63 – Novembro

Entrou na semana do meu aniversário. Digo semana porque sempre comemoro bastante ou pelo menos tento, ainda que esse ano está custando um pouco a me animar. Não estou triste, só não tenho o mesmo pique de costume.

 

A velocidade em que o ano passou não foi proporcional aos acontecimentos que planejei. Tudo bem, nem tudo que a gente quer consegue, mas é um pouco frustrante chegar ao fim do ano sentindo que as coisas estão muito parecidas ao ano passado. Não estão ruins, talvez não esteja mais habituada à essa semelhança com ontem, mas às vezes tenho a impressão que os degraus aqui são mais altos e o tempo para conseguir as coisas é diferente. Ou será que sou eu que não tenho a mesma agressividade? Estranho, porque sinto que retomei um pouco da raiva que pensei ter deixado para trás. Ainda faz parte da minha natureza.

 

Aparentemente, minha documentação espanhola para o próximo ano foi aprovada. Deveria durar dois anos, mas demorou tanto a ficar pronta que o primeiro já foi quase todo. Melhor que no ano anterior, pois vale mais tempo, entretanto foi aprovada no mesmo período. Parece provocação essas identidades sempre chegarem perto do meu aniversário.

 

Hoje quero menos ser espanhola que no ano passado, o problema é que também sou menos brasileira. E o mais esquisito, tenho menos vontade de ser qualquer nacionalidade. O absurdo título de imigrante parece ter me conformado, me caiu como uma pátria. Deveria ter me incomodado, pois no fundo há um sentido pejorativo, mas a verdade é que aliviou porque finalmente me definiu. Nos EUA era imigrante, aqui sou imigrante, se for para França sou imigrante… pronto, resolvido! Talvez essa seja minha vingancinha pessoal, pois o que deveria me inibir me fortaleceu.

 

Quando você tem uma casa para voltar, se comporta de maneira mais passiva na casa dos outros, pois sabe que é temporário e engole o sapo. Agora, posso respeitar as regras fora do que não é meu, mas como não tenho mais para onde voltar, faço por educação e não por obrigação. E isso faz muita diferença. Entro pela porta da frente e recebo pela mesma porta, todos deveriam merecer esse respeito.

 

Não era tão diferente assim no Brasil, um país com diversidade sócio-cultural e tamanho de um continente. Apenas, não havia me dado conta. Não tinha percebido que o meu sotaque misturado não era tão debochado como o dos nordestinos; achava muito importante lavar algumas roupas a mão e passar lençóis e toalhas, afinal de contas, não era eu que fazia; e não me dei ao trabalho de cortar relações com as pessoas que separavam seus talheres e pratos dos que usavam seus empregados. Não gostava, mas nunca tomei uma atitude séria. No Brasil também há imigrantes ou migrantes, o que dá no mesmo. Acho que se voltasse a morar lá mudaria bastante minha postura, não em relação ao que fazia, mas ao que não fazia ou não dizia. Ali também todos deveriam entrar pela porta da frente e merecer esse respeito.

 

Enfim, agora tenho uma festa para preparar e amigos de algumas nacionalidades para receber, pela porta da frente.

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