No fim de 2004, ainda morando em Atlanta, comecei a encontrar, pela internet, alguns amigos do passado. Navegando pelo orkut, encontrei o colégio onde estudei mais tempo, a Escola Paroquial Santo Antônio, em Brasília. É difícil acreditar, mas eu, uma ateísta convicta, estudei boa parte da minha vida em colégios ou faculdades católicas.
Nesse colégio, estudei da primeira à oitava série, de 1976 a 1983. Acredito que boa parte dos meus valores foram aprendidos ou fortalecidos ali, mas só agora posso ter a consciência de como estou tão igual em muitos pontos e tão diferente em outros.
Mas voltando à história, tudo começou achando uns dois ou três ex-alunos pelo orkut. A conversa e o interesse foram crescendo e um desses ex-alunos teve a brilhante idéia de fazer um grupo de discussão só nosso no yahoo. O que acontece é que sempre tem alguém que manteve contato com alguém, que por sua vez manteve contato com outros e assim por diante. Resultado, em um ano e pouco que esse reencontro iniciou, já somos um grupo de quase cinqüenta ex-alunos.
A grande maioria permanece em Brasília, mas muitos, como eu, se espalharam pelo Brasil ou pelo mundo. Não importa, para mim, são meus amigos de Brasília. É a memória e a referência que tenho. E só há muito pouco tempo entendi como é importante para mim ter essa memória e esses amigos.
Acho que devido a tantas mudanças, não tinha amigos de infância. Tenho muitos amigos queridos, mas tinha um pouco de vontade, meio dissimulada, de apresentar alguém como: “esse é fulano, a gente se conhece desde nem me lembro quando…estudamos juntos…”
Na verdade, não sei se a culpa é das mudanças, muita gente vive na mesma cidade a vida toda e também perde os contatos de infância. Mas enfim, essa é a minha desculpa.
De qualquer forma, para mim tem sido muito importante esse resgate do passado. É como uma prova arqueológica que existi, pois deixei alguma impressão. Ou melhor, existimos, pois todos eles também haviam me deixado impressões que, pouco a pouco, vão me voltando à memória.
A velocidade com que nos unimos me impressionou. É difícil explicar a cumplicidade que surgiu muito rapidamente entre boa parte desses ex-alunos. Alguns de nós já éramos amigos no colégio, mas entre outros, existia muito pouco contato e até mesmo algumas desavenças eventuais, que hoje o passado transformou em coisa de criança. Isso é muito louco, pois com a maior parte só falo via internet, e mesmo assim, fico feliz quando eles estão felizes, sofro quando eles tem problemas e tenho orgulho do que eles realizam. E tenho muita saudade de quem não tive saudade nenhuma por tantos anos.
No último fim de semana, 15 de abril de 2006, foi o encontro de 23 anos de formados, em Brasília. Não fui, mas fiquei babando daqui. Eles se encontraram no nosso antigo colégio, tiveram o privilégio de entrar nas salas e procurar as carteiras (mesas de estudantes) onde sentavam. Tentei me lembrar onde me sentava, mas nem sempre era no mesmo lugar. Depois eles seguiram para a chácara de uma das ex-alunas e fizeram uma festa, com direito a assistir o filme da nossa formatura.
Não pude estar presente, mas pensei nisso o dia todo. Fiquei imaginando quem ia, o que iria falar etc. E quando as fotos chegaram, quase podia me imaginar nelas. O encontro dos 25 anos já foi cogitado e nesse vou nem que vaca tussa!
Somos uma tribo. Temos o poder de voltar no tempo, resolver o passado. Seguimos um pacto não negociado, mas totalmente subentendido: decidimos que somos amigos, para o que der e vier, e pronto!