106 – Andanças

Segundona, daquelas em que a gente promete tudo e tem tudo para não fazermos nada!

 

Mas essa segunda-feira acordei decidida, ou começo seriamente minha preparação para o Caminho de Santiago, ou simplesmente não vai rolar! Não dá para ser amanhã, não dá para ser depois, é hoje ou não é.

 

Pois foi.

 

Levantei com toda a preguiça do mundo e um monte de coisas para fazer. Não importa, faço depois de caminhar.

 

Procurei vestir as roupas adequadas para o caminho, o que inclui uma bota de trekking e uma calça verde militar de secagem rápida. Uma camiseta, um rabo de cavalo e eu era a própria Lara Croft depois da gripe. Vamos dizer que o modelito lembrava. Tirando os peitos antigravitacionais e a cintura impossível, até que levava um ar Tom Raider.

 

O problema é que tem que andar um pouquinho até chegar no Parque do Retiro, onde elegi fazer minha preparação. E andar vestida assim na rua me provocava um certo desconforto. Já sei, protetor solar e meu óculos da invisibilidade!

 

Os gigantescos óculos da invisibilidade não me deixam propriamente invisível, digamos que estava chamando um pouco a atenção e não exatamente no bom sentido. Mas percebi que ter meus olhos escondidos me exercia um fator avestruz, do tipo, se não podem ver para onde estou olhando, estou invisível! É maluco, mas funcionou.

 

Finalmente, cheguei ao parque, quando Lara diria, aham… Comecei minha caminhada, como sempre observando tudo ao redor. Muito rápido, afinal de contas, não fui passear, queria realmente me desafiar. Procurava sempre o trajeto mais longo e mais difícil, sol, pedras, pequenas ladeiras, tudo que normalmente evitaria. Engraçado, porque ao tomar o caminho mais difícil como opção ele não pareceu tão ruim assim.

 

Andei duas horas seguidas, a passos bem rápidos, acho que para começar está bem. Vou tentar fazer isso por toda a semana e, quem sabe, aos poucos ir aumentando o ritmo.

 

Na volta, fui comprar o almoço. Adoro isso da gente comprar a comida do dia. Dá um pouco de trabalho, mas é tão civilizado e você compra tudo fresco. Vontade de comer saudável, tomate, frutas, peixe. E que sede!

 

A grande dúvida era: será que essa persistência duraria até terça-feira?

 

Pois durou.

 

Acordei ainda mais cedo, um pouco dolorida é verdade, mas ainda decidida. Nem senti mais vergonha de ir vestida meio esquisita. Apesar de ainda precisar dos grandes óculos.

 

Comecei a reconhecer alguns rostos no parque, principalmente dos velhinhos. Tem um casal que está sempre no mesmo lugar, com um cão, também velhinho, sentado no meio. Alguns amigos que caminham juntos e, pelas idades, me surpreende que ainda tenham algum assunto não conversado. Uma senhora na cadeira de rodas, muito agasalhada, apesar do calor. E vários caminhando com passos lentos, mas decididos e orgulhosos.

 

Hoje havia um grupo com cegos e cães-guia sendo treinados. Aliás, havia muita gente caminhando com seus animais e aparentemente são bem educados, pois não vi as sujeiras deixadas de lembrança. Gatos também havia, a maior parte vive no próprio parque, mas também tinha uma mulher meio esquisitinha que passeava com um gato na coleira, o que por si só já é algo raro. Também levava um carrinho de bebê vazio. Acho que o carrinho era para o gato, mas achei mais seguro não observar por muito tempo. Vai que interrompia a participativa conversa entre ela e seu bichano.

 

Tem bastante fiscalização, a pé, de bicicleta, de carro e a cavalo. Acho bom, mantém o respeito. Com os da bicicleta, cruzo toda hora. E os de cavalo, fico imaginando se também lhes fosse imposta a lei de limpar as porcarias dos animais. Ao invés de sair com os pequenos saquinhos plásticos pretos, sairiam com verdadeiras sacolas de compra.

 

Na volta para casa, com quem cruzo na calçada? Nada mais, nada menos que Almodóvar! Meu vizinho de bairro. Com uma camisa listrada e seus próprios óculos da invisibilidade! Ainda bem que fui treinada no Rio de Janeiro a passar por celebridades como se nada estivesse acontecendo. Agora, se em seu próximo filme aparecer uma estranha nas calçadas de Madri, vestida de exploradora em busca de um antigo artefato, botas de trakking e enormes óculos escuros de mosca… sou eu!

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