10 – O mundo está perdido!

Recebi uma curiosa mensagem, de alguém que não conheço, no meu orkut. Dizia exatamente o seguinte: “Olá Bianca, tenho um filho de 7 anos e gostaria de morar na Espanha em agosto, vale a pena o risco de levar uma criança logo de início? Desculpe estar te importunando, mas achei você bem séria para poder me responder ou me indicar alguém que está aí com filhos. Obrigada. ( é difícil conseguir trabalho ou não ?)”.

 

Quando li o texto acima, achei muito engraçado! Mostrei ao Luiz e disse que ainda existia quem me achasse  uma pessoa séria! Ele leu a mensagem e sua resposta foi: esse mundo está perdido! Na hora que você é chamada a aconselhar uma mãe…

 

Sofri a tentação de escrever de volta: Querida “x”, sou uma artista-alucinada-borracha-que-não-sabe-o-que-fazer-da-própria-vida… mesmo assim, você gostaria dos meus conselhos?

 

Na prática, resisti ao meu humor ácido, afinal ela me pareceu realmente preocupada, e apenas brinquei que o mais parecido que tenho a um filho é um gato persa de seis anos. Também disse que gostava da cidade e que, se tivesse uma criança, me sentiria mais tranquila aqui do que no Brasil. Indiquei uma comunidade de brasileiros em Madri no orkut, onde ela poderia obter maiores informações, quem sabe, com outra pessoa de seriedade confiável.

 

Entretanto, não posso negar que a história ficou martelando na minha cabeça. Sempre pareci bem mais séria do que realmente era, ou achava que era, e acabo de perceber que isso se transmite até de maneira virtual. Será que sou séria? O que é exatamente uma pessoa séria?

 

Por muito tempo essa seriedade aparente me incomodou, principalmente na adolescência, porque intimidava os meninos que me interessavam e impunha uma certa distância e responsabilidades que nunca pedi. Acreditava que era algo que fazia, algum jeito de olhar, de sorrir ou não sorrir, um gesto, sei lá, algo que levava às outras pessoas a me verem séria. Depois concluí que era mais forte que isso, era algo de atitude, estava implícito.

 

Ser séria não me incomodava, simplesmente achava que não era,  pensava que estava transmitindo uma postura falsa e, isso sim, me incomodava e muito. Mas não sabia o que fazer para ser mais autêntica, o que por si só é uma enorme contradição. Será que se sorrise mais, se chegasse mais perto, se olhasse menos nos olhos… era inútil! Como vestir uma roupa grande demais. Daí desisti de tentar mudar e resolvi lidar com a questão. Se intimidava os meninos, tomava eu a iniciativa; se afastava algumas pessoas, atraía outras; e por aí vaí.

 

Acho que superei essa questão mesmo por volta dos 20 anos, quando tive uma grande amiga que me apresentava da seguinte maneira: essa é a Bianca, tem essa cara de séria, mas é a maior porra louca! Posso ouvi-la falando isso com seu jeito escrachado e direto, foi uma das pessoas que mais me conheceu e era capaz de resumir e resolver em uma frase o que me intrigou toda adolescência. Não era a forma mais bonita nem tão educada, mas era como eu mais gostava de ser apresentada.

 

Os anos se passaram e esse foi um tema que parou de me preocupar, pelo contrário, profissionalmente, por exemplo, foi muito positivo. Agora somos todos adultos e a seriedade não assusta mais. O que era sinônimo de distância, passou a ser de credibilidade. Por que? Em que momento atravessamos essa linha e ficamos tão sérios?

 

Um dia, quando ficar bem velhinha, quero ter a experiência e a coragem de me apresentar assim: sou Bianca, tenho essa cara de séria, mas sou a maior porra louca! Talvez nem precise falar nada, só fazer a careta do Einstein dando uma língua debochada, um dos momentos fotografados que mais gosto.

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