É contracultura ou contra a cultura?

Para mim não importa o artigo, sou do contra mesmo.

 

Há dois dias navego pela internet hipnotizada com alguns vídeos no Youtube. Meus amigos de bom gosto musical podem se segurar na cadeira, são vídeos de funk com frevo e afins.

 

Faz algum tempo vi um vídeo do meu baile de debutantes. Pois é, para a felicidade geral da nação, tive que debutar. Menos mal que foi em um grupo de meninas, o mico é compartilhado. Tem um momento que você desfila e um narrador vai falando um pouco sobre você: onde nasceu, preferências literárias e musicais. Quase todas as meninas citam O Pequeno Príncipe como livro favorito e gênero musical como música suave.

 

Dava vontade de perguntar, mas O Pequeno Príncipe ainda é o livro favorito aos 15 anos? Vocês são retardadas? Nem sei exatamente o que queria dizer música suave, que raio de gênero é esse? O meu livro era O Louco, do Gibran, e meu estilo de música era o funk, na época me referia a James Brown. Perdeu 90% da ironia quando falado em tom formal pelo locutor, mas fazer o que, fiz a minha parte. E elas não eram retardadas, eram só meninas, eu também era.

 

Anos depois veio o funk carioca e relutei frente as baixarias que saiam dali, que música ruim, cassilda!

 

Muito bem, sou mestre em ter nuvens de pensamento que acredito ter uma conexão, mas fica faltando uma frase, ou imagem, ou situação, algo que conecte as idéias e me faça conseguir traçar uma analogia. Com o funk tinha algo assim, como alguma coisa tão ruim podia mobilizar tanta gente? Quando começo a achar que em volta tenho um número enorme de idiotas, me policio, porque provavelmente quem não entendeu o espírito da coisa fui eu.

 

Então um dia estava em Atlanta assistindo uma entrevista sobre Hip Hop e toda a polêmica sobre as letras, me chamou atenção especial uma resposta em relação ao machismo dessas letras. O cidadão respondeu algo mais ou menos assim, se alguém na prática fala alguma coisa dessas para uma mulher branca americana de classe média ou alta, ela perde o ar e quase desmaia. As mulheres de quem estamos falando passam por isso todo dia, não se intimidam, levantam a cabeça e respondem na mesma moeda: faço mesmo e daí? Eu gosto.

 

Não, não passo por isso todos os dias e se passar provavelmente darei uma resposta feroz, mas o ponto é que não sou e não fui criada nos mesmos valores. Acho minha vida melhor, mas às vezes me pergunto quem é mais livre nesse aspecto. Não dá para comparar chocalho com banana, na melhor das hipóteses, posso abrir um pouco a cabeça e entender a experiência.

 

Foi o que fiz e digo que hoje gosto de funk e me interessa muitíssimo esses movimentos absolutamente democráticos e subversivos. Continuo achando a batida maçante e tenho vergonha de cantar a maioria das letras, mas cheguei a conclusão que isso é só a ponta do iceberg. Gosto do que está embaixo da água. É som de preto, de favelado, mas quando toca, ninguém fica parado.

 

Se a gente para e pensa, quem nunca cantou uma musiquinha sacana ou falou meia dúzia de baixarias? A diferença é que ficava entre quatro paredes. No morro as paredes são muito finas e o prazer sexual é praticamente o único gratuito. A música pôs isso para fora, liberou o que todo mundo já sabia.

 

Ouvidos mais sensíveis ou puritanos, nem percam o tempo abrindo o vídeo. Vai Varéria, bate palma aí… eu num disse… vai dá meeerrda…

Fiquei fã dos Malvados! E aê, tá gravano? Se liga mulé, se liga novinha… sempre fui vadião… eles sempre foram safadinho… agora vai ficá interessante, sá purque, vem cum nóis… tão nervosão… O Siri e o Maikinho dançam bem, mas o bombom manda melhor.

Muito bem, mas também há famílias. E as crianças, como ficam? Até onde entendi, foi como surgiu o frevo com funk (motivo pelo qual iniciei essa viagem) uma mistura dos dois ritmos, com letras menos pesadas, voltada para o público mais novo, ou como se diz, “os menó”. Virou uma febre e se alastrou com passos impossíveis, inclusive entre os adultos. Fiquei encantada com os meninos dançando! Bailarinos perfeitos!

Recomendo prestar atenção no número de visitantes, na linguagem e nos comentários. É difícil olhar alguma coisa que não seja os meninos dançando, mas vale à pena uma análise. Se isso não for inclusão digital, não sei o que é.

 

Gostei dessa idéia de duelo, uma disputa pacífica de habilidades. O difícil deve ser escolher o melhor. Deve ser bom fazer tão bem alguma coisa.

A propósito, voto no flamenguista!

Ainda por cima tem passinhos: jacaré, relógio, pika, foda… Favor reparar no rapaz de blusa preta, que faz descalço o que a bailarina faz com sapatilha de ponta e depois de muito treino!

A dança das crianças se espalhou para os maiores e achei verdadeiras pérolas! Há algo de trash, de produções improvisadas, de gente passando com sacolas no meio do clipe, da irmã olhando do canto da laje, de uma língua própria, gírias, estilo de vestir. Sem nenhum deboche, achei muito bom!

No próximo, meu favorito é o rapazinho de camisinha na cabeça! A concordância na dança é um pouco melhor que no nome do grupo.

E olha Os Malvados aí outra vez! Seguindo a tendência, com figurino e tudo!

Acho que alguém teve que tomar conta da irmã mais nova enquanto a mãe trabalhava. O resultado não foi nada mal, rola edição e tudo.

Não é que já me peguei pela casa cantando, essa é a dancinha do frevo com funk…

6 comentários em “É contracultura ou contra a cultura?”

  1. Ammmmmmmmmmmmmei esse post!! Mesmo com toda correria dei uma passadinha aqui pra ler!!

    Eu tb debutei… srsrrsrsrrsr! Que mico!

  2. Menina,

    Li o texto e me dei ao trabalho de assistir aos vídeos.
    Francamente!
    Para voltar ao normal, procurei a cena do Al Pacino dançando o Por una cabeza, no Perfume de Mulher.
    Não deu para compensar tanta baixaria, mas ajudou.
    Beijos.

  3. Nossa, falei ontem com o Luiz (o de cá) que nunca mais soube de você e ia te escrever. Só assim você aparece… heheheh… já valeu! Mas fala a verdade, você gostou dos Príncipe da Dança 😛

    Procura o tango de Roxane, também é muito bom.

    Besitos

  4. Noooooooooooooossa……….
    É minha aluna, minha amiga, uma lavadeira admirável….
    E maloqueeeeeeeeeeeeeeeeira pra cacilda, hein!hehehe…

    Mas agora falando sério, o que vc disse que “ninguém fica parado” é porque todo ritmo forte, marcado, entra em sintonia direta com nossa fisiologia, com os ritmos do coraçâo, com o pulso, com sentimentos quase primitivos e ancestrais…

    Explicaçâo pra resumir:
    Melodia——emoçôes
    Ritmo———fisico, corpo
    Harmonia—–mente, intelecto

    Quem quer se mexer e sentir adrenalina, dançar, etc, escuta alguma forma de batucâo, samba, funk, latinos, afros, alguns dos folclores do mundo.

    Quem quer se emocionar escuta a trilha sonora de Cinema Paradiso, escuta o Preludio e morte de Tristâo e Isolda ou simplesmente alguma melodia bonita e bem cantada/tocada.

    Quem quer desenvolver a cuquinha tem que escutar jazz, bossa nova ou alguns bons compositores da época do Romantismo.

    Beijo….

  5. … e quem quer entender e experimentar, escuta tudo! Eu tento, depois me decido se gosto ou não. E no caso em questão, não sei se consegui passar, mas acho que vai muito além da música, é uma questão social. Enfim, a música tem muitos poderes, você mais que eu sabe disso.

    heheheh… pô, Vanessa, explica esse negócio da lavadeira porque pega mal! 😛 O “ninguém fica parado” é uma música, mas sim, concordo com toda a explicação e embarco totalmente na viagem.

    Agora estamos em um pueblo próximo a Gaucín. Estamos literalmente escondidos nas montanhas, nem todo dia tem conexão de internet. Mas estou gostando e conseguindo relaxar. Sabe que livro estou lendo? O que você me deu de presente, La suema de los días… muito bom!

    Besitos

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