Vou ser bastante sincera e direta em relação a como estou me sentindo agora e é bem fodida. Acho que não haveria outra maneira de passar por esse momento. Não há como dourar a pílula.
Mas sei que não é para sempre e só tem um jeito da gente sair do buraco, por cima.
Por sorte, o bom humor não me abandonou. Ainda tenho muitos momentos de tristeza por dia, mas hoje já é mais fácil que ontem, o que me leva a crer que amanhã será melhor. Também tenho momentos de bastante tranqüilidade e alívio, seguramente devo agradecer à boa energia das pessoas à nossa volta.
Escrever me faz muito bem, exorciza as bruxas! Às vezes, me faz chorar, mas de uma maneira positiva porque sempre me deixa mais leve e melhor resolvida. Agora, falar ainda é muito difícil. A palavra escrita me faz desabafar, a falada me dói. Pelo menos, por enquanto, vai chegar a hora em que isso vai passar também.
Tenho lido tudo que me escrevem e agradeço o apoio de todos, cada um à sua maneira e dentro das suas crenças. Procuro tirar o que vem de positivo em cada mensagem e, por isso, novamente agradeço. Mas ainda não tenho vontade de responder. É como se uma resposta sobrasse.
Por isso estive pensando o quanto é difícil a gente saber o que dizer nesses momentos. Não só nesse caso, mas em situações de perda de um modo geral. Parece que tudo sobra, porque no fundo a gente sabe que não tem nada além do tempo que faça com que a vida volte ao seu curso. Mesmo assim, temos a vontade de dizer que se há alguma coisa que possamos fazer para aliviar, estamos ali. E não nego que é bom ouvir, a gente também sabe que não vai resolver a dor, mas divide-se o peso.
Então, resolvi enumerar o que percebo que são as dúvidas de quem está de fora. Para mim, também funciona como uma maneira de ordenar as idéias e me questionar. Não sei se será assim para todo mundo, mas é assim para mim.
O que gostaria de ouvir para me aliviar a dor?
Infelizmente, nada, não há nada que se possa dizer. Conselhos religiosos ou frases bonitas soam todas iguais. A gente percebe que há uma boa intenção, passa apoio, mas honestamente, não adianta.
Saber que os amigos estão do seu lado sem te julgar e para o que você precisar ajuda sim. Na prática, não preciso de nada em concreto, mas é bom me sentir querida. Faz a gente pensar que está no caminho certo.
O que, de verdade, alivia a dor?
O tempo e saber que todo o possível foi feito. Mas principalmente o tempo, porque nem sempre podemos controlar todas as ações.
O que a gente deve responder para os amigos?
Não tenho a menor idéia, também queria saber. Não gosto que meus amigos fiquem preocupados ou achando que não estamos bem. Porque eu fico muito angustiada quando sei que tenho um amigo sofrendo e me incomoda saber que pode ter alguém assim por minha causa.
Como as pessoas devem se comportar quando me encontrarem pela primeira vez?
Como quiserem, como for mais espontâneo.
Se está com vontade de brincar brinque; se ficou emocionada, chore; se quiser abraçar, abrace; se preferir falar de outro assunto, falaremos sobre o tempo, não tem nenhum problema nisso!
Eu sei que você sabe e você sabe que eu sei, então não se sinta obrigado a falar no tema ou a me consolar. Se você está bem, eu estou bem.
A alegria alheia não me incomoda, me alimenta!
Estar com amigas grávidas, em tratamento ou com bebês me fazem sofrer?
Não, de maneira nenhuma! Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.
Não me incomoda em nada falar sobre gravidez, tratamentos ou filhos! Não tenho absolutamente nenhum pudor com esse assunto. Não mudou nada.
Será que a gente deve ou não deve contar sobre a gravidez antes do terceiro trimestre?
Só posso responder por mim e não tenho nenhum arrependimento a esse respeito. Não acho que é o que garanta nenhum resultado. Vai depender do nível de privacidade que necessitem os pais.
Eu sempre penso que escrevo e conto minhas histórias para quem quiser saber; quem não quiser, tem sempre a opção de não ler, não é mesmo? Não tenho nenhuma pretensão de mudar ou julgar ninguém. Simplesmente, conto minha experiência.
Devo confessar que a parte mais complicada foi a hora de dividir a perda. Não vou negar que é muito difícil contar que a gravidez não foi adiante. E, infelizmente, antes do terceiro trimestre, muitas vezes não vai adiante mesmo. Entretanto, do meu lado, posso afirmar que no que diz respeito a ser mais ou menos doloroso, para mim, francamente, a dor é a mesma.
Acho importantíssimo dizer que a felicidade em dividir as boas notícia com a família e os amigos (antigos, novos, virtuais…) foi geometricamente multiplicada e valeu muito! Trouxe e segue trazendo muita força e ânimo para gente. Não creio que fizesse nada diferente e isso me faz muito bem.
Tem outro fator importante no meu caso, quando comecei a fazer o tratamento, tinha muita curiosidade e ansiedade por ter informações. Não só informações técnicas, mas também conhecer experiências de outras mulheres que haviam passado por isso.
Portanto, já que não me importo em contar o que acontece comigo, na verdade, é minha terapia, achei que outras mulheres poderiam ter as mesmas dúvidas, ou ansiedades, ou medos, afinal, em muitas coisas somos parecidas, e optei contar todos os detalhes.
Novamente, não me arrependo. Mas me preocupa um pouco o grau de influência que isso possa ter nas pessoas. Queria deixar uma mensagem positiva e repassar o mesmo apoio e ânimo que tenho recebido, independente de qualquer resultado.
O que achei de fazer a fertilização in vitro?
Achei uma experiência tremendamente válida, mas faço algumas ressalvas.
O casal precisa estar preparado física e psicologicamente. Na verdade, porque não dizer, também financeiramente.
É uma pauleira! Precisa conversar bastante e tomar muito cuidado para que não abale sua relação.
A tensão de tomar toda a medicação, ficar na ansiedade se vem óvulo, se fertiliza, se vira embrião, se desenvolve embrião… não é mole! Tem que querer muito e saber o que te espera.
Algum arrependimento em fazer a fertilização in vitro?
Nenhum. Acho que foi uma boa tentativa e me trouxe respostas importantes.
Agora sabemos, por exemplo, que ainda ovulo, que Luiz é fértil e que sou capaz de manter uma gravidez.
Quanto ao desenvolvimento do embrião, pode acontecer com qualquer mulher, na verdade, nem é muito raro. É que geralmente é um assunto mais privado, mas todas nós mulheres temos milhões de amigas cuja primeira gravidez não prosseguiu.
Foi precipitado ir diretamente para a fertilização in vitro?
Provavelmente, sim.
Não foi isso que alterou o resultado, mas poderia ter explorado outras alternativas antes.
É muito difícil julgar as pessoas e não quero ser injusta, mas agora me desfazendo dos materiais do tratamento, me deparei com uma tabela de preços (em euros) de onde retiro três deles:
– Ciclo de inseminação artificial: $ 575
– Ciclo de Fecundação in vitro: $ 3.900
– Ciclo de Receptora de óvulos doados: $ 4.100
Bom, isso sem contar as medicações, mas digamos que existe uma certa diferença entre o custo de simplesmente incrementar a ovulação e o tratamento que fiz. Inclusive, para quem acompanhou desde o início, fui fortemente incentivada a receber óvulos doados, coisa que rechacei completamente.
Cada um tire sua própria conclusão e cada caso é um caso.
Mas na prática, além da minha idade, não tínhamos nenhuma complicação adicional, como problemas de espermatozóides, endometriose, problema de trompas… nada! Simplesmente, tenho 42 anos, o que é um fator forte, mas não tão definitivo como fui levada a acreditar.
Pretendo fazer outro tratamento de fertilização in vitro?
Não.
Não me arrependi, mas um foi o suficiente. Não tenho nenhuma intenção de passar por essa situação mais uma vez.
Foi válido, tenho a sensação de dever cumprido e não desaconselho quem quer continuar tentando. Há muitas mulheres que conseguem em tentativas seguintes. Também há muitas que insistem e fazem da sua vida terrível. Cada uma que se enquadre onde bem entender.
Se é para seu bem, se vai te deixar tranqüila saber que tentou novamente, siga em frente!
Só estou dizendo que a mim não fará nenhum bem insistir no mesmo caminho e essa decisão está tomada.
Pretendo seguir tentando engravidar?
Muita calma nesse momento.
Ainda tenho um embrião dentro da barriga e as coisas tem seu tempo, não adianta se afobar nem se desesperar. Isso não é um filme americano onde o final feliz é garantido. Essa ansiedade é de algumas amigas, mas não é minha.
Gostei de saber com meu médico que essa possibilidade existe e se pudermos tentar de maneira natural e tranqüila, sim tentarei.
Esperamos o corpo descansar e a natureza agir como deve. Digamos que não será uma prática nada desagradável, não é mesmo? Nesse ponto, não me incomodo em fazer muitas tentativas!
Se eu puder dar uma ajudinha, muito bem, vamos nessa! Mas existe uma diferença enorme entre determinação e obsessão. A determinação te ajuda a alcançar seus objetivos, a obsessão transforma sua vida em um inferno.
A adoção de uma criança ainda é uma opção?
Sim, totalmente!
A única coisa é que nesse momento ainda tenho alternativas. Não quero partir para uma adoção como uma muleta em uma história que não deu certo.
Se algum dia eu chegar a adotar uma criança será por amor a ela mesma e não por substituição a ninguém.
Como é estar com o embrião no corpo sabendo que não está mais vivo?
Normal. Desculpem se choco alguém. Mas é como se simplesmente estivesse esperando minha menstruação descer. Já não é mais meu Gabriel desde ontem.
Digo isso porque pelo primeiro médico fui levada a crer que poderia ser angustiante saber que o embrião ainda estava lá e que uma curetagem diretamente seria menos doloroso.
Não é verdade, pelo menos, não no meu caso. Quanto menos invasivo o processo, melhor para mim.
Estou sossegada em casa, primeiro porque estou me recuperando emocionalmente, não nego, mas também porque não queria estar na rua quando isso começasse a acontecer. Não sei bem o que se sente, se sangra muito, se é igual a uma menstruação… enfim, saberemos em breve.
Mas é muito melhor que partir diretamente para um centro cirúrgico, tomar outra anestesia geral e sofrer a agressão que é um aborto.
Mesmo que isso tenha que acontecer, pode ser depois, de uma forma mais tranqüila ou simplesmente para um acabamento, digamos assim.
Como é o procedimento de aborto que optei e quais são os próximos passos?
Primeiro, deixar de tomar a progesterona, o Ultrogestan. É possível que seja um dos motivos por eu não ter tido nenhum sangramento até agora. É parecido a deixar de tomar uma pílula anticoncepcional, não me lembro mais, mas acho que em dois ou três dias sua menstruação desce.
Esperaremos aproximadamente uma semana e na quarta-feira que vem, temos uma consulta para saber se desceu e verificar se está tudo limpo.
Caso não seja o suficiente, começo tomar uma medicação que provoca contrações e faz com que se expulse o embrião, também como se fosse uma menstruação, mas com um pouco de cólicas.
Daí, verificamos novamente se está tudo limpo.
E só se ainda tiver algum resquício ou, isola, tiver algum problema nesse período, vou para um centro cirúrgico. E nesse caso, sou atendida pessoalmente pelo meu médico.
Para os brasileiros deve ser estranho essa última frase, mas aqui é comum você ser seguida por um determinado médico, mas no caso de uma operação ou parto, outro médico que você nunca viu na vida te atender. Se eu fizesse o procedimento no hospital anterior, seria assim, não tenho idéia de quem me atenderia na cirurgia.
Segundo meu médico atual, não deveria haver nenhum problema de infecções ou algo mais grave antes de umas 4 semanas. Ou seja que temos tempo para fazer todo esse procedimento com calma e segurança.
Enfim, daí o corpo precisa de uns dois meses para estar no seu estado normal. E poderia, inclusive, tentar nova gravidez. Mas vamos com calma, só estou contando como funciona.
Ainda não sei se terei alguma restrição física nesse período, acho que não, confirmarei na próxima consulta. Por enquanto, deixei a ginástica de lado um pouco até saber melhor o que está acontecendo comigo.
Qual foi o pior momento?
Na quarta-feira, quando a médica vaca começou a me falar de curetagem sem nada conclusivo ainda.
Fiquei apavorada com a possibilidade de me tirarem ou machucarem o embrião enquanto ainda havia possibilidades. Isso sim, desculpe a franqueza, seria criminoso.
Ontem, quando descobri que seu coração parou de bater e devia ser algo bem recente, me senti muito triste, mas conformada. Não foi o pior momento, porque não havia mais o que fazer e tinha certeza que não estaria matando meu embrião. É forte de dizer, mas é a verdade.
Qual foi o melhor momento?
Ouvir seu coração, simplesmente lindo e inesquecível!
Como me sinto a respeito de tudo isso?
Como disse antes, conformada ou talvez algo que aprendi há pouco no deserto, resignada. Se há algo que a gente possa fazer, a gente briga até o fim, se não há mais nada, aceitando a vida como se apresenta, nós sofremos muito menos.
Quando o embrião não se desenvolve bem, costuma ser sinal de algum problema em sua formação. Melhor então que se vá nesse momento, sem sofrimento para ele e com menor sofrimento para nós.
Digo do fundo do coração que estou convencida de que o que nos passou foi o melhor para todos e nos trouxe muitos motivos para alegria e aprendizado. Continuo vendo como uma razão para celebrar.
Estou em paz. Já volto!
Isso aí. Um dia após o outro. Tudo o que acontece nesta vida, é para que possamos crescer, construir, aprender… Concordo contigo! Saúde!
Oi Bianca, te vejo muito tranquila (pelo menos é o que transparece) e isso é muito bom. Com toda certeza, a experiência foi válida e você fez tudo muito bem. Fiz uma curetagem quando nasceu o Izan, e apesar que por motivos completamente diferentes, te digo que é horrível. Não foi doloroso, mas me senti muito mal psicologicamente, então acho que você faz muito bem. E, concordo absolutamente, não há palavras que consolem, só o tempo. Te mando outro abraço e descansa!
Amiga, só agora li as últimas notícias, e concordo com vc. As palavras sobram. Estou aqui, para o que vc quiser. De qq maneira, acho que o passo mais importante e definitivo foi dado, e não foi abalado: a decisão de vcs serem pais. Como isso vai acontecer, já conversamos algumas vezes… existem mil possibilidades. Esta foi uma. Outras irão surgir, de maneiras que a gente às vezes nem imagina. Agora, é descansar o corpo e o espírito, respirar fundo, organizar os sentimentos (se é que isso é possível em qq situação!) e seguir em frente. Muitos beijos e muito carinho pra vcs.
Falou a Bianca que conheco atraves do blog, transmite como e em pessoa. Uma mulher com M maiúsculo, forte e decidida. Admirável. Fica bem 🙂 Volta logo ta!?
Oops! M maiúscula
Bem Bianca quando fazemos tudo mas tudo as vezes è o unico consolo, tenho uma cliente que passou por esse processo 09 vezes e finalmente depois de cinco anos conseguiu engravidar, tenho outra que adotou e enquanto esperava niña china ficou gravida de gemeos, bem claro isso sao historias cada um tem sua realidade, eu sempre acho que temos o sofrimento que podemos suportar, voce è forte o Luis tambem, e claro vao seguir adiante, e tentas outras opçoes , eu acho que voce esta bem dentro do que caqbe, e sim o tempo cura tudo, a mim sempre me curou. Um beijo
Bianca, você é mesmo uma pessoa muito especial… Você, inclusive, entende meu silêncio, você fala, eu calo…Simplesmente, é isso, não sei o que dizer pra você, e tento digerir tudo em mim mesma… Neste exato momento, tenho que secar os olhos pra poder enxergar as teclas.
O que sei é que o tempo e a alegria de vocês vão dar um jeito de amenizar essa dor, e a memória dos melhores momentos, o coraçãozinho batendo, será tua para sempre… Ai, que é justamente essa parte que me emociona mais.
De resto amiga, estou aqui, longe mas perto… Teu sonho está apenas começando, esta foi só uma etapa. bj no coração
Nada Bi, sabe que se precisar estarei por aqui. Bjus enormes =)
Oi.
Dois beijos em cada bochecha.
Um abraço apertado que dure uns 10 segundos, pelo menos. E sem dor.
E nada mais. Era o que eu queria te dar ontem, hoje e amanhã.
Te desejo paz. Pode demorar um pouco para ela parecer. Mas ela virá.
Beijos enormes. Com saudades.
Bi e Luiz,
desejo a vocês serenidade e força. E como a Bianca disse tempo é tudo que vocês precisam agora.
Um beijo enorme e cheio de carinho,
Claudia
Bi, nada como um dia atras do outro… Vc vai voltar mais forte q nunca, mas tendo na bagagem essa experiencia nova e linda q te fez crescer tanto!Te queremos de volta!Beijo grande
Ola, comecei a ler sua materia sem nenhuma pretensao, li como se estivesse lendo um artigo qualquer mas só foi comecar a ler que percebi tanta coisa, eu estou em Viena na Austria vim ha 10 dias com mala e cuia , mudei toda a minha vida em Sao Paulo para ficar com a pessoa que amo e que estamos juntos ha 17 anos, ele é daqui, bem a historia e longa o fato é que acabamos ha 2 dias nossa historia e eu me sinto completamente perdido sem rumo etc.., mas lendo a sua historia me fortaleci e percebi que minha perda é tao pequena perto de outras perdas. Obrigado por comprtailhar conosco um pouco da sua vida, vida essa que segue né. grande abraco.
Marcos
Ps desculpe a falta de acentos esse computador tem teclado em alemao.
Valeu
Oi, Marcos! Viena é uma cidade linda! Depois de 17 anos… acho que é difícil acabar em 2 dias. Talvez vocês ainda precisem conversar melhor. Independente do que resolvam no final, você já encontrará seu rumo 😉 Besitos
Obrigada, meninas! Vamos tocando a vida e já já poderemos passar essa página! Besitos miles