23 – Festa de casamento, roupas e viagem feminina na maionese

Sábado fui a uma festa de casamento, a primeira que vou desde que moro na Espanha, desses festões de botar para quebrar. Lembro do tempo que as pessoas reclamavam quando iam a um casamento, e quando era criança, realmente achava bem chato. Não sei se as festas mudaram ou mudei eu, provavelmente ambas as coisas, só sei que simplesmente adoro ir a festa de casamento!

 

E essa era melhor ainda, porque não havia a cerimônia, festa pura! Beleza, nesse caso, podia usar meu super vestido preto sem ser gafe.

 

O vestido, eu já tinha desde o Brasil, e é o meu favorito. Pena que tenho poucas chances de usar. É clássico e ousado ao mesmo tempo, negro liso com um tecido maravilhoso, o decote na frente é daqueles que sobem pelo pescoço e atrás vai até a cintura, da cintura para baixo é ligeira e discretamente rodado, o que disfarça o quadril e acaba exatamente onde valoriza minhas pernas, a um palmo do joelho. Alguns centímetros a menos, seria vulgar; alguns a mais, seria comum. Mas ele é perfeito e sexy. Saber que ele ainda cabia em mim me deixou quase histérica, também, se não coubesse, passaria uma semana inteira de fome sem me importar.

 

Bom, mas precisava de outro sapato, que coisa desagradável, né? Acho que um homem nunca entenderá o poder do salto alto feminino. Caminho muito pelas ruas, o que me fez praticamente abandonar os saltos, além do mais, ultimamente quase durmo com minhas botas de trekking, não exatamente femininas. Portanto, a possibilidade de um novo sapato de festa me alegrava igual a um brinquedo novo.

 

Gosto dos saltos estratosféricos, daqueles que aumentam suas pernas até a lua! Uma mulher coloca um salto alto e imediatamente ganha poder. Começa porque muda a postura, o bumbum empina e a panturrilha pula, parece que você malhou. Depois, porque ao aumentar a altura, também melhora a proporção do peso, claro. Veja bem o pensamento feminino: cada centímetro corresponde mais ou menos a um kg que você pode ter a mais, logo, se você usar um salto 10 cm, é como se emagrecesse também 10 kgs em um piscar de olhos! Olha que coisa divina, eu não precisava emagrecer, só precisava crescer mais 10 cm! Pronto!

 

Para completar o figurino, tinha que ser com minha gargantilha lindíssima em pedras vermelhas. Depois, aquela maquiagem que perco um tempão para parecer que foi fácil, um penteado meio preso e meio solto, et voilà!

 

Bom, tinha feito todo esse quadro na minha cabeça, mas tive preguiça de experimentar tudo junto e no dia, quase perdendo a hora, me arrumei às pressas, torcendo para o que imaginei desse certo. E deu.

 

Sabe quando você se olha no espelho confiante e pensa, hoje eu tô podendo! Fui subindo o olhar, comecei pelo sapato fantástico, meias finas modelando melhor as pernas, o vestido que ainda era lindo e me caiu bem, a gargantilha combinou… mas quando cheguei no meu rosto, alguma coisa estava diferente do que esperava e não sabia o que. Putz, esqueci de colocar a máscara! Imperdoável! Corrigi rapidamente esse lapso e fomos.

 

No espelho do elevador, me olhei novamente e não eram os olhos, era o jeito de olhar. Por que raios eu penso tanto? Não estava bom ficar feliz em me sentir poderosa? Qual é o problema de inflar seu próprio ego só um pouquinho, cassilda! Meu corpo é relativamente jovem, talvez por não ter tido filhos, não sei, mas passaria por alguém mais nova. Acontece que o olhar não mente e olho com a idade que tenho. E me ocorreu naquele instante que a roupa ainda me caía bem, mas não seria por muito tempo. A gargantilha ainda era linda, mas a pele do meu pescoço já não é mais a mesma e talvez também tenha que parar de usá-la um dia.

 

Não sei se alguém mais compartilha daquela situação irritante de ter que esticar o pescoço a cada fotografia, porque senão começa a fazer papada. No meu caso, tem um complicador porque costumo fechar os olhos na hora “h”. Portanto, agora para tentar sair melhor nas fotos, preciso me cuidar para não parecer uma tartaruga assustada, com aquela cabeça esticada para frente e os olhos arregalados!

 

Papada é uma merda! Isso quer dizer que a pele do seu pescoço está ficando flácida. E a pior combinação de palavras em todo universo é “papada flácida”, sinto uma pontada no coração quando falo as duas juntas.

 

Eu me julgava uma mulher bem resolvida depois dos trinta, porque havia entendido que celulite é parte da vida, você não precisa ser uma laranja, mas umazinha aqui, outra ali é parte do organismo feminino. Rugas? Não tenho tantas, mas honestamente, não me assustam e, se mudar de idéia, taí o botox para um momento de desespero. Energia? Musculatura? Nunca pratiquei tanto esporte como agora. Mas, perto dos quarenta, ninguém me preparou para a maldita papada! Isso sim é uma sacanagem!

 

Paciência, chegamos na festa e estava tudo muito bonito e bem cuidado. Comecei a reparar nas roupas e achei, de maneira geral, as pessoas elegantes. Nem sempre isso é verdade, acho que nos casamentos as mulheres sempre enlouquecem um pouco e aqui, os que passo e olho de relance, me parecem um show de horrores. Mas nesse não e olha que estava especialmente exigente esteticamente, por motivos óbvios.

 

Afinal de contas, será que roupa tem idade? Sempre achei isso meio preconceituoso e exagerado. Será que precisamos mudar tão radicalmente nosso visual? Por que de repente parece que todas as mulheres cortam o cabelo acima dos ombros, pintam da mesma cor loiro-menopausa e começam a usar laquê?

 

Acho que vou fazer um pacto pessoal, a partir dos 40, a cada 10 anos farei uma tatuagem! Nem que seja para ser do contra! Talvez eu corte o cabelo, talvez até pinte de loiro para disfarçar melhor os fios brancos, mas por favor, se eu usar laquê, me internem! Não estarei mais no meu juízo normal!

 

No meio da minha ruminação tentando buscar algum otimismo, vi uma senhora com um vestido vermelho e dourado que achei interessante. Se eu colocasse aquele vestido, pareceria um Papai Noel, mas juro que nela estava muito elegante. Luiz dizia achar a roupa um pouco senhorial, mas que nela funcionava. Foi quando dividi com ele um pouco o tema em que estava pensando, e que não havia me incomodado antes a idade, mas achei ruim imaginar que em algum tempo, estaria inadequada com exatamente a mesma roupa que estava usando. Ele me disse que até então, sempre adicionei coisas à idade, e agora parecia ser um limitador.

 

É verdade, a idade sempre me caiu bem porque também sempre me trouxe mais. Sentir a possibilidade de perder ou limitar foi ruim.

 

Até que vi outra senhora, pelo menos uns 20 anos a mais que eu, e outra vez não pela pele, mas pelo jeito de olhar. Na minha opinião, a mais elegante da festa. Corpo de senhora, a barriga muda de lugar, parece ir um pouco mais para baixo, mas ainda era uma mulher bonita. Um vestido tubo salmão liso, clássico, simples mas bem cortado, caimento perfeito. Um par de broches que fazia uma composição. Estava longe de ser um modelo senhorial, mas não tenho dúvidas que em mim pareceria assim. Nela não, ela podia!

 

Ela conseguiu ganhar com a idade, então por que eu não conseguiria? Pronto, quando eu crescer posso ser assim! Ufa! Uma luz no fim do túnel.

 

Relaxei e fui curtir a festa, afinal de contas, tenho uma reputação de imparável a manter.

 

Quer saber, que se dane! Meu corpo não será o mesmo ao longo dos anos, mas meu maravilhoso vestido negro também não durará tanto tempo. O cabelo muda, os gostos mudam, a vida muda.

 

A propósito, a coroa do vestido salmão se acabou de dançar no salão com seu marido. E nós também.

 

 

 

 

 

 

 

5 comentários em “23 – Festa de casamento, roupas e viagem feminina na maionese”

  1. Hoje lendo essas reflexões tive que rir de novo. Mesma idade … mesmas perguntas. Eu penso e você coloca no papel (ou melhor na Internet) – estou ficando velha mesmo hehehe. Deveriam escrever um livro: “Os questionamentos que nos fazemos em cada ano de vida”.

  2. Pois é, Claudia, acho que não escrevem para evitar um suicídio coletivo… hehehehe…

    Mas não tem nada não, ontem mesmo, por pura coincidência, fui a um encontro só com mulheres. E claro, todas esticando os pescoços nas fotos, me acabei de rir e me senti totalmente compreendida! Talvez escreva sobre isso depois.

    Besitos

  3. Oi Bianca
    Sabe que tenho 45 anos e nunca me preocupei no dia a dia com a roupa que visto, sempre fui informal e queria mesmo conforto. Até ter feito 45 anos. Agora quando coloco alguma blusinha que minha filha também usa acho que não tem muito a vêr comigo, algumas calças também e o cabelo comprido tipo “hipongam”. Na verdade ter uma filha com 17 anos faz com que eu fique encarando a minha idade e me força de alguma maneira a deixar minhas preferências de lado. A começar pela Lu que gosta de me vêr mais arrumada como algumas outras mães.
    Bom a sorte é que sou magra e realmente pareço ter menos idade que muitas das mães das amigas da Lu, assim desencano e penso que não dá pra ter tudo a idade chega pra todo mundo, fazer o quê????

  4. Realmente, acho que só quem é mulher e que já passou dos trinta , chegando nos 40 ou passando dele, é que sabe o que é tudo isso… Essa olhada no espelho (básica) na hora que esta se arrumando, e essas viagens no tunel do tempo…
    A cada verao que chega eu me desespero rsrsrss se a roupa do ano passado vai caber e comooooooooooooo vou colocar um biquine …

    Besossss

  5. Hahahaha laque….
    olha Bianca eu tambem ODEIO laque, fica duro, da afliçâo, é uma mania que eles tem aqui na Espanha que pelamordedeus….Todas, jovens, adultas, velhinhas mais ainda.
    Voce é linda e vai ser linda todos os dias. Até de beeeeem velhinha. Porque sua beleza alem do fisico(que tambem é liiiinda) esta no olhar, na dulçura, na inteligencia e simpatia…E isso vai te acompanhar sempre.
    Beijâo.

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