Deixa eu me organizar! São tantas pontas que às vezes me dá preguiça de começar a contar!
Não gosto de deixar ninguém no suspense, portanto adianto que foi tudo bem, dentro do que poderíamos fazer e do tempo disponível. Não somos perfeitos e alguma coisa deve ter passado, mas o importante para mim é que nesse momento, meus pais e os pais do Luiz estão todos em suas próprias casas, uns melhores que outros, mas todos em uma situação de saúde estabilizada.
Essa situação pode mudar a qualquer momento? Claro que sim! Nossa vida também pode mudar a qualquer momento, mas a gente precisa ir um passo de cada vez.
Então, vamos por parte, chegamos no Rio dia 23 de setembro e passamos pouco mais de uma semana. Estava bastante complicado para Luiz passar mais tempo do que isso. Na verdade, dar essa fugida de Madri já foi razoavelmente constrangedor no seu trabalho. Tudo bem que as pessoas entendem, todo mundo tem família… mas é a quarta vez que ele vai ao Rio esse ano, não vejo mais muita margem em relação a essas ausências. Assim que tínhamos a preocupação em deixar o máximo de coisas resolvidas e possíveis planos de emergência ou apoio em situações futuras.
Bom, no domingo mesmo, já chegamos no fim do dia e mortos de cansados. Dormimos cedo, na casa dos meus pais, para na segunda-feira, pela manhã, já começarmos a entender o que era preciso providenciar.
Sobre meus pais, posso dizer que os achei bem, com os problemas que tinham, que podem durar dias, meses ou anos. Mas felizmente, achei que na média estavam com a saúde estabilizada. Com um detalhe que meu pai anda muito ofegante nos últimos 6 meses e achamos que talvez isso pudesse melhorar. Aproveitando que eu já estava lá mesmo, marcamos com uma cardiologista que achamos muito fera, entretanto, fora do plano de saúde deles. Ou seja, é legal para uma segunda opinião ou pontos específicos, mas difícil para seguir um tratamento mais a longo prazo. No meio da semana, me dividi com Luiz, fui com eles nessa cardiologista e gostei da consulta, vamos ver se com as próximas ações ele começa a melhorar essa respiração e a volta a dormir normalmente. O caso é que também é necessário que ele perca peso, e aí é que porca torce o rabo! Achei ele um pouco mais convencido dessa necessidade, vamos ver se a força de vontade prevalece.
Mas a verdade é que nossa principal preocupação nessa viagem eram os pais do Luiz. Assim que logo na segunda-feira, fomos visitar e conversar com o seu pai. Ele já estava em casa, mas com necessidade de atendimento de uma acompanhante por 24h. Para que isso funcione, são necessárias três pessoas, que se alternam em turnos. Essas três pessoas começaram a trabalhar para eles meio que em caráter de emergência, assim que ninguém sabia muito bem por quanto tempo seria, ou seja, só agora começamos a nos informar em relação à parte trabalhista. A ideia é mantê-las, então, melhor fazer tudo redondinho para não ter dor de cabeça depois.
Muito bem, acontece que minha sogra seguia internada e queríamos tirá-la da clínica psiquiátrica. Só que, para isso, era importante que a estrutura da casa estivesse preparada e não tínhamos muita certeza de qual seria o quadro. Ela, felizmente, está muito bem fisicamente, mas a cabeça ficou meio confusa e chegou a estar agressiva. Não sabíamos o que encontrar. Poderia ser que ela nos recebesse muito bem ou muito mal.
Estava preparada para os dois casos. Isso não mudaria o que sinto por ela, mas acho que esse aspecto era menos difícil para mim que para Luiz, que é filho. De certa forma, havia uma carta na manga de eu ser usada como coringa para ajudar nessa aproximação com a família. Papel esse, que meu sobrinho, seu neto, fez os primeiros movimentos.
Assim que esse encontro era algo bastante tenso para nós dois. A gente tinha algumas estratégias, mas teríamos que adaptar conforme o que encontrássemos. Fomos instruídos pela psiquiatra a não incentivar confrontos. Ou seja, se surgisse algum assunto que pudesse ser ou se tornar conflitante ou negativo, deveríamos simplesmente mudar de assunto.
Devo dizer que estávamos preparados para ser muito pior do que realmente foi. Na prática, foi muito bom encontrar minha sogra, abraçá-la e conversar com ela. Estava sensível, mas tranquila e recebeu muito bem a visita do Luiz. Das poucas vezes que o assunto poderia caminhar para um lado desagradável, a gente fazia cara de paisagem, mudava o curso e ela mudava junto com a gente. Funcionou muito bem e foi uma dica excelente!
Fomos todos os dias visitá-la, levá-la para fazer exames e ao longo da semana sentíamos cada vez mais confiança em levá-la para casa.
A rotina básica consistia em visitar meu sogro pela manhã; resolver o que precisasse de pepinos durante à tarde (consertar chuveiro, comprar poltrona, se reunir no escritório de advocacia, orçar câmeras de segurança etc); às 17 horas, hora da visita na clínica, íamos ver minha sogra. De lá, voltávamos no meu sogro para dar notícias e, finalmente, íamos jantar e dormir na casa dos meus pais.
Não saímos nem um diazinho de nada com amigos, acabávamos os dias exaustos! São muitos detalhes e a gente queria fazer o melhor possível.
Mas na quinta-feira à noite, quando meu pai sempre janta fora, dei um jeito de catar minha mãe para jantarmos só nós duas. Às vezes, sinto falta de ter um tempo só com ela. Acho que ela fica muito em casa em função do meu pai e precisa sair mais um pouco, relaxar, desconectar. Assim que sempre que tenho uma oportunidade, boto ela para tomar um vinho, ou como costumo dizer, seu “remedinho”.
Finalmente, na sexta-feira, minha sogra teve alta e voltou para casa. Em uma das visitas, ela tinha me comentado que viria nos visitar na Espanha para comer meu feijão. Então, que não fosse por isso! Fiz uma bela de uma feijoada para recebê-la em sua casa. Como feijoada não se faz pouco, fiz um panelão nos meus pais e dividi entre as duas casas, ainda sobrou para meu irmão e minha cunhada! Ou seja, que a “Tradicional Feijoada do Luiz” acabou acontecendo no Rio!
Tanto meu sogro como minha sogra comeram de repetir! Isso me deixou contente, não só nesse dia, ambos estão se alimentando bem como nunca vi antes! E também me pareceram começar a dormir melhor. Não vou negar que achei simplesmente o máximo os dois voltarem a dormir juntinhos novamente, depois de toda essa confusão. Vamos combinar, com quase 60 anos casados, é muito romântico!
Enfim, ao longo da semana, resolvemos que ela também precisava de uma acompanhante só para ela, mas que poderia ser apenas durante o dia. É que, apesar de estar bem, ela não pode ainda sair sozinha. No futuro, quem sabe, mas no momento, melhor não correr esse risco. Contratamos então, as duas acompanhantes que ela gostava mais na clínica. Precisam ser duas, porque se revezam diariamente.
As enfermeiras e acompanhantes dessa clínica são terceirizadas. Funciona como um “pool” de pessoal, e esse grupo vai se alternando de acordo com a necessidade dos clientes. Podem estar dentro da clínica, em algum hospital ou na própria residência dos pacientes.
Resumindo, agora na casa dos meus sogros são 5 acompanhantes, 3 para meu sogro e 2 para minha sogra, e uma faxineira… é mole? Haja orçamento! O apartamento parece uma empresa!
Os primeiros dias, dormimos por lá, para ver como funcionava a dinâmica entre elas e meus sogros. Porque não é simplesmente ter acompanhantes, a rotina da casa precisa seguir, ou seja, as compras precisam ser feitas, alguém tem que cozinhar, os papéis de cada uma precisam estar claros, enfim, a logística não é de todo simples, tampouco barata. E algo que nos preocupa, queremos que esteja tudo organizado perante a lei.
Meu irmão é advogado trabalhista e se propôs a nos ajudar nessas questões. Nos reunimos algumas vezes durante a semana e acho que dá para gerenciar essa encrenca.
De maneira que, com toda essa “movida”, meus sogros mesmo começaram a pensar na possibilidade de se mudarem para uma residência de pessoas idosas. A gente já havia pensado nessa opção, mas até então, eles não queriam se mudar do apartamento. Acontece que a situação mudou e, talvez, seja uma tranquilidade para todo mundo, principalmente, para eles.
Fomos com minha sogra visitar duas residências. A primeira, nenhum de nós gostou, parecia mais um hospital. Mas a segunda, era bastante interessante. Um lugar que mais lembrava um resort (juro!), só que com assistência médica. Cada hóspede pode decorar seu quarto como queira, se não quiser esquentar a cabeça, eles possuem os móveis padrão. Mas se quiser levar os móveis do seu quarto, sua poltrona, sua televisão ou algo do gênero, você também pode. Então, dá um aspecto mais de sua casa, não é impessoal. O refeitório é bom, possuem uma série de atividades sociais, fisioterapia, jardins bem cuidados etc. Enfim, todos gostamos, mas eles não tem vaga de imediato.
De certa forma, até achei bom, porque também ganhamos um tempo para que essa ideia amadureça na cabeça deles e ninguém faça nada que não se sinta confortável ou que pareça que foi uma barra forçada.
Na última noite no Rio, dormimos na casa dos meus pais, para também dar uma atenção do lado de lá, né? Jantamos uma lagosta divina, feita de maneira bem simples, só com molho beurre blanc, um risotto de camarões e umas batatas panaderas. Tudo uma delícia e ainda derrubamos uma garrafa de cava e outra de vinho branco. Fechado com chave de ouro! Não me importa o tamanho do buraco em que me meta, se der uma brechinha para celebrar, pode contar com isso!
Foi duro, difícil e cansativo. Mas também houve momentos felizes, gratificantes e muito importantes. Posso dizer que foi uma semana intensa, onde fizemos o que acreditamos que eram as melhores alternativas. Luiz e eu temos nossas diferenças e problemas, como qualquer casal, mas quando realmente importa, trabalhamos bem em equipe. Pelo menos, eu acredito nisso. Foi bom ter ido com ele, não é uma questão de poder ou não poder realizar sozinho, mas compartilhar, delegar, contar com alguém, pode contribuir bastante.
Não são meus pais, mas poderiam ser e chega um momento que transcende a questão do sangue do meu sangue. Ajudar, contribuir, me ensina e me prepara a aceitar ajuda e a viver melhor. Faz diferença para mim, me importa. É o velho chavão do você querer ser parte do problema ou da solução. De você escolher buscar todos os mínimos defeitos passados com o intuito de culpar, magoar, e assim tirar o foco dos seus próprios erros, ou olhar para frente e decidir ser feliz a ter razão. Há alguns anos, decidi ser feliz.
Fico feliz com as notícias!! No fim, acho que foram muitas conquistas… E eu, aqui, torcendo pra que o melhor caminho seja também o menos difícil e aproveitando para sempre aprender um pouco contigo, Bianca… bj grande p vcs dois… E se precisar de uma mão aqui no RJ é só falar…
Adoro olhar pelo buraco da fechadura … Fico muito feliz que tudo tenha saido bem no Brasil e hoje concordo com você e muito. Kkkkk
Eu decidi ser feliz.
Poxa Bianca! Estava nos EUA e sem o meu note, e ferias com Mariana….. São ferias de respeito! Passei 40 dias na casa de amigos e parentes cercada de muito carinho! Li agora sobre os pais de Luiz, que Deus de forças para que vocês consigam sempre estar presentes, e de também uma dose a mais de com´preensão e paciência para a boa galera do trabalho do Luiz! Estou aqui amiga, não mais só facefriend! É só pedir! Beijos aos dois e ” hasta la vista!”.
Obrigada, Leila! Eu acompanhei suas super férias 😉 Bem legal e Mariana deve ter aproveitado bastante! Fica tranquila, as coisas estão entrando nos eixos. Nós não ficamos mais jovens, nem nossos pais, mas pelo menos as coisas estão mais estruturadas agora (isola!). Problemas todo mundo tem, com a distância, complica um pouco para a gente ajudar, mas vamos levando e, dentro do quadro e na medida do possível, eles estão bem. Beijão