94 – Indolor, mas insípido

Hoje fomos à comisaria de policia para a entrevista sobre nossa nacionalidade espanhola. Esperamos três meses cravados, tempo exato que nos estimaram quando entregamos todos os documentos. Adianto que foi tudo bem, não doeu, mas não nos deram nenhuma resposta definitiva, é simplesmente mais um passo.

 

Temos outros amigos na mesma situação, em etapas diferentes, por isso nos comparamos para nos preparar ou entender melhor o que fazer. Mas nem sempre seguimos exatamente o mesmo procedimento. Por exemplo, pela informação que tínhamos, deveríamos receber alguma correspondência pelo meio do ano que vem, marcando a tal entrevista e pedindo alguns documentos outra vez. Entre nós, essa papelada é um pé no saco, porque todo documento brasileiro que te pedem tem que ser carimbado, traduzido, legalizado etc.

 

De maneira que foi uma verdadeira surpresa receber a ligação ontem e já conseguir marcar a entrevista para hoje. Melhor, não nos pediram nada de burocrático, não entregamos cópia nenhuma. Nos requisitaram apresentar os originais do NIE (identidade de estrangeiros), passaporte, comprovante de salário e contrato de trabalho. Os dois últimos, como não tenho, deveria apresentar os do meu marido. Conseguimos, inclusive, ser atendidos juntos, porque os processos são individuais. Así de sencillo.

 

Eu, gata escaldada, fui com cópia e original de tudo que podiam resolver pedir. Mas não pediram. Foi bastante rápido e seco. O agente da polícia dava entrada em uma série de informações no computador e anotava mais um monte de números em um pedaço de papel em branco. Ficava imaginando que fim teria aquele papel de rascunho com nosso destino. Às vezes, não te dá outra alternativa do que confiar no caos. Creio que não demoramos mais que uns 15 minutos durante a entrevista.

 

Na saída, Luiz perguntou se havia algum próximo passo e ele respondeu que agora deveríamos aguardar a resolução, ou seja, se somos aceitos ou negados como cidadãos espanhóis. Disse também que essa resposta demorava muito. Adoro essas informações precisas: demora muito!

 

Saímos com aquele gosto de nem sim, nem não, muito menos pelo contrário. A gente aprende a conviver não com resultados, mas com etapas cumpridas, onde esperamos que tudo esteja correto. Quando saímos de alguma dessas etapas e não faltou nenhum documento, é considerado que fomos bem. Isso não é garantia de sucesso, mas é positivo porque você está habilitado a passar para próxima fase. É o melhor que se pode esperar.

 

Sei que deveria estar comemorando, mas é difícil. Depois da euforia em conseguir subir um degrau mais, bate aquele bajón de não ter absolutamente nada de concreto em mãos. Não é uma queixa, apenas uma constatação e um aviso a quem resolver trilhar caminhos parecidos.

 

A situação me fez lembrar uma história de quando pousei nos EUA, no final de um furacão, ainda tinha medo de avião nessa época. Um pouso duríssimo, com turbulências fortes e um ruído ameaçador. Do lado de fora, nuvens cinzas e densas. Você não tem noção de que altura está, pois não há visibilidade, se pousa por instrumentos. Sou daquelas malucas que não tomava sonífero para viajar, porque afinal de contas, se algum problema ocorresse, queria estar lúcida e aumentar a probabilidade de sobreviver. Caso o avião caísse, sair nadando oceano afora, por exemplo. Muito razoável. Pois bem, quase no final desse pouso, quando estava beirando o limite do pânico, me dei conta que não tinha absolutamente nada a fazer. Nenhum controle. Imediatamente, me baixou uma tranquilidade e uma frieza surreal, e o pensamento que seguramente alguém tinha que saber o que estava fazendo, o piloto não podia ser doido assim de entrar naquela situação sem experiência. E isso talvez tenha sido o mais perto que estive de ter fé.

 

É mais ou menos como me sinto agora, não tenho nada mais que possa fazer. O único que me resta é acreditar que vai dar certo e que alguém vai conseguir pousar no meio desse furacão. Espero ainda ser capaz de saltar do avião inspirando naturalidade, penteada, e seguir viagem.

 

14 comentários em “94 – Indolor, mas insípido”

  1. Oi, entreguei os documentos em novembro, e me disseram que o processo tem levado em média 2 anos. O senhor que me atendeu diz que tem gente que consegue em 1 ano, mas que o normal é levar dois anos!
    Beijos

  2. Oi, Patricia!

    Pois é, quando entregamos os documentos, em setembro, nos informaram que a média era uns dois anos de espera. Um único amigo conseguiu em um ano, mas foi bem antes de ter essa avalanche de gente tentando. Para maioria das pessoas que conhecemos, o processo levou três anos.

    Agora, a boa notícia, é que a entrevista realmente levou 3 meses certinho para acontecer. O que quer dizer que você tem grandes chances de ser chamada em fevereiro.

    É que esses prazos também dependem de onde você deu entrada e em que zona da cidade mora (a comisaria de policia será perto da sua casa). Temos um casal de amigos que moravam em Boadilla, portanto não dão entrada em Madrid (a mais cheia). A espera deles para a entrega de documentos foi muito menor, acho que praticamente deram entrada direto, não tinha aquela fila maluca de meses de espera. Em compensação, a entrevista na comisaria de policia levou 6 meses para chamarem. Chamaram por correio com um prazo de um mês para ele comparecer, apresentando uma série de documentos outra vez (certidão de casamento legalizada, com tradução jurada, cópias de NIE, contrato de aluguel… blá, blá, blá…) . Só ele fez a entrevista, a esposa não entrou, nem deixaram a advogada dele entrar. Vai entender?

    Enfim, pelo menos nessa parte, a nossa entrevista foi mais rápida e simples. Espero que a sua também. Sorte para todos nós! 🙂

    Besitos

  3. Hola Bianca, vivemos na Galicia fazem 10 anos, quando moravamos aqui hà dois anos pedimos a nacionalidade, bem voce esta na fase da entrevista que è muito importante porque se nao conseguir provar sua renda, e residencia voce nao è aprovada, nao è elegivel para nacionalidade e o processo para ai. Na Galicia a policia vem na sua casa fazer essa entrevista, para ver se o que vc diz è verdade, claro que em Madrid isso nao è possivel.
    Depois eles te mandam uma carta de seis a oito meses, que vc foi aceita para a nacionalidade e que o processo continua, depois te mandam outra carta meses depois dizendo que ex dia sua nacionalidade vai ser concedida, depois outra ainda onde sua nacionalidade è concedida, mas voce tem de esperar que o Rei te diga que te concede a nacionalidade, ai vc tem de esperar que o cartorio te chame e te peça outra vez todos os documentos, e te marque um dia para te fazer outro registro de nascimento onde mudam seu nome, porque pra voce ter o sobrenome do seu marido vc tem de fazer a opçao no inicio do processo, e aqui so se pode ter dois nomes, o apelido da mae e o do pai, entao voce descobre que è duas pessoas uma aqui e outra no Brasil, depois que tiver sua certidao de nascimento nova, voce pode fazer po de fazer o dni,depois com o resguardo do dni pode fazer o passapote.Esse longo processo que pode durar 02 o 03 anos.

  4. Oi, Antonia!

    Obrigada pelas informações!

    Antes, mesmo em Madrid, a polícia vinha em casa, é que agora é tanta gente que ficou inviável. Eles andaram mudando um pouco o processo. Pelo que entendi, às vezes eles enviam correspondência e outras telefonam. No meu caso, telefonaram.

    Então, quer dizer que essa primeira carta já dirá se fomos aceitos para nacionalidade, achei que só dissesse que os documentos estão em ordem ou se faltava alguma coisa. Bom, o dia que a nacionalidade será concedida, imagino que seja o dia de jurar a bandeira. Você fez juramento à bandeira? hehehehehe… engraçado, né? Agora essa história do sobrenome, cada hora escuto uma coisa. No meu caso é um pouco mais fácil, porque nunca mudei meu nome de solteira, ou seja, tenho um sobrenome do meu pai e outro da minha mãe, imagino que só tenha que inverter a ordem. Mas não sabia que teria que tirar outra certidão de nascimento nova para fazer DNI e passaporte. Nossa, vou nascer outra vez!

    Gosto muito da Galicia, às vezes passo por essas bandas caminhando.

    Besitos

  5. Senhor deus do amor!!!! (risos) Bianca me disseram que a policia vem na nossa casa daqui a três meses, dei entrada em Las Palmas de Gran Canaria. E dizem que a policia vem aqui para comrpovar nosso matrimônio, eu tô louca para ver como será.
    Na real já desencadenei e tento me divertir com isto tudo, as vezes é complicado, mas para mim tem sido a melhor saída. O meu problema maior é que não tenho direito ao desconto nas passagens aéreas (que os residentes canarios comunitarios possuem) e como moro numa ilha e me movo bastante, isto me gera um prejuízo importante!
    Feliz Natal para todas nós, e
    Bianca obrigada pela visita no meu blog!
    Beijos

  6. Hola Bianca, nao jurei bandeira nem nada so assinei um documento e ja era espanhola, e quando voce è espanhola a vida muda, eles te tratam de outra forma, so de mirar o DNI, nao existe cartao gold que pague, alias se voce tem um gold e um DNI pois è o maximo, o tratamento è outro, passamos a ser nosotros, españoles, è dificil, complicado, mas eles te informam passo a passo, no nosso caso tardou um ano e meio, porque naquela epoca era mais facil. Pra nos o mais dificil da concessao da nacionalidade voce nem imagina foi o policial acreditar que eu tinha tres aposentadorias, e que a minha aposentadoria era maior que o soldo dele, isso ele nao conseguia entender, e ficou mil vezes olhando minha declaraçao de renda e perguntando, mas se o Brasil è pobre porque vc ganha isso? ate entender, demorou.
    Espero que te va todo muito bem, voce escreve muito bem de uma forma sofisticada e peculiar.
    Bem no meu caso eu tinha tres nomes e dois apelidos do meu pai e do meu marido, eles te dao uma carta que vc. chamava tal e passa a chamar tal, e sim tem de fazer uma outra certidao que eles chamam partida de nascimento, que informa à Espanha que voce nasceu no Brasil, mas agora faz parte do registro espanhol, depois que tiver a nacionalidade, ai tem de mudar o padron, fazer outro, e trocar as targetas de credito, aos poucos vai ajeitando tudo. Se precisar de algo so perguntar, nos como voce fugimos da violencia do Brasil, dos assaltos, dos seguranças. um beijo

  7. Oi, Patrícia! Então, você será premiada com uma visitinha da polícia… heheheh… putz! Enfim, para quem é realmente casada não vejo nenhum problema, eles não são bobos e devem querer mais é resolver tudo rápido. Honestamente, a entrevista com a polícia foi bem tranquila, totalmente burocrática. A única coisa desagradável era que o rádio estava ligado em um programa chatérrimo, com uma música horrível! Acho que deveria ser a parte da tortura psicológica 😀 Bom, até tento levar a vida de modo geral de uma maneira mais divertida, mas essa parte da documentação me tira do sério. No meu caso, é um pouco mais complicado porque não posso dizer que toco a vida normalmente, só tenho visto de residência, o que não me dá grandes direitos além de viver aqui e “punto en boca”. Enfim, uma hora se resolve, né? Seu blog é bem legal, acabei colocando no meu blogroll, espero que não se incomode, é que fica mais fácil de voltar lá depois. Feliz Natal! Besitos

  8. Oi, Antonia! Obrigada! Sempre bom saber que alguém conseguiu, anima! E pode deixar que pergunto mesmo. Pois é, também acredito que as coisas irão melhorar bastante depois da cidadania, honestamente, nem espero nada demais, só uma vida normal, sem ter o tempo inteiro que ficar provando que eu sou eu mesma e ter que pedir autorização para quase tudo. Continuarei sendo estrangeira, mas com o cartão gold emerald super platinum plus! 😀 Feliz Natal! Besitos

  9. Oi Bi!

    Pois é, menina… é um saco assim mesmo. Infelizmente o caminho é longo e cheio de burocracia. E cada carta, cada chamada é um passinho a mais. Mas pelo visto, tudo está saindo bem. E vocês terão, dentro de algum tempo, o tão esperado passaporte vemelhinho! Seremos todos também espanhóis. hehehehehehehehe

    Beijões, queridona, e parabéns pela paciência de elefante – e o corpinho de sereia. 😉

    Um Natal bem bacana para vocês… ficarei fora da net uns dias, mas depois eu volto. Mais beijos – para os dois.

  10. …hahahah… adorei a paciência de elefante no corpinho de sereia. É verdade, que depois desses jantares de fim de ano, acho que essa relação se inverte! 😀

    Feliz Natal!

    Besitos

  11. Oi Bianca

    Sabe que aqui a mãe do Claudio que é portuguesa passou outro dia por algo parecido, teve que fazer seu bilhete de identidade portugues e o passaporte, que foi tudo por correio e os documentos tendo que ser originais com validade de 6 meses.
    Como assim 6 meses???? O pai do Claudio por exemplo que já faleceu ha anos queriam que o documento de óbito fosse atualizado, acredita? morrer só vale em Portugal se for de 6 em 6 meses, uma piada, hahahaha. Mas se voce não fizer como eles querem voce fica sem os documentos. Então fazer o que? só rezando mesmo pra que tudo dê certo.
    Beijos

    Marianne

  12. Oi, Marianne!

    Pois é, não tem jeito, é burocrático e em todos os países. Mas já estamos no barco mesmo… uma hora resolve! Gostei do atestado de óbito de 6 em 6 meses… hahahahaha…

    Besitos

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