Muito bem, senão, vejamos…
Assim que chegamos do Brasil, estava mais ou menos de-ses-pe-ra-da para sair e ver gente! Sinto muito a falta de vida social e esse negócio de ficar mais quieta, às vezes, é necessário, mas me cansa rapidamente.
Daí, na sexta-feira, assim que Luiz chegou do trabalho, insisti que queria jantar fora. Podia ser por aqui perto mesmo, queria tomar meu vinhozinho sossegada com ele. Na verdade, para ser mais sincera, estava era afim de chutar o pau da barraca!
Fomos a uma marisquería (já não sei se existe essa palavra em português, mas acho que é bem traduzível) bem bacaninha e comemos muito bem. Quando acabamos de jantar e com a primeira garrafa de vinho, não estava com um pingo de vontade de vir embora. Luiz, resolveu pedir uma segunda garrafa-surpresa, um “Termanthia” avassalador de bom! Está entre meus vinhos espanhóis favoritos, ainda que o nome não pareça tão conhecido.
Duas garrafas, para nosso padrão etílico, não é nenhum absurdo. Mas há dias e dias, e nesse, saí lararí larará do restaurante! Lembro parcialmente de como chegamos em casa, ainda que não reclame nem um pouco do fim da noite.
Acordei meio torta no sábado, mas não tão tarde, porque tínhamos um churrasco para ir, onde estariam vários amigos que estava desejando rever!
Foi ótimo, como sempre! Era um chá de bebê do jeito que eu gosto, sem frescura, com maridos e esposas presentes, enfim, um encontro de amigos normal e animado.
Fui logo pedindo às amigas: pelamooordedeus, alguém me conta alguma fofoca! Daquelas cabeludas! O que andei perdendo por esses tempos?
Engraçado, porque como estava meio de ressaca da noite anterior, acabei tomando uns dois ou três copos de coca-cola, coisa que não faço praticamente nunca, afinal, não gosto de refrigerante. O que me esqueci é que na coca vai cafeína, ingrediente que saiu da minha dieta há mais de dois anos. Dali a pouco comecei a notar que estava meio trêmula e levei algum tempo para entender que não era ressaca da noite anterior e sim a cafeína da coca-cola! Putz, já sei: equilibrar o PH com cachaça!
Fofocamos… tomei minha cachacinha… dessa vez sem grandes alterações, afinal felizmente tinha sócios para a bebida. Enfim, deu para matar um pouco a saudade dos amigos e é como fôlego novo.
Mas não ficamos até tão tarde, Luiz viajava pela hora do almoço no dia seguinte e ainda tinha que fazer as malas etc.
No domingo, acordamos cedo, arrumamos o que tinha para arrumar e levei Luiz ao aeroporto. De lá, fui a um aniversário de uma amiga, em um bar no centro de Madri. Começava pelas 15 horas.
Fui sozinha.
Geralmente, prefiro chegar aos lugares acompanhada, acho que todo mundo. Mas não sei, de vez em quando, eu gosto de andar sozinha, não de ficar sozinha, mas de sentir um pouco o gostinho de ser independente e livre.
Eu gosto de ser casada e gosto dos meus amigos, é que de vez em quando quero saber que fico pelo prazer da companhia e não pela necessidade dela. Não sei se me explico. Talvez seja só um momento de reflexão.
Assim que poderia escolher entre beber à vontade e dormir na casa de alguma amiga, ou simplesmente, curtir a sobriedade e voltar para meu canto à noite. Fiquei com a segunda opção.
Não vou negar que ser sóbria, entre o pessoal que está mais empolgado, às vezes, é um pouco chato. Mas aproveito para observar melhor, ver o que realmente pinto na fotografia. Enfim, fico mais séria, certamente menos divertida e com pouca paciência, ainda que desfrute à minha maneira.
O aniversário foi bem legal, muitos músicos bons, como sempre. Daí, rolou uma roda de samba de primeira. Eu levei meu tamborim e um caxixi, que toquei discretamente no meu canto e depois um pouco mais, junto com a roda. Também curti um neném muito fofo, que ainda não havia conhecido pessoalmente, e estava sendo introduzido à primeira saída a um bar. Pai músico e mãe animada, tem que ir acostumando desde cedo.
Princípio da noite, quando começou a me dar muita vontade de tomar uma caipirinha, resolvi puxar meu carro, literalmente. Não tenho maturidade, se começo, chuto o balde!
Voltei para casa pensando que precisava me esforçar mais para não me afastar tanto. Com esse negócio de morar fora do centro, é fácil me distanciar e não acho legal. Havia mais dois eventos ao longo da semana, e me propus a não faltar, mesmo que tivesse que ir só novamente.
E assim foi. Na terça-feira, concerto de um amigo na Sala Clamores e na quinta, inauguração de uma escola de música em um espaço alternativo bem bacana.
Marquei de encontrar com uma amiga nos dois eventos, mas fui só. Luiz ainda sugeriu que fosse buscá-la, assim já chegava acompanhada. Mas o espírito da coisa era exatamente chegar sozinha. Queria me provar, ver como me sentia. Não são muitas cidades do mundo que uma mulher pode sair só sem a preocupação extra de um assédio. Madri te dá esse direito e resolvi merecê-lo.
Não é tão mau quanto parece, na verdade, é bastante normal. Você chega, paga sua entrada, senta em uma mesa, pede alguma coisa para beber… nada demais! Não cai nenhum pedaço. Minha amiga chegou em seguida e ficamos ouvindo o show e fofocando um pouquinho entre intervalos. Quando acabou, fomos com o cantor para um bar tomar uma última rodada e falar besteira. Bom, eles tomaram uma rodada, eu só fiquei conversando, mas não estava na pilha de beber álcool essa noite. Já de falar minhas besteiras… bem que gostei.
E na quinta, foi a inauguração da tal escola de música. Conheço o organizador, gosto do estilo musical dele, mais contemporâneo, foge do lugar comum, por isso, ajudei um pouco a divulgar. Pessoalmente, fui interessada em um curso de percussão, a primeira aula era gratuita. Na sequência, haveria alguns concertos, também gratuitos, mas não tinha grandes expectativas, não sabia se iria ficar e tal.
Acontece que fui ficando e os concertos eram um melhor que o outro! Era uma quinta-feira, sendo que sexta era feriado. Ainda assim, Luiz não animou, estava cansado. Tudo bem, mas nesse caso, não me sentia culpada de estar lá, ele não precisava acordar cedo no dia seguinte, certo? De maneira que fui encontrando amigos, conhecendo outros e ouvindo música de primeiríssima!
Confesso que aí sim tive vontade de beber alguma coisa, me fazia falta um bom whiskão! Mas paciência, fiquei só na água. Isso é meio chato, porque não tomo refrigerantes nem sucos industrializados, assim que se não bebo álcool na noite, me resta: água! Bom, me acabar estava fora de cogitação, então, só me restava mudar o modus operandi para observadora e pronto!
Aí, fiquei observando e curtindo a música. Conversava com uma amiga de como a gente se sentia privilegiada de estar presente nesses momentos e conhecer tanta gente talentosa. A gente não ouve só por CD, a gente participa ao vivo e a cores, e isso é muito bom. Toda uma experiência.
Ficou tarde para os vizinhos e tiveram que fechar as portas com o povo dentro. O problema é que, quando se fecha as portas, já não há mais o controle de fumo em espaço fechado e daí vira sauna de fumaça. Ops! Me inclua fora dessa! No terceiro cigarro aceso do meu lado, saí praticamente correndo do lugar e o ambiente já se encontrava insalubre e esfumaçado quando alcancei a porta de saída. Que pena, porque o último concerto, de Trance, prometia.
Fui andando para o estacionamento, havia parado há uns 10 minutos de caminhada dali. A temperatura já estava meio maluca, transição para o outono. Gente de camiseta, gente de casaco, gente de cachecol… um samba do criolo doido na maneira de se vestir. Eu ia de camiseta e sandálias, não estava com calor, tampouco com frio. Queria curtir esses últimos momentos do ar fresco na pele, nem me incomodava arrepiar de leve, em breve já não seria mais possível e eu sabia.
Eu sempre resisto ao máximo colocar um casaco no outono, como se isso fosse capaz de adiar o inverno. Logo, me acostumo. Mudanças, boas ou más, são sempre dolorosas, depois a gente se acostuma. E, pelo menos para mim, são necessárias.
Subi pela Calle de Fuencarral, que conheço tão bem e agora já não tão bem assim. Há lojas novas, bares novos. Ainda me é bastante familiar, mas já estranho os rostos jovens, me parecem jovens demais, alcoólicos demais. Me senti um pouco fora de lugar, meio fora de foco. Eu acabei de mudar, na verdade, ainda estamos nesse processo de mudança de ciclo, mas ainda é pouco. Quero mais e a gente precisa ter muito cuidado com o que deseja.
Ou talvez, seja só o outono chegando.
Oi,
Já estava com saudades de ler as tuas coisas e de vez em quando vinha espreitar 🙂
Concordo contigo que de vez em quando é ótimo andar um pouco sosinha, adoro e costumo dizer que me dou bem comigo mesma por isso não me custa nada fazê-lo… e quando estou naqueles dias em que a minha própria voz me irrita, a melhor terapia é ir dar uma volta e por vezes um cineminha sosinha… quando saio estou como nova 🙂
Beijos
Andreia
Oi, Andreia! Às vezes, fico meio sem tempo ou inspiração para escrever, mas uma hora eu apareço 😉 Seja bem vinda! Besito