No início de maio, finalmente nosso apartamento no bairro de Salamanca estava liberado! Mais uma vez, sairíamos com a casa nas costas para a nova residência. Agora ainda tínhamos mais malas, pois Luiz foi trazendo gradativamente as guardadas em seu escritório e em Paris. Cheguei a conclusão de que eu era um caracol!
A dona do imóvel nos alugou por um ano, quase se desculpando, pois é um contrato muito curto. É que talvez ela precise do apartamento para morar. Para nós, um ano era uma vida! É mais do que já morei na maior parte dos meus endereços. Esse é meu 30o (trigésimo – não foi erro de digitação). Estou com 35 anos, faço 36 em novembro. Faça as estatísticas, se quiser.
Quando criança mudava por causa dos meus pais, depois mudava em função do meu trabalho, agora pelo trabalho do Luiz. O fato é que, por um motivo ou por outro, essa era a minha vida, o meu destino. Muita gente me pergunta se não me faz falta ter raízes. Claro que eu tenho raízes! É que elas são aquáticas e vão comigo. Com o tempo você aprende que resistir é pior. Depois, nem pensa mais, vai de acordo com a maré!
E voltando ao nosso apartamento, havia muitas malas, mas não tinha móveis. A previsão é que nossa mudança chegasse em uma semana. Achamos uma previsão fantástica, pois em Atlanta esperei apenas quatro meses por isso! De qualquer forma, ainda havia uma semana para dormir… sem cama!
E lá fomos nós procurar uma cama para ontem! Na verdade, um sofá-cama que, posteriormente, ficaria para as visitas. Quando estávamos quase desistindo e nos conformando em dormir sobre o edredon, esse veio em uma das malas, descobrimos no caminho para o apartamento uma loja de móveis na mesma rua, cerca de duas quadras do imóvel. E não é que tinha o tal do sofá-cama para pronta entrega? Luiz ainda teve o disparate de perguntar se havia outra cor! Cor? A essa altura? Aquela estava ótima! Só um probleminha, não tinha quem entregasse no prazo que precisávamos. O dono, meio sem graça, mas vendo nossa necessidade, perguntou se morávamos longe dali. Quando dissemos que era quase na próxima esquina, ele se ofereceu para levar com o Luiz, se ele não se incomodasse. Se a gente se incomodava? Eu me incomodava era em dormir no chão! Saímos da loja a pé pela rua, com Luiz e o vendedor carregando o sofá-cama e eu as almofadas e o forro. Mantive a elegância! Fui andando como se estivesse fazendo a coisa mais normal do mundo. Toda vizinhança conhece nosso sofá! Que mico!
E assim foi a primeira noite em Salamanca. Com um sofá-cama, muito confortável (ou será que era o cansaço?), duas cadeiras esquecidas pela dona do apartamento e várias malas!
O telefone, a internet e a televisão ainda demorariam mais de um mês para serem instalados! Quase enlouqueci! Mas Luiz descobriu que conseguia roubar uma conexão wi-fi, lentíssima, de um vizinho distraído. Às vezes, funcionava.
Abrimos uma garrafa de vinho, nacional é claro, e sentamos no chão da sala para comer jamón. Jack corria pelo apartamento feliz da vida! Ele gostou de cara daqui. Fazia muito tempo que não o via tão alegre e à vontade. Voltou a ser nosso pateta feliz!
Uma consideração sobre “XII – Finalmente em Salamanca”