Perto da minha casa tem um restaurante chamado “La Daniela”. Creio que é um dos tradicionais por aqui, bastante conhecido por seu cocido madrileño. Uma boa parte dos restaurantes, incluindo o Daniela, tem um balcão onde as pessoas comem as tapas e bebem de pé.
Uma dica, não sei por que raios, mas todo mundo tem a mania pouco higiênica de comer e jogar (ou deixar cair) os guardanapos usados, palitos, guimbas de cigarro etc no chão mesmo. Ou seja, se quer avaliar o quanto um bar é popular, averigue o quanto o chão está sujo em volta do balcão! Se estiver muito limpinho… xiiiii… caído!
Voltando ao caso do Daniela, na primeira vez que tentamos jantar por lá estava muito cheio e não tive o menor saco com o atendimento meio confuso e mal humorado. Fomos embora. Mas tinha ouvido falar bem da comida e Luiz estava curioso para voltar. Muito bem, para provar que não sou uma pessoa de todo rancorosa, um belo dia, tomei uma dose de paciência e me propus a encarar o desafio.
Quando chegamos estava cheio, como sempre, e perguntamos ao gordinho do balcão se havia mesa. Ele mal olhou para nossa cara, apontou para trás e disse algo como, tem que falar ali com a minha “companheira”. A companheira chamava Lola e, por sua vez, nos disse que não tardaria muito a vagar uma mesa. Sentamos pelo balcão, enquanto esperávamos, e ficamos observando o local e as pessoas. Sei que ela chama Lola, graças a outra garçonete – uma baixinha que devia bater no meu umbigo, mas de uma voz poderosa – que berrava: Looooooolaaa… sluoxvmeo%^&ajfnvoa*f#ijoaiganfaoifñugoer! E a Lola respondia bem alto também: Pues… hombre! Laljfo#aiugal*gj%odgogoaivones! E quando eu achava que elas iam se pegar pelo cabelo e rolar no chão brigando, as duas morriam de rir! Foi quando começamos a entender como funcionava o esquema!
Não era uma questão de mal humor, era o jeito deles se comunicarem. No fundo, eram uns debochados! Além do que, era uma zorra! Uma reclamava da outra que não escutava direito, que demorava a entregar os pedidos, o barman fumava enquanto servia as bebidas, quando algum pedido ficava pronto e o garçon não sabia para quem era, berrava o nome do prato até um cliente berrar também “é meu!”. Um caos!
No meio daquela bagunça o que mais eu poderia pensar: caramba, mas esse lugar é ótimo!
Finalmente, nossa mesa vagou e nos sentamos. Fomos atendidos pela baixinha invocada. Quando ela dava as costas, eu ficava de onda com Luiz, dizendo: olha, o que ela recomendar você aceita, hein! O que ela disser a gente obedece, entendido? Pois, no fim da noite ela já fazia algumas piadinhas e buscava nosso olhar de cumplicidade.
Resumindo, com um pouco de boa vontade e respeito pela cultura local, tivemos um jantar divertidíssimo! Além da melhor tortilla espanhola de Madri!