Dia 28 de setembro, embarco na próxima caminhada de longa duração, os primeiros 150 km do Caminho de Santiago. Lá vou eu de novo! O plano “A” é começar em Sant Jean Pied-de-Port e ir até Logroño.
Uma coisa me alegra, outra me assusta. A primeira é que Luiz vai junto, ou seja, será uma oportunidade de dividir uma experiência intensa. A segunda é… que Luiz vai junto! E não há como não pensar em que tipo de impacto isso terá no nosso convívio. Estou otimista, mas não ingenuamente. Depois de trilhá-lo, entendi que o assunto é sério. A gente até pode se divertir, mas não há espaço para distrações sem consequências.
Existe a possibilidade que eu continue o caminho sozinha por mais alguns dias, mas não tenho certeza, vai depender de muitas coisas, entre elas dos meus pés estarem em boas condições. Fisicamente, não acho que esteja tão bem preparada quanto da última vez, mas acho que consegui conservar um bom desempenho e o principal, ganhei a atitude necessária. Acredito que não vá voltar tão atordoada, mas isso a gente só descobre na hora.
Um amigão do Rio, que fez os últimos quilômetros comigo em junho, está nos ajudando bastante com informações. Os imprevistos fazem parte do roteiro, mas a estratégia é fundamental. O quanto mais pudermos nos preparar, melhor, porque uma vez lá, a gente já entra direto no olho do furacão. É quase sempre possível terminar o trecho, mas faz muita diferença em como a gente volta para casa. Sem preparo, físico e psicológico, a gente pode se machucar feio.
Bom, nem sempre é assim tão pesado, a contrapartida compensa muito, aqui e lá. É gostoso ver os amigos vivendo a experiência de alguma forma, Luiz ganhou de presente roupa, guias, cantil, repelentes… tudo para o caminho. Também tem sido legal treinar com ele caminhando pela cidade ou pelo parque. É bom quando a gente tem uma atividade em comum, fortalece alguns laços.
E a magia do Caminho, essa já conheço bem, ando escutando ele me chamar de volta.
“Se meus joelhos não doessem mais
diante de um bom motivo
que me traga fé, que me traga fé
se por alguns segundos eu observar
e só observar
a isca e o anzol, a isca e o anzol
ainda assim estarei pronto
pra comemorar
se eu me tornar menos faminto
que curioso, curioso
o mar escuro trará o medo lado a lado
com os corais mais coloridos
valeu a pena, eh eh
sou pescador de ilusões
se eu ousar catar
na superfície de qualquer manhã
as palavras de um livro
sem final, sem final
sem final, sem final, final”
(Pescador de Ilusões – Marcelo Yuka/ O Rappa)