
Todo marinheiro de primeira viajem paga mico, é fato! E, francamente, acho que essa parte do caminho é, boa parte das vezes, até mais divertida do que o resultado final. Pelo menos, depois que o furacão passa. Mas vou compatilhar a experiência enquanto a história ainda está fresca.
Então, há anos eu escuto: por que você não escreve um livro? E, veja bem, não conto isso como reclamação, considero um belo incentivo, sinal que essas pessoas gostam do que escrevo ou de como escrevo. A família agradece! Porém parece que simplesmente você senta e escreve, pronto!
Para mim não funciona assim! Eu realmente preciso de algum tipo de inspiração. Não tenho histórico de jornalista, que senta com uma pauta e dá conta do recado. Preciso ter a ideia de uma história na cabeça antes de “colocar no papel”.
Ah, mas você tem centenas de histórias prontas aqui no blog, por que não fazer um livro com elas? Talvez um dia eu faça. Acho que hoje há ferramentas que posso usar sem precisar de um grande investimento financeiro. Mas isso é relativamente recente, sou blogueira dinossaura! Até o momento, não me fazia nenhum sentido gastar um dinheirão para lançar um livro, que nem sei onde eu venderia fisicamente, para pessoas que podiam ler de graça na internet o que eu estava cobrando. Não sei se para alguém isso faz sentido, não me fazia nenhum!
Bom, mas um dia eu tive uma ideia para uma ficção, o tal livro Fome, que falei no post anterior. Resolvi fazer igual quando comecei o blog, escrevia para mim mesma em um arquivo Word. Algum dia… quando estivesse pronto… se achasse que ficou legal… buscaria uma possibilidade de divulgação.
Acontece que esse dia chegou, terminei o livro e os recursos tecnológicos razoáveis para publicação por conta própria já existiam. E eu queria ser escritora (também). Não tinha mais desculpa! Bora botar a cara a tapa! Já dizia o grande filósofo, Vicente Matheus, quem está na chuva é para se queimar!
Eu tinha lido e relido tantas vezes o manuscrito que nem enxergava mais nada! Lia por osmose! Tenho pavor de escrever errado e não dá para contar apenas com corretores ortográficos. Daí, toca a pensar, quem eu conheço que gosta de ler e estaria dispost@ a fazer algum tipo de edição para mim. E a vergonha de pedir para lerem?
Não é que tivesse vergonha que alguém lesse meu livro, o que seria de uma incoerência brutal. Mas era constrangedor pedir para alguém “não profissional” editá-lo, porque não queria deixar ninguém na saia justa achando que eu buscava elogios. Não estava preocupada se a pessoa ia achar bom ou ruim, isso é uma questão de gosto e estilo. Queria mesmo era alguém que olhasse com a visão crítica e buscasse erros, ortográficos, de lógica, de clareza etc. E precisava ser alguém que eu confiasse em enviar uma história ainda não registrada.
Minha prima e duas amigas toparam o desafio e tiveram a boa vontade, paciência e até coragem para fazer suas observações. Achei ótimo! Era o que precisava! Pessoas com perfis diferentes e suas interpretações. Por último, Luiz releu também. Ele devia estar de saco cheio de ler o mesmo texto outra vez e cego como eu, mas fez um esforço final e foi bem detalhista em seus comentários. Nem tudo eu concordei, normal, porém em geral, foi um exercício muito legal de exposição às críticas, absorção do que pudesse adicionar e reforço de conceitos que tinha para cada personagem. Acredito que, mesmo as pequenas mudanças, elevaram a qualidade do conteúdo para um nível que sozinha teria sido difícil alcançar. Principalmente, sendo meu primeiro livro.
Ajuda ter boa tolerância a críticas e eu tenho, não tomo como pessoal (a menos que o indivíduo deixe bastante claro que só quer torrar meu saco, mas daí é outra coisa). Quanto às críticas normais, sempre escuto (de verdade!), se acho que o ponto é válido, me esforço genuinamente para melhorar; se não concordo, ouço, tento entender, descarto sem mágoa e não me incomoda. Quando existe respeito, concordo em discordar com muita tranquilidade.
Então, tá, eu já tinha o manuscrito finalizado! Maravilha!
Caraca, e a capa? Como é que vou fazer? Não queria usar uma imagem disponível pela internet, porque as imagens públicas não tenho exclusividade e também nunca usaria uma imagem sem autorização. Será que desenho… será que peço para algum amigo artista plástico fazer… mas eu sou artista plástica! Na verdade, até comecei a trabalhar aqui em Londres fazendo “set design” para revistas! Fala sério, Bianquita, se vira aí!
Juro, no mesmo momento que tomei a responsabilidade, baixou a ideia para uma foto de capa instantaneamente. Só que não sou tão boa fotógrafa e precisava de uma qualidade melhor que uma fotozinha de celular, né? Lá vamos nós contar com os amigos outra vez! Meu vizinho é fotógrafo profissional e um amigão, pedi socorro, se eu montar o cenário, você fotografa para mim? Ele topou na hora e foi super parceiro, trouxe iluminação, fez um monte de ângulos e fez a edição da foto. Achei linda e super alinhada ao livro!
Mas aí ele me lembrou um outro detalhe, o título do livro e o nome da autora, Yo Myself, precisavam constar também na foto. Parece um detalhe fácil, mas tem milhões de fontes para você eleger! E dá um certo trabalhinho técnico colocar essas fontes sobre a foto.
Depois até descobri que as plataformas de publicação também podem te ajudar a confeccionar a capa, tanto com imagem, quanto modelos, fontes etc. Mas é o tal negócio, você tem o direito de usar, mas não te pertence. Para quem não tem nenhuma habilidade, nem amigos, nem recursos técnicos, é uma opção bem razoável. Entretanto, se você tiver qualquer problema com a plataforma ou quiser simplesmente mudar de canal, você perde sua capa. Achei bem importante ter uma identidade visual minha.
Sim, claro que contei com Luiz para me ajudar nessa parte técnica! Acho até que conseguiria fazer uma capa sozinha, mas nunca teria ficado tão boa e com a aparência tão profissional. Modéstia às favas, o resultado ficou show!

Pois é, só que tem a capa… e a contracapa! Para isso, precisava de uma descrição e uma biografia da autora. A parte da descrição, era de se esperar, vamos combinar, o mínimo que você precisa ter é uma ideia resumida da sua história. Por um lado, preparando o leitor para o que vem, mas com cuidado para não entregar o jogo.
Até aí, beleza, mas e a parte da biografia? Olhei para a cara do Luiz com meu sorriso sarcástico, porém com dúvidas sinceras, e agora, como vou resumir o que eu sou? Se eu for dizer tudo que fiz vai virar um samba com um monte de coisas diferentes! Vão achar que sou uma louca! Ex-consultora de negócios, artista plástica, chef de cuisine, blogueira, escritora, percurssionista, hostess de Webex, já tive uma página de venda para artigos de gatos, ultimamente tenho trabalhado como set designer… enfim, a lista ficaria maior do que a descrição do livro!
Tá bom… tá bom… vamos nos concentrar no que poderia ser relevante!
Aí Luiz achou que seria importante eu colocar o contexto em que escrevia, porque o leitor gosta de entrar nesse imaginário do autor. A sugestão dele foi colocar (juro!): Bianca mora em Londres com seu marido e dois gatos e escreve com vistas para o Tâmisa.
Gente, eu ri de chorar! Aliás, estou rindo agora sozinha só de lembrar!
Ele, nesse momento rindo também, defendendo que não era mentira, a gente realmente mora em frente ao rio e a vista é bonita. Ok, mas essa frase não seria exatamente a minha cara, né?
Tentei adequar a algo mais próximo à realidade: Bianca mora em Londres com seu marido e dois gatos e escreve com vistas para o Tâmisa, logo após fazer a faxina do seu banheiro e cozinhar o jantar… Pensei em fazer uma foto vestida com um casaco de peles, escrevendo no meu laptop, em frente ao Tâmisa, lógico! E no fundo da foto, uma taça de champagne ao lado de um aspirador de pó! Mas daqueles aspiradores sem fio, porque sou muito moderna!
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos!
Depois de rir muito, acho que consegui chegar a um resumo bem honesto, acrescentando meu contexto de vida, sugestão do meu marido, mas de uma forma mais natural. Ficou assim: Bianca Rocha nasceu no Rio de Janeiro, em 1969. É formada em Administração de Empresas pela PUC-RJ, pós-graduada em Administração Financeira pela FGV-RJ e em Arte Contemporânea pela Universidad Complutense de Madrid. Navegou por várias áreas profissionais e morou em diversos países como, Brasil, Estados Unidos, Espanha, França e Inglaterra. Sempre foi apaixonada por gastronomia. Começou a escrever em 2005, quando morava em Madri, o blog “Buraco da Fechadura”. Em 2019, publica sua primeira ficção, o livro Fome. Atualmente, Bianca mora em Londres com seu marido e dois gatos.
E agora que já terminei de escrever com vistas para o Tâmisa, deixa eu correr para fazer o jantar! Mas que fique claro que a casa não estou afim de limpar hoje não, fica para semana que vem! Cadê meu casaco de peles?

Eu é que estou rindo. Largou a vida de consultoria mas em essência nada muda. Esse resumo foi escrito por uma consultora. Hahaha…
😛
Gostei da contracapa. A ideia foi muito interessante. É a sua cara! Perfeito!
Obrigada! 😉