Vou me exibir um pouquinho e dizer que cozinho bem para caramba! Modéstia às favas, vou da comidinha caseira até pratos sofisticados sem descer do salto. O único problema é quando alguém resolve ser legal e me fazer companhia, porque me distraio e erro. Mas agora já perdi o pudor e aviso às pessoas que fico mais tranquila em cozinhar sozinha. Não ligo se for alguém que queira aprender, ou cozinhar junto, mas que fique claro que não é hora de conversa. I am a woman in a mission! Pisou na cozinha, a coisa é séria.
Acontece que tenho um ponto fraco que me irrita. Simplesmente, não consigo fazer a bosta da batata frita! Até rimou.
Enquanto morava no Brasil e nos EUA, isso não era um problema. Nunca liguei para batata frita, acho que fica com muito gosto de óleo. O cheiro e a aparência eram bem mais provocantes do que o sabor em si. Agora, quando mudei para Madri, a coisa mudou completamente. Aqui eles fritam a batata em azeite de oliva. Além do gosto ser radicalmente melhor, posso me iludir que é mais saudável.
Tem um tal de “huevos rotos” que consiste em batata frita no azeite, normalmente em rodelas, ovos fritos e uns pedacinhos de jamón. Há algumas variações, mas é basicamente o ovo com batata. Gosto quando o ovo vem frito com aquela geminha mole e a gente corta e mistura tudo. Putz! É um chute no balde!
Por isso, pouco a pouco, fui ficando com vontade de fazer a tal da batata frita no azeite, até que me arrisquei. Minha primeira batata não ficou ruim, ficou absolutamente asquerosa! Uma droga mesmo, foi humilhante! A segunda batata já não ficou tão asquerosa, só uma droga. Mesmo assim, o pobre do Luiz teve que comer sem fazer cara feia e provou seu amor quando fechava os olhos e fazia aquele som de “huuuummmmm”… E eu querendo jogar aquela merda daquela batata na parede! Ai, que raiva!
Daí vieram as dicas infalíveis: tem que secar a batata… tem que por antes no congelador… o óleo tem que esquentar até acender um fósforo… tem que vestir a batata de baiana… Fala sério, pareciam os planos infalíveis do Cebolinha, nenhum deu certo. Dez a zero para a batata!
Dei um tempo porque estava afetando minha auto-confiança culinária. No alto do meu despeito, tentei me convencer que nunca quis fazer batata frita mesmo, que invenção era essa agora.
Até que hoje Luiz ia viajar para Dubai e decidi preparar alguma coisa rápida para ele comer antes de encarar tantas horas de vôo. Fui na cozinha ver o que tinha e a geladeira estava caída que só, coitada. De repente, vi os ovos e bacon, mas achei que faltava consistência. Virei para o lado e lá estavam elas: as batatas! Caraca, juro que chega escutei aquela musiquinha de duelo de faroeste. Nem pensei muito para não me intimidar, arregacei as mangas e parti para o ataque. Não é possível que não acerte fazer uma porcaria de uma batata frita!
Muito bem, fazer eu fiz. Fiz uma tremenda cagada na cozinha! Azeite para tudo que é lado, roupa com cheiro de gordura, cabelo nojento… e tudo isso para fazer uns “huevos rotos” que beiravam as raias do medíocre. Bom, pelo menos posso dizer que foram as melhores batatas que fiz na vida e não estou mentindo.
Ao final, sob forte resistência, tive que me render ao conceito Mc Donalds. Fazer uma comida gourmet é mole; difícil, desculpe, é fazer a merda da batata frita!