Logo em seguida da escava haver sido feita, iniciamos a adubação das vinhas. Queríamos fazer esse trabalho antes das chuvas para que os nutrientes penetrassem bem na terra.
Falando assim, tecnicamente, tudo parece simples, mas na prática… ninguém merece! E para quem ainda acha que ter uma vinícola é uma atividade glamorosa, aviso que o post de hoje é para largar o verbo desabafar um pouco!
Primeiro, sejamos francos, o nome “adubo” é simplesmente uma forma mais educada para falarmos sobre merda, correto? É verdade que há alguns tipos diferentes de adubação, mas a que fizemos foi orgânica e natural, ou seja, muito ecológico, mas não deixa de ser, literalmente, uma bosta! Aqui na nossa região, eles usam alguns tipos diferentes, o guano (titica de galinha), estrume (muitas vezes de cavalo) ou a forma que decidimos comprar, adubo orgânico em pellets.
Os pellets nada mais são do que merda prensada! Em sua forma, são uns grãos parecidos a uns cocôzinhos de rato. A vantagem é que são mais fáceis de se aplicar e também levam alguns nutrientes adicionados. São mais caros, porém, recomendo. E isso é para ver a que ponto chegamos, comecei a entender e recomendar sobre bosta!
Mas seguimos, deve-se adicionar cerca de 250 gramas desses pellets manual e individualmente em cada pé de vinha, ao seu redor, no local onde foi feita a escava. Considerando que temos 7 mil plantas, tivemos que comprar pouco mais de uma tonelada e meia de produto.
Digamos que a aventura se iniciou na entrega, pois cada saco pesa a bagatela de 20Kg. Nesse dia, Luiz estava ocupado e lá foi Bianquita receber a mercadoria. É lógico que não ia aguentar ver o rapaz descarregando sozinho e parti junto para a caçamba a fim de que o serviço terminasse o antes possível.
Gosto de ganhar o respeito das pessoas com quem trabalho e não sei ficar de dondoca com minha frescura só olhando. Eu coloco a mão na massa mesmo e tudo bem!
Quer dizer, tudo bem… médio, né? Porque nunca havia sido para descarregar sacos de 20kg de bosta… mas encarei com determinação! Quando terminamos de descarregar o veículo, eu fazendo de conta que estava ótima, me vira o rapaz e diz: vou buscar a outra metade que falta agora!
Taqueopariu lá longe, isso era só a metade? Pois é, eu que arranjasse mais fôlego dos rins, porque lá vinha outro carregamento de merda! E a parte interessante em tomar fôlego nessa atividade é que sobe aquele aroma agradabilíssimo! Mas beleza, terminamos de descarregar e empilhamos tudo no armazem.
Fizemos uma medida com os 250 gramas em um fundo de garrafa pet cortado e passamos a utilizar como distribuidor. Até que nosso vizinho, que ainda estava trabalhando na escava, nos orientou a fazer o trabalho sujo com as mãos mesmo! Era muito mais rápido! Inclusive, utilizando as mãos a gente conseguia distribuir melhor o adubo do que com a medida. Vimos que umas duas mãozadas dos pellets equivalia mais ou menos a tal medida. No final, já estava até trabalhando com ambas as mãos, com uma delas jogava nas vinhas da fileira da direita e com a outra nas da esquerda. Tudo para acabar o antes possível!
Não é que seja um trabalho complicadíssimo, é simples. A dificuldade estava no transporte dos sacos pelo terreno, 20kg cada um, lembra? Enquanto estávamos perto de casa, tudo bem, mas à medida que precisávamos nos deslocar para o outro lado da Quinta… putz!
Uma solução encontrada foi ir de jipe até uma boa parte do trajeto. Perfeito, tudo parece fácil, né? Só que não, porque o terreno não é tão ameno para se trafegar de carro ou realizar manobras. Tudo bem que é um 4×4… mas velhinho e com limitações. E ainda assim, tinha que carregá-lo com os saquinhos de 20 quilinhos… como diriam os portugueses… caraças! Sem contar que é lógico que o carro atolou! Nem sei como consegui desatolar, mas consegui e mais de uma vez!
Sério, chegou aquele momento do: o que estou fazendo aqui mesmo? De quem foi a ideia de jerico de ter uma Quinta? Ah… peraí… a ideia foi minha! Então, cala a boca e entuba! E bora carregar e distribuir mais merda!
Para meu regojizo, o vizinho e seu filho terminaram a escava antes do horário e conseguiram ajudar a levar os pesados sacos para as partes mais altas da propriedade. Triplicou a velocidade do trabalho e conseguimos terminar justo em tempo, pouco antes das chuvas que duraram dias!
Enfim, tudo bem quando acaba bem, ainda que saibamos que não acabou! Seguramente tenhamos que repetir esse processo.
E foi então quando Luiz surgiu com a genial ideia de lançar um Bootcamp de Crossfit raiz! Uma espécie de retiro para turistas interessados em aprimorar seus dotes físicos de uma forma natureba. Estamos pensando na seguinte campanha de marketing: Venha para a “Quinta do Vianna” se exercitar! Você paga APENAS 100 Euros por uma semana de Bootcamp! O programa inclui subidas fitness em montes com utilização de equipamentos rurais especializados, como por exemplo, a enxada-pro. Será possível carregar pedras de verdade, não aqueles pesos falsos de academia e, em paralelo, ajudar na reparação de muros protegidos pela Unesco! Com um pequeno valor adicional e exclusivamente para os mais fortes que ultrapassarem o nível básico, é possível também carregar sacos de 20Kg de estrume ladeira acima! Tudo isso e muito mais, a respirar o ar puro da montanha do Douro e, eventualmente, um aroma com notas de esterco. E quem não entende de crossfit, não atrapalha nosso negócio!
Fui!