Para o desgosto de amigos e família, quando nos perguntam se temos vontade de voltar para o Brasil, dizemos que não. Nesse sentido, Luiz e eu pensamos igualzinho, temos saudades das pessoas, mas não necessariamente da vida no país. Não é que a nossa vida fosse ruim, mas é passado, não acho que seria igual se voltássemos. Além do mais, sem demagogia, para mim é muito duro viver bem, vendo outras pessoas vivendo muito mal. Vir para cá não fez a vida no Brasil melhorar, mas fez melhor a minha. E, ao tentar olhar para o futuro, a perspectiva política e social continua sem nos animar nem um pouco.
Quanto aos amigos, continuam nossos amigos. Quero e faço força para que continuem assim, porque me fazem falta. Mas quem tem vida de caracol desde cedo, aprende mecanismos para lidar com a ausência. Aprendemos que a única despedida real é a morte.
E é aí que a coisa pega. Com a dolorosa possibilidade da morte, que até o nome é difícil dizer sem eufenismos. Nossos pais e familiares não estão ficando mais jovens. Na verdade, até alguns amigos já começam a demonstrar sinais de fragilidade. O que me lembra que eu também estou envelhecendo.
Mesmo estando fora, uma das coisas que garante meu equilíbrio é saber que as pessoas que quero estão bem onde estão. Possibilita uma segurança egoísta que sei que não é verdadeira, mas me tranquiliza, me faz saber que posso ir porque sempre terei para onde voltar, mesmo que não volte em definitivo, mas volte um pouquinho para um descanso.
É a primeira vez que sinto a possibilidade real de perder alguém que amo e estou longe. Não sei o que fazer, não sei como é o jeito certo de agir. A distância ajuda, por um lado, porque a vida é misturada mesmo, e o fato de não estar vendo me deixa esquecer um pouco e ter dias bons. Por outro lado, bate a culpa de não estar fazendo nada para colaborar, o medo de encarar a realidade e uma saudade sufocante porque sei que essa é a única que não se acaba, já conheço.
Saber que ele não vai bem, me desvia temporariamente o eixo. A cabeça diz que a vida deve serguir seu rumo e o que tiver que acontecer, que seja sem dor. Um dia quero ser capaz de aceitar esse fato com naturalidade, porque o coração ainda insiste de maneira infantil que não vá nunca, que fique aqui para sempre e que seja só um susto.
Hoje me ocorreu que estou negando a situação, tentando agir naturalmente, sair normalmente e me relacionar com as pessoas como se nada estivesse acontecendo. Tudo que puder fazer para ocupar meu tempo. Mas a verdade é que estou irritada, com raiva de coisas bobas e falando sozinha pela casa com o fantasma da minha avó.
É a pior hora de estar longe, a única que é realmente difícil.