Our good old Jack Daniel’s

Não é a primeira vez que falo nele e provavelmente não será a última, mas é a mais triste. Nosso gato se foi, após 13 anos fazendo parte da nossa família.

 

Falar nisso é difícil, mas escrever tem sido minha terapia há bastante tempo, então lá vamos nós ver se adianta ou se, ao menos, tira um pouco do peso que fica no peito.

 

É estranho escrever o epitáfio de um gato, soa quase maluco. Acontece que por tudo que ele nos deu, por sua personalidade e caráter tão marcantes, ele merece.

 

Nem Jack, nem Buchannan eram tratados como gente. Eles eram gatos e gostavam de ser gatos. Animais também precisam ser compreendidos e respeitados como são e era exatamente assim que nós os amávamos.

 

É difícil para eu falar de um sem falar da outra. Eram irmãos e chegaram juntos à nossa casa quando tinham apenas 40 dias, Luiz me trouxe de presente por meus 30 anos.

 

Quando Buchannan morreu, com 5 anos, Jack ficou totalmente deprimido e teve sua primeira complicação renal. A partir daí, paramos de falar o nome dela em casa, porque víamos as orelhas de Jack se mexerem a procurando. Passou a ser “a gata”. Eu pensava nela, às vezes sonhava com ela, mas pouco conversávamos sobre isso em casa. Por ele.

 

Em 2005, com a morte da Buchannan, Jack adoeceu e meu coração apertou. Parecia ter acabado de ver aquele filme. Mas ainda era um gato jovem e forte, havia condição de tratá-lo e assim o fizemos. Sabíamos que seus rins não seriam os mesmos, que era um gato obeso e blá, blá, blá… mas era o gato mais feliz que nós conhecíamos e essa era a sua característica mais marcante. O tratamento durou cerca de 9 meses, toda uma gestação para que ele tivesse alta. Gastou algumas das suas 7 vidas, para cumprir o pacto que havíamos estabelecido e que já vou contar.

 

Buchannan eu escolhi, Jack me escolheu. Fui ao gatil atrás de uma gata vermelha com personalidade forte, dona do seu nariz. Não tive dúvidas quando bati o olho na minha felina: era ela. Não queria ficar no meu colo, mas não saía de perto de mim, com seu rabo bastante empinado. Deixou claro que sabia que havia sido escolhida, mas era ela quem decidiria vir comigo. Jack estava brincando distraído com sua mãe, mas quando me viu, ficou curioso (como um bom gato), levantou sua carinha de neném que manteve até a velhice e veio imediatamente em minha direção. Escalou meu colo e começou a cheirar meu hálito (também manteve essa mania). Se posicionou ali, me deixando impossível não levá-lo também. Foi ele quem decidiu que eu era sua dona.

 

O tempo passou e fui conhecendo bem a personalidade de cada um. Buchannan era a inteligente sensível e Jack o pateta feliz. A gata cuidava de todos, como uma grande mãe e Jack era um reizinho que tinha um prazer enorme em ser cuidado.

 

Entendendo os dois, fizemos um pacto. Buchannan era soberana, decidiria sua hora e, quando isso aconteceu, soubemos respeitar sua vontade. Com Jack, deixei bem claro: você é meu! Será o que quiser, gordo, bonachão, mimado… Em troca, quero 10 anos de saúde e que neles você seja feliz. Você morrerá de velho, nos meus braços.

 

Como sempre, ele me deu mais. Foram 13 anos com o gato mais feliz do mundo!

 

E quando sua hora chegou, estávamos Luiz e eu com ele. Se foi com a cabeça recostada na minha mão e escutando nossa voz. Para que não se sentisse só.

 

O procedimento é rápido e indolor, dói mais na gente. Ele recebe um tranquilizante e cai em sono profundo. Só depois recebe uma dose extra de anestésico, que faz com que seu coração pare. Vai literalmente em paz, dormindo.

 

Não é apenas uma metáfora dizer que sua vida foi escorregando pelas minhas mãos e não é exatamente uma cena que gostaria de presenciar. Mas era minha parte do nosso acordo. Ele cumpriu a dele e eu a minha. E é muito estranho que, de um momento para outro, um ser tão amado se converta em um corpo.

 

É o ciclo da vida. Sou uma escorpiana e o entendo desde que nasci. Mas ainda assim, dói muito.

 

Jack me ensinou a ter algo de rotina e a importância dessas pequenas rotinas para nossa sensação de segurança, me ensinou que cuidar de alguém não é ruim e, se hoje tenho algum instinto maternal, não tenho dúvidas que ele teve grande responsabilidade nisso, me ensinou a voltar para casa com prazer, a desfrutar de coisas simples e a ser irracionalmente feliz porque sim.

 

Jack era um sedutor. Quando chegou na nossa casa, Luiz não ligava para gatos, gostava de animais, mas era de cachorros. Ver seu amor por esses bichinhos crescendo todos os dias e o carinho que os cuidou até o final, me fez amá-lo mais. Verdade que às vezes beirava as raias do ridículo e eu, como boa sacana que sou, lhe perguntava irônica: você sabe que está negociando com um gato, né? E está perdendo!

 

Os dois sempre foram loucos por Luiz. Jack esperava seu despertador tocar impacientemente para ser cuidado. E nos fins de semana, quando isso não acontecia, ele tratava de encher seu saco até ele levantar, porque afinal, ele precisava ser escovado! E lá levantava Luiz, às 6:30h da matina, em pleno domingo, para escovar o gato. Está pensando que ele reclamava? Ainda ia dizendo: pronto Jack, seu mordomo já levantou… E Jack fazia todos os ruídos de alegria possíveis e imagináveis, deixando impossível que alguém se aborrecesse.

 

Ele ensaiava fazer o mesmo comigo, quando Luiz viajava. Só olhava para ele e deixava bastante claro: no fucking chance, my friend! Ele entendia, suspirava e deitava no meu pé ou se espalhava pela lateral da minha barriga, pedindo carinho. Aliás, fazia isso algumas vezes durante à noite.

 

E quem conseguiria se aborrecer ouvindo seu típico ronronado de felicidade?

 

Posso passar uma tarde enumerando o quanto ele se metia nas nossas bolsas, na nossa vida, na nossa rotina e no nossos pés! Às vezes, era um pentelho! E o estranho é que é exatamente dessas pequenas manias que sentimos tanta falta.

 

Nos habituamos a caminhar olhando para o chão, para não pisá-lo; a entrar em casa olhando para o canto da porta e a fechá-la com rapidez para ele não sair; a tomar cuidado com as portas de armário, com as janelas, com as cadeiras… e vai ser difícil mudar esses hábitos novamente.

 

O momento mais duro para mim e acho que para Luiz também é chegar em casa. Porque nosso gato-cachorrinho nos recebia na porta, e boa parte das vezes com certa reclamação por atenção.

 

Mas não quero que isso se transforme em um muro de lamentações. Porque se conto a verdade, às vezes no meio do choro de saudade, começo a rir lembrando das bobagens que ele aprontava. E é assim que quero lembrá-lo no futuro, do meu buda bonachão, da sua silueta de pera e da sua elegância de sapo-boi!

 

Nosso bichinho que a família e os amigos foram capazes de compreender o quanto era importante e peculiar. Há gente que não gostava de gatos e gostava dele; há gente alérgica que convivia com ele sem problemas; amigos que dormiram aqui em casa para que ele não ficasse só; amigos que tiravam os sapatos ao entrar no apartamento para evitar que Jack adoecesse; amigos que resolveram ter gatos depois de conviver com ele; gente que simplesmente achava ele lindo… quem poderia imaginar que um animalzinho gorducho pudesse impactar tanto seu contexto?

 

Ainda vai doer um pouco… ou bastante. Mas é um alívio saber que ele foi sem sofrimento e do nosso lado. Poder se despedir dos seus amores é uma benção, apesar de duro. A dor vai durar algumas semanas, depois vai virar saudade. E esse tempo nem se compara aos 13 anos de alegrias que ele nos deu. Claro que faria tudo outra vez!

 

E acho que seu epitáfio deveria ser simplesmente: aqui jazZ Jack Daniel’s, nosso felino etílico, o gato mais guloso, lindo e feliz do mundo!

 

Vai em paz meu gorducho e, Buchanninha, recebe ele por aí!

17 comentários em “Our good old Jack Daniel’s”

  1. Affeee claro que estou aos prantos né! Mas é tudo isso mesmo. Deixará muitas saudades e lembranças! Segue seu caminho Jack, com a certeza de que voce foi e será sempre amado! Didis!

  2. Amigo Jack, que vc seja mais feliz com a sua irmazinha, sempre teremos saudades das suas apariçoes no meio da noite, bisbilhotando e querendo saber quem andava pela casa. Grande abs

  3. nossa Bi que coisa mais linda…no seu texto, sou a que nao gostava de gatos e me apaixonei por um…gordo, carismatico,lindo, desconfiado…enfim fofo…!beijo grande Ana

  4. Meus pêsames! 😦 … Esse bichano era do balacobaco…. Um figura…. Nunca vi um gato com tanta personalidade e tão amado pelos seus “pais”… Vai em paz!

  5. : ( O Jack era um bichano lindo e gente boa pra caramba!!! Sempre aparecia nos finais de festa para dar uma conferida básica. Vou sentir saudades…
    Sorte ele teve de ter sido tao bem cuidado e amado por vcs. Bj

  6. Bianca sei bem como você se sente, já tive duas pessoas felinas em casa a Pitti e a Milu, cada uma com temperamento mais humano que a outra e também se foram, uma aos 5 e a outra aos 9 anos, estou querendo adotar mais 1 agora, sei que eles vivem menos tempo do que deviam, mas as recordações e lições que deixam pra gente compensam essa parte ruim de quando partem, nos resta as lembranças que sao muitas e felizes, espero que vcs logo possam ter outro companheiro(a) pra aprender que a vida pode ser muito feliz ao observar eles e ver que não se precisa muito pra ter tudo, abraço.

  7. Oi Bianca como voce sabe perdemos dois bichos muito queridos a Ianca uma rotweiler incrivel que viveu 15 anos ninguem sabe como, e o Thor nosso querido callegero, pois ainda hoje parece que vejo o Thor passando de repente por uma fraçao de segundos. Bem para um gato outro gato, e para melhor Fundaçao Gata, Ou o retiro ai de Madri. O que nao se pode è ficar sem. Temos agora duas siamesas identicas adotadas, as duas foram abandonadas uma cega de um olho, mas estamos muito felizes. No ceu dos gatos seguro que ele esta esperando seus papis do outro lado do rio.
    Um beijo Antonia.

  8. Bi, que texto emocionante… Estou aqui num pranto total, ainda mas porque me lembrei de cada coisa que vocês descreveu ai e parte da historia que já sabia e o que representava o Jack e a Bukanna na vida de vocês…

    Doi e ainda vai demorar um pouco para acostumar, mas a madurez, a solenidade e o amor de vocês, vai ajudar a cicatrizar pouco a pouco…

    Jack me fez gostar do universo felino… me lembro a primeira vez que fiquei com ele, num momento tao conturbado da minha vida e você me disse: _ou vc vai mudar o Jack ou Jack vai mudar você, algo vai acontecer ai…

    E realmente, Jack me ensinou e me deu a tranquilidade e a paciencia que precisava nesse momento… E eu que nao entendia nada de gatos, somente dos meus cachorros, ele me ensinou que um sentimento verdadeiro e desinteressado… o ele escolheu quando e onde e fizemos boas migas….
    Hoje tenho a Kristal pelo carinho que aprendi a ter pelos felinos através do Jack…. E entendo muito mais vocês agora…

    A Kristal esta uma festa só com tanta novidade… depois envio fotos quando estiver com ordem em tudo… e ela resolver sair da mala ;-)… Obrigada a você e Luiz! Força para os momentos em que a saudade apertar e as lembranças de tantos bons momentos vierem…

  9. Bianca,
    Claro que estou aos prantos né? mas é assim mesmo….sinto saudades dos meus tbm….e nunca nenhum irá substituir o outro. Mas é a vida, são ciclos que se fecham….me atrevo a dizer que virá algo muito bom pra vcs.Eles mandaram com certeza, esteja preparada para receber.bj Sonia

  10. Ains! Puro sentimento! Vou sentir falta do bafo felino e dos miados de atenção! Vai em paz! Certeza que foi o gato mais amado que conheci =).

  11. Obrigada, amigos! Cada dia é menos difícil e menos triste. Definitivamente, é um consolo saber que ele teve uma vida longa (para um persa) e principalmente, muito feliz. Não sei se teremos outros gatos ou cães, é possível que sim, mas não agora. Porque não queremos substituições. Deixa essa poeira baixar e, quem sabe, ano que vem a gente pegue um par de vira-latinhas, né? Beijos a todos e obrigada mais uma vez 😉

  12. Olá Bianca,

    Lamento mesmo muito pelo Jack, pois também eu tenho um gatinho persa (gatinho mas já com 12 anos), e sei o quanto eles fazem parte da nossa familia… cheguei a comentar em minha casa que pela 1ª vez “ouvia” alguém dizer que tinha de pedir a amigos que fossem dormir em vossa casa por causa do gato, no meu caso tenho um amigo que também vai passar “férias” para minha casa porque irem só dar de comida está fora de questão, ele precisa de companhia 🙂

    Beijos grandes
    Andreia

  13. Bianca, q post emocionante. A minha irma tem uma gata siamesa que e toda busca carinho e um gato persa fofo como o Jack mas branco e todo independente e ciumento. Lendo teu texto de apertinho no curaçao lembrando deles. Admiro quem tem esse amor pelos animais. Fica bem, besitos

  14. Bianca, como a maioria, estou chorando aqui com seu post. Ainda mais porque estou com a minha felina aqui no colo agora mesmo, e chega me dar uma dor no peito em pensar que um dia chegará a sua hora. É estranho porque com pessoas não pensamos isso, talvez porque os animais tenham um prazo menor para nos fazer compania nessa terra. Enfim, sempre digo que existe um céu dos gatos e lá estão os teus! Um beijo e se cuida.

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