E a quantas anda?

Pois é, mais do que na hora de dar uma atualizada por aqui, não é mesmo? Muita coisa aconteceu e segue acontecendo, então vamos por etapas.

E como anda a vida no Brasil? Difícil dar uma única resposta, porque não vejo como uma coisa só, há partes que vão muito bem, outras que seguem muito difíceis.

Vou começar pelo lado melhor. Realmente, estou muito mais presente para minha família. Tenho tentado ir ao menos uma vez por mês até o Rio. Fico sempre de olho nas tarifas das passagens, assim que aparece uma promoção ou algo do gênero, compro correndo. Facilita poder ir durante a semana, quando os preços são melhores. E como vou com mais frequência, faço viagens curtas, tipo bate-volta. Assim minha casa também não fica tão sozinha, afinal, marido e gatos para cuidar seguem em Sampa.

Sempre que possível, tento receber gente em casa e é bom saber que os amigos de tanto tempo seguem amigos apesar da distância. Não rolam silêncios esquisitos. Sigo me sentindo à vontade e parte dos grupos.

Gosto do bairro onde moramos. Na verdade, foi o bairro que mais gostei de morar em São Paulo até o momento, e olha que a gente já rodou! Todo final de semana tem ruído de festa, o que para alguns poderia ser considerado uma desvantagem. Eu adoro! É o que me faz sentir que tem vida em volta, tem gente se divertindo. Depois, não me sinto culpada ou incomodando quando quero fazer uma festinha também. Acho que rola um consenso, todo mundo trabalha, tem seus compromissos, então, durante a semana é tranquilo. Mas no final de semana, as pessoas querem aproveitar, relaxar, encontrar os amigos e, vamos combinar, acho muito complicado esse negócio de você não ter liberdade de fazer um pouco de barulho uma vez ou outra na sua própria casa! Sejamos razoáveis!

E o que é melhor acaba por aí. O resto é mais complicado. Às vezes, me pego resistindo a contar, porque não gosto de ficar me lamentando. Por outro lado, talvez fosse positivo resgatar minha boa e velha terapia: escrever! Ajuda a espantar os demônios!

Difícil explicar, porque não estou mal, não estou sofrendo, não estou desconfortável, não passo nenhuma necessidade. Estou normal, minha vida aqui não é ruim, é só morna. Tenho a sensação de haver perdido o brilho. Eu sorrio, mas não ando mais sorrindo à toa para qualquer pessoa, porque sim.

Tudo ficou mais evidente quando viajei para Europa por pouco mais de um par de semanas. A passagem já estava comprada desde que mudei, foi para terminar de resolver pontas que sempre ficam para atrás. São muitos detalhes em uma mudança, imagina quando entre seus endereços há um oceano! Fui para Londres sozinha, de lá para Madri, onde encontrei Luiz. Tiramos uns 3 dias para viajar até Porto e voltamos para o Brasil juntos.

Um turbilhão de sensações estranhas! Para começar, viajava de férias para uma rota que há 11 anos significava voltar para casa. Foi impossível não pisar na Europa e me sentir absolutamente em casa! Desde o caminho conhecido pelo aeroporto, até o passaporte vermelho que me faz passar direto pelos portões da imigração, o trem que me levava à conhecida estação de metrô, da qual sabia exatamente onde ficavam os taxis. Aconchegada dentro das minhas roupas de inverno, meu casaco que me cabe como uma luva, os cheiros que estava acostumada, tudo se encaminhando de maneira tão natural, como se nunca houvesse sido diferente.

Fiquei na casa de uma amiga que gosto muito, em uma zona próxima a Notting Hill. Encontrei outros amigos super queridos, infelizmente, não todos que gostaria, porque não tinha muito tempo, apesar de até ter prolongado minha estadia na cidade. Fui ao meu lugar de música favorito, The Blues Kitchen, em Camden Town; encontrei com amigos num pub charmosinho, e como não; passeei a pé pelo centro da cidade; usei meu Oyster Card; comi ostras no Wright Brothers; fui até meu primeiro endereço em Maida Vale, fui ao banco resolver o que faltava… tudo estava lá, no mesmo lugar e ao mesmo tempo em movimento. E eu cabia, estava totalmente dentro, engajada.

Segui com saudades para Madri, minha segunda pátria. Fiquei no apart hotel de sempre, antiguinho, barato, mas limpo e bem localizado, justo ao lado da estação Tribunal de metrô, onde me sinto a mais castiza das madrilenhas: Malasaña!

Logo veio a super festa, razão por estar ali nessa época, o famoso “Feveillón”! Nosso réveillon fora de época! Uma das festas mais surrealistas e legais do mundo mundial! E mais uma vez foi o máximo!

Novamente, encontrei amigos, revisitei lugares, totalmente em casa! Relaxada, sem medo de andar sozinha, sem problema em falar com estranhos e, sem me dar conta, sabia que estava sorrindo. Tive vontade de escrever outra vez, finalmente! Nada me inspira mais do que caminhar pela rua, mas não tinha tempo a perder ali.

Ainda consegui dar uma fugida com Luiz para o Porto, um par de dias só nós dois em um hotel de cair o queixo, o Yeatman, considerado o melhor hotel vinícola do mundo. Sério, o lugar é um escândalo de legal! Por mim, se me instalassem um fogãozinho, poderia morar naquele quarto com aquela varanda para sempre! Só saí arrastada! Não tinha expectativas em relação à cidade, que me surpreendeu positivamente, adorei! E foi bom também ter um tempo sozinha com Luiz. Nossa batida nos últimos meses não tem sido mole e, por incrível que pareça, mesmo morando na mesma casa, está difícil para a gente se encontrar! Ele sai quando ainda estou dormindo, ele volta morto e quer dormir!

Voltamos para Madri já para embarcar rumo a São Paulo. Ele não tinha férias agora e não dava para ficar tanto. E afinal, minha casa real é aqui.

Essa viagem foi muito importante para mim, acho que eu precisava dessa sensação de saber que o mundo seguia lá, deu um fôlego novo, me tranquilizou. Também coloquei tudo sob uma melhor perspectiva. É impossível não olhar minhas fotos e comparar a diferença de luz no meu rosto! Acontece sem querer, mas é óbvio, eu murcho aqui e a nossa casa deveria ser onde somos mais felizes.

Acho que quando estou no Rio é bem melhor, por motivos simples, primeiro, está minha família, minha sobrinha que é quase como se fosse minha filha, sempre passo muito bem quando estou por lá. Mesmo quando dá algum pau de saúde com meu pai, me deixa mais sossegada estar próxima. Segundo, porque segue sendo rota de férias para mim, o lugar que vou matar as saudades, vou ajudar a resolver, vou me divertir, mas não moro. Então, não ficou tão diferente, só mais frequente. Além do que, lógico que me faz bem saber que faço diferença quando vou, motiva, alegra.

A vida muda e não temos porque tomar decisões tão definitivas, mas fica cada vez mais claro que minha passagem por São Paulo tem data para acabar. Não tenho nenhuma pressa e acho que estou onde devo estar agora e por algum tempo. Nada me garante que não mude de idéia, quantas vezes já mudei? Pode ser que em alguns anos não queira sair daqui por nada desse mundo! Quem sabe? Mas acho improvável, cansa muito viver com medo, incerta, sem confiança, sem esperança, morna, só nadando na parte rasa.

Sigo buscando interesses, vínculos, coisas que goste de fazer e só tenham no Brasil. Não tenho raiva do país, sempre serei brasileira e, independente de morar ou não, sempre serei uma frequentadora assídua, mas só por causa das pessoas. Desisti de construir um futuro aqui, porque não vejo ou não sei como, não acredito que vá dá certo. É complicado você basear sua vida única e exclusivamente em pessoas, porque as pessoas passam, mudam, seguem suas próprias vidas. Também eu precisarei seguir a minha em algum momento, mas ainda tenho tempo.

E é o que há por hoje, ganhar tempo, aproveitar o tempo que tenho com quem não sei quanto tempo terá, ou terei, viver um dia de cada vez.

3 comentários em “E a quantas anda?”

  1. Menina! Quanto te entendo :/ Eu adoro o Rio, não sou infeliz aqui mas também sinto que estou aqui “de passagem”. Todos os dias “me despeço” de cada paisagem maravilhosa que vejo por aqui. Cruzo meu olhar com o Cristo lá em cima e sempre penso: “vou sentir saudades” 🙂 Vai ver é inconformismo de nômade 🙂
    Bjinhos!

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