Felizmente, vou ocupadíssima! Fiquei produtiva de uma hora para outra. Efeito primavera!
O engraçado é que ando conversando com a mulherada na cidade, também leio alguns blogs de brasileiras que moram em Madri e é unânime, todas são alteradas pela primavera. Será que isso também acontece com os homens? Porque o Luiz não parece mudar tanto assim com as estações.
É um tipo de sensação que a gente aprende quando sai do Brasil, ou melhor, quando se muda para um país de estações definidas. Achei que a medida que o tempo fosse passando, essa sensação se amenizaria, mas foi ao contrário, pelo menos por enquanto. A maneira de viver em cada estação é muito diferente, as roupas, o humor, a disposição, a arrumação da casa, os armários, os horários, tudo muda de perspectiva. Olhar o mundo de outro ângulo, faz com que se pareça outro mundo.
Semana passada fomos ao teatro com uma amiga assistir a um espetáculo de dança, do grupo Ananda Dansa. Bom show, apesar de meterem o coñazo político no meio também. Aparentemente, qualquer manifestação artística espanhola precisa falar alguma coisa de política. Achei que fosse só em artes plásticas. Enfim, no inverno teria me irritado, na primavera só pensei, mas até tu Brutus!
De lá, Luiz precisava voltar para casa e dar mais uma trabalhadinha. Fiquei com minha amiga espanhola no Trifón. Ela é muito engraçada, se diz uma combinação bombástica pois é mulher, baixinha e advogada! Ou seja, o cão! Mas a verdade é que acho ela muito divertida. Além do mais, ela fala super rápido e meu castellano melhora muito quando sou exigida.
Na sexta-feira, semana fechada com chave de ouro, um chá de Luluzinhas, aniversário de uma amiga. Na verdade, foi um almoço esticado para chá. Cheguei no fim do almoço, quando conheci dois espanhóis muito simpáticos. E na sequência, fiquei para o chá das brasileiras. Bom para relaxar em português e não sentir culpa em fazer um delicioso programa de dondoca.
O tal chá foi no Café do Círculo de Bellas Artes, um lugar razoavelmente tradicional, com um certo charme decadente e um teto altíssimo. Fica a uma boa distância da minha casa, uma caminhada de uns 45 minutos a passos largos. Resolvi ir a pé, preciso muito caminhar. Daí veio o dilema feminino, era um chá, né? As mocinhas costumam ir mais arrumadas. Mas como iria caminhando pelo parque arrumada? E depois preciso urgentemente amaciar minhas botas de trekking, as tais do Caminho de Santiago. Quer saber, pensei, lá é um lugar meio central mesmo, o que quer dizer que está sempre cheio de turistas. Pois então, vou disfarçada de turista americana. E lá fui com meu modelito medonho e confortável. Valeu a pena, nesse dia andei para burro e fazia um calor horroroso.
Na volta, Luiz até se ofereceu para me buscar, mas quer saber, queria mesmo era caminhar. Nem as trovoadas estavam me assutando, pensei, estou saudável, pode chover. Peguei uns pinguinhos de nada já quase em casa e até achei bom.
No sábado, feijoada e cachacinha na casa de amigos. No início da noite, Luiz viajou para Israel, fui com ele até o aeroporto. Quando soube que ele aterrizaria em Tel-Aviv, confesso que me assutou um pouco, nunca me preocupo com suas viagens a trabalho, mas dessa vez fiquei meio cismada. Entretanto, ele mesmo estava achando bem legal, era sua primeira ida para lá e estava super animado. Pensei, quer saber, acreditar que nada de mal irá te acontecer é o melhor amuleto que conheço. Depois, logo chegava o dia de São Jorge, Ogum. Se Luiz tivesse um santo de devoção seria ele, estava bem protegido. Portanto, relaxei. No fundo, acabei ficando com vontade de ir também, quem sabe em uma próxima vez.
Por outro lado, não foi tão mal ficar um pouco sozinha, é chato, mas tinha um monte de coisas para fazer e um desenhão que me deu um trabalho monstro, mas gostei do resultado e finalmente consegui terminar um trabalho para mim mesma. Simplesmente porque sim.
Cuidei das minhas plantas, segui os conselhos recebidos, coloquei adubo e terra nova. Juro que elas pareceram ficar até felizes. E não é que meu gerânio raquítico floresceu? Inclusive, tem até outro botão nascendo. Daí, um outro gerânio resolveu se exibir e colocou botão também. Enfim, acho que resistirão, fiz minha parte e elas fazem a delas.
Meu gato não sai mais da varanda, só quer saber de ficar no sol e aproveitar o bom tempo. Ele também muda na primavera. Aqui não há redes de proteção do tipo que usamos no Brasil para proteger as crianças e animais domésticos de uma queda. Sempre fui um pouco paranóica que ele caísse e, em princípio, achei que a melhor solução era manter as janelas fechadas. Com o tempo, venho aprendendo a confiar mais nele e a aceitar que um pouco de liberdade vale um pouco de risco. E agora curtimos nós dois a brisa fresca que entra em casa.