A temperatura melhorou bastante, o outono começa a colocar o nariz na porta, tentando entrar. Por mim, que seja bem vindo!
Do Rio, tive excelentes notícias da parte do meu pai. Resulta que a obstrução era nada além de pedras renais, uma bobagem que ia fazendo seu estrago. Nosso maior medo é que fosse um ou mais tumores, porque nem quero dizer o que isso significaria. Mas não era, e isso é o que importa. A parte chata é que precisou abrir um corte de uns 15 cm e ele ainda está bem dolorido. O fato é que já está em casa e dor é coisa que dá e passa.
Sendo assim, fiquei mais tranquila para ir tocando a vida.
Na sexta-feira, fomos jantar com um casal de amigos que morou aqui em Madrid no ano em que chegamos. Só para variar um pouquinho, fomos no Trifón, é claro! Preciso voltar lá de vez em quando, para confirmar que o mundo segue em seu lugar. Chutamos o pau da barraca com uma garrafa de Calvario e outra de Mauro, reserva especial. Como aperitivo de fim de noite, ganhei uma dose cavalar de Blue Label!
Na sequência, fomos ao El Junco, onde fazia séculos que não íamos em função da cigarrada a ser aspirada. Mas foi legal voltar lá, íamos muito com esses amigos por alí e não foi nada mal relembrar os velhos tempos. Depois resolvemos fazer um pouco da via crucis, de bar em bar, começando pelo Kabocla. O plano era voltar pela Calle Espiritu Santo, parando um pouco nos inferninhos, o que sempre me soa meio contraditório.
O caso é que assim que entramos no Kabocla, encontramos um amigo para lá de Marrakesh e super emotivo, porque acabava de descobrir que o pai faleceu. Putz, foi um baque! Fiquei muito triste por ele e ao mesmo tempo me tocou fundo o pensamento que poderia estar na mesma situação.
O casal de amigos que estávamos resolveu ir embora, já estavam um pouco cansados e obviamente a gente não prosseguiria na noite. Ficamos um pouco mais para dar uma força para esse amigo e logo voltamos para casa.
No sábado, o programa dos amigos era ir ao Patio Maravillas, lugar que vale uma explicação. Aqui há um movimento dos Okupas, que são pessoas que invadem locais desocupados para viver. Mais ou menos como uns sem-terra urbanos, só que não vinculados a um partido político. Normalmente, as invasões são realizadas com o único propósito de moradia e por gente em condições muito precárias. Mas em determinado momento, houve um grupo mais organizado e preparado que acabou transformando o prédio ocupado em um tipo de espaço cultural alternativo auto gestionado. Assim que nesse prédio invadido, encontramos cursos de yoga, classes de idioma ou de dança, ensaios musicais, palestras e uma série de outras atividades.
Eventualmente, também promovem algumas festas. Foi o caso desse último sábado, quando um DJ conhecido nosso estava promovendo uma festa brazuca, um projeto chamado Radio Banana. A entrada foi gratuita e só se pagava o que se consumisse no local. Não que alguém se importasse que você levasse sua própria bebida, tudo muito democrático e civilizado.
Acho que são uns quatro andares, abertos, com aquela cara de obra inacabada. O espaço para a festa foi logo no primeiro andar, um salão de pé direito alto, umas colunas de ferro e vários sofás e cadeiras que, provavelmente, foram recolhidos da rua. Até o banheiro estava funcionando e me pareceu surpreendentemente limpo, o único inconveniente é que era melhor ir acompanhada, pois no local das portas, havia cortinas de plástico.
Resumindo, gostei. É bem perto de casa e devo voltar lá outras vezes. Engraçado que tive a preocupação de sair bem documentada, afinal a polícia anda dando uma dura danada na busca de imigrantes ilegais. Diz a lenda que inclusive tem uma cota de pessoas para pegar por dia, meio sinistro, né? Pensei logo, uma festa de brazucas em um prédio invadido… claro que a polícia vai aparecer por lá. Mas não apareceu, foi tudo bastante normal. Aliás, a maioria nem era de brasileiros.
Infelizmente, outra notícia triste, o pai de mais um amigo também havia falecido. Inacreditável! Fiquei meio comovida, por razões evidentes.
No domingo, nem quis saber de rua. Tinha feito um molho a bolognesa durante a semana, daqueles que ficam horas cozinhando. Na verdade, fiz exatamente no dia que meu pai operou. Não queria sair de casa para ter notícias e acabei caçando coisas para fazer que me tomassem tempo. Ficou saboroso, mas um pouco salgado. Não tem jeito, se não estiver totalmente bem, salgo a comida, é impressionante! Ainda assim, uma amiga trouxe uma pasta fresca deliciosa e ficou para almoçar.
Acabou passando a tarde aqui em casa, acho que não estava com vontade de voltar para a dela. Então, também acabou me ajudando a dar uma limpa no quarto de hóspedes.
Desde que nos mudamos, entulhei o tal quarto com uma série de trabalhos antigos. Não tinha onde colocá-los, mas me dava pena desaparecer com eles. Cheguei a conclusão que precisava abrir espaço para o novo entrar, quando a gente se apega muito ao passado, é difícil chegar a criatividade. E assim foi, alguma coisa essa mesma amiga levou e o resto, desmontei e me desfiz.
Toda primeira terça-feira do mês, a prefeitura promove um tipo de bota fora de móveis ou trastes que você queira se desfazer e não sabe onde. Por exemplo, como você faz para jogar fora um sofá? É mais complicado que parece. Então, nesse dia, a gente faz uma limpa em casa e coloca as coisas na porta. Sempre tem uma galera que passa procurando alguma coisa que precise, algumas furgonetas que recolhem aparelhos elétrico-eletrônicos em qualquer condição ou metais que possam ser derretidos, roupas, enfim, tem de tudo. No início da madrugada, passa um caminhão da prefeitura recolhendo o que sobrou. Acho uma iniciativa bem bacana e ninguém tem vergonha de pegar as coisas que precisa na rua.
Enfim, essa terça-feira foi hoje e era o pretexto que tinha para me livrar do que estava ocupando tanto espaço em casa. Espero que desocupe espaço na minha cabeça também e deixe entrar idéias novas, frescas e melhores.
Agora comecei a escrever um livro, um projeto que venho matutando há um bom tempo, mas não me sentia preparada para escrever uma ficção. Honestamente, não sei se estou pronta, mas resolvi tentar assim mesmo e ver o que acontece. Tem sido complicado eleger uma fórmula, primeiro tentei narrar como espectadora, mas não gostei muito do resultado. Resolvi incorporar uma das personagens e redigir na primeira pessoa, como estou mais acostumada a escrever. Achei bem mais interessante, mas é bizarro ao mesmo tempo, porque não é uma biografia e a personagem que encarnei não corresponde a minha realidade. É estranho entrar em outra pele e ter que pensar e sentir como se fosse outra pessoa. Vamos ver no que dá.
Na segunda-feira, ontem, foi aniversário do Luiz. Portanto, essa semana, cozinho para um batalhão! No próximo sábado será a sua famosa feijoada. Temos menos convidados do que o ano passado, não porque queremos, mas é que o apartamento é bem menor. Não caberia todo mundo, uma pena. De qualquer forma, acho que será animado, sempre é. Eu gosto dessa confusão, mesmo me dando um trabalho danado. Além do mais, temos muitas razões para comemorar.
Oi Bianca e Luiz
Parabens pro Luiz, que ele continue com saúde e muito dinheiro no bolso.
Por falar nisso vou fazer o depósito só hoje dia 08/09/2010, desculpe a demora.
Falei com Michel ao telefone e ele adorou as fotos da exposição, e me contou que voce vai ficar um mes com ele cozinhando! É isso? Legal!
Beijos
Marianne
Oi, Marianne!
Dou seu parabéns para ele! E para você também, né? Vocês fazem aniversário pertinho! 🙂
Siiimmm, estou me planejando para passar um mês por aquelas bandas cozinhando, tomara que dê certo! Ele está tentando conseguir para mim com um chef que trabalha com catering. Cruzar os dedos!
Besitos