Levei mais ou menos uma semana para abrir e arrumar as caixas. Demorou um pouco mais porque durante dois dias ainda tinha gente em casa trabalhando e aí ficava impossível. A casa ainda não está 100%, mas as únicas caixas que faltam arrumar são as das obras de arte. Leva um tempo até saber que quadro vai em que parede, que objeto fica melhor onde, essas coisas. Toma um pouco de espaço e dá um ar que a casa ainda não está arrumada, mas não me atrapalha em aspectos práticos.
Depois, estava no limite do limite para começar a trabalhar na exposição de agosto. Comecei. Já andava há algum tempo querendo voltar a trabalhar com papel. Pensando um pouco na facilidade do transporte das obras para o Brasil, me pareceu uma excelente oportunidade de unir o útil ao agradável. Gostaria de estar um pouco mais adiantada, mas paciência. De qualquer maneira, voltei a ter os cantos das unhas sujos de tinta, coisa que me deixa feliz.
Em paralelo, comecei a ter aulas de cajón, instrumento considerado espanhol, mas na verdade é peruano e trazido para o flamenco por um brasileiro. A pele da minha mão ainda é muito fina, preciso calejar um pouco e acertar a batida. Desconfio que sou uma mulher um pouco estranha, fiz uma força danada para ficar com os pés meio cascudos, por causa das caminhadas, agora preciso engrossar as mãos! E ao invés de ficar feliz em fazer a manicure, me agrada mais os cantinhos sujos de tinta. Coitado do Luiz!
Os ensaios do coral também aumentaram, pois no início de julho teremos uma apresentação. É uma oportunidade para fazer a transição para algo mais evoluído e não tão caseiro e só para amigos. Nesse caso, faço muita segunda voz ou canto a melodia em tons mais agudos. Até que enfim alguma coisa que pareça um pouco feminina!
Assim que de uma hora para outra, meu tempo minguou. Não é um problema, no fundo, gosto de estar ocupada. Mas atrapalha um pouco a escrita, preciso de calma para sentar e organizar as idéias. Engraçado isso, porque noto que esses dias que escrevo menos ou não escrevo, ando mais confusa. Quem mandou faltar a terapia blogueira tantos dias?
A verdade é que esse último mês minha vida mudou radicalmente e ainda estou absorvendo. A mudança da casa foi só uma das variáveis que fizeram parte do contexto, mas acho que até isso foi muito mais consequência do que causa.
Tenho achado meu rosto mais envelhecido no espelho. A gente se olha todos os dias e não vai notando o tempo passar, mas de uma hora para outra, tenho a sensação de ter subido um degrau. É só uma constatação. Não sei se estou mais cansada ou realmente mais velha, porque minhas alterações maiores são sempre ao redor dos olhos. Assim que às vezes não tenho certeza se o que envelheceu mais foi a pele ou o olhar.
Minha família vai bem, entre um susto e outro, pelo menos para mim, veio a melhor notícia. Meu pai começou a tomar um anti-depressivo. Esse para ele foi um passo muito importante, porque ele nunca acreditou em depressão. Muita gente relaciona esses aspectos sempre com fraqueza ou tristeza, mas por vezes é um processo químico que pode ser auxiliado. Acho fundamental o apoio de um profissional e definitivamente tem gente que passa da raia e tenta resolver a vida com remédios, mas esse não era o caso. O humor dele melhorou, a voz que escuto no telefone é de outra pessoa e com certeza isso estará melhorando também a vida da minha mãe. Entendi que o que me incomodava mais em toda essa história não era o medo da perda, mas a maneira miserável como ele estava vivendo, sem merecer e sem precisar. Vida e morte andam juntas, sou sinceramente capaz de aceitar as duas, mas me recuso a aceitar o sofrimento desnecessário. Por tudo isso, pelo menos momentaneamente, estou em paz.
Pouco a pouco estou voltando a caminhar e me faz bem sentir que é possível recuperar o condicionamento. Ajuda muito quando a temperatura melhora, a gente se anima mais a ir para a rua. E falando em caminhadas, na semana passada veio a Madri um amigo brasileiro que conheci no primeiro Caminho de Santiago e foi bem legal revê-lo. Está em um momento difícil de questionamentos que me lembra muito dos meus passados. As pessoas são diferentes e não tem porque as histórias serem as mesmas, mas me deu um pouco de vontade de dizer, calma, parece absurdo, mas é normal, vai dar tudo certo. Talvez diga depois.
No sábado, chamei alguns poucos amigos para uma inauguração secreta do apartamento. O que me lembra aquelas histórias em quadrinhos, onde há uma placa escrito: esconderijo secreto do Professor Pardal. Fazer o que? Pela quantidade de amigos que temos, motivo de alegria, não há mais condições de fazer uma única festa com todo mundo. Assim uma primeira vez, queria ver quanta gente cabia confortavelmente, se os vizinhos reclamavam, essas coisas. E também porque gosto de conversar com as pessoas e nas reuniões maiores acabo falando com todos e com ninguém ao mesmo tempo. Resumo da ópera, foi ótimo! Pelo menos a parte que o álcool me permite lembrar. Cantamos, tocamos, rimos, choramos, abraçamos, comemos e bebemos pacas! Boa notícia, até o momento, nenhum vizinho reclamou. É verdade que era difícil saber de onde vinha mais barulho, da nossa casa ou da rua! Desconfio que era do nosso apartamento. Tudo bem, todo lar precisa de um batismo. Casa devidamente batizada!
No domingo eu era uma planta! Não saí da posição horizontal! Da cama para o sofá para a cama! Levantei só um pouquinho para cozinhar, porque tinha uma fome alucinante!
Segunda-feira, não tem jeito, bora tocar a vida! Acabei de testar uma técnica em uma gravura que não deu certo. Daqui a pouco vou para a aula de cajón e na volta preciso trabalhar mais um pouco nas gravuras. Já a faxina… vai ficar para amanhã!
Muito bem… às vezes realmente precisamos de um tempinho quietinhas,para assimilar tudo o que está acontecendo, até poder parar e botar pra fora. Principalmente em época de grandes mudanças!
Fico contente pelo seu pai, a minha mae também faz tratamento para depressao, realmente é foda. Mas com o medicamento e a ajuda profissional ele vai melhorar muito, você vai ver.
Aeeeee chiquitaaaaaa, que otimo ver que tem novidades por aqui.
A festa secreta foi OOOOOOOOOOOTEEEMA rsrsrs realmente teve de “um tudo”, risos, choros, cantoria, comelança e bebeçao rsrsrs nao sei comoooo ninguem reclamou rsrs afinal saimos dai quase de manha .
Meu domingo foi de casa pra casa da sogra, sofa , sofa, dirigi até Getafe ( olha só o progresso) rsrs deixamos o carro da pessoinha e voltamos pra casa, sofá, sofá , ainda arrisquei e passei um aspirador na casa , só pra nao engasgar com o pó rsrsrs.
Beijosss