Tem aquela piadinha meio fraca, do judeu que encontrou uma lâmpada mágica no meio do deserto. Esfrega a lâmpada e o gênio pergunta qual o pedido. Jacob pede a paz no oriente médio. O gênio diz que esse é um pedido muito difícil, se não haveria outro menos complicado. Então, ele entrega uma foto da esposa e diz que gostaria de sentir novamente desejo por Sarah… O gênio olha o retrato, pensa, vira de cabeça para baixo… e com aquela cara de quem não sabe nem por onde começar, pergunta novamente: escuta, Jacob, como era a história da paz no oriente mesmo?
Pois é, atualmente, quando alguém me pergunta como vão as coisas, me sinto como o gênio frustrado da lâmpada e não sei nem por onde começar…
Outras coisas nem me sinto no direito de contar, pois tocam a outras pessoas e sempre fui bastante séria em não pintar um “x” vermelho na testa de ninguém, além da minha própria.
Então, vamos ao que me tocou entre toda essa confusão.
Final de semana passado, fomos à Suíça. Luiz tinha que trabalhar na segunda-feira e eu peguei uma carona para aproveitar a viagem. Daí, fomos no sábado bem cedinho para tentar dar uma relaxada no fim de semana.
Não é que as coisas estivessem de todo tranquilas, mas a questão é que já vivenciamos esses problemas de saúde paternos há alguns anos e fomos aprendendo a administrar. Há coisas que são urgentes e outras que podem durar meses ou anos, assim que não se pode parar a vida e, simplesmente, esperar.
Se há uma chance de tomar fôlego, a gente procura desfrutar. Aprendi que isso ajuda e muito a recarregar as baterias para momentos realmente difíceis. Já disse e repito, uma guerra grande se ganha em pequenas batalhas, cada vitória precisa ser celebrada e uma derrota nem sempre significa guerra perdida.
Dito isso, a verdade é que aproveitei bem o sábado, passeamos pela beira do lago, comemos bem e o jantar foi bastante especial, até porque era nossa comemoração de aniversário do Luiz. Fomos ao La Table d’Edgard, um estrela Michelin com vistas para o lago e os Alpes. Lógico que comi e bebi de maravilhas!
Engraçado que a Suíça tem fama (merecida) de ser monótona, um fazendão! Mas por algum motivo, nessa noite Lausanne estava bombando! A rua cheia de gente, DJ tocando ao ar livre… verdade que era um público bastante jovem, mas normalmente não me esquento muito, me adapto à paisagem!
Muito bem, domingo acordamos cedo, fizemos um passeio a pé pelo centro da cidade e pela hora do almoço, encontramos com um casal de amigos que nos levou para comer em Lutry, uma cidadezinha super charmosa e, para variar, a beira do lago.
Quando eles nos deixaram no hotel, ainda fomos até Vevey, passear um pouco de carro e caminhar pela orla.
Não saímos tarde para jantar, afinal, além de estar na Suíça e os horários serem bem mais estritos que Espanha, Luiz precisava acordar muito cedo no dia seguinte. Sua primeira reunião era às 8 da matina. Eu ficaria no hotel um pouco mais e logo ia fazer hora passeando pelas ruas ou pegaria um barco a Montreaux. Ele voltaria no início da tarde e partiríamos com calma para Genève, de onde sairia nosso avião.
Olha que organizadinhos nós somos, né?
Pois é, no meio do jantar, com esse espírito de tudo tranquilo, recebemos uma ligação da irmã do Luiz, dizendo basicamente que meu sogro seria operado naquele dia, minha sogra estava com pneumonia em estado grave e ela, minha cunhada, com 39 graus de febre indo para um hospital em Zurich (onde ela mora).
Hein? Tudojuntoaomesmotempo! Por onde a gente começa?
Vamos pensar com calma. A gente, nem com toda boa vontade do mundo, conseguiria chegar no Rio hoje. Precisaríamos voltar a Madri, onde inclusive nosso carro estava estacionado no aeroporto, e de lá pegar um voo para o Brasil. Além do mais, as informações ainda estavam muito picadas e vai que o quadro não era exatamente esse?
Perguntei ao Luiz, você quer que eu vá para Zurich ajudar sua irmã? Você faz a reunião que precisa fazer e, se ainda for o caso, vai para o Brasil.
Acontece que já estava meio tarde, perto das 21h e não havia mais trens ou ônibus para Zurich. Nós estávamos com um carro alugado. Então, Luiz resolveu que íamos os dois para lá, de carro, são mais ou menos 3 horas de viagem.
Ligou para a pessoa que faria a reunião, explicando a situação, cancelou tudo, arrumamos nossas coisas, fizemos o check out meio às pressas do hotel e nos mandamos para Zurich pelas 22h.
Outro pequeno detalhe, como inicialmente nossa viagem era simples, uma meia hora entre Genève e Lausanne, Luiz pegou um carro pequeno, sem GPS e com limite de quilometragem.
A gente usou o celular do Luiz como GPS, o que para uma distância curta e sem pressa não era nenhum problema.
Acontece que agora estávamos no meio da noite, indo para Zurich, onde metade da estrada fala francês e o resto alemão! E minha cunhada nem mora exatamente em Zurich, e sim uma cidade próxima.
Beleza, o que não tem remédio, remediado está. Pegamos o celular como GPS novamente, o que não seria um grave problema… se ele não estivesse só com dois pontinhos de bateria. Porque vamos combinar, lei de Murphy é infalível!
Assim que pegava as indicações principais e sempre que a próxima entrada ficava meio longe, desligava o telefone para economizar bateria.
Sim, chegamos direto, mas o celular já sinalizava que a bateria estava acabando quase na porta da minha cunhada. Chegamos pela uma da manhã. Sabe-se lá com quantas multas por velocidade na bagagem. Mas francamente, era o que menos importava.
Foi bom termos ido, acho que minha cunhada se sentiu mais apoiada e melhorou rapidamente. A febre baixou e a voz ficou melhor. Acho que nessas horas, quando a gente está sozinha e fragilizada, os problemas sempre são maiores do que parecem, e vamos combinar, que não eram exatamente pequenos.
Fazendo uma longa história curta, ficamos até às 5 da matina acordados resolvendo pepinos, alguns mais intragáveis que outros. Mas fomos dormir sabendo que meu sogro não seria operado naquele momento e que minha sogra havia conseguido ser internada e não estava ainda com pneumonia. Sim que tinha uma infecção que precisava ser cuidada, mas era bem melhor do que o quadro que nos pintaram inicialmente.
Eu mesma, não resolvi nada diretamente, meu papel era muito mais dar apoio e tentar estar lúcida para ter ideias, caso fosse necessário.
Bom, com a história encaminhada e a irmã mais tranquila e melhor de saúde, resolvemos voltar no dia seguinte e tentar cumprir com a agenda inicial da melhor maneira possível.
Luiz, acordou cedo, ligou para Lausanne e perguntou se era possível fazer as reuniões canceladas na parte da tarde. O outro lado, que entendeu a situação, disse que se não todas, pelo menos boa parte delas.
Muito bem, então, lá fomos nós correndo para Lausanne de volta, com o GPS improvisado no celular do Luiz. Felizmente, agora com a bateria carregada. O local que íamos não era exatamente Lausanne, era uma cidade minúscula nos arredores. Assim que não havia, por exemplo, um shopping, um restaurante ou alguma praça para eu ficar andando e fazendo hora. A empresa em si era bem moderna e francamente, não combinava com o contexto de gramado e vacas ao seu redor.
Mas já não havia tempo do Luiz me deixar em Lausanne e voltar, assim que Bianquinha se instalou na cantina da empresa e esperou a tarde inteira por ali. Por sorte, com meu Ipad (carregado) a tiracolo.
Pelas 17h, Luiz conseguiu terminar todas suas reuniões, o que me deixou muito mais aliviada. Acontece que antes das 21h saía nosso avião… de Genève!
Lá saímos nós, praticamente voando baixo, de carro para o aeroporto de Genève. Sem direito a errar o caminho, porque estávamos bem curtos de tempo, ainda teríamos que abastecer e devolver o carro.
Foi um pouco tenso, mas conseguimos! Quem me disser agora que a Suíça é monótona, vou perguntar: para quem, cara-pálida? Porque, aparentemente, escolhi a opção Suíça com aventura! Por mais paradoxal que essa frase soe!
Não tivemos problemas nem demoramos nos processos de segurança, assim que por incrível que pareça, ainda nos sobrava uma hora antes do avião decolar… e uma fome do caramba!
Mas alguém acha que queria me conformar com um sanduba meia boca? Vamos ver se tem algum lugar decente para comer aqui dentro. E tinha.
Sentamos em um Caviar House da vida, comemos bem e com uma boa taça de vinho branco na temperatura perfeita. Como disse, se podemos celebrar, não perdemos nenhuma chance. E vamos combinar, tudo que poderia ter dado errado e não deu! Valia um vinhozinho, não?
Considerando que dormimos cerca de 3 horas durante a noite, o dia não foi de todo simples e levava duas taças de vinho na cuca… nosso diálogo durante o voo não foi exatamente longo. Luiz apagou na decolagem e eu, que nunca durmo em avião, bem que dei minhas cabeçadas.
Muito bem, chegamos finalmente a Madri e a tendência era que as coisas se acalmassem. Mas a verdade é que não cheguei a relaxar, porque sabia que mais cedo ou mais tarde alguma bomba ia estourar.
Logo no começo da semana, começou o zum zum zum de Luiz e a irmã de quem poderia ir para o Rio para ajudar. Nenhum dos dois podiam, o nome na sequência era o meu. Será que eu podia?
Veja bem, poder, até posso, não me importo com a trabalheira em si, a questão é que não teria autonomia de decisão, e essa história é bastante complicada para explicar agora. Daí pintou a possibilidade da irmã ir e eu também, para apoiar o processo.
Cancelei minhas aulas na Le Cordon Bleu (outra história que vai ficar na manga, depois eu conto) e as sessões de cavitação. Porque poderia viajar a qualquer momento.
Outro pequeno detalhe, tinha hóspede programado para chegar na sexta-feira e eu sem saber se avisava para ele o tamanho da encrenca!
Acabou que chegaram a conclusão que seria melhor o Luiz ir, a presença de todos os filhos estava sendo requisitada e tal. Sendo que a irmã ia primeiro.
Recebemos nosso hóspede e para falar a verdade, achei foi bom. Mudou um pouquinho o foco das conversas, a gente foi encontrar com a sua filha, que também é nossa amiga e mora no Brasil. Aliás, esse foi o motivo dele sair da França para cá, encontrar a filha, que estava de passagem por Madri.
De maneira que, apesar do turbilhão, o fim de semana foi bem agradável, outro fôlego.
Mas não havia acabado. Começo da semana, com minha cunhada já no Rio, o caldo entorna novamente! Outra crise carioca daquelas que você não sabe por onde começar. Lá vamos nós na montanha russa…
E nesse vai-não-vai-quem-vai, acredito que vamos os dois para o Rio no próximo fim de semana. Digo acredito, porque a cada dia os planos mudam e nunca sei o que vou fazer.
Fico bastante incomodada, porque em boa parte dos casos, me sinto impotente e é uma mistura de sensações. Há um lado que talvez seja egoísta, afinal também tenho meus planos e atividades que estão empacados. Com esse inferno de “a qualquer momento” que me persegue ao longo da vida, me paraliso. Há um lado de raiva, de ver que apesar dessa cruz ser pesada, não precisava ser tanto se não lhe pendurassem problemas desnecessários, brigas e discussões sem sentido. Há um lado de pena pelos meus sogros e, em outras situações, pelos meus pais, que merecem apoio e nem sempre a gente consegue estar presente. E o pior de tudo, ver Luiz triste e sem dormir direito.
E me considero com sorte, porque há anos me livrei da culpa e aprendi o perdão. Menos duas cargas pesadas para ter nas costas. Ainda assim, é duro.
Eu sei que tem família e amigos dispostos a nos apoiar, e de uma maneira ou de outra, sinto que estão ao redor. Mas nesse momento, não há muito o que dizer ou fazer, às vezes até elejo a distância, quase prefiro conversar com estranhos, assim posso me limitar a assuntos banais.
Na prática, atualmente, só me resta ser o “Rex”. O cão que não tem poder de decisão, mas está prontinho para ouvir o comando: pega Rex!
E aí do pescoço que se meter no caminho…
Bianca, estamos aqui no Rio. Quer que pegue vcs no aeroporto? Quer que deixe o carro com vcs para os dias em que estiverem aqui? Estamos à disposição de vcs, viu? Sei que é muito genérico dizer que qq coisa que precisar é só falar, mas é isso mesmo. Vocês são meus amigos, e tenho em vcs uma família muito querida, que sempre me acolheu.Sintam-se À vontade para qualquer pedido, até a paz no Oriente Médio. É qualquer coisa mesmo.
Beijo enorme,
Tati
Bi, forca amiga!! Quando fazemos a decisao de morar fora do nosso pais (longe dos pais) tudo e festa, mas a gente esquece de pensar, ou melhor, acho que a gnete tenta colocar la no fundo do cerebro, que a idade chega para todos e as vezes com “pepinos” de saude. E tao dificil ficar “longe” fisicamente!!
O melhor de tudo e que voces tem condicoes emocionais e financeiras para dar o suporte para a familia que necessita tanto agora:) Que Deus abencoe toda a familia, com muita forca para passar esses momentos.
Beijo forte no coracao, e sempre um dia depois do outro, com celebracoes para cada momento que mereca (estou com voce nessa!!!!!).
Meu irmao mais velho costuma dizer que “familia é como sol: de longe aquece; de perto, torra!” …rs
Brincadeirinhas realistas à parte, espero que a poeira baixe logo e que as coisas amenizem. Eu, infelizmente, nao consegui ainda conviver com a culpa por estar longe. Antes era com relaçao aos meus pais. Hoje, com relaçao a minha sogra. Eh dificil pra gente ve-los velhinhos, doentes, fràgeis. Mas, infelizmente, tem coisas que nao podemos fazer, nem mesmo perto.
Adoro seus posts, mesmo em situaçoes dificeis vc nao deixa de dar uma pitadinha de humor 😉
Bjos!
Como dizemos por aqui, obrigada a todas e a cada uma. Amigas assim é um privilégio 😉
Vamos para o Rio amanhã, resolvemos ir os dois, ele fica mais apoiado e eu mais tranquila. A ver…
Besitos miles
Boa sorte, amiga! Bjs
Obrigada! Embarco daqui a pouquinho! Besitos
Olá Bianca,
Espero que a viagem tenha corrido bem e que os sogros já estejam melhores.
Beijos
Andreia