura comigo! Gratidão eterna!

Agora é respirar, tomar fôlego e nos preparar para o próximo ano. Essa história apenas começou a ser escrita. Não sabemos seu final, nem importa, vale o caminho e a companhia durante o percurso. Que assim seja e que assim siga!

Vindima 2021