96 – Mas logo na minha vez?

Aqui na Espanha estão passando uma série de reportagens sobre espanhóis que foram imigrantes no passado. É uma forma de lembrá-los que a situação que vivem hoje já foi uma realidade para eles também, ou em outras palavras, uma maneira de evitar ou diminuir o preconceito contra os imigrantes estrangeiros.

 

Tenho lido muito sobre problemas com brasileiros tentando entrar em outros países. Fiquei um pouco preocupada nessa última vinda do Brasil, como seria recebida? Sabia que de acordo como fosse tratada, isso poderia influenciar muito minha postura aqui em Madri. E verdade seja dita, fui tratada com o respeito simples que precisava. De longe o agente da imigração viu na minha mão o passaporte e a carteira com meu visto. Quando cheguei, sorriu e disse “brasileña residente”! Entreguei o papel que havia preenchido no avião, sobre a entrada no país e ele me devolveu dizendo que não precisava mais dele, pois já morava aqui. Foi o suficiente para revigorar minha boa vontade de adaptação.

 

Estive vendo que,  por conta dos 50 anos de união européia, no Brasil também estão fazendo reportagens sobre imigrantes brasileiros na Europa. De maneira geral, me pareceram  programas com mensagens positivas, com a tentativa de evitar que o brasileiro se sentisse excluído em outras sociedades.

 

Sei que a gente presta mais atenção às informações que estamos diretamente relacionados, mas de uma certa maneira, essa questão me pareceu tomar uma proporção mais importante nos últimos anos. Parece ser uma preocupação mundial. O que faz todo sentido em um mundo pós-globalizado.

 

Há muitos anos conheço estrangeiros que vivem fora de seu país. Entre dificuldades e facilidades, me parecia uma vida menos complexa que hoje, talvez fossem mais entendidos como estrangeiros que imigrantes. De repente, sou eu que estou nessa situação e descubro que a regra mudou. Além do que, o número se multiplicou e esse volume assusta. Só me ocorre o pensamento meio egocêntrico, mas logo na minha vez?

 

A primeira vez que pensei assim, foi ainda nos Estados Unidos, quando tirava o visto de residente para Espanha. Nós entramos no país na mesma época em que houve uma legalização maciça de imigrantes e, por conta disso, todos os procedimentos estavam mudando. No consulado espanhol de Miami, por onde nosso processo correu, fui informada que boa parte da demora e complicação da nossa situação se deveu ao fato de sermos o primeiro caso a iniciar ali depois da mudança da lei. Ou seja, estava todo mundo ainda aprendendo como proceder. O que mais poderia pensar além de “mas logo na minha vez”?

 

A atendente do consulado, diante da minha decepção, disse que estava sendo pioneira e abriria caminho para as outras pessoas. Acho que não abri caminho para ninguém, porque eu mesma não fui responsável por nada. Mas achei muito gentil e otimista da parte dela me dizer isso. Dava à toda aquela encheção de saco um olhar de aventura.

 

E foi com esse olhar que cheguei aqui. O tempo e a relativa rotina foi provando que aventura é uma coisa, conto de fadas é outra. Isso já esperava.

 

Por outro lado, às vezes também é legal. Saber que esse é um tema super atual, todo esse movimento dentro do planeta e nós bem no meio dele. Conhecendo na prática, vivendo na veia. O preço é alto, não é um conto de fadas, mas sim que é uma aventura e é a minha vez.

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