Não, essa palavra não existe, mas é como os espanhóis costumam pronunciar nossa feijoada.
É difícil comer uma feijoada legítima por essas bandas, porque não se encontra carne seca nem paio. Os outros ingredientes, como feijão preto e carnes de porco salgadas, são mais fáceis. Conheço gente que faz ao estilo ibérico, com os embutidos da região, o que quebra o galho, mas é outro prato, una fabada a la bestía! Fica tudo com gosto de páprika.
Bom, eu não sou uma pessoa se não comer feijão de vez em quando! Sem preconceito, preparo de todas as cores e sabores, com bastante alho e cebola. Agora, se tiver uma carninha seca e um paio… é correr para o abraço! Já estou ficando com fome!
Daí chego na Espanha e não encontro o raio da carne seca nem do paio, e agora? Converso com meus pais, porque claro, comida é assunto seríssimo na minha família e do outro lado do oceano meu pai fica indócil. Instaurada uma crise diplomática, assim não é possível! Como eu poderia so-bre-vi-ver sem esses ingredientes!
Poucos dias depois, bate o correio aqui em casa. Recebi na minha porta carne seca, embalada à vácuo, por sedex! Considerando que não devem ter pago menos de 40 euros pela entrega, acho que foi a carne seca mais cara do mundo! Quase Kobe. Ainda correram o risco de nunca chegar, porque é proibido enviar qualquer tipo de carne. Aceitei como uma declaração de amor, mas não me pareceu razoável que isso se tornasse frequente.
Buscamos e encontramos nossas alternativas, que um dia conto a história. Importa que nosso congelador vive com estoque para uma boa feijuca! Não dá para fazer sempre, vou controlando para não ficar sem nada, mas não passamos vontade.
Acontece que há um dia do ano que ela, a feijoada, ganhou status de estrela: o aniversário do meu digníssimo marido. Meio mundo sabe que ele não é chegado a comemorar nesse dia e levei anos para descobrir que substituindo uma palavrinha, ele era capaz de aceitar e se divertir. Então, não celebramos o aniversário do Luiz e sim, a feijoada do Luiz.
Portanto, em setembro, no sábado mais próximo do dia 6, realizamos a “Já Tradicional Feijoada do Luiz”. A data é ótima, porque há muita gente voltando de férias e é um bom momento para começar a nos reunir. Esse ano foi mais do que perfeito, porque dia 6 de setembro cai exatamente no sábado! Aviso divino!
Devido a disponibilidade de ingredientes e de espaço, infelizmente, não cabem todos que gostaríamos de convidar, o que é um pouco frustrante, mas por outro lado, não deixa de ser uma boa notícia. Chamamos sempre o máximo possível e a cada ano temos a sorte de poder incluir mais amigos. Aliás, de todas as tribos! Gosto de festa bem misturada. A maioria é de brasileiros, por uma questão de justiça, são os que mais sentem falta de um feijão caprichado, mas há muitos estrangeiros também.
Agora a parte prática, porque eu e uma sarna para se coçar somos eternos companheiros. Fui chamando deus e o mundo até que Luiz me perguntou algo como, você tem certeza que cabe esse povo todo que você está falando? E eu, claro… claro que não pensei nisso! Resolvi por a lista no papel e havia umas 50 pessoas! Ui! E quem vai cozinhar para cinquenta? Yo moi myself, quem mandou?
Não ligo para o trabalho, faço por etapas ao longo da semana, o problema é a responsabilidade! Nunca fiz feijoada para tanta gente! Bate um medo danado de não dar certo. Normalmente, sou mais tranquila com isso, porque com quem tenho intimidade para chamar em casa, também tenho para dizer, xi, queimou! Pedimos uma pizza? Entretanto, depois de toda essa expectativa, inclusive minha, para a bendita feijoada anual e a novela que é conseguir os ingredientes carinhosamente contrabandeados, como é que vou errar? Não dá, né? Os preparativos já começaram e estou tomando um cuidado do cão! Um pouco estressada pelas quantidades, mas no fundo, bem que gosto! E depois, ele merece.
Também é verdade que muitas amigas se ofereceram para ajudar, não aceitei porque não precisou, mas se precisar é bom saber que posso gritar. Conto com uma delas para algumas entradinhas e a sobremesa, menos detalhes para me preocupar.
Luiz buscou ontem as camisetas, porque desde o ano passado, fazemos o abadá. Não é que o negócio está ficando profissional?
Grandes possibilidades de rolar música ao vivo, a vantagem de ter amigos músicos. Fora o pessoal do coral e a mini escola de samba que temos na sala, o que me dá até medo do que pode acontecer. Por via das dúvidas, vizinhos convidados!
Bom, melhor Isaura voltar para a cozinha e se esmerar, que ainda falta muita coisa!
Lerê lerê lerê lerê lerê…
Acreditas que uma das vezes que vim do Brasil eu trouxe carne seca na mala e o policial me tirou no aeroporto??? Meu charque (carne seca dos gaúchos) amado e embalado a vacuo saiu de dentro da minha mala (a que foi despachada) logo que cheguei em Sevilla e foi parar no LIXOOOOOOOOO… Um policia FDP e mal amado resolveu encasquetar e não houve maneira dele me deixar entrar na Espanha com a minha carne seca. Ai, ai… o Paulo do lado de fora nem imaginava o que estava acontecendo na “sala de vidro” em que fui barrada. Qdo soube, queria voltar a matar o tal guarda…coisas da vida! 🙂
Oi, Glenda! Putz! Ninguém merece, né? Mas enfim, sempre que trago esses ingredientes ou peço para alguém trazer, sei que há o risco de não passar. Nunca me pegaram, mas uma vez fui salva pelo gongo, literalmente. Já estava com a mala na boca do raio X, quando o agente encrencou com os dois homens que estavam na minha frente, pressionando se eles estavam entrando no país para morar. Pus a mala de volta no carrinho, puxei meu NIE e fiz cara de idiota perguntando para ele por onde eu passava. Ele, que estava muito mais preocupado com os dois, olhou por cima meu documento e viu que era legal, me mandou sair de volta pela porta de nada a declarar, sem revistar a mala. Ufa! Nesse dia, tirando drogas e explosivos, tudo de ilegal tinha na minha mala, mais garrafas de cachaça do que tinha direito, carne seca, linguiça defumada, costelinha… tudo! Era a feijoada completa do Luiz do ano passado!
Bom, mas como aqui não há para vender, não tenho outra alternativa, o jeito é contar com a sorte!
Besitos
Oi Bianca
Eu ao contrário do Luiz gosto de comemorar meu aniversário, com amigos e familia. Acontece que o meu este ano caiu bem no meio da semana e a minha mãe marcou uma exposição bem neste dia, como sei que terá DJ, buffet, etc… combinei de me encontrar com o “povo” lá mesmo assim matamos 2 coelhos com uma pedra só.
Eu amo feijoada, mas apesar de ser calórica pacas a gente não dispensa uma nos fins de semana.
Desejo um feliz aniversário pro Luiz e muita sorte pra voce com a tal da feijoada pra tanta gente. Diz a minha mãe que feijoada não dá pra fazer pequena então tenho certeza que voce vai arrasar.
Beijos
Marianne
Oi, Marianne! Eu sei que você gosta de comemorar, já comemoramos alguns… heheheh… 😛 Aliás, parabéeeennns!!! Tudo de bom!
De certa forma, você não pode dizer que não tem festa no seu aniversário. Celebrar vocês vão e com tudo que tem direito!
Anna tem razão, não dá para fazer feijoada para pouca gente. Tudo bem que cinquenta é um pouco de exagero, mas precisa ser para pelo menos umas dez pessoas.
Besitos
Bianca, fiquei com água na boca. Amanhã vou descer para a praia (de paulista, que não é lá essas coisas) e acho que vou trocar o churrasco por uma belíssima feijoada. estranhei muito você não mencionar as caipirinhas (imagino que esse seja o depto do Luiz). Sem capirinhas a feijoada perde o respeito!!!
Abs
Augusto
Ô Menina,
Para comprar carne seca na Espanha, compre tasajo, que é igual, desde que feito de carne de vaca. Para substituir o paio, uma alheira de carne de porco dá para quebrar o galho. E vamos botar água no feijão.
Feliz aniversário para o Luiz.
Beijo grande,
Luiz Paulo
Oi, Augusto! Claro que teve caipirinha, imagina! Já já eu conto na próxima crônica. Besitos
Oi, Luiz!
Ingredientes semelhantes a gente até acha, mas igual não fica. A carne seca mais parecida fui eu mesma que salguei e curei, mesmo assim, quebra o galho para o feijão, mas para comer desfiadinha também é mais ou menos. Tem a cecina e o lacón que ficam mais parecidos. Esse tasajo, nunca ouvi falar, pode ser que seja coisa da Galicia. O paio, tentamos comprar embutidos em Portugal para ver se eram melhores, mas praticamente todos levam um tempero que parece páprika. Enfim, ruim não fica, mas é bem diferente da nossa feijoada. A melhor alternativa é realmente o contrabando, fazer o que? Enquanto der…
Agora, a couve, a gente substitui por folha de acelga ou berza, e essa sim, fazendo refogadinha com bacon e alho fica muito, mas muito parecida mesmo. E a farinha, felizmente não é difícil encontrar.
Sempre se dá um jeito! 😛
Besitos
Ôi Menina,
O tasajo é de Cuba, hoje de Miami, devido ao número de gusanos que moram lá. É uma carne seca que fica entre a que se faz no sul e no nordeste do Brasil, com aquela velha prática de se manter a carne no sal durante vários dias, lavando e voltando a botar no sal, até no ponto em que se possa fazer a nossa “roupa velha”.
Enfim, quando terminar nosso período eleitoral e eu possa sair daqui, vou levar um monte de ingredientes de um verdadeira feijoada para você aí em Madri.
Beijo muito grande e um forte abraço no Luiz.
Luiz Paulo
Oooobaa! Agora sim, ficou bem melhor… heheheheheh… pois sejam bem vindos! Besitos para você e Glória.