Primeiro, vou deixar muito claro, adoro futebol! Nem sei explicar de onde vem isso, pois não acompanho campeonatos e mal assisto as partidas pela TV. Mas lembro dessa paixão a cada Copa do Mundo e também me lembro porque não assisto jogos normalmente: não levo na esportiva, eu me importo!
Sou flamenguista e só sei torcer pelo flamengo. Quando morava em São Paulo, muita gente perguntava: mas em Sampa, que time você é? Como assim? Sou flamengo no Brasil inteiro! Aqui, até tentei torcer pelo Real Madrid, afinal a distância de um oceano deveria me liberar para outro time não? Pois não. Continuei flamengo. Às vezes, respondia que era Real Madrid, por simpatia, para continuar a conversa, mas nunca me empolguei com os resultados, nem me aborreci com as derrotas. Na verdade, acho que só assisti a uma partida inteira, porque era ao vivo no Santiago Bernabeu e me decepcionou bastante a frieza do público. Que saudade me deu do Maracanã e da emoção de ser parte da torcida mais importante dentro dele.
Quando chega a Copa, abro a exceção naturalmente para algo maior e sou Brasil. Não tem jeito de não me envolver, de não levar para o lado pessoal, porque me emociona, me irrita, me deixa eufórica. Não tem parcimônia, é tudo muito!
De maneira que assistir a uma Copa fora do meu país de origem, e já não é a primeira vez, é algo meio estranho. Porque no início tem um lado que me divide, não por ter dúvidas para quem torcer, é Brasil e acabou, mas por uma segunda preferência. Se moro aqui, e já passa de cinco anos, não deveria também ter algum carinho pelo país local?
Pois no início, achei que não. Era algo meio artificial. Dizia que minha segunda opção era Espanha, mas o som da minha voz era quase para me convencer, porque na hora do jogo me irritava profundamente. Tudo bem que os comentaristas são uns imbecis e a imprensa completamente parcial, o que não ajuda em nada, mas não era só isso.
No jogo de Brasil e Holanda, fiquei muito triste no final. Tirando o Felipe Melo, que espero que daqui para a frente só seja convocado para jogar em algum time de várzea no meio do inferno e do Dunga pela teimosia de, conhecendo sua natureza, não tirá-lo antes; o restante dos jogadores acho que deram o que puderam e jogaram concentrados, sem displicência. E aí, paciência, acontece.
De certa forma, uma vez que Brasil não estava mais no páreo, toda a paixão se converteu em indiferença. Tanto fazia o que acontecesse dali para frente e já nem queria mais assistir jogo nenhum. Os amigos brazucas brincavam que o objetivo então seria torcer contra Argentina. Mas a verdade é que quando Argentina saiu tomando uma lavada, achei bom pelas piadas de sempre, mas honestamente, não me importou grandes coisas, além da justiça de que Maradona não fosse herói de coisa nenhuma.
Foi quando Alemanha jogou contra Espanha que senti algo diferente acontecer. Alguma coisa na minha cabeça mudou. Deu um clic! Comecei a ouvir as declarações dos jogadores espanhóis como mais maduras e corretas. De certa forma, parecia que o país estava entendendo que em uma Copa do Mundo o buraco é mais embaixo e que não existe essa história do já ganhou.
Vi também como começou a melhorar a autoestima das pessoas, que andava bem baixa em função de uma crise econômica complicada e da falta de experiência em lidar com ela. E me alegrou ver os espanhóis mais felizes e os negócios reagindo em função da boa onda. Pensei sinceramente que essa Copa deveria ser “deles”. Era justo e merecido.
Pela primeira vez na vida, virei a casaca mesmo e passei a torcer descaradamente pela Espanha. E me fez bem entender que isso significa que não guardei mágoa. Tenho meus problemas aqui, todo mundo sabe, mas acho que consegui separar bem as coisas. Como tenho problemas no Brasil e também critico meu país de origem.
A final contra Holanda ontem foi definitiva, a prova de fogo do meu sentimento. Posso disfarçar o que digo para os amigos espanhóis, mas não posso mentir para mim mesma e sei o que sinto e o que não sinto de verdade. E eu sei que ontem torci para Espanha com a mesma emoção e intensidade com que torço para o Brasil. Fiquei nervosa, fiquei puta com os holandeses, senti o coração pulsar mais forte e até queimei uma lâmpada! Não sei se já contei aqui, mas quando estou agitada, queimo lâmpadas! Acho que é a energia que sai do corpo sem muito controle, sei lá, mas isso não se falsifica.
Quando o jogo acabou, quis ir para rua e ver a festa, participar dela, ser parte da comemoração e compartilhar o orgulho. Fiquei feliz.
Chegamos em casa e sabia que alguma coisa era diferente, mais leve, queria entender melhor e agora entendo. Finalmente, começo a conhecer o que é ter mais de uma nacionalidade, oficial ou não, falo da sensação de pátria. Tem coisas que a gente sabe na teoria, mas às vezes falta sentir na pele. Ter mais de uma pátria não necessariamente significa eleger entre elas. Porque nós não temos pátria nenhuma, nós somos parte de alguma ou algumas.
E para quem se debateu tanto tentando questionar e entender a própria identidade, foi libertador saber que faço parte da raça em que cabem pátrias no coração. Adoro quando consigo ser no plural.




Oi Bianca como te entendo pensei que ontem me dava algo de tanto nervoso. Eu adoro o Vicente del bosque, que tantas injustiças sofreu. Acho os meninos de Espanha gente estupenda.
Olha acho que voce errou o time se voce gosta de paixao pelo futbol tem de torcer pelo Atletico de Madrid, ou o Atletico de Bilbao. Sao incriveis.
Completamente entregados aos seus equipos.
Quando voce começa a amar a Espanha, começa a entender a cabeça do espanhol, pois entao voce nao tem mais problema vai ver como tudo se resolve, se no hoy pois manana.
Um beijo Antonia
Eu torci descaradamente pra Espanha. Tava tao nervosa quanto eles, juro! A festa foi sensacional. 🙂