Essa noite ainda é talvez

Amanhã saberemos se somos um casal fértil ou não. Assim, na bucha!

 

Enrolei para chegar esse dia por mil razões que nem me arrependo. Cada um sabe que nível de frustração é capaz de tolerar. Cada um sabe seu momento de se testar e elegemos o nosso.

 

Eu sou de encarar os problemas, tenho coragem para isso normalmente. Mas sou péssima em lidar com a frustração. Eu odeio saber que não posso qualquer coisa e a cada dia que passa não posso mais alguma coisa. A gente supera, mas é foda!

 

Já houve o tempo que eu acreditava que podia tudo e sei que isso não tem volta. Não sou mais especial que ninguém e é assim para todo mundo. A gente simplesmente envelhece. Tem um monte de outras vantagens, é verdade, mas continua sendo foda!

 

Hoje não sei se prefiro a certeza do não ou a esperança do talvez.

 

Meu lado racional sabe que se a resposta for não, melhor saber logo e tomar outra direção. Eu não vou morrer por causa disso, só que dói um bocado, dói só de imaginar.

 

E essa noite não quero dormir, porque pode ser minha última noite de talvez.

 

Não quero desabafar com o Luiz, ele já sabe, tem as preocupações dele e esse assunto preciso resolver entre eu e meu umbigo. Já quis escrever para minha mãe, já me imaginei conversando com amigas, com estranhos, mas no fundo no fundo, o que preciso mesmo é um pouco de solidão. A mesma que encontrei no meu enorme muro das lamentações, foi muito bom poder falar com a parede. Assim que aqui estou com minha parede particular para ordenar as idéias.

 

E aí, parede, e se for não?

 

Se for não, mais uma vez, vai ser foda! Estou repetitiva, mas essa é a frase que domina meu pensamento agora. Vai ser complicado levantar da cama, principalmente no outono. Vai ser difícil brincar com crianças por um tempo. Vai me dar medo de encontrar com as grávidas e não ser capaz de afastar do pensamento o por que não foi comigo. E mais uma lista de absurdos que não quero nem pensar.

 

Vou passar três dias chorando e felizmente, sei que meu prazo para depressão é de três dias. Daí acordo melhor, levanto, dou uma sacodida na poeira e seguiremos. Vai passar.

 

E era isso que precisava me lembrar, não preciso de força para o resto da minha vida, só um pouco de serenidade para amanhã e kleenex para os próximos três dias. Pronto.

 

E se for talvez? Nada garantido, mais uma série de decisões pela frente e também não vai ser fácil. A diferença é que para conseguir alguma coisa que tenho a mínima chance o ânimo é outro.

 

Ainda, que para ser bastante sincera, também me borro de medo do sim. As estatísticas são assustadoras. Na minha idade, a possibilidade de ter uma criança com síndrome de Down, por exemplo, é por volta de 1 em 100 e sobe a cada dia (com 20 anos é de 1/1925; com 45 é de 1/32). Eu farei 42 anos em novembro.

 

Eu não sei o que fazer. O não me derruba e o sim me enche de dúvidas.

 

Tudo pode dar certo e correr às mil maravilhas? Claro que pode! Conheço um monte de gente que simplesmente prefere ignorar os possíveis problemas e fazer de conta que nada de ruim pode acontecer. Me pergunto se essas mulheres nasceram em marte! Porque me parece um completo absurdo e inconseqüência sequer pensar na encrenca que podemos estar nos metendo. Estou disposta a encarar, mas não de maneira leviana ou ingênua.

 

Tenho vontade de bater a cada vez que escuto um: ih, sei da amiga da amiga da irmã da minha prima que teve filho com 47 anos e deu tudo certo! Como se fosse a coisa mais corriqueira do mundo! Parece conversa de fumante que sempre conhece um velho de uns 98 anos de um povoado do fim do mundo que fumou e bebeu a vida inteira e é super saudável… Conhecer alguém que teve essa experiência e as mesmas dúvidas, talvez realmente me ajudasse; lendas urbanas, não me levam a lugar nenhum, por melhor que sejam as intenções, só me irritam.

 

E cada vez que tento recorrer aos meus instintos sobre o que sinto de verdade, minha cabeça vira uma bagunça, não consigo ver com clareza. Só me volta a pergunta do por que complico tanto? Desde que o mundo é mundo as mulheres engravidam, é parte da vida! Por que para mim é todo esse drama? E daí me irrito comigo mesma!

 

A bola da adoção ainda está no ar, continua sendo uma possibilidade. Ao mesmo tempo, ao pensar mais a respeito, também penso que não é nada simples nem rápido. A responsabilidade é exatamente a mesma.

 

Não tenho dúvidas que poderia amar igual, mas me questiono se seria capaz de me conter caso notasse alguém olhando diferente para essa criança, ou se pularia em seu pescoço como uma onça raivosa defendendo a cria! E isso pode acontecer, na verdade, dependendo do quanto formos fisicamente diferentes, pode acontecer todos os dias.

 

Muito bom, parede, agora não tenho apenas uma dúvida para me preocupar, tenho um milhão delas!

 

Uma coisa de cada vez e um leão só por dia. Lição do Caminho de Santiago, no início, você vai dormir cheia de dores e acha que não vai agüentar o dia seguinte. Quando amanhece, a noite de sono e o descanso te curaram em boa parte. Você levanta nem que seja porque não tenha outra alternativa, começa a andar e esquenta a musculatura. Nada te dói mais, a endorfina te anima e você segue. Tanta coisa acontece durante o dia que você só se importa com os próximos passos. À noite vai doer outra vez, mas você já não pensa que não poderá, confia que amanhecerá melhor.

 

Hoje eu não posso fazer mais nada. Não preciso fazer nada, tenho o conforto embriagante do talvez.

 

… E eu corri para o violão, num lamento, e a manhã nasceu azul… Como é bom poder tocar um instrumento…

 

Para Caetano é bom saber tocar um instrumento, para mim é um alívio poder escrever.

 

Melhor dormir e guardar forças para o leão de amanhã. Menos mal que não confronto ele sozinha.

7 comentários em “Essa noite ainda é talvez”

  1. Fiquei pensando se nao seria me intrometer demais deixando um recadinho hoje por aqui. No final, pensei: “se for assim, Bianca apaga o recado e pronto!” 🙂
    Eu nao vou te contar sobre ‘legendas urbanas’ porque tb me irrita essa historia da ‘ prima da vizinha do meu tio’ … mas tenho que te dizer que eu sim conheço muitas mulheres que foram mae aos quase 40 e passado dos 40, mulheres da minha famìlia e amigas bem pròximas. Minha mae mesmo, qdo nasci tinha 39 anos e, digamos, hà 33 anos atràs ser mae nesta idade nao era tao “normal” qto hoje.
    Como tu mesma comentou: um leao de cada vez. Nao pensa que se a resposta for sim teràs apenas os contras. Claro que eles existem, mas tb existem os “sim”, os “tudo bem”, os “tudo no normal”, etc. Uma gravidez hoje em dia é muito mais controlada e monitorada. Os riscos existem sempre – jà sei que agorinha mesmo estaràs pensando: mas conforme os anos passam eles sò aumentam. Lembro da minha obstetra respondendo às minhas 200mil perguntas e medos: tem que pensar que o “normal” é que vai sair tudo bem. Pronto!”. E assim ela deu por encerrada a conversa.
    E se a resposta for nao? O que mais me emocionou no teu outro post (qdo comentaste do desejo de ser mae) foi que tinhas muito claro que pra ser mae nao é necessàrio parir. E isso é verdade. Embora os tramites de uma adoçao, por todo o processo lento e burocràtico, tb nao deixa de ser um parto, verdade? 😉
    Outra vez me ponho como exemplo: eu tenho um irmao adotivo, da raça negra (tanto que o apelido dele é Pelé …rs). Nunca, nunquinha me senti em desconforto e nem me importei com os olhares estranhos das pessoas qdo dizia que ele era meu irmao. Simplesmente respondia: “ele é meu irmao de coraçao e é assim pretinho porque nasceu a noite.”
    Acho que o importante agorinha mesmo é sair de dùvidas, pra ter certeza de qual caminho seguir. Uma vez tendo a resposta e o caminho escolhido aì sim surgirao as dùvidas, os medos, as ansiedades, mas pensa que tudo isso é “normal” e tudo isso faz parte. Qualquer decisao na vida da gente conlheva à isso.
    Obrigada por ser tao generosa assim conosco (teus leitores). Tudo nesta vida é uma troca: tu precisavas escrever … muita gente aqui precisava te ler 🙂
    Bjos!

  2. Bianca pensamento positivo é sempre o melhor!! tudo vai correr bem!! Força e fico feliz por vocês os dois !!
    beijinhosss

  3. Boa sorte Bianca***** No final tudo dará certo. “…Tantas veces. Y un día después de la tormenta. Cuándo menos piensas sale el sol.” Fica bem

  4. Obrigada, meninas! Bom, leão do dia morto, enterrado e sim, seguimos no talvez 🙂 Dentro do que poderíamos ouvir, foi tudo muito positivo. Entretanto, algumas limitações seguem, não tenho como voltar o tempo 10 anos, o que quer dizer que por vias naturais é loteria, dificilmente rola. Podemos tentar fertilização in vitro, que já me neguei até a morte antes, mas pensando melhor estou disposta a tentar. E agora vou literalmente sair correndo! Um pouco de endorfina anima e clareia as idéias! Besitos

  5. Bianca, força!! eu ja passei por tudo isso e posso contar muitas coisas…assim que FORÇA!! hoje nao posso ter um filho de forma natural nem tampouco com a minha cara porem cabe uma adoçao que sempre fui reacia. assim que quando queremos tudo é possivel.beijos

  6. Oi Bianca, eu sou a Leny. Fiquei gràvida aos 39 anos e o Alessio nasceu uma semana depois de fazer 40 anos. Ele é o meu unico filhote. A minha gravidez foi sensacional. Eu só tive um problema enorme com os quilos extras. Nao manerei nem um pouquinho e o médico dizia que podia complicar na hora do parto. O Alessio nasceu 10 dias antes do previsto, Eu trabalhei até o último dia. Obviamente eu fiz a amniocentesis no terceiro mes. Fiquei muito nervosa quando tive que buscar o resultado. Alias, na Clinica Millenium da Sanitas da Calle Costa Rica, eles tinham perdido o resultado. O médico tentava me acalmar dizendo que se tivesse algum problema, o laboratório teria avisado, pois se quisesse interromper a gravidez estava a tempo. Eu tinha certeza de que queria esta crianca como nunca desejei outra coisa na minha vida: viesse como viesse. Entao o médico me disse para eu ir embora e ele ia tentar falar com o laboratorio e me ligar.. Sai arrasada.. Quando estava para entrar no elevador a enfermera vem correndo me dize..Achei!!!!!!!!!!!!! fui correndo e fiquei tao emocionada que o Alessio era perfeito. Os cromossomas estavam todos direitinho… aliás fiquei sabendo naquela momento com certeza de que era um menino.. Sai da clinica chorando e rezando para que os proximos 6 meses tudo corresse bem.. Hoje eu tenho 47 anos e o Alessio tem 7. Fazemos aniverssário no mesmo mes e Junho. Eu me arrependo de nao ter tido outro no ano seguinte…. mas as condicoes nao eram propicias. Quanto a voce, eu acho que voce deve tentar até as ultimas cartas para conseguir este sonho. seja biologico ou adotado (a minha unica sobrina no Brasil é adotada) eu tenho certeza que esta experiencia e ser mãe é a melhor do mundo. beijos

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