As pessoas tem dons, é uma questão de fuçar até descobrir os seus. Tenho dom para atividades manuais. Há uma exceção para costura, na qual sou uma verdadeira retardada, mas tudo bem, disso eu já desisti. Agora, no resto, quase tudo posso olhar o resultado ou alguém fazendo, aprendo e aplico. Sou boa também em corrigir, desde a comida à uma escultura. Essa é uma vantagem, deu errado? Sem pânico, só corrigir.
Isso me faz uma excelente operária. Sério, sou uma pedreira de mão cheia e sou louca por uma obra. Aliás, acho que em qualquer trabalho mal remunerado e de baixo reconhecimento, sou craque! Uma especialista!
No Brasil, em todos, absolutamente todos os apartamentos que tivemos, fiz obra. E não eram aquelas obras em que você contrata um arquiteto e delega não, eu me meto no meio da poeira e discuto no dialeto apropriado (tauba, ademão, massiá…).
Mesmo quando trabalhava em consultoria, quantas vezes depois de ralar dez horas no escritório não varei madrugadas pintando paredes, só para relaxar. Quem não acredita que pergunte ao Luiz. Nos fins de semana, contava com sua ajuda para segurar o balde de massa enquanto me pendurava na escada. No que ele dizia debochado, tanto estudo para virar ajudante de pedreiro! Nem o mestre de obras eu sou…
Acontece que todas essas casas eram nossas e, desde que saímos do Brasil, moramos de aluguel. Sendo assim, tive que colocar minha violita no saco e me conformar com o que já estava. Menos mal que trouxemos nossos móveis, assim pelo menos havia algo de personalidade. Claro que não foram todos os móveis, no máximo 1/3 deles, porque sabia que não teríamos o mesmo padrão de espaço que em São Paulo. E o curioso, hoje quase todos eles tem rodas, temos uma casa literalmente móvel!
Resumindo, há quase cinco anos sou restrita a mudar coisas de lá para cá, não pintava nem uma paredinha de nada.
Até que nessa semana bati a cabeça no meu limite, chega, não aguento mais! A energia dessa casa está toda errada!
Comecei singelamente com as cortinas, logo inverti toda a sala. Comecei a olhar um canto, e se eu desse uma pintadinha só naquele cantinho… Pois é, começou assim, despertou o monstro! Já temos uma parede verde musgo e um quarto de hóspedes a la Mondrian.
E ainda não guardei as tintas…
Diante das mudanças, tenho de voltar a me hospedar aí.
Espero que dessa vez você esteja.
Pues, venga! O quarto de hóspedes está um charme, até roupa de cama nova a gente comprou!
Dessa vez não é possível que eu não esteja! Esse raio não pode cair duas vezes na minha cabeça, credo! Isola!
Besitos