Nem sei por onde começar, porque nessas últimas semanas me passou toda uma vida! Para minha sorte, um fio condutor feito de música e de amigos entrelaçados.
Como tenho que começar por algum lugar, começo pelo fim de semana anterior. Uma amiga música me pediu palpites em umas letras que está compondo para o CD novo. Se eu topo? Nossa, toda uma honra! Dá até um pouco de nervoso pela responsabilidade, mas a verdade é que tinha certeza que viria coisa boa e pronta, então tudo é mais fácil.
Há algum tempo, tive vontade de abrir uma categoria nova no blog, chamada justamente “letras para músicas”. Estava com uma certa vontade de compor, mas ao mesmo tempo, me sentia meio manca porque meu negócio são as palavras, me falta conhecimento musical para complementá-las.
Em outro momento dessa mesma semana, um amigo músico, que pelo que entendi, trocou figurinhas também com ela, veio falar comigo que se estivesse interessada em compor, a gente podia tentar alguma coisa.
Achei o máximo! E o engraçado é que a possível proposta veio depois de uma conversa que tive com um terceiro amigo músico, onde contava como me sentia privilegiada de estar em um ambiente com tanta gente talentosa ao mesmo tempo! Falava que a música tinha um espaço muito importante dentro da minha vida e que, finalmente, era um idioma que entendia, ainda que não soubesse falar direito.
Como a gente precisa ter cuidado com o que deseja, não é que alguns minutos depois, recebi a possibilidade de um “tradutor” que me ajudasse a fazer parte desse contexto?
Não sei o que virá por aí, mas a oportunidade me empolgou.
Nessas últimas semanas também houve duas coincidências em encontros. Uma da minha turma de colégio, que nos formamos juntos na 8ª série (Escola Paroquial Santo Antonio) e outra da turma que nos formamos no 3º ano (Colégio LaSalle). Por alguma ironia do destino, afinal são amigos diferentes, começamos a nos reencontrar virtualmente, através do Facebook, no mesmo período. Resultado, se já sou uma viciada em redes sociais, imagina com esse povo resurgindo das cinzas!
Do pessoal do Santo Antonio, tinha mantido contato com vários, mas além de terem aparecido novos amigos, agora reunidos em um grupo de tão fácil acesso e que podemos trocar fotos e lembranças, ganhou nova dimensão. É muito bacana ver como as pessoas evoluíram!
E o segundo grupo também é muito especial para mim. Cursei o segundo grau quase todo em um colégio, mas no último ano estava bem de saco cheio, enfim, longa história que ficará para outro dia. Assim que mudei para o Colégio LaSalle quando já havia começado o segundo semestre. Não tinha grandes expectativas de fazer amizades, afinal, estava pegando o bonde literalmente andando. Minha preocupação era simplesmente fazer um bom vestibular e escolher minha faculdade.
Acontece que fui mais do que bem recebida e o pessoal era show de bola! Rolou uma afinidade entre os alunos que nem sei explicar da onde vinha, mas terminamos o ano como um grupo muito unido e querido. Acho que foi a primeira vez que me senti parte de uma turma como um todo, sem as famosas “panelinhas”.
Agora, encontrar o pessoal, grisalho, com filhos, com carreiras definidas… é muito louco! Faz a gente voltar no tempo e se sentir com 16 anos outra vez, mas sem as inseguranças adolescentes, só com a energia e a crença que a gente podia tudo!
Eles já se encontraram em Brasília. Eu só consigo participar virtualmente e por fotos, por enquanto, mas tem sido viciante!
E voltando ao mundo real, na quarta-feira, foi o concerto em homenagem a Urano Souza, um músico “das antigas”, que leva em Madri quase 30 anos. Uma parte considerável dos músicos brasileiros que chegaram ao país, tiveram as portas de alguma maneira abertas por ele. Assim que, nessa homenagem, também vieram para dar sua contribuição musical. Então, imagina essa fera no palco acompanhada de uns 20 músicos de primeira linha! Imaginou? Pois multiplica por mil! Uma explosão de talento que chegou a emocionar.
Na quinta-feira, outro tremendo concerto do David Tavares em quarteto. É um monstro no violão e, dentro do quarteto, ainda estava acompanhado do Evaldo Robson (flauta e sax), outra fera que tocou com gente pequena como Tim Maia e Maria Betânia.
Ainda tinha outro concerto no mesmo dia do Arturo Lledó, que a gente ama de paixão, mas infelizmente, não conseguimos nos duplicar e comparecer a todos. O próximo a gente não perde!
Enfim, não costumo falar em nomes aqui no blog, mas para contar sobre concertos, às vezes fica difícil não citar, considero que shows são públicos e artistas precisam de divulgação. Ouvir esse pessoal a meio metro de distância, quando não na sala da minha casa, é uma experiência ímpar que tem me aberto um horizonte gigantesco de uma linguagem universal, a música. Então, hoje, de alguma maneira, abro uma exceção porque queria dizer o nome de vários. E sinto muito se faltar alguém, mas é que aqui só me sinto no direito de contar minhas histórias.
E dito isso, seguimos. Nesse concerto do David, Luiz chamou o pessoal do seu trabalho. Eles estão em uma época ocupadíssima, porque é fechamento de ano fiscal. Mas pareceu uma boa idéia dar uma relaxada e quebrada nesse clima com um show de música boa e tranquila. Acabou que foi só um casal, que achei muito simpático. Foi legal falar mais em espanhol, porque com a quantidade de amigos brasileiros que temos, às vezes sinto falta de exercer um pouco minha segunda cidadania. Além deles, mais alguns amigos compareceram e conhecemos outro casal de brazucas que parecem bem animados. Assim que nossa família segue crescendo…
E falando em família, e porque tudo na vida é misturado, na sexta-feira, primeiro horário, eu precisava fazer um teste de gravidez. Dessa vez, meu médico me recomendou um exame de sangue. Uma maneira de adiantar o resultado, afinal assim consigo a resposta uma semana antes e isso representa uma semana menos de ansiedade. Ele sabe que estou no meu limite e acho bacana que tente fazer com que o processo seja o menos complicado possível.Pediu urgência no resultado, que saiu pelas 19h30. Foi negativo.
A gente tinha um jantar para ir na sexta-feira, na casa de amigos espanhóis que adoramos e infelizmente temos pouca chance de nos encontrar. São inteligentes e engajados, aprendo muito com eles sobre a cultura espanhola em sua melhor parte.
Estava me maquiando quando o médico me telefonou para dar o resultado. Tinha expectativas positivas, porque sentia alguns sintomas, assim que foi algo decepcionante.
Por outro lado, foi um decepcionante rápido. Ensaiei uma vontade de chorar, mas não queria borrar minha maquiagem, não queria mais sofrer e não me caiu uma lágrima. Na minha cabeça só vinha, chega! Hasta aquí hemos llegado! Admito que estava um pouco puta, mas não estava triste, até porque nem aguento mais ficar triste por isso. Raiva é bem mais fácil de administrar do que tristeza. Deixa eu terminar de me maquiar, porque não quero me atrasar.
O jantar foi uma delícia e juro que não precisei disfarçar nada, não fiquei me martirizando. Na verdade, deixei esse assunto para depois e aproveitei o momento.
Na volta para casa, pensei um pouco a respeito, até para me entender melhor. Só tinha vontade de começar a me cuidar, fazer um regime mais sério, algum tratamento que me ajudasse a perder peso ou me deixasse mais bonita. Queria planos, por mais fúteis que fossem, queria estar bem na pele que habito. Não tinha mais vontade de pensar em sacrifícios para uma terceira pessoa que talvez nunca exista, queria cuidar de mim. Estaria em processo de negação? Será que era isso? Porque aceitei o não de maneira tão conformada que estranhei. Mas aceitei.
Tenho mais dois meses de tratamento, os quais vou cumprir. Afinal, tem muita gente que precisa que os outros não desistam, então, não me custa dar um pouco de esperança alheia. Mas sem progesterona e sem prioridade. Honestamente, mais para não decepcionar a família e alguns amigos do que por mim mesma. É impossível que aconteça? Não, não é. O ponto é que eu não acredito mais. Levo mais de três anos em tentativas incertas e quase um ano a sério nessa brincadeira, como prioridade absoluta, acontece que uma hora isso precisa ter um fim. Tenho uma atitude que nem sei se é boa ou má, mas é assim, me preocupo ou sofro enquanto é “talvez”, com o “sim” e com o “não”, sei lidar.
Certa ou errada, me sinto bem, leve e morrendo de vontade de voltar a ser ruiva!
E seguindo com nossa maratona, no sábado, almoço de aniversário de uma amiga. Seu marido, só para variar um pouquinho, também é músico, o Tinho. Que aliás, dá palhinhas excelentes aqui em casa nas festas! Comemos um strogonoff divino, mas na hora que começou o samba, puxamos o carro, porque ainda tínhamos longo caminho pela frente.
Porque, na noite de sábado, tinha mais um concerto imperdível! Os personagens principais eram Vaudí Cavalcanti e Armandinho Macedo, duas feríssimas e vulcões de energia! Tocavam com Rogerinho, Mankuso, David Tavares e Fábio Neto. A Surama, esposa do Armandinho, também deu uma canja. Temos a sorte de conhecer todos e me sentia em casa! Generosos, não deixaram distância entre palco e plateia, tudo junto e misturado! Show para a gente se acabar e é lógico que a gente se acabou!
Antes, fizemos um “esquenta” na casa de uma amiga que morava perto de onde seria o evento. Cheio de coisinhas deliciosas para beliscar e bebida à vontade. É que no lugar do show, a bebida tinha a tradição de ser meio cara, então uma amiga foi logo dizendo que precisávamos já chegar no local todos “bonitos”! Pois chegamos lindos e maravilhosos! Uma galera de gente legal!
Engraçado que sempre leio coisas do tipo, amigos de verdade se contam com os dedos da mão, são raros e poucos. Às vezes, tenho a sensação que se desvaloriza o fato de se ter muitos amigos, como se a qualidade nesse caso fosse diretamente prejudicada pela quantidade. Eu acreditei nisso muitos anos, mas quer saber, hoje em dia acho esse um jargão sem sentido, uma besteira! Se a pessoa é tímida e prefere círculos mais reservados, não vejo o menor problema, mas se tem algum bobo contando os amigos nos dedos da mão, aviso que está no lugar errado, porque na mão não deveria caber nenhum. No meu coração (e no do Roberto Carlos) cabe um milhão!
Se posso contar com todos eles? Sei lá! Para que vou fazer amigos pensando em me ajudar nos meus problemas futuros que nem sei se existirão? Sei que eles podem contar comigo e isso mais do que me basta. Essa matemática é minha favorita, porque quando mais damos, mais recebemos.
Enfim, como disse, o show foi alucinante! Quando terminou, ainda ficamos por lá decidindo para onde seguir. Mas imagina chegar a alguma conclusão com esse povo todo, né? Nós descemos e ficamos esperando um pouco. Até que foi me dando fome, Luiz começou a me lembrar dos prazeres de ficar em casa agarradinho no ar condicionado… e resolvemos sair de fininho. Nem nos despedimos, achando que ninguém ia notar nossa falta, segredo de liquidificador total!
Em casa, ainda fui para cozinha fazer calabresa e mandioca com manteiga de garrafa, estava com desejo!
Já cansou? Pensa que acabou? Na-na-ni-na-não!
Domingo, acordamos com o telefone. Um amigo chamando para comer uma feijoada aqui perto, no Gula Gula. Também rolaria uma roda de samba. Ai, meus orixás, lá vamos nós! Mas a verdade é que depois da chutada de balde do sábado, uma feijuca caiu como uma luva. Na nossa mesa, todo mundo se encharcando de tomar água, a bebida mais radical era guaraná! Afinal, ressaca pouca é bobagem! Enfim, sobrevivemos!
Daí chegou segunda-feira, dia de ficar em casa, certo? Certo para quem cara pálida?
Foi a despedida do Fábio Neto, outro super músico que está indo embora para o Brasil, depois de uns 20 anos por essas bandas. Sorte dos cariocas! O considero bem completo, joga em diferentes posições e sempre faz gol! Não tinha como perder!
O local desse evento foi o Oba Oba, cuja reputação é, diria, duvidosa. A frequência geralmente inclui certas mocinhas trabalhadoras e seres bastante estranhos. Apesar do que, os músicos são sempre muito bons. Acontece que esse dia seria especial, pois a casa estaria cheia de amigos. Então, estávamos todos protegidos pelos deuses da boa energia!
Outra noite difícil de descrever, só feras! Além do próprio Fábio, dentro do recinto e participando ativamente, Urano Souza, Flávia Enne, Pedro Moreno, Evaldo Robson, Mankuzo, Rogério, Anderson Bezerra, Wagner Neto, Batata Galiza, Douglas Aguiar, Tinho, Cabelinho do Cavaco, Marreta, Diego Ebbeler… e a lista seguia. Cito esses só para dar uma idéia em que padrão ia a coisa. Pelas tantas, chega Surama e Armandinho com sua guitarra enfurecida para canjear.
E eu babando por poder fazer parte dessa história.
Tentei vir embora a primeira vez, não consegui, acabei voltando. Fui felizmente convencida por amigas, enquanto Armandinho dava um pulo no hotel para buscar sua super guitarra. Como é que perderia isso, né? Enfim, da segunda vez, nem me despedi de novo, saí à francesa porque senão, só amanhã de manhã… Assim que tenho certeza que perdi o finalzinho, mas simplesmente, precisava ir para casa.
Estava em um tipo de transe, em êxtase musical! Tinha uma necessidade louca de caminhar e sentir o ar fresco da madrugada pelas narinas.
Luiz também foi ao concerto, mas precisou voltar antes, porque acorda muito cedo. Eu estava tranquila, esse é o lado melhor de viver em província, a gente conhece todo mundo mesmo e as ruas são razoavelmente seguras.
Por isso, não tive a menor dúvida em voltar caminhando sozinha para casa. E foi um prazer passear pelas ruas já tranquilas e com a maioria das pessoas dormindo. Me senti outra vez privilegiada, especial, protegida. Sensação de lucidez, de saber, de outra vez poder tudo.
A música salva e liberta!
Bi, posso sentir muitos dos momentos que descreve, o que temos aqui é algo muito especial. Só vivenciando pra entender a profundidade… Beijo grande!
Ai Bianca, leio muitas vezes e Fico calada Mais hoje sao muitos os pontos que fazem falar. Kkkk
Estou de acordo com vc que é o fim de semana foi um orgasmo musical,
Estou de acordo que quem queira que conte os amigos com os dedos da mao Mais eu como vc, nao conto assim…. Porque MUITOS estao no meu coraçao,
Estou de acordo que nada de tristeza e que tudo pode acontecer nessa vida.
Sorte com a historia de compor, dar palpites ou que seja com a música porque sei e vejo como vc vibra.
Ontem tambem quería sentir a sensaçao do ar fresco mais tive que voltar antes.
Enfim, te quero do fundo do meu coraçao e desejo toda a Sorte do mundo. Obrigada por ser minha AMIGA!
Binaca,
Sapequei o olhar no buraco da tua fechadura. E sabe o que mais? Nao deu para desgrudá-lo até o final da cheretada. E me deixeu com gostinho de quero mais, hehehe!! E nem se trata de olhar indiscreto.
Ja sabes que tens um novo seguidor.
E saber que vc vai soltar a veia letrista é uma alegria para nós compositores. Apoio total e irrestrito.
Parabéns
Pedro Moreno
E.T “E me deixou”
Ai minha amiga, que coisa maravilhosa voce compondo 🙂 fico muito feliz com isso. E realmente nossa semana musical foi de primeirissima qualidade essa proximidade musical com tantas feras que Madrid nos proporciona é realmente um grande privilegio. “Eu quero ter um milhao de amigos e bem mais forte poder cantar”, e poder cantar SEMPRE. Beijos mil Didis
Lindo ver você dando mais vida ainda a tudo!!!! Me sinto previlegiada com amigas como vc, só digo isso!!!! Beijo enorme, amigaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
Bi, sendo sincera, foi a primeira vez que li o “Buraco da Fechadura”. Qualquer palavra que eu escreva aqui sobra. Que lindo texto…além de muito bem escrito transmite sensações…adorei! Acho que vou viciar…:)
Eres uma musa com as palavras 😉 sempre lindos os textos. Bjo
Compositora!!! Parabéns!!! Tenho certeza que você vai se sair muito bem em mais essa… Beijos.