Há um comercial de TV que gosto muito. É de uma maionese light. Começa com uma moça se olhando no espelho, conversando com a amiga e dizendo algo como: Pablo disse que tenho o peito pequeno… Pablo disse que tenho um pouco de barriga… Pablo disse… de repente, ela enche o saco e diz: Pues…yo creo que estoy estupenda! E eu creio que a frase dispensa tradução.
É um comercial normal, nada demais, mas acho que tem muito a ver com o universo feminino. Essa coisa da gente estar preocupada com a comparação, com o que o parceiro acha… e finalmente, a própria aceitação. O alívio e o prazer de acreditar: quer saber, estou ótima! Não é mais uma questão de ser ou não perfeita, mas de se sentir bem assim.
Outro dia conversava com amigas que reclamavam que aqui na Espanha é muito difícil você levar uma cantada na rua. É uma coisa cultural, o espanhol não é um azarador! Elas diziam, talvez com outras palavras, que uma boa cantada podia recuperar seu estado de espírito. Sentiam falta disso aqui. Achei engraçado e me diverti com os comentários, mas lá no fundo fiquei pensando se não seria um pouco de carência ou insegurança da parte delas.
A verdade é que, pessoalmente, sempre achei esse negócio de ganhar cantada na rua um saco! Fico muito sem graça e, em relação a isso, me sinto mais confortável aqui. Não sei, também acontece que sou mais preparada para uma crítica do que para um elogio. Acho uma distorção, mas é a verdade. Quando recebo um elogio, tenho vontade de me enterrar embaixo da primeira mesa; já uma crítica, posso ouvir e não dar a menor bola ou, se estiver de bom humor, até tentar entender para melhorar.
Muito bem, sabe toda essa segurança? Foi à PQP por causa de um simples botãozinho! A porcaria do botão da calça jeans que custou a fechar! Merda… engordei! Me arrumando para levar o Jack na veterinária, tive essa infeliz constatação: minha calça estava mais apertada!
Acho que o processo cerebral que ocorre na mulher quando ela percebe que engordou é muito parecido ao do homem quando ele quer transar. Há uma completa falta de bom senso, a gente perde a noção das coisas e não consegue ver nada em uma perspectiva razoável! Fome na África, guerra no Iraque, corrupção no Brasil… nada disso importava: eu en-gor-dei!
Saí do edifício com os ombros arrastando no chão, arrasada! E ia pensando comigo mesma: Merda, tô gorda! Não… sou uma gorrrrrrda! E que idéia de jirico vir com esse saltinho… gorda e de saltinho… putz! Mas eu devo tá muito ridícula mesmo! Ainda bem que é perto…
Nisso, acho que o anjo da guarda das mulheres desesperadas cutucou um transeunte, que deu aquela parada na calçada para eu passar e me soltou algo em espanhol que poderia ser traduzido como “gostosa!”. Sério, a maneira de falar do cidadão era de uma falta de respeito comovente! Lembrei das minhas amigas reclamando da falta de cantadas! Ok, hoje e só por hoje, vou baixar a bandeira feminista um pouco.
Meus próximos passos foram absolutamente desconcertados e tive que prestar muita atenção para não dar de cara em um poste ou tropeçar. Assim que recuperei o rebolado, só uma coisa podia vir à minha mente: Pues… Yo creo que estoy estupenda!
Fui rindo sozinha o resto do caminho. Na veterinária tem uma parede espelhada e, me olhando nela, nem me achei tão mal. Pensando bem, até que não tinha engordado tanto assim…e o saltinho, tinha lá seu charme.
E mais uma coisinha, que eu mesma deveria escutar. Atenção meninas! Já dizia Buda, quem gosta de osso é cachorro!