Estava eu escrevendo, como quase todos os dias, toca o telefone. Era Luiz dizendo que um amigo do trabalho havia chamado para a pré-estréia de um filme, cuja a protagonista era uma amiga dele e da esposa. E aí? É hoje mesmo, topa?
Para falar a verdade, estava com um pouco de preguiça, mas é muito difícil eu recusar um convite e, ainda mais, porque parecia interessante. Conheço outras atrizes de teatro, mas assim de cinema, protagonista do filme em questão, seria a primeira vez.
Tudo bem que era um filme argentino, mas quer saber, nesse ponto já joguei a tolha. Paguei com minha língua e tenho ótimos amigos argentinos aqui em Madri. Nunca pensei que pudesse dizer isso, mas paciência, não só dito como registrado.
E lá fomos nós para o evento. Não tinha grandes expectativas e fiquei surpresa ao chegar em um cinema adaptado a um antigo teatro, lindíssimo, em plena Gran Vía. Na frente, jornalistas, fotógrafos e uma entrada restrita coberta em pétalas de rosa. As pessoas na calçada se acumulavam, curiosas, para ver do que se tratava.
Luiz e eu chegamos um pouco cedo e achamos melhor esperar nossos amigos do lado de fora. Afinal de contas, era divertido observar o movimento e saber que dessa vez, estaríamos entre os eleitos a participar.
Não demorou muito, chegou o casal de amigos do Luiz, muito simpáticos e, pouco depois, mais três outros amigos que eles convidaram. Ficamos os sete de gaiatice imaginando se ao entrarmos nos fotografariam e depois ficariam um tanto perdidos tentando descobrir quem éramos. Infelizmente, ninguém nos confundiu com celebridades e portanto, nada de fotografias.
Já do lado de dentro, tentamos reconhecer os famosos. Outro problema, a gente quase não vê TV e, lógico, não conseguíamos identificar ninguém. No máximo, desconfiávamos da suposta fama quando alguns flashes disparavam.
Pelo telefone, nossa amiga falava com a atriz do filme, sua amiga de infância, que por sua vez estava super nervosa no hotel, esperando a hora de ir. E e eu, curiosíssima, achando tudo aquilo muito divertido.
Até que nos chamaram para entrar e dar início a projeção. Com todos sentados, entraram as duas atrizes principais do filme e o diretor. Vamos esclarecer um pouco melhor, o filme se chama Nordeste, foi apresentado em Cannes por seu diretor, Juan Solanas, muito conhecido pelo seu premiado curta El Hombre sin Cabeza; as duas principais atrizes são Carole Bouquet, atriz francesa chiquerrésima-quero-ser-assim-quando-crescer; e Aymará Rovera, amiga de infância da nossa amiga, bonita e ótima atriz.
O filme é bom, forte e trata do drama da adoção ilegal de crianças na Argentina. Aliás, uma história que poderia ser rodada em qualquer país sul americano, incluindo Brasil, pois a realidade é muito parecida.
No fim do filme, fomos apresentados à simpática Aymará que fez questão de agradecer nossa presença e tirou com nosso grupo uma foto de sua própria câmera. Agora sim os repórteres deveriam estar se perguntando quem éramos e se deveriam haver tirado uma foto nossa.
Completamente famintos, saímos para comer alguma coisa. Considerando que era próximo da meia-noite, era difícil achar um restaurante aberto. Sugeri um bar de tapas, mais especificamente pinchos vascos em La Latina, e para lá nos dirigimos. Bom papo que se prolongou até quase duas da matina.
Para quem acordou sem nenhum plano, nada mal para uma quinta-feira. Né, não?